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1 2 Índice Contexto Histórico da Alfabetização no Brasil ..................................................................3 Concepções de: Ensino e Aprendizagem, Alfabetização e Letramento .............................5 Como a Criança Aprende ....................................................................................................6 Conceitos de Alfabetização ...............................................................................................10 Conceitos de Letramento ..................................................................................................11 O Que a Legislação Vigente Fala Sobre Alfebetização .....................................................15 Por Dentro da BNCC – Base Nacional Comum Curricular .............................................17 Métodos, Como Aplicar?...................................................................................................18 Métodos Sintéticos ............................................................................................................21 Métodos Analíticos............................................................................................................25 Ambiente Alfabetizador ...................................................................................................29 Estrategias Lúdicas Para Alfabetizar ................................................................................32 O Jogo e o Desenvolvimento da Língua Escrita ...............................................................33 Rótulos, Jornais, Embalagens e Revistas ..........................................................................37 Prática e Avaliação na Alfabetização. ..............................................................................38 O Caminho Percorrido Pela Criança ................................................................................40 Possibilidades de Intervenção e Práticas em Sala de Aula ...............................................41 Sobre a Autora ...................................................................................................................44 3 Contexto Histórico da Alfabetização no Brasil É de extrema importância iniciar nosso estudo conhecendo o percurso histórico da alfabetização no Brasil, desde meados dos anos 1880 até os dias atuais, com a imple- mentação da Base Nacional Comum Curricular. Fazendo um breve resumo da linha do tempo da alfabetização no Brasil, podemos destacar os seguintes momentos: entre 1880 e 1920, houve um embate teórico entre métodos sintéticos e analíticos. Entre 1920 e 1970 predominaram os testes ABC, e após imperou o tecnicismo com uma brusca separação entre teoria e prática. Durante o pe- ríodo da Ditadura Militar, 1964 e 1985, houve um sincretismo pedagógico, deixando de lado a pedagogia de Paulo Freire, já as décadas de 1985 até 2000 são caracterizadas pelas influencias construtivistas. Dos meados dos anos 2000 até os dias atuais tem-se discutido teorias que levam em consideração o alfabetizar em uma perspectiva do letra- mento, assim o significado da língua escrita deve prevalecer sobre o simples ensino de um código. Nos anos de 1880 até 1920 o ato de escrever era ligado diretamente ao fato de se ter boa caligrafia, estar alfabetizado era sinônimo de ser civilizado, já o ato de ler signi- ficava a possibilidades de adquirir novos conhecimentos, porém não se considerava as habilidades de ler e escrever para comunicação dos indivíduos. Em 1882, 80% da população brasileira era analfabeta, e com a lei Saraiva, deste mesmo ano, foi proibido o voto de pessoas analfabetas, com um discurso idealizador de incentivo a busca por escolarização. No ano de 1890 começaram a formar normalistas que logo após assumiam salas para o ensino das primeiras letras. A partir da década de 1890, professores eram instruídos a alfabetizar através dos métodos analítico (veremos as características de cada método no módulo 4). Até 1920 houve um forte embate entre os defensores dos métodos analíticos e sintéticos. Na década de 1920 destacou-se no canário educacional brasileiro a difusão do Movimento Escola Nova. Nesse período, criou-se os testes ABC, compostos por oito provas que tinha como objetivo medir as capacidades dos alunos para iniciar o proces- so de alfabetização, assim os alunos que possuíam tais habilidades eram encaminhados para as salas de alfabetização, criando turmas homogêneas, e aqueles que não atingiam tais objetivos eram encaminhados para salas de pré-alfabetização. Este modelo durou até 1970, onde cabia aos professores aplicar os testes e classificar os educandos, de acor- do com objetivos e manuais pré-estabelecidos. O período vivenciado durante a Ditadura Militar destaca-se classificado como tecnicista, o que contribuiu muito para separar ainda mais a teoria da prática. Nesta mesma época começaram a surgir rumores de uma Pedagogia Libertadora, de Paulo Freire. O autor propunha um processo de alfabetização em que prevalecesse o significa- do das palavras, e que além da leitura da palavra os alunos pudessem fazer uma leitura e compreensão de mundo. 4 O final da década de 1970 foi cercado por diversos movimentos sociais, após a queda da Era Militar, iniciou-se a redemocratização do país, e com isso inicia-se tam- bém um novo período na área educacional brasileira, principalmente no que diz res- peito a alfabetização. Os anos seguintes foram tumultuados, com um cenário político conturbado, os índices de analfabetismo dos brasileiros chegavam aos 26% e o fracasso escolar atingia 19% dos alunos das séries iniciais. Aqui iniciou-se discursos fundamentados nas teorias construtivistas. Em 1986 “A Psicogênese da Língua Escrita” de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, passa a fazer parte dos discursos das normatizações para professores de turmas de alfabetização. No asno de 1990, a educação brasileira ia de mal a pior, gerou-se uma ideia de que os professo- res das turmas de alfabetização não possuíam habilidades suficientes para alfabetizar os alunos. Em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais foram fundamentados na teoria construtivista de Piaget, e na alfabetização, Emilia Ferreiro e Ana Teberosky contribuí- ram de forma significativa com o livro Psicogênese da Língua Escrita, que defende que a construção da escrita deve ser realizada pelo sujeito em processo de alfabetização através da sua relação com o objeto de conhecimento, mediada pelo professor. Entre os anos de 2001 e 2005 as teorias destas autoras foram difundidas pelo MEC através de cursos de capacitação para professores, como o Programa de Forma- ção de Professores Alfabetizadores. Mas não foi somente a teoria construtivista que permearam este período, a partir do ano de 2000 o letramento passou a fazer parte do contexto educacional brasileiro. Assim o termo e as pesquisas ao Letramento passaram a conquistar um espaço privilegiado, através dos estudos de Magda Soares e de cursos como o Pró Letramento (programa de formação continuada do governo federal). A partir de ano de 2010, todas as crianças com seis anos deveriam estar matricu- ladas no primeiro ano do Ensino Fundamental nas escolas públicas e privadas de todo o país, a entrada de crianças de seis anos no Ensino Fundamental aumentou o tempo de escolarização para nove anos. As teorias na perspectiva do letramento tornaram-se oficial e os livros didáticos distribuídos pelo MEC, para serem aprovados, necessitam fazer uso deste termo. Em 2012 o governo federal assinou o PNAIC – Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa e os professores passaram a receber cursos de formação continuada. O PNAIC foi um compromisso assumido por governos federal, estaduais, municipais e distrito federal para assegurar que todas as crianças fossem alfabetizadas até os oitos anos de idade, ao final do terceiro ano do ensino fundamental de nove anos. De acordo com o MEC, o objetivo principal deve ser formar cidadãos mediante acapacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da es- crita e do cálculo; a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade. 5 A proposta pedagógica deve ser coerente com os objetivos da segunda infância, os conteúdos a serem abordados no primeiro ano do novo Ensino Fundamental não são os abordados na antiga pré-escola. No primeiro ano do ensino fundamental de nove anos prioriza-se antes de tudo a qualificação da alfabetização e do letramento, ou seja, o pro- fessor deve reorganizar as estratégias e recursos pedagógicos para trabalhar a alfabeti- zação, o letramento e o raciocínio lógico de acordo com a faixa etária e as necessidades dos alunos de seis anos. A BNCC – Base Nacional Comum Curricular – é outra ação que visa aumentar os números de crianças alfabetizadas no Brasil e define que a alfabetização deverá ocorrer até o término do segundo ano do ensino fundamental. Atuais textos divulgados pelo governo federal junto ao Ministério da educação deixam claro que os alunos das turmas de alfabetização devem ter o domínio da leitura e da escrita, algo que é fundamental para o pleno exercício da cidadania, alfabetizar e formar sujeitos que façam a leitura da realidade para muito além das letras. A escrita não deve ser mais concebida apenas como código de transcrição gráfica das letras. Escola e professores precisam propor- cionar aos alunos um ambiente alfabetizador, permitindo o contato com frequente e significativo com os livros e as mais variadas formas de leitura e escrita, quanto mais situações de uso da leitura e da escrita os alunos forem expostos mais rápidos e eficazes será o processo de alfabetização destes alunos. Concepções de: Ensino e Aprendizagem, Alfabetização e Letramento Neste módulo, estudaremos sobre algumas concepções de como se estabelece a aprendizagem da leitura e da escrita nos alunos. Esta compreensão de como ocorrem os processos de ensino e aprendizagem em alunos de turmas de alfabetização irão definir suas práticas pedagógicas como professor. É muito importante que o professor conheça as concepções de alfabetização e le- tramento, tais abordagens irão contribuir para a definição de objetivos claros e eficazes, que favoreçam a aprendizagem dos alunos, assim como qual será o seu perfil enquanto profissional. Caso você entenda que estar alfabetizado é saber codificar e decodificar, seu mé- todo de trabalho seguirá por um caminho, mas se você entender que alfabetização in- clui também a compreensão do sistema alfabético, a participação em situações reais de leitura e de escrita, a compreensão de mundo, sua prática pedagógica percorrerá outros caminhos. A forma como o professor elabora seus objetivos e como prepara suas atividades revela como esse entende aquele sujeito que aprende. A alfabetização não pode ser algo que acontece fora de um contexto, por trás do que chamamos de ler e escrever existem competências específicas para cada etapa do desenvolvimento infantil. 6 O espaço chamado de sala de aula é privilegiado, pois permitem troca de expe- riências, conhecimentos e vivências. As rotinas, as relações e as representações que ali se encontram são expressões de um sistema social. Tudo aquilo que o aluno já sabe, sua história, sua cultura, suas especificidades devem contemplar todas as situações de aprendizagens. Ao elaborar as atividades o professor deve ter como objetivo permitir que seus alunos tenham a possibilidade de vivenciar experiências múltiplas, estimular a criatividade, a imaginação e desenvolver as mais diversas linguagens. Como foi possível verificar no módulo 1, nosso país possui uma longa história de insucesso no que diz respeito à alfabetização, assim, o professor além de dar conta deste contexto desastroso, deve também levar em consideração as particularidades do aluno que aprende e os novos paradigmas de alfabetização. Compreender os processos pelos quais a criança percorre até, de fato, aprender a ler e a escrever é um grande desafio para professores alfabetizadores. Como a Criança Aprende “O aluno constrói o seu desenvolvimento na interação com o meio em que vive. Portanto, depende das condições desse meio, da vivência de objetos e situações, para ul- trapassar determinados estágios de desenvolvimento e ser capaz de estabelecer relações cada vez mais complexas e abstratas. Os entendimentos dos alunos são decorrentes do seu desenvolvimento próprio frente a uma e outras áreas de conhecimento.” Jussara Hoffman Estudos da Psicolinguística, que dão continuidade aos estudos de Piaget sobre Psicogenética, vem ao longo dos anos tentando responder como a criança constrói este processo que é o sistema da escrita, por isso torna-se tão importante entender o que e como a criança aprende quando aprende a ler e a escrever. Já vimos que ao longo dos anos houve muitas mudanças na forma de ensinar a ler e a escrever (mais adiante fala- remos sobre os métodos de alfabetização). É preciso ter em mente que ler e escrever é um processo contínuo que envolve a construção e reconstrução de normas próprias de um código linguístico. O aluno cons- trói como sujeito ativo, seu conhecimento sobre leitura e escrita. O processo de apren- dizagem da leitura e da escrita não é fácil, nem simples. Trata-se de uma evolução com- plexa, individual e subjetiva, porém exige estímulo, motivação e troca de informações. Para estabelecer uma correta e completa relação entre os sistemas de fala e escrita o aluno carece de uma diversificada interação com leitura e escrita, assim baseando-se nos modelos que o meio lhe oferece o aluno vai construindo seu próprio entendimento do que é ler e escrever. 7 Antes de apropriar-se de um sistema convencional, a criança cria e recria, e utiliza de normas e sinais próprios para reapresentar a sua forma de escrita. Nesse caso, o alu- no vai formulando hipóteses, confronta diferenças da sua produção pessoal com a que encontra no ambiente alfabetizador e social. Quando começa a aprender escrever a criança rabisca, mistura letras, símbolos e números, cria, experimenta e assim passa a ajustar a sua escrita à de um adulto, até se apropriar de fato do sistema convencional de escrita. Para que estas experiências sejam positivas, é necessário que haja o “erro”, esses são o que chamamos de erros construti- vos e serviram como alavanca no processo de aquisição da escrita. A criança deve ser vista pelo professor como um sujeito capaz de pensar e fazer relações em atividades de leitura e escrita mesmo antes de estar alfabetizada, ao ser confrontada com experiências diversificadas surgem conflitos cognitivos que podemos nomear de motor da aprendizagem. Para chegar ao patamar de alfabetizada a criança percorre um caminho de muitas descobertas, onde deve ser desafiada a pensar e procurar respostas cada vez mais próxi- mas do conceito alfabético da escrita. A partir do momento em que o professor acredita na capacidade da criança de reformular suas ideias ele dá condições para que ela evolua. O processo de alfabetização demanda que a criança perceba para que serve a leitura e a escrita, não perdendo a função comunicativa e social destas habilidades. As práticas pedagógicas devem priorizar um trabalho que desenvolva competências, como, para que se escreve, o que se deseja que o outro saiba, quais sentimentos e experiências serão utilizadas, qual o formato de “texto” adequado. Durante o processo de alfabetização a criança deve ser estimulada a experimen- tar ler e escrever de diversas maneiras, exercitando sua autonomia, sem censuras ou correções constantes e constrangedoras, maiores serão as possibilidades de sucesso ao concluir esse processo. Além de aprender a escrever, a criança precisa conhecer a idéia de função social da escrita, compreender que a escrita serve para comunicar, informar, divertir, ou seja, fazer registros sociais, e a leitura estará diretamenteligada a estas mesmas funções. O processo de alfabetização precisa ser prazeroso e instigante, o aluno precisa receber motivação para construir seu conhecimento. As práticas pedagógicas devem promover atividades dinâmicas e lúdicas, com problemas a serem resolvidos e com in- formações contextualizadas, nesse sentido as cópias mecânicas e as repetições infinitas das famílias silábicas devem ser dispensadas. Estudos mostram que para a aprendizagem da escrita e da leitura revela a impor- tância da atenção do cérebro e da motivação, para aprender conhecimentos formais, como a escrita a criança depende de processos complexo de atenção. A atenção é neces- 8 sária para perceber as informações presentes no contexto, como para realizar processos internos do pensamento que caracterizam a dinâmica da aprendizagem e a formação de memórias. A motivação é um componente importante no processo de aprendizagem, a mo- tivação está articulada diretamente ao sistema emocional, a percepção do contexto que cerca o aluno e a visão de si mesmo. Cabe ao professor propor situações didáticas que motivem seus alunos garantindo seu interesse pelo tema proposto, e sua disposição de realizar atividades que elevem os conhecimentos das crianças. O papel do professor é fundamental no desenvolvimento de seus alunos, tanto no momento de organizar e planejar as atividades como nos tipos de intervenções que irá oferecer para as crianças diante de situações que sejam disafiadoras. Para que a evolução do aluno ocorra o professor precisa entender como ocorre a construção individual de cada um, colocando-se no ponto de vista do ser que aprende e verificar como e por que ele pensa e faz a sua escrita de determinada maneira, nessa di- reção o professor destaca-se como mediador entre o aluno e o objeto de conhecimento. As intervenções devem ser planejadas para favorecer a atuação do aluno sobre aquilo que ele escreve. Nesse contexto, o professor precisa de domínio do conteúdo teórico e estabelecer constante intercâmbio entre teoria e prática, o professor mediador não limita-se a dar atividades e corrigi-las, mas sim de identificar os avanços dos alunos e qual o momento e maneira correta de fazer intervenções. Esse tipo de trabalho requer um profissional seguro, capaz de contribuir para que a criança consiga adquirir todos os conhecimentos necessários para ler e escrever com autonomia a partir de suas próprias ideias e cons- truções. Estudos recentes da neurociência revelam que as funções executivas do cérebro são fundamentais para aprendizagem, estas funções são definidas como um conjunto de habilidades e capacidades que nos permitem identificar objetivos, planejar e executar ações para atingi-los. Os processos de aprimoramento das funções executivas corresponde ao desen- volvimento do córtex frontal do cérebro, região que amadurece lentamente, mas que tem surtos de evolução entre 7 e 9 anos, em termos práticos, após os 7 anos de idade, a criança está apta a definir metas e organizar pensamentos, servindo-se de conhecimen- tos previamente acumulados e de recuperação de memória de suas experiências. Para aprendizagem da leitura e da escrita o aluno necessita ter estas habilidades, para ter contato com conceitos linguísticos mais sistematizados que exigem organiza- ção, planejamento para enfrentar atividades desafiadoras. É importante destacar que os objetivos a serem alcançados devem ser sempre relacionados aquilo que é valorizado pela cultura que a criança está inserida e podem ser internalizadas por ela através de observações de modelos pré-estabelecidos pelo seu grupo social. 9 10 Conceitos de Alfabetização O que é alfabetização? Devemos considerar alfabetizada a pessoa que lê e escre- ve? Para muitas pessoas ler e escrever resume-se ao ato de codificar e decodificar? Ao procurarmos a palavra analfabetismo no dicionário encontraremos que se trata de pes- soas que não sabem ler e escrever. Por muito tempo se diferenciava o indivíduo alfabetizado do analfabeto exclusi- vamente pela consciência fonológica, ou seja, pela capacidade de associação entre sons e letras para a construção de palavras. Atualmente a alfabetização não se restringe apenas ao fato do sujeito saber ler e escrever ou fazer adaptações de códigos, mas envolve um processo complexo sobre representação da fala. Para aprender a ler e escrever a criança precisa pensar sobre a escrita e como funciona graficamente no uso da linguagem. No decorrer da história da humanidade o conceito de alfabetização passou por diferentes perspectivas. Vejamos o que pensam sobre alfabetização alguns autores con- ceituados sobre o assunto, de acordo com Ferreiro (1999, p. 47): Alfabetização não é um estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é, na maioria dos casos, anterior a escola e que não termina ao finalizar a escola primária. Magda Soares 2004 nos coloca que: Alfabetização é dar acesso ao mundo da leitura. Alfabetizar é propiciar condições para que o indivíduo tenha acesso ao mundo da escrita, tornando-se capaz não só de ler e escrever, enquanto habilidades de decodificação e codificação do sistema da escrita, mas, sobretudo, de fazer uso real e adequado da escrita e todas as funções que ela tem em nossa sociedade e, também como instrumento na luta pela conquista da cidadania plena. Freire (1994, p.32) aponta que alfabetização é: É construir um conhecimento. Alfabetizar-se é adquirir uma língua escrita através de um processo de construção do conhecimento com uma visão critica da realidade. A criança é o sujeito do processo educativo, não havendo dicotomia entre o aspecto cognitivo e afetivo, mas uma relação dinâmica, prazerosa, dirigida para o ato de conhecer o mundo. Ao analisarmos os trechos citados acima podemos notar que o termo alfabetiza- ção perpassa diferentes aspectos, porém todos eles enfatizam o fato que alfabetizar se trata de um processo de construção do conhecimento, que vai além da decifração de códigos e não possui um fim, mas um processo que está em constante reconstrução. Alfabetização é aprender o alfabeto e saber como utilizá-lo como um código de comunicação, podemos ainda incluir o aprendizado e construção da gramática em seus 11 diferentes níveis. Ler significa interpretar, compreender e contestar para que a produção de conhecimento seja adquirida e para isso é preciso que tenha acesso gradativamente a diferentes tipos de textos. A alfabetização é responsável pela socialização das pessoas por possibilitar trocas de informações simbólicas com outros indivíduos e outras culturas. Por isso, é conside- rada como um fator que estimula o exercício de cidadania e o desenvolvimento da so- ciedade como um todo. Nos dois primeiros anos do ensino fundamental a alfabetização formal é assimilada. Após esse período de fixação, o aluno já poderá ser considerado um leitor. Começa então a fase de interpretação de textos. A aquisição do sistema de escrita, alfabetização, envolve conhecimentos que o aluno já possui sobre esse objeto ao chegar à escola, quanto a intervenção do professor que alfabetiza, a maior ou menor eficiência no uso da leitura e da escrita e na organi- zação de pensamentos depende das experiências positivas ou negativas de leitura e de escrita vivenciadas pela criança dentro e fora do contexto escolar. Entendida como o domínio de uma tecnologia, a alfabetização é um processo pontual, cujo término pode ser identificado. É a ação “de ensinar ler e escrever, que leva o aprendiz a conhecer o alfabeto, a mecânica da escrita/leitura, a se tornar alfabetizado” (ROJO, 2009, p.10). Já o processo de letramento é constante e deve iniciar quando a criança ainda não está alfabetizada, o letramento continua seu curso de desenvolvimento além da alfabetização. Conceitos de Letramento Podemos considerar Letramento um termo novo, ele surgiu entre os pesquisado- res e linguístas em meados dos anos 1985. O termo no Brasil como tradução de literacy – que denotaa condição, estado, fato de ser, aquele que aprende a ler e escrever. Assim, a palavra letramento surgiu para nomear o processo que acontece para além de aprender a ler e escrever. No Brasil , há diversos teóricos que discutem e buscam contribuir para a compreensão do letramento na alfabetização, um trecho de Rojo (2009, p.11) reproduz: “Defendo que um dos objetivos principais da escola é possibilitar que os alunos participem das várias práticas sociais que se utilizam da leitura e da escrita (letramentos) na vida da cidade, de maneira ética, crítica e democrática”. Segundo Kleiman (1995) e Soares (1998), o termo Letramento começou a ser uti- lizado no Brasil por especialistas educacionais a partir de 1989, com uma publicação de Mary Kato. De acordo com Soares (1998) quando se verificou que não bastava saber ler e escrever, e sim fazer usos sociais da leitura e da escrita , surgiu o termo letramento para se contrapor à alfabetização no sentido de apenas codificar/decodificar a lingua- gem verbal. 12 O conceito de letramento entra no cenário educacional e amplia a visão de alfa- betização, destacando não apenas o domínio da prática de ler e escrever, mas sim, o uso que o sujeito faz destas habilidades em práticas sociais. Magda Soares (1998) define letramento como: Letramento é o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de lei- tura e escrita; é o estado ou condição que adquire um grupo social ou indivíduo com conseqüência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais. A autora considera que o termo letramento traz consequências políticas, econô- micas e culturais para os sujeitos e indivíduos que se apropriam da escrita, fazendo com que tais habilidades se tornem parte de suas vidas como meio de expressão e comunica- ção. Mas afinal, qual é a diferença entre estar alfabetizado e letrado? Para Soares (2000), letramento é mais que alfabetização, é o estado que vive o indivíduo que não somente sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vivem. A diferença está centrada na dimensão e na qualidade do domínio da leitura e da escrita. Ao considerarmos uma pessoa alfabetizada, entendemos que esta domina o código alfabético, conhece os sons das letras, é capaz de ler e de escrever textos simples, mas não é necessariamente um usuário da leitura e da escrita na sua vida social. Este processo tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações de escrita, como rótulos, placas, revistas, jornais, sinalização de transito, e continua durante toda a sua vida. A alfabetização e letramento são processos distintos, cada um com suas particularidades, porém ambos devem ser levados em consideração para aprendizagem da leitura e da escrita. O professor alfabetizador não pode perder a especificidade da alfabetização como o domínio do sistema. Em se tratando de letramento, a atenção deste professor deve es- tar voltada ao fato de fazer com que o aluno se aproprie e se envolva em práticas sociais fazendo uso do sistema alfabético. Letramento vai além do conceito de escolaridade e de alfabetização. O fenômeno de letramento perpassa o mundo da escrita, assim a escola como o fator mais importan- te neste processo focaliza não o letramento como prática social, mas apenas uma das práticas de letramento: a alfabetização, o processo de aquisição dos códigos é concebi- do como competência necessária para a promoção e sucesso escolar. Ao tomar consciência do termo letramento, torna-se maior o compromisso em assumir uma dimensão sócio-histórica em nossas práticas de letramento, pois conceber cidadania em uma sociedade letrada requer oferecer condições para que os indivíduos possam lidar com autonomia com a palavra escrita, de modo que consigam atender as suas necessidades humanas e sociais, ocupando o espaço que lhes cabe na sociedade de 13 que fazem parte. Reconhecendo a importância e as características de cada um desses processos, o professor precisa combinar a alfabetização com letramento, garantindo aos alunos tanto a apropriação do sistema de escrita, como o domínio de práticas sociais de leitura e escrita. O professor como mediador deste contexto de construção de conhecimentos deve aceitar o desafio de “alfabetizar letrando”, possibilitar que o processo se desen- volva em um ambiente alfabetizador, onde a criança se relacione com diversos tipos de textos ao mesmo tempo que constrói sua base alfabética. Rojo (2009, p. 98) nos explica que o termo letramento “busca recobrir os usos e práticas sociais de linguagem que envolvem a escrita de uma ou de outro maneira, sejam eles valorizados ou não valorizados, locais ou globais, recobrindo textos sociais diversos (família, igreja, trabalho, mídias, escola, etc.) numa perspectiva sociológica, antropológica e sociocultural”. Para sintetizar esse tema, seguem algumas considerações de Soares (2004). O que se propõe é, em primeiro lugar, a necessidade de reconhecimento da especi- ficidade da alfabetização, entendida como processo de aquisição do sistema da escrita, alfabético e ortográfico; em segundo lugar, e como decorrência, a importância de que a alfabetização ocorra num contexto de letramento – entendido este, no que se refere à etapa inicial da aprendizagem da escrita, como a participação em eventos variados de leitura e escrita, e o consequente desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, e de atitudes positivas em re- lação a essas práticas; em terceiro lugar , o reconhecimento de que tanto a alfabetização quanto o letramento têm diferentes dimensões ou facetas, a natureza de cada um deles demanda uma metodologia diferente, de modo que a aprendizagem inicial da língua escrita exige múltiplas metodologias, algumas caracterizadas por ensino direto, expli- cito e sistemático – particularmente a alfabetização, em suas diferentes facetas – outras caracterizadas por ensino incidental, indiretas e subordinados a possibilidades e moti- vações das crianças; em quarto lugar, a necessidade de rever e reformular a formação de professores das séries iniciais do ensino fundamental, de modo a torná-los capazes de enfrentar o grave e reiterado fracasso escolar na aprendizagem inicial da língua escrita nas escolas brasileiras. É possível perceber que o conceito do termo letramento pressupõe uma visão mais ampla do termo alfabetização, discute a necessidade de entendermos as práticas peda- gógicas como um conjunto de atividades manifestadas por determinado grupo social, em diferentes esferas da vida, demonstrando a demanda por diferentes atividades para os mais diversos grupos por meio do uso da linguagem. 14 15 O Que a Legislação Vigente Fala Sobre Alfebetização A partir de ano de 2010, todas as crianças com seis anos deveriam estar matricu- ladas no primeiro ano do Ensino Fundamental nas escolas públicas e privadas de todo o país, a entrada de crianças de seis anos no Ensino Fundamental aumentou o tempo de escolarização para nove anos. A Lei de Diretrizes e Bases Nacionais da Educação, a LDB nº 9.394 de 20 de de- zembro de 1996 sinalizou para um ensino obrigatório de nove anos de duração. A Lei nº 10.172/2001 aprovou o Plano Decenal da Educação, visando estabelecer um conjun- to de diretrizes e metas para todos os níveis e modalidades de ensino, uma das ações pre- vistas no plano decenal é a ampliação do Ensino Fundamental de oito para nove anos. A Lei nº 11.274 de 6 de fevereiro de 2006 altera a redação dos artigos 29, 30, 32, 87 da Lei nº 9.394/96, dispondo sobre a duração de nove anos para o Ensino Fundamen- tal com matrícula obrigatória a partir dos seis anos de idade. Os sistemas municipais e estaduais teriam o prazo de cinco anos para implantar a obrigatoriedade da ampliação do Ensino Fundamental, ou seja, o ano de 2010. O PNE expõe sobre o atendimento as crianças de 06 anos no ensino fundamental que:...requer planejamento e diretrizes norteadoras para o atendimento integral da criança em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social, além de metas para a ex- pansão do atendimento, com garantia de qualidade. Essa qualidade implica assegurar um processo educativo respeitoso e construído com base nas múltiplas dimensões e na especificidade do tempo da infância. As leis determinam que o Ensino Fundamental de nove anos inicie-se aos seis anos de idade, de acordo com o MEC o objetivo é formar cidadãos mediante a capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das ar- tes e dos valores em que se fundamenta a sociedade. Com objetivo de que todas as crianças fossem alfabetizadas em Português e Ma- temática até o final do terceiro ano do ensino fundamenta, em 2012 instituiu-se, através da portaria 867 do MEC o Pacto pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC. Em 2017, o PNAIC passou por algumas alterações e passou a abranger coordenadores e professo- res da Educação Infantil. O projeto pretendia capacitar todos professores alfabetizado- res que atuassem na educação infantil até o terceiro ano do ensino fundamental. A proposta pedagógica deve ser coerente com os objetivos da segunda infância, os conteúdos a serem abordados no primeiro ano do novo Ensino Fundamental não são os abordados na antiga pré-escola. No primeiro ano do ensino fundamental de nove anos prioriza-se antes de tudo a qualificação da alfabetização e do letramento, ou seja, o pro- fessor deve reorganizar as estratégias e recursos pedagógicos para trabalhar a alfabeti- zação, o letramento e o raciocínio lógico de acordo com a faixa etária e as necessidades dos alunos de seis anos. 16 O domínio da leitura e da escrita é fundamental para o pleno exercício da cida- dania, alfabetizar significa formar sujeitos que façam a leitura da realidade para muito além das letras. A escrita não é mais concebida apenas como código de transcrição grá- fica das letras. Fazem-se necessário uma atenção especial para como se devem avaliar os alunos do primeiro ano do Ensino Fundamental, levando em consideração as necessidades e realidades em que todos os alunos se encontram. A avaliação no processo de alfabeti- zação se da em uma dimensão formativa continuada e terá a função diagnostica capaz de indicar os níveis, os conhecimentos e as dificuldades ao longo do processo de alfa- betização e quais as estratégias de intervenção necessárias para os avanços dos alunos. Conforme a LDB nº 9.394/96 é direito das crianças com seis anos uma educação que garanta seu desenvolvimento integral, em seus aspectos físico, psicológico, intelec- tual e social. De acordo com o Art.31 da LDB nº 9.394/96: a avaliação far-se-á median- te o acompanhamento e registro de seu desenvolvimento, sem o objetivo de promo- ção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. De acordo com o Parecer CNE/CEB nº4/2008 a avaliação deve ser: Processual, participativa, formativa, cumulativa e diagnostica. Não pode repetir a prática pedagógica, tradicional, limitada a avaliar os resultados finais traduzidos em notas ou conceitos. Não pode ser adotada como mera verificação de conhecimentos visando o caráter classificatório. O objetivo da ampliação do ensino Fundamental para nove anos é assegurar a todas crianças um tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e com isso uma aprendizagem significativa. Portando é necessário que esta ampliação seja feita com cuidado, é preciso ter claro que ampliação não é sinônimo de antecipação, professores, coordenação, supervisão e direção precisam de estratégias adequadas para que este processo seja feito de maneira correta sem prejudicar a apren- dizagem e o desenvolvimento cognitivo dos alunos. Sendo assim torna-se indispensável à verificação de como este processo vem acontecendo na prática, nas salas de aula. No dia 11 de abril, o decreto nº 9.765, que instituiu a Política Nacional de Al- fabetização (PNA), meta do Ministério da Educação lançou o PNA, considerado por muitos um marco para a educação brasileira. Depois de dezesseis anos da publicação do relatório final “Alfabetização Infantil: os novos caminhos”, elaborado a pedido da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, o Brasil deu o primeiro passo para ingressar no rol de países que buscam fundamentar em evidências científicas suas políticas públicas para a alfabetização. (acesso ao link ofical em: http://www.brasil.gov.br/100dias/ arquivos_pdf/acao-12-decreto-no-9-765-de-11-de-abril-de-2019.pdf) http://www.brasil.gov.br/100dias/arquivos_pdf/acao-12-decreto-no-9-765-de-11-de-abril-de-2019.pdf http://www.brasil.gov.br/100dias/arquivos_pdf/acao-12-decreto-no-9-765-de-11-de-abril-de-2019.pdf 17 A PNA tem como um dos seus princípios a ênfase no ensino dos seis componen- tes essenciais para a alfabetização: consciência fonêmica, instrução fônica sistemática, fluência em leitura oral, desenvolvimento de vocabulário, compreensão de textos e pro- dução escrita. Por meio da PNA deverão ser implementados programas e ações para a promoção da alfabetização com base em evidências das ciências cognitivas, aos quais os entes federativos poderão aderir voluntariamente. A finalidade é melhorar a qualidade da alfabetização no território brasileiro e combater o analfabetismo absoluto e o anal- fabetismo funcional. Por Dentro da BNCC – Base Nacional Comum Curricular A Base nacional Comum Curricular é um documento de nível federal que deter- mina as competências gerais e específicas essenciais para todos os alunos durantes as etapas da educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio). A BNCC deve ser vista como um conjunto de orientação com o objetivo de nor- tear as equipes pedagógicas na elaboração de cada currículo local. Este documento tem como objetivo garantir a todos os estudantes o direito de aprender habilidades para a construção do conhecimento em todo o território nacional. Assim pretende-se reduzir as desigualdades sociais, elevando a qualidade do ensino brasileiro. A Base mantém os principais objetivos previstos em documentos anteriores, como os Parâmetros Nacionais Curriculares- (PCNs), oficialmente a Base não trás quais abor- dagens pedagógicas específicas devem ser trabalhadas, porém deixa bem explícito al- gumas relações com o trabalho entre fala e escrita. O documento coloca em destaque a apropriação do sistema alfabético de escrita e suas especificidades, colocando em foco as ações pedagógicas nos anos iniciais do ensino fundamental. O documento também aponta para uma continuidade do trabalho desenvolvido na Educação Infantil, deixando claro que há uma ligação entre os dois segmentos. É ne- cessário compreender que ambos estão interligados e, nos anos iniciais do Fundamental, será possível intensificar e estruturar as experiências com a língua oral e escrita iniciadas na Educação Infantil. A BNCC, assim como os PCNs, assume a perspectiva enunciativa discursiva de linguagem, reconhecendo que ela é uma atividade que faz parte de um processo de inte- ração entre os sujeitos. Estabelece a centralidade no texto como unidade de trabalho e indica a necessidade de sempre considerar a função social dos textos utilizados. Durante a alfabetização, isso sinaliza para a importância de que os alunos com textos reais, que partem do contexto social de cada aluno. A partir deste documento, a especificidade da alfabetização é reconhecida e pro- põe a mescla de duas linhas de ensino: a primeira indica para a centralidade do texto e para o trabalho com as práticas sociais de leitura e escrita, a segunda soma a isso o pla- nejamento de atividades que permitam aos alunos refletir sobre o sistema de escrita alfa- 18 bética. Ao assumir essa postura, o documento considera as contribuições da perspectiva construtivista, principalmente os estudossobre os processos pelos quais as crianças passam para se apropriar da escrita. Mas também aponta ser preciso um trabalho com a consciência fonológica e com conhecimento das letras para ajudar a criança a evoluir em suas hipóteses de escrita. O ano de escolaridade limite para uma pessoa aprender a ler e escrever foi uma das questões mais discutidas durante a elaboração da BNCC. O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), que é a diretriz anterior, coloca como prazo-limite o 3º ano. A BNCC antecipou para o 2º ano e aponta que, no 3º ano, o processo continua com mais foco na ortografia. A BNCC estabelece cinco eixos para o ensino da Língua Portuguesa, sendo eles: Oralidade, Leitura, Escrita, Conhecimentos Linguísticos e Gramaticais e Educação Li- terária. Assim a alfabetização deve proporcionar que os alunos dominem o sistema de escrita alfabética e se aproprie de aspectos lingüísticos e no decorrer do ensino funda- mental aconteça a progressão dos conhecimentos, consolidando aprendizagens anterio- res e a ampliação de práticas de linguagem. Métodos, Como Aplicar? Existem diferentes teorias de aprendizagem que se propõe a explicar como a crian- ça aprende: por associação ( estímulo-resposta), pela ação do sujeito sobre o objeto do conhecimento (construtivismo), pela interação do aprendiz com o objeto do conheci- mento intermediado por outros sujeitos (sociointeracionismo). Estas teorias assumem formação de professores e embasam métodos e técnicas de alfabetização. Para professores, assumir uma turma de alfabetização, muitas vezes é uma res- ponsabilidade que assusta. Muitos professores consideram a tarefa de ensinar a ler e escrever muito difícil. E realmente, não podemos afirmar que se trata de uma tarefa fácil, porém e gratificante acompanhar a evolução dos alunos e verificar o quanto eles se desenvolvem e se encantam quando se descobre leitores e escritores. Alfabetizar uma turma com 25, 30 alunos, com ritmos de aprendizagens dife- rentes, e experiências leitoras e culturais completamente diversas torna esse processo complexo, mas não é impossível. O professor precisa ter objetivos claros, conhecer os caminhos que devem ser percorridos, ter calma e fazer intervenções significativas, assim conseguirá alfabetizar sua turma, de uma maneira agradável. Existem algumas questões que circulam entre os professores alfabetizadores, prin- cipalmente entre aqueles que irão assumir sua primeira turma. Como iniciar o trabalho com alfabetização? Como selecionar, organizar e transmitir os conteúdos? Qual método utilizar? 19 Nem sempre as teorias educacionais e os métodos transmitidos nos cursos nor- mais e nas faculdades de educação respondem estas questões de forma clara, como rea- lizar, de fato este trabalho na prática diária. A questão da metodologia a ser usada em sala de aula não deve ser discutida como uma questão mais ou menos importante na área da alfabetização, mas aquele profissional que se propõe a alfabetizar deve possuir um conhecimento teórico-metodo- lógico sobre alfabetização. O construtivismo na prática de sala de aula, muitas vezes limita-se a pontos mui- tos específicos: trabalhar com o nome das crianças, ensinar o alfabeto associado a esses nomes, ser mais tolerante com os erros dos alunos em fase de alfabetização e classificar as crianças em fases. Mas infelizmente isso é muito pouco para dar conta das especifici- dades que exigem todo o processo de alfabetização. O que professores precisam saber é que uma receita mágica, em que todos os alu- nos irão aprender a ler e escrever ao mesmo tempo, no mesmo nível, não existe. Cada professor deve adaptar seus conhecimentos e seus métodos de acordo com a realidade dos seus alunos, do contexto em que a escola que trabalha está inserida, assim o pro- fessor deve ter criatividade para criar recursos, inovar a prática, realizar intervenções, auxiliando seus alunos a construir caminhos necessários para chegarem ao final do processo alfabetizadas. Há muito, discute-se qual método é mais eficaz para alfabetizar os alunos: os sin- téticos (que partem da letra, da relação letra-som, ou da sílaba, para chegar à palavra), ou os analíticos, também chamados de globais (que tem como ponto de partida unida- des maior da língua, como um poema, parlenda, música, conto ou frase). Ao longo dos anos criaram-se muitas variações dos métodos de alfabetização tra- dicionais. Pesquisadores passaram a propor que as letras e os sons que estas represen- tam fossem relacionados a personagens, desenhos, cores. Muitos destes métodos foram experimentados em diferentes contextos, porém o que se verifica é que muitas vezes da certo, mas com algumas crianças não é eficaz. E agora, a culpa é do professor que não soube ensinar ou aplicar determinado método corretamente? Ou a criança que não esta apta para tal processo? Nenhuma das duas opções, o que acontece é que para aprender a criança precisa de condições básicas, de disponibilidade de um material interessante, que faça sentido e esteja de acordo com o contexto sociocultural do aluno e orientações e intervenções específicas, que sirva como uma mola propulsora, levando o aluno a evoluir no processo de ensino aprendizagem, o professor deve assumir este desafio, e desenvolver um traba- lho explícito no que diz respeito ao alfabetizar. 20 21 Métodos Sintéticos Pesquisas permitem supor que os primeiros métodos utilizados no ensino da es- crita foram os sintéticos, muitos são utilizados atualmente. Os métodos sintéticos se baseiam num mesmo pressuposto: o de que a compreensão do sistema de escrita se faz sintetizando/juntando unidades menores, que são analisadas para estabelecer a relação entre a fala e sua representação escrita, ou seja, a análise fonológica. Dependendo do método, essas unidades de análise podem ser escolhidas entre letras, fonemas ou sílabas, que se junta para formar um todo. A aprendizagem pelos métodos sintéticos leva à decodificação ou decifração. A proposta dos métodos denomi- nados SINTÉTICOS partia de uma proposta do ensino das unidades menores, ou seja, primeiro apresenta-se as letras, após os fonemas, sílabas, até chegar na unidades mais complexas, como palavras e frases. Nos métodos sintéticos o enfoque se da principalmente no processo CODIFI- CAÇÃO E DECODIFICAÇÃO, análise fonológica, onde o aluno faz relação de cada grafema (letra) e seu fonema (som). Com a utilização do método sintético é possível o desenvolvimento do que chamamos de CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA e os processos de codificação (escrita) e leitura (decodificação). Porém desconsidera os usos e funções sociais da escrita, pois em determinado momento o aluno terá que se desvincular da fala para ler/escrever frases e textos, já que em alguns casos a escrita não representa os sons da fala. O método sintético divide-se em: ALFABÉTICO (soletração), FÔNICO E SILÁ- BICO. Vale ressaltar que cada método utilizado caracteriza-se por contexto histórico do cenário educacional. Dentre os métodos sintéticos, o mais antigo, que foi utilizado em massa até o início do século XX, é o método alfabético. Consistia em apresentar partes mínimas da escrita, as letras do alfabeto, que, ao se juntarem umas às outras, formavam as sílabas ou partes que dariam origem às palavras. Os aprendizes, primeiro, deveriam decorar o alfabeto, letra por letra, para encontrar as partes que formariam a sílaba ou outro segmento da palavra; somente depois viriam a entender que esses elementos poderiam se transformar numa palavra. Mais tarde, criou-se o procedimento de soletração, que gerou exaustivos exercícios e também o treino com possíveis combinações de letras em silabários. Essas atividades eram sem sentido, porque se demorava a chegar ao significado. Os alunos decoravam combinações (be-a-ba, be-e-be, etc.) e soletrando para tentar de- cifrar a palavra bola: “be-o-bo, ele-a-la = bola”. O material que pode ser citado, que coincide com o uso do método alfabético, são as Cartilhasde ABC e os silabários. O método alfabético trazia uma vantagem: o próprio nome de cada letra do alfabeto (com algumas exceções) remete a pelo menos um dos fonemas que ela representa na escrita. 22 Entretanto, no momento de leitura das palavras, na junção das partes feita me- diante a pronúncia do nome da letra, ocorria um percurso torturoso. Era preciso pro- nunciar primeiro o nome da letra, mas também tentar abstrair os outros sons existentes em seu nome. Isso era necessário porque, ao se pronunciar o nome da letra, entravam sons que não pertenciam à sílaba ou à palavra. Tente imaginar a abstração necessária ao aprendiz, para retirar o excesso de sons na palavra que se soletra assim: “bê-a-ba, ene-a-na, ene-a-na = banana”. O método alfabético resume-se em: 1º. Memorização dos nomes das letras; 2º. Representação gráfica; 3º. Representação das famílias silábicas (B+A=BA. B+E=BE...) 4º. Início com palavras monossílabas, dissílabas, trissílabas, polissílabas e sílabas não canônicas. 5º Textos segmentados: (A-CA-AS-A-MA-RE-LA-NA-FLO-RES-TA) » Elas podem ser formadas somente por vogal (V) ou por vogal e consoante (V + C), entre outras opções, tal como acontece com os encontros consonantais.Exemplos: ad-je-ti-vo, ca- -ne-ta, e-la, es-co-la. » São sílabas canônicas: -je, -ti, -vo (da palavra adjetivo); ca-,-ne,-ta (da palavra caneta); -la (da palavra ela); -co,-la (da palavra escola). » São sílabas não canônicas: ad- (da palavra adjetivo); e-(da palavra ela). No método FÔNICO ou FONÉTICO destaca-se pelo uso das correspon- dências grafofônicas. Seu princípio organizativo é a ênfase na relação direta entre fone- ma e grafema, ou seja, entre o som da fala e a escrita. Neste método o ensino se inicia pela forma e pelo som das vogais, seguidas pelas consoantes. Cada letra (grafema) é aprendida como um som (fonema) que, junto a ou- tros fonemas, pode formar sílabas e palavras. Para o ensino dos sons, há uma sequência que deve ser respeitada – dos mais simples para os mais complexos. Para atenuar a falta de sentido e aproximar os alunos de algum significado, foram criadas variações do método fônico, com diversas formas de apresentação dos sons: seja a partir de uma palavra significativa, de uma palavra vinculada à imagem e ao som, de um personagem associado a um fonema, de uma onomatopeia ou de uma história. O destaque ao fonema isolado é ainda hoje empregado em alguns materiais que utilizam cartazes com figuras que ajudem a destacar a letra e seu som em posição inicial e o fonema em posição final, sendo que este é emitido várias vezes pelos alunos e pelo professor (ao ver a letra M, pronunciam mmmmm…). Uma das principais críticas diri- gidas a esse método de alfabetização refere-se à impossibilidade de que um fonema que aparece na corrente da fala de forma contextualizada seja pronunciado sem apoio de uma vogal. Em resumo o método fônico funciona da seguinte maneira: 23 1º. Vogais, nome das letra e o seu som são iguais; 2º. Palavras formadas apenas por vogais; 3º. Apresentação dos fonemas regulares, de forma isolada: (d, b, f, j, m, n); 4º. Junção dos fonemas regulares e os irregulares, formando sílabas; 5º. Formação de palavras; 6º. Formação de frases; 7º. Formação de textos. Já o método SILÁBICO caracteriza-se pela apresentação visual de sílabas prontas, sem forçar a articulação das consoantes com as vogais, e sem destacar as partes que compõem a sílaba. O princípio básico é que a consoante só pode ser emitida se apoiada na vogal; logo, somente a sílaba (e não as letras) pode servir como unidade linguística para o ensino inicial da leitura. No desenvolvimento do método, geralmente é escolhida uma ordem de apresen- tação “do mais fácil para o mais difícil”, ou seja, das sílabas “simples” para as “com- plexas”. Em várias cartilhas, o trabalho inicial deste método centra-se nas vogais e em seus encontros, como uma das condições para a sistematização posterior das sílabas. Muitas delas apresentam desenhos e palavras-chave cujas sílabas iniciais, realçadas em outras cores e tipos gráficos, são apenas apresentadas e depois destacadas das palavras e memorizadas em grupos silábicos. As famílias silábicas são inicialmente compostas por consoante e vogal (da, de, di, do, du) e recompostas para formar novas palavras. Grada- tivamente, pequenas frases e textos são propostos, a partir de combinações entre sílabas já estudadas. Em geral, a preocupação em focar a sílaba é maior do que a preocupação com o sentido e as estruturas das frases e dos textos. O método silábico resume-se em: 1º. Apresentam-se aos alunos as vogais com imagens e palavras, como A de abelha, E de elefan- te e assim por diante; 2º. Apresenta-se as sílabas simples, utilizando como recurso imagens e destacando o MA maca- co, o NA de navio, o PA de pato; 3º. Após inicia-se o trabalho da família silábica da silba que foi destacada na imagem; 4º. Formação de palavras; 5º. Formação de frases; 6º. Formação de textos; Podemos destacar nos métodos citados acima a insistência na correspondência entre o oral e o escrito, ou seja, grafia e som, estabelecendo um processo que inicia nas unidades menores até chegar ao todo. A estratégia perceptiva utilizada é a auditiva, o que torna o processo de leitura algo mecânico. 24 25 Métodos Analíticos A proposta dos métodos analíticos parte das unidades mais amplas, como pala- vras, frases e textos e assim, após a decomposição em sílabas, grafemas e fonemas. O método tem como objetivo levar os alunos a uma compreensão visual e o conhecimento global das palavras, possibilitando a leitura de unidades com sentido. Em alguns momentos, caso não haja uma correta orientação por parte do pro- fessor o aluno pode ter dificuldades, utilizando da memorização sem observar que as palavras são compostas de unidades menores (sílabas e letras). Os métodos analíticos ou globais priorizam como unidade a palavra, a frase ou o texto, podemos destacar os seguintes processos: PALAVRAÇÃO, SETENCIAÇÃO E GLOBAL – CONTOS/TEXTOS. Vejamos como eles acontecem na prática. O método de PALAVRAÇÃO parte de unidades de significado, a ênfase recai na palavra, portanto as palavras são apresentadas em agrupamentos e os alunos aprendem a reconhecê-las pela visualização e pela configuração gráfica. Os defensores da memo- rização pelo perfil gráfico acreditam ser essa estratégia cognitiva algo “natural” no ser humano. Para o desenvolvimento de atividades, são utilizados como procedimentos car- tões para fixação, com palavras de um lado e figuras de outro; exercícios para o ensino do movimento de escrita de cada palavra, entre outros. Assim se resume o método da palavração: 1º. Apresentação de palavras ilustradas que fazem parte do universo infantil; 2º. Memorização (leitura e escrita das palavras); 3º. Divisão silábica das palavras; 4º. Formação de novas palavras com as sílabas estudadas; 5º. Estudo e análise de grafemas e fonemas; 6º. Formação de frases; 7º. Formação de textos; A atenção do aluno pode ser dirigida a componentes da palavra escrita ou falada, como letras, sílabas e sons. Essas duas estratégias reunidas garantiriam o enfrentamento de textos novos. Para o desenvolvimento de atividades, são utilizados cartões para fixa- ção, com palavras de um lado e gravuras de outro, exercícios cinestésicos para o ensino do movimento de escrita de cada palavra, entre outros recursos e procedimentos. A ênfase no significado e em ações inteligentes de busca de leitura como fonte de prazer e informação e a crença na ligação entre a percepção de idéias e formas na aprendizagem. Como principais desvantagens, aparecem as dificuldades em enfrentar palavras novas, quando os professores se limitam à simples visualização, sem incentivar a análi- se e o reconhecimento de partes da palavra. Um segundo desdobramento do princípio global levou à criação do método de SENTENCIAÇÃO que consiste no uso da frase, 26 destacando que se faz nele o uso de um grupode palavras com sentido desde o começo da alfabetização. O ponto de partida são atividades de expressão oral das crianças, cujos enuncia- dos são transformados em orações simples e escritos em faixas de distintos tamanhos, exibidas na sala de aula para que as crianças possam ilustrá-las, conservando-as numa certa ordem. Essas frases podem depois ser consultadas para que as crianças encontrem nelas novas palavras e combinações. Os passos seriam os seguintes: 1º. Apresentação de palavras ilustradas que fazem parte do universo infantil; 2º. Memorização (leitura e escrita das palavras); 3º.Observação de palavras semelhantes dentro da sentença; 4º. Formação de grupo palavras; 5º. Isolamento de elementos conhecidos dentro de cada palavra (sílaba); 6º. Estudo e analise dos grafemas e fonemas; Algumas vezes é possível observar algumas dificuldades na aprendizagem de pa- lavras novas, se os professores mantêm a simples visualização, sem incentivar a análise e o reconhecimento de partes da palavra. Atualmente, é comum a utilização, nas classes de alfabetização, de palavras estáveis, como os nomes próprios, nomes de personagens, expressões de parlendas e outras mais frequentes, que posteriormente podem ser usadas para análise e comparação de segmentos menores como letras, sílabas e palavras. O método global integra o conjunto dos métodos analíticos que se orientam no sentido do todo para as partes. Defende que a criança percebe as coisas e a linguagem em seu aspecto global, que a leitura é uma atividade de interpretação de ideias e que a análise de partes deve ser um processo posterior. É possível verificar pontos comuns entre os defensores dos métodos denominados analíticos/globais: 1) a linguagem funciona como um todo e as partes somente têm sen- tido em função de uma unidade; 2) existe um princípio de sincretismo no pensamento infantil: primeiro percebe-se o todo e depois as partes; 3) os métodos de alfabetização devem priorizar a compreensão; 4) no ato da leitura, o leitor utiliza estratégias globais de reconhecimento; 5) o aprendizado da escrita não pode ser feito por fragmentos de palavras, mas por seu significado; 6) a escola tem que acompanhar os interesses, a lin- guagem e o universo infantil e, portanto, as palavras percebidas globalmente também devem ser familiares e ter sentido para a criança. Vejamos alguns passos do método GLOBAL – CONTOS/TEXTOS: 1º. Apresentação das partes do texto como sentido completo, em cartazes; 2º. Memorização, escrita e leitura do texto; 3º. Decomposição do texto estudado em frases; 4º. Decomposição de frases em palavras; 27 5º. Decomposição das palavras em sílabas; 6º. Formação de novas palavras com as sílabas estudas; 7º. Estudo e análise de grafemas e fonemas; Na atualidade, enfatiza-se que os textos têm que ser aqueles que circulam na sociedade e não inventados para efeitos de ensino; as crianças devem ler e escrever na escola para desenvolver diferentes funções sociais e gêneros da escrita. Os professores têm recuperado metodologias semelhantes às do método global, utilizando a apresenta- ção de histórias, parlendas, advinhas e outros textos para que as crianças memorizem, montem e desmontem frases e depois identifiquem palavras que serão decompostas. Com foco na memorização global, possibilita que os alunos não se percam na tentativa de decodificação e que leiam com rapidez palavras conhecidas. Contudo, há também desvantagens. Se os alunos não aprenderem a decodificar, como lerão palavras novas? Como o professor pode saber se os alunos estão realmente lendo ou recitando palavras e textos decorados? Em síntese, poderíamos dizer que os métodos globais, tal como foram popularizados, seguem a marcha analítica (do todo para as partes, da sínte- se para a análise), pretendem priorizar o sentido e estabelecem algum tipo de progressão na fragmentação das unidades que serão analisadas. Essa progressão também define a intervenção do professor. Antes do professor se perguntar: Afinal, qual é o melhor método? Qual devo utilizar? É necessário que haja reflexão sobre o sentido do processo de alfabetização, o ensino da leitura e da escrita deve ser intencional e explícito, mas de uma maneira agra- dável, sem exageros em atividades de repetição, centradas apenas na memorização. O professor deve estar atento a realidade a sua volta para encontrar assuntos que sejam interessantes aos seus alunos, assim despertará a curiosidade, com o ensino de palavras que façam sentido e posteriormente transformadas em frases e textos criados pelos próprios alunos. Algo importante que dever ser levado em consideração é o interesse do aluno em aprender determinada letra/palavra, a melhor estratégia é sanar a curiosidade do aluno no momento em que ela se manifesta. Independente do método escolhido o professor teve ter objetivos claros, planejamento, atenção, observação e registros diários dos avanços dos seus alunos, assim será possível verificar as dificuldades individuais e procurar soluções eficazes para auxiliar os alunos. 28 29 Ambiente Alfabetizador Ambiente alfabetizador “é aquele em que há uma cultura letrada, com livros, tex- tos – digitais ou em papel – um mundo de escritos que circulam socialmente. A comuni- dade que usa a todo o momento esses escritos, que faz circular idéias que eles contêm, é chamada alfabetizadora”. Ana Teberosky Desde que passou a considerar um AMBIENTE ALFABEIZADOR que facilitas- se a aprendizagem da leitura e da escrita muitos professores passaram a acreditar que bastava “rechear” as paredes das salas de aula com letras, cartazes, imagens, etiquetas e estariam proporcionando aos seus alunos um ambiente adequado para o ensino da escrita e leitura. Foram acrescentados itens e mais itens, uma verdadeira enxurrada de materiais nas salas de alfabetização, como famílias silábicas de diversos tipos, cartazes com vogais e consoantes, crachás, listas de alunos, listas de materiais escolares, e passou-se a crer que pela simples exposição constante desses materiais os alunos iriam aprender a ler de “forma acidental”. A questão central é que somente a exposição ao escrito não fará com que se com- preenda o sistema de escrita, mas sim a participação em práticas de leitura e escrita, nas quais se pode observar o professor como um leitor e escritor realizando tais habilidades, aquele que o aluno pode perguntar sobre as práticas de linguagem, tirar dúvidas. Assim, um ambiente alfabetizador não pode ser compreendido apenas como um lugar com muitos escritos expostos, mas um lugar onde se pratica a leitura e a escrita, onde se podem fazer perguntas a respeito do funcionamento, da organização, das fun- ções e tudo mais que as crianças queiram saber sobre esse sistema. A organização adequada da sala de aula pode facilitar o processo de ensino apren- dizagem dos alunos, a convivência da criança com diferentes tipos de materiais e textos auxilia no desenvolvimento da língua escrita. Ensinar os alunos a ler e escrever é deixá-los vivenciar situações cotidianas de leitura e escrita, criar espaços que seja possível brincar, manusear materiais, ler e escre- ver de forma espontânea. Como sugestão, o professor pode organizar uma caixa com diferentes tipos de histórias, jornais, revistas, gibis, rótulos, proporcionando aos alunos contato com diversos gêneros textuais, mesmo para os alunos que ainda não estão alfa- betizados, aguçar a curiosidades das crianças sobre a escrita e a leitura é um excelente recurso. O professor, por meio de propostas pedagógicas, ajuda seus alunos a encontrarem respostas para suas dúvidas, a praticar e a pensar sobre a escrita. A exposição só faz sentido se puder informar sobre a escrita e seus usos sociais efetivos. Um ambiente alfa- betizador não é simplesmente um lugar onde se expõem cartazes com textos, famílias de 30 sílabas, mas onde os alunos participam das práticas de linguagem: lêem livros de contos de fadas, jornal, textoscientíficos ou referenciais; escrevem regras de jogos, cartas para alguém, registram suas atividades. Mas afinal, o que deve ter na minha sala de aula? Você, enquanto professor deve estar atento a realidade dos seus alunos e ao contexto sociocultural que a escola que você trabalha se encontra tudo que inicialmente faz sentido para o aluno é abstraído com mais facilidade. Outro aspecto a ser considerado são os objetivos de cada material, quais aspectos serão trabalhados, quais os procedimentos, por exemplo, qual a finalidade de levar um calendário para a sala de aula se os alunos não poderão manusear, marcar os dias que já passaram, contar quantos dias ainda faltam, para determinada data? Tudo isso deve ser pensado pelo professor, mais uma vez vamos falar na intencionalidade de cada etapa. Todo material pode ser útil, desde que os alunos tenham a oportunidade de co- nhecer, tirar suas duvidas e colocar em prática tais habilidades em seu contexto diário. Do que adianta uma sala cheia de informações que não fazem sentido, onde os alunos não têm oportunidade de realizar experiências práticas, se somente visualizam tais ma- teriais, estas são algumas reflexões que professor deve levar em consideração ao prepa- rar um ambiente alfabetizador para sua turma. Segue algumas sugestões de materiais que podem ser organizados na sala de aula: Alfabeto » É a referência da criança para a escrita e a leitura; » Em letra bastão (inicialmente) com imagens que fazem relação entre o grafema e o fonema; » Alfabeto de bolso (ou concreto) – com objetos que podem ser manipulados. Canto de Leitura » Livros de vários gêneros diferentes; » Fichas de leitura com textos curtos que as crianças já tem de memória, como poesias, parlen- das, trava-línguas e palavras que reconhecem; » Decoração bacana e aconchegante para ler, onde será realizada a hora do conto e onde as crianças têm prazer em estar; » Lista de histórias que serão lidas durante a semana – os títulos não são colocados, necessaria- mente, na ordem que serão lidos. O ajudante do dia tem a função de riscar o nome da obra que foi lida. É um ótimo momento para fazer uma atividade coletiva de leitura com intervenções da professora. 31 Listas de Referência » Listas que contêm palavras que as crianças já tem de memória. Por exemplo: lista de nomes dos alunos e palavras que estão sendo trabalhadas (banco de palavras). Calendários » Importante para construir os conceitos de ano, mês, semana, dias… Pode incluir o clima (como está o tempo hoje?). Canto da Matemática » Espaço para manipulação dos números, materiais de contagem, atividades de relações entre números e quantidades… Canto do Dia a Dia » Estimulação da motricidade: abrir e fechar zípers, amarrar cadarços, usar um conta-gotas, traçados, massinha de modelar… » Em todos os espaços e materiais, os alunos podem auxiliar na confecção, a fim de que se sin- tam pertencidas ao ambiente. Trabalhando com Nomes Próprios » O trabalho com os nomes próprios é muito importante durante o primeiro ano, já que os no- mes são as primeiras referências de palavras que as crianças têm. E Por que Essa Estratégia é Tão Relevante? » Apropriar-se da escrita do seu nome; » Ampliar o repertório de letras; » Identificar e grafar o nome dos colegas; » Mostrar interesse pela leitura e pela escrita; » Copiar; » Comparar os sons e os grafemas; » Refletir sobre a escrita; » Utilizar-se de modelos para escrita de novas palavras. 32 Como Podemos Trabalhar com Nomes Próprios? » Bingo de nomes; » Identificação de materiais pessoais (cadernos, lápis…); » Formação de grupos (fichas com nomes em cima das mesas e cada um procura o seu); » Produção de agenda telefônica; » Quadros com os aniversariantes; » Rodas de chamada; » Trabalho com fotos dos colegas, fazendo a relação com os nomes; » Recorte letras de jornais e revistas, montando os nomes; » Contagem de número de letras; » Associação letras iniciais dos nomes com letras iniciais de outros objetos (Ex: Marina / Mesa); » Todas as atividades de alfabetização que costumamos fazer com outras palavras, podem ser adaptadas para serem usadas com os nomes próprios da turma. Estrategias Lúdicas Para Alfabetizar A ludicidade tem origem na palavra latina ludus, que significa jogo. Se conside- rarmos apenas a etimologia da palavra, o termo lúdico está diretamente relacionado ao jogo, ao brincar e ao movimento espontâneo. Além disso, o lúdico é uma necessidade do corpo e da mente no comportamento humano, as implicações que envolvem ações lúdi- cas perpassam o simples brincar espontâneo, assim a definição de lúdico, com o passar do tempo, deixou de ser somente sinônimo de jogo. Dentro deste contexto, é necessário entendermos o conceito de algumas palavras específicas que norteiam as atividades relacionadas ao lúdico no processo de aprendiza- gem das crianças como, jogo, brinquedo e brincadeira. Jogo: é a ação pela qual se estabelecem regras específicas, convencionadas antes de iniciar o jogo, que devem ser cumpridas. O jogo pode acontecem individualmente ou em grupo. Brinquedo: é o objeto manipulado, ele pode ser um objeto concreto como bola, carrinho, boneca, ou então, fruto da imaginação, ou seja, objeto criado pelo sujeito e sua imaginação. Brincadeira: é uma atividade agradável, no qual o mundo real se mistura ao ima- ginário, não é necessária a obrigatoriedade de um objeto para manipulação, como por exemplo, brinquedos. Não há regras específicas a serem seguidas, nesse contexto a crian- ça cria, constrói e inventa, esta ação envolve a espontaneidade e é caracterizada pelo faz de conta. 33 Jogos, brincadeiras e cantigas são alguns dos recursos lúdicos que podem ser tra- balhados no contexto escolar com o objetivo de desenvolver determinados aspectos e habilidades nos alunos. Os jogos e brincadeiras são atividades preferidas pelas crianças, principalmente aquelas que se encontra em turmas de alfabetização devido à faixa etá- ria, pois ao mesmo tempo em que se diverte, desenvolvem habilidades cognitivas que facilitam o processo de ensino aprendizagem. Através da ludicidade é possível estimular a aprendizagem com enriquecimento de experiências, possibilitando assim um trabalho interdisciplinar, desenvolvendo inú- meras habilidades de reflexão, cooperação, produtividade e o imaginário da criança. A ludicidade é um mundo em que a criança está em constante exercício, é o mun- do da fantasia, do faz de conta, do jogo e da brincadeira. Pode-se afirmar o lúdico um recurso pedagógico fundamental, principalmente em turmas de alfabetização, onde as crianças estão em fases de descobertas e reflexões sobre os processos de leitura e escrita. O brincar e o jogo vão além da recreação, pois perpassam por contextos que ressignificam o contexto da criança, é possível afirmar que a aprendizagem se dá com maior facilidade dentro de uma perspectiva lúdica, proporcionando aos alunos oportu- nidades de desenvolverem novas habilidades, seja elas regras, valores ou conceitos. Através do lúdico a criança envolve-se de acordo com a sua forma de entender o mundo e a sua linguagem, manifesta seus sentimentos, suas habilidades e cognição. Sabendo disso o professor deve desenvolver atividades lúdicas, atento a cada detalhe, para compreender comportamentos que possam auxiliar no processo de aprendizagem dos alunos. É através de momentos lúdicos que percebe na criança a sua criatividade, inteligência, afetividade, motricidade, sociabilidade entre outros aspectos que facilitarão o desenvolvimento de determinadas habilidades como leitura e escrita. Faz-se necessário conhecer como as estratégias lúdicas podem auxiliar nos processos de alfabetização, assim como identificar qual o papel do professor frente aos desafios de trabalhar em turma de alfabetização, respeitando as características dos alunos desta faixa etária. O Jogo e o Desenvolvimento da Língua Escrita Através de jogos é possível oferecer aos alunosexcelentes oportunidades de in- teração social, troca de ideias, experiências e informações, além disso, ao utilizar jogos em sala de aula o professor proporciona para as crianças momentos para exercitar a memória, desenvolver o raciocínio lógico, e ainda criam situações concretas de necessi- dades de leitura eescrita. Piaget descreve quatro estruturas básicas de jogos infantis, que vão se sucedendo e se sobrepondo nesta ordem: Jogo de exercício, Jogo simbólico/dramático, Jogo de 34 construção e Jogo de regras. O Jogo simbólico é a representação corporal do imaginá- rio onde predomina a fantasia e a atividade psico-motora exercida acaba por prender a criança à realidade. Na sua imaginação, a criança pode modificar sua vontade, usando o faz de conta. Mas quando expressa corporalmente as atividades, ela respeita a realidade concreta e as relações do mundo real. No jogo simbólico a criança sofre modificações, à medida que vai progredindo em seu desenvolvimento rumo à intuição e a operação, a criança busca coerência com a realidade. No início da escolarização o raciocínio lógico ainda não é suficiente para que a criança dê explicações coerentes a respeito de certas coisas, o poder da fantasia prepondera sobre o poder de explicar. Então é através do jogo simbólico que a criança não exercita somente sua capacidade de pensar, mas de representar simbolicamente suas ações e exercita também suas habilidades motoras, já que corre, salta, grita, rola, empurra, etc. A importância do jogo de regras é quando a criança aprende a lidar com a deli- mitação no espaço, no tempo, no tipo de atividade válida, o que pode e o que não pode fazer, garante-se certa regularidade que organiza a ação tornando-a orgânica. O valor do conteúdo de um jogo deve ser considerado em relação ao estágio de desenvolvimento em que se encontra a criança, ou seja, como a criança adquire conhecimento e raciocina. Existem alguns critérios para que um jogo possa ser útil no processo educacional, proposição de algo interessante e desafiador para as crianças resolverem, permitir que as crianças possam se auto-avaliar quanto ao seu desempenho, permitir que todos os jogadores possam participar ativamente, do começo ao fim do jogo são algumas estra- tégias que devem ser seguidas para que ao final do jogo todos possam ter alcançados os objetivos de aprendizagem que o mesmo proporciona. Na imagem abaixo é possível verificar uma atividade lúdica para utilizar com alunos que estão no processo de alfa- betização. FIGURA 1: IMAGEM DE UM JOGO DA MÉMORIA DE VOGAIS FONTE: http://www.sabrina.blog.br/2012/08/jogo-da-memoria-vogais.html http://www.sabrina.blog.br/2012/08/jogo-da-memoria-vogais.html 35 A atividade a ser desenvolvia com o jogo da figura1 é muito conhecida por todos nós, Jogo da Memória que pode ser jogado em duplas ou grupo maiores. Este jogo con- siste em encontrar a figura e a vogal inicial, formando assim um par. O aluno precisa de atenção e observar todas as jogadas, através desta atividade é possível desenvolver habilidades como concentração, estratégias, consciência fonológica da inicial de cada palavra e paciência. A atividade lúdica com intencionalidade especifica, nesse caso, co- nhecer as vogais, deve ser observada pelo professor, para que o mesmo consiga perceber se os objetivos estão sendo alcançados. De acordo com Vygotsky (1979, p. 138) existe uma estreita relação entre jogo e a aprendizagem, atribuindo-lhe uma grande importância. Para melhor entendermos esta importância faz-se necessário recordarmos algumas idéias de sua teoria do desenvolvi- mento cognitivo. A principal é que o desenvolvimento resulta da interação entre a crian- ça e as pessoas com quem mantém contato regulares. Convém lembrar que o principal conceito da teoria de Vygotsky é o da Zona de Desenvolvimento Proximal em que ele define a diferença entre o desenvolvimento atual da criança e o nível que atinge quando resolve problemas com auxílio. Neste sentido as estratégias lúdicas que possuem em seu objetivo central ensinar algum conceito ou conteúdo específico devem ser trabalhadas com a observação, orien- tação e, em algumas vezes, a intervenção do professor, assim é possível elevar o conhe- cimento do aluno, partindo daquilo que ele já sabe e ir em direção ao novo, facilitando o alcance dos objetivos propostos. FIGURA2: CAÇA-PALAVRAS DE TAMPINHAS FONTE: http://oincrivelze.com.br/2015/10/professor-ensina-como-fazer-jogos-de-alfabetizacao-com-material-reciclado/ Com a atividade da figura 2 é possível trabalhar com os alunos, de maneira lúdi- ca, leitura de palavras, separação silábica, número de letras e sílabas. Nesta atividade o professor sorteia a palavra e o aluno deve procurar e laçar a palavra com o elástico, a cada palavra encontrada o professor pode fazer perguntas como qual o números de le- tras, qual o número de sílabas e assim identificar quais os conhecimentos que o aluno já http://oincrivelze.com.br/2015/10/professor-ensina-como-fazer-jogos-de-alfabetizacao-com-material-reciclado/ 36 possui. A partir do momento em que o professor tem consciência do que o aluno já sabe facilita o planejamento de novas atividades que venham fazer com que o aluno avance no processo de alfabetização. Para Vygotsky (1989, p. 84) o jogo proporciona alteração nas estruturas, de acor- do com o autor, uma prática pedagógica adequada. O autor ainda salienta que “as crianças formam estruturas mentais pelo uso de instrumentos e sinais. A brincadeira, a criação de situações imaginárias surge da tensão do individuo e a sociedade. O lúdico liberta a criança das amarras da realidade”. As atividades lúdicas propiciam à criança a possibilidade de conviver com diferentes sentimentos os quais fazem parte de seu interior, elas demonstram através das brincadeiras como vê e constrói o mundo, como gostaria que ele fosse quais as suas preocupações e que problemas a estão atormentan- do, ou seja, se expressa na brincadeira o que tem dificuldade de expressar com palavras. O professor deve proporcionar diferentes momentos lúdicos, tendo em mente os objetivos que pretende alcançar com determinada atividade, além disso, os momentos lúdicos devem ser observados constantemente. Deve ficar claro que a criança necessita de momentos livres para as brincadeiras sem regras, onde ela possa criar suas próprias fantasias, e nos momentos lúdicos em que se define um objetivo pedagógico o professor deve organizar, observar, fazer anotações e em determinados casos fazer intervenções levando o aluno a evoluir no seu processo de aprendizagem. Brincar e jogar são atividades diárias na vida das crianças. O jogo, o brincar e o brinquedo desempenham um papel de extrema importância no processo de aprendi- zagem, e negar o seu papel na escola é, sem dúvida, dificultar os processos de apren- dizagem. O brincar existe na vida dos indivíduos, embora ao passar dos anos tenha diminuído o espaço físico e o tempo destinado ao jogo, provocado pelo aparecimento de brinquedos cada vez mais sofisticados e pela influência da tecnologia. É importante salientar nesse momento os benefícios que o jogo fornece à aprendizagem das crianças no que diz respeito ao desenvolvimento físico–motor envolvendo as características de sociabilidade, como trocas, as atitudes, reações e emoções que envolvem as crianças e os objetivos utilizados. Apesar de tantas teorias defenderem uma aprendizagem por meio dos jogos e dos movimentos espontâneos da criança, elas estão longe de usufruir de uma pedagogia fundamentada na ludicidade, criatividade e na expressividade livre dos atos. Para que isso ocorra de maneira proveitosa torna-se necessário aliar os benefícios da ludicidade aos processos de ensino aprendizagem da alfabetização. Usufruir dos benefícios de atividades lúdicas para alfabetizar os alunos é respeitar suas características, sua identidade e facilitar o processo de aprendizagem. Neste sen- tido faz-se necessário salientar que o sucesso pedagógico de qualquer
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