Buscar

LLPT_Teoria_da_Literatura_impresso-62

Prévia do material em texto

ou como uma coisa suja
(uma culpa)
dentro de uma pessoa 
enfim como
uma gaveta de lama 
dentro de um armário de lama
(GULLAR, 199, p. 243)
Os elementos comparados são a noite e uma outra noite, uma 
contendo a outra. O poeta desdobra uma série de elementos de 
comparação, ressaltando o caráter erótico, sujo, estático, negro, pecador da 
noite. Poderíamos apresentar o desdobramento da relação noite/noite por 
meio da seguinte equação:
METONÍMIA
Outra imagem comumente utilizada na literatura, ao lado da metáfora e 
da comparação, é a metonímia (o processo metonímico se baseia numa 
contiguidade, ou extensão de uma realidade em relação a outra.) . Enquanto 
o processo metafórico se fundamenta numa transferência de características 
de uma realidade para outra de natureza completamente diferente (anjinho 
= luz peregrina = estrela divina, por exemplo), 
VEJA O EXEMPLO
E se não era
eterna a vida, dentro e fora do armário,
o certo é que
tendo cada coisa uma velocidade
........................................................
cada coisa se afastava 
desigualmente 
de sua possível eternidade.
(GULLAR, 1999, p. 266)
No exemplo acima, a palavra armário funciona como uma metonímia 
de casa, e pode ser desdobrada para cidade, país, mundo etc. O poeta se 
refere inicialmente ao pequeno mundo de Bizuza, personagem de sua 
infância, e em seguida amplia a ideia. 
Por que metonímia? Voltemos ao exemplo anterior, em que armário é 
relacionado a noite (processo metafórico). Observe-se que a associação é 
absolutamente livre, porque as duas coisas têm naturezas completamente 
diferentes. Já o armário da imagem acima se relaciona com casa, que é o 
imóvel que contém o móvel, ou seja, existe uma relação de CONTIGUIDADE
59

Continue navegando