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vias associativas interlinguísticas, tradução e transferência

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Estudos de Psicologia I Campinas I 32(1) I 97-107 I janeiro - março 2015
1 Université Charles de Gaulle - Lille 3, UFR de Psychologie, Domaine Universitaire du Pont de Bois, BP, 60149 59653, Villeneuve
d’Ascq Cedex, France. E-mail: <thamy.ayouch@gmail.com>.
2 Universidade de São Paulo, Instituto de Psicologia. São Paulo, SP, Brasil.
▼ ▼ ▼ ▼ ▼
http://dx.doi.org/10.1590/0103-166X2015000100009
Clínica psicanalítica da língua: vias associativas
interlinguísticas, tradução e transferência
Psychoanalytical approach of language: Interlinguistic
association paths, translation and transference
Thamy AYOUCH1,2
Resumo
A clínica da língua corresponde aqui ao trabalho com pacientes plurilíngues ou poliglotas, recebidos em país estrangeiro,
no caso a França. Questiona-se sobre os mecanismos conscientes e inconscientes que se ativam na passagem da língua
nativa à língua adotada na terra de acolhimento, e sobre os mecanismos simétricos que podem ter lugar quando a
sessão se passa na língua nativa. Trata-se aqui de refletir sobre a função da tradução linguística e psíquica, na sessão
analítica e na transferência. Por meio de ilustrações clínicas, abordam-se os modos de relacionamento do sujeito com
a língua materna, bem como a sedimentação de camadas de línguas para os poliglotas.
Palavras-chave: Multilinguismo; Psicanálise; Tradução; Transferência (Aprendizagem).
Abstract
Clinical approach of language here refers to clinical experience with plurilingual and polyglot patients attended to in
a foreign country (France). The aim is to question the conscious and unconscious mechanisms activated when shifting
from native to foreign language and the symmetrical mechanisms when the psychoanalytical session is in the patient’s
native language. This article deals with the function of linguistic and psychic translation in psychoanalytical session
and in transference. Through various clinical illustrations, the author tackles the relationship to mother-tongue, and
the multi-layered language of polyglot and plurilingual subjects.
Keywords: Multilinguism; Psychoanalysis; Translation; Transference (Learning).
É comum ouvir dizer, na prática psicanalítica,
que não se atinge a língua do inconsciente sem
passar pela língua materna. Além da necessidade
de acertar o sentido da metáfora de língua do in-
consciente, serão os processos primários conce-
bíveis como língua? Trata-se aqui da questão da
possibilidade de praticar a psicanálise ou a psicote-
rapia numa língua distinta da língua materna do/a
paciente. Essa questão surge eminentemente com
pacientes multilíngues ou poliglotas, atendidos em
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contextos linguísticos e culturais distintos dos na-
tivos.
Tanto para o/a paciente quanto para o/a ana-
lista, haverá aqui um movimento de circulação entre
línguas, e em quê consistiria esse processo? Em que
idioma far-se-ia a concatenação das associações
pelo/a paciente poliglota ou multilíngue, e pelo/a
analista que o/a atende?
Em Paris, em um centro de atendimento de
migrantes oferecendo polos linguísticos diversos,
mas também na clínica privada, pude acompanhar
pacientes estrangeiros instalados na França. Isso me
deu a oportunidade de fazer um trabalho psicote-
rapêutico com pacientes hispanófonos, italófonos,
lusófonos, anglófonos e arabófonos, no contexto
linguístico francófono de Paris.
Questionei-me sobre os mecanismos cons-
cientes e inconscientes que se ativavam na pas-
sagem da língua nativa à língua adotada na terra
de acolhimento, e sobre os mecanismos simétricos
que podem acontecer quando a sessão se passa na
língua nativa. Perguntei-me sobre essa tradução
interlinguística e a conversão sintomática: a tradu-
ção linguística, imposta ao estrangeiro que chega
a um país, é acompanhada de uma tradução dos
processos inconscientes, transformando elementos
inconscientes em sintomas? Reciprocamente, a des-
-tradução efetuada pelo/a terapeuta que recebe o/a
paciente na língua nativa seria comparável à tra-
dução-interpretação da psicanálise?
E, ampliando o foco da questão, qual é a
função e o sentido do multilinguismo e do poliglo-
tismo na psique do/a analisando/a, e nas interações
com o/a analista? Há vias de associação específicas
aqui? Como se articulam as associações da dupla
analista-analisando/a, durante a sessão clínica?
Pelos multilíngues, que vêm falando várias
línguas desde a infância, o mundo é construído
sobre a associação de palavras plurais às coisas, e
de uma pluralidade de redes de “representações
de palavra” ligadas a uma única rede de “represen-
tações de coisa”. Os poliglotas, aliás, ao aprender
quando adultos novas línguas, acrescentam ao seu
patrimônio linguístico uma nova rede: integram
simultaneamente as duas redes.
O presente trabalho não pretende dar conta
de forma precisa e detalhada de casos atendidos,
mas abordar a questão do uso da língua materna
na sessão analítica e psicoterapêutica, seja pelo/a
analisando/a ou pelo/a analista. Trata-se aqui de
refletir sobre a função da tradução linguística e
psíquica na sessão analítica, e na transferência. Após
analisar modos de relacionamento do sujeito com
a língua materna, este trabalho abordará a sedimen-
tação de camadas de línguas para os poliglotas,
para então focalizar a questão da tradução lin-
guística relacionada com a tradução psíquica e a
transferência.
O afastamento da língua materna
Para aqueles pacientes que, ao chegarem a
um novo país, têm que falar uma nova língua, pa-
recia-me importante levar em conta esse outro exílio
na nova língua. Achava que, ao se precipitar em
um contexto onde se deve falar a língua do outro,
o sujeito migrante se encontrava em um dramático
entre-duas-línguas, perto da materialidade da
palavra, porém longe do sentido. Imaginava que,
perante esse outro que parecia especialmente
tagarela e se obstinava a utilizar fonemas inúteis,
perante essa massa sonora afastada do seu signi-
ficado, o/a estrangeiro/a vivia uma extrema solidão,
um grande abandono. Essa confrontação com uma
nova língua, ainda mais quando ela não é conhe-
cida, conscientiza muitas vezes da falta de moti-
vação tanto na língua de acolhimento como na
língua de origem.
Eu me lembrava de Hassoun (1993), dizendo
que “o exílio começa quando a língua ou o dialeto
falados pelos antepassados são esquecidos, mur-
murados na vergonha ou no gozo”. Portanto, em
uma onipotente fantasia de reparação, imaginava
que só uma terapia no idioma nativo poderia per-
mitir uma restauração narcisista desses deportados
da língua.
A prática clínica com pacientes estrangeiros
me levou a ver que esse não era necessariamente o
caso. Embora haja um exílio entre duas línguas, uma
barreira adicional na realidade psíquica, a nova
língua é com frequência investida de uma maneira
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que apazigua a realidade psíquica, e afasta um
sexual-infantil que seria temível se aparecesse na
língua materna.
O exílio na língua é próprio a qualquer crian-
ça que aprende a falar: está construindo, na sua
própria língua, representações de palavra sobre
representações de coisa, mas as primeiras, conscien-
tes, nunca cobrem totalmente as segundas, incons-
cientes. Na sua própria língua, a criança é estran-
geira. A língua, composta de representações de
palavra, permite nublar, velar as representações de
coisa, evitando assim um contato direto demais,
alucinatório, com as coisas. A intrusão de uma outra
língua torna arbitrária essa dissimulação, e fragiliza
a possibilidade da língua nativa velar as coisas. Estas
surgem então na selvageria da sua estrangeiridade,
unheimlich, desconhecidas/reconhecidas, como em
um pesadelo. Por conseguinte, cabe ressaltar que,
se o inconsciente é a língua estrangeira de todos,
o/a estrangeiro/a, ao ser confrontado/a com uma
nova língua, vive novamente essa estrangeiridade.Contudo, a nova língua pode também permitir um
novo velamento das coisas, como na experiência
da criação poética, quando o/a poeta/isa desmonta
a relação rígida entre significado e significante e
instila à língua uma nova vida.
Nesse sentido, no atendimento a pacientes
estrangeiros, fui confrontado com uma clínica da
“revitalização” da língua nativa pela língua estran-
geira, quando os pacientes recorriam à língua es-
trangeira para se reconstruir psiquicamente, e
afastar o arrombamento da língua materna. Para
o/a multilíngue ou o poliglota, a nova língua permite
evitar a invasão de um trecho da língua materna
fortemente investido. Ela favorece assim uma repa-
ração de representações sexuais-infantis. A terapia
aspira a estabelecer um vai-e-vem entre língua ma-
terna e nova língua, para permitir um acesso mais
apaziguado a essas vivências da sexualidade infantil.
É o que testemunhei com muitos pacientes,
como Malek, um marroquino de 22 anos que tinha
chegado à França 5 anos antes eu atendê-lo. Sua
mãe tinha ficado no Marrocos, e seu pai se movia
entre os dois países. Era escolarizado em uma
fundação que acolhia jovens em dificuldades,
dando-lhes uma formação profissional. Ele não
apresentava nenhuma ruptura de contato com a
realidade nem dissociação. Porém, estava vestido
de modo incomum (superposição de roupas), ma-
nifestava dificuldades de compreensão, e tinha uma
linguagem analógica paradoxal (sorria quando
falava de problemas, ou ficava totalmente impas-
sível frente a chistes ou encorajamentos). Além dis-
so, não manifestava qualquer fluidez em suas as-
sociações, muitas vezes ficava sem palavras, e apre-
sentava muitos mecanismos defensivos de aspecto
obsessivo, como o isolamento, o isolamento afetivo,
a formação reativa, a denegação, mas também
algumas recusas.
A primeira entrevista foi tensa, vaga e su-
perficial. Tive a impressão de que havia uma língua
comum entre nós, destinada a evitar qualquer co-
municação. Suas primeiras palavras referiam-se ao
tempo, e ele se retirou para trás de uma fórmula
bem reservada e genérica: “É melhor que não esteja
quente demais, nem frio demais”. Seguia expres-
sando-se por essas fórmulas muito educadas e
vagas. Quando lhe disse que a entrevista podia
acontecer em árabe se ele quisesse, recusou educa-
damente. Não elaborava nenhuma demanda psí-
quica, tanto que fora enviado ao centro por um
psiquiatra. Referia que seu único problema eram
os documentos de residência na França como es-
trangeiro, o que não lhe permitia encontrar um
estágio condizente com sua formação profissional.
Até esse problema era diluído em uma fórmula
ontológica geral: “Não se pode não ter problemas.
Todos temos problemas, e ninguém é perfeito. Só
Deus é perfeito”. Sob o francês bem dominado,
brotava a generalidade de fórmulas religiosas mar-
roquinas, e o tabu cultural consistindo em excluir
qualquer argumento que implique o risco de sacri-
légio - “quem poderia se assimilar a Deus?”, ele
expressava, em uma mistura de fantasia e proibição.
Quando perguntei sobre suas relações fami-
liares, seus irmãos, sua mãe, respondeu que sentia
pouca falta desta, e negou qualquer forma de rela-
ção de intimidade com ela, afirmando que “uma
mãe tem que amar igualmente todos os filhos”.
Disse que não tinha nenhuma lembrança da sua
infância. Não sentia falta do país que não visitou
durante quatro anos, e concluiu com uma nova frase
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impessoal: “Não posso preferir o Marrocos à França,
já que cada um é diferente”. Era como se o uso do
francês por esse paciente permitisse não ir além
desse nível de generalização e de negação de qual-
quer posição subjetiva preferencial, e viesse reforçar
uma dificuldade de simbolizar.
 As sessões posteriores foram mais brandas,
mas ele seguiu usando o francês para estabelecer
uma distância entre nós, e se proteger de represen-
tações pessoais demais que o árabe podia despertar.
Quando, às vezes, recorria a essa língua, era para
se defender de acusações que outros poderiam ter
feito contra ele : “Eu não era {mfechech}”
(mimado demais), “Não se deve ser {anani}
(egoísta)”, negando assim qualquer singularização
ou subjetivação.
Minha hipótese era que sua resistência a fa-
lar árabe agia como uma proteção contra sensações
não elaboradas e não simbolizáveis, e que a nova
língua funcionava como um mecanismo de defesa,
reforçando o isolamento psíquico e a dificuldade
de simbolizar. Evidentemente, não ia forçá-lo a falar
árabe: a escolha da língua é sempre feita pelo
paciente. Todavia, meu trabalho consistia em tentar
favorecer uma circulação entre as duas línguas,
escutando, sob o francês, uma estrutura associativa
em árabe. O trabalho terapêutico aspirava a reva-
lorizar a língua materna como bom objeto e a reati-
var certos aspectos dela, mas despojando-os da
carga afetiva ameaçadora.
Achava que a ideia obsedante acerca dos
documentos de residência, além da dimensão de
um risco concreto, era ambivalente. Enquanto ele
não tivesse documentos, não podia viajar para o
Marrocos, o que lhe fornecia o gozo de escapar ao
desejo da mãe e ao sentimento de culpa por aban-
doná-la.
Tratava-se, portanto, de tentar ver o que,
na circulação entre as duas línguas, poderia superar
esse bloqueio das associações, essa paralisia da sim-
bolização, e figurar sensações corporais ainda não
elaboradas psiquicamente. Aqui, a figuração do afe-
to foi o objetivo essencial: tratou-se de providenciar,
nas “imagens autóctones” do analista, um material
sensorial, encarnado, corporal, suscetível de traduzir
aquilo que nunca recebeu forma nem figuração no
analisando. Tratou-se de providenciar palavras, res-
gatando vivências corporais não figuradas, amplian-
do sua capacidade sensorial.
A transferência, visando aqui o surgimento
de afetos e sensações não integrados, recorreu a
vivências corporais e mobilizou a presença encar-
nada tanto do analisando como do analista.
Foi quando uma viagem associativa teve
lugar na sessão seguinte. Ele contou como os seus
camaradas às vezes o chamavam de gafanhoto.
Sem transição, evocou imediatamente depois a can-
tina da escola e as comidas salgadas demais. Escu-
tando-o, deixei-me levar por associações de ideias
e de sensações, talvez ecoando as dele, e me lembrei
de rimas infantis em árabe que poderia traduzir
assim:
Gafanhotinho salgado,
por onde você passou,
o que comeu e o que bebeu
Ó mestre Bouzekri,
Depressa cozinhe o meu pão…
Seguindo o curso de minhas associações,
lembrei de um jogo de infância quando meu pai
nomeava cada um dos meus dedos e lhes atribuía
uma função (“o primeiro vai ao mercado, ou outro
cozinha o seu pão”, etc.). Também resgatei sen-
sações de um outro jogo no qual meu pai percorria
o meu braço, dos dedos até o pescoço, para me
fazer cócegas, e pronunciava em árabe palavras
ainda enigmáticas para mim, descrevendo o movi-
mento de um rato comendo um ovo e logo uma
oliva. Em uma concatenação interlinguística, lembrei
de rimas infantis francesas sobre um rato verde que
se transformava em caracol3. Perguntei então a
Malek se conhecia rimas francesas, e lhe contei a
do rato verde. Ficou interessado, e apontou a falta
de lógica desse rato virando caracol. Respondi que,
pelos óculos humanos, havia poucas diferenças
3 O texto das rimas em francês é: “Une souris verte / qui courait dans l’herbe, / je l’attrape par la queue, je la montre à ses messieurs / ces
messieurs me disent / trempez-la dans l’huile, trempez-la dans l’eau, ça fera un escargot tout chaud”.
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entre esses animais pequenos, ratos, caracóis, inse-
tos. “Como os gafanhotos?” perguntou. E começou
a recitar as rimas infantis marroquinas do gafanhoto
com pão. Fiquei assombrado pelo mimetismo das
nossas associações.
Assim, nessa regressão linguística das rimas
onde as palavras árabes, embora próximasdo
sexual-infantil, não eram temíveis, ele se autorizou
a falar do contexto onde a mãe lhe cantava as rimas,
e seguiu associando. Ele se expressava em francês,
mas pontuava o discurso por algumas palavras ára-
bes - {edrari} (as crianças), {elhobz}
(o pão), {bach nen’ass} (para que dor-
misse).
Nas sessões posteriores, Malek se permitiu
recorrer mais a palavras em árabe. Recordou a últi-
ma ligação telefônica à mãe, e a emoção materna.
Seus mecanismos de defesa pareciam menos rígi-
dos: as representações eram menos isoladas, as
associações mais fáceis.
Interroguei-me sobre o que teria acontecido.
Por trás das suas palavras francesas, tinha surgido
uma rede de associações sensíveis, sensoriais, em
árabe, que escutei e dupliquei com as minhas pró-
prias associações. As representações de palavra,
traduzidas, sem ele saber, na transição em francês
do gafanhoto ao sal, puderam indiretamente dar
lugar a uma figuração de sensações e afetos. Por
uma nova tradução, através das minhas associações
e de algumas rimas francesas, pudemos fazer surgir
novas representações de coisa dele, mais apazi-
guadas. Clinicamente, o trabalho realizado aqui,
ao invés de considerar apenas associações de ideias,
incluiu, através dessa circulação interlinguística, as
associações de sensações, implicando a relação com
o corpo tanto do paciente como do terapeuta.
A reparação da língua materna
O recurso a uma nova língua também per-
mite, de um modo diferente, efetuar uma reapro-
priação da língua materna, através de um verda-
deiro trabalho de reparação do que pode ter sido
traumático para a língua materna. Pude acom-
panhar uma criança no seu trabalho de revitalização
e cura da língua materna através da língua es-
trangeira.
Adriana tinha cinco anos, e fazia oito meses
que tinha chegado à França com a mãe, uma refu-
giada política angolana. Nas confrontações violen-
tíssimas da União Nacional para a Independência
Total de Angola (UNITA) e do Movimento Popular
de Libertação de Angola (MPLA), milicianos inva-
diram sua casa e, diante dela, mataram o pai, viola-
ram a mãe e estrangularam os dois irmãos gêmeos,
ainda bebês. Adriana só se salvou porque a mãe
disse “Não é minha filha, é filha dos vizinhos”. Em
um mimetismo total, do mutismo à roupa e ao pen-
teado, mãe e filha manifestavam o mesmo trauma-
tismo silencioso.
Gradativamente, o trabalho das sessões se
orientou na direção de uma identificação dos mem-
bros do corpo através do desenho, da pintura e de
jogos com água. Os primeiros desenhos não apre-
sentavam cores, os personagens não tinham pes-
coço. Nessas primeiras sessões, eu tentava co-
mentar tudo o que fazíamos em português, mas a
menina se recusava a falar.
Foi através do francês, progressiva mas rapi-
damente aprendido na escola, que Adriana pôde
sair do mutismo, de uma forma bilíngue. Começou
a comentar seus desenhos usando o francês, logo
acompanhando cada palavra francesa com uma
portuguesa. Numa paisagem de “maisons-casas”
apareciam “papillons-borboletas” e “rivières-rios”
onde navegavam “bateaux-barcos” dirigidos por
“frères-irmãos”. Pouco a pouco, Adriana aplicou
essa dupla linguagem a seu corpo, composto de
“cou-pescoço”, “bras-braços”, “cheveux-cabelos”.
Por uma associação interlinguística, à medida que
investia o corpo (“le corps”), apareciam cores nos
seus desenhos (“cor” e “corps” sendo homônimos,
em português e em francês).
Através dessa identificação dupla, do francês
ao português e vice-versa, a língua de acolhimento
veio repetir, confortar, sustentar e reparar a língua
materna traumatizada. A criança só pôde evocar
Angola ao passar do português ao francês.
A identificação com a mãe tornou-se então
menos patológica. A criança começou a se diferen-
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ciar na roupa e no penteado, à medida que mani-
festava uma fluidez psíquica. Não ser, como tinha
afirmado a mãe, a filha da sua mãe para poder
sobreviver exigia uma identificação massiva para
não se derrubar. A falta de filiação apresentava a
alternativa a ser abandonada pela mãe ou morrer.
Com o apoio do francês, Adriana pôde dizer “maman”
para melhor dizer “mãe”, e assim reparar a língua
materna.
Mas o que é a língua materna? No uso co-
mum, a primeira língua falada por uma criança é
sempre associada a uma dimensão materna em
muitas línguas (Muttersprache, mother-tongue,
lengua materna, madre língua, {lughat el
um}, {sefet im}). Porém, segundo a defi-
nição de muitos dicionários, não há relação neces-
sária entre essa primeira língua e a mãe. Existem
“vice-mães”, e a língua materna é também a língua
das pessoas que aparecem e desaparecem do cená-
rio psíquico da criança pronunciando as suas pri-
meiras palavras. A língua materna é a língua veicu-
lada pela mão ou a pessoa em posiçao de mãe que
permite à criança se separar dela, articular uma
demanda sem temer ser engolida em um “sim”
massivo que antecipa seus desejos ou em um “não”
que os anula. Para não ser mortífera, essa língua
tem que marcar uma distância, conjugar o familiar
e/ou estrangeiro.
A língua materna é aquela que confronta o
desejo da mãe e torna o sujeito louco se é animada
pelo mito de unicidade. O uso de uma nova língua
na sessão clínica permite às vezes descerrar aquilo
que se fechou na língua materna, assimilando língua
e imago ameaçadora da mãe.
Poliglotas e palimpsestos
Na clínica da língua surgem também outros
destinos linguísticos, como é o caso de poliglotas e
multilíngues, em que é constante a presença de
outras línguas sob a língua falada, perceptíveis a
partir de uma rede de associações. Quando um
sujeito multilíngue ou poliglota se expressa numa
língua, os outros idiomas estão “em sofrimento”
por baixo dela, no duplo sentido de espera e dor.
Para muitos pacientes estrangeiros, o francês
ressoa sob sua língua nativa, modificando-a, provo-
cando “galicismos”. Uma paciente peruana aten-
dida em espanhol, e que dizia não poder falar
francês produzia, por exemplo, palavras como:
“parlar” (contaminação do espanhol “hablar” pelo
francês “parler”), “responder al teléfono” (conta-
minação de “contestar el teléfono” por “répondre
au téléphone”), “disputirse” (contaminação de “dis-
cutir” por “se disputer”), “sufrenza” (contaminação
de “sufrimiento” por “souffrance”), ou até, numa
verdadeira conversão histérica: “quiero exprimir mi
dolor” (“exprimir” quer dizer espremer, e é bem
diferente de “expresar”, aqui contaminado pelo
francês “exprimer sa douleur”).
Entretanto, a presença de várias camadas
linguísticas nas concatenações associativas pode
chegar a ser ainda mais sutil. Atendi uma paciente
anglófona que manifestava em suas associações
uma dupla língua inconsciente. Joan era uma ro-
mancista australiana de 39 anos, instalada em Paris
fazia dois anos, depois de ter vivido 15 anos em
Girona, uma cidade catalã da Espanha. Filha de mãe
ucraniana e pai alemão, não falava russo mas com-
preendia alemão, e considerava a sua estada na
Europa como uma volta às origens. Todavia, ao se
instalar na Espanha e em seguida na França, es-
colheu reescrever o romance familiar em línguas
estrangeiras. Joan compreendia o francês, mas
preferia se expressar em inglês. Veio consultar-me
por seus ataques de pânico e por problemas con-
jugais. Tinha dificuldades em compreender François,
que namorava havia nove meses, perguntando-se
se não haveria uma divergência de códigos culturais.
A primeira sessão, em inglês, tratou ime-
diatamente do assunto da língua. Ela me disse “You
really sound British, don’t you?” (“Você fala com
um sotaque muito inglês”), e me explicou que foi
escolarizada em uma instituição privada em
Melbourne, onde o sotaque inglês é um sinal de
boa educação. Sua observação me fez sorrir e esta-
beleceu diretamente um contexto multilíngue entre
nós. Minhas associações me levaram a Barcelona
quando, em companhia de um amigo inglês, fala-
mos com uma turista inglesa. Esta nos perguntou
se éramos ingleses, ele disse sim e eu não. A turista
me respondeu “Yesindeed, I’m afraid you don’t
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look English” (“temo que você não pareça inglês”).
Repliquei, quase sem refletir “Well I’m afraid you
do” (“temo que você sim, pareça inglesa”). Ao me
fazer recordar de Barcelona, instalou-se entre Joan
e mim um contexto espanhol e catalão.
Considerando a angústia dos ataques de
pânico como afeto desconectado da sua represen-
tação, e precisando ser qualificado, perguntei a Joan
quando aconteciam os ataques. Ela disse ter iden-
tificado algumas situações desencadeadoras dos
ataques de pânico, tais como quando atravessava
uma ponte, quando alguém ameaçava ir embora
subitamente, ou quando se lembrava das brigas en-
tre seus pais. Todavia, na Espanha, novas situações
tinham surgido: sofreu um ataque de pânico visi-
tando o “Barrio Chino” de Barcelona. Um ano de-
pois, teve uma angústia semelhante ao chegar a
Sabadell, uma cidade perto de Barcelona. Mais uma
vez sentiu pânico quando estava atravessando um
campo e, inexplicavelmente, quando o filho de uma
amiga brincava com um barbante. Em Paris, evi-
tando as pontes, tinha vivido um ataque de pânico
só uma vez, ao brigar com o namorado. Ela não
compreendia por que tinha pânico em contextos
tão diversos.
Na sessão preferia o inglês, insistindo que
somente essa língua lhe permitia expressar comple-
tamente os seus sentimentos, e enumerando os pro-
blemas que teve ao se instalar em outros países es-
trangeiros. Também designava tanto sua apre-
ciação por certas palavras quanto sua aversão por
outras. Por exemplo, detestava as palavras que aca-
bavam com os fonemas [dl], como “saddle”,
“griddle”, “noodle” e “cradle”.
Numa sessão ulterior, ela narrou o ataque
de pânico que teve quando brigou com o namo-
rado. Ela lhe tinha dito “I don’t like playing second
fiddle” (“não gosto dos segundos papéis”). Quando
lhe perguntei quem dizia essa frase, respondeu que
era sua mãe quando brigava com seu pai. E repetiu
a frase imitando um sotaque russo.
Depois dessa sessão, tentei fazer uma re-
senha do que tínhamos conversado em vários en-
contros, transcrevendo momentos das sessões, sem
procurar lembrar a ordem exata, mas seguindo
minhas associações livres. Escrevi alguns elementos
que Joan tinha me contado, e também palavras,
“saddle”, griddle”, “noodle”, “cradle”, “fiddle”.
Parecia muito provável que o som [dl] fosse ligado
a “second fiddle”. Ressoava em minha cabeça a
frase da mãe que Joan tinha pronunciado com sota-
que russo. Também escrevi a anedota com a inglesa
em Barcelona e por ter morado lá e pensado em
meus amigos catalães, segui escrevendo em catalão.
Transcrevi os momentos de pânico, “ponts” (pon-
tes), “abandó” (abandono), “discussió” (briga),
“Sabadell”, “bordell” (o “Barrio Chino” tendo sido
o bairro da prostituição), “pradell” (campo) e “cordell”
(barbante). A rede de associações parecia irradiar
desde o significante “fiddle”, ligado aos outros pelo
fonema final [dl], que se pronunciava em catalão
quase como um [dl] russo. Quando esse significante
estava conscientemente identificado, o afeto sen-
tido era aversão - Joan odiava as palavras cuja termi-
nação era [dl]. Quando, porém, esse fonema só sus-
tentava, quase inconscientemente, outras palavras,
a partir de uma outra língua, o afeto se desfazia de
sua representação, ficava livre, desqualificado, e se
transformava em angustia profunda. Às vezes Joan
pensava em catalão.
Freud exemplifica esse tipo de rede as-
sociativa, onde uma língua infiltra as representações
de outra, no texto sobre o fetichismo. O alemão
“Glanz auf der Nase”, brilho sobre o nariz, de que
falava o paciente, revelou-se como um “Glance”
(inglês), olhar.
Outras redes associativas surgiram nas ses-
sões posteriores. Joan se pôs a falar de pontes para
elaborar a angústia dos ataques de pânico. Seguiu
associando: “Bridge - bridge the gap - gap” (“pon-
te - reunir, agrupar - vazio”). As brigas entre seus
pais eram o que impedia “bridge the gap” entre
eles. Mas tinha um “gap”, um grande vazio que
provocava os ataques de pânico. Na Catalunha,
Joan tinha lembrado uma cena de briga entre seus
pais, quando o pai tinha tentado matar a mãe. Joan
descreveu a cena em detalhes, recordando até as
cores das roupas que seus pais vestiam, mas se
justificou dizendo que não podia fazer nada, pois
era apenas uma criança.
Essa abundância de detalhes me fez pensar
em uma lembrança encobridora. Depois de trans-
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crever a sessão, eu me dei conta de que, mais uma
vez, suas associações podiam ter sido interlin-
guísticas. O significante horrível do vazio, sem figu-
ração possível, “gap”, tinha infiltrado a lembrança,
para tentar figurar o que não tinha nenhuma repre-
sentação. Mas era em catalão. Joan situava essa
cena na idade de oito anos, vuit em catalão, que se
pronuncia da mesma forma que buit, o vazio.
O surgimento da angústia característica dos
ataques de pânico corresponde, a meu ver, a uma
busca de figurabilidade do afeto que acede à cons-
ciência, dissociado de sua representação. Na meta-
psicologia freudiana, a pulsão tem dois repre-
sentantes: o representante-representação
(Vorstellungsrepresentanz) e o afeto. Quando cons-
ciente, o afeto é a coloração afetiva de uma si-
tuação, uma qualidade apreensível pelo ego. Quan-
do inconsciente, é um processo energético de ten-
são e descarga, na base dos movimentos somato-
psíquicos inconscientes.
Uma representação pode ser segmentada,
e os processos primários podem concernir somente
a uma parte dela. O afeto, ao contrário, não se de-
compõe com o recalcamento. Sendo a finalidade
do recalcamento evitar o desprazer, o destino do
afeto se revela mais importante que o da repre-
sentação. Esse destino pode ser uma repressão total,
uma manifestação sob uma coloração afetiva qual-
quer, ou sua transformação em angústia (Freud,
1915/1968).
No outro sentido, antes do recalcamento
acontecer, partindo do inconsciente para chegar à
consciência, o afeto pode ser considerado como
movimento de uma pulsão em busca de figura-
bilidade. Aqui, Freud descreve dois destinos do afe-
to: em uma concepção “arrombadora”, na qual o
afeto chega diretamente do sistema inconsciente à
consciência, sempre aparece uma angústia, afeto
contra o qual todos os afetos suprimidos são inter-
cambiados. Numa concepção vicariante, o afeto se
desenvolve a partir de uma representação substi-
tutiva que a pulsão encontra no consciente. Se a
concepção vicariante caracteriza uma grande parte
dos mascaramentos e ocultações próprios à neuro-
se, a concepção arrombadora é que define, a meu
ver, a irrupção do afeto nos movimentos de angústia
enquanto falta de simbolização e psiquização. Foi
interessante ver aqui que essa busca de figurabi-
lidade do afeto arrombando a consciência se fez
através de redes de representações de palavra inter-
linguísticas. O afeto nu do ataque de pânico irrompe
em ocasiões apresentadas por significantes disfar-
çados através de associações e traduções interlin-
guísticas.
Esse processo de uma segunda língua por
trás da língua principal é notavelmente descrito por
Abraham e Torok (1999). Para compreender essa
paciente multilíngue, era preciso buscar em inglês
e russo o sentido do que ela dizia em alemão.
Para concluir o relato e meus encontros com
essa paciente, acrescento que ela também gostava
de brincar com versões diferentes de seu nome.
“Joan” não existia como nome nem na Espanha
nem na França - os franceses confundem com “John”,
o que aumentava os jogos com sua sexuação.
Portanto, fazia-se chamar Joana pelos catalães,
Juana pelos hispanófonos e Jeanne pelos franceses.
Como Fernando Pessoa e seus heterônimos, Joan
assinava publicações diferentes - romances, novelas,
poesia e crítica literária -, com diversos nomes.
Compreendi que Joan aceitava ser ao mesmo tempo
Jeanne, Joana e Juana quando disse que havia
finalizado a sua tese sobre literatura,incluindo no
manuscrito uma parte ficcional.
Tradução linguística e tradução psíquica
Tentemos agora analisar, nesse tipo de asso-
ciações multilíngues, a função da tradução interlin-
guística e da tradução psíquica. A noção de tradu-
ção é central na teoria freudiana, estando presente
em dois termos, Übertragung e Übersetzung. Dois
processos globais recíprocos são descritos de forma
recorrente como traduções. De acordo com o pri-
meiro, a fonte é o inconsciente, e o resultado os
efeitos do inconsciente: sonhos, lapsos, atos falhos
ou sintomas. Essa tradução-codificação liga os restos
mnêmicos, as representações de coisa e as repre-
sentações de palavra. Ela procede no sentido inverso
ao recalcamento. No outro sentido (da consciência
ao inconsciente), pela tradução-interpretação, du-
rante a sessão, os efeitos do inconsciente são a
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fonte, enquanto os pensamentos inconscientes são
a meta. Essa tradução segue o curso do manifesto
ao latente.
Trata-se aqui de uma demanda de tradução,
esta que se coloca por esses pacientes multilíngues
ou poliglotas? Seria possível comparar por um lado
a tradução entre línguas e, por outro, a tradução
dos processos do inconsciente evocada por Freud?
Serão ambos os processos meramente linguísticos?
Como comenta Benjamin (2000), o/a tradu-
tor/a pode se achar em um momento de suspensão
inter-linguística e transitar por um estado fora da
língua. Similarmente, o/a analisando/a se coloca às
vezes num limbo intersemiótico, separando a inter-
pretação da linguagem do sonho ou do sintoma.
Contudo, se o/a tradutor/a, ou o/a locutor/a estran-
geiro/a, passa por esse estado de Unheimlichkeit,
onde os significantes da língua de origem e da outra
língua parecem pouco naturais, é porque o fenô-
meno de tradução interlinguística convoca pro-
cessos do inconsciente. Não são as traduções entre
sistemas psíquicos que manifestam caracteres da
tradução linguística, mas, ao contrário, é esta que
procede do inconsciente.
Há, efetivamente, uma semelhança entre os
processos do inconsciente e as deformações efe-
tuadas sobre um texto pela tradução. Na passagem
de uma língua à outra, têm lugar várias operações,
como figuras de racionalização, passagem da po-
lissemia à monossemia, enriquecimento e empobre-
cimento quantitativos, homogeneização, destruição
das locuções. Essas operações caracterizam também
a passagem dos processos primários aos secun-
dários, na tradução-codificação. No outro sentido,
as operações de alongamento ou empobrecimento
qualitativo, de destruição dos ritmos, parecem cor-
responder a processos de tradução-interpretação,
que desdobra as condensações do sonho e cancela
seu caráter icônico e seu ritmo pela elaboração
linguística.
Todavia, na tradução psíquica, não há língua
original nem língua final. Os sistemas psíquicos não
são línguas, mas, antes, lugares de inscrição. Não
existe uma língua dos processos secundários que
seja independente desses processos: representações
de palavra, imagens de sonho, traços mnêmicos
superiores. Ao contrário, uma língua não se reduz
às suas traduções. O espanhol, por exemplo, não
se reduz à tradução das Mémoire d’Hadrien de
Marguerite Yourcenar por Julio Cortazar, ou à tra-
dução do Livro do desassossego de Pessoa por
Angel Crespo.
Simetricamente, não existe uma língua-fonte
dos processos primários, salvo na fantasia de uma
língua originária, materna, irremediavelmente per-
dida, e esses processos são acessíveis só em sua
tradução psíquica.
Por conseguinte, na tradução-codificação,
como na tradução-interpretação, não há uma
língua-fonte que seja independente da língua-meta,
nem há língua-meta que independa da língua-fonte.
Em outros termos, não há uma dualidade ontológica
e temporal entre os dois níveis: os processos secun-
dários só existem graças à tradução de processos
primários e, no outro sentido, os pensamentos la-
tentes aos que chega a interpretação só existem
através dessa interpretação. A consequência disso
me parece importante aqui. Quando a represen-
tação de palavra, tornada inconsciente, é tratada
pela psique como uma representação de coisa,
como vimos nas associações interlinguísticas, não
se trata mais de palavra, mas de um material novo
criado pela plasticidade dos processos primários.
Portanto, se a confrontação dos migrantes
com uma língua estrangeira atua na formação ou
na resolução dos sintomas, não é como língua, mas
como novas entidades, novos significantes tomados
em redes inconscientes, como qualquer outra espe-
cificidade do país de acolhimento que se torna signi-
ficante - a expressão de um rosto, um incidente
administrativo, um novo hábito culinário etc. Entre-
tanto, essa clínica com poliglotas e multilíngues tem
a ver com a tradução no outro sentido de Uberträgung:
a transferência.
A tradução transferencial
A transferência poderia ser entendida como
uma tradução interlinguística, no sentido em que
Benjamin (2000) define a tradução. Na sua visão
histórica, inspirada no messianismo, Benjamin
(2000) considera que as línguas podem alargar-se
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mutuamente e domiciliar-se uma na outra. A mais
específica tarefa humana, a do/a tradutor/a, e que
poderíamos comparar à transferência, é reunir os
fragmentos dispersos da língua pré-babélica
ecoados por todas as línguas. O/A tradutor/a recorda
e repara simbolicamente a catástrofe de uma origi-
nalidade despedaçada, mas nunca a restitui. Similar-
mente, o mecanismo de transferência entre dois
poliglotas atualiza imaginariamente esse agrupa-
mento de uma dispersão, sem nunca efetuá-lo sim-
bolicamente. Lembremos que não há unidade e
completude atualizada, senão como mito.
A questão do vínculo entre transferência e
tradução é, em verdade, a questão do linguístico e
do pré-linguístico, da continuidade entre corpo e
linguagem, mundo fenomenológico e simbolização.
Sem pretender abordar esta vasta questão aqui,
assinalaria que o mundo não precede a língua, mas
é sempre entendido a partir do horizonte da língua
(o que provoca grandes tormentos aos tradutores!).
Por exemplo, enquanto o francês ou o português
dizem “Atravessaram o rio nadando”, expressando
o espaço pelo verbo principal e a natureza do movi-
mento pelo gerúndio, o inglês inverte isso, dizendo
“They swam accross the river”, verbalizando a natu-
reza do movimento e informando sobre o espaço
por uma preposição. Similarmente, em françês “je
suis en retard”, temporal, corresponde ao inglês
“I’m behind”, espacial, ao espanhol “voy atrasado”,
móvel, ao catalão “vaig de cul”, imaginário, ou ao
marroquino {mcha alia el hal}
passivo (o tempo me abandonou).
Conceber a transferência como tradução é,
então, considerar que a tradução é sempre “entre”:
nem unicamente na fonte, nem unicamente na
meta. Apreciada como espaço do “entre”, a trans-
ferência procede de uma abordagem da intersubje-
tividade. Não se trata aqui só da alteridade (em
muitas línguas, o outro é somente uma figura defi-
nida a partir do sujeito: outro, otro, altre, altro,
other, ander vêm de alter, o segundo termo de
“unus alterque”. Similarmente, em grego é
concebido em função de , em árabe, [rair]
é uma modificação do sujeito, e em hebraico
{aher} quer dizer o que segue, e {chani}
o segundo. Ao contrário, é uma questão de
intersubjetividade: o sujeito ou a consciência não
são primeiros, mas resultam de uma relação, pre-
cedendo e determinando a subjetividade. O espaço
transferencial seria então um espaço “entre”: entre-
sujeitos, entre-línguas.
A transferência, que literal e etimologi-
camente significa transporte, torna-se assim metá-
fora (cuja etimologia é transporte, em grego). Na
cura, a corporeidade tanto do/a analista quanto do/a
analisando/a estão transportadas numa pluralidade
de línguas, e a metáfora da transferência faz comu-
nicar a palavra e o gesto.
É precisamente essamultiplicidade material
da palavra, do gesto, do pensamento, não só linguís-
ticos, que se transcreve em pluralidade de as-
sociações interlinguísticas, durante a sessão, e de-
pois, durante a escritura narrativa da sessão. Para
transcrever essa multiplicidade material fazem-se
necessárias, às vezes, línguas plurais.
Mais concretamente, seria preciso que o/a
analista de um/a paciente poliglota ou multilíngue
seja, ele/a também, poliglota ou multilíngue? É certo
que uma ou mais línguas comuns entre o/a analista
e o/a analisando/a às vezes permitem ao/a pri-
meiro/a encontrar os percursos do pensamento e
as conexões significantes do/a segundo/a, como
vimos. Mas isso não basta. Além disso, essas línguas
comuns podem introduzir o/a analista na posição
imaginária de onipotência e onisciência: ele/a assim
não assumiria a limitação necessária da sua ilusão
de compreender, para poder escutar o/a analisando/a.
Isso poderia mesmo dar lugar à fantasia anteba-
bélica de uma língua originária, de uma comuni-
cação total, unitária.
Igualmente, para o/a analisando/a, uma
segunda língua em comum com o/a analista poderia
dar origem a uma atitude de sedução e a fantasias
de conivência ou de pertencer à mesma comuni-
dade. O/A analista deve cuidar para que essa coni-
vência não seja forte demais, e introduza uma ilusão
de simetria e reciprocidade, reduzindo-o à posição
imaginária de um semelhante. O poliglotismo tem
limites: o uso de outra língua pode manifestar certa
recusa de comunicar por parte do/a paciente, e
demonstrar onipotência por parte do/a analista.
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Outrossim, não se deve confundir a divisão subjetiva
do/a paciente com a dicotomia imaginária de não
saber se pertence mais a uma cultura ou a outra.
Portanto, o poliglotismo pode ajudar no tra-
balho terapêutico só no sentido de que essa lín-
gua antebabélica da transferência nunca é atuali-
zada, mas ressoa como um original perdido para
sempre, um mito heurístico de espaço “entre”, im-
possível de realizar, sempre incoativo, sempre em
transformação.
Única ou plural, uma língua contem nume-
rosas vias associativas. Portanto, antes que a poli-
glossia, é a polifonia que se revela útil para o/a ana-
lista, favorecendo uma escuta de numerosos dis-
cursos, vias associativas e experiências. O signifi-
cante na psicanálise não é só um significante lin-
guístico. Ainda que a área do/a psicanalista seja
estruturada pelos efeitos da linguagem, não é es-
truturada só por eles: a heterogeneidade da pes-
soalidade psíquica procede também de efeitos do
corpo, da norma e da intersubjetividade. O discurso
do inconsciente é polifônico, poligráfico, e não se
reduz à linguagem.
O trabalho analítico tenta restituir ao discur-
so o seu polilogismo funcional, a sua plurivocidade
dialógica. Com respeito a esse discurso polilógico,
não há uma especificidade dos pacientes poliglotas
ou multilíngues, salvo no fato de que, com a orga-
nização multilinguística deles, esse funcionamento
polilógico se destaca com mais clareza. Nesse sen-
tido, o trabalho com poliglotas e multilíngues pode
favorecer a pluridimensionalidade da escuta ana-
lítica. No mesmo sentido, a transcrição posterior
da sessão, a narração transferencial, ao se fazer em
muitas línguas, tenta recapturar essa dimensão
poligráfica.
Concluamos assim que a mobilidade psí-
quica e a criatividade da linguagem provêm só de
uma mistura, uma constante contaminação entre
línguas, como aquela mescla presente na poesia
dos trovadores da Idade Média, que circulavam
entre várias culturas. Trovador vem do árabe
{tarab addour}, literalmente “a alegria do
giro e do estribilho que gira na música”. Os
trovadores foram filhos do {tarab}, a música
e a poesia refinada. As mães deles eram criadas
estrangeiras, escravas que compartilhavam o leito
dos generais árabes, rainhas do {tarab}. Essas
belas estrangeiras tinham filhos meio-árabes e meio-
-estrangeiros, aos quais falavam com língua estran-
geira, erros e poesia. Em árabe, a mesma palavra
{lahn} designa a incorreção gramatical e a
melodia. E essas melodias erradas giravam nas cor-
tes e nos salões dos estetas. Girar. {addour},
{tarab addour}, trovador. Cabe desejar
aqui que a escuta analítica tenha orelha musical!
Referências
Abraham N., & Torok M. (1999). Le Verbier de l’homme
aux loups. Paris: Gallimard.
Amati Mehler, J. (2003). La migration, la perte et la
mémoire. Etudes de linguistique appliquée, 131, 329-342.
Benjamin, W. (2000). La tâche du traducteur. In W.
Benjamin Oeuvres I. Paris: Gallimard.
Freud, S. (1968). L’inconscient. In S. Freud, Métapsychologie.
Paris: Gallimard. (Initialement public in 1915).
Hassoun, J. (1993). L’Exil de la langue. Paris: Point hors
ligne.
Recebido: junho 12, 2013
Versão final: dezembro 18, 2013
Aprovado: janeiro 30, 2014
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