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AULA 2 FILOSOFIA LEAN Profª Rosinda Angela da Silva 2 CONVERSA INICIAL Depois do que já conhecemos até o momento, é possível evoluir para o estudo do pensamento enxuto, o Lean Thinking, que o auxiliará a compreender como foi possível criar um sistema de produção tão diferenciado das demais organizações. Devido a isso, o objetivo desta aula será apresentar os cinco princípios do Lean Thinking e algumas ferramentas e métodos utilizados para dar o suporte necessário. TEMA 1 – O QUE É LEAN THINKING (PENSAMENTO ENXUTO) A Toyota não construiu o Sistema Toyota de Produção (STP) do dia para noite, mas sim com o esforço e a dedicação de profissionais tanto na área de gestão quanto na área de operações e qualidade. Figura 1 – A construção do pensamento enxuto Fonte: Mark2481/Shutterstock. A construção do pensamento enxuto é um dos alicerces do sistema Lean e está conectado a cinco princípios básicos que discutiremos ainda nesta aula. No entanto, reflita que criar um modelo de pensamento macro, que seja comum a todos na organização é um grande desafio em qualquer lugar do mundo e foi um desafio para Toyota também. Se nos basearmos no pressuposto de que o modo de pensar de um povo está conectado à sua cultura, entendemos por que americanos, europeus e latinos pensam e agem diferentemente dos orientais. A 3 criação desse pensamento comum (macro) envolve questões mais profundas das condições que cada povo tem e dos desafios que enfrentaram (ou que enfrentam). O tema é complexo e pode ter vários pontos de vista diferentes, então neste momento consideraremos que o fato de o Japão ter saído da Segunda Guerra em condições difíceis e necessitando de reconstrução fez com que sua população se unisse de forma memorável para reconstruir o país. O período de guerra tornou escassos todos os recursos, então, no caso do Japão, quando o conflito cessou, a população juntou forças para reconstruir o país e juntos (cidadãos, empresas, governo) buscaram o melhor aproveitamento de tudo o que foi possível e fizeram do combate aos desperdícios de quaisquer naturezas, a bandeira da reconstrução. Assim, pode-se compreender que o surgimento, a disseminação e o fortalecimento do pensamento Lean nasceu no Japão, num primeiro momento por necessidade, mas aos poucos foi incorporado por toda a população, sendo disseminado em todos os lugares como empresas, escolas, ambientes familiares, entre outros. 1.1 Lean Thinking nas organizações Uma organização é um ambiente fértil para iniciar a cultura do pensamento enxuto porque, independente das preferências, crenças, receios ou ideologias de cada um, é um ambiente profissional em que as pessoas que estão ali, trabalham por um objetivo comum: o sucesso da empresa. Considerando esse objetivo comum, os profissionais juntarão esforços para implementar as estratégias necessárias para o crescimento do negócio, não é mesmo? Assim, compete aos gestores com formação Lean preparar os colaboradores para assumir uma nova postura e participar das mudanças que virão. Para que o pensamento Lean seja devidamente implementado, os colaboradores precisam conhecer seus cinco princípios e entender como é possível transformá-los em realidade. Os princípios do pensamento Lean são: 4 Figura 2 – Modelo conceitual dos princípios do Lean Thinking Fonte: Werkema, 2011. Discutiremos esses pontos a seguir com a visão de que o Lean Thinking é uma estratégia de longo prazo para os negócios e cada profissional que entender suas prerrogativas estará mais capacitado para atuar nas organizações enxutas. TEMA 2 – Princípios Lean: valor para o cliente e fluxo de valor A base do Lean Thinking é compreender que é o cliente quem determina o que é valor de um produto e serviço e não a empresa. E note que, nesse caso, não é somente de valor monetário que estamos falando e sim de valor agregado. O grande desafio é a empresa identificar o que é valor para um cliente, então, discutiremos alguns fatores pertinentes. 2.1 Princípio 1: valor para o cliente Começaremos com um questionamento: o que é valor? Em síntese, é algo que faz sentido para o cliente, algo que ele considere importante, imprescindível naquele produto ou serviço, indissociável do produto ou serviço e até mesmo quão útil é o produto ou serviço para ele. Identificar corretamente o que é valor para o cliente é a base para a empresa estruturar estratégias de atendimento, porque, segundo Rodrigues (2014, p. 11-12), 5 “Valor de um produto é o que atende plenamente a necessidades, expectativas e desejos do cliente final. Valor é definido pelo cliente e deve ser criado pela organização. O cliente só está disposto a pagar por aquilo que ele considera e entende por valor”. Por isso, as empresas precisam buscar identificar quais são as atividades que agregam valor aos produtos e serviços e maximizá-las para que o cliente perceba que está pagando por algo que realmente atende à sua necessidade. A seguir, um exemplo básico: Figura 3 – Compra em um supermercado em um sábado às 10h da manhã Cálculo básico do processo de compra pelo ponto de vista do cliente: • 40 minutos, considerada atividade que agrega valor ao cliente e equivale a 66% do tempo; • 15 minutos de fila, considerada atividade que não agrega valor e equivale a 25% do tempo da operação; • 5 minutos: passar os produtos no caixa e realizar o pagamento equivale a praticamente 9% do tempo e é considerado algo não criador de valor para o cliente, porém são ações necessárias. Na atividade simples de fazer compras no supermercado, é possível vislumbrar que ocorrem atividades que, do ponto de vista do cliente, não agregam valor e são esses elementos que precisam ser avaliados pelos gestores, pois engana-se o gestor que pensa que se o cliente ficar mais tempo no supermercado, ele consumirá mais, pois o tempo da fila para o pagamento é considerado um desperdício. Observe outros exemplos: 6 Quadro 1 – Exemplos de atividade que agregam valor (ou não) ao cliente Atividades que agregam valor Não agregam valor, mas são necessárias Considerado desperdício pelo cliente • Ferramenta removendo aparas de uma peça • Golpe na operação de prensa • Injeção do plástico no molde • Mistura em processo químico • Embalar um produto • Deslocamento da ferramenta • Fixação da peça • Limpeza e início de injeção no molde • Enchimento de reservatórios • Setup, troca de ferramentas • Manutenção corretiva • Manuseio duplicado • Descartar peças • Entradas e saídas do almoxarifado, percursos adicionais • Limpezas adicionais Fonte: Gonçalves, S.d. A análise crítica dos processos e também das necessidades dos clientes serão os parâmetros para eliminar tudo aquilo que consome recurso da empresa (tempo, insumo, tecnologia, mão de obra) e não agrega valor, pois o cliente não está disposto a pagar por um desperdício que ocorre por ingerência. Além disso, não é possível generalizar e considerar que todos os clientes têm o mesmo ponto de vista, uma vez que o produto ou serviço pode ser mais representativo para uns que para outros. Depois da árdua tarefa de identificar o que representa valor agregado ao cliente, o próximo passo e 2º princípio do Lean Thinking é identificar o fluxo de valor. 2.2 Princípio 2: fluxo de valor Ao ter claro o valor para o cliente, haverá a necessidade de mapear o fluxo de como as coisas ocorrem na empresa para identificar quais os passos que são realmente importantes. Segundo Werkema (2011, p. 14), identificar o fluxo de valor, que significa dissecar a cadeia produtiva e separar os processos em três tipos: aqueles que geram valor, aqueles que não geram valor mas são importantes para a manutenção dos processos e da qualidade e, por fim, aqueles que não agregam valor, devendo sereliminados imediatamente. 7 Para realizar um mapeamento de fluxo de valor (Value Stream Mapping – VSM), é preciso seguir os seguintes passos: Figura 4 – Passos para o mapeamento do fluxo de valor Fonte: Lages Júnior, 2016, p. 141. A seguir, discutiremos esses importantes elementos pelo foco da melhoria contínua, ou seja, as empresas devem realizar mapeamento de processo, não apenas em momentos de crise, mas sim constantemente. 2.2.1 Produto ou serviço a ser mapeado É um desafio para a gestão definir por onde começar a realizar um mapeamento de processo, no entanto um ponto de partida pode ser a escolha de um processo que seja gargalo. Um gargalo pode ser entendido como um processo ou parte de uma atividade que demora mais que os outros, por exemplo, os quinze minutos de fila em que o cliente ficou no supermercado para pagar sua compra. Figura 5 – Mapeamento do fluxo de valor Fonte: Mindroom14/Shutterstock. 8 O mapeamento pode ser realizado em vários pontos da cadeia onde a empresa está inserida, por exemplo, na cadeia de abastecimento, em que podem ocorrer gargalos com fornecedores, qualidade da matéria-prima, sazonalidade de alguns insumos, provedores de serviços logísticos, gestão de contratos com terceirizados e quaternizados, entre outros. Os desafios podem estar dentro da empresa também, tais como: ineficiência na gestão dos estoques (excesso ou ruptura), movimentação de materiais, gestão de compras, falhas no recebimento, montagem, embalagem e montagem de pedidos, processo produtivo, controle de qualidade, expedição e outras atividades internas. Por fim, os gargalos podem ocorrer dos portões da empresa para fora, nas atividades que compõem a distribuição dos produtos. Mesmo que as organizações tenham dezenas de processos a serem mapeados, ainda assim a recomendação será a mesma: priorize aqueles que impactam diretamente na entrega ao cliente, pois é esse processo que o cliente percebe como agregador de valor. Sayer e Williams (2015, p. 128) trazem três exemplos simples: “no lava-jato, é quando alguém de fato lava o carro; no hospital, é quando o paciente recebe o tratamento e na linha de montagem, é quando alguém está de fato montando as peças”. Depois de mapeados os processos críticos e tomadas as ações para melhoria, é preciso continuar mapeando e melhorando os demais. 2.2.2 Desenhando o estado atual (as/is) e estado futuro (to/be) Um mapeamento começa com o desenho do estado atual (as/is) para que o gestor (ou a equipe responsável) possa compreender como as operações acontecem no momento. Isso se faz importante para posteriormente desenhar o estado futuro ou ideal (to/be). A Figura 6 representa um processo de desenvolvimento de um projeto que pode ser da construção de um empreendimento imobiliário. Para isso, diversos profissionais são envolvidos e recursos tecnológicos, financeiros e de tempo, são aplicados. Para que o escritório de projetos consiga identificar seus gargalos, foi utilizado um modelo padrão de fluxo do VSM, em que foram identificadas principais operações e os tempos que demandam. O fluxo aponta que a operação 9 mais demorada é a modelagem realizada pelo técnico em edificações e no desenho do estado futuro, seria o primeiro processo a ser avaliado. Figura 6 – Mapa do estado atual Fonte: Dantas Filho; Barros Neto; Angelim, 2017. Figura 7 – Legenda símbolos VSM Fonte: Lage Júnior, 2016. Para desenhar o estado futuro do processo de desenvolvimento de um projeto, o gestor do processo ou do escritório fará uma análise crítica da atividade apontada como gargalo modelagem e levantar as possibilidades de reduzir esse tempo. O gargalo da modelagem pode ser gerado por vários motivos, por exemplo, insuficiência de mão de obra, complexidade do processo, escassez de recursos, prazo de entrega informado ao cliente foi subestimado, operações que dependam de elementos externos, entre outros. 10 2.2.3 Plano de ação Com a identificação dos gargalos e o mapeamento das atividades críticas, o próximo passo é o plano de ação, geralmente para operacionalizar o estado futuro. Figura 8 – Plano de ação Fonte: Bleakstar/Shutterstock. Em qualquer plano de implantação de mudança do estado atual para o estado futuro (o que deve ser visto como uma melhoria), o gestor ou equipe responsável deve ter ciência das dificuldades, pois é muito comum o gargalo identificado ser somente a ponta do iceberg. Conforme alterações começam a ser implementadas, outros desafios surgem indicando outros elementos de impacto. É preciso considerar também que pode haver contestação dos próprios colaboradores que não resistem a sair de suas zonas de conforto. Para isso, os gestores ou equipe responsável podem utilizar diversas ferramentas para implementar a melhoria proposta, por exemplo, o ciclo PDCA e 5w2H. • Plan – Planejar: nessa fase, são identificadas necessidades para a implementação do plano como recursos financeiros, tecnológicos, insumos, mão de obra, capacitação específica. São definidas as metas a serem alcançadas, divididas as tarefas e atribuídas as responsabilidades; • Do – Fazer: com o planejamento realizado, a equipe inicia o processo de operacionalização das atividades e as melhorias de processo propriamente dito; 11 • Check – Checar: após ter concluído a tarefa (ou as tarefas) é preciso verificar o atingimento do proposto e também se os recursos foram adequadamente utilizados; • Act – Agir: esse momento é crucial para a implementação do estado futuro, uma vez que aquilo que deu certo será sistematizado, e que não ocorreu conforme o planejado, será revisto e atualizado. Figura 9 – Modelo conceitual do ciclo PDCA Fonte: Silva, Silva, 2017, p. 119. O ciclo PDCA se retroalimenta constantemente, por isso é também conhecido como ciclo de melhoria contínua e, para o melhor aproveitamento do uso dessa ferramenta simples, indica-se o uso de inúmeras ferramentas de gestão e de qualidade. O 5W2H, por sua vez, é uma ferramenta que caracteriza bem como o ciclo PDCA é simples de utilizar. Segundo Oliveira (2009, p. 68), “é utilizada normalmente, no final do processo de identificação, análise e geração de solução de problemas. Ela está associada à execução do que foi planejado, ou seja, especificando o máximo possível os elementos que deverão ser realizados”. 12 Quadro 2 – Modelo conceitual do 5W2H Fonte: Oliveira, 2009, p. 68. A utilização da ferramenta 5W2H tanto pode ser utilizada para divisão das tarefas de um projeto de melhoria, como ser utilizado para planejar uma mudança. O fato é que sua simplicidade a torna uma ferramenta versátil e todos os colaboradores entendem como podem contribuir para a melhoria. TEMA 3 – PRINCÍPIO LEAN: FLUXO CONTÍNUO Após compreender o que é valor para o cliente e como é possível avaliar o fluxo de valor nas atividades realizadas pela a empresa, o próximo passo será compreender o princípio 3: fluxo contínuo. 3.1 Fluxo contínuo na filosofia Lean Implantar o fluxo contínuo nas operações é o desejo de qualquer empreendedor, pode ter certeza. E sabe por quê? Porque o fluxo contínuo permite que as operações sejam visualizadas quando estão ocorrendo, uma vez que, para ter um fluxo contínuo, os excessos – principalmente de estoques – precisam ser eliminados. Na filosofia Lean o fluxo contínuo está pautado em algumas bases que auxiliam ampliar a fluidez do processo, tais como: o Just In Time (JIT), Takt Time (Tempo Takt), Jidoka, Heijunka, Kaizen. Discutiremos brevemente a contribuição de cada elemento desse no processo de fluxo contínuo. 3.1.1 Just In Time – JIT Pode ser entendido como justo no tempo. Na prática, está conectado aos movimentos dos estoques na produção ou na área de vendastambém. Em uma indústria, os estoques podem ocorrer de distintas formas, tais como: matérias- 13 primas, insumos, componentes, partes, peças e também de produtos em processo e até mesmo de produtos acabados (prontos para venda). Quando o fornecedor entrega mais insumos que o necessário para a produção do dia na indústria, certamente o estoque acumulará, assim, o método JIT pode auxiliar, desde que o fornecedor seja envolvido nesse processo. Por exemplo: uma empresa cliente pode determinar que, para utilizar JIT, ela precisa receber somente 250 kits por dia de determinado item, uma vez que ela tem capacidade de montar somente 250 produtos por dia. Mas se o fornecedor se recusa a entregar 250 kits dia e sim 1250 kits por semana, a empresa cliente não consegue aplicar o JIT como é para ser, pois ao receber a quantidade de kits suficientes para uma semana, ela arcará com o custo de manter estoque. 3.1.2 Takt-time Essa expressão é bem conhecida do universo fabril e significa compasso (produzir no ritmo). A filosofia Lean salienta que, para ter fluxo contínuo, é preciso identificar o tempo Takt e adotá-lo como parâmetro para o tempo de sua produção. Segundo Lages Júnior (2016, p. 110), “Takt-time é a frequência com que se deve produzir um produto, com base no ritmo de vendas”, ou seja, esse tempo é determinado pela velocidade das vendas. Por exemplo, se a venda diária da empresa citada acima é de 250 produtos por dia, ela deve produzir somente 250 produtos por dia e tem razão em querer receber somente 250 kits/dia (JIT), pois assim ela utilizará o tempo da sua fábrica para produzir aquilo que tem venda. Figura 10 – A automação Fonte: Phonlamai Pbhoto/Shutterstock. 14 3.1.3 Jidoka – Automação Tem como objetivo detectar possíveis falhas no processo produtivo e parar a máquina, ou seja, são dispositivos que param as máquinas e equipamentos, evitando que produtos com defeitos sejam produzidos. Para que o jidoka seja implementado em uma fábrica, por exemplo, é preciso avaliar criticamente os processos, as máquinas e a complexidade das operações para que a inserção dos dispositivos. A técnica do jidoka auxilia o fluxo contínuo porque não permite que produtos com defeitos sigam adiante e sejam percebidos em processos subsequentes, no final da linha de produção, ou pior, quando já estiverem no mercado. 3.1.4 Heijunka – nivelamento de carga de trabalho De nada adianta ter algumas máquinas velozes em partes do processo produtivo e gerar estoque em frente às máquinas mais lentas. Uma vez que a capacidade produtiva de uma fábrica é mensurada pela menor capacidade (máquina mais lenta), a constância das linhas de produção permitirá que os programadores de produção visualizem a real capacidade de atendimento da empresa. 3.1.5 Poka-Yoke – a prova de falhas Dispositivos Poka-Yoke são extremamente úteis para fluidez de um processo, porque impedem que um operador monte um produto de forma equivocada, ou ligue uma máquina na velocidade inadequada ou produtos tenham tamanhos diferentes, entre outras possibilidades. Figura 11 – Filosofia Kazen Fonte: Sampien/Shutterstock. 15 3.1.6 Filosofia Kaizen – melhoria contínua A filosofia Lean tem um apelo forte para a qualidade e para que as melhorias ocorram continuamente. Sendo assim, é possível compreender o Kaizen como uma das bases para filosofia Lean. Isso porque, para ser enxuto, qualidade precisa ser garantida desde a origem, isso inclui desde a matéria-prima até a entrega do produto ou serviço ao consumidor final. Não somente essas apresentadas, como também muitas outras ferramentas, dispositivos, procedimentos, metodologias e métodos fazem parte do contexto da filosofia Lean e todos auxiliam criar a fluidez dos fluxos. Ter fluidez significa que o processo não é interrompido em nenhum momento desde que inicia e, para isso, não pode haver empecilhos, paradas, esperas, falta de matérias-primas, colaboradores ausentes, matérias-primas com defeitos, ou seja, nada que impeça o movimento contínuo da operação. TEMA 4 – PRINCÍPIO LEAN: PRODUÇÃO PUXADA Já conhecemos alguns pontos que diferem a produção puxada da produção em massa. Neste momento, o foco é apresentar a produção puxada sob o ponto de vista do pensamento Lean. A principal característica da produção puxada é produzir somente quando o cliente solicita e na quantidade em que ele solicita, o que é possível quando a empresa tem a fluidez no fluxo conforme descrito no tema anterior. Werkema (2011, p. 15) explica que a o fluxo contínuo permite a inversão do fluxo produtivo: “as empresas não mais empurram os produtos para o consumidor por meio de descontos e promoções. O consumidor passa a puxar a produção, eliminando estoques e dando valor ao produto”, o que é o anseio de qualquer indústria. No entanto a produção puxada é vista como um desafio por muitas organizações que ainda não tem a filosofia Lean implementada porque sempre terá a preocupação do custo de produção por peça. 16 Figura 12 – Produção empurrada Fonte: Wavebreakmedia/Shutterstock. Na produção empurrada, a empresa produz independentemente de ter pedido para determinado produto ou não. O responsável pelo setor de planejamento, programação e controle da produção (PPCP) desenvolve o Plano Mestre de Produção para manter máquinas e mão de obra sempre ocupados, pois parte do pressuposto de que mão de obra ou máquina parada aumentam o custo da peça produzida. Mas não consideram que, se não há pedido para os itens produzidos, eles ficarão estocados e incorrerão em outros custos para a empresa. Já na produção puxada, os pedidos serão produzidos conforme as quantidades que o cliente determinar: nem mais para não sobrar, nem menos para não comprometer a qualidade da entrega. Um sistema de produção puxada fará com que o setor responsável pelo abastecimento de linha deixe exatamente a quantidade suficiente para produzir o pedido do cliente. Sendo assim, não haverá estoques de matérias-primas paradas entres as linhas, tampouco produtos em processo (work in process – wip) entre as linhas de produção. Com isso, a produção puxada utilizará a fluidez do fluxo para produzir mais rapidamente e com mais qualidade lotes menores para atender exatamente ao pedido do cliente. Além disso, a empresa terá a possibilidade de oferecer mais variedade de produtos, uma vez que a produção puxada também tem como pressuposto a flexibilidade dos processos produtivos. 17 4.1 Recursos que suportam a produção puxada Para que seja possível implementar a produção puxada, é preciso implementar algumas mudanças nos processos produtivos, na estratégia de abordagem ao cliente e na programação do PPCP que deve passar a utilizar o Takt-time como padrão para programar a produção. Outro elemento essencial da produção puxada é o uso do Kanban, que pode ser compreendido como “um dispositivo sinalizador que autoriza e dá instruções para a produção ou para a retirada de itens em um sistema puxado”. (Werkema, 2011, p. 57). Ainda segundo a autora, o Kanban se apresenta em três configurações: • Kanban de produção: se ocupa em informar ao processo anterior (processo fornecedor) a quantidade a ser reposta, de acordo com o que já foi consumido; • Kanban de sinalização: autoriza o processo anterior fabricar um novo lote, normalmente quando atinge o ponto de reposição; • Kanban de retirada: informa a quantidade e o tipo de produto a ser movimentado e transferidos para o processo subsequente (Werkema, 2011). Para cada finalidade, o cartão Kanban tem uma forma específica para não confundir os programadores e colaboradores responsáveis pelo abastecimento das linhas. Na prática, são cartões coloridos que acompanham o estoque durante o processo produtivo. Na produçãopuxada, é um importante elemento da gestão visual porque o colaborador somente fará a reposição de determinado item (pode ser matéria-prima, componente, peça, partes, módulos) somente quando o cartão Kanban sinalizar. 18 Figura 13 – Redução de setup Fonte: Kzenon / Shutterstock. 4.2 Redução de setup, troca rápida de ferramentas (TRF) e manutenção preventiva Para que a empresa possa implementar a produção puxada e produzir pequenos lotes de cada vez e oferecer flexibilidade ao cliente, é preciso que o tempo de setup seja otimizado, ou seja, não pode demorar muito para preparar a máquina para um próximo lote de produção. Para isso, foram desenvolvidos diversos métodos principalmente pela Toyota para alavancar a produção enxuta e um dos métodos mais conhecidos é a troca rápida de ferramenta. O sistema Toyota de produção tem como meta fazer com que a troca das ferramentas das máquinas seja realizada em menos de dez minutos para que a produção possa ser recomeçada o mais breve possível. E um fator que impacta tanto no setup quanto na troca rápida de ferramentas é a manutenção do parque fabril. Somente é possível acelerar uma fábrica se tudo estiver funcionando adequadamente, por isso a manutenção é tão importante para a produção puxada. TEMA 5 – PRINCÍPIO LEAN: PERFEIÇÃO (QUALIDADE) Um dos princípios mais complexos do pensamento Lean é a busca pela perfeição representada pelo coeficiente de qualidade que uma empresa precisa imputar em seus processos, produtos e serviços para que os clientes então percebam valor agregado. Rodrigues (2014, p. 15-16) explica que 19 a busca da perfeição tem por objetivo melhorar todo o processo produtivo de maneira contínua e permanente, e as possibilidades de melhorias estão em todas as etapas e organizações envolvidas e, a partir de comandos claros e transparentes dado pelo cliente final e devidamente decodificado em toda a rede, os processos devem se ajustar de maneira a consumir menos tempo, esforço, materiais, mão de obra, equipamentos, entre outros. Embora a qualidade seja um conceito que contemple inúmeros fatores conforme explanação do autor, é importante que ela seja planejada desde antes da existência do produto ou serviço, ou seja, desde a concepção do projeto. Figura 14 – A filosofia Lean tem como base de sustentação o Kaizen Fonte: Big Blue Studio/Shutterstock. A filosofia Lean tem como base de sustentação o Kaizen, que significa a melhoria contínua, que envolve a todos na organização e requer melhorias sistemáticas, mas que não interrompe o fluxo de trabalho. Busca soluções simples, que possam ser compreendidas por todos os envolvidos e de baixo custo. Na filosofia Lean, no entanto, a melhoria Kaikaku também se faz presente e o que difere do Kaizen está no impacto que causa. Pode-se compreender Kaikaku então como uma melhoria radical e que muda completamente o modus operandi de uma atividade, por exemplo. 5.1 Em busca da perfeição Na filosofia Lean, a expressão correta é essa: buscar a perfeição, o que significa dizer que a empresa não pode se contentar com menos que isso, porque se aceitar, a concorrência fará melhor. O gestor não está sozinho na tarefa de buscar a qualidade até chegar à perfeição porque muitas ferramentas, métodos, metodologias e sistemas 20 informatizados têm sido desenvolvidos para dar esse suporte. No entanto, a qualidade também precisa ser planejada, organizada, operacionalizada e controlada para que a empresa se mantenha no caminho da melhoria. Para o Sistema Toyota de Produção, o planejamento precisa responder a algumas perguntas, por exemplo: onde a empresa está agora? Onde a empresa pretende estar no futuro? Como fará para chegar até lá? Quais desafios prováveis surgirão pelo caminho? Responder a esses questionamentos não será difícil se o gestor se preparar para isso. Na prática, ele não está sozinho, uma vez que muito material já foi produzido, muitas experiências foram realizadas e muitos resultados já foram divulgados. Logo, compete ao gestor buscar o conhecimento necessário para que possa planejar a qualidade de acordo com as necessidades da empresa e as expectativas do cliente. Silva e Silva (2017, p. 193) sugerem que, para planejar a qualidade de maneira estratégica, é preciso atentar aos seguintes elementos: • Classifique as áreas da empresa: contato com o cliente; colaboradores; gestão de processos, recursos; • Identifique uma primeira área para implantar a melhoria; • Determine as principais atividades que serão melhoradas; • Determine os objetivos que serão buscados; • Defina as ferramentas que serão utilizadas; • Divida as tarefas; • Estabeleça as datas de entrega, entre outros. Com a apresentação que é o Lean Thinking e seus princípios, é possível começar a idealizar como desenvolver a filosofia Lean nas organizações. 21 REFERÊNCIAS DANTAS FILHO, J. B. P.; BARROS NETO, J. P.; ANGELIM, B. M. Mapeamento do fluxo de valor de processo de construção virtual baseado em BIM. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 17, n. 4, p. 343-358, out. /dez. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ac/v17n4/1678-8621-ac-17-04-0343.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2020. GONÇALVES, V. O conceito de valor agregado no Lean Manufacturing. Voitto, S.d. Disponível em: <https://www.voitto.com.br/blog/artigo/valor-agregado>. Acesso em: 15 abr. 2020. LAGES JÚNIOR, M. Mapeamento de processos de gestão empresarial. Curitiba: InterSaberes, 2016. OLIVEIRA, J. O. Gestão da qualidade e produtividade na logística. Curitiba: Iesde, 2009. RODRIGUES, M. V. Sistema Lean manufacturing: entendendo, aprendendo e desenvolvendo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. SAYER, N. J.; WILLIAMS, B. Lean para leigos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2015. SILVA, R. A. da; SILVA, O. R. da. Qualidade, padronização e certificação. Curitiba: InterSaberes, 2017. WERKEMA, C. Lean seis sigma: introdução às ferramentas do Lean manufacturing. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
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