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TEMA 4 - AULA 03 - DIREITO CONSTITUCIONAL DO TRABALHO

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AULA 3 
DIREITO CONSTITUCIONAL DO 
TRABALHO 
 Profª Sonia de Oliveira 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
A partir deste encontro, passaremos a estudar especificamente as 
previsões da Constituição de 1988 acerca do trabalho e do direito do trabalho. 
Desde já é importante mencionar que as previsões constitucionais acerca do 
trabalho não estão limitadas aos arts. 7º ao 11 da Constituição, os quais são 
responsáveis por prever, especificamente, normas de direito do trabalho, 
individual e coletivo. 
Existem outras normas distribuídas no texto da Constituição de 1988 que 
fazem menção ao trabalho, e que também estabelecem princípios aplicáveis ao 
trabalho, como valor social do Estado Democrático de Direito. Estudaremos as 
previsões dos arts. 1º, 6º, 170, 193, 200 e 225 da Constituição de 1988. 
Estudaremos também, de forma geral, as Convenções da Organização 
Internacional do Trabalho, pois, dependendo da abordagem, podem ser 
consideradas normas com o mesmo valor de uma norma Constitucional. Para 
tanto, vamos tratar do art. 5º, parágrafos 2º e 3º, da Constituição. 
Bons estudos! 
CONTEXTUALIZANDO 
Marcos da Silva chega em seu escritório e relata que está indignado com 
uma situação: ele trabalha em um posto de gasolina e, além de fazer o 
abastecimento de veículos nas bombas de combustível, na atividade de frentista, 
também faz lavagem de caminhões com produtos químicos para limpeza; está 
constantemente exposto à umidade, pois nem sempre lhe são fornecidos 
equipamentos de proteção, como luvas e aventais impermeáveis, em pelo menos 
três lavagens por dia. 
Por conta da condição de frentista, o empregador lhe paga o adicional de 
periculosidade, mas a dúvida do Marcos é se ele também poderia receber o 
adicional de insalubridade em virtude dos produtos químicos e da umidade nos 
períodos em que efetua as lavagens dos veículos. 
Neste caso, qual seria a sua orientação para o Marcos? 
 
 
 
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TEMA 1 – VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA COMO 
FUNDAMENTOS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
A partir do Estado Moderno, surgem o Estado Absolutista e o Estado 
Liberal, que é bipartido em Estado Legal e Estado de Direito. Este último, por sua 
vez, é tripartido em Estado Liberal de Direito, Estado Social de Direito e Estado 
Democrático de Direito (Morais; Streck, 2000, p. 92). 
O Estado Democrático de Direito não representa apenas a união formal dos 
conceitos de Estado Democrático e de Direito, pois com o seu nascimento “a 
atuação do Estado passa a ter conteúdo de transformação do status quo, a lei 
aparecendo como instrumento de transformação por incorporar um papel 
simbólico prospectivo de manutenção do espaço vital da humanidade”. (Morais; 
Streck, 2000, p. 104) 
A República Federativa do Brasil, segundo o caput do art. 1º da 
Constituição de 1988, está constituída em Estado Democrático de Direito e tem 
como fundamento as previsões de seus incisos: I) soberania; II) cidadania; III) 
dignidade da pessoa humana; IV) valores sociais, do trabalho e da livre iniciativa; 
V) pluralismo político (Brasil, 1988). Tais fundamentos são igualmente 
importantes, não havendo hierarquia entre eles. 
Essa forma de constituição da República Federativa do Brasil tende a fazer 
com que a sociedade brasileira esteja organizada, subordinando os cidadãos ao 
texto da Constituição, instrumento para se alcançar a igualdade e a organização 
dentro da sociedade. 
Apontar o trabalho e a livre iniciativa como fundamentos do Estado 
Democrático de Direito faz com que o texto da Constituição contemple o princípio 
constitucional da valorização do trabalho, bem como da justiça social – ainda que 
indiretamente, no caso deste último. 
TEMA 2 – TRABALHO COMO DIREITO SOCIAL DO CIDADÃO 
A Constituição de 1988, no art. 6º, elenca certos direitos sociais do cidadão, 
quais sejam: educação, saúde, alimentação, trabalho, lazer, segurança, 
previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos 
desamparados. 
 
 
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Vê-se, portanto, que o trabalho e a livre iniciativa são fundamentos do 
Estado Democrático de Direito, bem como integram os direitos sociais dos 
cidadãos segundo previsão do art. 6º, caput, da Constituição de 1988. 
Os direitos sociais, nas palavras de Alexandre de Moraes, caracterizam-se 
como liberdades positivas que devem ser obrigatoriamente observadas no Estado 
Social de Direito, cuja finalidade é de melhorar as condições de vida dos 
hipossuficientes, visando a igualdade social, também fundamento do Estado 
Democrático de Direito, conforme o art. 1º, inciso IV, da Constituição de 1988 
(Moraes, 2007, p. 187). 
Os direitos sociais previstos na Constituição são normas de ordem pública, 
imperativas e invioláveis pela vontade das partes no contrato de trabalho; ou seja, 
não pode haver renúncia por parte do trabalhador. 
Quanto ao trabalho, é importante mencionar que a proteção não se dá 
apenas ao trabalho com registro em carteira, mas a todas as suas formas, 
incluindo o trabalhador autônomo, o prestador de serviços, o trabalhador informal 
e o trabalho doméstico, pois a ideia é que garantir e permitir trabalho digno e lícito 
ao cidadão, independentemente da forma. 
TEMA 3 – JUSTIÇA SOCIAL: VALORIZAÇÃO DO TRABALHO, BUSCA DE PLENO 
EMPREGO E O TRABALHO COMO FUNDAMENTO DA ORDEM SOCIAL 
Neste tema, iremos abordar dois artigos da Constituição de 1988, que estão 
em capítulos diferentes, mas que juntos integram o princípio da justiça social. São 
os art. 170 e 193 da Constituição de 1988: o primeiro trata dos princípios gerais 
da ordem econômica e o segundo dos princípios da ordem social. 
3.1 Valorização do trabalho e busca do pleno emprego (art. 170) 
A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho e na livre iniciativa, 
tem por finalidade assegurar a existência digna de todos, conforme ditames da 
justiça social, observando, dentre outros princípios, o da busca do pleno emprego, 
conforme previsão do art. 170, inciso VIII, da Constituição de 1988. 
No entendimento de André Ramos Tavares, a ordem econômica é uma 
ordem jurídica da economia, sendo definida como sendo “a expressão de um certo 
arranjo econômico, dentro de um específico sistema econômico, preordenado 
 
 
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juridicamente. É sua estrutura ordenadora, composta por um conjunto de 
elementos que confronta um sistema econômico” (Tavares, 2006, p. 81). 
A expressão ordem econômica passou a ter sentido jurídico quando as 
Constituições dos Estados passaram a discipliná-la sistematicamente, o que 
ocorreu inicialmente com a Constituição do México em 1917, depois a 
Constituição de Weimar em 1919 e, no Brasil, com a Constituição de 1934. 
No entendimento de José Afonso da Silva, a ordem econômica, 
considerando a Constituição de 1988, é uma forma econômica capitalista, pois se 
apoia totalmente na apropriação privada, nos meios de produção e na livre 
iniciativa (Silva, 2001, p. 764). 
Como já tratado anteriormente, a valorização do trabalho é um dos 
princípios da República Federativa do Brasil. Assim, a ordem econômica, ainda 
que de natureza capitalista, conforme entendimento de José Afonso da Silva, 
confere maior prioridade aos valores do trabalho sobre todos os demais valores 
do mercado (Silva, 2001, p. 766). 
Esses valores do trabalho não envolvem somente a relação empregado-
empregador, mas abrangem todos os meios de produção coordenados pelos 
empresários, os quais são compostos pelos meios de trabalho (máquinas, 
ferramentas etc.) e pelos objetos de trabalho (sobre os quais atua o trabalho 
humano). 
O gerenciamento de recursos e de pessoas resulta na atividade econômica, 
que aparece isolada ou conjuntamente com as atividades de produção, 
distribuição, tecnologia, circulação de bens e serviços. 
3.2 Primado do trabalho como fundamento da ordem social (art. 193) 
Dispõe a redação do art. 193 da Constituição de 1988, incluído no capítulo 
“Da Ordem Social” que “a ordem socialtem como base o primado do trabalho, e 
como objetivo o bem-estar e a justiça sociais” (Brasil, 1988). 
A expressão “primado do trabalho”, expressa na redação do artigo, guarda 
íntima relação com os princípios da valorização do trabalho e da existência digna 
do ser humano, os quais também fundam a ordem econômica. A justiça social, 
portanto, é um direito dos cidadãos em relação ao Estado. 
Portanto, é verdadeiro afirmar que o trabalho está intimamente ligado à 
promoção de igualdade e estabilidade social, pois não basta declarar a 
 
 
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importância de tais direitos, é preciso também promover meios de torná-los 
realidade. 
Ivam Gerage Amorim esclarece que isso também não significa que é dever 
do Estado procurar emprego aos cidadãos: 
direito ao trabalho não estabelece uma obrigação do Estado em arrumar 
trabalho para todos os que estejam desocupados, mas deve assumir 
um compromisso de empregar recursos para proporcionar 
ocupação aos que dela careçam. De outra maneira, a declaração do 
trabalho como dever social não implica num reconhecimento da 
obrigatoriedade do trabalho. (Amorim, 2009, p. 85, grifos nossos) 
Portanto, o primado do trabalho preservado no art. 193 da Constituição de 
1988 deve ser visto como elemento de inclusão social daquelas pessoas que, por 
motivos diversos, estão à margem da sociedade, seja voluntária ou 
involuntariamente. A partir da concretização dessa premissa, o desenvolvimento 
social e o bem-estar do cidadão serão praticamente consequência. 
TEMA 4 – COMPETÊNCIA DO SUS E MEIO AMBIENTE (ART. 200) 
O art. 200 da Constituição de 1988 atribui diversas competências ao 
Sistema Único de Saúde (SUS). Dentre elas, estão os deveres de executar ações 
sobre a saúde do trabalhador e de colaborar com a proteção do meio ambiente, 
no qual está inserido o meio ambiente do trabalho. 
Por sua vez, o art. 225 da Constituição de 1988 aduz que todos têm direito 
ao meio ambiente equilibrado; evidentemente, insere-se nessa ideia o “meio 
ambiente” pertinente ao trabalho. 
O meio ambiente do trabalho pode ser definido como: 
o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam 
remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do 
meio ambiente e na ausência de agentes que comprometem a 
incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente da 
condição que ostentam (homens ou mulheres, maiores ou menores de 
idade, celetistas, servidores públicos, autônomos etc.). (Fiorillo, 2006, p. 
22-23) 
Acredita-se que grande maioria dos trabalhadores passa a maior parte do 
seu dia no trabalho, razão pela qual esse ambiente deve proporcionar seu bem-
estar. 
A Lei n. 8.080/1990, cujo texto dispõe sobre as condições para promoção, 
proteção e recuperação da saúde, além da organização e do funcionamento dos 
serviços correspondentes, quando analisa as competências do SUS, no art. 6º, 
 
 
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parágrafo 3º, expõe o que se entende por saúde do trabalhador para disposição 
da lei, bem como indica os procedimentos inseridos na promoção e recuperação 
da saúde deste, in verbis (Brasil, 1990): 
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de 
Saúde (SUS): 
V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o 
do trabalho; 
§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um 
conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância 
epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde 
dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da 
saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das 
condições de trabalho, abrangendo: 
I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador 
de doença profissional e do trabalho; 
II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde 
(SUS), em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos 
potenciais à saúde existentes no processo de trabalho; 
III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde 
(SUS), da normatização, fiscalização e controle das condições de 
produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e 
manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos 
que apresentam riscos à saúde do trabalhador; 
IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; 
V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às 
empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional 
e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações 
ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, 
respeitados os preceitos da ética profissional; 
VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços 
de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas; 
VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no 
processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das 
entidades sindicais; e 
VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão 
competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou de todo 
ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a 
vida ou saúde dos trabalhadores. 
Compete à direção nacional do SUS a elaboração e implementação de 
políticas relativas às condições e aos ambientes de trabalho; à direção estadual 
do SUS compete coordenar, e de forma complementar, executar ações e serviços 
de saúde do trabalhador; e à direção municipal do SUS compete participar 
diretamente dos processos de execução, controle e avaliação das ações sobre as 
condições e o ambiente do trabalho (Brasil, 1990). 
Observa-se, portanto, que as três esferas de governos devem estar 
engajadas na proteção e recuperação da saúde do trabalhador, cuja atuação 
também pode envolver o sindicato da classe trabalhadora, por meio de políticas 
públicas oriundas do SUS, cabendo a real execução das ações aos governos 
municipais, cuja atuação deve ser ativa e eficaz. 
 
 
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Já com relação à previsão do art. 225 da Constituição de 1988, cuja 
redação afirma que é direito de todos, inclusive das futuras gerações, acesso ao 
meio ambiente equilibrado, vê-se que não se trata especificamente do meio 
ambiente do trabalho. Considerando que o meio ambiente pode ser natural ou 
artificial, não compreendendo apenas a fauna e flora, é possível incluir o meio 
ambiente do trabalho nessa previsão. 
Analisando conjuntamente as redações dos art. 7º, inciso XXVIII, 196, 200, 
incisos II a VIII, dentre outros, todos da Constituição de 1988, Raimundo Simão 
de Melo aduz que “é o meio ambiente do trabalho um dos mais importantes 
aspectos do meio ambiente, que agora, pela primeira vez na história [...] recebe 
proteção jurídica adequada” (Melo, 2010, p. 34). 
Rodolfo de Camargo Mancuso (1999, p. 161) entende que o “meio 
ambiente do trabalho vem a ser o ‘habitat laboral’, isto é, [...], o local onde o 
homem obtém os meios de prover o quanto necessário para sua sobrevivência e 
desenvolvimento”. Evidente, portanto, que quando se verificar que o “habitat 
laboral” não permite razoável qualidade de vida ao trabalhador, estaremos diante 
de lesão ao meio ambiente do trabalho. (Mancuso, 1999, p. 161) 
Para manter o meio ambiente saudável, o empregador deve tratar de 
domínio, controle, reconhecimento e avaliação dos riscos reais ou possíveis, 
considerando agentes químicos, físicos e biológicos, no intuito de oferecer 
qualidade de vida satisfatória e “a proteção secundária do conjunto de bens 
móveis e imóveis utilizados na atividade produzida” (Belfort, 2008, p. 58). 
TEMA 5 – ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO E SUAS 
CONVENÇÕES 
A Organização Internacional do Trabalho – OIT foi criada em 1919 pelo 
Tratado de Versalhes, responsável pelo fim da Primeira Guerra Mundial, e 
também o órgão responsável pela formulação e aplicação das normas 
internacionais do trabalho (convenções e recomendações). As convençõesinternacionais, uma vez ratificadas por decisão soberana de determinado país, 
passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico. O Brasil, por exemplo, está 
entre os membros fundadores da OIT e esteve presente nas Conferências 
Internacionais do Trabalho desde a primeira reunião (OIT, 2014). 
A Constituição da OIT e a Declaração de Filadélfia são considerados os 
documentos fundadores dos princípios que norteiam a OIT. Na Constituição da 
 
 
9 
OIT, no art. 19, parágrafo 5º, alínea “b”, está prevista a obrigação de cada Estado-
membro de submeter as convenções aprovadas em Conferência às autoridades 
internas competentes para sua aprovação no prazo de dezoito meses da sua 
adoção (OIT, 2007). 
A OIT é composta por representantes de governos e de organizações de 
empregados e empregadores, sendo, portanto, o único órgão tripartite das Nações 
Unidas. Analisando a história da OIT, verifica-se que desde a primeira Conferência 
assuntos muito importantes foram objeto de convenções para promover o trabalho 
decente. 
A primeira delas respondia a uma das principais reivindicações do 
movimento sindical e operário do final do século XIX e começo do século 
XX: a limitação da jornada de trabalho a 8 diárias e 48 semanais. As 
outras convenções adotadas nessa ocasião referem-se à proteção à 
maternidade, à luta contra o desemprego, à definição da idade mínima 
de 14 anos para o trabalho na indústria e à proibição do trabalho noturno 
de mulheres e menores de 18 anos. Albert Thomas tornou-se o primeiro 
Diretor-Geral da OIT. (OIT, 2014) 
Atualmente, a OIT conta com 187 países membros, com sede em Genebra, 
na Suíça. No Brasil, o escritório da OIT localiza-se em Brasília – DF e conta com 
divisões de áreas, que buscam promover trabalho decente no setor de vestuário, 
com programa para a promoção dos princípios e direitos fundamentais do 
trabalho, no intuito de erradicar o trabalho forçado, além de prevenir e eliminar o 
trabalho infantil. 
A Constituição de 1988 elenca entre os art. 7º e 11º os direitos do 
trabalhador. Além desses direitos também são válidos aqueles expressos em leis 
que não contrariam a Constituição. Dentre as normas que integram nosso 
ordenamento jurídico estão os tratados internacionais ratificados pelo Brasil em 
matéria trabalhista. 
Assim, na hipótese de se verificar conflito entre norma internacional 
devidamente ratificada no Brasil e legislação interna válida, ambas relacionadas 
ao direito do trabalho, duas diretrizes devem ser adotadas para solucionar o 
dilema. 
A primeira diretriz aponta que regras internacionais de direitos humanos 
(dentre elas as trabalhistas) devem apenas refletir confirmações e avanços no 
campo civilizatório em suas hipóteses de aplicação, não podendo prevalecer 
aquela que implique em diminuição da proteção, considerando as normas internas 
já existentes sobre a matéria (Delgado, 2012, p. 65). 
 
 
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O segundo ponto considera que, no cotejo das regras internacionais e 
internas sobre a mesma matéria, deve-se firmar a hierarquia considerando a 
norma mais favorável à pessoa humana tutelada, a qual, no direito do trabalho, é 
a pessoa do trabalhador (Delgado, 2012, p. 65). 
Além do estudo sobre a incidência das normas internacionais aplicadas no 
país, também é deveras importante o estudo sobre a aplicação das normas 
trabalhistas no tempo e espaço, para que o aplicador do direito não atue de forma 
restrita ou até mesmo equivocada em determinados assuntos. 
A Constituição de 1988, no art. 49, inciso I, determina como competência 
do Congresso Nacional “resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos 
internacionais, que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio 
nacional” (Brasil, 1988). Esta aprovação se dá mediante Decreto legislativo e 
somente após a sua realização é que poderá o Presidente da República promover 
a ratificação da norma internacional. 
O art. 84, inciso VIII, da Constituição de 1988, estabelece como atribuição 
do Presidente da República a celebração de tratados, convenções e atos 
internacionais, sujeitos ao referendo do Congresso Nacional. 
Ainda que as normas internacionais ratificadas sejam de conteúdo 
autoaplicáveis, como no caso das normas internacionais sobre direitos humanos, 
a sua vigência depende de publicação no Diário Oficial, em língua portuguesa. 
Considerando a natureza, as convenções internacionais podem ser 
classificadas em autoaplicáveis, de princípios e promocionais. As normas 
autoaplicáveis são aquelas que dispensam regulamentação complementar nos 
Estados que a ratificam. As normas de princípio, para sua efetiva aplicação, 
requerem a adoção de lei ou outras formas de regulamentação, salvo na hipótese 
de preexistência de norma interna compatível. As promocionais, por sua vez, são 
as que fixam algum objetivo e estabelecem um programa para sua aplicação, os 
quais devem ser promovidos pelo Estado ratificadores, que se comprometem em 
providências sucessivas de médio e longo prazo (Süssekind, 1999, p. 67). 
FINALIZANDO 
Ao final deste estudo, espero ter demonstrado que o tema “trabalho” está 
presente em diversas partes da nossa Constituição de 1988, que não prevê 
apenas os direitos básicos dos trabalhadores, mas também coloca o trabalho 
 
 
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como fundamento do Estado Democrático de Direito, da Ordem Econômica e 
Social. 
Vimos também que a Constituição prevê a competência do Sistema Único 
de Saúde pata atuar na prevenção e recuperação da saúde do trabalho e na 
vigilância do meio ambiente do trabalho. Aqui também se aplicam as previsões do 
art. 225 da Constituição. 
Concluímos, portanto, que o trabalho não é somente um dever de cada 
cidadão, mas um direito, uma forma digna de manter a sua subsistência, devendo 
estar sob os olhos e sob a proteção do Estado. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. 
_____. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Poder 
Legislativo, Brasília, DF, 20 set. 1990. 
FERRAZ JR, T. S. et al. Constituição de 1988. São Paulo: Atlas, 1989. 
KON, A. Pleno emprego no Brasil: interpretando os conceitos e indicadores. 
Revista Economia e Tecnologia, v. 8, n. 2, p. 5-22, abr./jun. 2012. 
MORAES, A. de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 
OIT – Organização Internacional do Trabalho. Constituição e Declaração de 
Filadélfia. Lisboa: Etigrafe, 2007. 
STRECK, L. L.; MORAIS, J. L. B. Ciência política e teoria geral do Estado. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2000. 
SÜSSEKIND, A. Direito constitucional do trabalho. Rio de Janeiro: Renovar, 
1999.

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