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A CARA DE JOÃOVICENTE DE CASTRO E OUTRAS PERSONALIDADES EXPRESSAM SUA IDENTIDADE EMCASAS SINGULARES CADA UM C A RG A TR IB U TÁ RI A FE D ER A L A PR O XI M A D A 5, 15 % S U E L E N PA R I Z O T T O MO S T R A A R T E FA C T O C U R I T I B A 2 0 2 3 B R U N O C A RVA L H O MO S T R A B E A C H & C O U N T RY 2 0 2 3 NOSSA CAPA Oator JoãoVicente deCastro, comcamisa e calça Handred, no living de sua casa, no Rio de Janeiro Estilo Lucas Freitas Foto Fran Parente No appGlobo+, a revista emversãomobile, emPDF, e comupdates diários 74 ESTA EDIÇÃO É CARBON NEUTRAL Compensamos nossa emissão de CO2 por meio da recomposição florestal fevereiro 2024 10 EXPEDIENTE 11 COLABORADORES 12 EDITORIAL 14 CASAVOGUEAMA Formação contínuaValores culturais e históricos definem as novidades domês 20 EM CASACOMManuela Xavier A psicanalista e comunicadora abre as portas do apartamento em São Paulo preenchido por experiências pessoais e coletivas – emuitos objetos afetivos 26 DESIGN Forma olímpica Eleito designer do ano da Maison&Objet, Mathieu Lehanneur coleciona criações multidisciplinares, como a tocha dos Jogos de Paris 2024 32 URBANISMO Terra em transe Uma investigação sobre as medidas urbanísticas necessárias para combater os efeitos da crise climática no Brasil e nomundo 38 DESTINO Questão de tempoO primeiro hotel desenhado pelo arquiteto Bjarke Ingels fica na Suíça e engloba elementos da tradição relojoeira do país 43 UNIVERSOCASAVOGUE 44 Luz, câmera, JoãoO novo lar do ator JoãoVicente de Castro, no Rio de Janeiro, combina conforto, fluidez emateriais naturais 54 Vidas passadas Em Roma, o estilista Alessandro Michele ocupa um palácio de 800 anos que exala séculos de história pormeio de uma profusão de objetos 64 Twist afinado A influenciadora Anna Fasano e o chef Antonio Mendes vivem com descontração e leveza em uma casa de vila paulistana 74 AutorretratoMix de estampas e referências à ancestralidade assinalam a vibrante morada habitada pela modelo, atriz e ativista AdwoaAboah, em Londres 86 ManoamanaAfeto fraterno e a paixão pelo design e pela arte conduziram o projeto de Valdomiro Favoreto para o apartamento da irmã, Jana Favoreto, em Londrina, PR 96 ENDEREÇOS 98 LAST LOOK Entre Brasis Assinado pelo designer Gustavo Jansen, o Baixo Gastronômico, em São Paulo, é a nova empreitada do chef Ivan Santinho ESTA EDIÇÃO É CARBON NEUTRAL Compensamos nossa emissão de CO2 por meio da recomposição florestal Diretor de Conteúdo GUILHERME AMOROZO Diretora de Estilo ADRIANA FRATTINI Redatora-Chefe MARIANA CONTE REDAÇÃO Editores NICOLY BERNARDES (Decoração) e RAFAEL BELÉM (Digital) Editores-Assistentes CAMILA SANTOS (Design) e GUSTAVO FRANK (Digital) Produtor de Conteúdo JONATHAN PEREIRA EstagiáriaMARIA MESQUITA Produtora Executiva ADRIANA MORI Analista de Produção LUCAS FREITAS ARTE Editor JEFF LEAL Designer THAIS ARAÚJO FIGUEIREDO COLABORADORES ANDRÉ KLOTZ, ANOUSHKA DANIELLE, BUSOLA EVANS, CARMEN DI MARCO, CAROL BITTENCOURT, CAROL DAMATA, CAROL SCOLFORO, CHIARA BARZINI, DANI AREND, DANIELA MÔNACO, DECO CURY, DINHO NETTO, FRAN PARENTE, FRANÇOIS HALARD, GIANLUCA LONGO, GIULIANACAPELLO, JAZ LANYERO, JOSÉ AMÉRICO JUSTO (REVISÃO), KIKANOVAES, LARAMUNIZ,MAHAALSELAMI, MANU FIGUEIREDO, MAUROMARCOS, MICHELLE CLASS/LMCWORLDWIDE, MIMMO LASERRA, RENATA BARROS, RICARDO GODEGUEZ (ARTE), ROBERTA TOZATO, SARA MATHERS, SÉRGIO OLIVEIRA, SIMON UPTON, SIMONE RAITZIK, TANJA FRISCIC, VITORIA MOURA GUIMARAES, WESLEY DIEGO EMES PUBLICIDADE Diretora de Negócios ANITA CASTANHEIRA (acastanheira@globocondenast.com.br) Gerente de Publicidade FLAVIA GOZOLI (fgozoli@globocondenast.com.br) ESTÚDIO DE CRIAÇÃO Gerente de Projetos Especiais MARINA CHICCA (mchicca@globocondenast.com.br) MARKETING | NOVOS NEGÓCIOS Gerente DANIELA LAURENTI (dlaurenti@globocondenast.com.br) EVENTOS Diretora CAROLINA CARVALHO CORRÊA (ccorrea@globocondenast.com.br) Analista MAYARA DA SILVA SOUTO (msouto@globocondenast.com.br) PUBLICIDADE CENTRALIZADA Diretor Nacional de Negócios RICARDO RODRIGUES (ricardo.rodrigues@infoglobo.com.br) Diretor de Desenvolvimento Comercial TIAGO AFONSO Coordenadora de Marcas RENATA DIAS Diretores de Negócios Multiplataforma EMILIANOMORAD HANSENN, LUCIO CIELLO, OLIVIA BOLONHA PUBLICIDADE RIO DE JANEIRO E BRASÍLIA Diretor de Negócios Multiplataforma MARCELO LIMA DA CUNHAMATTOS Gerentes de Negócios Multiplataforma DARLENE BASTOS CAMPOS, MONICAMONNERAT Diretor de Negócios LUIZ FERNANDO DE ALMEIDA MANSO PUBLICIDADE REGIONAL SÃO PAULO | INTERIOR E LITORAL H2F MÍDIA com Humberto Vicentini (comercial@h2fmidia.com.br) MINAS GERAIS ON E OFF MÍDIA com Rodrigo Longuinho (rlonguinho@oneoffmidia.com.br) GOIÁS W/VERISSÍMO COMUNICAÇÃO com Walison Veríssimo (comercial@wverissimocomunicacao.com.br) PARANÁ R2 CONECTA com Rodrigo Rocha (rodrigo@r2conecta.com.br) SANTA CATARINA | RIO GRANDE DO SUL JAZZ REPRESENTAÇÕES com Claudia Weber (cweber@jazz.ppg.br), Patrícia Koops (51) 3557-6111 | (51) 99792-9898, Adalberto Neto (51) 99252-7955 NORTE E NORDESTE A G HOLANDA COMUNICAÇÃO LTDA com Agimiro Holanda (agholanda@gmail.com) BAHIA | SERGIPE MUSA MÍDIA E PLANEJAMENTO com Diana Falcão Franco (dfalcao@musamidia.com.br),GROW (grow@musamidia.com.br) MILÃO OBERON MEDIA comMr. Angelo Careddu (contact@oberonmedia.com) LONDRES OBERON MEDIA com Mr. Leonardo Careddu (leonardo@oberonmedia.com) NOVA YORK | MIAMI CONDÉ NAST INTERNATIONAL comMr. Alessandro Cremona (alessandro_cremona@condenast.com) SUÍÇA MAGAZINE INTERNATIONAL comMrs. Amelia Guercio (aguercio@magazineinternational.ch) CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO CHRISTIANE CLARE MACK, FREDERIC ZOGHAIB KACHAR, JASON MILES, LEONARDO DIB, MANUELA U.C. DE MATTOS, RAFAEL MENIN SORIANO E TIAGO AFONSO CASA VOGUE BRASIL é uma publicação das Edições Globo Condé Nast S.A. Av. Nove de Julho, 5229 Tel. +55 (11) 2322-4600 CEP 01407-907 São Paulo, SP Atendimento e assinaturas: Tel. 4003-9393 | WhatsApp e Telegram (11) 4003-9393 | www.assineglobo.com.br Horário de atendimento: de segunda-feira a sábado, das 8 às 15h Diretora-Geral PAULAMAGESTE Assistente Executiva MARCIA CAETANO PARCEIROS DE LONGA DATA, ESTES FOTÓGRAFOS E JORNALISTAS NOS AJUDAM A CONTAR HISTÓRIAS ÚNICAS COM SEUS OLHARES E REPERTÓRIOS ABSOLUTAMENTE PARTICULARES fora de SÉRIE Elos da vida A delicadeza ímpar da repórter Lara Muniz traduz a poesia de uma relação fraternal no editorial Mano a mana (pág. 86). Por meio de uma narrativa detalhada, ela apresenta o projeto do apartamento da designer demoda Jana Favoreto, em Londrina, PR, assinado pelo irmão, Valdomiro Favoreto Emquadro Comprofissionalismo e leveza, o fotógrafoDecoCury retrata todas as camadas do apartamento da psicanalista e comunicadoraManuela Xavier, que semudou recentemente para a capital paulista. Permeada pelas relações damoradora com outras pessoas e consigomesma, sua trajetória – e suamorada – é contada no Em casa com (pág. 20) Ponte aérea Responsável pela capa deste mês, o fotógrafo Fran Parente foi ao Rio de Janeiro para captar a essência da convidativa morada do ator João Vicente de Castro (pág. 44), reformada pelo Estúdio Orth. Também é dele o clique do Baixo Gastronômico, em São Paulo. Localizada em uma antiga vila de casas, a nova empreitada do chef Ivan Santinho é tema do Last look (pág. 98) Aquele abraço Nossa fiel aliada em terras cariocas, a jornalista Simone Raitzik sabe como descrever a atmosfera residencial de modo cativante. Desta vez, ela nos brinda com sua prosa envolvente no editorial Luz, câmera, João (pág. 44), sobre o lar contemporâneo e integrado à natureza do ator João Vicente deCastro Sempre em frente Ninguémmelhor do que Giuliana Capello para esmiuçar as soluções urbanísticas e arquitetônicas viáveis voltadas ao combate aos efeitos da crise climática. Em Terra em transe (pág. 32), a jornalista lança luz sobre as alternativas já em curso e os caminhos a serem seguidos para que a humanidade possa amenizar os danos causados ao planeta Fo to s: ac er vo pe ss oa l( D ec o C ur y, G iu lia na C apel lo e La ra M un iz ), Pa ul a G io lit o (S im on e Ra itz ik )e Pe dr o Ru ss o (F ra n Pa re nt e) casavogue.com.br 11 colaboradores GENTE É PRABRILHAR Umadiscussão tãodivertida quanto inócua, que vira e mexe surge na redação (e transborda para omercado, segundo ouço...), é se faz sentido ter- mos figuras humanas na capa daCasaVogue.Há, de um lado, os argumentos mais puristas, que recorrem ao gigantesco inventário de fotogra- fias de casas que já estamparam a portada da re- vista para defender a ausência de pessoas – e que amam apontar um suposto “populismo” nosso ao tirar partido da presença de celebridades; e, de outro, a corrente mais voyeur, que ama des- cobrir, pelo nosso olhar, comovivemos famosos em geral e os expoentes da arquitetura e do de- sign. Digo inócua porque, se existe um funda- mento que sustenta a linha editorial deste veícu- lo desde 1975, é o de que as casas que decidimos mostrar sejam aquelas quemelhor retratem, nas escolhas demóveis, objetos, obras de arte,mate- riais e estilos, a personalidade tanto dos autores dos projetos quanto dos moradores a quem eles se destinam. Casa, para nós, é identidade. Disso decorre que, com certa frequência, temos buscado abrir as portas de personagens maismidiáticos, cujos interesses e conhecimen- tos de decoração e design costumam surpreen- der a quem só acompanha suas figuras públicas. João Vicente de Castro, protagonista da atual capa, é um desses casos. Tão peculiar em seus hábitos e idiossincrasias, levou intermináveis cinco anos para conseguir materializar numa residência no Rio de Janeiro (pág. 44) o seumo- do de viver. AlessandroMichele, por sua vez, é capaz de incorporar à sua riquíssima história pessoal as memórias de incontáveis famílias que já habitaram o palazzo ondemora emRoma (pág. 54), um edifício de apenas 800 anos de idade. Para ele, não há nostalgia, é tudo parte dopresente.Os demais personagens quenos re- velam seus lares este mês trazem, inevitavel- mente, suas respectivas individualidades im- pressas em cada livro da estante, em cada vaso sobre a mesa, em cada tecido escolhido para re- vestir móveis ou paredes. É o elemento huma- no, afinal, que nos interessa. Naescala coletiva, a preservaçãodahumani- dade como espécie é foco da necessária investi- gação comandada por Giuliana Capello em Terra em transe (pág. 32), que levanta o que cida- des do Brasil e domundo têm feito paramitigar as emissões de gases de efeito estufa e, princi- palmente, se adaptar aos eventos climáticos ex- tremos que ocorremde forma cada vezmais fre- quente. De volta à esfera individual, não há nesta primeira edição de 2024 reportagemme- lhor do que Forma olímpica (pág. 26), perfil do designer Mathieu Lehanneur brilhantemente traçado por Vitoria Moura Guimaraes. Autor da tocha que carregará a chama dos Jogos de Paris deste ano, o francês afirma inspirar seu trabalho justamente nas relações humanas e nas emoções que elas despertam. “O caráter de co- nexão espiritual dos objetos me fascina – o fogo sagrado da tocha olímpica é umexcelente exem- plo. Acredito que alguns objetos têm o poder de nos transformar”, declara, numa síntese quase perfeita daquilo que buscamos naCasa Vogue: a humanidade por trás de tudo o que se constrói e se produz.Gente é o lugar – espelho da vida, do- cemistério. Boa leitura! ● Fo to :F ili pp o B am be rg hi GUILHERMEAMOROZO Diretor de conteúdo 12 casavogue.com.br editorial CRIAÇÕES IMBUÍDAS DE VALORES CULTURAIS E HISTÓRICOS, QUE CONTRIBUEM PARA A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS VERDADEIRAMENTE ORIGINAIS, MARCAM A SELEÇÃO DO MÊS POR CAMILA SANTOS FORMAÇÃO CONTÍNUA COREOGRAFIA NATURAL Apontada pela trend forecaster Lidewij Edelkoort como um dos talentos em ascensão da última edição da Maison&Objet, feira que movimentou Paris entre 18 e 22 de janeiro, a francesa Aurelie Hoegy estreita as fronteiras entre arte e design ao esculpir mobiliários com rattan. Como uma dança harmônica e hipnotizante, seus projetos valorizam a conexão entre corpo humano, objeto e espaço, relação visível na chaise Wild Fibers Joali, concebida para um resort nas Maldivas. Feito com fibras naturais ecológicas coletadas na Indonésia, o artigo foi inspirado nas formas da Ilha de Joali, onde o empreendimento está situado, e no deslocamento das faixas de areia impactadas pelo Oceano Índico. aureliehoegy.com 14 casavogue.com.br casa vogue ama FEITO DE AZUL Parte da coleção Cruise 2024 da Gucci, a já conhecida estampa Herbarium, destaque na linha de tableware da marca, ganha uma nova versão em tom de azul. Os desenhos remetem ao icônico tecido toile de jouy, típico da França nos sécs. 18 e 19, e retratam borboletas, ramos, folhas e flores de cerejeira. São cerca de 20 peças, entre jogos de xícaras com pires (abaixo), travessas, jarras e pratos executados com porcelana de alta qualidade pela empresa florentina Richard Ginori, fundada em 1735. No Brasil, a novidade está disponível na loja do Shops Jardins, em São Paulo. gucci.com ÀMODADEALAGOAS O estilista alagoano Antonio Castro, damarca Foz, empregou elementos significativos de sua terra natal ao planejar a coleção demoda Alambique Fantasia, apresentada na última São Paulo FashionWeek, em novembro. A cana-de-açúcar, planta recorrente na paisagem do estado, foi representada por imagens de cachaça e acompanhada por cobras e caranguejos em ilustrações do artista Cleyton Almeida. Fora das passarelas, o modelo de jacquard ecológico, elaborado em parceria com a EcoSimple, atualiza o estofado da poltrona Bombom (acima), idealizada pelo designer Paulo Alves em 2017. ateliefoz.com.br e pauloalves.com.br marcas do tempo Uma referência às sacolas de papel que amassam durante o uso, os vasos Kami, idealizados por Kristian Sofus Hansen & Tommy Hyldahl, da 101 Copenhagen, exprimem beleza por meio das superfícies irregulares e rachaduras na cerâmica. Ao escolherem o nome da peça, que significa papel em japonês, os designers homenageiamnotáveis artesmilenares que utilizam omaterial, a exemplo dos tradicionais origamis. Disponível em três tamanhos, o objeto está à venda na Casual Móveis. casualmoveis.com.br ilha das conchas Projetado por Roberto Cimino e Nelson Amorim para a Artefacto Beach & Country, o sofá Fort Lauderdale (acima) aceita mais de 20 composições. Tudo isso graças aosmódulos versáteis que podem ser dispostos em configurações convencionais ou na versão ilha, comoposicionamento de umencosto comumpara assentos dos dois lados. Seus volumes sinuosos repousam sobre pés de cedro em formato de concha. artefacto.com.br/beach-country 16 casavogue.com.br casa vogue ama LOCALEGLOBAL Conhecido por realizar trabalhos que abordam a questão damemória, o Estudio Campana foi convidado pela galeria indianaæquō amaterializar a cultura do país asiático pormeio do design. Diante da provocação, Humberto Campana concebeu o gabinete Atuxuá, feito compalha sabai, fibra nativa da Índia cuidadosamente arrematada com fios de latão, como um fardo de grama agrupado para o comércio local. O móvel único foi executado com a oficina Frozen Music, e nomeado em homenagem às máscaras indígenas brasileiras presentes em rituais de cura. aequo.in envolvente Altas doses de conforto e acolhimento. Esses são os principais atributos da poltrona Maxx (abaixo), desenhada pela arquiteta e designer Fernanda Marques para a Breton. Desenvolvido para compor a vitrine da marca no showroom de Dubai, nos Emirados Árabes, com inauguração prevista para março, o assento dispõe de curvas generosas que abraçam as formas do corpo. breton.com.br GRÃO NA TERRA Em parceria com a Etel, a artista Maria Thereza Alves produziu a mesa lateral Minus (acima) especialmente para a exposição LABINAC: O Que Sempre Fizemos, em cartaz até 24 de fevereiro na Casa Zalszupin, em São Paulo. A mostra aborda a atuação do coletivo que se posiciona em defesa dos direitos e da cultura dos povos originários. Nesse projeto, a paulista, que é uma das fundadoras do grupo, coletou sementes e folhas da flora invasora da Mata Atlânticapara criar um tampo feito de resina 70% de origem renovável, executado pela Vallvé. A concepção da peça também reaproveita matéria-prima da marcenaria da Etel. casazalszupin.com sistema solar Aprofundando suas pesquisas sobre técnicas de produção artesanal, o designer Lucas Recchia apresenta a coleção DistorçãoMaterial, composta por mesas, vaso, bandeja, espelho, aparador e pendente (acima). Novidade que coroa a abertura do estúdio do designer em Pinheiros, São Paulo, a linha é guiada pelos formatos dosmódulos de bronze – oramais arredondados, ora mais retangulares – que emolduram os vidros coloridos. instagram.com/studio.cas LUCIO COSTA, DESIGNER Um dos pioneiros da arquitetura moderna brasileira e responsável pelo Plano Piloto de Brasília, o arquiteto Lucio Costa (1902-1998) também construiu uma trajetória profícua no design de mobiliário. Entre as realizações assinadas pelo mestre, a Poltroninha (abaixo), fabricada no início dos anos 1960 pela loja Oca, de Sergio Rodrigues (1927-2014), tem como protagonista a simplicidade de configuração e materiais. Desde o fim do ano passado, passou a ser reeditada e comercializada pela Dpot. dpot.com.br PEGA-VARETAS A Aman Interiors, divisão do grupo homônimo de hotéis ultraluxuosos destinada à concepção de mobiliário e projetos de design de interiores, fez seu début na última edição da feira Design Miami, em dezembro. Responsável por assinar a primeira colaboração da marca, o arquiteto japonês Kengo Kuma propôs a linha Migumi, composta por cadeira e mesa de jantar. Com tons neutros e materiais naturais, como o carvalho-branco e o mármore Calacatta, as estruturas projetam sombras mutáveis à medida que a iluminação solar se transforma ao longo do dia. aman.com/interiors Fo to s: A na Pi go ss o (L uc as Re cc hi a) ,D en ils on M ac ha do /M C A Es tú di o (E st úd io M ai s A lm a) ,F el ip e Pr ot ti (P ro to ty pe ), Fe lip e Ru ss o (F oz ), Fe rn an do La sz lo (D po te Et el )e di vu lg aç ão casa vogue ama FAROESTE ATUALIZADO Os filmes que retratam o Velho Oeste dos Estados Unidos, emmeados do séc. 19, serviram como fio condutor para o arquiteto e designer Felipe Protti, da Prototype, elaborar a poltrona de balanço Trevo. O artigo, que aparece com frequência na ficção em frente às cabanas da época, recebeu toques modernistas e urbanos. Já o encosto para repousar a cabeça traz uma releitura das mantas de selas de cavalo dos caubóis. prototypesp.com.br FALANDOGREGO Novidade no portfólio da galeria de design Casiere, a empresa de iluminação francesa DCWéditions aposta em artigos que equilibram atemporalidade e aspectos instigantes. Assinada pelo designer Clément Cauvet, a luminária Tau (à esq.), de concreto e aço, segue essa premissa ao aplicar nome e formas de uma letra do alfabeto grego, acenando a um aspecto essencial da linguagem. casiere.com déco indígena Imaginada pela designer Gabriela Campos, do estúdio carioca Mais Alma, a coleção-cápsula de móveis Raízes une a geometria do movimento art déco, estilo artístico europeu que atingiu seu ápice na década de 1920, e o grafismo indígena. Formado por duas mesas e dois bancos, sendo um deles o modelo Arco (foto), o lançamento conta com tecidos de algodão pintados àmão por mulheres do povo asurini, do Alto Xingu. estudiomaisalma.com.br casavogue.com.br 19 em casa com Manuela Xavier Recém-chegada a São Paulo, a comunicadora vê seus caminhos, criações e redescobertas refletidos nos cenários do seu cotidiano – ora junto, ora só, mas sempre bemacompanhadade simesma TEXTO NICOLY BERNARDES FOTOS DECO CURY PRODUÇÃO LUCAS FREITAS Manuela Xavier veste Patu e posa ao lado de Kira e Leona no living decorado com quadroOlhudas, de Isabella Manhães (ao fundo), vasos Cumbuca, design Rosenbaum eO Fetiche para a Vasap, sofá da Tok&Stok e, sobre ele, almofadas Sol, da Ask the Mask, no Casa Vogue Living Market – no piso, tapete Linhas Impulse, da Moriah Tapetes urante a mudança para São Paulo, há pouco menos de um ano, Manuela Xavier trouxe na bagagem “um sonho, as cachorras, obras de arte e um amigo”. Natural de Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro – onde morou com os pais até os 18 anos, quando saiu de casa para cursar psicologia –, a psicanalista e comunicadora habi- tou outros endereços em solo fluminense, comoNiterói, Joá e Copacabana, até escolher a capital paulista para viver com o produtor DinhoNetto, seu amigo de longa data e parceiro de trabalho, e as mascotes Leona e Kira. As simbologias que permeiam a fala, a carreira e a pele deManu – como é conhecida por seu quase meio milhão de seguidores no Instagram, com os quais compartilha suas interpretações sobre gênero, arte, beleza e comportamen- to a partir da psicanálise – percorrem, ainda, as paredes de seu apartamento. “Minha casa é a extensão do meu corpo. Entre minhas tatuagens há um vaso de antúrio, meus bi- chos e desenhos de olhos. Por estes espaços também.” Foram os olhos arregalados espalhados pelos ambientes – peças que integram a série Olhudas, de autoria da artista plástica Isabella Manhães – que a salvaram da cegueira pa- ra si e para o outro. “Estou olhando para onde?”, questio- nou pela primeira vez, quando findou uma relação abusiva, e por infinitas outras que a levaram a compreender pa- drões que já não faziam sentido. “Abri os olhos e não dava para ‘desver’. Percebi como era fácil não enxergar. Tatuei os braços e pendurei as obras para nunca esquecer.” D Acima, no living, o sofá da Muma, com almofadas Camogli, da Trousseau, é amparado pela mesa lateral Eme, da Oppa Design, com vasoCatimbó, da Potira Pottery, no Casa Vogue LivingMarket, e pela mesa de centro decorada com escultura Barquinho, de Rafael Mayer, e esculturaMamilos de Parede, de Paola Vilas – na parede ao fundo, da esq. para a dir., quarteto de ilustrações de Rafael Mayer, ilustração deWillian Santiago e ilustrações de Fel; e, abaixo, outro canto do living recebeu bufê daMuma, e, sobre ele, escultura da coleçãoOlhudas, de Isabella Manhães, e copos Mini BumbumeMini Nude, da Hanna EnglundCeramics – na parede, máscaras de Liebert Pinheiro St yl in g: D in ho N et to .B el ez a: C ar ol da M at a. A ss is te nt e de pr od uç ão :S ér gi o O liv ei ra 22 casavogue.com.br em casa com “Minha casa é a extensão domeu corpo. Entre minhas tatuagens há um vaso de antúrio,meus bichos e desenhos de olhos. Por estes espaços também” Essas inquietações perpassam o campo domorar, como na quebra do paradigma de que a completude de umamulher só é alcançada ao tornar-semãe e esposa. “‘Mas…você vaimorar so- zinha?’, perguntaramenquanto eubuscavameunovo lar.Qual a estranheza?” Entre os companheiros de casa já passaram ami- gos,namoradoemarido, atéchegar àatual configuração. “Oque colocamos entre quatro paredes configura uma família. Não é um local de transitoriedade, é um lugar de permanência.” Como um reflexo domovimento constante de suamora- dora, a casa de Manu se transformou em cenário para o no- vo projeto de trabalho: o programa E Você?, no YouTube, com entrevistas de mulheres inf luentes como Gabriela Prioli, Manu Gavassi e Bruna Tavares. “São conversas tera- pêuticas, que costumamos ter em off, com temas e estética íntimos, e para isso precisava ser na minha casa.” Quase sempre preenchido por pessoas, e com destaque para o estimado acervo de arte, o apartamento narra as rela- ções da moradora com os outros e consigo. Um dia perfeito, para ela, é aquele compassos vagarosos, café damanhã demo- rado e solitude no próprio quarto – seu espaço preferido na casa. “Acordo com calma, escolho umamúsica, não tiro o pi- jama e sinto o tempo. São Paulo ativou emmim essa necessi- dade de recolhimento. Deixo-me olhar para mim. Se eu não olhar para mim, eu vou me perder.” Nesse pano de fundo de histórias, trocas e criações, embalada pelos versos de Tiê e inspirada por incontáveis olhares, Manu tem tudo e todos de que precisa para se encontrar cada vez mais. ● Acima, o quarteto na parede é composto pelos bordados docão Poc (in memoriam) e da cadela Leona, ambos de A Victória Que Faz, esculturaBocejo, de Ivanildo, e ilustraçãoBumbum, de Rey Silva; à esq., sobre amesa de centro do living, esculturaMamilos de Parede, de Paola Vilas, livro Proud South, de Lidewij Edelkoort e Lili Tedde, no Casa Vogue LivingMarket, placas demesa deGe Beauty e Pingo Studios, cerâmicas de Laís Vasconcellos, bandeja Taguá (dourada), design Cris Bertolucci, no Casa Vogue LivingMarket, e, ao fundo, banco Onça, de seu Gervásio; e, no alto, hall de entrada composto por espelho da Casa Domo, luminária demesaOctavia, de Paola Vilas, e, na parede, quadro Forame Magno, de RafaelMayer, e vasos de parede, designMana Bernardes para a Tok&Stok casavogue.com.br 23 “O que colocamos entre quatro paredes configura uma família. Não é um local de transitoriedade, é um lugar de permanência” Em sentido horário, a partir da foto acima, no quarto, cama Rise, da Luuna, cabeceira da Westwing, roupa de cama da Trousseau, almofada rosa de ráfia natural da Trousseau + Nannacay, almofada bordô Mosú, do Adriana Fiche Atelier, e, sobre a mesa lateral, quadro Os Amantes, de Arthur Damasceno; em outro canto do quarto, Manu veste Misci e repousa na cadeira da Menu Casa, ao lado do espelho Orgânico, da Casa Domo, e do aparador da Westwing, decorado com luminária de mesa Theta, da Zaff Design, no Casa Vogue Living Market – no piso, tapete Orgânico, da Moriah Tapetes; no living, detalhe commesas laterais da Tok&Stok (laranja) e da Oppa Design (madeira), e, sobre a última, vaso Catimbó, da Potira Pottery, no Casa Vogue Living Market; e, no banheiro, ilustração de Fernanda Bornancin para a Zebradaa, vela design Mana Bernardes para a Tok&Stok e castiçal Henri, de Paola Vilas 24 casavogue.com.br em casa com As obras da coleção Olhudas, de Isabella Manhães, e as dobraduras de cerâmica, de Laís Vasconcellos, criam o pano de fundo da sala de jantar commesa Haya, daMuma, cadeira Onda (em primeiro plano), de Ilse Lang, da Faro Design, e fruteira Cerâmica, da Potira Pottery, ambas no Casa Vogue Living Market – tudo sob pendente de fibra de bambu da Casa Mind AMaison des Métiers d’Art, em Giverny (vilarejo de Claude Monet), na Normandia, totalmente redesenhada por Mathieu Lehanneur – o espaço é ummisto de ateliê e loja conceito, onde é possível conhecer o trabalho e adquirir criações do florescente artesanato local. Na pág. seguinte, Mathieu em ação no seu ateliê design DESIGNER DOANODAMAISON&OBJET E RESPONSÁVEL PELA CRIAÇÃO DA TOCHA DOS JOGOS DE PARIS, O FRANCÊS MATHIEU LEHANNEUR MULTIPLICA PROJETOS, INJETANDO MAGIA EM TUDO QUE TOCA TEXTO VITORIA MOURA GUIMARAES FORMA OLÍMPICA ifícil permanecer impassível diante dela. Improvável tambémnão querer segurá-la.Atocha olímpi- ca, símboloda tradição secular dos JogosOlímpicos e responsável por dar o start à contagemregres- siva para o início da competição, está logo ali, na nossa frente, exibida comoumtroféu.Estamos em meados de janeiro e aFactory (a referência à Factory deAndyWarhol não émera coincidência), no- vo endereço de 800m²do designer francêsMathieu Lehanneur nos arredores deParis, está a todo vapor.Apoucos dias da edição2024 daMaison&Objet (a feira aconteceu na capital francesa entre 18 e22 de janeiro), que elegeu o profissional comodesigner do ano, ele e sua equipe estão às voltas coma instalação que será apresentada no evento: uma nova proposta de habitação inspirada pelas teorias de sobrevivência,mas com um viés otimista.Outonomy é uma cabana amarela monocromática, ultratecnológica, ecológica e autossuficiente, concebida para viver em total autonomia e em sintonia comanatureza. “É umprojeto que unedesign e tecnologia e que estamos começando amontar para a abertura do salão.Dá um frio na barriga,mas, comoPicasso bemdisse, ‘se sabemos exatamente o que vamos fazer, para que fazê-lo?’”, questiona comhumor. Odesignermultiplica tambémos compromissos e aparições graças à suamais recente e célebre criação: a já mencionada tocha olímpica dos Jogos de Paris. “É uma grande honra e uma emoção. Vai ser difícil segurar as lágrimas”, conta ele, que fará parte do revezamento com início emOlímpia, na Grécia, marcado para o dia 16 de abril (onde a tocha será acesa por meio dos raios de sol) e término em Paris, em 26 de julho, data da abertu- ra oficial dos Jogos Olímpicos de 2024. “A parte mais desafiadora do projeto foi desenvolver um sistema de acendimento à prova de vento, chuva, tempestade, e praticamente invisível para não comprometer o design”, explica. Mathieu se inspirou no tema da igualdade, palavra-chave da edição parisiense dos Jogos, que darão a mesma importância às competições Paralímpicas e terão, pela primeira vez, o mesmo número de atletas ho- mens e mulheres. As águas do Rio Sena, palco da cerimônia de abertura, também serviram de referência para criar o objeto feito de aço reciclado, cuja cor lembra umamistura de ouro, prata e bronze – apesar de não ser in- tencional, a forma oblonga da tocha, com duas partes perfeitamente simétricas, faz lembrar o curso do rio quando ele se abre na Île de la Cité e depois afunila novamente. Emparalelo,Mathieu prepara a inauguração de seu pied-à-terre americano (um showroompara se aproximar da sua clientela internacional) no topo de um arranha-céu emManhattan, Nova York, e uma exposição no Denver ArtMuseum, ambos nos EstadosUnidos. Um verdadeiro percurso atlético. “Mas eu sou péssimo em es- portes.Gosto assim, à distância”, diverte-se,mostrando a vista da janela do seu escritório na Factory, que dá para um campo de futebol. “Soumais ciências”, continua o designer, que sonhava em se tornarmédico.Mas o destino agiu e seu caminho acabou enveredando para o das artes, e ele descobriu no design o compromisso perfeito. “A D Fo to s: Fe lip e Ri bo n (re tr at os de M at hi eu Le ha nn eu r, M ai so n de s M ét ie rs d ’A rt ,I nv er te d G ra vi ty ,t oc ha ol ím pi ca ,F ac to ry ,i ns ta la çã o O ut on om y, Ig re ja de Sa in tH ila ire e es cu ltu ra Po ck et O ce an )e M ic he lG ie sb re ch t( Li qu id M ar bl e) 28 casavogue.com.br design Mathieu Lehanneur em seu escritório na recém-inauguradaFactory, espaço de 800 m² nos arredores de Paris onde suas criações ganhamvida. Na pág. anterior, à esq., a série InvertedGravity, na qual bolhas de vidro sustentamgrandes blocos de mármore; e, à dir., a tocha olímpica, cuja simetria evoca a igualdade, palavra-chave dos JogosOlímpicos de Paris, e as ondulações, o Rio Sena – outra inspiração dodesigner para o projeto arte pode sermuito solitária. Eu preciso de gente, de relações humanas e de saber queminhas criações têm uma função, que serão tocadas, que podemos colocar um copo em cima ou que crianças possam correr em torno de- las”, contaMathieu, cuja inspiração vem justamente das relações humanas e das emoções decorrentes delas. “O caráter de conexão espiritual dos objetosme fascina – o fogo sagrado da tocha olímpica é um excelente exemplo. Acreditoque algunsobjetos têmopoderdenos transformar”, reflete. Se ele possui umtalismãou amuletoda sor- te? “Não, mas tenho sempre um pequeno artefato no bolso. Pode ser uma pedra, uma dobradiça…A verdade é que preciso sempre ter algo entre os dedos para sentir emexer. É algo queme tranquiliza.” O hábito, com certa conotação infantil, dizmuito sobre o designer. Suas obras incutem justamente uma por- ção irracional, quase onírica, herança dos contos de fada quemarcaram sua infância (principalmenteBarbaAzul): é o caso das séries InvertedGravity, cuja proeza é apoiar uma grande peça demármore sobre bolhas de vidro, for- mandomesas e aparadores, por exemplo, e OceanMemories, em que a pedra (em forma de bancos e mesas) se transformaemumasuperfície líquida eoceânica emumapassagemdo inerte ao vivo.Apesquisa, resultadodo seu apetite pela ciência e pela tecnologia, é indissociá- vel à sua criação e apareceu cedo: Objets Thérapeutiques (2001), seu trabalho de conclusão de curso da École Nationale Supérieure de Création Industrielle (ENSCI-Les Ateliers),foca na parte psicológica dosmedicamentos (efeito pla- cebo) e na desdramatização deles quando necessá- rios para melhorar a relação paciente/doença, e chamou a atenção doMoMA, emNovaYork, que o incluiuna sua coleçãopermanente.Em2008, ele cocriou comoprofessorDavidEdwards, deHarvard, combase emobservações daNasa,Andrea, umpurificador de ar usadopara fortalecer a capacidadenatural de filtragemdasplantas e capturar partículas tóxicas dos ambien- tes interiores. Touche-à-tout (expressão em francês que define uma personalidade multidisciplinar), Mathieu Lehanneur recusa a zona de conforto para se aventurar em diferentes campos, da arquitetura (como o coro da Igreja de SaintHilaire, emMelle, na França) ao produto (foi nomeado chief designer damarca chinesaHuawei em 2015), passando por soluções urbanas (comoClover, projeto de iluminação urbana alimentado por energia solar e apresentado durante aCOP21). Incansável, em 2024 ele completa seus 50 anos, semperder o brilho dos olhos de uma criança e a vontade de injetar umpouco demagia nomundo. ● ”O CARÁTER DE CONEXÃO ESPIRITUAL DOSOBJETOSME FASCINA – O FOGO SAGRADO DA TOCHA OLÍMPICA É UM EXCELENTE EXEMPLO. ACREDITO QUE ALGUNS OBJETOS TÊM O PODERDENOS TRANSFORMAR” 30 casavogue.com.br design A instalaçãoOutonomy, apresentada naMaison&Objet do mês passado, uma nova proposta de habitação inspirada nas teorias de sobrevivência, ultratecnológica, ecológica e autossuficiente; abaixo, à esq., o coro da Igreja de Saint Hilaire, emMelle, na França; e, abaixo, à dir., na parede, a escultura Pocket Ocean, edição Gold. Na pág. anterior, à esq., a série Liquid Marble, no jardim doChâteau deChaumont-sur-Loire, na França; e, à dir., Mathieu Lehanneur no seu ateliê, cercado por diferentes materiais que utiliza em suas obras Em Nanchang, na China, o projeto do Fish Tail Park, conduzido pelo escritório Turenscape, idealizador do conceito de Cidade Esponja, tornou omunicípio mais resiliente às mudanças do clima ao transformar a antiga paisagem degradada em uma floresta flutuante de 55 hectares que regula as águas pluviais na região, evitando inundações, fornecendo habitat para a vida silvestre e conectando a população à natureza 32 casavogue.com.br urbanismo COM A INTENSIFICAÇÃO DA CRISE CLIMÁTICA, AS CIDADES PRECISAM ACELERAR O PASSO NA DIREÇÃO DA REDUÇÃO DAS EMISSÕES DE CO2 E DE MEDIDAS URBANÍSTICAS CAPAZES DE TORNÁ-LAS MAIS ADAPTADAS E RESILIENTES A EVENTOS EXTREMOS. A BOA NOTÍCIA É QUE ISSO JÁ ESTÁ ACONTECENDO (AINDA DEVAGAR, É VERDADE) EM ALGUNS CANTOS DO BRASIL E DO MUNDO TEXTOGIULIANA CAPELLO TERRA EM TRANSE mapesquisa divulgada no fimde2023 pelo Instituto Pólis revelou que sete em cada dez brasileiros já vivenciaram aomenos umevento extremo associa- do à emergência do clima, e que 98% estão preocupados com novas ocor- rências do gênero. “As pessoas estão vislumbrando uma espécie de ‘novo normal’ comoqual terãoque aprender a conviver e se adaptar”, afirmaoadvo- gadoHenrique Frota, diretor-executivo do instituto. Diantedisso, elediz, épreciso ressaltar a responsabili- dadedas cidadespelo clima, afinal,85%dapopulação brasileira vive nos centros urbanos, cada vez mais adensados, desiguais e escassos de natureza. Nesses territórios, as transformações sãomais urgentes, con- siderando que o curto intervalo de tempo (entre a chance de reversibilidade e omais completo caos cli- mático)énossomaiordesafio–equeinclusiveasmetas doAcordo deParis (compromisso climático assinado por 185países em2015 visandomanter o aquecimen- to global até o final do século abaixo de 2 °C emrela- ção aos níveis pré-industriais, com esforços para nos limitarmos a 1,5 °C) já têm sido consideradas insufi- cientes pelaOrganizaçãodasNaçõesUnidas. Para estancaroproblema, especialistas reforçama importância de as cidades elaboraremplanos de ação climática, emduas linhas de frente complementares: mitigação, que consiste emadotar estratégias de redu- çãodegasesdeefeitoestufa (GEEs), e adaptação, com mudançasmais visíveis na paisagemurbana, especial- menteemtermosdeusoeocupaçãodosolo, áreasver- des e drenagemde águas de chuva. “Primeiro, cada ci- dade precisa realizar um inventário das emissões de GEEse identificar as áreas que apresentammaior vul- nerabilidade e que devem receber intervenções”, ex- plica o internacionalista IlanCuperstein,mestre em meio ambiente e desenvolvimento pela London School of Economics e diretor da C40 naAmérica Latina, rede demunicípios que apoia prefeituras na construçãode soluçõespara a emergência doclima. REDUÇÃODEDANOS “Nos últimos cinco anos tivemos uma intensificação dessa pauta e, hoje, pelomenos,milmunicípios brasi- leiros têmalguma ação endereçada ao clima”, pontua o economista e doutorando em ciências ambientais Rodrigo Perpétuo, se- cretário-executivo daONGinternacional ICLEI –GovernosLocais para a Sustentabilidade. SãoPaulo, por exemplo, lidera noBrasil a urgente transi- çãopara a frota eletrificadano transportepúblico, comametade inserir2,6 milônibus elétricosnas ruas atéo final deste ano, contandocommaisde2,5 bilhõesde reais financiadospeloBancoMundial eBancoInteramericanode Desenvolvimento (BID). Já Salvador eCuritiba esperameletrificar 30%da frota coletiva aindaeste anoeaté2030, respectivamente. “Amedida reduza emissãodeGEEsedeve serpriorizadamaisdoqueoscarros individuais elé- tricos, que não resolvemoproblemado trânsito”, frisaHenriqueFrota. Outra estratégia interessante na linha da mitigação é requalificar o centro das cidades para ter mais residências. “A prefeitura do Rio de Janeiro tem se destacado ao recuperar prédios abandonados no centro como uma ação climática, porque isso traz as pessoas paramais perto do trabalho, reduz viagens, emissões deCO2 e a demanda por novos prédios em áreas mais afastadas”, avalia Cuperstein, referindo-se ao conceito de Cidade de 15Minutos, do urbanista CarlosMoreno, pelo qual as necessi- dades dapopulaçãodevemestar acessíveis a 15minutos apéoudebicicle- ta –modeloque tem inspirado emobilizadoParis a se tornarmais susten- tável e resiliente. Entre 2021 e 2022, o programa cariocaReviver Centro resultou em 1.317 unidades habitacionais na região e outras 471 em análi- se, somandomais do que o volume dos dez anos anteriores. Para o arquitetoGustavo Cedroni, sócio-diretor do escritórioMetro Arquitetos, à frente de quatro projetos de retrofit no centro de São Paulo, esse tipo de urbanismo quemisturamoradia, trabalho, serviços e lazer es- tá alinhado ao desafio climático e existe boa oferta de imóveis compoten- cial para uso residencial emquase todas as capitais. “Mas, para ser umame- didamais inclusiva, as prefeituras devem criar programas que incentivem a habitação popular no centro, porque omercado imobiliário, de olho no lucro, não vai regular isso por conta própria”, alerta. Em tempo, quando o assunto é emergência climática, a mobiliza- ção dos governos locais é fundamental. Em Florianópolis e no Rio de Janeiro, as prefeituras aderiram ao programa Cidades Eficientes, do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) com patrocí- nio do Instituto Clima e Sociedade, criado para auxiliar o poder pú- blico em ações de redução de gases de efeito estufa. “O estoque de edifícios públicos das prefeituras, entre escolas, creches, hospitais, unidades de saúde e assistência social, oferece grande potencial para a redução de emissões de CO2 a partir demedidas simples como prio- rizar lâmpadas de LED e treinar servidores para desligarem compu- tadores do modo stand-by e usarem o ar-condicionado corretamen- te”, ressalta a engenheira civil Clarice Degani, diretora-executiva do CBCS. “O programa agora precisa conquistar visibilidade para ga- nhar escala e beneficiar outras cidades”, considera a arquiteta Maria Andrea Triana, doutora em eficiência energética e conforto ambien- tal e coordenadora técnica do projeto. U 34 casavogue.com.br urbanismo Projetado pelo arquiteto modernista Oswaldo Bratke (1907-1997) em1956 para uso comercial, o histórico edifício Renata Sampaio Ferreira, no centro de São Paulo, passourecentemente por um retrofit (realizado pelo Metro Arquitetos, com gestão da Planta.Inc) para abrigar apartamentos residenciais. Obras desse tipo têm sido incentivadas em algumas capitais comomedida demitigação das emissões deCO2 Tambémno campoda reduçãodeGEEs, capitais comoSãoPaulo eCuritiba têm investido na constru- ção de pátios de compostagempara evitar a emissão demetano, gás de efeito estufa liberado na atmosfera comodescarte incorretodos resíduos orgânicos. “São locais apropriadospara receberesses resíduosde feiras livres, principalmente, e transformá-los emadubopa- ra plantas, doado à população. Isso ainda fortalece a agriculturaurbana, ashortas comunitárias e a seguran- ça alimentar nas cidades”, afirma o engenheiro am- biental FelipeMaiaEhmke, diretordoDepartamento deMudanças Climáticas da SecretariaMunicipal de MeioAmbiente deCuritiba, capital que aprovou em 2020 seuplanodeaçãoclimática (PlanClima).Umdos destaquesdodocumentoéoBairroNovodaCaximba, maior projeto socioambiental da história domunicí- pio, responsável por reassentar 1.147 famílias que vi- viam em região com alto risco de inundação, àsmar- gensdoRioBarigui.“Asfamíliasestãosendorealocadas a apenas umas poucas centenas demetros, para uma áreamais segura e emcasasmais dignas”, diz Ehmke. Alémdisso, o projeto vai regularizar 546 imóveis, re- cuperar áreas depreservaçãopermanente e implantar umparque linear e umdiquede contençãode cheias. NATUREZACOMO INFRAESTRUTURA Tal intervenção ilustra bem a urgência de voltar o olhar para as águas das cidades. Segundo dados da C40, mais de 90%dos desastres globais estão rela- cionados a esse recurso.Todos os dias, mais da me- tade da populaçãomundial enfrenta inundações ou secas. Curiosamente, após décadas construindo es- truturas de engenharia que retificaram rios, aterra- ram matas ciliares, derrubaram florestas e imper- meabilizaram o solo, pesquisadores e urbanistas têm apostado que a maneira mais eficiente de evi- tar os efeitos de eventos climáticos extremos é fa- zer as pazes com a natureza: renaturalizar os cen- tros urbanos e permitir que as áreas verdes e azuis (cursos d’água) sejam parte da infraestrutura dedi- cada à regulação, contenção e drenagem das águas. Essa é a essência do conceito deCidadeEsponja, criadopeloarquitetopaisagista chinêsKongjianYu, cujaequipenoescritórioTurenscapeenaUniversidade de Pequim já desenvolveumais demil projetos do gênero emmais de 250 cidades. “Emescala urbana e comunitária, a ideia é darmais espaço à água e retê-la no local, desacelerando o fluxo e adaptando-se aos diferentes ní- veis de água, integrando áreas verdes, solos permeáveis e sistemas inova- dores de gestão da água”, esclarece o criador do conceito. “Dessa forma, é possível mitigar significativamente as inundações urbanas, melhorar a qualidade da água e aumentar a biodiversidade e a resiliência”, relata. Seu projeto referência é o Dong’anWetland Park, em Sanya, sul da China, com68hectaresde infraestrutura verdemultifuncional, compostapordi- ques, lagoas, uma rede de caminhos para pedestres sob a copa das árvores e três camadas de paisagem que permitem uma experiência imersiva aos visitantes e são um local de rica biodiversidade. Aqui noBrasil, umconceito semelhante vemganhando visibilidade, as chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SBN). “Elas podem ser desde um telhado verde em uma residência até os mais de 200 jardins de chuva instalados em São Paulo para reduzir enchentes e os parques lineares com lagos que funcionam como bacias de contenção das águas da chuva, entre outras soluções de bioengenharia”, explica a bióloga Juliana Ribeiro, gerente de projetos de SBN da Fundação Grupo Boticário de Proteção àNatureza. Um simples teto verde faz diferença. “Ameniza bastante o calor. Na minha casa, depois de testes feitos por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, descobrimos que a diferença de temperatura chega a 15 °C em relação ao meu vizi- nho, que não tem telhado verde”, observa Luis Cassiano Silva, ativista ambiental e produtor cultural, morador da favela carioca do Arará. Um bom exemplo de SBN é o premiado ParqueOrla Piratininga, em Niterói, RJ, com 35milm² de jardins filtrantes,mais de 10kmde ciclovias e estruturas de esporte, lazer e apoio à pesca artesanal quemudaram apai- sagem da região. “Antes era uma área inóspita, poluída, usada como lixão. Hoje é um jardim fluido e biodiverso, que trata a água antes de ela chegar às bacias dos rios locais e, ao mesmo tempo, funciona como lazer para a população”, comenta a geógrafaDionêMarinhoCastro, coordenadora do Programa Região Oceânica Sustentável, da prefeitura local. “Commais biodiversidade, tornamos essa regiãomuitomais resiliente”, conclui. Projetos assim têm mobilizado a Associação Brasileira de Desen- volvimento (ABDE), que reúne 34 instituições financeiras, entre Banco do Brasil, BNDES, Finep, BRDE, Caixa e outras. “Temos a linha de fi- nanciamentoCidadesMaisResilientes, comtaxas de juros bemabaixoda média domercado, para atender prefeituras e empresas comprojetos que respondam àsmudanças do clima”, afirma Celso Pansera, presidente da ABDE. “Só o BNDES e a Finep vão disponibilizar 106 bilhões de reais nos próximos quatro anos”, ressalta. É tempodepesquisar e inserir os ser- viços ecossistêmicos da natureza nas cidades, como remediação e prote- ção ao que vempor aí. Antes tarde do quemais tarde. ● AS CIDADES PRECISAM ELABORAR PLANOS DE AÇÃOCLIMÁTICA EM DUAS FRENTES: MITIGAÇÃO, ADOTANDO ESTRATÉGIASDEREDUÇÃODE GASESDEEFEITOESTUFA, E ADAPTAÇÃO, COM MUDANÇAS NA PAISAGEM URBANA EM TERMOS DE USO E OCUPAÇÃODO SOLO,ÁREASVERDESE DRENAGEMDEÁGUASDECHUVA Fo to s: Fr an Pa re nt e (e di fíc io Re na ta Sa m pa io Fe rr ei ra ), O nd re jC ec h/ G et ty Im ag es (ru a de Pa ris )e di vu lg aç ão /T ur en sc ap e (F is h Ta il Pa rk ) 36 casavogue.com.br urbanismo Saemos carros, entram as bicicletas e as caminhadas: modais de transporte ativo emais sustentável são parte do atual plano de Paris para reduzir drasticamente suas emissões de gases de efeito estufa – iniciativa inspirada na ideia daCidade de 15Minutos, do urbanista CarlosMoreno, para direcionar ações climáticas na capital francesa Conheça #UMSÓPLANETA – o maior movimento editorial brasileiro para promover práticas sustentáveis e enfrentar a mudança climática. Acesse umsoplaneta.globo.com APOIOPARCEIROS REALIZAÇÃO QUESTÃO DE TEMPO Ponto de encontro para amantes de arquitetura, natureza e relojoaria, o primeiro hotel idealizado pelo arquiteto-estrela Bjarke Ingels, naSuíça, revela umanova faceta da culturadahautehorlogerie, emque tradição, inovação ehospitalidade caminhamnomesmo ritmo TEXTO RAFAEL BELÉM, DE LE BRASSUS* destino Encantado pela Floresta Risoud, que contorna o Vale de Joux, Bjarke Ingels concebeu o Hôtel des Horlogers para que todos os quartos oferecessem vistas únicas da região, graças às lajes em zigue-zague que descem gradualmente em direção aos campos a famosa pinturaAPersistência daMemória, de Salvador Dalí, o tempo é representado por relógiosderretidos,penduradosà seme- lhança de toalhas encharcadas, por onde as horas escorrem. Já no primeiro hotel ideali- zado pelo arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels, ele é traduzido de outra forma: uma inclinação constante e labiríntica.Aconstrução emzigue-zague, localizada no vilarejo de LeBrassus, oeste da Suíça, provoca devaneios tão alucinantes quanto as obras do pintor surrealista espanhol.Afinal, estaria a vida escorrendo pelas rigorosas rampas do espaço-tempo? O assunto é levado a sério nas bandas doVale de Joux, ber- ço da alta relojoaria suíça, onde oHôtel desHorlogers está si- tuado, a poucos minutos da fronteira com a França. Plácida e pacata (o silêncio é interrompido somente por tilintadas do si- no do pastomais próximo), a região é conhecida por sua cultu- ra singular: nenhum outro lugar no planeta abriga tantos co- nhecimentosrelojoeirosconcentradosnumaáreatãopequena. Devido à altitude elevada – cerca de 1.000macimadonível do mar –, o valeremoto permanece infrutífero durante os inver- nos longos e rigorosos, o que fez a população local dedicar-se à fabricação de relógios em vez da agricultura. A tradição, pas- sadamagistralmente entre gerações há quase 300 anos, resul- tounaspeçasmaisengenhosasecobiçadasdaTerra.Audemars Piguet, Blancpain, Jaeger-LeCoultre e Patek Philippe são al- gumas das grifes nascidas ou desenvolvidas por ali. Inaugurada em 2022, a hospedagem ocupa a mesma área onde, no séc. 19, fundou-se o Hôtel de France, pouso mais procurado por trabalhadores e comerciantes da indústria re- lojoeirapor tambémsediar umaagênciade correios. Sucessivas crises o levaram à decadência, até aAudemars Piguet, cuja se- de era vizinha de porta, decidir arrematá-lo em 2003. Anos mais tarde entram em cena o arquiteto dinamarquês e sua premiada equipe do BIG, requisitados para conceber um no- vo, tecnológico e sustentável hotel boutique. Tudo sem aban- donar o legado que tanto orgulha os combières, como são cha- mados os habitantes do Vale de Joux. Bjarke Ingels é conhecido por desenhar edifícios a partir de volumes retorcidos, quase ilusórios.OHôtel desHorlogers não é exceção. Sua geometria émilimetricamente pensada para in- tegrar o edifício à paisagem colorida por prados demontanha e pela Floresta Risoud. Os 50 quartos disponíveis, dispostos ao longodeumpasseio arquitetônico, serpenteiampelo terreno.O projeto, executado pelo escritório suíçoCCHE, é protagoniza- do por cinco rampas em forma de Z.Virtuosas e acessíveis aos hóspedes, elas fazem comque as lajes desçam gradualmente em direção ao vale, uma referência à jornada sinuosa que os relojo- eiros enfrentavam para levar seus produtos ao mercado: o Chemin des Horlogers, rota histórica do Vale de Joux até Genebra. Jáos interiores, assinadosporPierreMinassian, does- túdioAUM,privilegiammateriais locais, comopedra emadeira, a fim de transportar os visitantes para omundo exterior. Anatureza está sempre à espreita: seja nas vistas proporcio- nadas pelas janelas salientes das suítes, seja nos pormenores da decoração (o teto do lobby é decorado com galhos de árvores quase brancas em homenagem àmata vizinha). “Mas ainda é umhotel cosmopolita onde se hospeda gente de todoomundo. Aqui se reúnem pessoas muito diferentes. Atletas convivem com exploradores, artistas, empresários e crianças.Muitas lín- guas podem ser ouvidas nos bares, salões e restaurantes”, resu- meAndré Cheminade, diretor-geral do hotel. “Cada um o ex- perimenta no seu próprio ritmo. Famílias, casais, viajantes solo e amigos se juntampara compartilhar bonsmomentos.” Dois restaurantes e um bar, dirigidos por Emmanuel Renaut, chef com três estrelas Michelin, complementam a imersão na cultura local. O menu da Brasserie Le Gogant, com capacidade para 80 pessoas, assim como o domais reser- vado La Table des Horlogers, apresenta ervas, frutas e vege- tais cultivados no jardim do estabelecimento; no Bar des Horlogers, coquetéis exclusivos são elaborados com insumos da floresta e servidos sob luminárias inspiradas nas grandes formações rochosas quemargeiam o vale. A poucos passos dali, um pavilhão de vidro se camufla na grama.Aestrutura em espiral que brota do chão (também fruto damente de Bjarke Ingels) é uma espécie de altar para colecio- nadores oumeros admiradores da haute horlogerie: cerca de 300 peças, entre joias raras, protótipos emodeloshistóricos, eviden- ciam a forte veia relojoeira da comunidade noMuséeAtelier Audemars Piguet, conectado ao hotel por uma charmosa trilha. “Arelojoaria, assimcomoa arquitetura, é a arte de revigorar uma matéria inanimada com inteligência emovimento para trazê-la à vida na forma de contar o tempo”, filosofa Bjarke. ● Acima, a espiral desenhada pelo BIG integra perfeitamente o MuséeAtelier Audemars Piguet à paisagemdo vale. Na pág. seguinte, em sentido horário, a partir da foto acima, a decoração sóbria assinada pelo estúdio AUMprivilegia a vista livre com janela do piso ao teto; balcão do Bar des Horlogers, onde os hóspedes podem provar bebidas da região, como absinto, Williamine e Appenzeller Alpenbitter; e o lobby combina superfícies de madeira local e concreto liso com um conjunto dramático de galhos de árvores que parecemplantadas no teto, uma homenagemà Floresta Risoud N Fo to s: Iw an B aa n (M us ée A te lie rA ud em ar s Pi gu et )e di vu lg aç ão . *O jo rn al is ta vi aj ou a co nv ite da A ud em ar s Pi gu et 40 casavogue.com.br destino APRESENTAM O CURSO DE 5 A 9 DE MARÇO Aprenda a criar ambientações e sets fotográficos impactantes e autorais PRODUÇÃO DE INTERIORES E FOTOGRAFIA Inscreva-se em: www.ied.edu.br ou aponte a câmera do seu celular para o QRCode abaixo. Fo to :F ra nç oi s H al ar d (d et al he da ca sa do es til is ta A le ss an dr o M ic he le ,m os tr ad a a pa rt ir da pá g. 54 ) Um livro de cabeceira, louças passadas de geração em geração, um quadro garimpado na lua de mel: cada peça das moradas a seguir é um fragmento de seus habitantes. A expressão da identidade extravasa o próprio corpo para se materializar nos lares emSãoPaulo, Rio de Janeiro, Londrina, Roma e Londres – como na casa de vila com itens colecionados sem pressa, na construção vitoriana que reverbera a ancestralidade de suamoradora e no castelo com 800 anos de história que pulsa excentricidade NO JARDIM BOTÂNICOCARIOCA, A CASA DO ATOR JOÃO VICENTE DE CASTRO, COM REFORMA RECÉM-FINALIZADA PELO ESTÚDIO ORTH, FICOU EXATAMENTE DO JEITO QUE ELE IMAGINAVA: CONFORTÁVEL, CONVIDATIVA E CONTEMPORÂNEA TEXTO SIMONE RAITZIK FOTOS FRAN PARENTE ESTILO LUCAS FREITAS PRODUÇÃO DANI AREND LUZ, JOÃO CÂMERA, João veste camisa Ori Rio e calça Gilda Midani e posa sobre a escadamoldada em blocos de pedra Cristallo, da Pettrus – mesmomaterial das chapas do piso –, que funciona como uma escultura flutuante no living, complementado comquadro do pintor baiano RubemValentim ao lado do bancoMáximo, do Estúdio Orth Acima, no living, o sofáMáximo, amparado pelamesa lateral Rino III, ambos do Estúdio Orth, dialoga com a poltrona vintage Presidente, de Jorge Zalszupin. Na pág. seguinte, em sentido horário, a partir da foto do alto, à esq., outro ângulo do living, composto por poltronas Mapá e mesas de centro Rino, uma de pedra Patagônia e outra de madeira imbuia – sobre esta, cacho de prata garimpado no Pátria Amada Escritório de Arte –, tudo emoldurado no paisagismo com espécies nativas do Jardim Botânico, assinado por Luiz Carlos Orsini, com participação de Alex Lerner, amigo de João; na sala de jantar, a tela de Maxwell Alexandre estampa a parede forrada de pedra Épidus Green, da Pettrus, como pano de fundo para a mesaMendes e as cadeiras Van Gogh, sob os pendentes Totem, tudo do Estúdio Orth; uma pequena prateleira na alvenaria da parede do living serve de apoio para as obras de arte: do lado esq. da tela de RubemValentim, quadro que emoldura pertences do pai de João, Tarso de Castro – “Tudo o que estava no bolso da calça dele, quando morreu, virou essamontagem afetiva feita porminhamãe”, revela; e, em outro canto do living, estante e parede de quartzito Épidus Green, da Pettrus, exibem objetos e obras de arte do acervo pessoal do ator, como o abajurMeia-Lua, do Estúdio Orth, e o tatu “de estimação” que o acompanha de outrasmoradas TEXTURAS NEUTRAS NAS PAREDES E NOS ESTOFADOS FORAM DEMANDAS DE JOÃO, NA EXPECTATIVA DE UM ESPAÇO PARA RECEBER SUA COLEÇÃO DE ARTE oram três anos de busca, dois anos de obra e muitos desejos envolvidos. A casa tinha que se voltar para o horizonte, com direito a piscina ensolarada, jardim ao re- dor e uma área social ampla para receber amigos com conforto. Porque JoãoVicente deCastro, ator e umdos fundadores do ca- nal Porta dos Fundos, é um anfitrião nato, que adora reunir gente interessante e co- nectar pessoas. “Sou festeiro mesmo, e queria ter sala e varanda integradas, com uma circulação fluida que ligasse os ambientes internos e externos. Tudo com transparência e muito verde.” Para adaptar o projeto a todas as expectativas,alguns con- tratempos surgiram no caminho. Mas tudo começou a fluir quando João resolveu convidar os designers SebaOrth eLuísa Bianchetti, ambos doEstúdioOrth, para assumir a empreita- da. “Fui percebendo que precisava de parceiros que me co- nhecessem bem para entender o que faria sentido. Queria al- go muito pessoal e nada convencional. O Seba é meu amigo de longa data e ficamos completamente à vontade para criar, juntos, cada detalhe. Eu tinha uma certa dificuldade de visu- alizar a planta com as mudanças propostas. Precisei de vários desenhos gráficos para entender tintim por tintim e eles tive- ram toda a paciência domundo comigo.” FilhodaestilistaGildaMidaniedo jornalistaTarsodeCastro – um dos criadores do lendário Pasquim –, afilhado de Caetano Veloso ePaula Lavigne, João conviveu, desde cedo, comum sen- so estético apurado à sua volta. Logo que teve chance, começou a colecionar arte, focando emnovos talentos. Quando iniciou o projeto da sua casa, definiu, portanto, que as paredes teriam tex- turas neutras para receber as obras, com o branco sendo o tom predominante, ao lado do cru e do couro natural nos estofados. Otoquede sofisticaçãoveiodousodaspedras, quecobrempiso, bancadas, escada, estante e parte das alvenarias. “Fomos visitar o berçodas jazidas daPettrus, naBahia, e selecionamos cadapeça. Queríamosqueosdesenhosdas rochas funcionassemcomouma estampa natural”, conta o artista, que faz questão de frisar que escolheu apenas fornecedores nacionais, certificados, com res- ponsabilidade social e respeito aomeio ambiente. “Não fazia ne- nhum sentido eu colocar um elefante branco nomeio de um lu- gar tão lindo como o Jardim Botânico.Tinha que ser coerente como entorno e comoque acredito.” F St yl is t: Ro be rt a To za to .P ro du çã o de m od a: C ar ol B itt en co ur t. A ss is tê nc ia de m od a: Ki ka N ov ae s. C am ar ei ra :R en at a B ar ro s Aescolha criteriosa demateriais – pedra, metal emadeira – foi o ponto de partida do projeto de interiores. “Pensamos em poucas variações. Apostamos em uma aparência brutalis- ta nas texturas, mas com uma estética minimalista”, resume Seba, que desenhou, ao lado de Luísa, a maioria dos móveis que preenchem os cerca de 500 m² de área construída, in- cluindo uma academia de ginástica completa, voltada para a piscina. “Não falei que era uma casamuito pessoal?Quemen- tra aqui logo entende meu jeito de viver: saio da ginástica e mergulho na piscina. Bom demais”, narra João. No segundo piso, a área íntima conta com três quartos, incluindo a ampla e confortável suíte do morador, com direi- to à impressionante vista do JardimBotânico e um closet jun- to ao banheiro. “João temmais de 400 pares de sapatos. Na antiga residência, alguns ficavam pela escada. Aqui tivemos que dar um jeito para organizá-los. Até omódulo da cabecei- ra da cama, feito sob medida, encaixa atrás um armário para os tênis”, explica Seba. Um ponto em que os dois divergiam diz respeito à televisão: João adora, Seba odeia. “Mas a casa é minha, né? Então ele teve que se virar para deixar a telona ca- muflada ao lado dos quadros, na sala, e colocar outra grande no meu quarto, em frente à cama. No final, acho que se deu por vencido. E ficou ótimo”, brinca o ator, que está em plena lua demel comcada detalhe e confessa que, nomomento, tem sido bem difícil tirá-lo de casa. “Ficou exatamente do jeito que eu sonhava e nem imaginava que um dia conseguiria rea- lizar”, arremata, de olho em Luiz, o cachorro de 6meses, que semudou comele para o novo endereço. “Estamos nos conhe- cendo, mas o relacionamento promete.” ● 48 casavogue.com.br A varanda funciona como uma continuação do living e segue o estilominimalista da decoração, com amesa Trio, as cadeiras Van Gogh e o pendente Miçanga, tudo do Estúdio Orth. Na pág. anterior, o tapete Coral, feito de rede de pesca reciclada, cria uma base para o ambiente de estar compoltronas Mapá emesa lateral Renda, de pedra Crocodilo, tudo do Estúdio Orth – ao fundo, sobre a prateleira, quadro de RubemValentim e abajurMax, do EstúdioOrth Neste canto da suíte de João, vestido de Burberry e ao lado domascote Luiz, a janela ampla com vista para o Jardim Botânico recebeu cortinas leves de cambraia de linho e emoldura a poltrona Mole, de Sergio Rodrigues – sobre o aparador, dois ex-votos figurativos do Pátria Amada Escritório de Arte. Na pág. seguinte, em sentido horário, a partir da foto do alto, à esq., a cabeceira da cama, de freijó ripado, tem estofado de lona crua paramaior conforto – a arandela Sino e amesa de apoio Rino III são do Estúdio Orth; no banheiro, bancada de quartzito BotanicWave, da Pettrus; na fachada, revestida com texturamineral off-white da Terracor, as quinas são levemente arredondadas para suavizar o visual; e, no pátio do segundo piso, destaque para a cadeira Duas Tábuas, que remete ao desenho de uma prancha, do Estúdio Orth 50 casavogue.com.br Como uma caixa, a entrada da casa é toda revestida de quartzito Épidus Green, da Pettrus, e o quadroOAbraço, de Luísa Bianchetti, saúda as visitas, assim como Luiz. Na pág. seguinte, a piscina, de pedra Épidus Green, da Pettrus, é cercada por piso de pedra portuguesa, e, no estar da varanda, composição com sofá Balo, do EstúdioOrth, emesa de centro Água, combase de papelão reciclado e tampo de cristal, desenho de Domingos Tótora 52 casavogue.com.br TONS CLAROS,MATERIAIS ORGÂNICOS E MUITA TRANSPARÊNCIA DEFINEM O PROJETO DE REFORMA, QUE SE INTEGRA À VARANDA E À PAISAGEM DO JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO Alessandro Michele em frente à estante com alguns dos incontáveis objetos de seu acervo, como garrafas de farmácia e porcelana italiana antiga VIDAS PASSADAS Oito séculos de história são narrados nas paredes, nos móveis e no acervo de arte do palácio italiano habitado pelo estilista AlessandroMichele, em Roma TEXTO CHIARA BARZINI FOTOS FRANÇOIS HALARD ESTILO GIANLUCA LONGO casavogue.com.br 55 Na segunda área de estar, um par de lustres em forma degalho de carvalho pende do teto: “Nunca acendo meus lustres, os uso como peças de mobiliário. Gosto de vê-los no espaço”, atesta o morador. Na pág. anterior, a lareira coberta por peças de porcelana aquece o hall de entrada “OS 800ANOSDESTAS PAREDES SÃOO MOMENTOATUAL PARAMIM. POR ISSONÃO SOUNOSTÁLGICO. TODOMUNDODEIXA RASTROSFORTES” ALESSANDROMICHELE Acima, os tradicionais azulejos holandeses de Delft dão ainda mais personalidade à cozinha, que teletransporta os visitantes para a Itália renascentista, com a arquiteturamajestosa do séc. 14 como pano de fundo. Na pág. anterior, ângulo mais aberto do cômodo mostra o mix de padronagens com a presença do piso hexagonal em tons neutros casavogue.com.br 59 “ROMASEDUZEAVISA: ‘ESTARCOMIGOÉ DIFÍCIL. POSSO PARECER LINDA, MAS SOUCANSATIVA. EUNÃOTRABALHOETORNAREI SUAVIDA IMPOSSÍVEL’. ISSOMEDÁAPERSPECTIVACERTA” ALESSANDROMICHELE Acima, o cenário dos jantares é cercado por obras que narram a história da arte italiana. Na pág. seguinte, vasos áticos, apulianos, etruscos e de Delft, cachorros de porcelana de Staffordshire e um boi de cerâmica figuram sobre o bufê 60 casavogue.com.br lessandro Michele procura um lar em cada cidade que visita. E tem um carinho especial por belezas desbo- tadas, lugares degradados repletos de histó- ria e grandezas perdidas – fato que o fez em- barcar na empreitada quixotesca de renovar um dos edifícios mais icônicos e misteriosos de Roma: o Palazzo Scapucci. Ainda adolescente, no início dos anos 1990, odesignerdemodapasseavapelaCidade Eterna com um olhar solitário e concentrado. Enquanto seus colegas ficavamaté tardenas ra- ves e se reuniamnas praças centrais para beber, Alessandro observava os telhados e cúpulas, es- perando que os edifícios falassem com ele. “Roma enfeitiça você.Acolhe todos de forma desgrenhada”, diz. Esse fascínio foi transferido para objetos, arte, livros e, obviamente, roupas. Grande parte da maneira com que revolucio- nou a Gucci ao longo de seus quase oito anos comodiretordecriação teveavercomuminte- resse desprovido demalícia em relação a histó- riasnãocontadas, incursõesaopassadodeobje- tos,monumentos e pessoas antigas. “Sou médico de casas feridas e dilapida- das”, conta. “Compro lugares que acho que podem precisar de mim, que foram desfigu- rados ou abandonados.” Cerca de oito meses depois de sua saída da grife italiana, ele tem a expressão calma de alguémque viu tudo e fez tudo e está feliz em dar uma pausa, embora não seja seguro dizer que trabalhar com uma equipe de restauração emumedifício de 800 anos conte como pausa. Quando visitou o espaço pela primeira vez, era um lugar escuro e sem lógica, com te- tos baixos de isopor e nada atraente. “Estava cheio de salas abarrotadas que se abriam para salas mais abarrotadas e pequenas janelas, mas eu continuava voltando e observando da calçada. Quandome apaixono, não cortejo as casas, eu as vigio.”Ele, então, conheceuospro- prietários, três personagens romanosperfeita- mente bizarros: um tio, um sobrinho e um contador que usava o imóvel como escritório e uma espécie de refúgio para amigos. “Já tinha esse carma de pertencer a várias pessoas. Era um lugar para a vida comunitária.” Umadasmuitas coisas incríveis que acon- teceram na obra que se seguiu foi a descober- ta da cobertura original sob o teto suspenso. Estava repleta de gravuras, afrescos, aquelas insígnias papais, f lores-de-lis dos reis da França e um escudo com o símbolo da famí- lia Della Rovere. Alessandro passou horas nos andaimes. “Fiquei amigo de cada centí- metro daquele teto, embora provavelmente também tenha causado um colapso nervoso na equipe de restauração.” Atravessamos a sala de jantar, onde amesa está repleta de canetas e livros, incluindo uma espessa antologia da falecida poeta emusicólo- gaAmeliaRosselli.Depois, chegamos aoquar- to, com uma belamoldura de porta veneziana que foi retrabalhada e transformada em cabe- ceira. Em seguida está o estúdio povoado por caixasearquivosperfeitamenteorganizadosde antigas pinturas de vidro indianas emarione- tes. Subimos várias escadas e passamos por mais salasdoqueAlessandropodememostrar. “É interminável”, diz, enquanto saímos para o terraço. Através das folhas das plantas exube- rantes, das roseiras e das bananeiras, vislum- bramos os transeuntes nas ruas abaixo. A cozinha luminosa, coração de qualquer casa italiana, é inundada pela luz do meio-dia deRoma, iluminandoabela coleçãodeazulejos holandeses deDelft e antigos armários dema- deira e vidro.Um lancededegraus demármore nos leva a um estúdio de trabalho e biblioteca: “Ocômodomaisbonitodacasa”.Ultimamente, Alessandro tem entrado sorrateiramente ali e tirado livros de poesia das prateleiras. É uma espécie demeditação enquanto pondera sobre seus próximos passos e seu próprio momento de suspensão. “Éóbvioqueprecisodeoxigênio agora e é irônico que, ao ler todas essas cole- ções de poesia, eu tenha ficado tão interessado no espaço embranco da página e no que ele re- vela sobre as palavras que o habitam.” ● A À dir., uma antiga porta veneziana foi transformada em cabeceira no quarto de Alessandro Michele, que adormece sob os afrescos descobertos durante a restauração B el ez a: Ta nj a Fr is ci c. C ab el o: C ar m en D iM ar co e M im m o La se rr a. Tr ad uç ão :A dr ia na M or i 62 casavogue.com.br Na bay window, Antonio e Anna, vestida de Louis Vuitton, posam com a cachorra Farofa no sofá produzido pelaMarcenaria Pimentel, forrado combuclê da Cosy Home e executado pela Vera Ray Cortinas, em composição combanquinho de palha, da Zara Home, poltrona Bumbo, design Lilly e Renata Sarti para a Breton, e banco Mocho, de Sergio Rodrigues, na Ben-Hur Antiguidades, tudo sobre tapete da By Kamy – na parede da janela (ao lado de Anna), escultura de cabeças Entre Amigos, de Ana Bornhausen, na Ara Cerâmica, e na parede com tom de rosa Velho-Oeste, daCoral, destaque para o espelho e o aparador na LegadoAntiguidades, as três obras de Sérgio Marzano e a esculturaDelicadeza, de Shirley Paes Leme, na galeria Carbono Objetos afetivos, obras de arte e itens de garimpo contamhistórias e, despretensiosamente, encontram seu lugar na casa de vila em SãoPaulo que expressa a diversão e a leveza dos dias deAnna Fasano e AntonioMendes TEXTO CAROL SCOLFORO FOTOS ANDRÉ KLOTZ PRODUÇÃOMANU FIGUEIREDO Acima, a obra Troca-Troca, de Estela Sokol, na galeria Carbono, colore a parede da sala de TV, enquanto a estante é decorada com vasos Esferas e Piemonte (verde), da Tania Bulhões, caixa de somdaMarshall, Mickey demadeira, da Casa Mix, e quadros de acrílico daMercatto Casa, entre itens trazidos de viagem. Na pág. seguinte, o espaço gourmet revela mesa de junco da Kasa 57, com cadeiras garimpadas no Jardin Velharia, e, na estante demadeira produzida pelaMarcenaria Pimentel, figuram o vaso (rosto) do Studio Bergamin, a placa Eat, da Storehouse, e o relógio daMutate – a bancada demármore foi executada pela Defriuli Mármores “À TARDE, ENTRAUMA LUZ LINDANA SALA. TEMESSEASTRALGOSTOSODE UMACASACOMCORES, SEMPRE ALEGRE ECHEIADEGENTE” ANNAFASANO Em sentido horário, a partir da foto acima, à esq., o lavabo revestido com papel de parede Roger, design Lorenzo Castillo para a Gastón y Daniela, na Safira Tecidos, e decorado com espelho Selfie, da Fleux, trazido de viagem, e pendente da West Elm; sobre a mesa de centro do living, na Legado Antiguidades, placa Só Vai, da Marché Art de Vie, e telefone da BG 27; canto do living composto por mesa lateral de mármore da Pedras Bellas Artes, poltrona Bumbo, design Lilly e Renata Sarti para a Breton, e quadro de Marco Mariutti; e, na transição entre o living e o espaço gourmet, estante do Antiquário Cristiano Ross decorada com obras Love e Fuck, do Studio Pedrazzi, coração vermelho de AMenor Loja doMundo, cápsulas Ego, da Oui Design, murano (rosa) de Paula Bassini e acrílico da By Gabs. Na pág. seguinte, à frente dos quadros deMarcelo Catalano, Anna, com look Louis Vuitton, confere o arranjo da Galeria Botânica em vaso da Tania Bulhões, sobre a mesa da Breton, com cadeiras Paglia, de Marisa Grossklauss, na GP Life Decor, tudo sob pendente Canoa, design Ana Neute para a Itens 68 casavogue.com.br és descalços, camiseta branca, coque baixo e voz suave. Na sala, Marisa Monte, Jack Johnson eBillWithers embalamos dias. Se na vitrine midiática Anna Fasano é a influencer dos vestidos lon- gos e acessórios poderosos, dentro de casa mergulha em calmaria. Ao contrário do que se poderia esperar da herdeira de umdos principais grupos hoteleiros do país, ela leva uma vida confortável e semexcessos nes- ta casa de vila de 330m², em São Paulo. “Sempre pro- curei um lugar prático e funcional para viver, em vez de um espaço muito grande, com vários funcioná- rios”, pontua logo de cara. Sua família é avessa a os- tentações, característica expressa até na simplicidade do nome. “Meus pais não queriam apelido.” Destinado àmesma objetividade estava o encontro como chef AntonioMendes, oito anos atrás. À época, elemorava naFrançahavia quase umadécada epassava férias no Rio de Janeiro. Ela desembarcava na Cidade Maravilhosaparauma festade amigos emcomum, sem imaginar que aquela noite dividiria águas. “Dez dias depois fomos para a Bahia juntos. Então, ele voltou pa- ra a Europa e eu fui para a Semana deModa de Paris. Lá, o convenci amorar noBrasil”, lembra. Antonio dei- xouParis diretamente para o apartamento dela. Em 2021, já em dupla, surgiu a vontade de mo- rar em uma casa de vila – na infância, Anna habitou uma morada do tipo e desejava resgatar a sensação. Quando saltou um anúncio na rede social com as fotos desta residência, ela foi rápida. No ano passa- do, os dois se casaram e a mudança aconteceu. “Amamos receber. Ele cozinha, eu monto as mesas. Por isso, sempre idealizamos um espaço como este, que agrega os convidados.” No jeito demorar do casal, a palhinha dasmemó- rias afetivas contrasta comobjetos coloridos estilosos – alguns deles irreverentes, em um agridoce que tem- pera bem a rotina. Nos quartos, o conforto do algo- dão e omix deestampas nas almofadas são importan- tes para Anna. “No fim do dia, adoro as luzes de abajures acesas, e só elas.” Assim como faz com amo- da, vestindo peças-desejo, transpõe sua personalida- de para o que compõe seu lar. Nas viagens pelo mun- do, as visitas a museus, feiras de antiguidades e antiquários rendembons achados, assim como os tra- balhos manuais brasileiros. “Amo fazer essa mistura porque torna a casa única, especial.” Não à toa, ouve elogios de suas seguidoras sobre essa habilidade em expressar sua identidade no décor. Aestanteda sala é outra provadisso – epara onde se olhe há histórias vindas de algum país, agrupadas por cores análogas ou não, emuma setorização que é como um hobby. “Os itens que garimpo e os presentes de casa- mento têmmuito significado.”Casodaobrade arte dis- posta na sala de jantar, com a qual eles se presentearam paramarcaro iníciodavida juntos, eda lumináriadeco- ração que ela recebeu ao ser pedida em casamento. “É umclimamoderno-divertido, gostomuito de coisas co- loridas e de fazer um twist entre o novo e o antigo, que tira aquelearde ‘tudocomamesmacara’.Amoproduzir a casa aos poucos, não comprar tudode uma vez.” Acima do anexo de jantar, um terraço que sintoni- za terracota nas paredes e amarelo nomobiliário é pa- ra onde todos sobem aos fins de semana. Com chuvei- rão e sofás sob o céu azul, o espaço sintetiza o lado solar da dupla. “Realizei minha vontade de ter um lu- gar aberto emSãoPaulo. Sou carioca, o sol e a águame movem.Quandomorávamos em um apartamento, eu me sentia sufocado. Agora temos nosso cantinho ao ar livre e isso muda qualquer astral”, comenta Antonio. Sempressa, comgraça e leveza, a casa se abre e se reve- la às pessoas queridas. “Paramim, o luxo verdadeiro é estar com a família, poder viajar com os amigos, com meupai eminhamãe, conciliando o tempo livre de to- dos juntos.De preferência, off-line”, conclui Anna. ● P Na pág. seguinte, o quarto do casal expressa a paixão de Anna pela palhinha trançada, presente no banco da Velha Bahia e na cabeceira da cama Joá, designGiácomo Tomazzi para a Breton, coberta com colcha de tecido da Donatelli executado pela Casa com Z – ameia-parede verde foi produzida pela Marcenaria Pimentel, os tapetes de fibra natural são da LeroyMerlin e a fotografia na parede é de Kiolo St yl in g: D an ie la M ôn ac o. B el ez a: M au ro M ar co s 70 casavogue.com.br “EMVEZDEUMACASA MUITOGRANDE, COMVÁRIOS FUNCIONÁRIOS, SEMPRE BUSQUEIUMLARPRÁTICO EFUNCIONAL” ANNAFASANO O solário, contornado por charmosos cobogós Tartan, daManufatti, possui piso Toscana, da Colormix, fio de luz da Legado Antiguidades, mobiliário da DonaFlor Mobília e banco Sittable, design Felipe Protti para a Prototype. Na pág. anterior, do espaço gourmet se vê a escada que dá acesso ao solário, executada pela Serralheria Baltieri – o ventilador é da Gerbar Cores vibrantes, toques pessoais emuito conforto traduzemnuma casavitorianaem Londres a personalidade damodelo, atriz e ativista AdwoaAboah. Sob sua orientação, o projeto foi realizado pela designerde interioresBeataHeumane pelo arquiteto LewisKane TEXTO BUSOLA EVANS FOTOS SIMON UPTON ESTILO SARA MATHERS Na pág. seguinte, sob o teto azul brilhante da biblioteca, o lustre francês ilumina mesa vintage, cadeiras Eiffel, de Charles e Ray Eames, lareira do Architectural Forum e tapete bicolor de juta AUTORR E T R A T O À dir., uma extensa tela da artista Ariana Papademetropoulos ocupa uma das paredes do living, com sofás e pufe de autoria de Beata Heuman, luminária de piso vintage e tapete berbere marroquino entrada da casa de Adwoa Aboah é ilu- sória. A construção da era vitoriana, com a porta pintada de preto, dá poucos indícios da decoração que há por trás dela, e sugere, talvez, uma moradora com uma queda pelo simples. Ao entrar no hall, entretanto, toda a sua persona- lidade se revela. Pendurado em uma parede banhada de rosa suave, longe de qualquer rastro de minimalismo, um estan- darte vintage exibe arte africana simbólica de Asafo – uma homenagem à herança ganense e inglesa da modelo, atriz e ativista nascida noReinoUnido – e recebe os visitantes. “Fiz questão de colocá-lo aqui, logo na entrada, para dar o tom”, justifica Adwoa sobre o objeto. “Nós colecionamos essas bandeiras há muito tempo – eu, meu pai e minha irmã.” Adwoa estava com o pai, Charles, e a irmã, Kesewa, quando viu a casa de tijolos vermelhos de quatro andares, cinco anos atrás. Buscava seu novo endereço na região pró- xima à residência de seus pais, no oeste de Londres, mas ne- nhuma das opções era “a escolhida”. No papel, também não seria aquela: além de não ter instalação elétrica nem aqueci- mento, havia sido dividida aleatoriamente em cinco unida- des. “Quando nós entramos, olhamos umpara o outro e sim- plesmente soubemos”, lembra. “Estava desmoronando, mas eu pensei: ‘Esta é a minha casa’.” Adwoa, estrela de capas de revistas como aVogue britâni- ca e de campanhas publicitárias para grifes como Chanel e Burberry, sempre teve uma visão clara. “Nãoqueriamorar em umcenário. Cresci emum lar cheio de cores e estampas, onde nada combinava. Era despretensioso e confortável. E era isso o que eu queria.”O trabalho começou pela restauração, como arquiteto LewisKane.Mas a agenda agitada da britânica, que divide seu tempo entre Londres e LosAngeles, exigiamais al- guém na reforma. Entra em cena Beata Heuman, decoradora A 78 casavogue.com.br Legenda pitae con poremqu istrum simpore puditae dissit landllatium que repudici qui od est in panit quia dolorem fugiam con cus, ilis ulpa is ulpa is ulpa is ulpa praturi omnihil itatium autem non non perchic to eium vera que et audae pavel ipis ex et que la nimin nesti 10 x 20 cm jojgoisfngaue la nimin nesti 10 x 20 cm jojgoisfnga A colagem de Zora Sicher protagoniza a área de estar da cozinha, decorada ainda com mesa lateral Tribeca, de Julian Chichester, e arandela italiana dos anos 1950. Na pág. anterior, a sala de jantar é composta por banco de Beata Heuman, revestido de couro da Whistler Leather, e cadeiras de Niels Otto Møller, estofadas com veludo Panthera, da Scalamandré – ao fundo, pintura deGideonAppah casavogue.com.br 79 sueca radicada em Londres, conhecida por sua estética ousa- da e excêntrica. “Adorei que ela não tinhamedo de correr cer- tos riscos em termos de cores, estampas e formas.” Para Beata e a chefe de design de interiores de seu escri- tório, FoscaMariani, estava claro que seria um processo co- laborativo. “Adwoa tem um senso de estilo muito forte, seu objetivo sempre foi encontrar alguém que entendesse isso. Trata-se de interpretar quem ela é. Foi ótimo trabalhar com uma cliente tão focada.” A designer ajudou a evocar a versão urbana de um country inglês descontraído, com chita envol- vendo peças feitas sob medida e achados vintage. “Não que- ria que parecesse tão controlado, mas é bastante pondera- do”, explica Beata sobre o projeto. Lembranças da vida damoradora preenchem os espaços e conferem à casa umcaráter afetivo. Por ali, estão espalhadas as colaborações criativas de familiares e amigos – até o jardim foi projetado por sua tia, a paisagista SarahHusband. A biblioteca é um tesouro de curiosidades ecléticas (incluindo sua própria boneca Barbie), fotografias raras e pessoais, obras de arte (uma tapeçaria de parede feita por sua irmã comoparte de seu curso de arte está pendurada em um local de destaque) e li- vros colecionados ao longo dos anos. A sala de estar foi proje- tada em torno de uma tela em grande escala de Ariana Papademetropoulos. “Uma amigame apresentou o seu traba- lho eme apaixonei completamente”, conta a modelo. Uma nova extensão lateral na cozinha permitiu uma série de armários de compensado de bétula, cuidadosamente pin- tados de amarelo. A maioria das peças é solta, incluindo o banco verde que fica sob uma obra do artista ganenseGideon Appah. “Não queria nada fixo. E se eu quiser dar uma festa?” Adwoa acredita que, com a ajuda de Beata, sua morada oferecemuitomais do que aparenta. “Amigos
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