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PROJETO E DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO AULA 5 Prof. Everton Luiz Vieira 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula vamos estudar o detalhamento do projeto do produto, abordando conhecimentos sobre tipos e usos da documentação do projeto de produto durante todas as fases do PDP, com documentação que pode ser física ou virtual (usando softwares de PDM). Também vamos conhecer a função, os tipos e usos dos protótipos para executar testes de homologação e elaboração do design do produto. Quando o produto está configurado, temos a fase da aprovação da peça para produção, em que são analisados todos os detalhes do projeto e se as especificações foram cumpridas para minimizar a chance de erros durante a manufatura. Vamos abordar os seguintes temas: 1. Documentação do projeto; 2. Construção de protótipos; 3. Testes e ensaios para homologar produto; 4. Sistemas product data management (PDM); 5. O processo de aprovação de peça de produção (PPAP). Ao final da aula, você estará apto a utilizar os conceitos de detalhamento do projeto do produto. Bons estudos! TEMA 1 – DOCUMENTAÇÃO DO PROJETO A documentação gerada durante o desenvolvimento de um produto ou serviço é de extrema importância para formalizar os requisitos e as etapas cumpridas. Esses documentos podem ser formulários, registros, desenhos, manuais, procedimentos, instruções de trabalho, estrutura de produto, relatórios de performance etc. Eles podem ser controlados de forma física (papel) ou de forma eletrônica, com sistemas de gestão de documentos. 1.1 Formulário de desenvolvimento de produtos Empresas com um processo de desenvolvimento de produtos estruturado adotam um modelo de formulário que contemple todas as etapas do projeto de novos produtos ou alterações nos atuais. Esse documento auxilia o controle e a 3 comunicação com todas as partes envolvidas no desenvolvimento, desde a solicitação do departamento comercial, engenharia de produtos, de custos e de processos, controle da qualidade e planejamento e controle da produção. Utilizaremos alguns recortes do formulário de desenvolvimento de novos produtos proposto por Nascimento (2015). Normalmente a solicitação de desenvolvimento de novos produtos parte do departamento comercial, que tem contato direto com o cliente (o comercial preenche o formulário). As atividades a realizar e os prazos de desenvolvimento são anotados no documento, conforme a Figura 1. Figura 1 – Atividades, responsáveis e prazos Fonte: Nascimento, 2015. Dando sequência à etapa anterior, a Figura 2 mostra que a identificação do cliente é necessária, assim como todas as informações requeridas nessa etapa, servindo como entradas para o desenvolvimento. 4 Figura 2 – Entradas do desenvolvimento de novos produtos Fonte: Nascimento, 2015. O formulário passa por todas as fases do processo produtivo da empresa. É possível que o comercial informe detalhadamente o que se espera do produto final, desde a matéria-prima empregada para fabricação até o tipo de embalagem que o cliente espera que o produto utilize. 5 O documento também tem um campo para preencher os requisitos específicos do cliente e requisitos legais (caso tenham), conforme a Figura 3. Figura 3 – Requisitos específicos e legais Fonte: Nascimento, 2015. Essa etapa é preenchida totalmente pelo departamento comercial. A partir da segunda etapa, a responsabilidade é do setor de desenvolvimento de produtos, o que requer o planejamento detalhado do desenvolvimento, determinando as especificações, escolhas técnicas e objetivo de custos, conforme a Figura 4. Figura 4 – Atividades da engenharia de produtos Fonte: Nascimento, 2015. 6 O departamento de engenharia de produtos verifica se será necessário criar desenhos para o produto e seus componentes, ou se existe algum produto semelhante produzido pela empresa. A engenharia de processos também é consultada para elaborar as especificações de produção, conforme a Figura 5. Figura 5 – Especificações de processo Fonte: Nascimento, 2015. A engenharia de processos analisa se existem máquinas, gabaritos, ferramentas e métodos de trabalho para o novo produto, ou se será necessário desenvolvê-los. O departamento da qualidade também pode ser consultado para ajudar a elaborar especificações de qualidade do produto, instruções de trabalho, padrões e treinamento dos colaboradores. Com as informações dos departamentos de engenharia de produtos e processos, é possível elaborar o custo do produto para formar o preço ao cliente. Esse ponto determina se será feito um lote-piloto, que é um lote de produção feito com ferramental, máquinas, operadores e processos definitivos para manufatura do produto, mas em quantidade menor se comparado aos lotes de produção. De acordo com Sillos et al. (2012), o propósito do lote-piloto é encontrar e resolver problemas não detectados nos protótipos e testes. 7 O formulário de desenvolvimento de produtos é um documento que formaliza todo o processo para lançar novos produtos, pois é compartilhado com todos os envolvidos no processo, além de contemplar todas as atividades que devem ser cumpridas, minimizando erros por omissão de qualquer etapa, pois funciona como um checklist. TEMA 2 – CONSTRUÇÃO DE PROTÓTIPOS De acordo com Seleme e Paula (2013), a construção de protótipos é uma etapa no desenvolvimento do produto que permite às organizações ir além das considerações teóricas sobre o produto. Romeiro et al. (2013) citam que o protótipo é um modelo funcional e apresenta quase todas as características do produto final. É utilizado para fazer testes com consumidores, avaliar o desempenho em campo etc. Rozenfeld et al. (2006) citam que aproximadamente 80% dos custos de um produto são comprometidos nas etapas iniciais do PDP, por isso é muito importante validar o quanto antes os conceitos gerados pela equipe de desenvolvimento do projeto. As tecnologias CAD/CAE/CAM são muito utilizadas para reduzir o ciclo de desenvolvimento de produtos, tirando proveito das possibilidades de simulação e experimentação viabilizadas pelos softwares. A construção e o teste de protótipos virtuais reduzem significativamente os custos e o tempo de desenvolvimento de um projeto, visto que a simulação do comportamento dos componentes em situações reais de trabalho permite prever falhas e fazer as correções necessárias antes da fabricação de qualquer peça. O ciclo tradicional de desenvolvimento de projetos projetar-construir- testar-otimizar é substituído por outro composto das seguintes atividades: elaborar o modelo 3D; validar o modelo; prototipagem virtual e prototipagem rápida. Os protótipos virtuais (ou protótipos reais) cumprem inicialmente o mesmo papel do desenho técnico: facilitar a comunicação entre a equipe de projeto, fornecedores e clientes no melhor entendimento do componente e de seu funcionamento no produto (Romeiro et al., 2013). A seguir vamos estudar os diversos tipos de modelos, maquetes e protótipos usados no projeto. 8 2.1 Protótipo virtual (maquete eletrônica) O produto é gerado num CAD 3D com modelamento por sólidos, permitindo a visualização das soluções de design, encaixes, verificação das interferências entre componentes, simulações de funcionamento, aplicação de cores etc. Na Figura 6 temos um exemplo de protótipo virtual. Figura 6 – Protótipo virtual de um aparelho de reabilitação de joelho Fonte: Elias Aleixo Dahlke, 2020, com base em Ortega et al., 2011. Sordi e Valdambrini (2006) citam que os dados geométricos do projeto podem ser utilizados nas etapas seguintes de produção como testes de engenharia ou para gerar dados de manufatura. A integração desses sistemas, de origens diferentes, é denominada genericamente como CAE/CAD/CAM (engenharia, projeto e manufaturaauxiliados por computador). 2.2 Mockup Romeiro et al. (2013) citam que o mockup é uma representação tridimensional do produto, parcialmente funcional, cujo objetivo é simular alguns aspectos, como estética, volumetria e ergonomia, sendo normalmente fabricado em material facilmente moldável e de baixo custo, como papel, poliuretano, madeira, isopor, argila etc. O mockup é utilizado para validar as soluções de projeto por parte da equipe, e nem sempre é fiel ao produto final ou tem todos os seus detalhes. Em 9 muitos casos são produzidos modelos de baixo custo e rápida execução, bastante úteis na validação de determinados aspectos do produto, podendo ser utilizado em diversos experimentos em projeto, como simulações de uso e avaliações de natureza ergonômica. Na Figura 7 é possível observar a utilização de um mockup. Figura 7 – Exemplo de mockup de um mixer construído em madeira Fonte: Elias Aleixo Dahlke. 2.3 Maquete A maquete é um meio de representação tridimensional não funcional e, na maioria das vezes, em escala reduzida. Sua principal função é apoiar a avaliação geral do projeto, nas concordâncias dimensionais e na aprovação de soluções estético-formais (Romeiro et al., 2013). Na Figura 8 vemos a maquete de uma cadeira reclinável. Figura 8 – Maquete de cadeira reclinável em escala 1:5 10 Fonte: Elias Aleixo Dahlke. A maquete também pode ser útil para simular (normalmente de forma limitada) determinadas funções do produto. Veja que a Figura 8 mostra duas posições possíveis, uma mais inclinada, e a outra menos. 2.4 Modelo de apresentação Romeiro et al. (2013) citam que os modelos de apresentação podem ser utilizados em exposições, feiras, fotografias etc. Seu objetivo é apresentar aos clientes uma imagem fiel à aparência final do produto. Na Figura 9 podemos observar um modelo de veículo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Tecnologia em escala 1:5. Figura 9 – Representação de automóveis Crédito: Elias Aleixo Dahlke. O aspecto geral do modelo é bem semelhante ao do produto industrializado posteriormente, apresentando pintura e acabamento compatível com um veículo da sua categoria. 2.5 Protótipo 11 Segundo Rozenfeld et al. (2006), o protótipo é um modelo funcional que, embora seja construído de forma artesanal, apresenta quase todas as características do produto final. É utilizado para testes, avaliação de desempenho em campo, testes com consumidores etc. Para certos produtos – como edificações, navios, alguns automóveis etc. –, o protótipo é o próprio produto, pois ele não é alterado após sua construção. No caso de produtos fabricados em série, o protótipo servirá para os últimos testes antes de serem lançados no mercado. Na Figura 10 observamos alguns protótipos de peças impressas em 3D. Figura 10 – Exemplo de protótipo de peças Fonte: MarinaGrigorivna/Shutterstock. 2.6 Prototipagem rápida No final da década de 1980 surgiu a técnica mais moderna para obter protótipos: chama-se prototipagem rápida. Ela utiliza o princípio de adição de material em camadas planas, e por esse motivo também é conhecida como manufatura por camadas ou manufatura aditiva. Ela tem vantagens importantes quando comparada a outros métodos que utilizam o princípio de adição, como colagem e soldagem, pois permite executar o protótipo diretamente com base nas informações geométricas da peça. Essa técnica dispensa moldes e ferramentas, e demanda pouca intervenção humana, produzindo protótipos (físicos) diretamente com base no 12 modelo virtual em 3D, gerado no sistema CAD, que modela a peça. Esses softwares se comunicam com as máquinas de prototipagem para executar as peças (Romeiro et al., 2013). Segundo Monteiro (2015), uma das tecnologias utilizadas para prototipagem rápida é conhecida como deposição de material fundido (do inglês fused deposition modeling – FDM). Nesse processo, determinado material em estado plástico é seletivamente depositado numa plataforma por um bico extrusor, conforme a Figura 11. Figura 11 – Esquema geral do FDM Fonte: Monteiro, 2015. Para depositar a camada, o bico vai depositando o material em todo o contorno da seção e, depois de terminado, passa a preencher o conteúdo do contorno, geralmente em movimentos de vaivém. Finalizada a primeira camada, o bico sobe alguns décimos de milímetros e inicia a fabricação da segunda camada; e assim vai fazendo sucessivamente até finalizar a peça (Volpato, 2017). É a tecnologia mais popular encontrada no mercado e com o menor preço, devido à sua simplicidade de funcionamento e componentes facilmente encontrados no mercado. Na Figura 12 observamos um exemplo de impressora 3D. 13 Figura 12 – Exemplo de impressão 3D Fonte: Asharkyu/Shutterstock. TEMA 3 – TESTES E ENSAIOS PARA HOMOLOGAR PRODUTO Segundo Back e Leal (1992), a qualidade de um produto depende, em primeiro lugar, da capacidade de a empresa gerar boas concepções alternativas e da sua habilidade em selecionar a melhor solução que dependa e muito da percepção das reais necessidades dos consumidores e da oportunidade atrativa de mercado. Pode-se constatar essa tão almejada qualidade do produto principalmente pela preocupação do projetista em estabelecer testes adequados e um plano integrado de testes ao longo de todas as fases do ciclo de vida; isto é, desde a primeira fase – estabelecimento dos requisitos do projeto – até o descarte do produto. O teste é o meio mais adequado de verificar a adequação do produto, porque é um meio de obter resultados diretos e tangíveis (Rozenfeld et al., 2006). 3.1 Tipos de teste Quando se examina o ciclo de vida de um sistema ou produto, pode-se identificar, conforme a Figura 13, todas as fases do PDP, e o projetista deve se preocupar com os testes que deverão ser feitos em cada etapa para avaliar a adequação do seu trabalho frente aos requisitos inicialmente propostos e, também, com a coleta de dados para melhorar o produto em questão e o projeto de outros produtos. 14 Figura 13 – Testes usados e sua eficiência ao longo das fases de desenvolvimento de um produto Fonte: Vieira, 2020, com base em Back; Leal, 1992. Em cada uma das fases encontramos diferentes estágios de desenvolvimento ou estudo, e cada situação exige um tipo de teste apropriado (Back; Leal, 1992): • Tipo I: durante as três primeiras fases do ciclo de vida, usam-se modelos analíticos para síntese, simulação e análise. Recomenda-se sempre, devido à sua importância, concentrar maior esforço em testes desse tipo, pois são os mais econômicos, versáteis e rápidos, principalmente pela facilidade e tecnologia computacional existente (protótipo virtual); • Tipo II: também pode ser usado nas três primeiras fases do ciclo de vida, compreendendo os modelos icônicos e analógicos (mockup, maquete e modelo); • Tipo III: na fase final do projeto detalhado e na fase de fabricação, tem- se condições de efetuar testes e demonstrações formais, pois o protótipo inicial está disponível; • Tipo IV: quando se tem um protótipo mais elaborado, testes e demonstrações formais poderão ser elaboradas em local, infraestrutura e pessoal do consumidor ou usuário. Nesse caso, são testados o equipamento propriamente dito, equipamentos de teste de operação, de apoio logístico, procedimentos formais de operação e manutenção, peças de reposição, seus níveis de estoque e tempos de entrega e de outros insumos. Na verdade, trata-se de um teste de validação do produto; 15 • Tipo V: é na fase de uso ou consumo que se tem as reais condições de testar o produto; assim, o projetista deve acompanhar e coletar dados sobre seu desempenho; • Tipo VI: finalmente, no descarte ou na desativação do produto, o projetista ainda pode coletar dados importantes. Primeiro, deve verificar se o procedimento e os custosprojetados de descarte ou desativação são apropriados. Segundo, pelo exame da falha ou desgaste do sistema ou de partes, verifica se o projeto do produto foi adequado e, assim, coleta dados para o reprojeto, inclusive usando essas informações para projetos de outros produtos. Ainda no descarte, é possível verificar se o projeto para reciclagem foi bem elaborado. 3.2 Seleção de laboratórios de teste independentes De acordo com Rozenfeld et al. (2006), testar o produto numa instituição ou laboratório independente é conveniente, pois o teste de qualificação geralmente exige uma equipe multidisciplinar, uma ampla gama de equipamentos e uma infraestrutura de teste. Esses recursos são muito caros e inviáveis para empresas de menor porte. Além disso, os resultados de testes em laboratórios independentes conceituados despertam mais confiança ao consumidor. Na Figura 14 observamos um exemplo de registro de teste. Figura 14 – Exemplo de registro de teste Fonte: Mila Supinskaya/Shutterstock. 16 Alguns produtos têm certificação compulsória e são submetidos a testes antes de serem lançados no mercado, e também durante seu ciclo de vida. Essa certificação é feita pelos chamados organismos de avaliação da conformidade, que podem ser públicos ou privados, e são creditados pelo Inmetro para essa função. TEMA 4 – SISTEMAS PRODUCT DATA MANAGEMENT (PDM) Segundo Rozenfeld et al. (2006), PDM é uma tecnologia de software que visa gerenciar todas as informações e processos relativos ao ciclo de vida de um produto. Essa tecnologia se propõe a controlar a informação e distribuí-la sistematicamente para as pessoas que dela necessitem. Várias nomenclaturas são usadas com significados semelhantes: • PIM: product information management; • TDM: technical document management; • TIM: technical information management; • EDM: electronic document management. Todos esses sistemas podem ser classificados em dois grupos: PDM e EDM. Sistemas EDM são todos aqueles que gerenciam documentos, podendo ou não se relacionar com engenharia. No Brasil, a expressão “gestão eletrônica de documentos” (GED) é a mais utilizada para denominar sistemas EDM. 4.1 Funcionalidades do PDM As funcionalidades de um sistema PDM podem se dividir em: • Gerenciamento de dados: abrange o controle da estrutura do produto, classificação de componentes e classificação de documentos; • Gerenciamento do processo: inclui todas as funcionalidades relativas ao fluxo de trabalho, como a aprovação de um produto e modificações de engenharia. As funções de um sistema PDM podem se dividir em funções usuário e funções complementares, conforme o Quadro 1. 17 Quadro 1 – Funcionalidades do PDM Funções do usuário Gerenciamento do ciclo de projeto Controla a criação e aprovação de documentos e partes do produto, a circulação, segurança e o acesso aos dados, relacionando dados, entradas e saídas. Alterações de engenharia Sistematiza a modificação de engenharia, controle de versões e revisões. Estrutura de produto (BOM) Controla a estrutura, seus itens, controles de versões, status e documentos associados. Classificação Sistema de identificação e classificação de componentes e ferramentas de buscas rápidas, e recuperação de informações. Gerenciamento de projetos Funções de planejamento, controle de projetos e de prazos, e alocação de recursos. Funções complementares Comunicação Viabiliza a comunicação e notificação entre usuários. Transferência de dados Mecanismos de troca de dados entre os usuários do sistema e entre diferentes aplicativos. Visualização Mecanismos de visualização rápida de imagens e anotações eletrônicas. Administração Configuração e customização, controle de usuários e administração do sistema. Fonte: Vieira, 2020, com base em Rozenfeld et al., 2006. 18 Existe uma grande variedade de sistemas de PDM disponíveis no mercado. A Figura 15 mostra a estrutura de um sistema PDM. Figura 15 – Estrutura de um sistema PDM Fonte: Vieira, 2020, com base em: Rozenfeld et al., 2006; One Line Man/Shutterstock. O cofre é o local onde os arquivos gerenciados ficam armazenados, e metadados (base de dados) são informações sobre arquivos que permitem seu gerenciamento. Segundo Hohl (2019), os benefícios em utilizar um software para PDM são: • Integridade das informações; • Base única de dados técnicos; • Redução de custos (eliminação de tarefas improdutivas); • Redução de tempo de lançamento do produto; • Redução do número de alterações de engenharia; • Preservação do acervo técnico; • Reutilização sistemática das informações existentes; • Aumento da produtividade do pessoal. 19 Os softwares de PDM têm muitas vantagens, mas uma desvantagem – que impede sua rápida expansão – é sua dificuldade em implementar os sistemas PDM; geralmente esses processos são lentos, caros e exigem uma significativa adaptação técnica e cultural da empresa. TEMA 5 – O PROCESSO DE APROVAÇÃO DE PEÇA DE PRODUÇÃO (PPAP) Segundo Hammes (2014), o processo de aprovação de peça de produção (PPAP) é padronizado nas indústrias automotivas e aeroespaciais que ajudam os fabricantes e fornecedores a se comunicar e aprovar projetos de produção antes, durante e depois da fabricação. Foi criado para trazer uma compreensão mais clara dos requisitos dos fabricantes e fornecedores e assegurar que a fabricação de peças as reproduzisse consistentemente em lotes de produção. O PPAP deriva do APQP-PPAP, desenvolvido no final dos anos 1980 por uma comissão de especialistas das três maiores indústrias automobilísticas (Ford, GM e Chrysler). Essa comissão investiu cinco anos para analisar o então corrente estado de desenvolvimento de produtos e produção nos Estados Unidos, na Europa e especialmente no Japão (Silva, 2017). O PPAP é definido pelo Manual APQP-PPAP da Automotive Industry Action Group (Aiag), que é parte de uma série de documentos relacionados, atualizados e publicados pelo órgão. A Figura 16 mostra a capa do Manual PPAP. Figura 16 – Manual do PPAP Fonte: IQA, 2013. 5.1 Elementos do PPAP 20 De acordo com Peiter (2009), o PPAP tem 18 elementos essenciais: 1. Registro de projeto de produto: são desenhos das peças e/ou dados eletrônicos utilizados para transferir as informações necessárias para produzir um produto; 2. Documento de alteração de engenharia: quaisquer alterações autorizadas de engenharia que tenham sido incorporadas no produto, peça ou ferramental. Documenta o projeto original e mostra a definição detalhada de mudanças. Esses documentos são conhecidos como modificação de especificação (ME): quando algo for alterado, precisa ser aprovado pelos envolvidos no processo; 3. Aprovação de engenharia: o cliente tem a prerrogativa de solicitar que seu departamento de engenharia acompanhe e aprove determinados documentos ou processos antes da aprovação final do PPAP; 4. FMEA de projeto: análise do modo e efeitos das falhas potenciais do projeto revisado e assinado pelo fornecedor e pelo cliente. Caso o cliente seja responsável pelo projeto, geralmente não compartilha esse original com o fornecedor. No entanto, a lista de todas as características críticas ou de elevado impacto do produto deve ser compartilhada com o fornecedor; 5. Diagrama do fluxo do processo: indica todas as etapas e a sequência no processo de fabricação, incluindo retrabalhos ou reparos; 6. FMEA de processo: análise do modo e efeitos de falhas potenciais do processo, assinado pelo fornecedor. O FMEA de processo segue as etapas do fluxo e indica os erros que podem ocorrer durante a fabricação; 7. Plano de controle: é uma descrição que define os controles aplicáveis a peças de produção e processos e que, no mínimo, devem contemplar as características especiais e os requisitos de engenhariado cliente; 8. Estudo de análise do sistema de medição (MSA): é o entendimento das fontes de variação que podem influenciar os resultados gerados pelo sistema de medição; 9. Resultados dimensionais: avaliações mensuráveis que asseguram a montabilidade e a usabilidade do produto de acordo com as especificações do cliente; 21 10. Registros de ensaios materiais e de desempenho: são os testes e ensaios necessários para garantir o atendimento aos requisitos químicos, metalúrgicos e físicos do cliente; 11. Estudos iniciais do processo: estudos de curto prazo conduzidos para obter informações antecipadas sobre o desempenho de processos novos ou revisados, relativos aos requisitos internos ou do cliente; 12. Documentação de laboratório qualificado: comprovação de que os laboratórios utilizados para ensaios especificados pelo cliente têm competência para tal; 13. Relatório de aprovação de aparência (RAA): cópia do relatório da aprovação de aparência do formulário de inspeção de aprovação da aparência (AAI) assinado pelo cliente; 14. Amostra do produto: quantidade predefinida de peças que podem ser usadas para, por exemplo, ensaios e montagem de veículo protótipo; 15. Amostra-padrão: peça aprovada no ensaio dimensional mantida pela organização para comprovar o atendimento aos requisitos químicos, físicos, metalúrgicos e dimensionais especificados pelo cliente; 16. Auxílios para verificação: dispositivos, calibres e padrões fornecidos pelo cliente para auxiliar a organização a controlar a qualidade do produto; 17. Registros de conformidade com requisitos específicos do cliente: requisitos adicionais ao PPAP, estabelecidos pelo cliente para atender critérios particulares; 18. Certificado de submissão de peça de produção: formulário que formaliza o processo completo do PPAP. Esse formulário mostra a razão para submissão (mudança de projeto, revalidação anual etc.) e o nível dos originais submetidos ao cliente. O PPAP é detalhado e demorado, por isso seu pacote inclui documentação de várias ferramentas multifuncionais, além de documentar a capacidade de o fornecedor atender a todos os requisitos do cliente. O PPAP fornece informações adequadas para mostrar que todas as áreas foram cuidadosamente revisadas e que apenas produtos de alta qualidade sejam enviados ao cliente final. 22 FINALIZANDO Finalizamos mais uma aula! Hoje abordamos o detalhamento do projeto do produto. Vimos que um projeto demanda uma série de documentos para sua execução e formalização e, com isso, a comunicação do projeto fica mais clara, envolvendo todos os participantes. Os protótipos são importantes ferramentas para conhecer o produto desenvolvido e seu design, pois com eles é possível ter uma noção do seu formato e fazer testes iniciais. Também estudamos softwares para gerir dados do produto e sua importância na organização da documentação pertinente ao projeto. Por último, conhecemos o PPAP, muito utilizado pela indústria automotiva para validar novos produtos e fornecedores de forma padronizada, apoiado por um método sistemático e organizado. 23 REFERÊNCIAS BACK, N.; LEAL, L. C. M. Uma metodologia de planejamento de teste de produtos industriais. Production, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 61-69, 1992. HAMMES, J. Implantação dos procedimentos PPAP no ERP para utilização dos clientes da empresa Tecnicon. 2014. 121 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2014. HOHL, G. Estudo aplicado de gerenciamento de dados do produto. Revista Brasileira de Mecatrônica, [S.l.], v. 2, n. 1, p. 1-13, 2019. IQA – Instituto da Qualidade Automotiva. Manuais AIAG. 2013. Disponível em: <http://www.iqa.org.br/publicacoes/manuais-aiag>. Acesso em: 23 set. 2020. MONTEIRO, M. T. F. A impressão 3D no meio produtivo e o design: um estudo na fabricação de joias. 2015. 130 p. Dissertação (Mestrado em Design) – Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, p. 130, 2015. NASCIMENTO, D. F. Documentação no desenvolvimento de novos produtos. 2015. 54 p. Monografia (Especialização em Engenharia de Produção) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ponta Grossa, 2015. PEITER F. Terceirização da avaliação e aprovação PPAP de Itens comprados incidentais e menores da John Deere Brasil. Programa de Pós- Graduação em Engenharia Mecânica, Horizontina, 2009. ROMEIRO, E. et al. Projeto do produto. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 2013. ROZENFELD, H. et al. Gestão de projetos em desenvolvimento de produtos: uma referência para a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006. SELEME, R.; PAULA, A. Projeto de produto: planejamento, desenvolvimento e gestão. Curitiba: InterSaberes, 2013. SILLOS, M. A. et al. Gestão de configurações e ramp-up de novos produtos: estudo de caso em uma empresa brasileira de base tecnológica. Produto & Produção, Porto Alegre, v. 13, n. 1, p. 131-1471, 2012. SILVA, D. F. M. Estudo de desenvolvimento dos requisitos para submissão do processo de aprovação de peça de produção – PPAP aplicado na 24 indústria de motores elétricos. 2017. 95 p. Monografia (Especialização em Engenharia de Produção) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2017. SORDI, J. D.; VALDAMBRINI, A. Aplicabilidade da realidade virtual no desenvolvimento de protótipos: análise de sua utilização na Volkswagen do Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO- ENEGEP, 1. Rio de Janeiro. Anais… Rio de Janeiro: Abepro, 2006. VOLPATO, N. Manufatura aditiva: tecnologias e aplicações da impressão 3D. São Paulo: Blucher, 2017.
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