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MENINGITES AGUDAS • As infecções do sistema nervoso central (SNC) representam um dos mais difíceis cenários para os médicos. Cerca de 33% dos casos de meningite crônica são considerados idiopáticos e 50% dos casos de meningoencefalite também são considerados idiopáticos. É uma doença devastadora, especialmente se não diagnosticada e tratada rapidamente. Está entre as 10 principais causas de mortes por infecção. Mesmo para os sobreviventes, pode haver perda cognitiva e distúrbios neuropsicológicos em até 1/3 dos casos. • É um processo inflamatório das meninges e do líquido cefalorraquidiano (LCR), estendendo-se pelo espaço subaracnóide do cérebro e da medula espinhal. Pode ser causado por diversos agentes infecciosos como bactérias, vírus, fungos e parasitas. Além disso, pode ser causado por processos não infecciosos como o trauma. As causas infecciosas são mais importantes, do ponto de vista de saúde pública, devido a possibilidade de ocorrência de surtos. ETIOLOGIA • Streptococos pneumoniae: 30%. • Haemophilus influenzae: 10%. • Neisseria meningitidis: 5%. • Listeria monocytogenes. • Stafilococos aureus. • Escherichia coli. • O principal agente da meningite bacteriana subaguda ou crônica é a Mycobacterium tuberculosis. QUADRO CLÍNICO • Febre: 95%. • Meningismo (cefaleia, rigidez de nuca): 88%. • Nível de consciência (letargia até coma): 78%. • Outros: convulsões, déficits focais, sepse, choque hemodinâmico, petéquias, etc. EXAME FÍSICO • A tríade de Cushing pode estar presente: hipertensão + bradipneia + bradicardia. Quando presente, sinaliza hipertensão intracraniana. • Rigidez de nuca: com o paciente em decúbito dorsal horizontal, é feita flexão anterior da cabeça. O paciente apresenta graus variáveis de resistência à execução da prova. • Sinal de Kernig: flexão involuntária do joelho quando o examinador realizava flexão passiva de 90° graus do quadril com o joelho estendido. Outra definição é a incapacidade do paciente em estender o joelho além de 135° enquanto mantém o quadril flexionado. Quando positivo, o paciente sente dor, resistência e incapacidade de estender o joelho por completo. • Sinal de Brudizinski: flexão de ambas as pernas e coxas em resposta a flexão passiva do pescoço. O examinador coloca uma das mãos abaixo da cabeça do paciente e flexiona o pescoço. Uma flexão espontânea dos quadris e joelhos bilateralmente indica sinal positivo. DIAGNÓSTICO • O padrão-ouro para diagnóstico é através da punção lombar do LCR para avaliação da bioquímica, gram e cultura. Além disso, devemos solicitar: o Hemograma. o Lactato no LCR (>4,2mmol/l). o PCR. o 2 hemoculturas colhidas em acessos diferentes. o Procalcitonina no soro, auxilia a distinguir meningite bacteriana de não bacteriana. • As indicações de realizar TC antes da punção liquórica são: idade > 60 anos, imunocomprometidos, crise epiléptica recente, déficit focal, pepiledema e incapacidade em responder ou obedecer a dois comandos. A ausência destes achados, o valor preditivo negativo é de 97% e a punção é considerada segura antes da TC. Na prática, pede para todos os pacientes, antes da punção. TRÍADE CLÁSSICA TRATAMENTO • A meningite bacteriana é uma emergência infecciosa, portanto deve ser tratada de forma imediata. A aplicação da terapêutica imediatamente a suspeição, diminui consideravelmente a morbimortalidade. • O tratamento varia entre 7 – 14 dias, ou até mais, dependendo da evolução e etiologia. • O isolamento respiratório tem que ser de 24 horas em meningites por meningococo ou hemófilos.* • O tratamento é feito com antibiótico CEFTRIAXONE 2g EV de 12/12 horas*. Quando o paciente é idoso ou imunocomprometido é importante associar AMPICILINA 2g EV de 4/4 horas.* ou VANCOMICINA 1G 12/12 H. • Quando deve ser usado corticoide no tratamento? Preconiza-se o uso de corticoide para pacientes com meningite pneumocócica e por hemófilos, ainda que evidências científicas sejam pobres e controversas. Os corticoides atuam na redução da inflamação e na organização do exsudato inflamatório, consequentemente, diminui a pressão intracraniana. A mais usada é a DEXAMETASONA 0,15mg/kg EV de 6/6 horas por 4 dias. LISTERIA • É uma bactéria que causa meningite em neonatos e idosos. Sempre que adultos imucomprometidos apresentarem febre + alteração da consciência + convulsão ou alteração de nervos cranianos devemos pensar nesse agente. • A avaliação do LCR apresenta pleocitose (neutrofílica ou linfomono). Proteína alta e glicose normal, geralmente. • Tratamento é feito com AMPICILINA e a 2ª opção é o SULFAMETOXAZOL/TMP. PROFILAXIA • Evita casos secundários. É instituída se possível nas primeiras 24 horas (máximo 30 dias após o contato). • É indicada para Hemófilos e Meningococo.* • Quimioprofilaxia para Hemófilos: o Todas as pessoas da residência onde houver + 1 criança < 4 anos. o Crianças institucionalizadas que tiveram contato com o caso. o Todos (adultos e crianças) que tiveram contato íntimo na creche ou escola de crianças < 2 anos de idade, que tenha ocorrido 2 ou + casos de meningite. o O esquema de profilaxia é feito com RIFAMPICINA 10mg/kg (máximo de 600mg) por 4 dias. • Quimioprofilaxia para Meningococo: o Contatos íntimos da mesma residência e contato com caso de meningite. o Colegas de creche, berçário, escola e adultos destas instituições que tiveram contato com o caso. o Outros contatos que tiveram contato íntimo com o caso. o Profissional de saúde que tenha tido contato com secreção sem EPI.* o O esquema a ser usado pode ser RIFAMPICINA 10mg/kg (máximo 600mg) 2x ao dia por 2 dias ou CIPROFLOXACINA 500mg VO ou CEFTRIAXONA 250mg IM 1x. CASO CLÍNICO Paciente masculino, 24 anos, natural e procedentes de Uberlândia, trabalha com serviços gerais. QP: dor de ouvido e de cabeça há 05 dias. HMA: paciente com queixa de otalgia leve e plenitude em ouvido direito há 05 dias, com início após o banho de piscina na cidade de Caldas Novas, apresentando saída de secreção serosa. Relata aplicação de uma solução de óleo aquecido e alho no ouvido para alívio do incômodo. Evoluiu com febre aferida de 39°C e cefaleia frontal pulsátil, refratária aos analgésicos comuns e associada a vômitos. IS: ndn. APP: nega patologias prévias. Nega contato com pessoas que tenham tido doenças febris. EF: Oroscopia normal. Otoscopia normal à esquerda e ouvido direito com preseção de algodão e pequena quantidade de secreção purulenta, sem edema e membrana timpânica íntegra e translúcida. ACV: 78bpm, BRNF em 2T sem sopros. PA 125x76mmHg. AR: MVF sem RA com SatO2 98%. ABD: plano e indolor. SNC: Glasgow 15, sinal de rigidez de nuca, Brudzinski positivo e Lasegue negativo. 1- Qual a principal suspeita? a. Meningite? Otite média aguda? Mastoidite? 2- Você solicitaria algum exame para o caso? a. Hemograma, PCR, glicemia capilar e LCR. Hemograma: Hb 13,1; Ht 38%; plaquetas 294.000; leucócitos 21.800 com 89% de neutrófilos. Creatinina: 0,8; Glicemia 120; Ureia 33; TGP 6; TGO 10; Sódio 146; Potássio 4,1; Cálcio 1,25. Lactato 3,4. PCR 28,74; TTPA 1,43; TP 1,27. LCR: cor semiturvo , 80 hemácias, 1520 células. 85% neutrófilos. Proteínas totais 151,18 (VR 15 a 40); glicose 30 (VR 50 a 80). 3- Qual o tratamento proposto? a. Está infectado? Sim. Comunitária ou hospitalar? Comunitária. Qual o foco? SNC. Quais os germes mais comuns? Gram – (Haemophilus influenzar, Neisseria meningitidis) e Gram + (Streptococcus pneumoniae). CEFTRIAXONE 2G DE 12/12 HORAS + VANCOMICINA 1G DE 12/12 HORAS.
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