Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INFECÇÕES PERINATAIS CASO CLÍNICO 1 • RN nasceu com 40 semanas, de parto vaginal, peso de 2250g, comprimento de 46cm e PC 30cm, com tipagem sanguínea O+ e coombs direto negativo. Apgar 8 e 9 no 1° e 5° minuto. Recebeu todos os procedimentos de rotina com as melhores práticas. • Após nascimento foi colocado no seio materno na primeira hora e permaneceu em alojamento conjunto. • Com 20 horas apresenta icterícia precoce e hepatoesplenomegalia e petéquias no tronco. • Mãe de 18 anos, G3P2A1 informa 3 consultas de pré-natal sem intercorrências. Fez sorologias há 5 meses com resultados negativos. Tipagem sanguínea da mãe O+ e coombs indireto negativos. Nega uso de drogas de vício ou medicamentos no pré-natal. Estilo de vida: refere múltiplos parceiros. • Lista de problemas: o RN termo com baixo peso – RCIU. o Icterícia precoce, mãe e RN O+, coombs direto e indireto negativos. o Hepatoesplenomegalia. o Petéquias. o Microcefalia. o Pré-natal inadequado sorologias > 3 meses. o Estilo de vida – risco biológico. SÍNDROME ZTORCHS • Z: zika + dengue, Chikungunya. • T: toxoplasmose. • O: outros (varicela, herpesvírus, HIV, parvovírus, Chagas). • R: rubéola. • C: citomegalovírus. • H: hepatites. • S: sífilis. EXAMES DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Diagnóstico sorológico no RN: 2 a 5ml de sangue. o Colher amostras para TORCHS, dengue, Chikungunya e Zika (ELISA). o PCR. o Testes rápidos HIV e VDRL. • Exames complementares inespecíficos e de imagem: o Hemograma. o TGO, TGP, bilirrubinas. o Ureia e creatinina. o DHL, PCR e ferritina. o Ecocardiograma. o Fundoscopia e OEA. o USG de abdome e de crânio. o CT de crânio sem contraste ou RNM. INTRODUÇÃO • 0,5 a 2,5% de todos os nascimentos e constituem um grande problema de saúde pública pela elevada morbi-mortalidade. • Difícil diagnóstico na gestante – cursam oligossintomáticas. • No recém-nascido (RN) a grande maioria é assintomática, com surgimento tardio de manifestações clínicas ou até mesmo de suas sequelas. • Os exames sorológicos, disponíveis para o diagnóstico da infecção no período neonatal imediato, isoladamente, não definem o diagnóstico. • A transferência via placenta, de anticorpos maternos da classe IgG durante a vida fetal, é um fator que dificulta a interpretação dos resultados. • A anamnese materna com enfoque na história social, gestacional e perinatal, e exame clínico do RN, e exames sorológicos pareados, mãe e RN, tornam-se fundamentais para aumentar a acurácia e precisão diagnóstica. TESTAGEM PARA PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO VERTICAL • Os testes que devem ser realizados pela gestante para prevenir a transmissão vertical de infecções são: o Sífilis: na primeira consulta do pré-natal (idealmente, no primeiro trimestre da gestação), no início do terceiro trimestre (28ª semana) e no momento do parto ou aborto, independentemente de exames anteriores. o Hepatite B: na primeira consulta do pré-natal (idealmente, no primeiro trimestre). Se o resultado for não reagente e não houver história de vacinação prévia, recomenda-se a vacinação. Caso a gestante apresente-se no momento do parto sem ter realizado todas as doses da vacina, deve-se proceder à testagem dessa gestante para hepatite B na maternidade. o HIV: na primeira consulta do pré-natal (idealmente, no primeiro trimestre da gestação), no início do terceiro trimestre e no momento do parto, independentemente de exames anteriores. o Hepatite C: na primeira consulta do pré-natal (idealmente, no primeiro trimestre da gestação). o Gonorreia e infecção por clamídia: na primeira consulta do pré-natal em gestantes com idade menor ou igual a 30 anos, quando disponível. o Vaginose bacteriana: na primeira consulta do pré-natal em mulheres com alto risco de trabalho de parto pré-termo. o Estreptococo do grupo B: da 35ª à 37ª semana gestacional, realizar coleta de amostra por swab vaginal e endoanal. o Além disso, a testagem para IST deve ser realizada em qualquer momento de exposição de risco e/ou violência sexual. • A medida mais efetiva para a prevenção de IST no recém-nascido é o diagnóstico e tratamento da gestante e de sua parceria. • A infecção pelo herpes simples vírus tipos 1 e 2, normalmente causadoras de úlceras genitais. As gestantes portadoras de herpes simples apresentam risco acrescido de complicações fetais e neonatais, sobretudo quando a infecção ocorre no final da gestação. O maior risco de transmissão do vírus acontece no momento da passagem do feto pelo canal de parto. Recomenda-se a realização de cesariana sempre que houver lesões herpéticas ativas no canal de parto. • A reativação do vírus varicela zoster causando quadros de herpes zoster, recomenda-se a suspensão da amamentação caso haja lesões que acometam a mama e possam ter contato direto com o lactente. A eliminação do vírus pelo leite materno é muito baixa, não há indicação de suspender a amamentação. • Intrauterinas: o Rubéola. o Citomegalovírus. o Parvovírus B19. o Varicela zoster. o HTLV-1. o HIV. o Hepatite B, C. o SARS-CoV2. o Dengue 1,2,3,4. o Treponema pallidum. o Toxopalsma gondi. • Perinatais e neonatais: o Herpes simples 1 e 2. o Varicela zoster. o Enterovírus. o Hepatite B e C. o HIV. o HTLV-1. o Treponema pallidum. • Os modos de contaminação são: hematogênica, transplacentária, ascendente, lesões do trato genital e amamentação. • As manifestações clínicas dependem do agente (tropismo e virulência) e da idade gestacional. A maioria é assintomática ao nascimento. As sintomáticas são lesões isoladas ou lesões multissistêmicas graves com teratogênese e sintomas característicos. ZIKA VÍRUS • Sempre pensar em MICROCEFALIA. • Em 22 de outubro de 2015, em Pernambuco, teve um aumento do número de casos de microcefalia. Em 2015 e 2016 houve um grande surto nas Américas, que desencadeou uma emergência de saúde pública. O pico ocorreu em 2016, reduziu e desde maio de 2017 considera-se que o surto acabou. Foi identificado variante recentemente e está em processo de vigilância pelo risco de novo surto. • As anomalias congênitas associadas à infecção pelo vírus Zika foram observadas logo após a entrada do vírus no território nacional. • A principal medida de combate à infecção é a prevenção, com medidas de controle do vetor e medidas protetivas individuais (uso de repelentes e de roupas com mangas longas e calças compridas), de modo a diminuir a chance de picada pelo mosquito. Ainda não há vacinas para prevenir a infecção pelo vírus e nem tratamento específico. • A transmissão sexual do vírus foi comprovada por inúmeros relatos de casos, sendo a zika considerada uma IST, cuja transmissão sexual pode ser evitada por meio do uso de preservativo. • O diagnóstico precoce da infecção na gestante, por meio de exames de detecção do RNA viral mediante PCR e/ou sorologias, auxilia no rastreamento das gestações de alto risco. • Os exames sorológicos não são recomendados para diagnóstico da infecção aguda e não há recomendação de triagem rotineira no pré- natal. Esses exames também são utilizados no seguimento especializado para a criança que tenha nascido com alguma anomalia congênita. • É um vírus RNA de fita simples da família Flaviviridae. A transmissão é feita pela picada de um mosquito infectado da espécie Aedes e transplacentária. • A infecção pelo vírus da zika durante a gestação está associada a morte fetal, insuficiência placentária, restrição do crescimento fetal e lesões no sistema nervoso central (24 semanas). • Zika tem um neurotropismo (células neurais progenitoras) maior que outras arboviroses. Cerca de 80% das infecções são assintomáticas ou oligossintomáticas, mas cerca de 20% das infecções resultam em doença leve e autolimitada, com febre, erupção cutânea, artralgia e conjuntivite. • Pode causar mortes em pessoas com doenças autoimunes e desordens imunológicas. • É difícil de ser isolado. • Os fatoresde risco para microcefalia são: o Idade gestacional. o Fatores genéticos. o Condição socioeconômica. o Exposição prévia a outros flavivírus. o Características específicas dos anticorpos maternos. • É uma doença de notificação à Vigilância e atenção à saúde dos casos de Síndrome Congênita Associada à infecção por Zika. Notificação como microcefalia e existe o protocolo de investigação. SÍFILIS CONGÊNITA • É o resultado da transmissão da espiroqueta do Treponema pallidum da corrente sanguínea da gestante infectada para o concepto por via transplacentária ou, ocasionalmente, por contato direto com a lesão no momento do parto (transmissão vertical). • A maioria das crianças com a infecção é assintomática ao nascimento e, se não tratadas, poderão apresentar formas graves da doença nos primeiros meses de vida. • O diagnóstico de sífilis congênita permanece complicado, pois a maior parte dos testes sorológicos na criança detectam anticorpos da classe IgG, que podem ser adquiridos por vias transplacentárias de origem materna, podendo não significar infecção fetal. • A doença pode ser prevenida, sendo possível alcançar a eliminação da SC por meio da implementação de estratégias efetivas de diagnóstico precoce e tratamento de sífilis nas gestantes e suas parcerias sexuais. O risco de desfechos desfavoráveis à criança será mínimo se a gestante receber tratamento adequado e precoce durante a gestação. • Resulta de disseminação do T. pallidum em gestante infectada não tratada ou tratada inadequadamente.* • Fatores epidemiológicos associados com alto risco para exposição da gestante à sífilis são: o Pré-natal ausente ou inadequado. o Gestante adolescente. o Uso de drogas ilícitas. o Parceiros sexuais múltiplos. o História de doença transmitida sexualmente na gestante ou parceiro sexual. o Baixo nível socioeconômico e cultural. • 300 mil mortes fetais e neonatais e colocando em risco de morte prematura mais de 200 mil crianças. No Brasil há um aumento constante no número de casos de sífilis em gestantes, sífilis congênita e sífilis adquirida. A elevação nos números é decorrente da disseminação dos testes rápidos, diminuição do uso de preservativos e à redução na administração da penicilina na Atenção Básica e ao desabastecimento mundial da penicilina. • A transmissão vertical da sífilis pode ocorrer em qualquer fase da gestação ou estágio clínico da doença materna. O tempo de exposição do feto e do estágio clínico da doença materna. Quanto mais recente a infecção materna não tratada, tanto maior o risco. 60 a 100% na sífilis primária ou secundária, reduzindo para cerca de 30% nas fases de latência (precoce ou tardia). • No teste não treponêmico, um título maior que o materno em pelo menos duas diluições (ex: materno 1/4 e RN maior ou igual a 1/16) é indicativo de infecção congênita. No entanto, a ausência desse achado não exclui a possibilidade do diagnóstico de SC. • O título do teste não treponêmico do recém-nascido igual ou inferior ao materno não exclui completamente a sífilis congênita, mesmo nas mães adequadamente tratadas. • Não há correlação entre a titulação dos testes treponêmicos do RN e da mãe que possa sugerir SC. Dessa forma, não se recomenda a realização do teste treponêmico no bebê até os 18 meses. O teste treponêmico só é recomendado após os 18 meses. • Não existe uma avaliação complementar que determine com precisão o diagnóstico da infecção pela sífilis na criança. Assim, esse diagnóstico exige uma combinação de avaliação clínica, epidemiológica e laboratorial. • Nessas perspectiva, a conduta de identificar adequadamente crianças expostas (mas não infectadas) é tão importante quanto detectar e tratar crianças com sífilis congênita, para não submeter as crianças expostas a condutas desnecessárias, como exames invasivos e internações prolongadas. • A avaliação inicial da criança exposta à sífilis ou com sífilis congênita é realizada especialmente na maternidade/casa de parto, considerando os seguintes aspectos: o Histórico materno de sífilis quanto ao tratamento e seguimento na gestação. o Sinais e sintomas clínicos da criança (na maioria das vezes ausentes ou inespecíficos). o Teste não treponêmico periférico da criança comparado com o da mãe: testagem simultânea da mãe e da criança, no pós-parto imediato, com o mesmo tipo de teste não treponêmico, configura o melhor cenário para a determinação do significado dos achados sorológicos da criança. CRITÉRIO DE CURA E TRATAMENTO • Tratamento for completo, adequado para o estágio da doença. É feito penicilina benzatina. Evidência de queda de títulos (teste sorológico não-treponêmico). Respeitando o intervalo entre as doses. Documentação de queda do título do teste não treponêmico (vdrl) em pelo menos duas diluições em 6 meses ou 12 meses. TRATAMENTO NÃO ADEQUADO • Qualquer medicamento que não seja a penicilina. • Ou incompleto mesmo tendo sido feito com penicilina. • Ou inadequado para a fase clínica da doença. • Ou início do tratamento no período inferior a 30 dias antes do parto. • Ou ausência de documentação de tratamento anterior para sífilis. OBS: a ausência da informação de tratamento da parceria sexual deixa de ser um dos critérios de notificação de sífilis congênita, mas segue sendo imprescindível a avaliação clínica de risco de reinfecção pela gestante. IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO • Gestantes com sífilis precoce não tratada, 40% das gestações resultam em aborto espontâneo. • Tratamento adequado: 1 a 2% das crianças com SC. • Gestantes não tratadas: 70 a 100% com SC. • Tratamento ineficaz, 11% natimortos a termo e 13%, prematuros ou baixo peso ao nascer e 20% dos RNs → sinais sugestivos de SC. QUADRO CLÍNICO DA SÍFILIS CONGÊNITA • Precoce e tardia: o Pênfigo palmo plantar, lesões de pele descamativas. o Rinite mucopurulenta – fronte olímpica. o Pseudoparalisia de Parrot – osteocondrite e periostite (tíbia em sabre). o Dentes de Hutchinson. • A sífilis congênita tardia é nas crianças maiores de 2 anos. E as manifestações mais comuns são anormalidades dentárias, desenvolvimento pobre de maxila, palato em ogiva, nariz em sela, fronte olímpica e ceratite intersticial. Já as menos comuns são tíbia em sabre, rágades, surdez, retardo mental, hidrocefalia, escápula em clarão, articulações de Clutton (efusão de joelhos). SEGUIMENTO • Se os títulos do VDRL estiverem caindo nos primeiros 3 meses e negativarem entre 6 a 18 meses de vida, a criança foi tratada de maneira correta. • Diante da elevação do título sorológico ou da sua não negativação até os 18 meses, reinvestigar a criança e proceder ao retratamento. • Nos casos de LCR inicialmente alterado, a criança deve ser submetida à coleta de LCR a cada 6 meses, até sua normalização bioquímica, citológica e sorológica. Espera-se que o VDRL no LCR negative por volta dos 6 meses de idade e que o quimiocitológico normalize em 2 anos. • Alterações liquóricas persistentes indicam necessidade de reavaliação clínico-laboratorial completa e retratamento. • As crianças tratadas de forma inadequada, na dose e/ou tempo preconizado, devem ser convocadas para reavaliação clínico-laboratorial e REINICIADO o tratamento, de acordo com os esquemas anteriormente descritos.
Compartilhar