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Semiologia Laíse Marques - T8A MENINGITES DEFINIÇÃO A meningite é uma inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. EPIDEMIOLOGIA ● No Brasil - endêmica. ● Casos da doença são esperados ao longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais. ● Meningites bacterianas: mais comum no outono-inverno. ● Meningite virais: primavera-verão. ● Sexo masculino é o mais acometido pela doença. CAUSAS Bactérias, vírus, fungos e parasitas. ● Meningites virais e bacterianas: maior importância, alta ocorrência e potencial de produzir surtos. ● Processos inflamatórios: câncer (metástases para meninges), lúpus, reação a algumas drogas, traumatismo craniano e cirurgias cerebrais. MENINGITE BACTERIANA ● Doença de notificação compulsória ● Diagnóstico precoce é imprescindível ● Ideal identificar o agente etiológico e instituir o esquema terapêutico mais eficaz. Síndrome de Waterhouse-Friderichsen: Complicação grave da meningite meningocócica e por pneumococos. ● Insuficiência adrenal aguda - colapso vascular, vasculite e lesões cutâneas, alta taxa de mortalidade. ● Ocorre em todas as idades e por diferentes microrganismos. ● Período de incubação: 2 a 10 dias, com exceção - meningite por pneumococo, variável com a idade (0 a 60 dias). Causas ● Disseminação hematogênica (bacteremia). ● Por extensão direta - sinusite aguda/ otite média. ● Patógenos mais comuns em adultos: - Streptococccus pneumoniae (pneumococo). - Neisseria meningitidis (meningocococo). Agentes mais comuns por idade: ● 0 a 2 meses: estreptococos do grupo B, enterobactérias, estafilococos, pseudômonas e Listeria ● 2 meses a 5 anos: Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae ● Acima de 5 anos: Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae ● Acima de 50 anos: Listeria monocytogenes. S. pneumonia ● Diplococo gram-positivo ● Causa mais comum de meningite bacteriana em adultos. ● Provoca mais comumente pneumonia. ● Ausência de pneumonia não exclui o diagnóstico. N.Meningitidis ● Diplococo gram-negativo, segunda causa mais comum. ● Súbita e devastadora, progredindo rapidamente em apenas algumas horas. ● Suspeita imediata - exantema maculopapular que não empalidece (50% dos pacientes). Complicações: ● Choque → infarto e insuficiência suprarrenal (síndrome de Waterhouse-Friderichsen); coagulação intravascular disseminada, insuficiência cardíaca; e púrpura fulminante (sangramento cutâneo difuso e necrose). Listeria monocytogenes ● Bastonete gram-positivo ● 5 a 8% dos casos de meningite bacteriana ● Principalmente em recém-nascidos, mulheres grávidas, adultos com mais de 50 anos de idade e pacientes imunocomprometidos. ● Transmitida por alimentos (leite ou queijo contaminados e não pasteurizados). Semiologia Laíse Marques - T8A Sintomas: ● Início súbito: febre alta, letargia ou coma, alteração do nível de consciência, cefaleia, vômitos, sinais de irritação meníngea. ● Lactentes, idosos e imunossuprimidos: um ou mais sintomas estão discretos ou ausentes por completo. ● Cefaleia: sintoma mais comum (80% dos pacientes), seguida de febre e rigidez de nuca. ● Náusea e vômitos. ● Convulsões. ● Sinais neurológicos focais. ● Exantema maculopapular transitório e rapidamente progressivo. MENINGITE VIRAL Causas ● Geralmente benigna e autolimitada ● Enterovírus (80% dos casos) - poliovírus, vírus ECHO, coxsackie A, coxsackie B, além de outros. ● Período de incubação variável. Meningite asséptica - não há comprovação do agente infeccioso bacteriano (culturas de rotina negativas). ● Vírus são as causas mais frequentes. ● Enterovírus (ecovírus, vírus coxsackie e outros enterovírus não poliovírus) - meses de verão. Geralmente, recuperação completa, cefaleia e fadiga podem persistir por vários meses. ● Herpes-vírus - HVS-2. Pode haver presença de lesões genitais. ● HVS-1, vírus varicela-zóster (VVZ) e citomegalovírus - podem causar meningite em pacientes imunocomprometidos. ● HIV - se manifesta na soroconversão inicial e normalmente desaparece sem tratamento. - Não é uma infecção oportunista, é manifestação aguda pelo HIV. Meningite asséptica típica e tende a desaparecer por si só em 2 a 4 semanas. ● Caxumba - devido ao número crescente de crianças que não estão sendo vacinadas, a incidência está novamente aumentando. A meningite continua sendo a complicação extra salivar e extratesticular mais frequente da caxumba. MENINGITE ASSÉPTICA Causas: ● Infecções por espiroquetas, fúngicas, tuberculose (TB) e infecções parasitárias. ● Espiroquetas e bacilo da TB são bactérias com culturas bacterianas de rotina negativas, portanto são consideradas assépticas. ● Infecções por espiroquetas: - Borrelia burgdorferi: doença de Lyme - meningite linfocítica, várias semanas após o aparecimento da erupção cutânea inicial do eritema migratório. - Treponema pallidum: meningite sifilítica, ocorre na sífilis e pode vir associada a um exantema disseminado. - Leptospira: Leptospirose, climas quentes, adquirida por exposição à água ou ao solo contaminados. Início abrupto de febre, mialgias e cefaleia; ocorre em mais de 50% dos indivíduos infectados. ● Fungos: - Cryptococcus: levedura encapsulada. ➔ Importante causa de meningite em HIV e gravemente imunocomprometidos. ➔ Indolente e evolui ao longo de um período de várias semanas. ➔ Sinais e sintomas de pressão intracraniana elevada. ● Tuberculose - meningite basilar subaguda. ➔ Início gradual: cefaleia, vômitos e letargia. ➔ Diagnóstico difícil: esfregaço para BAAR do LCS é negativo, e a cultura leva várias semanas para crescer. ➔ ADA (adenosina desaminase) do LCS é útil, mas se positivo não é específica da TB. Semiologia Laíse Marques - T8A ➔ Outros exames – PPD, (purified protein derivative) ou ensaio de liberação de interferona-gama + RX tórax consistente com TB – levam ao diagnóstico. MENINGITE NÃO INFECCIOSA Causas ● Leucemia, linfoma e carcinoma metastático → carcinomatose leptomeníngea. - LCS - não revela infecção, citologia positiva para células malignas. ● Medicamentos: AINEs, sulfametoxazol-trimetroprima e imunoglobulina IV (IGIV). AVALIAÇÃO INICIAL DO PACIENTE COM IRRITAÇÃO MENÍNGEA ● Desde sua entrada no consultório, observação de seu comportamento: - p. ex. postura antálgica. ● Presença de cefaleia - aguda/subaguda e de forte intensidade - associada a náuseas, vômitos, febre e turvação visual. Meningoencefalite: ● Alteração do status mental ● Acometimento de nervos cranianos (principalmente III, IV, VI e VII) ● Déficits neurológicos focais - paresias e parestesias, dimidiadas ou não ● Crises convulsivas Anamnese bem executada e cuidadoso exame neurológico: levantam e reforçam a suspeita de Síndrome de Irritação Meníngea. PRINCIPAIS MANOBRAS PARA INVESTIGAÇÃO DE IRRITAÇÃO MENÍNGEA Meningismo: sinais e sintomas de irritação meníngea associados à doença febril aguda ou desidratação, com ou sem infecção meníngea. Meningite: inflamação das meninges, por agentes etiológicos infecciosos. Sinais meníngeos: expressão clínica da presença de irritação meníngea que aparecem na realização de manobras em etapas sequenciais. Sinais Meníngeos Sinais de BRUDZINSKI e KERNIG: sensibilidade de 5%, especificidade de 95%. Rigidez de nuca: sensibilidade de 30% e especificidade de 68%. Ausência de sinais neurológicos + sintomas de irritação meníngea → não descarta meningite, especialmente nos quadros infecciosos agudos. Presença de quaisquer desses sinais → fortes indicadores de doença. Rigidez de nuca ● 70% dos casos ● Rigidez da musculatura cervical extensora, com resistência à flexão passiva pelo examinador. ● Graus variados, de acordo com a gravidade. ● Preserva os movimentos de hiperextensão, rotatórios e de lateralização; nos casos mais graves todos os movimentos podem ser afetados. ● Hiperextensão cervical e de toda musculatura axial: posição do arc de cercle, ou opistótono. ● Palpar o tônus da musculatura cervical posterior, mobilizando-se o pescoço do paciente para os lados e fletindo-se subitamente o pescoçodo paciente em decúbito dorsal, com a mão do examinador em seu peito. ● SINAL DE BRUDZINSKI: Flexão reflexa dos joelhos dos membros inferiores, a partir da flexão cervical passiva com o queixo em direção ao peito. ● SINAL DE KERNIG: Paciente em decúbito dorsal horizontal, com flexão passiva da coxa e do joelho, formando ângulos retos com o eixo, e a posterior extensão passiva Semiologia Laíse Marques - T8A do joelho, quando se apresentará resistência e dor na vigência de irritação meníngea ou radicular. ● SINAL DE LASÈGUE: Dor (na mesma região da dor ciática do paciente) desencadeada pela elevação da perna estendida com o paciente em decúbito dorsal. DIAGNÓSTICO/EXAMES COMPLEMENTARES ● Imediatamente: hemograma completo e hemoculturas. ● Chave para o diagnóstico: punção lombar para análise do LCS. ● Se a punção lombar for contraindicada ou retardada, a antibioticoterapia não deve ser adiada. DIAGNÓSTICO ● Aspecto do líquor: não é exame, é um indicativo. ● Líquor normal: límpido e incolor, “água de rocha”. ● Nos processos infecciosos: pode haver turvação. ● A análise do LCS permite: 1. diferenciar as causas bacterianas das virais e de outras causas de meningite 2. identificar o microrganismo se a coloração de gram for positiva. 3. realizar testes definitivos para definir a etiologia precisa e a sensibilidade do microrganismo aos antibióticos. Os testes essenciais do LCS a serem solicitados incluem: ● Contagem de células e contagem diferencial. ● Níveis de glicose e proteína. ● Coloração de Gram. ● Culturas (bacterianas, virais e, se o paciente for imunocomprometido ou apresentar outros fatores de risco, fúngicas) e teste da reação em cadeia da polimerase (PCR, do inglês polymerase chain reaction) (tanto viral quanto bacteriana). TC de crânio: indicada antes da realização de uma punção lombar somente se houver suspeita de aumento da pressão intracraniana, que pode levar à herniação quando o LCS é retirado durante a punção lombar. Suspeitar quando: ● Anormalidades neurológicas no exame: papiledema - indicativo de elevação da pressão intracraniana. ● Convulsão. ● Imunocomprometimento. Semiologia Laíse Marques - T8A TRATAMENTO Terapia de suporte: ● Hidratação cuidadosa para não haver aumento da pressão intracraniana. ● Anticonvulsivante se necessário. Corticoides: ● Benefício nas meningites por Haemophilus influenzae, reduz sequelas e mortalidade; ● Nas meningites por pneumococos e meningococos, seu uso é discutível; ● Dexametasona 0,15 mg/kg (máx. 10 mg), IV, 6/6 horas antes ou no momento da primeira dose de antibiótico Anticonvulsivante: Indicado para todas as crianças e adultos com quadro convulsivo ou com história de convulsões. ● Fenobarbital: para adultos, VO ou IM, 100 a 200 mg, 12/12 horas; para crianças, 3,5 mg/kg/dia, 12/12 horas. ● Pode ser associado ou não à fenitoína: para adultos, VO ou IV, 100 a 200 mg/dia, 12/12 horas; para crianças, 6 mg/kg/dia, 12/12 horas Antibióticos - considerar três condições clínicas: ● Agente etiológico comprovado. ● Sem comprovação do agente etiológico. ● Idade do paciente. Antibioticoterapia empírica em adultos: cefalosporina de terceira geração (ceftriaxona) combinada com vancomicina. Acrescentar ampicilina em pacientes idosos ou imunocomprometidos para fornecer uma cobertura contra Listeria. Aciclovir: IV, empírico, descartada a possibilidade de infecção por HVS, o aciclovir pode ser interrompido. PREVENÇÃO Quimioprofilaxia: para pessoas com contatos respiratórios próximos - ● moradores do mesmo domicílio, ● pessoas que compartilham o mesmo dormitório em alojamentos, ● comunicantes de creches, escolas e demais expostas diretamente às secreções. ● Profissionais de saúde que realizaram procedimentos invasivos - intubação orotraqueal, passagem de cateter nasogástrico sem utilização de equipamento de proteção individual. ● Antibiótico de escolha: rifampicina 600 mg VO 12/12 h, por 2 dias para meningococo e por 4 dias para hemófilo. IMUNIZAÇÃO Imunização ativa: ● Vacina contra Haemophilus influenzae, pneumococo (pneumocócica conjugada 13 valente e pneumocócica polissacarídica 23 valente) ● Vacina contra meningococo (meningocócica recombinante B, meningocócicas conjugadas C ou ACWY).
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