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Taquiarritmias 1 Taquiarritmias 💡 Definidas pela presença de FC 100bpm. As taquicardias supraventriculares TSV têm sua origem acima do feixe de His (em qualquer região dos átrios ou do NAV. As taquicardia ventriculares TV originam-se nos ventrículos. A fibrilação atrial é a arritmia cardíaca sustentada mais comum na prática clínica. Fisiopatologia Os principais mecanismos são: automatismo anormal, reentrada e atividade deflagrada por pós-potenciais. � Automatismo: aumento na frequência de despolarização de células com capacidade de automatismo, gerando despolarizações espontâneas mais frequentes. a� Relacionado às taquicardias sinusal (foco no NSA e atrial (foco nos átrios). � Reentrada nodal: é necessária a presença de um circuito com duas vias de condução do estímulo, com propriedades eletrofisiológicas, velocidade de condução e períodos refratários distintos. Nesse caso, o estímulo é conduzido anterogradamente por uma das vias, enquanto a outra via encontra-se em período refratário. Ao chegar ao ponto final do circuito de reentrada, o estímulo encontra a via previamente refratária passível de nova despolarização, conduzindo retrogradamente por essa via. a� Relacionado às taquicardias por reentrada nodal TRN, atrioventricular TAV, flutter atrial (macroreentrada no átrio direito) e à maioria das taquicardias ventriculares. � Atividade deflagrada por pós-potenciais: podem ocorrer “abalosˮ na corrente elétrica transmembrana relacionados à movimentação de cálcio no meio intracelular, o que pode gerar um novo potencial de ação. Esses Taquiarritmias 2 “abalosˮ são chamados de pós-potenciais precoces ou tardios, a depender da fase do potencial de ação em que ocorrem. a� Relacionado às intoxicações digitálicas e na TV por Torsades de Pointes. A fibrilação atrial é a arritmia com mecanismo mais complexos. Acredita- se que haja sobreposição dos três mecanismos. Quadro Clínico O sintoma mais comum é a palpitação (ˮbatedeira no peitoˮ). Outros sintomas podem ser tontura, mal-estar e sensação de angústia. Sinais e sintomas que sugerem instabilidade são dispneia, dor torácica anginosa, síncope, hipotensão e rebaixamento do nível de consciência. Na anamnese, buscar pelo uso de drogas estimulantes, como hormônio tireoidiano em fórmulas para emagrecer, excesso de cafeína, energéticos e drogas ilícitas simpaticomiméticas (cocaína, anfetamina). Ao exame físico, analisar FC, simetria do pulso, ausculta cardíaca e ausculta pulmonar. Pacientes com FA podem apresentar-se com sinais e sintomas associados à tromboembolismo sistêmico, como hemiparesias AVEi) e quadro súbito de dor abdominal seguido de diarreia sanguinolenta (isquemia mesentérica). Também é comum a dissociação pulso-frequência ou anisocardiosfigmia. Diagnóstico Avaliação do ECG sinais e sintomas (ver se o paciente está instável ou estável). QRS estreito: geralmente, TSV. QRS largo: geralmente, TV. Checar eletrólitos (principalmente K e Mg). Se TV, buscar marcadores de necrose do miocárdio (isquemia é a principal causa). Taquicardias Supraventriculares Taquiarritmias 3 Taquicardia sinusal: ritmo regular com onda p sinusal (positiva em DI e aVF antes de todo QRS. Exemplo: página 115 do livro de Clínica Médica Cardiologia e Nefrologia) do Sanar. Taquicardia atrial: presença de onda p distinta da sinusal, com frequência atrial superior a 100bpm. Se houver ritmo irregular, com 3 ou mais morfologias de onda p na mesma derivação, é chamado de taquicardia atrial multifocal. Exemplo: página 115 do livro de Clínica Médica Cardiologia e Nefrologia) do Sanar. Flutter atrial: presença de ondas F (serrilhado na linha de base) com FC entre 240 e 340bpm, negativas nas derivações inferiores (circuito anti- horário) e geralmente positivas em V1. Exemplo: página 116 do livro de Clínica Médica Cardiologia e Nefrologia) do Sanar. Fibrilação atrial: ritmo irregular com ausência de onda P e tremor na linha de base (onda F. Exemplo: página 117 do livro de Clínica Médica Cardiologia e Nefrologia) do Sanar. Taquicardia por reentrada nodal: ritmo regular, com QRS estreito e ausência de onda p. Fora da taquicardia, o ECG é normal. Exemplo: página 117 do livro de Clínica Médica Cardiologia e Nefrologia) do Sanar. Taquicardia por reentrada atrioventricular: ritmo regular, com QRS estreito e ausência de onda p. Presença de um feixe anômalo entre átrio e ventrículo. Fora da taquicardia, o ECG apresenta PR curto, onda delta, alargamento de QRS e alterações de repolarização. Exemplo: página 118/119 do livro de Clínica Médica Cardiologia e Nefrologia) do Sanar. A síndrome de Wolff-Parkinson-White WPW corresponde à pré- excitação relacionada a episódios de taquicardia paroxísticos sintomáticos. Taquiarritmias 4 Taquicardias Ventriculares Taquicardia ventricular monomórfica: QRS largo com ritmo regular e mesma morfologia. Exemplo: página 120 do livro de Clínica Médica Cardiologia e Nefrologia) do Sanar. Taquicardia ventricular polimórfica: QRS largo com ritmo irregular e morfologias diferentes. Exemplo: página 120 do livro de Clínica Médica Cardiologia e Nefrologia) do Sanar. Torsades de Pointes: tipo específico de TV polimórfica em que os complexos QRS aumentam e diminuem, como e houvesse mudança no eixo ou “torção das pontas .ˮ Exemplo: página 120 do livro de Clínica Médica Cardiologia e Nefrologia) do Sanar. Fibrilação ventricular: ritmo completamente irregular e bizarro, em que não é possível identificar complexos QRS. Não é passível de pulso, portanto, é ritmo de PCR. Exemplo: página 120 do livro de Clínica Médica Cardiologia e Nefrologia) do Sanar. Diagnóstico Diferencial Febre, hipertireoidismo, TEP, anemia, ansiedade, dor, uso de drogas, sepse, etc. Distúrbios hidroeletrolíticos (hipomagnesemia e hipocalemia), uso de antiarrítmicos e isquemia miocárdica podem predispor o aparecimento de determinadas taquicardias. Tratamento É necessário identificar se a taquicardia é instável (tratamento imediato) ou estável (investigação é possível). MOVE Monitorização. Taquiarritmias 5 Oxigenioterapia, se hipoxemia. Acesso venoso. Exames ECG de 12 derivações). Taquicardias Instáveis Quando apresentam alterações hemodinâmicas que ameaçam a vida → encaminhar o paciente para a emergência para monitorar os sinais vitais, suplementação de O2 (se necessário) e acesso venoso. Principais sintomas: dor torácica anginosa, dispneia (por IC, desmaio, diminuição de PA (hipotensão), diminuição do nível de consciência → 5 Ds. Um critério é suficiente para considerar o paciente instável. O tratamento de escolha é a cardioversão elétrica sincronizada CVES, realizada de imediata. O procedimento despolariza todo o miocárdio e permite que as células do NSA reassumam o controle do ritmo cardíaco. O paciente deve ser orientado e receber sedação e analgesia. O botão de sincronização deve ser acionado no desfibrilador. Assim, a carga só será liberada durante o QRS (despolarização) para evitar o fenômeno R sobre T (quando a carga é aplicada durante a repolarização — onda T , podendo evoluir com TV ou FV e PCR. As cargas iniciais dependem da morfologia do QRS Regular (largo ou estreito): 100J. Estreito irregular (geralmente FA 120 a 200J (bifásico) ou 200J (monofásico). Largo irregular: carga de desfibrilação (não sincronizado). Após o primeiro choque, se não houver reversão para ritmo sinusal, choques subsequentes poderão ser administrados com aumentos progressivos da carga 100 150 200J. Após a reversão, o paciente deve ser mantido em monitorização até recuperar-se da anestesia. Drogas antiarrítmicas podem ser necessárias a depender do caso, como amiodarona de manutenção em casos de TV. Sempre obter novo ECG após a reversão! Taquiarritmias 6 Taquicardias Estáveis A conduta se baseia em: duração do QRS (se largo — 0,12s — ou estreito — 0,12s), e regularidade do QRS (regular ou irregular). QRS ESTREITO E REGULARAs possibilidades incluem: taquicardia sinusal, taquicardia atrial, flutter atrial, taquicardia por reentrada nodal TRN e taquicardia por reentrada atrioventricular TAV. Se taquicardia sinusal, procurar e tratar o fator desencadeante. A conduta inicial é realizar manobras vagais, que levam à bradicardia. Massagem do seio carotídeo, manobra de Valsalva. A massagem do carotídeo está contraindicada em pacientes com aterosclerose carotídea. Deve ser evitada em idosos 65 anos, pacientes com sopro carotídeo ou com fatores de risco para aterosclerose. Manobra de Valsalva modificada: paciente começa a manobra sentado, faz a expiração forçada e, ao final de 10 a 15 segundos, é deitado e as pernas são elevadas em 45º por mais 15 segundos. Se as manobras não forem eficazes, o próximo passo é administrar adenosina, droga que inibe o NAV e tem pico de efeito e duração rápida. Reverte as taquicardias que dependem do NAV para a manutenção TRN, TAV. Administrar em bolus EV com flush de solução salina e elevação do membro para chegar rapidamente à circulação central. Dose inicial de 6mg, podendo ser repetida com doses amis altas. Contraindicada em caso de broncoespasmo (crise asmática ou DPOC exacerbado). Se não houver resposta à adenosina, segue-se com a administração de drogas antiarritmicas. Metoprolol: 5mg EV (máximo de 15mg). Contraindicado para broncoespamo e ICC. Diltiazem: 0,25mg/kg EV. Contraindicado em caso de ICC e disfunção ventricular esquerda. Taquiarritmias 7 Verapamil: 5 a 10mg EV em bolus. Contraindicado em caso de ICC e disfunção ventricular E. Deslanosídeo: 0,4 a 0,8mg EV em bolus. Contraindicado em caso de insuficiência renal. Amiodarona: 150 a 300mg EV diluído em SF em 10 minutos. Em relação ao controle ambulatorial, na presença de pré-excitação, drogas que reduzem a condução pelo NAV devem ser evitadas, pois aumentam a chance de condução pelo feixe anômalo e, por consequência, o risco de morte súbita. As drogas antiarrítmicas de escolha para prevenir recorrência de TSV em paciente com pré-excitação são propafenona e procainamida (contraindicadas na presença de doença arterial coronariana ou doença cardíaca estrutural). Betabloqueador e BCC aumentam a mortalidade em casos de TAV. Pacientes idosos e com insuficiência renal estão sob maior risco de intoxicação por digitálicos. Sinais de intoxicação digitálica: náuseas, vômitos, taquiarritmias e xantopsia (visão amarelada). QRS ESTREITO E IRREGULAR A FA é a principal hipótese. Condição muito comum na prática clínica, principalmente em pacientes mais idosos e com cardiopatia estrutural. A FA pode ser classificada de acordo com a sua apresentação clínica: FA paroxística: revertida espontaneamente ou com intervenção médica em até 7 dias. FA persistente: duração superior a 7 dias. FA permanente: nos casos em que as tentativas de reversão ao ritmo sinusal não serão mais instituídas. O tratamento inicial, na emergência, deve ser o controle da FC com antiarrítmicos (tomar cuidado com a amiodarona, pois pode ocorrer reversão para ritmo sinusal). O verapamil e o diltiazem não devem ser utilizados em pacientes com disfunção ventricular esquerda ou ICC. A reversão para ritmo sinusal deverá levar em conta o tempo do início dos sintomas, pelo risco de tromboembolismo. Taquiarritmias 8 Pacientes com FA 48h de duração podem realizar cardioversão elétrica ou química (com amiodarona), sem necessidade de anticoagulação prévia. Pacientes com FA com duração mais prolongada devem iniciar anticoagulação por pelo menos 3 semanas antes da tentativa de cardioversão, seguido por, no mínimo, quatro semanas de tratamento anticoagulante. Se for realizado ECO TE e não houver trombos no AE, a CVES pode ser realizada com segurança. O escore CHA2DS2VASc ajuda a avaliar o risco de tromboembolismo na FA. CHA2DS2VASc PONTUAÇÃO Congestive heart failure/left ventricular dysfunction 1 Hypertension 1 Age 75 years 2 Diabetes Mellitus 1 Stroke/transient ischaemic attack 2 Vascular disease 1 Age 6574 years 1 Sex category (female) 1 Se a pontuação for: 0 anticoagulação não deve ser instituída. 1 anticoagulação pode ser instituída, a depender do risco de sangramento e preferências do paciente. 2 ou mais: anticoagulação deve ser instituída. Além do CHA2DS2VASc, também devemos avaliar o risco de sangramento pelo escore HASBLED. HASBLED PONTUAÇÃO Hipertensão não controlada 1 Função renal e/ou hepática anormal 1 para cada AVC 1 Sangramento 1 INR lábil 1 Taquiarritmias 9 Idade 65 anos 1 Se o escore for de 3 ou mais, o paciente tem alto risco de sangramento e deve ser monitorizado com mais frequência. A terapia anticoagulante envolve, tradicionalmente, drogas cumarínicas (varfarina). Seu efeito deve ser monitorizado pelo tempo de protrombina (avaliado pelo INR. Em geral, após o início da varfarina, um controle de tempo de protrombina deve ser solicitado em, aproximadamente, 5 dias. Essas drogas, porém, apresentam diversas interações medicamentosas e com alimentos, o que dificulta manter o paciente na faixa terapêutica INR entre 2 e 3. Os anticoagulantes orais modernos que não necessitam de monitorização dos tempos de coagulação estão contraindicados na FA relacionada à estenose mitral moderada ou severa FA valvar) e na presença de próteses valvares mecânicas. Dabigatrana, Rivaroxabana Xarelto), Apixabana, Edoxabana. QRS LARGO E REGULAR A principal hipótese é TV monomórfica. Apesar de estável, o paciente tem potencial para piora clínica rápida e, por isso, deve ser monitorado em sala de emergência. O tratamento inicial é a tentativa de cardioversão química com amiodarona. Na ausência de resposta, o próximo passo é a CVES. Deve-se investigar a presença de isquemia miocárdica ECG e troponina). O cardiodesfibrilador implantável CDI está indicado em pacientes sobreviventes de episódios de TV hemodinamicamente instável e portadores de cardiomiopatia isquêmica com disfunção de VE grave. QRS LARGO E IRREGULAR Incomum na prática clínica. Em geral, apresentam-se instáveis ou prestes a instabilizar. Por esse motivo, a conduta imediata é a desfibrilação com carga máxima, tendo em vista que, com a desorganização completa do ritmo, não é possível sincronizar o choque com a onda R. Taquiarritmias 10 No caso de Torsades de Pointes, o tratamento mais efetivo é o sulfato de magnésio 1 a 2g EV. Se não houver resposta, deve-se proceder à desfibrilação.
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