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Reforma do Poder Judiciário

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INSTITUTO DE DIREITO POBLlCO E CIINCIA POUTICA 
REFORMA DO PODER JUDICIARIO" 
Presidente: THEMISTOCLES BRANDÃo CAVALCANTI 
Coordenador: ARMANDo DE OLIVEIRA MARINHo 
Participantes: OLAVO TOSTES FILHO; OSWALDO TRIGUEIRO; LUIZ ANTÔNIO 
SEVERO DA CoSTA; CAIO MÁRIo DA SILVA PEREIRA. 
Presidente - Dentro do plano de trabalho do Instituto de Direito Público 
e Ciência Política, não poderíamos deixar de nos interessar pela reforma 
do Poder Judiciário, proposta pelo Governo ao Congresso Nacional. 
Fizemos aqui há algum tempo uma mesa-redonda, quase que com os 
mesmos participantes, sobre o tema, mas agora já existe o texto proposto 
pelo Governo. Colocando a questão em termos mais objetivos: o Congresso 
Nacional já está examinando a matéria. Existe uma comissão nomeada 
para dar parecer à proposta do Governo, cujo relator é o Senador Accioly 
Filho que estaria, segundo estou informado, preparando um substitutivo. 
De maneira que esta reunião de hoje - espero fazer uma outra talvez no 
próximo mês - se destina, precisamente, a examinar o problema objeti­
vamente. Vamos procurar fornecer dados, soluções e, eventualmente, 
alguma emenda à proposta do Governo. Assim, o nosso trabalho será 
objetivo, não com o sentido de discutir teses, mas de apresentar realmente 
sugestões que possam inspirar o Congresso no exame da reforma proposta 
pelo Governo. 
Tenho a respeito deste assunto - permitam-me falar de trabalhos meus 
antigos - algumas idéias muito resumidas, idéias que lancei há mais de 
40 anos, em 1933, num livrinho que escrevi a respeito da organização 
judiciária proposta no anteprojeto da Constituição de 1934. Vou resumir 
as idéias fundamentais, que tinha proposto naquela época: 
"a) Lei Orgânica da Justiça Nacional, fixando normas para os estados 
organizarem a sua Justiça, bem como dificultando a modificação da divisão 
judiciária; b) Garantias asseguradas aos magistrados e membros do Minis­
tério Público Federal e Estaduais; c) Possibilidade de aumento do número 
de ministros do Supremo Tribunal Federal, mediante processo assegurador 
• Mesa-redonda realizada no dia 21 de dezembro de 1976. 
R. Cio pol., Rio de Janeiro, 21(2) :23·45 abr.ljun. 1978 
da independência dos mesmos; d) Responsabilidade dos membros do 
Poder Judiciário; e) Criação do Tribunal de Reclamações (que foi o que 
se transformou em Tribunal de Recursos); f) Possibilidade de criação de 
hibunais e juízes especializados, abrindo caminho à magistratura do traba­
lho; g) Ação declaratória de inconstitucionalidade das leis; h) Responsa­
bilidade efetiva dos prepostos da União, dos estados e municípios, pelos 
atos lesivos do patrimônio público; i) Normas gerais de interpretação que 
fixem o caráter social da lei; j) Criação do mandato de garantias que dá 
ao Poder Judiciário o meio de assegurar o respeito aos direitos individuais 
lesados pelo Poder Público; k) Incompatibilidade de nomeação de funcio­
nários eletivos para o Poder Judiciário e a inelegibilidade dos membros 
deste; 1) Compulsória para os membros do Poder Judiciário; m) Gratui­
dade da Justiça para os pobres; n) Suspensão de juízes e impedimentos 
de parentes próximos para advogarem em causas a eles afetas." 
Isso foi escrito há 40 anos. Vemos que no projeto existem algumas 
idéias semelhantes a estas e outras já foram adotadas. 
Ao ser elaborada a Constituição da Guanabara, não sei se lembram, mas 
eu redigi o seguinte: 
"O Poder Judiciário do estado será exercido pelos seguintes órgãos: 
Tribunal de Justiça; Tribunal de Alçada; Conselho de Magistratura; Cor­
regedoria da Justiça; Outros tribunais criados por lei, quer dizer, permitia 
a criação de outros tribunais no próprio estado; Juízes e tribunais de 
primeira instância; Tribunal do Júri; Conselho de Assessoria Militar; e inte­
gração do Poder Judiciário a outros órgãos que a lei criar." 
O meu ponto de vista sempre foi esse: dar um pouco de elasticidade 
às disposições constitucionais, de maneira que fosse permitido ao estado 
estabelecer a estrutura judiciária mais conveniente a cada um, inclusive, se 
necessário, quebrando os padrões tradicionais de órgãos de julgamento. 
Estas, as idéias que sempre tive a respeito do assunto, sem falar, espe­
cialmente, na justiça de primeira instância, de preponderante interesse, e 
que cabe a cada estado organizar. A Lei Orgânica da Magistratura, a Lei 
Orgânica do Poder Judiciário é que poderia estabelecer esses padrões. 
Trouxe também aqui um documento que poucos conhecem, que está 
até esquecido. f: o anteprojeto da reforma da Justiça, com a organização 
judiciária da União e dos estados. Esse projeto foi feito em 1933 por uma 
comissão presidida pelo Ministro Bento Faria, constituída por Carlos 
Maximiliano, Cândido de Oliveira Filho, José de Miranda Valverde, Antô­
nio Pereira Braga e Otávio Kelly. f: um documento muito interessante, 
que vale a pena ser relido. f: um pouco minucioso, porque entra em 
detalhes mínimos de organização etc. A meu ver, é detalhado demais, 
mas talvez pudesse, em se tratando de lei orgânica, estabelecer a regula­
mentação do preceito constitucional na parte relativa ao estado, quer dizer, 
ampliando-se um pouco mais. 
Eram estas as palavras que inicialmente eu queria dizer, exprimindo o 
meu ponto de vista pessoal a respeito do assunto. Vou dar a palavra ao 
Prof. Armando Marinho, para que faça suas considerações. 
24 R.C.P. 2178 
Ar1'1U1JUlo de Oliveira Marinho - Sr. Presidente, Srs. Membros desta mesa­
redonda: o aprimoramento das instituições políticas e os meios para alcan­
çá-lo sempre foram a tônica dos estudos que desenvolvemos neste Instituto, 
sob a direção do Ministro Themistocles Cavalcanti. Assim, o Poder Judi­
ciário vem sendo objeto das nossas cogitações, sempre de forma isenta e 
com o único escopo de contribuir para o equacionamento da problemática, 
mercê do oferecimento às autoridades competentes de uma inestimável gama 
de sugestões e críticas, produzidas por homens ilustres como os presentes. 
O verdadeiro significado destas mesas-redondas é informar à opinião 
pública, através do diálogo comprometido apenas com a verdade científica, 
o exato conteúdo dos problemas institucionais, principalmente aos jovens 
advogados, professores, magistrados e estudantes, que herdarão o legado 
dos nossos atos. Assim, os debates deste Instituto sempre se caracterizaram 
por serem despojados de conotações emocionais ou vinculações a qualquer 
outro interesse que não seja o de contribuir, conforme já disse, para o 
aprimoramento institucional do País. 
No dia de hoje, nos voltamos para o estudo do Poder Judiciário. Cumpre 
ressaltar que, desde 1967, o nosso presidente, Ministro Themistocles Caval­
canti, vem orientando o estudo desse assunto, que então já nos preocupava. 
Naquele ano, realizamos, sob minha cGordeaação, duas mesas-redondas, 
com a participação, entre outros, dos Profs. Caio Mário Miguel Reale, do 
saudoso Levi Carneiro, Caio Tácito e Alcino de Paula Sal azar. Delas 
resultou uma conclusão, apresentada em forma de anteprojeto de reforma 
constitucional, que se limitava ao estudo e à estruturação da cúpula do 
Poder Judiciário. Naquela ocasião, inclusive, foi proposta a criação do 
Superior Tribunal Federal de Justiça, como uma maneira de se aliviar o 
trabalho do Supremo Tribunal Federal. 
Em 1974, novamente realizamos três mesas-redondas, das quais parti­
ciparam alguns dos juristas hoje aqui presentes. Naquela oportunidade, 
fizemos mais um trabalho de prospecção, fomos mais objetivos, analisamos 
o quadro da realidade conjuntural e apresentamos sugestões e linhas de 
ação aceitáveis ao consenso geral dos participantes. O resultado desses 
trabalhos foi remetido ao Supremo Tribunal Federal, como uma das inúme­
ras colaborações recebidas por aquela egrégia Corte de Justiça, para 
elaborar o documento conhecido como Diagnóstico do Poder Judiciário, 
que serviu de base à elaboração do projeto de emenda constitucional da 
Reforma do Poder Judiciário, que tanta celeuma vem causando, debatido 
por doutose jejunos e, principalmente, de forma sensacionalista, sem 
nenhum sentido construtivo - nem sempre, é bem verdade, segundo se 
depreende - de quase tudo que nos chegou ao conhecimento em maténa 
de debate. 
Hoje, a nossa incumbência é examinar alguns aspectos, que eu diria 
genéricos, do texto do projeto. Isto depreende-se do questionário a nós 
distribuído. Vamos procurar, certamente, fazer uma avaliação qualitativa 
ãos seus aspectos técnicos, jurídicos, institucionais e operacionais. Dizer se 
o texto correspondeu à expectativa geral, quanto ao fornecimento de uma 
Reforma do Judiciário 2S 
instrumentalidade capaz de melhorar a prestação jurisdicional que é, real­
mente, a nossa preocupação. 
Este, evidentemente, o ponto nevrálgico do problema. Sabemos todos nós 
não ser possível alcançá-lo sem uma reforma ampla e profunda, capaz de, 
conservando o bom, corrigir os defeitos e as distorções. 
Dentro desta ordem de considerações, tenho para mim que a reforma 
do Poder Judiciário deva ser cogitada em três planos: 19 ) Plano institu­
cional, qual seja a modificação, por alteração, supressão ou inovação dos 
preceitos constitucionais regulamentadores e conceituadores do Poder 
Judiciário. 29 ) Plano estrutural ou orgânico, qual seja o de se tracejar uma 
e!>trutura e uma organização eficientes, que inovem e modernizem, rompam 
com o tradicionalismo imobilista e se ajustem à realidade nacional com 
vistas ao futuro. 39 ) Plano operacional ou material, qual seja a cogitação 
das atividades-meio, sem as quais não se alcançam as atividades-fim, in 
casu, a boa prestação jurisdicional. 
São esses três pontos que considero fundamental serem cogitados e equa­
cionados para termos uma reforma do Poder Judiciário que possa, real­
mente, ser chamada de reforma. 
De momento, cabe-nos apenas examinar e debater o plano institucional 
da questão, porquanto temos somente o texto do anteprojeto de reforma 
constitucional. 
Doze foram as indagações propostas pelo presidente desta reunião. 
Examiná-las todas, desafio tentador, seria ocupar muito tempo e me ver 
privado de ouvir e de aprender com os ilustres participantes. Por conse­
guinte, limitar-me-ei a abordar os pontos mais significativos do projeto, 
segundo o meu entendimento, dentro das indagações formuladas. 
À primeira indagação, "Qual a sua impressão sobre o projeto de refor­
ma?", respondo: 
Sob o ponto de vista técnico-legislativo, considero que o projeto está 
bem lançado. Talvez sejam necessários alguns retoques em sua redação. 
O meu conteúdo é amplo e contém modificações substanciais. Engloba 
ic'éias novas, mas já reivindicadas em debates, relatórios, entrevistas, 
conferências etc. 
Não é ele, portanto, fruto de elaboração que se tenha produzido dentro 
de um universo fechado, aproveitando apenas as idéias de seus fautores. 
Na verdade a sua elaboração foi precedida de estudos preliminares colhi­
aos urbi et orbi, levado em consideração o pensamento de juristas antigos 
como Clóvis Bevilacqua, João Mangabeira, o próprio Amaro Cavalcanti, Rui 
Barbosa e o nosso Ministro Themistocles Cavalcanti, que acaba de ler um 
trabalho elaborado em 1933 e que, na realidade, enfeixa toda essa proble­
mática que estamos examinando. 
Considero um projeto corajoso, inovador e realista, que procura lançar 
bases para soluções que ultrapassam os paliativos. :É claro que, no afã de 
todos em colaborar no equacionamento do problema, surgiram inúmeras e 
válidas sugestões. Nem todas puderam ser aproveitadas, daí as opções que 
tIveram de ser tomadas. 
26 R.C.P. 2/78 
A segunda indagação, "O que pensa de uma lei orgânica da justiça?", 
respondo: 
Nada há nos domínios da teoria que exclua de uma Constituição Federal, 
por incompatível com a Federação, o princípio da unidade do direito e da 
justiça. Isso já afirmava Amaro Cavalcanti, socorrendo-se do pensamento 
de José Rigino, para quem a "Federação pode apresentar os mais diversos 
graus de concentração política e fins internos de comunhão". 
Rui Barbosa, na campanha civilista, sustentou a unidade da magistratura 
dentro da Federação. 
Clóvis Bevilacqua era de opinião que a Federação "não exige para os 
estados competência para legislar sobre a organização da magistratura". 
Não vejo como possa a idéia ferir a autonomia dos estados, senão através 
de uma ótica distorcida. 
Este assunto foi amplamente debatido entre nós; em 1974, o Or. Severo 
da Costa nos brindou com uma proposição, ao que parece encampada pelo 
projeto, que eu me permitirei ler agora aqui, a fim de relembrá-Ia a todos. 
"Toma-se necessário um diploma legal que consolide todas as normas 
básicas estruturais do nosso Judiciário, em outras palavras, que seja a sua 
espinha dorsal. Dela constariam os princípios fundamentais, não só de 
ordem estrutural, como de seleção, disciplina ética, sanção etc. O princípio 
federativo seria, evidentemente, respeitado, observadas, todavia, as normas 
de um estatuto orgânico racional." 
Já tivemos, a respeito, o chamado projeto do Ministro Bento de Faria. 
Essa opinião, já trazida à colação dos debates em reunião anterior, eu 
encampo integralmente. Acho viável e, mais que isso, necessária uma lei 
orgânica, desde que não avance a ponto de destruir os princípios da auto­
organização dos estados. E creio ser perfeitamente conciliável a lei orgâ­
nica da magistratura com o princípio de autonomia dos estados. 
Pelo que se depreende do projeto, a matéria não foi tratada de forma 
radical, como trataram os publicistas citados, porque, segundo depreendi 
da rápida leitura que fiz das obras que citei, havia até uma certa posição 
radical, por parte de Amaro Cavalcanti, José Rigino e outros, no sentido 
da unidade da Justiça. :E: aquela velha polêmica, unidade versus dualidade. 
Parece-me que o projeto pretende chegar a um meio-termo. Daí eu ter a 
impressão de que o mesmo propicia a possibilidade de ficarmos numa 
posição equidistante entre a unidade e a dualidade da Justiça. 
Quanto à indagação sobre os Tribunais de Alçada, vou responder sucin­
tamente, se bem que o tema seja merecedor de longas observações. 
Pessoalmente, sou partidário dos Tribunais de Alçada. Vi sua criação 
com grande entusiasmo. Tenho acompanhado, por mister de minha posição 
funcional, o que é o trabalho dos Tribunais de Alçada e os relevantes 
serviços que prestam à Justiça, veículos que são do aceleramento da 
prestação jurisdicional. Acredito que extintos os Tribunais de Alçada, 
tout court, provocar-se-ia um tremendo caos em nossos já tão congestio­
nados Tribunais de Justiça. Seria mesmo um retrocesso. Estes órgãos, como 
disse, vêm prestando inestimáveis serviços e contribuindo, na medida em 
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que lhes permite a infra-estrutura, para a rapidez da prestação jurisdicional. 
As distorções que existirem e que justificariam até certo ponto sua extinção 
seriam facilmente corrigíveis mercê da própria Lei Orgânica. Os Tribunais 
de Alçada poderiam ser especializados: Tribunal Cível, Criminal, Adminis­
trativo etc., eliminando-se as distorções de excessiva autonomia, de admi­
nistração própria, de desuniformidade operacional. 
No entanto, a opção de extingui-los seria válida à medida que os Tri­
bunais de Justiça pudessem absorver todos os integrantes e toda a compe­
tência do Tribunal de Alçada e exercer eficientemente as funções que esses 
tribunais executam. Aí, lança-se desafio à criatividade dos legisladores, 
para, ao extinguirem os Tribunais de Alçada, criarem órgãos capazes de 
suprir suas atividades. Parece, ao que tudo indica, que nos vamos socorrer 
de modelos estrangeiros: o tribunal da Alemanha e o tribunal da Itália. 
Mas será que poderemos novamente lidar com realidades estranhas à nossa? 
Por que não resolvemos os nossos problemas dentro da nossa própria 
realidade? 
Portanto, em princípio, sou favorável à permanência dos Tribunais de 
Alçada e me permito discordar do texto do projeto propondo a sua extin­
ção, desde que regulada a sua competência etc., na Lei Orgânica. 
A indagaçãoseguinte é relativa à criação do Conselho Nacional da 
Magistratura. O assunto foi igualmente ventilado por nós em 74. O Prof. 
Chermont de Miranda apresentou proposição concreta. O projeto cogita 
do Conselho da Magistratura de outra forma, com outro enfoque, com 
outro espírito. Na ocasião, o referido professor nos sugeriu o seguinte: 
para supervisão dos problemas gerais da administração, interessando a 
todos os órgãos da Justiça Federal, com exclusão, apenas, do Supremo 
Tribunal Federal, seria criado o Conselho Superior da Magistratura, presi­
dido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal e integrado pelos pre­
sidentes de todos os tribunais federais e de um representante de cada um 
desses tribunais escolhidos por eleição entre seus pares. A este Conselho 
Superior da Magistratura caberia a iniciativa dos projetos de lei a serem 
encaminhados ao Poder Legislativo, tendo por objeto o estudo, planeja­
mento, eventual execução dos serviços de interesse comum aos órgãos do 
Poder Judiciário federal, particularmente no tocante à utilização dos recur­
sos tecnológicos, tais como serviços de computação, comunicação, publici­
dade, mecanização, proposta orçamentária relativa a toda a Justiça federal, 
excluindo o Supremo Tribunal Federal, regulamentação por lei comple­
mentar do capítulo da Constituição relativo às normas gerais quanto à 
organização da Justiça estadual. Então, o Conselho da Magistratura idea­
lizado pelo Pro f. Chermont e debatido aqui parece-me ter um sentido 
muito mais amplo, mais profundo, mais orgânico, muito mais eficiente 
do que o apresentado no projeto, que nos dá, à primeira vista, a impressão 
de ser um simples órgão de correição, exercitador do poder de polícia. 
Talvez a Lei Orgânica possa dar outro enfoque a este Conselho, mas a 
leitura do projeto, a impressão que nos dá, à primeira vista, é de que seria 
um órgão meramente disciplinador e de correição, quando o Conselho 
da Magistratura se toma também necessário por outros motivos. 
28 R.C.P. 2/78 
o Prof. Alcino Salazar tem uma página notável em seu livro, que consi­
dero antológico, sobre o Conselho da Magistratura; é a página 245, onde 
se lê: "Ponto fundamental da reforma a ser empreendida, já ressaltada, é 
o da instituição de um órgão de cúpula com atribuições de ordem admi­
nistrativa e poder disciplinar dominante." Então, não é só o poder disci­
plinar, é igualmente a função administrativa. 
Olavo Tostes Filho - Ele defendia a unidade da Justiça. 
Armando de Oliveira Marinho - Ele é partidário da unidade da Justiça, 
como podemos observar: 
"Sua finalidade essencial será, a um tempo, a de exercer supervisão do 
funcionamento de todos os órgãos titulares e agentes da área do Poder 
Judiciário, de sorte a preservar sua unidade orgânica e de exercer o pleno 
comando hierárquico quanto aos deveres e responsabilidades funcionais de 
todos." 
Eu me permiti ler o texto porque se trata de um autor moderno, que nos 
traz à colação o velho debate entre unidade e dualidade da Justiça. 
Sr. Presidente, em linhas gerais, são estas as palavras e idéias que trago 
à consideração da mesa. Certamente, os demais componentes irão desen­
volver com maior brilho e mais eficiência os debates. 
Presidente - Vai usar da palavra o Ministro Oswaldo Trigueiro. 
Oswaldo Trigueiro - Há poucos dias um jornal de Brasília publicou 
matéria destacada, na qual me apresentava como contrário à reforma judi­
ciária ou, pelo menos, como pessimista quanto aos seus resultados. Essa 
publicação não é infiel ao meu pensamento, expresso em conferência 
inserta no volume Problemas do governo democrático, de minha autoria. 
Nesse trabalho, em que analisei, entre outros temas, algumas sugestões 
sobre a reforma da Justiça, assim concluí: 
"Estas sugestões, todas oriundas de órgãos de indiscutível autoridade 
apresentam, como sempre ocorre, vantagens evidentes, ao lado de incon­
venientes inevitáveis. O que à primeira vista se pode dizer de todas elas 
é que visam apenas a encontrar solução para o acúmulo de feitos nos 
Tribunais Superiores, onde é comum que uma causa aguarde julgamento 
por mais de 10 anos. Para esse objetivo limitado, qualquer das fórmulas 
em referência será eficaz, porém esta eficácia será dentro de pouco 
tempo anulada pelo crescimento vegetativo do movimento forense. 
A mera expansão do aparelhamento judiciário atenderá a esse objetivo 
imediato, mas não representará uma verdadeira reforma, de alto a baixo, 
no serviço da Justiça, para tomá-lo menos rotineiro, mais dinâmico, e em 
condições de ajustar-se às condições sociais de nosso tempo. O problema 
da Justiça não se resolverá apenas com a instalação de novas comarcas e a 
criação de mais um ou dois tribunais. Estas providências, se bem que 
adequadas para atenderem à expansão do movimento forense, não terão 
o alcance de modificar a Justiça, em seus métodos lentos e antiquados, e 
prepará-la para a época da navegação espacial. 
Talvez já seja oportuno dar-se à Justiça comum - para a composição 
dos pequenos litígios - o caráter de Justiça de conciliação, que dispen-
Reforma do ludiciário 29 
sasse o processo escrito, que se arrasta interminavelmente por várias 
instâncias. Para tanto, poderíamos adaptar às nossas condições o exemplo 
americano, no que diz respeito à institucionalização do judiciário menor, 
que funciona nas grandes metrópoles, através de órgãos especializados para 
c- julgamento sumário das contravenções e processamento das demandas 
de pequeno valor, que não podem suportar os ônus da processualística 
ordinária. Se persistirmos em manter inalterado o sistema vigente, dentro 
de pouco tempo o acesso à Justiça somente será permitido aos ricos e às 
empresas em condições de manter serviço jurídico de caráter permanente. 
Além do mais, parece pouco racional que o juízo que processa a falência 
da Panair e julga o litígio da Manesmann seja o mesmo que deva processar 
e julgar o despejo de um barraco ou executar a cobrança de uma conta 
de botequim. 
Como de início assinalei, no campo judiciário é ainda mais escassa a 
imaginação para reformas ousadas e profundas. Os meios forenses são 
conservadores por índole, mantendo inexplicável fidelidade a práticas e 
concepções que remontam às Ordenações do Reino. 
No Brasil, como em numerosos países, a administração da Justiça 
reclama larga modernização na mentalidade, na estrutura, na forma de 
recrutamento dos juízes, nos métodos de operação, na revisão de privilé­
gios obsoletos. A necessidade de uma reforma dessa natureza certamente 
paira acima de toda controvérsia. Mas essa reforma é tão urgente quanto 
improvável, porque o Poder Judiciário é o mais imutável dos poderes, o 
mais resistente às transformações políticas, ainda quando revolucionárias." 
Se nestas palavras se pode enxergar uma crítica à reforma judiciária, 
terá sido uma crítica avant la lettre, porque elas foram escritas há 11 anos. 
Só por inadvertência elas poderiam ser interpretadas como crítica à proposta 
de reforma constitucional ora em tramitação no Congresso. A respeito desta 
estou me manifestando, nesta mesa-redonda, pela primeira vez. 
Em linhas gerais, estou de acordo com o Dr. Armando Marinho, na 
excelente exposição que acaba de fazer. A reforma da Justiça, sem dúvida, 
~ necessária, imprescindível mesmo, e o Governo mostra-se disposto a 
realizá-la e sua intenção, declaradamente, é a de realizá-la em extensão e 
em profundidade tais que possam dar ao problema uma solução consen­
tânea com o desenvolvimento, o progresso e as necessidades do País. Mas, 
nestes dois anos de pesquisas, de dignósticos, de sugestões de toda sorte, 
criou-se uma expectativa que os fatos dificilmente confirmarão. 
Em geral, os legisladores são inclinados a acreditar como que no poder 
mágico dos textos legais. Quando se elabora uma lei, primorosa em sua 
redação e em sua inspiração doutrinária, sempre se espera que, no dia 
seguinte, tudo mude para melhor. Receio que muita gente esteja conven­
cida de que, aprovada a reforma constitucionaldo Poder Judiciário, desa­
parecerão, do dia para a noite, os defeitos mais graves que afetam o funcio­
namento da Justiça. Precisamos estar prevenidos contra essa ilusão. Mas 
isso não é argumento contra a reforma, que deve ser feita, e que vai ser 
feita, a despeito de sua complexidade e do caráter naturalmente polêmico 
30 R.C.P. 2/78 
de muitas das soluções adotadas no protejo que o presidente da República 
encaminhou ao Congresso Nacional. 
Nos últimos 12 anos o Poder Judiciário já sofreu três ou quatro modifi­
cações. Isso mostra que a Revolução quer reformar a Justiça, mas ainda 
não acertou com os meios de fazê-lo eficiente e satisfatoriamente. Tenho 
a impressão de que, como ocorreu nas vezes anteriores, a reforma se 
preocupa sobretudo com a cúpula do Poder Judiciário, mais precisamente 
com a cúpula judiciária federal. Ora, a meu ver, a cúpula não é o que 
funciona pior na Justiça do País. Nos últimos 12 anos os tribunais federais 
têm funcionado razoavelmente bem. As estatísticas demonstram que os 
tribunais federais, já todos transferidos para a nova capital, estão com o 
seu serviço mais ou menos em dia. O Supremo Tribunal vem julgando, em 
média, oito mil processos por ano, quer dizer, julga pelo menos 20 vezes 
mais que a Corte Suprema dos Estados Unidos. O Tribunal Federal de 
Recursos julga outro tanto. Nos outros tribunais a produtividade é a 
mesma. O retardamento de alguns processos, por vários anos, resulta de 
fatores que não podem ser atribuídos ao sistema, e para cuja correção a 
reforma não sugeriu método eficaz. Nos grandes estados, a começar por 
São Paulo, as estatísticas se expressam em números impressionantes: jul­
gam-se todos os anos dezenas de milhares de causas, o que é indicativo do 
desenvolvimento econômico e cultural do País. 
Então, não é nos tribunais que estão os defeitos maiores da Justiça. 
Estes, a meu ver, se concentram, na primeira instância, na Justiça que está 
em contato direto com o povo, na Justiça das pequenas causas, na Justiça 
das comarcas remotas. Essa é que funciona realmente mal, a Justiça cara, 
complicada, inacessível e que tanto contribui para a descrença popular 
em nossas instituições. Dessa Justiça todos querem fugir e a ela só se 
recorre quando não se encontram meios e modos de composição dos 
pequenos litígios. 
Presidente - Esta é exatamente a questão ventilada no item 5, quer dizer, 
nos dispositivos constitucionais que podem influir na organização judiciária 
dos estados. A meu ver, este é um ponto muito importante, que pediria a 
ampliação do preceito constitucional, para estabelecer outras normas ou 
abrir caminho para outras normas. 
Armando de Oliveira Marinho - Se bem que o projeto parece remeter 
tudo isso à Lei Orgânica. 
Oswaldo Trigueiro - O problema da eficiência da Justiça de primeiro 
grau, evidentemente, não se resolverá apenas com o encarte de um ou dois 
novos dispositivos no texto da Constituição. Ele pressupõe, em cada estado, 
uma boa organização judiciária. Mas basicamente ela está vinculada às 
condições políticas, econômicas e sociais de cada região do País. Por isso 
mesmo, faço minhas ressalvas à idéia da Lei Orgânica da Magistratura Na­
cional, que é pelo menos heterodoxa, num regime federativo, em que de­
vem conviver, independentemente, a Justiça da União e a Justiça dos 
estados. 
Reforma do Judiciário 31 
Nominalmente, o Brasil ainda é uma República federal. E a Constituição 
atual ainda consagra o princípio de que o poder constituinte derivado não 
pode abolir a federação. Mas a realidade política visivelmente marcha em 
outro sentido. Também da federação se poderá dizer que é palavra que 
alguns ainda trazem nos lábios, mas poucos a trazem no coração. O regime 
federativo pressupõe, antes de tudo, que os estados-membros tenham capa­
cidade de auto-organização e de autogovemo. Sob qualquer desses aspectos, 
a margem de autonomia dos estados vem sendo progressivamente reduzida. 
Para isso, sem dúvida, a reforma em tramitação contribuirá de maneira pon­
derável. Será um bem, será um mal? Será um fato inelutável, que levará 
a uma cada vez mais acentuada uniformização da Justiça, num País tão 
dessemelhante como o nosso. Penso que o molde federal rígido dificultará 
o atendimento às peculiaridades locais, extremamente diferenciadas. A 
Justiça da região metropolitana de São Paulo ou do Rio de Janeiro tem 
mais afinidades com a de Nova Iorque ou de Paris do que com a da 
Amazônia rural. 
Presidente - Mas não vai nivelar necessariamente, vai abrir perspectivas. 
Oswaldo Trigueiro - Outra medida de tendência centralizadora é a insti­
tuição do Conselho Nacional da Magistratura, ao qual se atribuirá a 
competência expressa de conhecer de reclamações contra juízes e membros 
de tribunais, e de determinar-lhes a disponibilidade ou a aposentadoria com 
vencimentos proporcionais. Pelo direito vigente, essas penalidades podem 
ser aplicadas pelos Tribunais Superiores, mas mediante escrutínio secreto 
{: pelo voto de dois terços dos juízes efetivos, o que é dificílimo de conse­
guir-se. Mas se isso puder ser feito mediante processo administrativo, pelo 
voto da maioria dos Conselhos de Magistratura estaduais, já não haverá 
razão para que essa tarefa seja atribuída a um Conselho Nacional. 
Se a Constituição der aos Conselhos Estaduais a competência que se 
pretende dar ao Conselho Nacional da Magistratura, acredito que os maus 
juízes serão afastados da carreira. Penso mesmo que o Conselho Estadual 
julgará melhor, porque conhece melhor as pessoas e os fatos e tem mais 
facilidade de apreciar as provas e de sentir a repercussão social das decisões 
que tomar. Em Brasília será bem mais difícil julgar acertada e prontamente 
todas as acusações levantadas contra os membros das Justiças estaduais. 
Depois, a instituição do Conselho Nacional da Magistratura, nos termos 
em que foi proposta, pode agravar as condições de funcionamento do 
SL.premo Tribunal, outro aspecto da reforma que pede o máximo de 
ponderação. 
Com apenas 11 ministros, e sem substitutos, o Supremo Tribunal está 
julgando anualmente cerca de oito mil processos. O projeto de reforma 
não amplia o Supremo Tribunal, nem lhe reduz a competência. Ao contrá­
rio, aumenta-lhe as atribuições, de tal sorte que, dentro de alguns anos, 
o número de processos poderá ser multiplicado por dois ou por três. 
Pode-se dizer mesmo que a reforma imporá a todos os ministros do 
Supremo Tribunal os encargos de um segundo emprego. O presidente será 
32 R.C.P. 2/78 
o órgão homologador das sentenças estrangeiras. Três ministros, obrigatoria­
mente, já integram o Tribunal Superior Eleitoral. Os outros sete irão compor 
o Conselho Nacional da Magistratura, que terá de julgar toda e qualquer 
reclamação, acusação ou queixa, que se faça a qualquer dos três mil juízes 
existentes do país e que dentro de pouco tempo serão quatro ou cinco mil. 
O Conselho Nacional da Magistratura - que será uma espécie de 
tribunal especial ou, pelo menos, uma turma de caráter permanente -
terá que processar e julgar todas essas reclamações. f: certo que essas 
reclamações, ao que se pretende, serão encaminhadas pelo procurador­
geral da República. Mas este não poderá decidir liminarmente se a 
reclamação é irrelevante, nem poderá deixar, mesmo para fins de arquiva­
mento, de levar o caso à apreciação do Conselho. 
Não é só essa inovação que vai multiplicar a tarefa do Supremo Tribunal. 
A reforma o distingue ainda com o encargo de conhecer das avocatórias 
e de julgar as representações para efeito de interpretação de qualquer 
lei ou ato normativo, federal ou estadual. 
Ao elenco da competência orginária do Supremo Tribunal a reforma 
acrescenta a de avocar as causas processadas em qualquer juízo ou tribunal, 
a pedido do procurador-geral da República, quando decorrer imediato 
perigo de grave lesão à ordem, à saúde, à segurança ou às finanças públicas, 
com o que se devolverá ao Supremo Tribunal o conhecimento integral da 
lide. Isso significa que qualquer decisãocontrária à Fazenda federal, esta­
dual ou municipal, bem como a qualquer autarquia, empresa pública ou 
sociedade de economia mista, poderá ser imediatamente submetida à revisão 
da instância suprema, com supressão dos recursos ordinários tradicionais. 
Não quero discutir o mérito dessa inovação, para cingir-me ao aspecto 
prático. Daí esta indagação: o Supremo Tribunal estará em condições de 
atender satisfatoriamente a mais essa pesada tarefa? 
Atualmente, cabe ao Supremo Tribunal, mediante ação direta da Pro­
curadoria Geral da República, julgar as argüições de inconstitucionalidade 
de lei ou ato normativo federal ou estadual. Pela reforma, essa compe­
tência se ampliará desmesuradamente, para referir-se não apenas às ques­
tões de constitucionalidade, mas às de simples interpretação de lei ou ato 
normativo, federal ou estadual. Dessa forma, o Supremo Tribunal ficará 
incumbido de suprir as deficiências de todas as consultorias jurídicas da 
União e dos estados. 
Presidente - Essa competência de julgar a inconstitucionalidade já está 
na Constituição atual. 
Oswaldo Trigueiro - Mas agora se cogita de estendê-la à mera interpre­
tação de lei ou ato normativo. Sem dúvida seria ideal que, de início, as leis 
e atos normativos ficassem escoimados de todas as dúvidas de interpretação. 
Mas isso é impossível e, de resto, não é tarefa de que o Supremo Tribunal 
possa desincumbir-se de maneira eficiente e satisfatória. Ainda que a inova­
ção seja aceitável do ponto de vista doutrinário, é fora de dúvida que esse 
novo encargo sobrecarrega o Supremo Tribunal de maneira esmagadora. 
Reforma do Judiciário 33 
Por outro lado, parece destoante da dignidade do Supremo Tribunal que 
ele seja a toda hora solicitado para interpretar um decreto sobre mordomia 
estadual, ou uma portaria de delegado de trânsito. 
A extinção dos Tribunais de Alçada parece ser o ponto da reforma que 
está encontrando maior resistência nos meios forenses. Reconheço que a 
proposta se apóia em boas razões doutrinárias. Mas a idéia é centrali­
zadora, no sentido de que a segunda instância estadual seja comprimida 
num tribunal único. Receio, contudo, que os fatos - quero dizer, o 
desenvolvimento do País, com o conseqüente crescimento do movimento 
judiciário - nos conduzam na direção oposta, ou seja, a uma inelutável 
e progressiva descentralização. 
As proporções continentais do Brasil e as características do regime 
federativo não nos permitem considerar os estados brasileiros como equiva­
lentes às províncias dos países unitários. Sobretudo, se considerarmos a 
posição dos chamados grandes estados - São Paulo, Minas Gerais, Bahia, 
Rio Grande do Sul. Em termos demográficos São Paulo equivale à Bélgica 
e à Holanda reunidas, é quase igual à Argentina e, dentro de 10 ou 15 
anos, deverá ter a população da Espanha de hoje. Ora, ninguém concebe, 
em qualquer desses países, que toda a segunda instância da justiça ordi­
nária esteja reunida em um só tribunal, com sede na capital do país. Em 
todos eles a organização judiciária prevê a divisão do país em províncias 
judiciárias, com as suas cortes de segundo grau. Mais cedo ou mais tarde, 
isso terá de ocorrer no Brasil, com a instituição de Tribunais de Apelação 
em Santos, Ribeirão Preto, Londrina, Pelotas ou em Caxias do Sul. Será 
esse o meio de evitar-se o crescimento desmesurado dos tribunais únicos nas 
capitais dos estados. Quantos Tribunais de Alçada há em São Paulo? 
Severo da Costa - Três, com uma média de 26 juízes. 
Olavo Tostes Filho - São ao todo 140 juízes, somando-se os dos 
Tribunais de Alçada e os do de Justiça. 
Oswaldo Trigueiro - Quer dizer que a unificação, de início, estabelecerá, 
em São Paulo, um tribunal com 140 desembargadores. Se considerarmos 
que São Paulo não vai parar, não será exagero prever-se que dentro de 20 
anos o seu tribunal terá 250 ou 300 juízes. Por isso penso que a unifica­
ção, que se fizer agora, não estará fadada a grande futuro. Mesmo que 
desapareça a autonomia federativa, não há como impedir-se a descentra­
lização, por forma que atenta às peculiaridades regionais do País. 
Para concluir, direi que a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, eviden­
temente, não será um malefício. Não sei se ela será essencial para o 
aprimoramento da Justiça, mas devemos esperar que contribua para isso. 
Quanto à extinção dos Tribunais de Alçada, será preciso aguardar a 
prova do tempo. Penso, porém, que a realidade do País evoluirá no sentido 
da crescente especialização e descentralização da Justiça de segundo grau. 
Em linhas gerais, a reforma está bem delineada e poderá alcançar, em 
grande parte, os seus objetivos. Como é natural, ela propõe medidas que 
não suscitam objeções e contém inovações polêmicas, sobre as quais não é 
possível estabelecer-se um consenso tranqüilo. Quanto a alguns desses 
34 R.C.P. 2178 
pontos, é de esperar-se que a tramitação parlamentar permita alguns corre­
tivos indispensáveis. 
Caio Mário da Silva Pereira - Já tenho participado com muito prazer de 
mesas-redondas anteriores, mantidas na Fundação Getulio Vargas e, pelas 
minhas condições atuais de presidente da Ordem dos Advogados, tenho 
sido solicitado freqüentemente a me pronunciar a respeito da reforma do 
Poder Judiciário. Ao contrário do que ocorre com o Ministro Oswaldo Tri­
gueiro, que disse que pela primeira vez se pronuncia sobre a reforma, eu o 
tenho feito numerosas vezes e agora, a bem dizer, o que posso trazer para os 
companheiros desta mesa-redonda é, um pouco resumidamente, aquilo que, 
já em mais de uma oportunidade, tive ensejo de falar. 
Em primeiro lugar, a indagação básica do questionário submetido aos 
membros desta mesa diz respeito a uma espécie de juízo de valor, em 
termos genéricos, sobre o projeto da reforma. Eu considero que esse pro­
jeto de reforma - lamento dizê-lo - não satisfaz às expectativas de todos 
quantos têm cuidado, cogitado e pensado nesse assunto. Primeiramente, 
entendo - e aí estou inteiramente de acordo com o Ministro Oswaldo 
Trigueiro - que o projeto, tal como foi apresentado, cuidou de alguns 
aspectos particulares da reforma sem cogitar daquilo que é fundamental, 
que é a modificação de uma consciência judicante no País. Ainda vivemos 
aquele mesmo sentido de uma Justiça quinhentista. Na verdade, todos nós 
que trabalhamos na Justiça, seja advogando, seja julgando, sentimos que 
o que está em vigor é o Livro lU das Ordenações do Reino. Pouca modifi­
cação estrutural existe. Quando participei, anteriormente, de um estudo 
sobre a reforma na Fundação Getulio Vargas, tive ensejo de me referir a 
alguns aspectos básicos que considerava necessários à sua plena efetivação. 
Especialmente no que diz respeito à minha opinião pessoal, entendo não 
ser possível imaginarmos uma reforma do Poder Judiciário sem o resta­
belecimento das prerrogativas da magistratura. Não é possível o juiz ter 
que considerar o ato judicante, todas as vezes que profere uma decisão, 
especialmente quando envolvido o interesse público como um "ato de 
heroísmo" . 
As prerrogativas constitucionais da magistratura são essenciais. Tenho 
ouvido e lido mui freqüentemente que os juízes continuam julgando, inde­
prendentemente do eclipse dessas prerrogativas. O problema não é esse. 
O problema não é saber se os juízes julgam bem, independentemente de­
las. O que é necessário é que essas prerrogativas sejam restabelecidas, 
porque elas são a estrutura do Poder Judiciário no Brasil. Elas foram 
oferecidas aos juízes em condições superiores às que ocorreram nos Es­
tados Unidos, com a magistratura americana, talvez porque as nossas con­
dições sociais, como as nossas condições políticas, tenham tomado essas 
exigências muito mais prementes do que naquele país. 
Então, a meu ver, o ponto principal, o ponto de partida para essa refor­
ma, seria o restabelecimento das prerrogativas da magistratura. 
Por outro lado, vejo na reforma que os instrumentos fundamentais de 
defesa das garantias individuais acham-se mutilados. O mandado de segu-Reforma do ludiciário 35 
rança e especialmente o habeas-corpus não readquiriram nessa reforma 
aquela plenitude que todos nós consideramos indispensáveis para a defesa 
dos direitos e das liberdades individuais. Este também, entendo, é um 
dos aspectos fundamentais numa reforma do Poder Judiciário. Somente 
podemos considerar que a Justiça realmente se transformou, que a Justiça 
realmente se modificou, no momento em que nós sentirmos que aqueles 
instrumentos fundamentais para defesa dos direitos e das garantias indivi­
duais readquiriram aqueles poderes que no passado existiram, aqueles 
poderes que já representaram entre nós. 
Com relação à Lei Orgânica entendo que é necessana, porque uma 
Constituição não pode descer ao casuísmo de prever todas as hipóteses e 
situações concretas. Somente uma Lei Orgânica poderá fazê-lo, não com 
o sentido de estabelecer uma uniformidade, uma unidade de Justiça para 
todo o País, mas no de estabelecer as linhas gerais, estruturais, de tal 
modo que os estados tivessem uma espécie de ordenamento básico para a 
organização da sua Justiça. 
Tenho viajado muito pelo País inteiro e tenho verificado, na minha 
curiosidade a respeito do que ocorre em todos os estados, que há princípios 
que são deformados, e que uma Lei Orgânica poderia normalizar, de tal 
modo que a organização interna da Justiça estadual não desobedecesse 
àquilo que fosse de interesse nacional. 
Então, a meu ver, considero uma necessidade preservar o pouco que 
resta da federação no Brasil. Entendo que nós devemos sustentar a neces­
sidade de preservá-la, não aquela federação utópica da Constituição de 
1891, mas uma federação que atenda às realidades contemporâneas. 
Assim, uma Lei Orgânica da Magistratura haveria que atender a esses 
dois aspectos fundamentais: estabeleceria apenas linhas gerais, as linhas 
básicas, que permitissem aos estados organizarem a sua Justiça, já então 
obedecendo ao princípio da autonomia e da organização federativa. Ela 
teria que conciliar esses dois aspectos, resumidos nesses dois conceitos: 
atender às peculiaridades locais sem prejuízo da organização federativa. 
Também uma indagação básica, e sobre a qual tem sido polemizada a 
reforma do Poder Judiciário, é no tocante à criação do Conselho Nacional 
da Magistratura. Entendo que a criação desse conselho será de grande 
utilidade, não no sentido de se lhe reconhecer competência para julgar as 
reclamações que a ele fossem dirigidas de todo o País. Ele teria, sim, uma 
competência recursal. É necessário que seja nesse sentido. A experiência 
nos mostra que os Conselhos de Magistratura estaduais, como as Corre­
gedorias de Justiça estaduais são influenciadas pelo esprit-de-corps, pelo 
~ubjetivismo dos companheiros. 
Considero então que um Conselho Nacional de Magistratura deveria 
exercer talvez uma função preventiva, muito mais do que uma função 
corretiva. No momento em que os conselhos estaduais tivessem que apre­
ciar uma dessas hipóteses, lembradas pelo Ministro Oswaldo Trigueiro, 
de um juiz que se desvia da boa conduta e é absolvido por simpatia ou 
por coleguismo, esse órgão julgador se lembraria da existência daquele 
36 R.C.P. 2/78 
superconselho, que seria o Conselho Nacional da Magistratura, e pensaria 
duas vezes. Quer dizer, ele terá a convicção de que o seu julgamento, pelo 
fato de existir uma instância superior revisional, será um julgamento que 
dele exigirá muito mais do que atualmente ocorre. 
Por tudo isso, entendo que o Conselho Nacional da Magistratura exer­
cerá uma função muito mais preventiva que corretiva. Aí vem então aquela 
sugestão do Prof. Marinho, quando diz que o problema é de organização. 
Sob este aspecto, convém de logo prevenir contra a sobrecarga a ser 
evitada, e que tanto nos preocupa a todos. Não deverá recrutar sete minis­
tros do Supremo Tribunal Federal para neles descarregar as suas tarefas. 
Deverá ser cuidadosamente estruturado, e nós estamos aqui exatamente 
para apresentar algumas sugestões visando aprimorar o projeto. Então esse 
Conselho, com uma competência definida especificamente, com caráter 
recursal, poderá preencher as falhas dos Conselhos Estaduais de Magis­
tratura, que sabemos serem deficientes. 
Quanto ao problema do Tribunal de Alçada - parece que neste ponto 
todos estamos de acordo - já me manifestei inúmeras vezes sobre o 
assunto. O Tribunal de Alçada, em todas as capitais onde existe, tem 
funcionado satisfatoriamente. Não posso compreender como, ao se reformar 
o Poder Judiciário no Brasil, se vá precisamente extinguir aquilo que 
funciona bem e se procure manter o que se tem revelado insatisfatório. O 
gigantismo dos tribunais é uma ameaça que está assustando a todos nós, 
como disse o Desembargador Olavo Tostes. O crescimento vegetativo dos 
processos em todos os estados faz com que as perspectivas de massificação 
da Justiça dos estados sejam quase aterradoras. Agora, se os Tribunais de 
Alçada conseguiram até agora, como têm conseguido, uma diversificação 
de processos, o que devemos fazer é exatamente o oposto do que se 
projetou. Cumpre não extinguir os Tribunais de Alçada, marchando para 
a especialização. Aumentar mesmo o seu número, onde necessário, aperfei­
çoando-os com a especialização. Seria um Tribunal de Alçada para julga­
mento de feitos administrativos; outro para julgamento de feitos criminais 
etc. Aliás, esta é a tese que já sustentei em outra oportunidade em que 
participei de reunião aqui na Fundação: a preocupação da especialização 
da Justiça. 
Não podemos compreender que todos os juízes façam uma espécie de 
clínica geral, e sejam homens que sabem todos os assuntos, que conheçam 
profundamente todas as matérias. A tendência do mundo moderno é preci­
samente esta. Especializar para melhor produzir. 
Olavo Tostes Filho - Os juízes do Tribunal Federal de Recursos, por 
exemplo, hoje têm que saber tudo sobre direito penal, direito do trabalho, 
administrativo etc. 
Caio Mário da Silva Pereira - Isto é absurdo. Em resumo, entendo que a 
manutenção do Tribunal de Alçada é uma necessidade. E a referência ao 
Tribunal Federal de Recursos leva-me a um outro ponto, sobre o qual me 
tenho manifestado e, agora, aproveito a oportunidade do aparte do Desem-­
bargador Tostes para abordar. A reforma supõe a melhoria do Tribunal 
Reforma do ludicidrio 37 
Federal de Recursos, com a criação de maior número de juízes, elevando-os 
a 27. Sabemos que o Tribunal Federal de Recursos vive assoberbado com 
uma massa enorme de julgados. E o fato de se aumentar o número de 
juízes significa a mesma coisa que criar novos tribunais? A meu ver não. 
De um lado, as câmaras irão funcionar numa dispersão tão grande, que 
perderão o sentido de unidade. De outro lado, a infra-estrutura do Tribunal 
Federal de Recursos não comporta a multiplicação do número de juízes. 
Se já nos causa apreensão aumentar o número de juízes hoje, daqui a 
alguns anos, numa previsível reforma futura ( 10 anos, por exemplo), 
teremos que, provavelmente, duplicar o Tribunal Federal de Recursos. 
Muito mais racional - e é o que tenho sempre sustentado - seria cumprir 
o que a Constituição desde 1946 vem estabelecendo, com a criação de 
novos Tribunais de Recursos. Isso, então, daria essa flexibilidade, sem 
que uma infra-estrutura ficasse agigantada, e sem condições de funcionar. 
Basta vermos que a publicação de um acórdão do Tribunal Federal de 
Recursos pode levar dois anos, o que é um desprestígio para a Justiça e 
um mal para os jurisdicionados. Todos esses aspectos são muito impor­
tantes, para que possamos deixar de deles cogitar. Finalmente (e não vou 
tocar em todos os assuntos porque ficaria monopolizando a palavra), peço 
permissão para voltar àquilo em que, em anteriores debates, tive ensejo de 
me deter, assim como em pronunciamentos pela imprensa e em conferências. 
:e fundamental que voltemos as vistas para a Justiça de primeira instância. 
Na cúpula, a nossa Justiça funciona bem. Ela tem falhas, evidentemente 
toda organização humana estásujeita a falhas, mas no seu conjunto nós 
podemos considerar que a Justiça no Brasil, em sua cúpula, desempenha-se 
a contento. Onde ela não funciona bem, lamentavelmente, é na primeira 
instância. Aí é que o jurisdicionado tem contato direto com a Justiça e aí 
é que está a sua grande decepção. E, lamentavelmente, o projeto de reforma 
foi absolutamente omisso. Ele não tomou conhecimento da Justiça de 
primeira instância. Eu voltada as vistas para isso, pedindo permissão para 
revigorar as sugestões que, em 1974, tive ensejo de apresentar e que, a meu 
ver, com o aprimoramento que os companheiros lhe hão de dar, possivel­
mente venha a atender a alguma coisa daquilo que nós desejamos. Nós, 
os advogados, que temos contato direto com a Justiça de primeira instância, 
sentimos onde está a sua principal deficiência. 
Agradeço ao Sr. Ministro ter-me dado ensejo para essas considerações 
e aos colegas a atenção com que me ouviram. 
Armando de Oliveira Marinho - Concordo com o Prof. Caio Mário, 
no que conceme ao Tribunal Federal de Recursos. Sou partidário de que 
se mantenha (\ texto constitucional atual e até com mais flexibilidade, 
criação de tribunais federais de recursos, não fixando o número, à medida 
que a necessidade de tribunais regionais fosse surgindo. 
Oswaldo Trigueiro - O Prof. Caio Mário aceita a proposta do Tribunal 
Federal de Recursos, porque este, na sua maioria, ao que eu sei, prefere 
que a Justiça federal em segunda instância seja organizada como a do 
trabalho e a eleitoral, com tribunais regionais e um tribunal superior. 
38 R.C.P. 2/78 
Armando Marinho - Essa é a solução. 
Oswaldo Trigueiro - Essa, parece, é a solução de preferência da maioria 
no Tribunal de Recursos. Aí, então, se adaptaria um esquema que já 
funciona bem, duas Justiças especializadas. 
Caio Mário da Silva Pereira - E, ainda mais, foi objeto de debate em 
nossa reunião anterior: a criação de um Tribunal Superior, que não estaria 
no mesmo nível do Supremo Tribunal. Este seria mantido na sua compe­
tência específica, tal como atualmente, mas com a existência de um outro 
tribunal, que desafogaria os julgamentos. Seria uma espécie de Superior 
Tribunal. É a tese do Tribunal Federal de Recursos atualmente. 
Presidente - Eu tenho um esclarecimento a dar, a respeito da criação de 
mais um Tribunal de Recursos. Eu já tive ocasião de elaborar um projeto 
de criação de mais um Tribunal de Recursos, que foi aprovado, mas houve 
dificuldade em se constituir um Tribunal de Recursos em São Paulo, porque 
o nível de vencimentos dos juízes de São Paulo é muito superior ao de 
qualquer outro estado e não houve possibilidade de se criar um Tribunal 
de Recursos em São Paulo, com os vencimentos dos Ministros do Tribunal 
Federal de Recursos. 
Caio Mário da Silva Pereira - Mas não teria, necessariamente, que ser 
em São Paulo. 
Oswaldo Trigueiro - Mas isso está resolvido pela Constituição, que não 
permite que vencimento estadual seja maior que o federal. A desobediência 
ao princípio é outra coisa. 
Olavo Tostes Filho - A matéria principal a respeito da reforma do Judi­
ciário foi aflorada por todos, a começar pelo Ministro Oswaldo Trigueiro, 
a quem eu peço desculpas neste momento, porque nunca tinha me defron­
tado pessoalmente com S. Ex~. Sou um velho admirador seu ... 
Acho que há um aspecto muito grave nessa reforma. 
Fez-se muita atoarda em torno dela: mesas-redondas, todos os tribunais 
s~ pronunciaram, diz-se que os volumes de sugestões subiram ao teto. O 
povo está muito esperançoso e o que vai acontecer é isso: vai continuar 
tudo como dantes. Porque o grande problema deste País é, realmente, a 
primeira instância. Não por falta de legislação, porque se o juiz é bom, ele 
trabalha bem com qualquer Código. Eu me lembro que se julgava aqui, 
normalmente, uma ação de despejo, com recurso e execução, em três meses, 
durante vários anos, na maioria das Varas do Rio de Janeiro. Mas nós 
precisamos ver o quadro da Justiça brasileira no momento. Eu me lembro 
óe que quando fui estudar em Belo Horizonte para iniciar meu curso, em 
1935, a cidade tinha 150 mil habitantes, hoje Belo Horizonte tem 2 milhões 
de habitantes. Isso é um fenômeno que ocorreu no País inteiro e eu já o 
tenho acentuado. Todos correram dos campos para a cidade. Antigamente, 
moravam no campo 70% da população brasileira. Hoje, a grande maioria 
está nas cidades, os campos estão despovoados, mesmo porque houve a 
Reforma do ludiciário 39 
introdução de máquinas, instrumentos agrícolas, novos métodos. O Rio 
de Janeiro hoje tem 7 milhões de habitantes, inclusive das cidades satélites, 
já que todos vivem no Rio de Janeiro, aqui fazem a sua vida. Há 25 anos, 
havia 2 milhões. Quanto houve de mudança, de modificação nos instru­
mentos judiciários? Nós tínhamos 18 Varas Cíveis, temos agora 22, tínha­
mos 25 Varas Criminais, temos 26. A população do Rio, dentro de uns 
15 anos, vai ultrapassar 20 milhões de habitantes. São Paulo é também 
outra megalópole. O problema é muito sério, porque é preciso que o 
instrumental de prestação jurisdicional na primeira instância cresça parale­
lamente. :É a mesma coisa com os demais serviços: não há trens, não há 
transporte urbano, não há esgotos porque a cidade cresceu excessivamente. 
Também ocorreu uma explosão educacional. Temos vários professores 
que fugiram das universidades, tangidos pela insuficiência dos salários. O 
professor não pode se dedicar ao magistério como no meu tempo de 
estudante, em que era só professor, não tinha atividade paralela. Hoje, 
temos a multiplicação de dezenas de Cursos de Direito, e péssimos. Ao 
último concurso aqui no Rio de Janeiro concorreram 400 candidatos e 
foram aprovados 10. E no Rio Grande do Sul, nos concursos, não conse­
guem preencher o número de vagas. Isso está-se verificando no Brasil 
inteiro, porque caiu de tal maneira o nível técnico, que nós não consegui­
mos aprovar candidatos, em condições de ministrar a Justiça de primeira 
instância, no número necessário. :É uma questão que acredito seja ocasional 
porque o País vai superar tudo isso. Dentro de pouco tempo o problema 
vai desaparecer, vamos ter gente capaz. Mas, hoje, se multiplicássemos o 
número de vagas, não tínhamos como preenchê-Ias. :É um problema que 
precisa ser encarado com seriedade. Então, vamos fazer uma reforma 
judiciária como se fôssemos caiar uma casa em ruína, porque as modifi­
cações são de pequena monta. O Tribunal de Alçada, por exemplo, fun­
ciona bem. Poderia haver a unificação desses tribunais se não houvesse 
empecilhos que considero fundamentais. Num tribunal de 140 membros, 
na hora de fazer a eleição da cúpula, dos presidentes ou daqueles que se 
vão encarregar de apreciar as questões constitucionais, não sei como 
proceder. No Rio de Janeiro, numa ocasião em que se desobedeceu o 
critério de antigüidade, o tribunal ficou dividido em duas correntes. Houve 
retaliações, paixões, ciúmes. Isso vai afetar o funcionamento da Justiça. 
Num tribunal numeroso, fatalmente, haverá correntes antagônicas. 
Então, o que vai ocorrer é que o Governo vai colher maus frutos dessa 
reforma porque o povo vai esperar muito, fez-se muita propaganda a 
respeito, e, no entanto, vão continuar as mesmas filas: de mulheres que 
querem desquitar-se e procuram a Justiça gratuita; os menores não terão 
casa de recolhimento; não haverá penitenciária para todos os réus conde­
nados; à Polícia não será possível fazer inquérito para todos os crimes 
porque não há pessoal para a Polícia Judiciária. No momento, se não me 
engano, há cerca de 100 mil inquéritos baixados em diligência, que vão e 
voltam. Esse problema é insolúvel, a não ser que se faça um investimento 
de vulto, de ordem material. O povo vai esperar grandes frutos dessa 
40 R.C.P. 2/78 
reforma e não vai colher nenhum. O que se vai fazer no Tribunal Federal 
de Recursos será benéfico porque um tribunal com 27 membros deve 
funcionar melhor do que com o número atual, mas não será tanto assim. 
Há juízes que vão acumulando processosenquanto outros são expeditos 
e rápidos. Isso ocorre com qualquer espécie de organização. A grande 
carência, de tudo, é decorrente da explosão populacional. À medida que 
os anos sobrevierem vamos ficar com carências ainda maiores, se a popu­
lação for aumentando na média dos últimos anos. A população do 
globo, que era de 2 bilhões de criaturas há 50 anos, passou, no momento 
atual, a 4 bilhões e vai passar a 8 bilhões no começo do século XXI. 
Armando de Oliveira Marinho - Gostaria de saber sua opinião a respeito 
da criação dos cursos para preparação dos magistrados e dos cursos de 
especialização de magistrados. V. Exª' acha que esses cursos, até certo 
ponto, poderão suprir as deficiências que encontramos no material humano? 
Olavo Tostes Filho - Tenho a impressão que ensinar a ser juiz é como 
ensinar pintura. 11 preciso aptidão e vocação. Acho que o sistema melhor 
e mais feliz encontrado é o do Rio Grande do Sul. O candidato, depois de 
aprovado em um determinado número de provas, só será efetivado depois 
de dois anos de exercício. 11 uma espécie de estágio probatório. 
Eu pedia permissão para acrescentar ainda alguma coisa. Li, com 
referência à reforma do Judiciário, o parecer aprovado pelo Conselho 
Seccional dos Advogados do Rio de Janeiro. Extremamente bem elaborado, 
ele aborda o problema do Supremo. O Supremo, para poder enfrentar o 
afluxo de recursos, vem podando anualmente o número de processos. 
Os recursos se tornam agora limitados segundo o valor. Os advogados 
se queixam de que o Supremo está faltando à sua missão, que é de evitar a 
injustiça por efeito de errada exegese de lei. Os feitos estão cada vez mais 
limitados. Hoje, só em matéria constitucional, praticamente em ofensa 
direta à Constituição, é que se admite recurso extraordinário. 
Vem, agora, o poder de avocatória. O defeito que o parecer do Conse­
lho Seccional revelou no sistema foi que, nos Estados Unidos, onde se 
buscou inspiração para essa avocatória, ela tem a finalidade de evitar 
abusos do poder público. E, aqui, estamos criando uma espécie de terceira 
instância, para evitar o cumprimento de ação judicial. 
Oswaldo Trigueiro - Toda e qualquer decisão contra a Fazenda federal, 
contra qualquer autarquia ou empresa pública vai atrapalhar. 
Olavo Tostes Filho - 11 o que diz o parecer; com esse aumento de tarefas, 
vamos verificar cada vez mais distante a possibilidade de recorrer ao 
Supremo, tirando-lhe a sua função precípua, aquela para a qual foi criado. 
Presidente - Tem a palavra o Dr. Luiz Antônio Severo da Costa. 
Luiz Antônio Severo da Costa - Com a vantagem de quem fala por último 
tenho a observar o seguinte: quando estava sendo construída a Siderúrgica 
de Volta Redonda, o General Macedo Soares fez a seguinte observação: 
Reforma do ludiciário 41 
c.ada brasileiro tem um plano siderúrgico. Também, quanto à reforma 
judiciária estamos do mesmo modo: cada brasileiro tem seu plano de 
reforma. Cabe lembrar que essa reforma judiciária foi entregue pelo 
Governo a duas pessoas do mais alto gabarito. Não podia ter sido mais 
feliz a escolha como a do Ministro Rodrigues Alckmin, figura com expe­
riência na Justiça de São Paulo, no Tribunal de Alçada e atual Ministro 
do Supremo, e do Procurador-Geral Henrique Fonseca de Araújo. Essa 
matéria de legislação é muito difícil. Trata-se de temas eminentemente 
~{)lêmicos. Sobre a matéria aqui abordada, todos nós já temos posições 
filosóficas gerais, pró-federalismo ou pelo menos federalismo, por exemplo. 
Os conceitos, sugestões e críticas que aqui têm sido feitos à reforma não 
envolvem, sem dúvida, essas ilustres figuras. De início, parece que há 
exagero em críticas. Isso afirmou o procurador-geral em declarações a 
O Globo. Ele alega que estamos apenas ainda em matéria de reforma 
constitucional. Dizem que foi esquecida a primeira instância. Ele esclarece 
que, por enquanto, estamos especificamente no campo da Constituição 
federal. Pena é que não houvesse sido publicado o plano geral, para receber 
críticas e sugestões, antes do seu encaminhamento ao Congresso. :f: claro 
que poderemos trazer sugestões construtivas, mas está havendo, me parece, 
um pouco de diálogo de surdos, por exemplo: aquele interessantíssimo 
parágrafo único do art. 112 da Constituição federal, que declara a possibi­
lidade de "para as causas ou litígios, que a lei definirá, poderão ser 
instituídos processo e julgamento de rito sumaríssimo, observados os crité­
rios de descentralização, de economia e de comodidade das partes". :e 
um artigo, na verdade, de muito valor, para aqueles que aceitam, como 
aceitamos, a descentralização e a especialização. O Dr. Fonseca de Araújo 
acha que isso é uma coisa tão evidente e tão clara que nem precisa constar 
da Constituição. 
J á o Prof. Valladão, em crítica que fez outro dia no Clube dos Advo­
gados - crítica muito inteligente e interessante -, dá até ênfase e acha 
que além de se tomar isso uma recomendação deveria ser determinado, 
especificado. Ele dá até uma outra redação: "a lei estabelecerá para as 
causas ou litígios definidos processos e julgamento de rito sumaríssimo, 
observados os critérios de descentralização", e ele acrescenta "especia­
lização" ... 
:f: necessário que a espinha dorsal dessa reforma seja traçada e essas 
flormas virão naturalmente, depois, e numa complementação. Estamos 
ainda num processo de elaboração de um esquema e temos que dar a esses 
homens esse crédito de confiança. Criticá-los, evidentemente, mas constru­
tivamente. Estamos ainda numa etapa de reforma. 
Todos sabemos que o problema da Justiça brasileira, o grande drama, 
e tradicional, é a Justiça de primeira instância. :f: aquilo que Campos Sales 
já dizia: temos que colocar a justiça à porta do povo, uma justiça como a 
que já tivemos na cidade do Rio de Janeiro. Já tivemos as pretorias. O 
pior é que no Rio de Janeiro estamos involuindo nesse aspecto. 
42 R.C.P. 2/78 
o Governo Carlos Lacerda criou as regtoes administrativas. Quando 
fIzemos parte da comissão, como representante do Instituto dos Advogados 
Brasileiros que elaborou sugestões para o Estado da Guanabara reformar 
seu judiciário, comissão dirigida pelo ilustre Desembargador Fernando 
Maximiliano, lembramos que essas regiões administrativas podiam ter tam­
bém junto a elas um núcleo judiciário, onde pudessem as partes tratar de 
acidentes de automóvel, de um pequeno delito, uma pequena infração, ou 
mesmo do caso de uma pessoa que, por exemplo, tivesse sua roupa quei­
mada na lavanderia. Elas se drigiriam ao juiz de plantão. f: o atendimento 
dessas pequenas necessidades, essas objetividades, que nós devemos pro­
curar ter no Brasil. 
Armando de Oliveira Marinho - Em São Paulo já existem as Varas Dis­
tritais, que funcionam de forma eficiente conforme constatei em viagem de 
estudos feita em 1973. 
Luiz Antônio Severo da Costa - Mas é desta dinamização do Judiciário 
que precisamos, pois ele está tantas vezes afastado das conquistas do 
mundo moderno. Há uma defasagem imensa delas com o Judiciário. Agora 
estamos numa outra fase, uma fase realmente difícil, que é a fase da 
terapia. Já nos reunimos aqui para a parte do diagnóstico. Esta é muito 
fácil; é fácil conhecer as falhas, mas corrigi-Ias não é nada fácil. 
Essa primeira etapa que estamos tratando é a da reforma constitucional. 
Podemos sentir que muitas das idéias das sugestões feitas aqui, que estavam 
no ar, foram adotadas. Nós as aceitamos, nós as debatemos, como, por 
exemplo, a da Lei Orgânica da Magistratura, que eu admito ser uma 
necessidade. Nós temos que conciliar a instância daquela instituição com 
a não federalização da Justiça. No ensinamento daquele grande mestre, 
daquela figura digna, que é Alcino Sal azar, isso seria necessário. Na época, 
levei a ele algumas considerações e ele até me honrou com uma longa carta, 
na qual defende o seu ponto de vista pela federalização, quer dizer, a volta 
ao esquema do Império, com uma justiça nacional. 
Então eu acho, data venia da opinião do meueminente amigo, Ministro 
Oswaldo Trigueiro, necessária essa Lei Orgânica da Magistratura, não 
excessivamente controladora, não excessivamente limitadora. 
Também os Profs. Caio Mário e Armando Marinho defendem essa linha 
e acham que é uma necessidade, a fim de que a magistratura brasileira não 
tenha disparidade imensa, conforme os estados. Aceito o Conselho da 
Magistratura, mas quero agora voltar a uma sugestão que dei aqui na 
comissão: é que aceito o Conselho Nacional de Magistratura, mas esse 
Conselho coincidente com a existência de Conselhos Estaduais de Magis­
tratura. De modo que o Conselho Superior julgaria os desembargadores, 
julgaria em grau de recurso os juízes. Esta era a idéia e vejo que essa 
sugestão é a adotada pela Associação Brasileira de Magistrados, que aceita 
a existência de um Conselho Nacional de Magistratura. 
Também estou com o Prof. Caio Mário, quando diz que os ministros 
<lO Supremo já estão imensamente sobrecarregados e até de uma forma 
Reforma do ludiciário 43 
interessante. Os ministros do Supremo Tribunal Federal no Brasil, como 
nos Estados Unidos, estão gastando mais tempo para dizer: eu não vou 
julgar, do que para julgar. Os ministros do Supremo gastam muito tempo 
com os agravos, quando deveriam estar sendo disso poupados. Isso é uma 
crítica construtiva que faço. As câmaras de admissibilidade poderiam cuidar 
disso e deixar, por exemplo, que os ministros ficassem com a função que 
devem ter: a de julgar os recursos extraordinários principalmente. O Minis­
tro Trigueiro sabe bem que as pautas de julgamento são imensas naquela 
corte. 
Há algumas considerações do Prof. Marinho, que colocou bem o pro­
blema quanto ao plano institucional. Nesse plano institucional, eu lembraria 
também rever e manter aquele parágrafo único do art. 112, que trata das 
duas coisas, ser compulsório e também no sentido de que criará dispositivo 
relativamente à especialização. 
No campo puramente constitucional, eu manteria os juízes de paz, con­
forme está na Constituição, porque a reforma deixa para os juízes de paz 
apenas as funções de casamento. 
Oswaldo Trigueiro - Nos estados, isso é muito variável. Os juízes de paz 
em Minas Gerais, e creio que em Mato Grosso, sempre foram eletivos. Os 
juízes de paz do Nordeste são todos de livre nomeação do Governador do 
Estado. 
Luiz Antônio Severo da Costa - Eu manteria como está na Constituição 
atual, não retiraria as atribuições ... 
Oswaldo Trigueiro - Em Minas, o juiz de paz sobreviveu, porque ele era 
o substituto eventual do juiz de direito, mas não ocorria isso no Nordeste, 
onde ele fazia apenas casamentos. 
Luiz Antônio Severo da Costa - Agora, eu vou entrar num terreno um 
pouco delicado, porque não quero ser eivado de estar falando pro domo 
sua. :E: o problema dos Tribunais de Alçada. Esse é um problema delicado 
e interessante. Parece-me, com a experiência que tenho de 12 anos, porque, 
desde que deixei a advocacia, sou membro do Tribunal de Alçada, é o 
seguinte: pela que eu sei, a idéia de retirar da Constituição o artigo que 
permite aos estados criarem Tribunais de Alçada nasce de dois motivos 
principais. Em primeiro lugar, eles têm ciência de que vários estados da 
F ederação estão com planos de organizar Tribunais de Alçada. A razão 
ue ser disso é que há estados no Brasil que não têm a menor necessidade 
de criar tais tribunais e que estão com essa idéia. Então, a retirada do 
dispositivo constitucional que permite a criação dos Tribunais de Alçada 
era, em primeiro lugar, uma medida, digamos, preventiva, porque isso 
ocorreu no passado. Há dois estados no Brasil, Paraná e o antigo Estado 
do Rio, que, sem necessidade, criaram Tribunais de Alçada. Um deles 
tinha 17 membros e criou um tribunal de 10 e, para isso, o tribunal 
aelegou excessivamente. Há delegação excessiva aos Tribunais de Alçada. 
O Desembargador Olavo Tostes sabe disso, pois é um homem de espírito 
44 R.C.P. 2/78 
público construtivo. No ano passado, os 36 desembargadores do Estado de 
São Paulo julgaram 10% dos recursos, 15% dos recursos foram julgados 
pelos juízes substitutos, 75% foram julgados pelos Tribunais de Alçada. 
Aqui, neste estado, a nossa competência é de 700 salários mínimos, já foi 
de 1.000. Assim, a razão de ser da supressão desse dispositivo era precisa­
mente evitar que Pernambuco, Mato Grosso, Amazonas, por exemplo, 
elaborassem planos para criar Tribunais de Alçada. E já se viu isso no 
passado, pois foram criados Tribunais de Alçada onde não havia neces­
sidade. 
De modo que o problema foi bem colocado nestes termos. A idéia do 
tribunal numeroso, grande, é perfeitamente válida, como existe na Alema­
nha, na França, desde que dividido em seções. A Corte da Cassação fran­
cesa, como sabem, é dividida em cinco seções autônomas. Há o presidente 
geral e os da Alçada: da primeira seção, da segunda, da terceira, quer 
cizer, cada seção cuida do seu problema. Até, digamos, por economia, pois 
haverá infra-estrutura comum, num País pobre como é o Brasil (nós 
temos que nos encarnar nesse papel). As secretarias dos tribunais, os órgãos 
burocráticos se multiplicam, desculpem a comparação, como tecidos 
cancerosos. 
Eu estive no Banco do Brasil, fui advogado de uma entidade chamada 
Agência Especial de Defesa Econômica durante a guerra. Um dia, voltei 
ao Banco do Brasil e encontro, para surpresa minha, a Agência Especial 
de Defesa Econômica em liquidação, quando a guerra já terminou há 
tantos anos ... Quer dizer, cria-se um organismo, não se extingue mais ele. 
Então, nenhum inconveniente haveria na criação dessas infra-estruturas 
grandes com seções autônomas. 
Nós temos que criar no Brasil - já que isto é problema que escapa a 
nós, juristas - especialistas trazidos do campo da administração pública. 
Vamos ter que fazer o que os Estados Unidos estão fazendo, isto é, criar 
técnicos em administração judiciária. E a Fundação Getulio Vargas, que 
criou, com tanto brilho, as escolas de administração pública e de adminis­
tração de empresas, também poderia caminhar para o setor de administração 
de tribunais. 
Presidente - Esta mesa-redonda foi extremamente útil e produtiva. Creio 
que poderá levar ao conhecimento da Comissão Especial do Congresso uma 
reação de diversos elementos que estão interessados na reforma judiciária, 
mas advertindo sobre o perigo de algumas posições dessa reforma. Eu, pes­
soalmente, estou de acordo com a maioria das ponderações aqui feitas. Devo 
eI!tretanto, salientar que essa idéia minha de reforma judiciária já é antiga 
t;. ela deve ter, especialmente, dois objetivos: racionalizar um pouco o 
processo judiciário e quebrar um pouco os padrões tradicionais da estru­
tura judiciária, que têm impedido, precisamente, o desenvolvimento desse 
mecanismo judiciário. 
O problema da primeira instância é um problema relevante, mas que só 
pode ser parcialmente resolvido pela reforma constitucional. A reforma 
ReforTTUl do ludiciário 4S 
constitucional não pode chegar até lá. Ela se fará, através dessa segunda 
etapa, que é a Lei Orgânica da Justiça, que poderá, então, abrir algumas 
sugestões e novos caminhos para a organização judiciária de primeira 
instância. 
Em todo caso, o resultado desta mesa-redonda é positivo, no sentido de 
alertar a comissão para certos excessos que existem, certos padrões fixados 
pelo projeto de reforma. Neste particular, vamos encaminhar o resultado 
desta mesa-redonda, depois de revisto por cada um dos participantes, para 
a comissão especial do Congresso que vai cuidar do assunto. 
Agradeço esta colaboração e devo dizer que faremos ainda outras mesas­
redondas, pelo menos uma ou duas, para tratar de outros problemas espe­
cíficos. A próxima deverá tratar principalmente da parte do contencioso 
administrativo que está formulado de maneira um pouco infeliz pela 
reforma e tecnicamente errada. 
REALIZE AQUELE ANTIGO' SONHO 
Milton Dacosta [1915140 X ~cm 
, Os mais belos quadros dos 
grandes mestres estão agora 
ao seu alcance. 
Reproduções sobretela, 
importadas da Itáliá, que não 
devem nada aos originais; (a 
não S!3r no preço) para 
va.l6rizar o seuambiéntE!. 
A escolha é sua. 
Livrarias da Fundação Getulio 
Vargas 
RIO - S. PAUJ;.O 
BRASfuA 
R.C.P. 2/78

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