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O papel constitucional dos partidos não-comunistas nos estados socialistas europeus

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o PAPEL CONSTITUCIONAL DOS PARTIDOS 
NÃO-COMUNISTAS NOS ESTADOS SOCIALISTAS 
EUROPEUS* 
PAULO BISCARETTI DI RUFFIA** 
1. Nem todos os "estados socialistas" europeus con­
temporâneos seguem o modelo soviético do "partido 
único"; 2. Partidos não-comunistas em funcionamento 
na: a) Bulgária; b) Tchecoslováquia; c) República De· 
mocrática Alemã; d) Polônia; 3. O status jurídico dos 
"partidos não-comunistas" e a progressiva constitucio· 
nalização do papel que lhes foi destinado, correspon· 
dente à "função de guia", assegurada, pelas respecti­
vas Constituições, aos partidos comunistas; 4. Os me· 
canismos de cooperação e de coordenação dos partidos 
"não-comunistas" com o partido comunista nos quatro 
países em foco; 5. Algumas considerações conclusivas 
sobre o papel efetivo dos "partidos não-comunistas" 
nos "estados socialistas" europeus e sobre suas pers· 
pectivas imediatas. 
1. Nem todos os "estados socialistas" europeus contemporâneos seguem o 
modelo soviético do "partido único" 
Ainda que na opinião pública ocidental esteja largamente difundida a idéia de 
que todos os estados socialistas da Europa Centro-Oriental adotam o sistema 
de partido único, com base no exemplo soviético, a realidade atual, em parte, 
é outra. 
Dos oito estados socialistas europeus vinculados à URSS desde a última 
guerra, quatro, na verdade, adotaram, em épocas distintas, o "unipartidarismo" 
(Albânia, Romênia, Hungria e Iugoslávia). Os outros quatro, porém, mantive­
ram várias formas de "pluripartidarismo", embora com características bastante 
diversas daquelas com que ele se apresenta na Europa Ocidental. Parece, pois, 
oportuno fornecer algumas informações mais detalhadas, bem como certas obser­
vações de caráter jurídico.1 
* Traduzido do original italiano 11 ruolo costituzionaIe dei "parti ti non communisti" negli 
'stati socialisti' europei publicado no Il Político (Università di Pavia, Italia), 49(1):5-24, 
1984, pelo Prof. Afonso Arinos de Melo Franco e pela pesquisadora Ana Lucia de Lyra 
Tavares. O presente ensaio do autor será inserido nos Escritos em honra de Egidio Tosato. 
.. Professor de direito constitucional da Universidade de Milão. 
O fenômeno da sobrevivência, em alguns "estados socialistas" de um pluripartidarismo 
limitado foi examinado por alguns publicistas do Leste em recentes manuais de direito 
constitucional comparado relativos a esses países. Ver, por exemplo, o extenso capítulo 
dedicado ao assunto pelo soviético Makhnenko, em seu volume The state law of the 
socialist countries, Moscow, 1976, p. 162 e segs., e as observações bem mais lacônicas 
R. C. poI., Rio de Janeiro, 29(2): 12-29, abr./jun. 1986 
Tenha-se presente, antes de tudo, que os próprios juristas soviéticos conti­
nuam a afirmar que a função de guia atribuída ao Partido Comunista em todos 
os estados de orientação moscovita não implica, por si s6, que os mesmos 
devam, forçosamente, acolher o sistema de partido único. A escolha desse sis­
tema resultaria, na verdade, de casos contingentes, nos quais se estabeleceu a 
unidade partidária em decorrência das condições particulares da luta de classes, 
das tradições hist6ricas e das características nacionais desses países. Os refe­
ridos juristas, em apoio a esse entendimento, citam a opinião do pr6prio Lenin, 
por reiteradas vezes manifestada; acrescentam eles que também na Rússia, os 
partidos pequeno-burgueses dos manchevistas e dos sociais-democratas, forma­
ram-se, no decorrer de 1918-19, contrariando interesses do proletariado e 
que por isso se encontraram isolados, terminando, aos poucos, por desaparecer.2 
Enquanto isso, alguns partidos antifascistas dos estados socialistas da Europa 
Centro-Oriental já mencionados, partidos que tinham colaborado com os comu­
nistas na luta clandestina durante a guerra, logo depois dela, voltaram-se para 
a esquerda e, assim, continuaram em atividade, mesmo sob governos de orien­
tação nitidamente socialista. 
Tal situação perduraria enquanto fossem preenchidos os seguintes requisitos: 
1. os partidos representavam, formalmente, os interesses de classes e segmen­
tos sociais urbanos e rurais, firmemente aliados ao proletariado e dispostos a 
contidas no ensaio do húngaro Bihari (The constitutional models 01 socialist state organiza­
tion. Budapest, 1979. "Akadémiai Kiado"), p. 362 e segs., e na obra do romeno Draganu. 
Structures et institutions constitutionnelles des pays socialistes européens. Paris, 1981, 
p. 54. No Ocidente, os estudos jurídicos expressamente dedicados ao tema, ainda são 
escassos. Entre eles, podem ser citados os recentes trabalhos de: Hofman. Mehrparteien­
system ohne Opposition (die nicht kommunistischen Parteien in der D.D.R., Polen, der 
Tschechoslovakei und Bulgarien). Bem-Frankfurt (Dissertation Bem), 1976; Garcia Alvares. 
Los partidos no comunistas en los estados socialistas. In: Estudios humanisticos y juridi­
cos: homenaje a D. E. Hurtado Llamas. Leon. (1977) (e do mesmo autor ver o capítulo 
sobre o tema, em sua obra seguinte Construcción dei comunismo y constitución. Leon, 
1978, p. 110); Aigner. Les partis non communistes dans les paya de l'Est. In: URSS et 
I'Europe de I'Est em 1977. Notes et études documentaires n. 4.467/68, 22 May 1978 (ten­
do-se presente que, todos os anos, a citada coleção de estudos e de documentação do 
Secretariat Général du Gouvernment - Direction de la Documentation Française, publica 
um "número único", contendo notícias sobre todos os eventos político-econômicos dos 
diversos países). Entre os recentes manuais ocidentais de estudos comparativos encon­
tram-se noções sobre o tema em: Lesage. Les régimes politiques de l'URSS et de fEurope 
de l'Est. Paris, 1971, p. 300 e segs.; Charvin. Les états socialistes européens. Paris, 1975, 
p. 194 e segs.; Gelard. Les systemes politiques des états socialistes; lI: transpositions e 
translormations du modele sovietique. Paris, p. 405 e segs.: Brunner. Die Funktionen 
der Verlassung in den sozialistischen Staaten. Berlin, 1978 p. 22. Entretanto, dadas as 
limitações de espaço para o desenvolvimento deste estudo, a bibliografia - já por si 
vastíssima - ficou reduzida a poucas indicações realmente indispensáveis para documen­
tar afirmações e dados. 
% Ver, em especial, Makhnenko, The state law. cit. p. 165. A afirmação de que, na 
URSS, o monopólio do Partido Comunista decorria, não de um objetivo prévio, mas de 
uma postura assumida pelos menchevitas e sociais-revolucionários após a Revolução de 
Outubro, foi muitas vezes repetida, mesmo no periodo stalinista. Ver, por exemplo, o co­
nhecido manual redigido sob os cuidados de Vyshinsky. The law of the Soviet State 
(trad. da ed. russa de 1958). New York, 1948. p. 627. Igual ênfase é dada por constitu­
cion.alistas mais recentes (cf., por exemplo, Grigoryan & Dolgopolov. Fundamentals of 
SOVIet Stat law. Moscow, 1971, p. 94); da mesma forma por um histórico russo con­
temporâneo, tido por "um dissidente moderado" (cf. Medvedev. De la démocratie socia­
liste. Paris, 1972. p. 130 e segs., esp. p. 139). 
Papel Constitucional dos Partidos 13 
colaborar na edificação do socialismo; 2. tal colaboração, na prática, já se veri­
ficava; 3. reconheciam, tais partidos, a função de guia assumida pelo partido 
comunista.3 
Na Albânia e na Iugoslávia, o processo peculiar de luta contra as tropas 
nazistas de ocupação havia favorecido, desde o início, a reunião, em um único 
partido, de elementos de tendência socialista, e a conseqüente supressão de 
outras formações políticas. Na Romênia e na Hungria a reductio ad unum foi 
mais lenta e progressiva, mas as condições desses países permitiram que, tam­
bém neles, sobrevivesse um partido único de trabalhadores. 
2. Partidos não-comunistas em funcionamento na: a) Bulgária; b) Tchecos­
lováquia; c) República Democrática Alemã; d) Polônia 
Antes de examinar o status constitucional atualmente atribuído aos diversos 
partidos não-comunistas nos países analisados, convém proceder ao levanta­
mento dessas agremiações.4 
A) Na Bulgária,o atual Partido da União Agrária encontra suas longínquas 
raízes no antigo Partido Agrário que, embora abolido em 1935, continuara a 
bater-se clandestinamente, sob o regime autoritário do Rei Boris e durante a 
guerra - por uma regulamentação mais justa do regime econômico das terras. 
Em 1942, sua ala esquerda, juntamente com o Partido Socialista, aderiu à 
Frente Patriótica, liderada pelos comunistas. Depois da ocupação da Bulgária 
pelas tropas soviéticas, em 9 de setembro de 1944, enquanto os partidos bur­
gueses iam sendo eliminados, esse partido, depois de profunda depuração inter­
na que provocou a condenação à morte do velho líder Petkov, manteve-se em 
pé de igualdade com o Partido Comunista. Assim, pôde a Bulgaria apresentar­
se perante as Potências aliadas - após as eleições de 1946 - com um sistema 
político formalmente "bipartítico". Isto porque, naquele meio tempo, haviam 
sido compulsoriamente incorporadas ao Partido Comunista todas as outras for­
mações de esquerda, ou seja: o Zveno, o Partido Radical e o Partido Social 
Democrático.5 
B) Na Tchecoslováquia, os acontecimentos verificaram-se de modo diverso, 
pois que, após a liberação do domínio nazista, os partidos anteriores ao con­
flito mundial reorganizaram-se, reunindo-se numa Frente Nacional antifascista 
3 Cf. Makhnenko. The state law. cito p. 164. 
4 Para um quadro abrangente dos vários "partidos não-comunistas" existentes nos "esta­
dos socialistas" europeus, ver, por exemplo, no Ocidente: Garcia Alvarez. Los partidos 
no comunistas. cit., p. 143 e segs., e Aigner. Les partis non communistes. cit., p. 45 e segs. 
5 Cf., por exemplo, para todos os partidos referidos: Schultz. Die Verfassung der Volks· 
republik Bulgarien vom 18, Mai 1971. In: Jarbuch des afl. Rechts. 1973. p. 205 e, em 
especial, p. 208; Spasov. La Bulgarie. Paris, 1973, p. 150 e segs. (Col. Comment ils sont 
gouvernés); Bassanini. L'amministrazione local e neIJa Rep. Pop. Bulgara. In: Biscaretti 
Di Ruffia (sob os cuidados de). L'amministrazione locale in Europa, Milano, 1974, v. 2, 
p. 1 e segs. passim e, em especial, p. 208 (com rica bibliografia, mas com uma concepção 
bastante reduzida da liberdade de ação da União Agrária Popular); Stainov. Le systeme 
constitutionnel de la Rép. Pop. de Bulgarie. In: Corpus constitutionnel. Leiden, 1974. 
t. 2, fase. 1, p. 3, e em particular, p. 12. 
14 R.C.P. 2/86 
que contava, além do Partido Comunista e do Social Democrático, com alguns 
partidos pequeno-burgueses que haviam reconhecido as nacionalizações e cole­
tivizações rapidamente efetivadas no campo econômico. Após o "golpe de Es­
tado" de Praga, em 1948, o Partido Comunista absorveu o Social Democrático, 
mas, junto a ele, continuaram atuando, no quadro da Frente Nacional dois 
partidos na Boêmia e Morávia (o Popular Tchecoslovaco e o Socialista, deri­
vado da formação política análoga, liderada durante muitos anos por Benes) 
e dois outros na Eslováquia (o Partido da Reconstrução e o Partido da Li­
berdade).6 
C) Mais complexo e elaborado foi o processo da Alemanha Oriental, se se 
considerar que, após a assinatura do armistício com as forças alemãs, o esva­
ziamento político fora total, uma vez que o único partido que, até então, do­
minava o país, desde 1933, era o nazista, completamente aniquilado desde 
a cessação das hostilidades. Ora, inicialmente, mesmo na zona soviética de 
ocupação, haviam-se reestruturado os mesmos partidos antifascistas anteriores 
à guerra e que tinham bases nas outras três zonas da ocupação aliada. Porém 
com o desenvolvimento da chamada "guerra fria" na Alemanha Oriental, os 
seguintes partidos foram adquirindo autonomia no âmbito da Frente Nacional: 
o Partido Comunista, a União Democrática Cristã (que reunia aqueles que vi­
savam conciliar a doutrina católica/protestante com as teses econômicas do 
marxismo), o Partido Social Democrata (que, em seguida se uniu ao Partido 
Comunista na forma de Partido Socialista Unificado - SED) e o Partido Libe­
ral Democrático (criado desde 1945 por artesãos, pequenos empresários e inte­
lectuais). 
A esses partidos vieram unir-se, na zona soviética, dois outros, ao longo de 
1948: o Democrático Camponês (que se apresentava como um prolongamento 
do SED, na região rural) e o Nacional Democrático (com membros das novas 
cooperativas, alguns trabalhadores dependentes e não poucos membros das anti­
gas forças armadas nazistas, oriundos, em parte, do Comitê Nacional pela Ale­
manha Livre, constituído durante a guerra por prisioneiros militares na URSS). 
Em outras palavras, dada a complexidade da sociedade alemã, não se quis 
que o SED fosse integrado por pessoas pertencentes a categorias tão diversas 
e de convicções tão díspares. Preferiu-se, pois, deixar aos partidos certa auto­
nomia de organização; para que os princípios essenciais da criação de uma 
nova sociedade proviessem, também, de tais formações políticas, sem exces· 
sivas reservas.' 
6 Cf., por exemplo, para todos os partidos referidos: Knapp & Mlynar. La Tchécoslo­
vaquie. Paris, 1965, p. 112·3 (Col. Comment ils sont gouvernés); Kusin. Political grouping 
in the Czechoslovak rejorm movement. London, 1972. p. 162 e segs.; ULC. Politics in 
Czechoslovakia. S. Francisco. 1974. p. 39 e segs.; Lammich & Schmid. Die Staatsordnung 
der Tschechoslowakei. Berlin, 1979. p. 38 e segs.; Lammich. Verfassungsordnung der 
Tschecoslowakischen Sozialistischen Republik. In: Jahrbuch des afl. Rechts. 1979. p. 487, 
e, em particular, p. 500 e segs. 
7 Cf., entre muitos: Mampel. Die sozialistische Verfassung der DDR. Frankfurt, 1972 
(uma espécie de extensos comentários aos arts. 3.° e 29); Charvin. La République Dé· 
mocratique Allemande. Paris, 1973. p. 132-47; Sontheimer & Bleek. La Rép. Dém. AI­
lemande (da ed. alemã ocidental de 1972), Paris, 1975. p. 61 e segs.; Toumadre, Stieg & 
Horling. La République Démocratique Allemande: textes e documents. Paris, 1977, p. 52. 
Papel Constitucional dos Partidos 15 
D) Peculiar, também, foi o processo de organização dos partidos políticos na 
Polônia, onde a Igreja Católica desfrutava de alto prestígio, pela sua qualidade 
de símbolo da unidade nacional, por ela mantida nos períodos difíceis vividos 
pelo país em séculos anteriores, e onde numerosos expoentes nacionalistas, re­
fugiados em Londres com Mikolaiczyk durante a guerra, haviam retomado 
àpátria, com o apoio das potências ocidentais. De qualquer forma, até as 
eleições de 1947, o Conselho Nacional do Povo (dirigido pelos comunistas) con­
gregava o Partido Operário Polonês (ex-Partido Comunista), o Partido Socia­
lista, o Partido Democrático e o Popular. Este último, porém, para o qual 
haviam afluído muitos remanescentes do "governo no exílio", constituído em 
Londres durante a guerra, apresentou-se, nas eleições, separado do Bloco dos 
Partidos Democráticos Antifascistas, bloco este que conquistou 394 das 444 
cadeiras. 
Em 1948, contudo, o Partido Operário Polonês e o Partido Socialista fun­
diram-se no Partido Operário Unificado. Por sua vez, em 1949, ressurgiam, 
com novas estruturas, o Partido Camponês Unificado (com a eliminação de 
qualquer resíduo do precedente Partido Popular) e o Partido Democrático (de­
purado dos elementos que não eram da esquerda). 
Além disso, alguns movimentos políticos católicos, que de certa forma cola­
boravam com o novo regime (entre eles o Znak, mais vinculado à Cúria, e o 
Pax, mais próximo do Partido Comunista), conseguiam manter certa auto­
nomia.8 
3. O status jurídico dos "partidos não-comunistas" e a progressiva constitu­
cionalização do papel que lhes foi destinado, correspondente à "função de 
guia", assegurada, pelas respectivas Constituições, aos partidos comunistas 
Observando-se o status jurídico dos "partidos não-comunistas", nos estados 
focalizados, pode-se afirmar que, na primeira fase de reconstrução constitucio­
nal do imediato pós-guerra, os partidos, de modo geral, haviam sido totalmente 
ignorados nos textos de transição adotados em 1944 e 1948 (ver quadro 1). 
Naqueleperíodo, com efeito, procurava-se, por todos os meios, eliminar da 
atividade política as forças remanescentes do mundo capitalista anterior, fre­
qüentemente de modo drástico, com recurso a severas medidas -policiais e a 
graves condenações de natureza penal. 
De 1948 a 1954, em todos os países socialistas europeus, foram elaboradas 
Constituições de tipo stalinista (com base no texto soviético de 1936). Mas, 
de modo geral, continuava-se a não fazer menção expressa aos partidos polí-
8 Cf. Rozmaryn. La Pologne. Paris, 1963. p. 63 e segs. (Coll. Comment i1s sont gouver­
nés); Lopatka. Le systeme de parti en Pologne. In: Etudes sur /e droit p%nais actuel. 
Paris e La Maye, 1968; Mikolaiczyk. The place 01 the United Peasant Party in the Polish 
Party System e Kulczinski. The role of the Democratic Party. In: Cielak. Poland since 
1956. New York, 1972. Respectivamente p. 68 e 76 e segs.; Zakrzewkshi. Grundzüge der 
polnischen Verfassungsreform vom 10 Februar 1976. In: Jahrbüeh des õ/l. Reehts. 1978. 
p. 297 e em especial, p. 301; Hanicotte. Le tripartisme polonais ou la coopération politique 
institutionelle. In: Rev. Fr. Se. Politique, 1983, p. 480. 
16 R.C.P. 2/86 
Ciclos consti-
tucionais 
(L" fase) 
Constituições 
de transição 
(1944-48) 
(2." fase) 
Constituições 
de modelo 
stalinista 
(1948-54) 
(3." fase) 
Constituições 
de socialismo 
nacional 
(1955-56 
em diante) 
Albânia 
Insurreição 
(1941-45) 
1946 
Quadro 1 
Constituições e partidos políticos dos estados socialistas europeus (em 1.1.83) 
Tchecoslo- República 
Bulgária váquia Democrática Polônia 
Alemã 
Fim do período A Const. de Ocupação mili- Const. pro-
do Czar Simeão 1920 é retoma- tar soviética visória de 
em 1946 da em 1945. 1947 
Em 1948, demi-
1947 
te-se Benes 
1948 
1960 
(Lei Constit. 
de 1968 
sobre o estado 
federal) 
1949 1952 
1968 
Romênia Hungria 
-----
Fim do rei- Const. pro­
nado do Rei visória de 
Miguel, em 1946 
1947 
1948-52 
1965 (re­
vista até 
1975) 
1949 
-
Iugoslávia 
-_._---
Insurreição 
(1941-45) 
1946-53 
(revisão) 
1963 
(revisão 
67-68) 
URSS 
- -_.-
Guerra civil 
(1917-20) 
1918 - R. Russa 
1924- URSS 
1936 
(Continua) 
(Conclusão) 
Ciclos Tchecoslo- República 
constitu- Albânia Bulgária váquia Democrática Polônia Romênia Hungria Iugoslávia URSS 
cionais Alemã 
-----
(socialismo) 1976 1971 1974 1976 1972 1974 1977 
(revisão) (revisão) (revisão) 
Partidos Partido Tra- P. Comunista P. Comunista P. Social. P. Operá- P. Comu- P. Socialista Liga dos P. Comunista 
balhista P. da União P. Social. Unif. (SED) rio Unifico nista Operário Comunistas 
Agrária Tcheco P. Dem. Cam- P. Campo-
P. Pop. ponês nês Unifico 
Tcheco P. Liberal P. Demo-
P. da Recons· Dem. crático 
trução Eslov. União Dem. 
P. da Liberda- Cristã 
de Eslov. 
Frentes P. Democrá- F. Patriótica F. Nacional dos Frente Nacio- F. de Uni- F. da De- F. Nacional Aliança So-
tico da AI. Tchecoslova- nal da de Na- mocracia e Patriótica dalista 
bânia cos donal da Unidade do Povo 
Socialista Trabalha· 
dor 
ticos,9 com duas exceções: a Constituição tcheca de 9 de maio de 1948, que 
no seu art. 4.°, § 3.° reconhecia, entre outros, o direito de o povo organizar-se 
em associações políticas; e a Constituição alemã, de 7 de outubro de 1949. 
Nesta, embora sem referências precisas aos partidos políticos, o assunto era 
ventilado, sobretudo no art. 13 (em que se permitia a formação de associações 
com fins políticos, bem como a apresentação de candidaturas nas eleições -
dispositivo claramente inspirado nos arts. 126 e 141 da Constituição soviética 
de 1936); no art. 92, em que se afirmava que todas as formações políticas 
representadas na Câmara popular 'por, no mínimo, 40 membros, deveriam ter 
representação proporcional no governo; no art. 87, que reconhecia aos parti­
dos representando pelo menos 1/5 do eleitorado o direito de pedir um refe­
rendo; e no art. 130, que atribuía aos partidos e às organizações sociais a 
apresentação das candidaturas dos juízes que lhes fossem encaminhadas pelos 
órgãos de classe competentes. 
No mesmo período, porém, tendo em vista o objetivo de transpor a fase 
transitória das chamadas "democracias populares" (nas quais remanesciam, 
na prática, numerosos vestígios da ordem capitalista) bem como de instaurar 
o socialismo, não mais se justificavam, dada a supressão de tais conflitos -
quando não, eliminar - os partidos não-comunistas. Tal objetivo, como visto, 
fora atingido na Romênia e na Hungria, ao passo que, nos outros quatro estados 
focalizados, os partidos que colaboravam com o comunista sobreviveram. 
Conseguiram tais agremiações um status plenamente reconhecido, além da 
guarida constitucional nos textos elaborados a partir de 1960, na fase denomi­
nada pelos publicistas ocidentais de "socialismo nacional". Nestes textos, ain­
da hoje vigentes, ao lado da "função de guia", atribuída, formalmente, ao 
Partido Comunista, logo nos artigos iniciais (não obstante as formulações diver­
sas, conforme se verifica no quadro 2), figuram, também, claras referências 
à existência e às atribuições dos partidos menores já indicados (ver quadro 3). 
Em outras palavras: a concepção radical de que os diferentes partidos ape­
nas representassem, nos estados capitalistas, a projeção política dos diversos 
interesses conflitantes das classes sociais - e que, portanto, com o advento 
do socialismo, não mais se justificavam, dada a supressão de tais conflitos -
foi substituída pela concepção relativista, segundo a qual, mesmo numa socie­
dade socialista é possível, através de um pluralismo partidário, a expressão dos 
interesses de categorias sociais diferenciadas, ainda que no âmbito de uma 
única classe proletária.10 
Deste modo, na Tchecoslováquia de 1960 (art. 6.°) e na República De­
mocrática Alemã de 1968 (arts. 3.°, § 2.° e art. 29), mencionava-se a contri­
buição que tais partidos e organizações sociais - indicados sem especificação 
- estavam destinados a dar ao desenvolvimento da sociedade socialista: Já na 
Bulgária, em 1971 (art. 1.0, § 3.° e art. 11), o Partido da União Agrária Popu­
lar vem nominalmente indicado como aquele que, sob a direção do Partido Co­
munista, teria concorrido, também, para a edificação da sociedade "em estreita 
e fraterna colaboração"; na Polônia, em 1976 (art. 3.°, § 2.° da Constituição 
9 Ver, por exemplo, as observações do húngaro Kovacs. New elements in the evolution 
of socialist constitutions. Budapest, 1968. p. 215. 
10 Explicitamente em tal sentido se manifesta, por exemplo, ° já citado Makhnenko. The 
stqtB law. p. 167 e segs. 
Papel Constitucional dos Partidos 19 
Quadro 2 
Artigos das constituições vigentes nos "estados socialistas" europeus que dispõem 
sobre a "função de guia" do Partido Comunista (em 1.1.1983) 
URSS Albânia Bulgária Tchecoslováquia 
(art. 6.°, Consto 1977) (art. 3.°, Consto 1976) (art. 1.0, § 2.°, Const. 1971) (art. 4.°, Const. 1960) 
o PC da URSS é a força O Partido Trabalhista da 
que dirige e guia a sociedade Albânia, vanguarda da clas­
soviética, o núcleo de seu se operária, é a única força 
sistema político, das organi- política dirigente do estado 
zações estatais e sociais (etc.) e da sociedade (etc.). 
O Partido Comunista búl- A vanguarda da classe ope­
garo é a força dirigente rária, o PC tchecoslovaco, 
da sociedade e do estado livre associação dos cida­
(etc.). dãos mais ativos e conscien-
tes, oriundos das hostes 
dos operários, dos campo­
neses e dos intelectuais, 
constitui a força dirigente 
da sociedade cio estado. 
X X 
Polônia Romênia Hungria 
República Democrática 
Alemã 
A ROA é um estado socia­
lista dos operários e cam­
poneses. Ela constitui a or­
ganização política dos tra­
balhadores, das cidades e 
do campo, sob a direção 
da classe operária e de 
seu partido marxista-Ieni­
nista (etc.). 
X 
Iugoslávia 
(art. 3.°, texto revisto em 1976) (ar\. 26, § 2.°, Const. de 1965) (art. 3.°, Const. 1972) (Princípio fundamental VIII 
Consto 1974) 
A força política dirigenteda socieda­
de na edificação do socialismo é o 
Partido Operário Unificado Polonês 
(etc.) 
X 
" .. 
O PC romeno exprime e atende, 
fielmente. as aspirações e os inte­
resses vitais do povo; dirige a cons­
trução socialista em todos os seto­
res; guia a atividade das organi­
zações de massa, das organizações 
públicas e dos órgãos do estado. 
o Partido Marxista-Leni­
nista da classe operária é 
a força dirigente da socie-
dade 
Obs.: o sinal X indica que o Partido Comunista coexiste com outros partidos (ver quadros 1 e 3). 
(A Liga dos Comunistas da Iugoslávia 
é "a força organizada ideal e política 
condutora da classe operária e de to­
dos os trabalhadores na edificação do 
socialismo" etc.) 
Quadro 3 
Artigos das Constituições vigentes nos "estados socialistas" europeus que reconhecem, 
formalmente, a existência de outros partidos, além do Partido Comunista 
Bulgária 
(art. 1.0, § 3.0, Const. 1971) 
o PC búlgaro dirige a edificação 
da sociedade socialista na Rep. Pop. 
da Bulgária, em estreita e fraterna 
colaboração com a União Agrária 
Popular Búlgara 
(art. 11) 
A Frente Patriótica é a expressão 
da aliança entre a classe operária, 
os trabalhadores rurais e os inte­
lectuais de origem popular. Ela 
constitui o sustentáculo do poder 
popular e uma escola de massa 
para a educação patriótica e comu­
nista da população para levar os 
trabalhadores a participarem do 
governo popular 
Tchecoslováquia 
(art. 6.0
, Consto 1960) 
A Frente Nacional dos tchecoslo­
vacos, na qual estão reunidas as 
organizações sociais (N . d. t. e até 
mesmos os partidos), é a expressão 
política da união dos trabalhadores 
das cidades e do campo, sob a 
direção do PC tchecoslovaco 
Rep. Dem. Alemã 
(art. 3.0
, § 2.0
, texto revist. 1968) 
Na Frente Nacional da RDA, os 
partidos e as organizações de mas­
sa congregam todas as forças do 
povo em uma ação comum para o 
desenvolvimento da sociedade so-
cialista 
(art. 29) 
Os cidadãos da RDA têm direito 
de associar-se em partidos políticos, 
organizações sociais, associações e 
grupos para a defesa dos próprios 
interesses, em harmonia com os 
princípios e finalidades desta Cons-
tituição 
Polônia 
(art. 3.0
, § 2.0
, texto revisto 1976) 
A ação coordenada do Partido 
Operário Unificado Polonês, do 
Partido Camponês Unificado e 
do Partido Democrático consti­
tui a base da Frente de Unidade 
Nacional 
(art. 3:, § 3.0
) 
A Frente de Unidade Nacional 
é a plataforma de ação comum 
das organizações sociais do povo 
trabalhador e da união patrióti­
ca de todos os cidadãos-filiados 
ou não a partidos políticos, in­
dependentemente de credo reli­
gioso em favor dos interesses 
vitais da Rep. Pop. da PolÔnia 
revista), o Partido Camponês Unificado e o Partido Democrático eram mencio­
nados, ao lado do Partido Operário Unificado, com a finalidade de atuarem, 
em conjunto, no quadro da Frente de Unidade Nacional. 
Entretanto, se para o leitor atento dos dispositivos constitucionais vigoran­
tes nos "estados socialistas" europeus (reproduzidos nos quadros), sobressai 
claramente a "função de guia" do Estado e da sociedade na edificação do socia­
lismo atribuída ao Partido Comunista, o mesmo não ocorre com os objetivos 
fixados para os partidos menores reconhecidos nos quatro estados pluriparti­
dários, sendo difícil identificá-los com precisão. 
Todavia, para uma descrição exata da situação, impõe-se considerar - a 
exemplo de alguns autores, socialistas e ocidentais - que a mencionada "plu­
ralidade não significa pluralismo, uma vez que a primeira exclui qualquer 
oposição às estruturas sócio-econômicas socialistas. Assim, as possíveis diver­
gências entre os partidos c:o-partícipes da edificação da sociedade socialista só 
poderão ser verificados dentro do contexto socialista".u Chegou-se, mesmo, 
a falar de um "pluripartidarismo unanimitário" .12 De qualquer modo, é certo 
que tais agremiações não podem ser definidas como partidos de oposição -
uma vez que devem submeter-se à escolha consumada do regime. Não podem, 
nem ao menos, ser considerados, em sentido estrito, como "partidos de coali­
zão", pois que a estes é atribuído mero "papel consultivo" /3 ao passo que 
nas entidades partidárias citadas estão representados interesses de natureza agrí­
cola, cultural, profissional etc., tidos como merecedores de uma consideração 
especial, mesmo no âmbito de uma "sociedade socialista avançada". 
As observações feitas parecem suficientes para esclarecer o papel constituo 
cionalmente reconhecido aos mencionados partidos, colaterais ao comunista, nos 
quatro estados socialistas europeus aqui focalizados. Sob o plano político, po­
rém, é mais difícil entender o fato de pessoas que tencionam atuar efetivamente 
na vida pública permanecerem no quadro dos citados partidos, renunciando, 
de saída, portanto, pela própria natureza das coisas, a alcançar posições expo­
nenciais, visto que ficam subordinadas a forças e interesses setoriais bem defi­
nidos, em situação eternamente minoritária. 
4. Os mecanismos de cooperação e de coordenação dos partidos "não-comu­
nistas" com o partido comunista nos quatro países em foco 
Para melhor conhecimento do status constitucionalmente atribuído aos parti­
dos menores aqui indicados, convém examinar ainda que, sinteticamente, os 
mecanismos de cooperação e de coordenação dos referidos partidos entre si e 
111 A frase entre aspas é de Charvin. La Rép. Dém. Allemande. cito p. 135; mas é 
significativo que a mesma frase fora referida, igualmente entre aspas, pelo publicista ru­
meno Draganu, que a apresenta como de sua autoria, em Strutures et institutions cons­
titutionnelles. op. cito p. 55. 
:12 Tal expressão dá título a um parágrafo especial da obra de Charvin, Les états socia­
listes européens_ op_ cito p. 198. 
13 Ver Ruffia, Biscaretti, di. Introduzione ai diritto costituzionale comparato. 4. ed. Mi­
lano, 1980. p. 413. 
22 R.C.P. 2/86 
com os respectivos partidos comunistas. Os seguintes instrumentos e institutos 
específicos serão sucessivamente apreciados: a) a formação de "frentes nacio­
nais" (agora, também, reconhecidas no texto constitucional); b) a representa­
ção institucional dos "partidos não-comunistas" nos órgãos de poder e de ad­
ministração estatal; c) a predisposição de contatos permanentes entre as cúpu­
las de todos os partidos em qualquer nível de governo. 
A) A formação de "frentes nacionais" constitucionalmente reconhecidas 
Primeiramente, cabe recordar a existência, nos estados socialistas europeus, 
com exceção da URSS, de "frentes nacionais" (não obstante as denominações 
diversas, cf. quadro 1), nas quais costumam reunir-se as mais variadas forma­
ções sociais (desde os eventuais partidos não-comunistas, até os sindicatos, 
uniões de jovens, mulheres, de ex-correligionários etc.), além de cidadãos, a 
título pessoal. Na verdade, impõe-se lembrar que nos países socialistas o par­
tido comunista agrupa, apenas, um número restrito de componentes da coleti­
vidade popular que se revelam particularmente sensíveis aos problemas da 
vida pública e dispõem-se a assumir numerosos ônus funcionais no interesse 
da própria coletividade (em percentuais que, em relação ao conjunto da popu­
lação, oscilam entre 5 e 10%). 1! claro que no programa unitário dessas "fren­
tes", não se encontra a distinção tradicional que se faz no Ocidente entre 
"partidos do governo", e "partidos de oposição", a partir do momento em que 
elas tornam possível a participação, na vida pública, de numerosos cidadãos 
não filiados ao partido único, ou aos partidos coligados subsistentes, mas que 
desejam, de alguma forma, nela tomar parte.u 
E tais "frentes - nos quatro estados socialistas analisados - estão plena­
mente constitucionalizadas, conforme se pode verificar no quadro 2 e nos ter­
mos das Leis Magnas da Bulgária (art. 11, da Tchecoslováquia (art. 6.0
), 
da República Democrática Alemã (art. 3.0
, § 2.0
) e da Polônia (art. 3.0
). 
Ora, pode-se salientar como uma das funções essenciais geralmentereconhe­
cidas a essas "frentes" - que dispõem de estatutos, comitês dotados de sedes 
centrais e locais, congressos e conferências - a de apresentar a lista dos can­
didatos, de todas as classes e níveis, às eleições. De regra, as candidaturas são 
propostas pelos partidos, sindicatos e organizações de caráter social, mas, numa 
segunda fase, são selecionadas e coordenadas pelas "frentes nacionais". Por 
conseguinte, as listas definidas decorrem de escolha de natureza política (com 
representantes dos partidos de maior projeção na vida pública - e, obviamente, 
com nítida predominância dos componentes do Partido Comunista) ou social 
(visando-se permitir uma representação adequada das diversas entidades re­
feridas). 
14 Em todas as monografias relativas a cada um dos "estados socialistas" europeus, as 
mencionadas "Frentes" têm suscitado amplo interesse. Em relação aos comparatistas dos 
países de Leste, pode ser significativo recordar como o soviético Makhnenko reservou 
um capítulo especial para esse tema, com o título The people's (National Front), em seu 
último volume The state law of the socialist countries. 
Papel Constitucional dos Partidos 23 
Recorde-se, a propósito, que enquanto na República Democrática Alemã e 
na Polônia os colégios eleitorais são plurinominais (67, na RDA, com um nú­
mero de cadeiras variável entre quatro e oito, e na Polônia, 72, com três a dez 
cadeiras), na Bulgária e na Tchecoslováquia, ao contrário, eles são uninomi­
nais. Entretanto, na Polônia há vários anos que as listas de candidatos contêm 
um número de indicações apenas ligeiramente superior àquele de cadeiras a 
serem preenchidas, restringindo, pois, a margem de escolha dos eleitores. 
Nos dois países de colégios uninominais (nos quais, para ser eleito, o can­
didato deve obter a maioria absoluta dos votos expressos, o que, normalmente, 
ocorre, tornando dispensável a realização de um segundo escrutínio) a reparti­
ção das cadeiras entre os partidos e as diversas organizações é feita de forma 
equilibrada, abrangendo os expoentes dos diversos partidos e organizações.u 
B) A representação institucional dos "partidos não-comunistas" nos organis­
mos de poder e na administração estatal 
A conseqüência mais imediata e evidente dos procedimentos eleitorais des­
critos é que em todas as assembléias representativas dos diversos níveis (desde 
o Parlamento até os Conselhos populares das menores comunas) figuram sem­
pre representantes dos partidos que cooperam com o comunista. 
Confrontando-se os dados oficiais mais recentes disponíveis no Ocidente so­
bre as assembléias parlamentares da Bulgária,16 Tchecoslováquia,H Alemanha 
15 As indicações apontadas foram fornecidas nos últimos volumes (publicados sob o 
título Chronicle of parliament elections and developments) que, anualmente, são dedicados 
pela União Interparlamentar, com sede em Genebra, às eleições realizadas nos vários 
estados-membros. Entretanto, dados precisos sobre os processos eleitorais adotados em 
cada um dos países socialistas podem ser encontrados na obra de Staar. Communist regi­
mes in Eastern Europe. 3. ed. Stanford, 1977, que se documentou solidamente, basean­
do-se em publicações oficiais dos próprios países socialistas. 
16 De acordo com o citado v. 9-1976, editado pela União Interparlamentar (p. 33), nas 
eleições de 30 de maio de 1976 para a Assembléia Nacional Búlgara (colégios uninomi­
nais. com um único candidato oficial), os resultados foram os seguintes: deputados do 
Partido Comunista, 272; da União Agrária Popular, 100; os "sem-partidos", designados 
pela Frente Patriótica, 28; alcançando um total de 400. Os dados relativos às eleições 
para a Assembléia Nacional, realizadas de 1957 a 1976, figuram numa tabela apropriada, 
na obra citada de Staar. Communist regimes. p. 37. Segundo a mesma fonte (p. 36/7), o 
número de inscritos, em 1976, no Partido Comunista era de 789.796, e os membros da 
União Agrária Popular, 130 mil (a qual, conforme comentário do mesmo autor, não des­
frutava de autonomia real). 
H Na Tchecoslováquia, nas eleições para a Assembléia Federal (formada pela Câmara das 
Nações, com 150 membros, dos quais 75 tchecos e 75 eslovacos, e pela Câmara Popular, 
de 200 membros) de 22-23 de outubro de 1976, segundo as indicações do v. 11-1977 (p. 43), 
da citada Chronicle, foram registrados os seguintes resultados (referentes ao total de 350 
parlamentares): Partido Comunista, 237 cadeiras; Partido Popular Tchecoslovaco, 18; 
Partido Socialista Tchecoslovaco, 17; Partido Eslovaco da Reconstrução, 4; Partido Es­
lovaco da Liberdade, 4; "sem-partidos", designados pela Frente Nacional, 70. Segundo 
Staar, no seu livro citado Communist regimes, p. 65, em 1976, o Partido Comunista 
(após o "expurgo" que se seguiu aos acontecimentos de 1968) contava com 1.382.860 mem­
bros (estando incluídos neste número os seus candidatos). Além disso, com base nos 
24 R.C.P. 2/86 
Democrática18 e Polônia,19 poder-se-á facilmente constatar qual o peso atribuído 
ao grupo político dominante e aos partidos menores citados. Partidos menores 
esses, que, em geral, constituem, no seio das respectivas assembléias grupos 
parlamentares distintos (com exceção da Tchecoslováquia), enquanto seus diri­
gentes integram sempre as mesas diretoras de tais assembléias. Em relação aos 
órgãos locais, as quotas de representação dos partidos menores correspondem 
àquelas que lhes são atribuídas em esferas mais elevadas.20 
dados fornecidos por Lammich. Verfassungsordnung der Tscecoslow, Soz. Rep. cit., p. 
501, em 1977, o Partido Popular Tchecoslovaco teria tido 66 mil inscritos e o Partido 
Socialista Tchecoslovaco, 18 mil; ao passo que, em 1978, na Eslováquia, o Partido da 
Reconstrução contaria com 364 membros e o da Liberdade, somente 284. 
18 Na República Democrática Alemã, nas eleições para a Câmara Popular (Volkskammer) 
de 17 de outubro de 1976 (com 591 candidatos para 434 cadeiras eletivas, às quais se 
somaram, depois, outros 66 deputados designados pela Assembléia Municipal de Berlim 
Oriental), os representantes da Frente Nacional eram oriundos dos seguintes partidos ou 
organizações (de acordo com os dados referidos no v. 11-1977, da citada Chronicle): 
Partido Socialista Unificado (SED), União Democrática Cristã (CDU), Partido Nacional 
Democrático (LDLD), Partido Camponês Democrático (DBD), Liga Democrática das 
Mulheres (LFD) Juventude Livre Alemã (FDI), União Alemã dos Sindicatos (FDGB), 
Liga Alemã da Cultura (DKB). Dos dados referidos, não decorre a distribuição das 
cadeiras entre os vários partidos ou organizações, que, entretanto, em todas as elei­
ções precedentes fora sempre preestabelecida pela Frente Nacional com critérios bas· 
tante precisos. Segundo o volume citado de Sontheimer & B1eek La Rép. Dém. Allemande. 
p. 87, por exemplo, após as eleições de 1971, os resultados haviam sido os seguintes: 
para um total de 500 cadeiras, 127 tinham sido destinadas ao Partido Socialista Unificado; 
52 a cada um dos outros quatro partidos; 68 para a União Alemã dos Sindicatos; 40, 
para a Juventude Livre Alemã; 35, para a Liga Democrática, das Mulheres; 22, para a Liga 
Alemã da Cultura. Note-se, ainda, que o mencionado número de 52 deputados para 
cada partido menor (dos quais 45 eleitos diretamente pelo corpo eleitoral e 7 designados 
pela Assembléia Municipal de Berlim Oriental) permanecera o mesmo após a lei eleitoral 
de 1963 (cujo texto é reproduzido, por exemplo, em Gotsche. Wahlen in der DDR. Ber­
lin Est, 1963. p. 17), com base numa deliberação da Frente Nacional (que até então 
número de candidatos das listas apresentadas pela Frente tem sido, com freqüência, Iigei­
apresentara uma "lista fechada", ao passo que para as eleições locais, ultimamente, o 
ramente superior àquele dos postos disponíveis). Segundo Charvin (La Rép. Dém. Alleman­
de. op. cit. capo 2, p. 91 e segs.), em 1970, o SED contava com 1.904.026 membros, 
número este que, em 1976, de acordo com Staar (Communist regimes. op. cit. p. 94), 
elevava-separa 2.043.697; a União Democrática Cristã era formada por cerca de 150 mil 
filiados; o Partido Nacional Democrático, por aproximadamente, 140 mil; o Partido Libe­
raI Democrático, por mais de 100 mil, e o Partido Camponês Democrático, por volta 
de 70 mil. 
19 Na Polônia, nas eleições para a Dieta, em 23 de março de 1980 (com 646 candidatos 
para 460 cadeiras), os resultados foram os seguintes (de acordo com os dados indicados 
no n.· 14-1980 da citada Chronicle): Partido Operário Unificado, 261 (ou seja, 57% do 
total); Partido Camponês Unificado, 113; Partido Democrático, 37; "sem-partidos", 49 (dos 
quais cinco pertencentes a movimentos católicos). Pode·se observar que, enquanto os três 
partidos mencionados constituíram, no seio da Dieta, grupos parlamentares distintos, tal 
status não foi reconhecido aos movimentos católicos. Na obra já citada de Staar, figura 
uma tabela dos resultados das eleições para a Dieta, de 1965 a 1976 (p. 129), indicando, 
também, que, em dezembro de 1976, o número de inscritos no Partido Operário Unifi­
cado era de 2.500 mil (p. 133). 
20 Na Polônia, os presidentes dos três grupos parlamentares dos partidos, juntamente 
com os componentes do Conselho da Presidência da Dieta, formam o chamado Conselho 
dos Anciãos, órgão consultivo da presidência. Tenha·se, igualmente, presente que na Polô-
Papel Constitucional dos Partidos 25 
Note-se, além disso, que em outros órgãos do poder estatal (os diversos Con­
selhos de Estado) e naqueles de natureza administrativa (Conselho de Ministros 
em nível central e Comitê Executivo dos Conselhos Populares, em nível local) 
é comum encontrar-se representantes de partidos minoritários, como se de­
preende, facilmente, das publicações editadas no Ocidente, que, periodicamente, 
divulgam a composição dos referidos órgãos. 
É claro, pois, que, através dessa presença - ainda que minoritária - os 
partidos menores podem fazer ouvir sua voz em todos os locais em que, for­
malmente, são tomadas as decisões essenciais para a vida pública dos respec­
tivos países. 
C) A predisposição de contatos permanentes entre dirigentes de todos os 
partidos em todos os níveis de governo 
Na verdade, os contatos entre o Partido Comunista e os partidos minoritários 
se verificam, também, de forma direta, através de Comitês interpartidários que 
atuam nos diversos planos. Essa rede revela-se particularmente ativa na Polônia 
(não só no centro, mas também nos vários Voivodie (províncias) e em cada 
um dos distritos). Na República Democrática Alemã, ao lado das referidas 
"frentes" (que, como foi dito, são integradas, também, por cidadãos a título 
pessoal), existe o "Bloco Democrático dos Partidos e das Organizações de 
Massa", isto é, uma organização constituída com o fim de coligar as mais signi­
ficativas formações sociais.21 
Da mesma forma, os congressos de cada partido costumam contar com a 
participação de delegados de outras agremiações, e não é raro que nessas reu­
niões sejam tomadas "decisões comuns" aos órgãos diretores de todos os parti­
tidos do Pais.22 
5. Algumas considerações conclusivas sobre o papel efetivo dos "partidos não­
comunistas" nos "estados socialistas" europeus e sobre suas perspectivas 
imediatas 
Dados os limites deste artigo, cabem, agora, algumas reflexões finais sobre 
o futuro dos "partidos não-comunistas" aqui examinados. 
Antes de tudo, depreende-se, claramente, do que foi dito que os referidos 
partidos minoritários estão fortemente condicionados em seus estatutos, pro­
gramas e atividades por uma série de fatores externos e internos.23 Entre os 
nia, após as eleições de 1980 para a Dieta, pela primeira vez o Conselho de Estado (órgão 
colegial supremo do Estado, como o Presidium do Soviete Supremo, na URSS), ficou 
constituído sem uma representação majoritária do Partido Operário Unificado. Assim, dos 
17 componentes daquele Colegiado, apenas oito membros dele provinham, uma vez que 
seis eram oriundos de dois partidos menores, dois eram independentes e um originara-se 
de um grupo católico filocomunista (cf. Relazioni internazionali. 1980. p. 336). 
21 V. Aigner. Les partis non communistes. op. cito p. 50. 
22 Ver, por exemplo, Makhnenko. The state law. op. dt. p. 171 
23 Ver, por exemplo, Aigner. Les partis non communistes. op. cit. p. 53. 
26 R.C.P. 2/86 
primeiros, recorde-se, ao menos, os seguintes: a atuação do Partido Comunis­
ta, em sua "função de guia" no plano da institucionalização desses partidos; 
a sua sujeição aos mecanismos de cooperação e de coordenação recípro­
ca; o papel nitidamente secundário que lhes foi destinado no quadro dos 
mencionados processos eleitorais. Na segunda ordem de fatores, ressaltem-se: 
a necessidade de inserir entre os pressupostos inderrocáveis de seu programa 
os fundamentos da doutrina marxista-Ieninista do Estado; a circunstância que, 
por um inexorável fenômeno de mimetismo, também esses partidos foram 
levados a adotar nas respectivas organizações internas as estruturas do "centra­
lismo democrático", peculiares aos respectivos países. 
Ora, a conseqüência mais evidente dos referidos fatores é a reduzida in­
fluência desses partidos, nos últimos decênios, na gestão governamental. 
Costuma-se citar o caso da União Democrático-Cristã na Alemanha Oriental 
que, na sua época, conseguiu introduzir algumas modificações no projeto de 
Código de direito de família;2~ na Tchecoslováquia de 1968, contudo, a "pri­
mavera de Praga" foi obra dos mesmos dirigentes mais iluminados e compreen­
sivos do Partido Comunista (sem contribuição ulterior significativa dos de­
mais partidos) e na Polônia de 1980/81, a abertura para uma vida sindical 
e política mais rica e variada ocorreu em seguida a um movimento espon­
tâneo de trabalhadores, apoiados por elementos de prestígio da classe inte­
lectual, dando origem aos diversos sindicatos coordenados pelo "Solidariedade" 
(e a própria criação do "Solidariedade rural" demonstra como os camponeses 
não se sentiam adequadamente representados pelo já existente Partido Cam­
ponês Unificado).25 
Em outras palavras, sempre que se verificaram profundos movimentos sociais, 
os partidos não-comunistas não estiveram em condições de liderá-los (com 
exceção da efêmera revolta em Budapeste de 1956, sangrentamente sufocada 
pelas forças soviéticas, de forma definitiva, pois que não renasceu, mesmo na 
Hungria mais liberal de Kadar). E, provavelmente, isto aconteceu porque os 
próprios partidos menores apresentaram-se, ante as populações interessadas, 
como desprovidos de qualquer prestígio real, dada a sua submissão excessiva 
ao Partido Comunista dominante. De qualquer modo, é inegável que, no plano 
prático, se se considerar o passado recente, o diálogo entre as forças políticas 
e sociais deu-se de forma bastante mais aberta na Polônia (até os aconteci­
mentos de 1980-81) do que na Tchecoslováquia contemporânea; igualmente, 
esse diálogo apresenta-se bastante mais intenso na Alemanha Oriental do que 
na Bulgária. 
Além disso, permanece a dúvida sobre se, em futuro próximo, ocorrerá 
o progressivo enfraquecimento das estruturas dos partidos menores, não obstan­
te, muitos deles, estarem consagrados em recentes Constituições e apesar das 
reiteradas afirmativas de numerosos publicistas e expoentes políticos dos países 
em foco. sobre a sua importância no atendimento a reais exigências das res-
24 Ver, por exemplo, Aigner. op. cito p. 54. 
25 Sobre tais fatos, ver, por exemplo, a crônica sobre La Pologne: l'année politique, 
n." 4.663-64, 10 eSp. 1981, das Notes et études documentaires, dedicado à URSS e à Eu­
ropa de Leste em 1980-81, p. 185 e segs.; da mesma forma, o documentado artigo de 
Garcia Alvarez. Reformas en Polonia (ago. 1980/dez. 1981). In: Estudos Políticos. (24): 
243. 1981. 
Papel Constitucional dos Partidos 27 
pectivas coletividades. Esta dúvida é tanto mais forte se, por um lado, se tiver 
em mente o flagrante nivelamento social verificado nos últimos anos, nos 
estados aqui examinados26 (com a exceção, não desprezível,das novas elites 
partidárias e burocráticas),27 e, por outro, a própria organização política atual 
dos partidos comunistas que, doravante, congregam não só "proletários/ou tra­
balhadores", mas operários, camponeses, intelectuais,28 levando a atenuar as 
diferenças entre os diversos grupos e estratos sociais que justificavam, ante­
riormente - segundo os próprios teóricos socialistas - a existência dos men­
cionados partidos minoritários. 
Torna-se, todavia, impossível para o jurista - mero observador e intér­
prete dos ordenamentos constitucionais daqueles estados - fazer previsões 
sobre este aspecto, que prefere deixar aos estudiosos de futurologia política! 
Pode-se, porém, constatar que as filiações aos partidos comunistas dos estados 
focalizados crescem em ritmo muito mais acelerado do que aquele observado 
junto aos partidos minoritários, os quais, na verdade, apenas sobrevivem. Por 
outro lado, é particularmente significativo o fato de que, no decorrer de 80-81, 
na Polônia, uma organização sindical constituída de forma autônoma, fora das 
formações políticas e sociais então existentes (e, desde logo, substancialmente em 
contraste com as mesmas, além de demonstrar notórias e evidentes aspirações 
de agir em nível político), tenha rapidamente adquirido a surpreendente con­
sistência de cerca de 10 milhões de aderentes. Quase a mostrar como os an­
tigos canais institucionais - ainda que formalmente plurais no plano das 
formações políticas - revelavam-se, desde então, inidôneos para absorver as 
crescentes pressões e as exigências sempre novas das massas populares. 
Um observador "otimista" poderia, contudo, salientar que a presença de 
vários partidos (ainda que apenas em posição institucionalmente subordinada 
ao Partido Comunista e submetidos aos condicionamentos já lembrados) pode 
levar, no âmbito dos próprios órgãos mais elevados do poder e da adminis­
tração estatal (diversamente do que ocorre na URSS), à formação de centros 
autônomos de crítica, ainda que moderada, sobre a política desenvolvida e 
visando à defesa de interesses - se não conflitantes - pelo menos parcial­
mente diversos daqueles dominantes. Procurando, assim, conferir lentamente 
26 ~ bem notório, por exemplo, como vem, atualmente, definida a URSS. seja no Preâm· 
bulo da Constituição Federal de 1977, seja na terminologia uniforme da doutrina publi­
cística daquele país: é um "Estado socialista de todo o povo", e não mais um "Estado 
de ditadura do proletariado". Este último conceito implicaria, necessariamente, por si só, 
uma pluralidade de classes sociais, em que uma classe operária imperaria sobre as demais, 
no objetivo de realizar uma verdadeira sociedade socialista. 
27 Assim eficazmente descritas, ultimamente, em relação à URSS, na obra do exilado 
russo Voslensky. Nomenklatura: la classe dominante in Unione Sovietica. MiJano, 1980. 
28 Inspirado, com efeito, no art. 126 da Constituição soviética de 1936 (na qual se dizia 
que "os cidadãos mais ativos e mais conscientes da classe operária, dos trabalhadores 
agrícolas e dos trabalhadores intelectuais se reúnem, livremente, no PCUS"), a referida 
composição social diferenciada dos atuais partidos comunistas da Europa de Leste vem, 
explicitamente, declarada, seja nos textos constitucionais de alguns dos países socialistas 
aqui examinados (cf., por exemplo, o art. 4.° da atual Constituição tchecoslovaca), seja 
em todos os trabalhos dos políticos desses países. 
28 R.C.P. 2/86 
uma democraticidade mais real ao abrangente mecanismo de governo daqueles 
países, tão próximos de nós, geograficamente, mas tão distantes sob o plano 
das instituições políticas, econômicas e sociais (com as decorrentes diferenças 
profundas no campo das concepções e das estruturas jurídicas).129 
29 ~ oportuno, entretanto, lembrar que alguns publicistas ocidentais mostram-se inteir.l­
mente céticos a esse respeito, a começar pelo conhecido jurista e politicólogo francês Du­
verger que, em recente versão italiana de um dos seus difundidos manuais (1 sistemi 
politici. Roma e Bari, 1978. p. 501), não hesitou em afirmar que, nos países socialistas. 
os partidos não-comunistas "não têm qualquer peso, desempenhando, apenas, um papel 
de representação. Não se trata, nem ao menos, de um sistema de partido dominante, no 
qual um dos partidos é muito mais forte do que os demais, conservando, porém, estes 
últimos, urna certa importância. Trata-se, sim, de um sistema de partido único, mascarado 
sob a aparência de um sistema de partido dominante". Todavia, um apreciado publicista 
espanhol, com maior esforço de compreensão da complexa situação desses partidos nos 
países socialistas europeus, atribuiu aos partidos não-comunistas funções não negligenciá­
veis, capazes de justificar a subsistência de tais agremiações no quadro do sistema ali em 
vigor. São elas: 1. servir de canais adequados de informação; 2. constituírem-se em ele­
mentos úteis de articulação dos interesses de certos setores da sociedade; 3. ajudar o 
partido hegemônico, isto é, o Partido Comunista, a controlar a postura e a conduta dos 
setores mencionados, bem como a mobilizar o apoio dos referidos setores ao sistema; 
4. funcionar, enfim, corno moderadores e válvulas de segurança, transformando uma 
possível oposição em participação mais ou menos real (cf. Garcia-Pelayo. Supuestos es­
tructurales de los sistemas político-constitucionales de los países socialistas. In: Burocracia 
y tecnocracia y otros escritos. Madrid, 1974. p. 183). 
Papel Constitucional dos Partidos 29

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