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o PAPEL CONSTITUCIONAL DOS PARTIDOS NÃO-COMUNISTAS NOS ESTADOS SOCIALISTAS EUROPEUS* PAULO BISCARETTI DI RUFFIA** 1. Nem todos os "estados socialistas" europeus con temporâneos seguem o modelo soviético do "partido único"; 2. Partidos não-comunistas em funcionamento na: a) Bulgária; b) Tchecoslováquia; c) República De· mocrática Alemã; d) Polônia; 3. O status jurídico dos "partidos não-comunistas" e a progressiva constitucio· nalização do papel que lhes foi destinado, correspon· dente à "função de guia", assegurada, pelas respecti vas Constituições, aos partidos comunistas; 4. Os me· canismos de cooperação e de coordenação dos partidos "não-comunistas" com o partido comunista nos quatro países em foco; 5. Algumas considerações conclusivas sobre o papel efetivo dos "partidos não-comunistas" nos "estados socialistas" europeus e sobre suas pers· pectivas imediatas. 1. Nem todos os "estados socialistas" europeus contemporâneos seguem o modelo soviético do "partido único" Ainda que na opinião pública ocidental esteja largamente difundida a idéia de que todos os estados socialistas da Europa Centro-Oriental adotam o sistema de partido único, com base no exemplo soviético, a realidade atual, em parte, é outra. Dos oito estados socialistas europeus vinculados à URSS desde a última guerra, quatro, na verdade, adotaram, em épocas distintas, o "unipartidarismo" (Albânia, Romênia, Hungria e Iugoslávia). Os outros quatro, porém, mantive ram várias formas de "pluripartidarismo", embora com características bastante diversas daquelas com que ele se apresenta na Europa Ocidental. Parece, pois, oportuno fornecer algumas informações mais detalhadas, bem como certas obser vações de caráter jurídico.1 * Traduzido do original italiano 11 ruolo costituzionaIe dei "parti ti non communisti" negli 'stati socialisti' europei publicado no Il Político (Università di Pavia, Italia), 49(1):5-24, 1984, pelo Prof. Afonso Arinos de Melo Franco e pela pesquisadora Ana Lucia de Lyra Tavares. O presente ensaio do autor será inserido nos Escritos em honra de Egidio Tosato. .. Professor de direito constitucional da Universidade de Milão. O fenômeno da sobrevivência, em alguns "estados socialistas" de um pluripartidarismo limitado foi examinado por alguns publicistas do Leste em recentes manuais de direito constitucional comparado relativos a esses países. Ver, por exemplo, o extenso capítulo dedicado ao assunto pelo soviético Makhnenko, em seu volume The state law of the socialist countries, Moscow, 1976, p. 162 e segs., e as observações bem mais lacônicas R. C. poI., Rio de Janeiro, 29(2): 12-29, abr./jun. 1986 Tenha-se presente, antes de tudo, que os próprios juristas soviéticos conti nuam a afirmar que a função de guia atribuída ao Partido Comunista em todos os estados de orientação moscovita não implica, por si s6, que os mesmos devam, forçosamente, acolher o sistema de partido único. A escolha desse sis tema resultaria, na verdade, de casos contingentes, nos quais se estabeleceu a unidade partidária em decorrência das condições particulares da luta de classes, das tradições hist6ricas e das características nacionais desses países. Os refe ridos juristas, em apoio a esse entendimento, citam a opinião do pr6prio Lenin, por reiteradas vezes manifestada; acrescentam eles que também na Rússia, os partidos pequeno-burgueses dos manchevistas e dos sociais-democratas, forma ram-se, no decorrer de 1918-19, contrariando interesses do proletariado e que por isso se encontraram isolados, terminando, aos poucos, por desaparecer.2 Enquanto isso, alguns partidos antifascistas dos estados socialistas da Europa Centro-Oriental já mencionados, partidos que tinham colaborado com os comu nistas na luta clandestina durante a guerra, logo depois dela, voltaram-se para a esquerda e, assim, continuaram em atividade, mesmo sob governos de orien tação nitidamente socialista. Tal situação perduraria enquanto fossem preenchidos os seguintes requisitos: 1. os partidos representavam, formalmente, os interesses de classes e segmen tos sociais urbanos e rurais, firmemente aliados ao proletariado e dispostos a contidas no ensaio do húngaro Bihari (The constitutional models 01 socialist state organiza tion. Budapest, 1979. "Akadémiai Kiado"), p. 362 e segs., e na obra do romeno Draganu. Structures et institutions constitutionnelles des pays socialistes européens. Paris, 1981, p. 54. No Ocidente, os estudos jurídicos expressamente dedicados ao tema, ainda são escassos. Entre eles, podem ser citados os recentes trabalhos de: Hofman. Mehrparteien system ohne Opposition (die nicht kommunistischen Parteien in der D.D.R., Polen, der Tschechoslovakei und Bulgarien). Bem-Frankfurt (Dissertation Bem), 1976; Garcia Alvares. Los partidos no comunistas en los estados socialistas. In: Estudios humanisticos y juridi cos: homenaje a D. E. Hurtado Llamas. Leon. (1977) (e do mesmo autor ver o capítulo sobre o tema, em sua obra seguinte Construcción dei comunismo y constitución. Leon, 1978, p. 110); Aigner. Les partis non communistes dans les paya de l'Est. In: URSS et I'Europe de I'Est em 1977. Notes et études documentaires n. 4.467/68, 22 May 1978 (ten do-se presente que, todos os anos, a citada coleção de estudos e de documentação do Secretariat Général du Gouvernment - Direction de la Documentation Française, publica um "número único", contendo notícias sobre todos os eventos político-econômicos dos diversos países). Entre os recentes manuais ocidentais de estudos comparativos encon tram-se noções sobre o tema em: Lesage. Les régimes politiques de l'URSS et de fEurope de l'Est. Paris, 1971, p. 300 e segs.; Charvin. Les états socialistes européens. Paris, 1975, p. 194 e segs.; Gelard. Les systemes politiques des états socialistes; lI: transpositions e translormations du modele sovietique. Paris, p. 405 e segs.: Brunner. Die Funktionen der Verlassung in den sozialistischen Staaten. Berlin, 1978 p. 22. Entretanto, dadas as limitações de espaço para o desenvolvimento deste estudo, a bibliografia - já por si vastíssima - ficou reduzida a poucas indicações realmente indispensáveis para documen tar afirmações e dados. % Ver, em especial, Makhnenko, The state law. cit. p. 165. A afirmação de que, na URSS, o monopólio do Partido Comunista decorria, não de um objetivo prévio, mas de uma postura assumida pelos menchevitas e sociais-revolucionários após a Revolução de Outubro, foi muitas vezes repetida, mesmo no periodo stalinista. Ver, por exemplo, o co nhecido manual redigido sob os cuidados de Vyshinsky. The law of the Soviet State (trad. da ed. russa de 1958). New York, 1948. p. 627. Igual ênfase é dada por constitu cion.alistas mais recentes (cf., por exemplo, Grigoryan & Dolgopolov. Fundamentals of SOVIet Stat law. Moscow, 1971, p. 94); da mesma forma por um histórico russo con temporâneo, tido por "um dissidente moderado" (cf. Medvedev. De la démocratie socia liste. Paris, 1972. p. 130 e segs., esp. p. 139). Papel Constitucional dos Partidos 13 colaborar na edificação do socialismo; 2. tal colaboração, na prática, já se veri ficava; 3. reconheciam, tais partidos, a função de guia assumida pelo partido comunista.3 Na Albânia e na Iugoslávia, o processo peculiar de luta contra as tropas nazistas de ocupação havia favorecido, desde o início, a reunião, em um único partido, de elementos de tendência socialista, e a conseqüente supressão de outras formações políticas. Na Romênia e na Hungria a reductio ad unum foi mais lenta e progressiva, mas as condições desses países permitiram que, tam bém neles, sobrevivesse um partido único de trabalhadores. 2. Partidos não-comunistas em funcionamento na: a) Bulgária; b) Tchecos lováquia; c) República Democrática Alemã; d) Polônia Antes de examinar o status constitucional atualmente atribuído aos diversos partidos não-comunistas nos países analisados, convém proceder ao levanta mento dessas agremiações.4 A) Na Bulgária,o atual Partido da União Agrária encontra suas longínquas raízes no antigo Partido Agrário que, embora abolido em 1935, continuara a bater-se clandestinamente, sob o regime autoritário do Rei Boris e durante a guerra - por uma regulamentação mais justa do regime econômico das terras. Em 1942, sua ala esquerda, juntamente com o Partido Socialista, aderiu à Frente Patriótica, liderada pelos comunistas. Depois da ocupação da Bulgária pelas tropas soviéticas, em 9 de setembro de 1944, enquanto os partidos bur gueses iam sendo eliminados, esse partido, depois de profunda depuração inter na que provocou a condenação à morte do velho líder Petkov, manteve-se em pé de igualdade com o Partido Comunista. Assim, pôde a Bulgaria apresentar se perante as Potências aliadas - após as eleições de 1946 - com um sistema político formalmente "bipartítico". Isto porque, naquele meio tempo, haviam sido compulsoriamente incorporadas ao Partido Comunista todas as outras for mações de esquerda, ou seja: o Zveno, o Partido Radical e o Partido Social Democrático.5 B) Na Tchecoslováquia, os acontecimentos verificaram-se de modo diverso, pois que, após a liberação do domínio nazista, os partidos anteriores ao con flito mundial reorganizaram-se, reunindo-se numa Frente Nacional antifascista 3 Cf. Makhnenko. The state law. cito p. 164. 4 Para um quadro abrangente dos vários "partidos não-comunistas" existentes nos "esta dos socialistas" europeus, ver, por exemplo, no Ocidente: Garcia Alvarez. Los partidos no comunistas. cit., p. 143 e segs., e Aigner. Les partis non communistes. cit., p. 45 e segs. 5 Cf., por exemplo, para todos os partidos referidos: Schultz. Die Verfassung der Volks· republik Bulgarien vom 18, Mai 1971. In: Jarbuch des afl. Rechts. 1973. p. 205 e, em especial, p. 208; Spasov. La Bulgarie. Paris, 1973, p. 150 e segs. (Col. Comment ils sont gouvernés); Bassanini. L'amministrazione local e neIJa Rep. Pop. Bulgara. In: Biscaretti Di Ruffia (sob os cuidados de). L'amministrazione locale in Europa, Milano, 1974, v. 2, p. 1 e segs. passim e, em especial, p. 208 (com rica bibliografia, mas com uma concepção bastante reduzida da liberdade de ação da União Agrária Popular); Stainov. Le systeme constitutionnel de la Rép. Pop. de Bulgarie. In: Corpus constitutionnel. Leiden, 1974. t. 2, fase. 1, p. 3, e em particular, p. 12. 14 R.C.P. 2/86 que contava, além do Partido Comunista e do Social Democrático, com alguns partidos pequeno-burgueses que haviam reconhecido as nacionalizações e cole tivizações rapidamente efetivadas no campo econômico. Após o "golpe de Es tado" de Praga, em 1948, o Partido Comunista absorveu o Social Democrático, mas, junto a ele, continuaram atuando, no quadro da Frente Nacional dois partidos na Boêmia e Morávia (o Popular Tchecoslovaco e o Socialista, deri vado da formação política análoga, liderada durante muitos anos por Benes) e dois outros na Eslováquia (o Partido da Reconstrução e o Partido da Li berdade).6 C) Mais complexo e elaborado foi o processo da Alemanha Oriental, se se considerar que, após a assinatura do armistício com as forças alemãs, o esva ziamento político fora total, uma vez que o único partido que, até então, do minava o país, desde 1933, era o nazista, completamente aniquilado desde a cessação das hostilidades. Ora, inicialmente, mesmo na zona soviética de ocupação, haviam-se reestruturado os mesmos partidos antifascistas anteriores à guerra e que tinham bases nas outras três zonas da ocupação aliada. Porém com o desenvolvimento da chamada "guerra fria" na Alemanha Oriental, os seguintes partidos foram adquirindo autonomia no âmbito da Frente Nacional: o Partido Comunista, a União Democrática Cristã (que reunia aqueles que vi savam conciliar a doutrina católica/protestante com as teses econômicas do marxismo), o Partido Social Democrata (que, em seguida se uniu ao Partido Comunista na forma de Partido Socialista Unificado - SED) e o Partido Libe ral Democrático (criado desde 1945 por artesãos, pequenos empresários e inte lectuais). A esses partidos vieram unir-se, na zona soviética, dois outros, ao longo de 1948: o Democrático Camponês (que se apresentava como um prolongamento do SED, na região rural) e o Nacional Democrático (com membros das novas cooperativas, alguns trabalhadores dependentes e não poucos membros das anti gas forças armadas nazistas, oriundos, em parte, do Comitê Nacional pela Ale manha Livre, constituído durante a guerra por prisioneiros militares na URSS). Em outras palavras, dada a complexidade da sociedade alemã, não se quis que o SED fosse integrado por pessoas pertencentes a categorias tão diversas e de convicções tão díspares. Preferiu-se, pois, deixar aos partidos certa auto nomia de organização; para que os princípios essenciais da criação de uma nova sociedade proviessem, também, de tais formações políticas, sem exces· sivas reservas.' 6 Cf., por exemplo, para todos os partidos referidos: Knapp & Mlynar. La Tchécoslo vaquie. Paris, 1965, p. 112·3 (Col. Comment ils sont gouvernés); Kusin. Political grouping in the Czechoslovak rejorm movement. London, 1972. p. 162 e segs.; ULC. Politics in Czechoslovakia. S. Francisco. 1974. p. 39 e segs.; Lammich & Schmid. Die Staatsordnung der Tschechoslowakei. Berlin, 1979. p. 38 e segs.; Lammich. Verfassungsordnung der Tschecoslowakischen Sozialistischen Republik. In: Jahrbuch des afl. Rechts. 1979. p. 487, e, em particular, p. 500 e segs. 7 Cf., entre muitos: Mampel. Die sozialistische Verfassung der DDR. Frankfurt, 1972 (uma espécie de extensos comentários aos arts. 3.° e 29); Charvin. La République Dé· mocratique Allemande. Paris, 1973. p. 132-47; Sontheimer & Bleek. La Rép. Dém. AI lemande (da ed. alemã ocidental de 1972), Paris, 1975. p. 61 e segs.; Toumadre, Stieg & Horling. La République Démocratique Allemande: textes e documents. Paris, 1977, p. 52. Papel Constitucional dos Partidos 15 D) Peculiar, também, foi o processo de organização dos partidos políticos na Polônia, onde a Igreja Católica desfrutava de alto prestígio, pela sua qualidade de símbolo da unidade nacional, por ela mantida nos períodos difíceis vividos pelo país em séculos anteriores, e onde numerosos expoentes nacionalistas, re fugiados em Londres com Mikolaiczyk durante a guerra, haviam retomado àpátria, com o apoio das potências ocidentais. De qualquer forma, até as eleições de 1947, o Conselho Nacional do Povo (dirigido pelos comunistas) con gregava o Partido Operário Polonês (ex-Partido Comunista), o Partido Socia lista, o Partido Democrático e o Popular. Este último, porém, para o qual haviam afluído muitos remanescentes do "governo no exílio", constituído em Londres durante a guerra, apresentou-se, nas eleições, separado do Bloco dos Partidos Democráticos Antifascistas, bloco este que conquistou 394 das 444 cadeiras. Em 1948, contudo, o Partido Operário Polonês e o Partido Socialista fun diram-se no Partido Operário Unificado. Por sua vez, em 1949, ressurgiam, com novas estruturas, o Partido Camponês Unificado (com a eliminação de qualquer resíduo do precedente Partido Popular) e o Partido Democrático (de purado dos elementos que não eram da esquerda). Além disso, alguns movimentos políticos católicos, que de certa forma cola boravam com o novo regime (entre eles o Znak, mais vinculado à Cúria, e o Pax, mais próximo do Partido Comunista), conseguiam manter certa auto nomia.8 3. O status jurídico dos "partidos não-comunistas" e a progressiva constitu cionalização do papel que lhes foi destinado, correspondente à "função de guia", assegurada, pelas respectivas Constituições, aos partidos comunistas Observando-se o status jurídico dos "partidos não-comunistas", nos estados focalizados, pode-se afirmar que, na primeira fase de reconstrução constitucio nal do imediato pós-guerra, os partidos, de modo geral, haviam sido totalmente ignorados nos textos de transição adotados em 1944 e 1948 (ver quadro 1). Naqueleperíodo, com efeito, procurava-se, por todos os meios, eliminar da atividade política as forças remanescentes do mundo capitalista anterior, fre qüentemente de modo drástico, com recurso a severas medidas -policiais e a graves condenações de natureza penal. De 1948 a 1954, em todos os países socialistas europeus, foram elaboradas Constituições de tipo stalinista (com base no texto soviético de 1936). Mas, de modo geral, continuava-se a não fazer menção expressa aos partidos polí- 8 Cf. Rozmaryn. La Pologne. Paris, 1963. p. 63 e segs. (Coll. Comment i1s sont gouver nés); Lopatka. Le systeme de parti en Pologne. In: Etudes sur /e droit p%nais actuel. Paris e La Maye, 1968; Mikolaiczyk. The place 01 the United Peasant Party in the Polish Party System e Kulczinski. The role of the Democratic Party. In: Cielak. Poland since 1956. New York, 1972. Respectivamente p. 68 e 76 e segs.; Zakrzewkshi. Grundzüge der polnischen Verfassungsreform vom 10 Februar 1976. In: Jahrbüeh des õ/l. Reehts. 1978. p. 297 e em especial, p. 301; Hanicotte. Le tripartisme polonais ou la coopération politique institutionelle. In: Rev. Fr. Se. Politique, 1983, p. 480. 16 R.C.P. 2/86 Ciclos consti- tucionais (L" fase) Constituições de transição (1944-48) (2." fase) Constituições de modelo stalinista (1948-54) (3." fase) Constituições de socialismo nacional (1955-56 em diante) Albânia Insurreição (1941-45) 1946 Quadro 1 Constituições e partidos políticos dos estados socialistas europeus (em 1.1.83) Tchecoslo- República Bulgária váquia Democrática Polônia Alemã Fim do período A Const. de Ocupação mili- Const. pro- do Czar Simeão 1920 é retoma- tar soviética visória de em 1946 da em 1945. 1947 Em 1948, demi- 1947 te-se Benes 1948 1960 (Lei Constit. de 1968 sobre o estado federal) 1949 1952 1968 Romênia Hungria ----- Fim do rei- Const. pro nado do Rei visória de Miguel, em 1946 1947 1948-52 1965 (re vista até 1975) 1949 - Iugoslávia -_._--- Insurreição (1941-45) 1946-53 (revisão) 1963 (revisão 67-68) URSS - -_.- Guerra civil (1917-20) 1918 - R. Russa 1924- URSS 1936 (Continua) (Conclusão) Ciclos Tchecoslo- República constitu- Albânia Bulgária váquia Democrática Polônia Romênia Hungria Iugoslávia URSS cionais Alemã ----- (socialismo) 1976 1971 1974 1976 1972 1974 1977 (revisão) (revisão) (revisão) Partidos Partido Tra- P. Comunista P. Comunista P. Social. P. Operá- P. Comu- P. Socialista Liga dos P. Comunista balhista P. da União P. Social. Unif. (SED) rio Unifico nista Operário Comunistas Agrária Tcheco P. Dem. Cam- P. Campo- P. Pop. ponês nês Unifico Tcheco P. Liberal P. Demo- P. da Recons· Dem. crático trução Eslov. União Dem. P. da Liberda- Cristã de Eslov. Frentes P. Democrá- F. Patriótica F. Nacional dos Frente Nacio- F. de Uni- F. da De- F. Nacional Aliança So- tico da AI. Tchecoslova- nal da de Na- mocracia e Patriótica dalista bânia cos donal da Unidade do Povo Socialista Trabalha· dor ticos,9 com duas exceções: a Constituição tcheca de 9 de maio de 1948, que no seu art. 4.°, § 3.° reconhecia, entre outros, o direito de o povo organizar-se em associações políticas; e a Constituição alemã, de 7 de outubro de 1949. Nesta, embora sem referências precisas aos partidos políticos, o assunto era ventilado, sobretudo no art. 13 (em que se permitia a formação de associações com fins políticos, bem como a apresentação de candidaturas nas eleições - dispositivo claramente inspirado nos arts. 126 e 141 da Constituição soviética de 1936); no art. 92, em que se afirmava que todas as formações políticas representadas na Câmara popular 'por, no mínimo, 40 membros, deveriam ter representação proporcional no governo; no art. 87, que reconhecia aos parti dos representando pelo menos 1/5 do eleitorado o direito de pedir um refe rendo; e no art. 130, que atribuía aos partidos e às organizações sociais a apresentação das candidaturas dos juízes que lhes fossem encaminhadas pelos órgãos de classe competentes. No mesmo período, porém, tendo em vista o objetivo de transpor a fase transitória das chamadas "democracias populares" (nas quais remanesciam, na prática, numerosos vestígios da ordem capitalista) bem como de instaurar o socialismo, não mais se justificavam, dada a supressão de tais conflitos - quando não, eliminar - os partidos não-comunistas. Tal objetivo, como visto, fora atingido na Romênia e na Hungria, ao passo que, nos outros quatro estados focalizados, os partidos que colaboravam com o comunista sobreviveram. Conseguiram tais agremiações um status plenamente reconhecido, além da guarida constitucional nos textos elaborados a partir de 1960, na fase denomi nada pelos publicistas ocidentais de "socialismo nacional". Nestes textos, ain da hoje vigentes, ao lado da "função de guia", atribuída, formalmente, ao Partido Comunista, logo nos artigos iniciais (não obstante as formulações diver sas, conforme se verifica no quadro 2), figuram, também, claras referências à existência e às atribuições dos partidos menores já indicados (ver quadro 3). Em outras palavras: a concepção radical de que os diferentes partidos ape nas representassem, nos estados capitalistas, a projeção política dos diversos interesses conflitantes das classes sociais - e que, portanto, com o advento do socialismo, não mais se justificavam, dada a supressão de tais conflitos - foi substituída pela concepção relativista, segundo a qual, mesmo numa socie dade socialista é possível, através de um pluralismo partidário, a expressão dos interesses de categorias sociais diferenciadas, ainda que no âmbito de uma única classe proletária.10 Deste modo, na Tchecoslováquia de 1960 (art. 6.°) e na República De mocrática Alemã de 1968 (arts. 3.°, § 2.° e art. 29), mencionava-se a contri buição que tais partidos e organizações sociais - indicados sem especificação - estavam destinados a dar ao desenvolvimento da sociedade socialista: Já na Bulgária, em 1971 (art. 1.0, § 3.° e art. 11), o Partido da União Agrária Popu lar vem nominalmente indicado como aquele que, sob a direção do Partido Co munista, teria concorrido, também, para a edificação da sociedade "em estreita e fraterna colaboração"; na Polônia, em 1976 (art. 3.°, § 2.° da Constituição 9 Ver, por exemplo, as observações do húngaro Kovacs. New elements in the evolution of socialist constitutions. Budapest, 1968. p. 215. 10 Explicitamente em tal sentido se manifesta, por exemplo, ° já citado Makhnenko. The stqtB law. p. 167 e segs. Papel Constitucional dos Partidos 19 Quadro 2 Artigos das constituições vigentes nos "estados socialistas" europeus que dispõem sobre a "função de guia" do Partido Comunista (em 1.1.1983) URSS Albânia Bulgária Tchecoslováquia (art. 6.°, Consto 1977) (art. 3.°, Consto 1976) (art. 1.0, § 2.°, Const. 1971) (art. 4.°, Const. 1960) o PC da URSS é a força O Partido Trabalhista da que dirige e guia a sociedade Albânia, vanguarda da clas soviética, o núcleo de seu se operária, é a única força sistema político, das organi- política dirigente do estado zações estatais e sociais (etc.) e da sociedade (etc.). O Partido Comunista búl- A vanguarda da classe ope garo é a força dirigente rária, o PC tchecoslovaco, da sociedade e do estado livre associação dos cida (etc.). dãos mais ativos e conscien- tes, oriundos das hostes dos operários, dos campo neses e dos intelectuais, constitui a força dirigente da sociedade cio estado. X X Polônia Romênia Hungria República Democrática Alemã A ROA é um estado socia lista dos operários e cam poneses. Ela constitui a or ganização política dos tra balhadores, das cidades e do campo, sob a direção da classe operária e de seu partido marxista-Ieni nista (etc.). X Iugoslávia (art. 3.°, texto revisto em 1976) (ar\. 26, § 2.°, Const. de 1965) (art. 3.°, Const. 1972) (Princípio fundamental VIII Consto 1974) A força política dirigenteda socieda de na edificação do socialismo é o Partido Operário Unificado Polonês (etc.) X " .. O PC romeno exprime e atende, fielmente. as aspirações e os inte resses vitais do povo; dirige a cons trução socialista em todos os seto res; guia a atividade das organi zações de massa, das organizações públicas e dos órgãos do estado. o Partido Marxista-Leni nista da classe operária é a força dirigente da socie- dade Obs.: o sinal X indica que o Partido Comunista coexiste com outros partidos (ver quadros 1 e 3). (A Liga dos Comunistas da Iugoslávia é "a força organizada ideal e política condutora da classe operária e de to dos os trabalhadores na edificação do socialismo" etc.) Quadro 3 Artigos das Constituições vigentes nos "estados socialistas" europeus que reconhecem, formalmente, a existência de outros partidos, além do Partido Comunista Bulgária (art. 1.0, § 3.0, Const. 1971) o PC búlgaro dirige a edificação da sociedade socialista na Rep. Pop. da Bulgária, em estreita e fraterna colaboração com a União Agrária Popular Búlgara (art. 11) A Frente Patriótica é a expressão da aliança entre a classe operária, os trabalhadores rurais e os inte lectuais de origem popular. Ela constitui o sustentáculo do poder popular e uma escola de massa para a educação patriótica e comu nista da população para levar os trabalhadores a participarem do governo popular Tchecoslováquia (art. 6.0 , Consto 1960) A Frente Nacional dos tchecoslo vacos, na qual estão reunidas as organizações sociais (N . d. t. e até mesmos os partidos), é a expressão política da união dos trabalhadores das cidades e do campo, sob a direção do PC tchecoslovaco Rep. Dem. Alemã (art. 3.0 , § 2.0 , texto revist. 1968) Na Frente Nacional da RDA, os partidos e as organizações de mas sa congregam todas as forças do povo em uma ação comum para o desenvolvimento da sociedade so- cialista (art. 29) Os cidadãos da RDA têm direito de associar-se em partidos políticos, organizações sociais, associações e grupos para a defesa dos próprios interesses, em harmonia com os princípios e finalidades desta Cons- tituição Polônia (art. 3.0 , § 2.0 , texto revisto 1976) A ação coordenada do Partido Operário Unificado Polonês, do Partido Camponês Unificado e do Partido Democrático consti tui a base da Frente de Unidade Nacional (art. 3:, § 3.0 ) A Frente de Unidade Nacional é a plataforma de ação comum das organizações sociais do povo trabalhador e da união patrióti ca de todos os cidadãos-filiados ou não a partidos políticos, in dependentemente de credo reli gioso em favor dos interesses vitais da Rep. Pop. da PolÔnia revista), o Partido Camponês Unificado e o Partido Democrático eram mencio nados, ao lado do Partido Operário Unificado, com a finalidade de atuarem, em conjunto, no quadro da Frente de Unidade Nacional. Entretanto, se para o leitor atento dos dispositivos constitucionais vigoran tes nos "estados socialistas" europeus (reproduzidos nos quadros), sobressai claramente a "função de guia" do Estado e da sociedade na edificação do socia lismo atribuída ao Partido Comunista, o mesmo não ocorre com os objetivos fixados para os partidos menores reconhecidos nos quatro estados pluriparti dários, sendo difícil identificá-los com precisão. Todavia, para uma descrição exata da situação, impõe-se considerar - a exemplo de alguns autores, socialistas e ocidentais - que a mencionada "plu ralidade não significa pluralismo, uma vez que a primeira exclui qualquer oposição às estruturas sócio-econômicas socialistas. Assim, as possíveis diver gências entre os partidos c:o-partícipes da edificação da sociedade socialista só poderão ser verificados dentro do contexto socialista".u Chegou-se, mesmo, a falar de um "pluripartidarismo unanimitário" .12 De qualquer modo, é certo que tais agremiações não podem ser definidas como partidos de oposição - uma vez que devem submeter-se à escolha consumada do regime. Não podem, nem ao menos, ser considerados, em sentido estrito, como "partidos de coali zão", pois que a estes é atribuído mero "papel consultivo" /3 ao passo que nas entidades partidárias citadas estão representados interesses de natureza agrí cola, cultural, profissional etc., tidos como merecedores de uma consideração especial, mesmo no âmbito de uma "sociedade socialista avançada". As observações feitas parecem suficientes para esclarecer o papel constituo cionalmente reconhecido aos mencionados partidos, colaterais ao comunista, nos quatro estados socialistas europeus aqui focalizados. Sob o plano político, po rém, é mais difícil entender o fato de pessoas que tencionam atuar efetivamente na vida pública permanecerem no quadro dos citados partidos, renunciando, de saída, portanto, pela própria natureza das coisas, a alcançar posições expo nenciais, visto que ficam subordinadas a forças e interesses setoriais bem defi nidos, em situação eternamente minoritária. 4. Os mecanismos de cooperação e de coordenação dos partidos "não-comu nistas" com o partido comunista nos quatro países em foco Para melhor conhecimento do status constitucionalmente atribuído aos parti dos menores aqui indicados, convém examinar ainda que, sinteticamente, os mecanismos de cooperação e de coordenação dos referidos partidos entre si e 111 A frase entre aspas é de Charvin. La Rép. Dém. Allemande. cito p. 135; mas é significativo que a mesma frase fora referida, igualmente entre aspas, pelo publicista ru meno Draganu, que a apresenta como de sua autoria, em Strutures et institutions cons titutionnelles. op. cito p. 55. :12 Tal expressão dá título a um parágrafo especial da obra de Charvin, Les états socia listes européens_ op_ cito p. 198. 13 Ver Ruffia, Biscaretti, di. Introduzione ai diritto costituzionale comparato. 4. ed. Mi lano, 1980. p. 413. 22 R.C.P. 2/86 com os respectivos partidos comunistas. Os seguintes instrumentos e institutos específicos serão sucessivamente apreciados: a) a formação de "frentes nacio nais" (agora, também, reconhecidas no texto constitucional); b) a representa ção institucional dos "partidos não-comunistas" nos órgãos de poder e de ad ministração estatal; c) a predisposição de contatos permanentes entre as cúpu las de todos os partidos em qualquer nível de governo. A) A formação de "frentes nacionais" constitucionalmente reconhecidas Primeiramente, cabe recordar a existência, nos estados socialistas europeus, com exceção da URSS, de "frentes nacionais" (não obstante as denominações diversas, cf. quadro 1), nas quais costumam reunir-se as mais variadas forma ções sociais (desde os eventuais partidos não-comunistas, até os sindicatos, uniões de jovens, mulheres, de ex-correligionários etc.), além de cidadãos, a título pessoal. Na verdade, impõe-se lembrar que nos países socialistas o par tido comunista agrupa, apenas, um número restrito de componentes da coleti vidade popular que se revelam particularmente sensíveis aos problemas da vida pública e dispõem-se a assumir numerosos ônus funcionais no interesse da própria coletividade (em percentuais que, em relação ao conjunto da popu lação, oscilam entre 5 e 10%). 1! claro que no programa unitário dessas "fren tes", não se encontra a distinção tradicional que se faz no Ocidente entre "partidos do governo", e "partidos de oposição", a partir do momento em que elas tornam possível a participação, na vida pública, de numerosos cidadãos não filiados ao partido único, ou aos partidos coligados subsistentes, mas que desejam, de alguma forma, nela tomar parte.u E tais "frentes - nos quatro estados socialistas analisados - estão plena mente constitucionalizadas, conforme se pode verificar no quadro 2 e nos ter mos das Leis Magnas da Bulgária (art. 11, da Tchecoslováquia (art. 6.0 ), da República Democrática Alemã (art. 3.0 , § 2.0 ) e da Polônia (art. 3.0 ). Ora, pode-se salientar como uma das funções essenciais geralmentereconhe cidas a essas "frentes" - que dispõem de estatutos, comitês dotados de sedes centrais e locais, congressos e conferências - a de apresentar a lista dos can didatos, de todas as classes e níveis, às eleições. De regra, as candidaturas são propostas pelos partidos, sindicatos e organizações de caráter social, mas, numa segunda fase, são selecionadas e coordenadas pelas "frentes nacionais". Por conseguinte, as listas definidas decorrem de escolha de natureza política (com representantes dos partidos de maior projeção na vida pública - e, obviamente, com nítida predominância dos componentes do Partido Comunista) ou social (visando-se permitir uma representação adequada das diversas entidades re feridas). 14 Em todas as monografias relativas a cada um dos "estados socialistas" europeus, as mencionadas "Frentes" têm suscitado amplo interesse. Em relação aos comparatistas dos países de Leste, pode ser significativo recordar como o soviético Makhnenko reservou um capítulo especial para esse tema, com o título The people's (National Front), em seu último volume The state law of the socialist countries. Papel Constitucional dos Partidos 23 Recorde-se, a propósito, que enquanto na República Democrática Alemã e na Polônia os colégios eleitorais são plurinominais (67, na RDA, com um nú mero de cadeiras variável entre quatro e oito, e na Polônia, 72, com três a dez cadeiras), na Bulgária e na Tchecoslováquia, ao contrário, eles são uninomi nais. Entretanto, na Polônia há vários anos que as listas de candidatos contêm um número de indicações apenas ligeiramente superior àquele de cadeiras a serem preenchidas, restringindo, pois, a margem de escolha dos eleitores. Nos dois países de colégios uninominais (nos quais, para ser eleito, o can didato deve obter a maioria absoluta dos votos expressos, o que, normalmente, ocorre, tornando dispensável a realização de um segundo escrutínio) a reparti ção das cadeiras entre os partidos e as diversas organizações é feita de forma equilibrada, abrangendo os expoentes dos diversos partidos e organizações.u B) A representação institucional dos "partidos não-comunistas" nos organis mos de poder e na administração estatal A conseqüência mais imediata e evidente dos procedimentos eleitorais des critos é que em todas as assembléias representativas dos diversos níveis (desde o Parlamento até os Conselhos populares das menores comunas) figuram sem pre representantes dos partidos que cooperam com o comunista. Confrontando-se os dados oficiais mais recentes disponíveis no Ocidente so bre as assembléias parlamentares da Bulgária,16 Tchecoslováquia,H Alemanha 15 As indicações apontadas foram fornecidas nos últimos volumes (publicados sob o título Chronicle of parliament elections and developments) que, anualmente, são dedicados pela União Interparlamentar, com sede em Genebra, às eleições realizadas nos vários estados-membros. Entretanto, dados precisos sobre os processos eleitorais adotados em cada um dos países socialistas podem ser encontrados na obra de Staar. Communist regi mes in Eastern Europe. 3. ed. Stanford, 1977, que se documentou solidamente, basean do-se em publicações oficiais dos próprios países socialistas. 16 De acordo com o citado v. 9-1976, editado pela União Interparlamentar (p. 33), nas eleições de 30 de maio de 1976 para a Assembléia Nacional Búlgara (colégios uninomi nais. com um único candidato oficial), os resultados foram os seguintes: deputados do Partido Comunista, 272; da União Agrária Popular, 100; os "sem-partidos", designados pela Frente Patriótica, 28; alcançando um total de 400. Os dados relativos às eleições para a Assembléia Nacional, realizadas de 1957 a 1976, figuram numa tabela apropriada, na obra citada de Staar. Communist regimes. p. 37. Segundo a mesma fonte (p. 36/7), o número de inscritos, em 1976, no Partido Comunista era de 789.796, e os membros da União Agrária Popular, 130 mil (a qual, conforme comentário do mesmo autor, não des frutava de autonomia real). H Na Tchecoslováquia, nas eleições para a Assembléia Federal (formada pela Câmara das Nações, com 150 membros, dos quais 75 tchecos e 75 eslovacos, e pela Câmara Popular, de 200 membros) de 22-23 de outubro de 1976, segundo as indicações do v. 11-1977 (p. 43), da citada Chronicle, foram registrados os seguintes resultados (referentes ao total de 350 parlamentares): Partido Comunista, 237 cadeiras; Partido Popular Tchecoslovaco, 18; Partido Socialista Tchecoslovaco, 17; Partido Eslovaco da Reconstrução, 4; Partido Es lovaco da Liberdade, 4; "sem-partidos", designados pela Frente Nacional, 70. Segundo Staar, no seu livro citado Communist regimes, p. 65, em 1976, o Partido Comunista (após o "expurgo" que se seguiu aos acontecimentos de 1968) contava com 1.382.860 mem bros (estando incluídos neste número os seus candidatos). Além disso, com base nos 24 R.C.P. 2/86 Democrática18 e Polônia,19 poder-se-á facilmente constatar qual o peso atribuído ao grupo político dominante e aos partidos menores citados. Partidos menores esses, que, em geral, constituem, no seio das respectivas assembléias grupos parlamentares distintos (com exceção da Tchecoslováquia), enquanto seus diri gentes integram sempre as mesas diretoras de tais assembléias. Em relação aos órgãos locais, as quotas de representação dos partidos menores correspondem àquelas que lhes são atribuídas em esferas mais elevadas.20 dados fornecidos por Lammich. Verfassungsordnung der Tscecoslow, Soz. Rep. cit., p. 501, em 1977, o Partido Popular Tchecoslovaco teria tido 66 mil inscritos e o Partido Socialista Tchecoslovaco, 18 mil; ao passo que, em 1978, na Eslováquia, o Partido da Reconstrução contaria com 364 membros e o da Liberdade, somente 284. 18 Na República Democrática Alemã, nas eleições para a Câmara Popular (Volkskammer) de 17 de outubro de 1976 (com 591 candidatos para 434 cadeiras eletivas, às quais se somaram, depois, outros 66 deputados designados pela Assembléia Municipal de Berlim Oriental), os representantes da Frente Nacional eram oriundos dos seguintes partidos ou organizações (de acordo com os dados referidos no v. 11-1977, da citada Chronicle): Partido Socialista Unificado (SED), União Democrática Cristã (CDU), Partido Nacional Democrático (LDLD), Partido Camponês Democrático (DBD), Liga Democrática das Mulheres (LFD) Juventude Livre Alemã (FDI), União Alemã dos Sindicatos (FDGB), Liga Alemã da Cultura (DKB). Dos dados referidos, não decorre a distribuição das cadeiras entre os vários partidos ou organizações, que, entretanto, em todas as elei ções precedentes fora sempre preestabelecida pela Frente Nacional com critérios bas· tante precisos. Segundo o volume citado de Sontheimer & B1eek La Rép. Dém. Allemande. p. 87, por exemplo, após as eleições de 1971, os resultados haviam sido os seguintes: para um total de 500 cadeiras, 127 tinham sido destinadas ao Partido Socialista Unificado; 52 a cada um dos outros quatro partidos; 68 para a União Alemã dos Sindicatos; 40, para a Juventude Livre Alemã; 35, para a Liga Democrática, das Mulheres; 22, para a Liga Alemã da Cultura. Note-se, ainda, que o mencionado número de 52 deputados para cada partido menor (dos quais 45 eleitos diretamente pelo corpo eleitoral e 7 designados pela Assembléia Municipal de Berlim Oriental) permanecera o mesmo após a lei eleitoral de 1963 (cujo texto é reproduzido, por exemplo, em Gotsche. Wahlen in der DDR. Ber lin Est, 1963. p. 17), com base numa deliberação da Frente Nacional (que até então número de candidatos das listas apresentadas pela Frente tem sido, com freqüência, Iigei apresentara uma "lista fechada", ao passo que para as eleições locais, ultimamente, o ramente superior àquele dos postos disponíveis). Segundo Charvin (La Rép. Dém. Alleman de. op. cit. capo 2, p. 91 e segs.), em 1970, o SED contava com 1.904.026 membros, número este que, em 1976, de acordo com Staar (Communist regimes. op. cit. p. 94), elevava-separa 2.043.697; a União Democrática Cristã era formada por cerca de 150 mil filiados; o Partido Nacional Democrático, por aproximadamente, 140 mil; o Partido Libe raI Democrático, por mais de 100 mil, e o Partido Camponês Democrático, por volta de 70 mil. 19 Na Polônia, nas eleições para a Dieta, em 23 de março de 1980 (com 646 candidatos para 460 cadeiras), os resultados foram os seguintes (de acordo com os dados indicados no n.· 14-1980 da citada Chronicle): Partido Operário Unificado, 261 (ou seja, 57% do total); Partido Camponês Unificado, 113; Partido Democrático, 37; "sem-partidos", 49 (dos quais cinco pertencentes a movimentos católicos). Pode·se observar que, enquanto os três partidos mencionados constituíram, no seio da Dieta, grupos parlamentares distintos, tal status não foi reconhecido aos movimentos católicos. Na obra já citada de Staar, figura uma tabela dos resultados das eleições para a Dieta, de 1965 a 1976 (p. 129), indicando, também, que, em dezembro de 1976, o número de inscritos no Partido Operário Unifi cado era de 2.500 mil (p. 133). 20 Na Polônia, os presidentes dos três grupos parlamentares dos partidos, juntamente com os componentes do Conselho da Presidência da Dieta, formam o chamado Conselho dos Anciãos, órgão consultivo da presidência. Tenha·se, igualmente, presente que na Polô- Papel Constitucional dos Partidos 25 Note-se, além disso, que em outros órgãos do poder estatal (os diversos Con selhos de Estado) e naqueles de natureza administrativa (Conselho de Ministros em nível central e Comitê Executivo dos Conselhos Populares, em nível local) é comum encontrar-se representantes de partidos minoritários, como se de preende, facilmente, das publicações editadas no Ocidente, que, periodicamente, divulgam a composição dos referidos órgãos. É claro, pois, que, através dessa presença - ainda que minoritária - os partidos menores podem fazer ouvir sua voz em todos os locais em que, for malmente, são tomadas as decisões essenciais para a vida pública dos respec tivos países. C) A predisposição de contatos permanentes entre dirigentes de todos os partidos em todos os níveis de governo Na verdade, os contatos entre o Partido Comunista e os partidos minoritários se verificam, também, de forma direta, através de Comitês interpartidários que atuam nos diversos planos. Essa rede revela-se particularmente ativa na Polônia (não só no centro, mas também nos vários Voivodie (províncias) e em cada um dos distritos). Na República Democrática Alemã, ao lado das referidas "frentes" (que, como foi dito, são integradas, também, por cidadãos a título pessoal), existe o "Bloco Democrático dos Partidos e das Organizações de Massa", isto é, uma organização constituída com o fim de coligar as mais signi ficativas formações sociais.21 Da mesma forma, os congressos de cada partido costumam contar com a participação de delegados de outras agremiações, e não é raro que nessas reu niões sejam tomadas "decisões comuns" aos órgãos diretores de todos os parti tidos do Pais.22 5. Algumas considerações conclusivas sobre o papel efetivo dos "partidos não comunistas" nos "estados socialistas" europeus e sobre suas perspectivas imediatas Dados os limites deste artigo, cabem, agora, algumas reflexões finais sobre o futuro dos "partidos não-comunistas" aqui examinados. Antes de tudo, depreende-se, claramente, do que foi dito que os referidos partidos minoritários estão fortemente condicionados em seus estatutos, pro gramas e atividades por uma série de fatores externos e internos.23 Entre os nia, após as eleições de 1980 para a Dieta, pela primeira vez o Conselho de Estado (órgão colegial supremo do Estado, como o Presidium do Soviete Supremo, na URSS), ficou constituído sem uma representação majoritária do Partido Operário Unificado. Assim, dos 17 componentes daquele Colegiado, apenas oito membros dele provinham, uma vez que seis eram oriundos de dois partidos menores, dois eram independentes e um originara-se de um grupo católico filocomunista (cf. Relazioni internazionali. 1980. p. 336). 21 V. Aigner. Les partis non communistes. op. cito p. 50. 22 Ver, por exemplo, Makhnenko. The state law. op. dt. p. 171 23 Ver, por exemplo, Aigner. Les partis non communistes. op. cit. p. 53. 26 R.C.P. 2/86 primeiros, recorde-se, ao menos, os seguintes: a atuação do Partido Comunis ta, em sua "função de guia" no plano da institucionalização desses partidos; a sua sujeição aos mecanismos de cooperação e de coordenação recípro ca; o papel nitidamente secundário que lhes foi destinado no quadro dos mencionados processos eleitorais. Na segunda ordem de fatores, ressaltem-se: a necessidade de inserir entre os pressupostos inderrocáveis de seu programa os fundamentos da doutrina marxista-Ieninista do Estado; a circunstância que, por um inexorável fenômeno de mimetismo, também esses partidos foram levados a adotar nas respectivas organizações internas as estruturas do "centra lismo democrático", peculiares aos respectivos países. Ora, a conseqüência mais evidente dos referidos fatores é a reduzida in fluência desses partidos, nos últimos decênios, na gestão governamental. Costuma-se citar o caso da União Democrático-Cristã na Alemanha Oriental que, na sua época, conseguiu introduzir algumas modificações no projeto de Código de direito de família;2~ na Tchecoslováquia de 1968, contudo, a "pri mavera de Praga" foi obra dos mesmos dirigentes mais iluminados e compreen sivos do Partido Comunista (sem contribuição ulterior significativa dos de mais partidos) e na Polônia de 1980/81, a abertura para uma vida sindical e política mais rica e variada ocorreu em seguida a um movimento espon tâneo de trabalhadores, apoiados por elementos de prestígio da classe inte lectual, dando origem aos diversos sindicatos coordenados pelo "Solidariedade" (e a própria criação do "Solidariedade rural" demonstra como os camponeses não se sentiam adequadamente representados pelo já existente Partido Cam ponês Unificado).25 Em outras palavras, sempre que se verificaram profundos movimentos sociais, os partidos não-comunistas não estiveram em condições de liderá-los (com exceção da efêmera revolta em Budapeste de 1956, sangrentamente sufocada pelas forças soviéticas, de forma definitiva, pois que não renasceu, mesmo na Hungria mais liberal de Kadar). E, provavelmente, isto aconteceu porque os próprios partidos menores apresentaram-se, ante as populações interessadas, como desprovidos de qualquer prestígio real, dada a sua submissão excessiva ao Partido Comunista dominante. De qualquer modo, é inegável que, no plano prático, se se considerar o passado recente, o diálogo entre as forças políticas e sociais deu-se de forma bastante mais aberta na Polônia (até os aconteci mentos de 1980-81) do que na Tchecoslováquia contemporânea; igualmente, esse diálogo apresenta-se bastante mais intenso na Alemanha Oriental do que na Bulgária. Além disso, permanece a dúvida sobre se, em futuro próximo, ocorrerá o progressivo enfraquecimento das estruturas dos partidos menores, não obstan te, muitos deles, estarem consagrados em recentes Constituições e apesar das reiteradas afirmativas de numerosos publicistas e expoentes políticos dos países em foco. sobre a sua importância no atendimento a reais exigências das res- 24 Ver, por exemplo, Aigner. op. cito p. 54. 25 Sobre tais fatos, ver, por exemplo, a crônica sobre La Pologne: l'année politique, n." 4.663-64, 10 eSp. 1981, das Notes et études documentaires, dedicado à URSS e à Eu ropa de Leste em 1980-81, p. 185 e segs.; da mesma forma, o documentado artigo de Garcia Alvarez. Reformas en Polonia (ago. 1980/dez. 1981). In: Estudos Políticos. (24): 243. 1981. Papel Constitucional dos Partidos 27 pectivas coletividades. Esta dúvida é tanto mais forte se, por um lado, se tiver em mente o flagrante nivelamento social verificado nos últimos anos, nos estados aqui examinados26 (com a exceção, não desprezível,das novas elites partidárias e burocráticas),27 e, por outro, a própria organização política atual dos partidos comunistas que, doravante, congregam não só "proletários/ou tra balhadores", mas operários, camponeses, intelectuais,28 levando a atenuar as diferenças entre os diversos grupos e estratos sociais que justificavam, ante riormente - segundo os próprios teóricos socialistas - a existência dos men cionados partidos minoritários. Torna-se, todavia, impossível para o jurista - mero observador e intér prete dos ordenamentos constitucionais daqueles estados - fazer previsões sobre este aspecto, que prefere deixar aos estudiosos de futurologia política! Pode-se, porém, constatar que as filiações aos partidos comunistas dos estados focalizados crescem em ritmo muito mais acelerado do que aquele observado junto aos partidos minoritários, os quais, na verdade, apenas sobrevivem. Por outro lado, é particularmente significativo o fato de que, no decorrer de 80-81, na Polônia, uma organização sindical constituída de forma autônoma, fora das formações políticas e sociais então existentes (e, desde logo, substancialmente em contraste com as mesmas, além de demonstrar notórias e evidentes aspirações de agir em nível político), tenha rapidamente adquirido a surpreendente con sistência de cerca de 10 milhões de aderentes. Quase a mostrar como os an tigos canais institucionais - ainda que formalmente plurais no plano das formações políticas - revelavam-se, desde então, inidôneos para absorver as crescentes pressões e as exigências sempre novas das massas populares. Um observador "otimista" poderia, contudo, salientar que a presença de vários partidos (ainda que apenas em posição institucionalmente subordinada ao Partido Comunista e submetidos aos condicionamentos já lembrados) pode levar, no âmbito dos próprios órgãos mais elevados do poder e da adminis tração estatal (diversamente do que ocorre na URSS), à formação de centros autônomos de crítica, ainda que moderada, sobre a política desenvolvida e visando à defesa de interesses - se não conflitantes - pelo menos parcial mente diversos daqueles dominantes. Procurando, assim, conferir lentamente 26 ~ bem notório, por exemplo, como vem, atualmente, definida a URSS. seja no Preâm· bulo da Constituição Federal de 1977, seja na terminologia uniforme da doutrina publi cística daquele país: é um "Estado socialista de todo o povo", e não mais um "Estado de ditadura do proletariado". Este último conceito implicaria, necessariamente, por si só, uma pluralidade de classes sociais, em que uma classe operária imperaria sobre as demais, no objetivo de realizar uma verdadeira sociedade socialista. 27 Assim eficazmente descritas, ultimamente, em relação à URSS, na obra do exilado russo Voslensky. Nomenklatura: la classe dominante in Unione Sovietica. MiJano, 1980. 28 Inspirado, com efeito, no art. 126 da Constituição soviética de 1936 (na qual se dizia que "os cidadãos mais ativos e mais conscientes da classe operária, dos trabalhadores agrícolas e dos trabalhadores intelectuais se reúnem, livremente, no PCUS"), a referida composição social diferenciada dos atuais partidos comunistas da Europa de Leste vem, explicitamente, declarada, seja nos textos constitucionais de alguns dos países socialistas aqui examinados (cf., por exemplo, o art. 4.° da atual Constituição tchecoslovaca), seja em todos os trabalhos dos políticos desses países. 28 R.C.P. 2/86 uma democraticidade mais real ao abrangente mecanismo de governo daqueles países, tão próximos de nós, geograficamente, mas tão distantes sob o plano das instituições políticas, econômicas e sociais (com as decorrentes diferenças profundas no campo das concepções e das estruturas jurídicas).129 29 ~ oportuno, entretanto, lembrar que alguns publicistas ocidentais mostram-se inteir.l mente céticos a esse respeito, a começar pelo conhecido jurista e politicólogo francês Du verger que, em recente versão italiana de um dos seus difundidos manuais (1 sistemi politici. Roma e Bari, 1978. p. 501), não hesitou em afirmar que, nos países socialistas. os partidos não-comunistas "não têm qualquer peso, desempenhando, apenas, um papel de representação. Não se trata, nem ao menos, de um sistema de partido dominante, no qual um dos partidos é muito mais forte do que os demais, conservando, porém, estes últimos, urna certa importância. Trata-se, sim, de um sistema de partido único, mascarado sob a aparência de um sistema de partido dominante". Todavia, um apreciado publicista espanhol, com maior esforço de compreensão da complexa situação desses partidos nos países socialistas europeus, atribuiu aos partidos não-comunistas funções não negligenciá veis, capazes de justificar a subsistência de tais agremiações no quadro do sistema ali em vigor. São elas: 1. servir de canais adequados de informação; 2. constituírem-se em ele mentos úteis de articulação dos interesses de certos setores da sociedade; 3. ajudar o partido hegemônico, isto é, o Partido Comunista, a controlar a postura e a conduta dos setores mencionados, bem como a mobilizar o apoio dos referidos setores ao sistema; 4. funcionar, enfim, corno moderadores e válvulas de segurança, transformando uma possível oposição em participação mais ou menos real (cf. Garcia-Pelayo. Supuestos es tructurales de los sistemas político-constitucionales de los países socialistas. In: Burocracia y tecnocracia y otros escritos. Madrid, 1974. p. 183). Papel Constitucional dos Partidos 29
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