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Prof. Thiago Mio Salla
LABORATÓRIO DE PRODUÇÃO 
EDITORIAL I – 2021
Paratexto Editoriais –
Textos Vendedores
Epígrafe
Sendo imutável, o texto é incapaz por si só de adaptar-se às 
modificações de seu público, no espaço e no tempo. Mais flexível, 
mais versátil, sempre transitório porque transitivo, o paratexto é, 
de algum modo, um instrumento de adaptação: daí as 
modificações constantes da “apresentação” do texto (isto é, de 
seu modo de presença no mundo), em vida do autor por seus 
próprios cuidados, depois ao encargo, bem ou mal assumido, de 
seus editores póstumos. (GENETTE, Gérard. Paratextos Editoriais. Cotia, SP: 
Ateliê, 2009, p. 358)
Como leríamos o Ulisses de Joyce se não se intitulasse 
Ulisses?
A obra literária consiste, exaustiva ou essencialmente, num 
texto, isto é (definição mínima), numa sequência mais ou 
menos longa de enunciados verbais mais ou menos cheios 
de significação. Contudo, este texto raramente se 
apresenta em estado nu, sem o reforço e o 
acompanhamento de certo número de produções, verbais 
ou não, como um nome de autor, um título, um prefácio, 
ilustrações, que nunca sabemos se devemos ou não 
considerar parte dele, mas que em todo caso o cercam e o 
prolongam, exatamente para apresentá-lo, no sentido 
habitual do verbo, mas também em seu sentido mais forte: 
para torná-lo presente, para garantir sua presença no
Paratexto
mundo, sua “recepção” e seu consumo, sob a forma, pelo menos 
hoje, de um livro. Esse acompanhamento, de extensão e 
condutas variáveis, constitui (...) o paratexto da obra. (...) Assim, 
para nós, o paratexto é aquilo por meio de que um texto se 
torna livro e se propõe como tal a seus leitores, e mais de 
maneira mais geral ao público. (...) Zona indecisa entre o dentro 
e o fora, sem limite rigoroso, nem para o interior (o texto) nem 
para o exterior (o discurso do mundo sobre o texto), orla, ou, 
como dizia Philippe Lejeune, ‘franja do texto impresso que, na 
realidade, comanda toda a leitura’”. (GENETTE, Gérard. Paratextos
Editoriais. Cotia, SP: Ateliê, 2009, p. 9).
Paratexto
Paratexto
Peritexto (aquém) e epitexto (além)
Consideram-se como paratextuais todos os elementos que 
fazem parte de um texto ou de uma obra — o título, o 
prefácio, a dedicatória, os nomes dos capítulos… —, assim 
como os que foram construídos sobre esse texto, explicando-
o, analisando-o, comentando-o (como, por exemplo, 
comentários, entrevistas, notícias, críticas). Trata-se, 
portanto, de duas modalidades/categorias paratextuais: o 
peritexto (no espaço físico da obra) e o epitexto (exterior à 
obra, mas sobre ela), segundo Gérard Genette (GENETTE, 
Gérard. op. cit., p. 12).
Paratexto
Release – Ancestralidade dos Paratextos Vendedores
Definição de press release no Houaiss
“material informativo distribuído entre jornalistas antes de 
solenidades, entrevistas, lançamentos de filmes etc., com 
resumos, biografias, dados específicos que facilitem o trabalho 
jornalístico”
Definição de prière d’insérer (roga-se que se insira; insira na 
imprensa; divulgue-se) no Petit Robert. Tal expressão equivaleria à 
press release
“Encarte impresso que contém indicações sobre uma obra e que é 
anexado aos exemplares destinados à crítica”.
“Já causa surpresa, na definição do Robert, o fato de ser preciso 
acompanhar de “indicações” os exemplares de uma obra destinados 
à imprensa, de vez que a simples leitura dessa obra pelos críticos 
deveria dispensá-las, a não ser que fossem indicações 
complementares, como, por exemplo, sobre as circunstâncias de sua 
escrita, o que, sabemos de antemão, não é o caso geral. Parece, 
portanto, que a definição pressupõe ou que o press release poderia, 
ao contrário, dispensar a crítica de ler a obra antes de falar dela, o 
que é uma suposição malévola para com os críticos, ou que a obra 
seria de tal natureza que a simples leitura do release bastaria para 
indicar em que ela consiste, suposição malévola para com a obra 
[...]. Evitaremos talvez essa aporia por meio de outra suposição mais 
generosa: a de que o release serve para “indicar” à crítica, antes de 
qualquer leitura eventualmente inútil, de que espécie de obra se 
trata e, portanto, para que espécie de crítica convém dirigir a leitura 
– para o uso, em suma, dos chefes de redação” (Idem, p. 98).
Release – Ancestralidade dos Paratextos Vendedores
O antepassado do release seria o Prospecto > pedido para que os 
diretores de jornal publicassem esse pequeno texto promocional em 
suas colunas. Em seguida, a destinação restrita aos críticos 
(manutenção da forma de redação desse gênero de textos) por meio 
de encarte inserido apenas nas obras endereçadas tais leitores 
especializados. Em seguida, tal encarte passa a figurar em todos os 
exemplares e, por uma questão de custo e praticidade, passou a ser 
impresso na quarta capa e nas orelhas.
“Essa translação do epitexto extratextual (comunicado à imprensa) 
para o peritexto precário (encarte para a crítica e depois para todos) e 
enfim para o peritexto durável (capa) é com certeza e em si mesma 
uma promoção que suscita ou manifesta algumas outras. No que 
concerne ao destinatário, passamos de um “público”, no sentido mais 
amplo e mais comercial, para a "crítica', considerada um intermediário 
entre o autor e o público, em seguida, para uma instância mais 
indecisa, que se refere tanto ao público quanto ao leitor: 
Release – Ancestralidade dos Paratextos Vendedores
situada mais perto do texto, na capa ou na orelha do livro, o release
moderno tornou-se acessível quase que apenas ao segmento mais 
restrito daqueles que frequentam as livrarias e consultam as capas; 
ainda “público”, se, depois de ler o release, a pessoa se contenta com 
essa informação aparentemente dissuasiva; leitor potencial, se essa 
leitura o leva à compra, ou a algum outro meio de apropriação: uma vez 
que se torna leitor efetivo, terá enfim talvez uma utilização mais 
prolongada e mais pertinente para sua compreensão do texto, utilização 
que pode ser prevista e privilegiada na redação do release” (Idem, p. 102).
Mudança na destinação: “O destinador putativo do release era, num 
primeiro momento (dirigindo-se à “imprensa”), o editor e, num segundo 
momento (dirigindo-se ao público), o próprio jornal. A promoção do 
release a peritexto modificou progressivamente esses dados e já se pode 
ver alguns releases encartados claramente assumidos pelo autor, até 
assinados com suas iniciais”. Têm-se também textos assinado por outros 
– textos alógrafos – presentes nas orelhas, quartas capas e blurbs.
Release – Ancestralidade dos Paratextos Vendedores
Quarta Capa
Depois do título, a quarta capa é o item paratextual mais importante 
do livro, o mais visto e lido na livraria. Tal paratexto apresenta 
múltiplas possibilidades:
• Autor renomado, texto informativo;
• Seleção de trecho representativo, quer da obra, quer do 
prefácio (ou mesmo das orelhas);
• No caso de coleções, uso de texto comum a respeito desta 
que se repete em cada volume;
• Uso de Blurb, sobretudo no caso de autores iniciantes.
Guia de redação: sempre ler o livro, pesquisar sobre ele e sobre o 
autor; guiar-se pelo público; evitar hermetismos e primar pela 
criatividade; ressaltar aspectos positivos da obra; incluir o título do 
livro e o nome do autor no texto; adotar o estilo da obra; fazer uma 
abertura chamativa; fugir de clichês e lugares comuns.
A Mulher Entre Nós, de Greer
Hendricks e Sarah Pekkanen,
Paralela (Companhia das 
Letras), 2018 
Texto da quarta capa do livro de 
poemas Alarido, de Bruno 
Molinero (Patuá, 2015):
Alarido - s. m. - 1. ruído de vozes, 
de gritos; falatório, algazarra, 
gritaria
2. gritaria de guerra, clamor de 
combate.
Garranchos, de Graciliano 
Ramos, livro organizado 
por Thiago Mio Salla
Record, 2012
Orelhas
Texto crítico e analítico (o mais profundo e opinativo da capa; misto 
de sinopse e resenha crítica), que costuma englobar a biografia do 
autor. Espaço para se aprofundar sobre aobra; mais um elemento 
para encantar o autor.
• Orelha assinada – feita por especialista que conheça e dialogue 
com a obra; é comumente emprega na promoção de autores 
novatos (mas não apenas destes); espécie de grande blurb. 
Relacionamento entre autores (mais afetiva).
• Orelha editorial – concilia descrição factual, comentário temático 
e apreciação elogiosa; convém ainda dar destaque para o livro em 
questão no conjunto da obra do autor, valendo-se de um estilo 
que não se diferencia muito do utilizado por ele. Relacionamento 
entre textos (mais fria e técnica).
• Orelha com citação de obra – escolha de um trecho vendedor.
• Orelha com blurb (citações de frases elogiosas no jornal) ou 
citação
Ver os paratextos da capa em conjunto. Deve ampliar a mensagem 
expressa na quarta capa.
Biografia (segunda orelha): 
• Dados básicos – Nome, titulação, conjunto da obra, prêmios
• Construção de proximidade (humanização) - possibilidades: 
mencionar a vida pessoal – pessoalidade (no caso de autor vivo, 
vale entrevistá-lo); tratar do processo de escrita do autor; 
destacar o diálogo deste com escritores de referência; trazer 
informações sobre a obra – como ela foi escrita.
Espaço ocupado: nos livros em formato 16 x 23 cm, são 2.300 
caracteres em média para as duas orelhas, sendo cerca de 1.800 
para o texto crítico e 500 para a biografia. Nos livros 14 x 21 cm, o 
espaço se reduz para 2.200, sendo cerca de 1.700 caracteres para o 
texto crítico e 500 para a biografia, em média. 
Orelhas
Press Release Propriamente Dito
Venda do livro para mídia, livreiros e distribuidores. Texto chamativo 
que pode se desdobrar em algo além. “Epitexto” que procura se 
desdobrar em outros epitextos públicos: entrevistas, matérias, 
convites para participações em mesas redondas etc.
Mais completo do que a quarta capa e do que a sinopse curta. 
Apresenta o conteúdo e o propósito do livro (sinopse); fala sobre o 
autor e ilustrador (minibiografias depoimentos destes e dos críticos); 
destaca os pontos altos da obra (elogio elegante); deve fugir do lugar 
comum (criação de um clima especial); vender o livro é vender uma 
ideia; a importância de se falar à emoção do leitor (para além do logo 
e do ethos); ao final, fornecer informações do contato (inserir apenas 
o endereço físico ou do site da editora mostra impessoalidade).
Dicas de redação: dar um título ao release; hierarquizar as 
informações: da mais para a menos importante; texto rápido e eficaz. 
No e-mail de envio 
deste release, vão
dicas de reportagem a 
respeito deste livro.
Sinopse curta e Metadados – entram nos cadastros das livrarias on-line 
e sites de venda.
Texto sintético e autossuficiente – entre 300 e 500 caracteres. Tem 
caráter informativo; confere destaque ao melhor da obra. Para chegar à 
condensação que tal paratexto exige, ver os processos sumarização 
expressos a seguir:
Sinopse Curta e Metadados – Vendas On-line
1. Seleção: manutenção de conteúdos relevantes e 
consequente eliminação dos irrelevantes, por meio das 
operações de:
a. cópia (manutenção de informações primárias)
b. apagamento (eliminação de informações secundárias)
2. Construção: substituição de uma sequência por outra por 
meio das operações de: 
a. generalização (substituição de informações gerais por 
particulares)
b. construção (reelaboração da informação por associação de 
significados)
Resumo – Estratégias – Seleção e Construção
A esse respeito, a campanha do desarmamento, que recolheu mais de 
meio milhão de armas, já produziu importantes resultados. O 
Ministério da Saúde informa que os homicídios por armas de fogo 
caíram 8,2% em 2004 em relação a 2003. Foram de 39.325 assassinatos 
em 2003 para 36.091 no ano seguinte. É a primeira queda nesse 
indicador desde 1992.
Extraído de: Editorial da Folha de S.Paulo,
09 de outubro de 2005 (apud LEITE, op. cit., pp. 17-18).
A campanha do desarmamento produziu importantes resultados. O 
Ministério da Saúde informa que os homicídios caíram 8,2% em 2004 
em relação a 2003. É a primeira queda nesse indicador desde 1992.
A campanha do desarmamento produziu resultados. O Ministério da 
Saúde informa que os homicídios caíram 8,2%. É a primeira queda nesse 
indicador desde 1992.
Resumo – Estratégias – Seleção e Construção
Sumarização: Processo mental inerente à produção de resumos 
(e à leitura de um modo geral).
Possibilidades:
- Apagamento de conteúdos facilmente inferíveis a partir de 
nosso conhecimento de mundo.
- Apagamento de sequências de expressões que indicam 
sinônimos ou explicações.
- Apagamento de exemplos.
- Apagamento das justificativas de uma afirmação.
- Apagamento de argumentos contra a posição do autor.
- Reformulação das informações, utilizando termos mais 
genéricos. 
- Conservação de todas as informações, dado que elas não são 
resumíveis. 
Resumo – Estratégias – Seleção e Construção
Título + capa + sinopse + palavras-chave + ficha técnica + biografia + 
comentários e outras informações sobre o livro = metadados
Palavras-chave (termos pesquisados nos mecanismos de busca) –
representam o(s) conteúdo(s) da obra, mas devem ser mais 
específicas de modo a matizá-lo; em geral, são escolhidas pelo 
editor (que mais conhece o conteúdo do livro) em consonância com 
a área comercial (que procura olhar para o livro como o consumidor 
o faria); meio termo entre termos genéricos (ex: literatura) e 
sintagmas específicos (ex: literatura brasileira da década de 1930). 
Não se trata de algo fixo e podem ser atualizadas. Grandes editoras 
consideram os dados de busca na Amazon, no Google e, a partir 
disso, inserem as palavras-chave procuradas nos livros em que elas 
mais bem caberiam. Possibilidade de seleção de inúmeros termos 
(entre dez e quinze) que poderiam figurar no cadastro da obra.
Resumo – Estratégias – Seleção e Construção
A Metabooks é uma iniciativa da MVB GmbH e da Feira do Livro de 
Frankfurt que, em cooperação com a Câmara Brasileira do Livro, 
chegou ao Brasil em 2017. Abarca 813 editoras e selos .
Plataforma https://mercadoeditorial.org/ - reúne mais de 560 editoras e 
está integrado, entre outras com a Amazon, Livraria da Travessa, Disal e 
Minha Biblioteca.
https://mercadoeditorial.org/
Na planilha de cadastro das livrarias, os principais itens a serem 
preenchidos são, costumeiramente, os seguintes: ISBN, formato, título, 
subtítulo, editora, autor, ilustrador, tradutor, número da edição, ano da 
edição, preço, gênero do livro, altura, largura, profundidade, peso, 
número de páginas, idioma, encadernação (ou acabamento), código de 
barras e indicação de faixa etária (no caso dos infantis). E ainda sinopse 
curta, sinopse longa, biografia do autor etc.

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