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Introdução à radiologia

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Tópico 01
Diagnóstico por Imagem
Introdução à radiologia
1. Introdução
A radiologia é uma especialidade médica e odontológica de
grande importância, uma vez que envolve técnicas utilizadas
para observar as estruturas internas do corpo humano. É isso
mesmo: a radiologia fornece imagens dos tecidos, órgãos, ossos e
vasos que auxiliam no fechamento do diagnóstico e no
tratamento de doenças.
De acordo com Marchiori e Santos (2015), as técnicas
radiológicas para a obtenção de imagens utilizam qualquer
forma de radiação, seja ela ionizante, sonora ou magnética. Os
aparelhos de raios X, por exemplo, têm uma fonte de energia que
gera um tipo de radiação ionizante (raios X), a partir da
eletricidade
A radiologia convencional foi a primeira técnica a ser utilizada
para o diagnóstico de alterações patológicas, e ainda é
considerada importante para as especialidades relacionadas com
a ortopedia e a traumatologia.
Outras técnicas foram desenvolvidas a partir da radiologia
convencional. Atualmente, a obtenção de imagens tem passado
por um processo de digitalização e, assim, é possível obter
resultados de forma mais rápida e com imagens de melhor
resolução.
2. História da radiação X
A história da radiologia começou em novembro de 1895, quando
Wilhelm Conrad Roentgen, um cientista alemão, descobriu uma
nova forma de radiação, que até então era desconhecida.
Roentgen alcançou sua descoberta enquanto realizada um
experimento com tubos de raios catódicos para estudar a
condução eletromagnética em ampolas a vácuo (ampolas de
Crookes) em seu laboratório (MARCHIORI; SANTOS, 2015). Ele
observou que as descargas desses tubos provocavam cintilações
em uma tela fluorescente, que estava sobre uma mesa próxima
(GUNDERMAN, 2007).
Durante as tentativas, Roentgen observou que esses novos raios,
denominados por ele de raios X, eram invisíveis, capazes de
atravessar os objetos e causavam fluorescência. A grande
surpresa foi quando Roentgen viu os ossos de suas mãos
projetados na tela fluorescente (DAFFNER, 2013). Foi assim que
ele teve a ideia de substituir a tela fluorescente por uma película
fotográfica e usou a mão de sua esposa (Anna Bertha Roentgen)
para gerar a primeira imagem radiográfica da história
(WERLANG; BERGOLI; MADALOSSO, 2009).
Essa descoberta memorável recebeu o primeiro Prêmio Nobel de
Física, em 1901. Você consegue perceber que a descoberta de
Roentgen foi revolucionária e proporcionou ao mundo a
possibilidade de utilizar os raios X no tratamento de diversas
patologias?
No entanto, os primeiros equipamentos de raios X utilizavam
altas doses de radiação para a obtenção das imagens e não
apresentavam proteção radiológica. Dessa forma, os
profissionais que manuseavam esses equipamentos ficavam
muito expostos à radiação e sofreram consequências graves, uma
vez que o excesso de radiação por causar dermatites e diversos
tipos de cânceres. Com o passar tempo, os aparelhos de raios X
sofreram modificações para reduzir o uso de radiações
desnecessárias (WERLANG; BERGOLI; MADALOSSO, 2009).
Segundo Marchiori e Santos (2015, s/n), “o primeiro
equipamento de radiologia na América Latina foi instalado no
Brasil, em 1897, na cidade de Formiga, em Minas Gerais, pelo
médico José Carlos Ferreira Pires”.
Ao longo do século XX, a radiologia passou por muitos avanços
tecnológicos, que possibilitaram o surgimento de outras
modalidades de diagnóstico por imagem. Dentre esses avanços,
podemos destacar a descoberta do engenheiro J. Housfield, que
associou a formação de imagens obtida por secções com técnicas
computadorizadas, criando a tomografia computadorizada
(MARCHIORI; SANTOS, 2015). Além disso, outras modalidades
passaram a fazer parte da radiologia, como, por exemplo, a
fluoroscopia (radioscopia), a medicina nuclear, a
ultrassonografia e a ressonância magnética (GUNDERMAN,
2007).
3. Fontes de Radiação
Para aprendermos sobre a radiologia, é muito importante
relembrarmos alguns conceitos fundamentais. Você se lembra o
que é um átomo e como é a sua estrutura? O átomo representa a
unidade fundamental da matéria, ou seja, é a menor partícula de
um elemento químico e possui as propriedades características
daquele elemento. A sua estrutura pode ser representada como
um sistema solar, uma vez que os átomos têm um núcleo com
cargas positivas (prótons) e neutras (nêutrons), e uma
eletrosfera com cagas negativas (elétrons). A eletrosfera é
formada por camadas orbitais bem definidas e dispostas em
Você sabia que a ressonância magnética e a
ultrassonografia não utilizam radiação ionizante? Essas
duas modalidades de diagnóstico por imagem oferecem
maior segurança à saúde do paciente e do profissional,
uma vez que não existem evidências significativas da
ocorrência de qualquer efeito biológico.

distâncias variáveis do núcleo, que, por sua vez, têm elétrons
girando em suas órbitas.
Agora você deve estar se perguntando: por que é importante
saber como é o átomo para aprender radiologia? Bem, a radiação
é um fluxo de energia ou de partículas produzidas a partir dos
átomos. Além disso, a energia da radiação é recebida e absorvida
por outros átomos.
Existem dois tipos de radiação: a radiação não ionizante e a
radiação ionizante. Aqui vamos frisar a radiação ionizante, pois
essa é a utilizada na área de radiologia. Sendo assim, é
importante compreender que a radiação ionizante é capaz de
formar íons com remoção ou adição de elétrons de átomos ou
moléculas.
A radiação pode se propagar sob a forma de partículas, com ou
sem carga elétrica, ou, ainda, sob a forma de ondas
eletromagnéticas. Então, a radiação pode ser de dois tipos:
Radiação corpuscular: é formada por partículas e
subpartículas, como os elétrons, os nêutrons, os prótons, os
pósitrons (β+) as partículas alfas (α) e beta (β). Na radiologia,
os elétrons são utilizados na produção de raios X; os prótons
e nêutrons são usados na medicina nuclear e na radioterapia;
os pósitrons são usados em um tipo de tomografia chamada
PET (ou Positron Emission Tomography); e as partículas β
são usadas na iodoterapia ou na braquiterapia para combater
o câncer. (CASTRO JÚNIOR, 2010).
Radiação eletromagnética: são ondas eletromagnéticas
formadas a partir da sobreposição de um campo elétrico e um
campo magnético. Por exemplo: raios gama e raios X, raios
ultravioleta, luz visível, infravermelho e ondas de rádio. Na
radiologia, as ondas de rádio são usadas na ressonância
magnética; os raios X são as mais utilizadas na medicina; e os
raios gama são usados na medicina nuclear e na radioterapia.
(CASTRO JÚNIOR, 2010).
A maior exposição à radiação artificial (induzida) provém da
área médica, por meio do uso de equipamentos de
radiodiagnósticos e radioterapia. Segundo Okuno (2018), a
radiação pode ser produzida e emitida por reatores nucleares e
por máquinas conhecidas como aceleradores de partículas (p. ex.
acelerador linear e o cíclotron). Os tubos de raios X e os
irradiadores com radioisótopos também são importantes tipos
de fontes de radiação ionizante.
A radiação natural (espontânea) ocorre de forma inevitável e tem
como fonte a radiação cósmica, que provém do espeço sideral, e
a radiação terrestre, proveniente de materiais radioativos
encontrados no solo, na água e no ar. 
4. Formação dos Raios X
Os raios X são fótons eletricamente neutros que se propagam em
forma de onda com uma frequência e com velocidade da luz.
Mas, afinal, como ocorre a geração artificial de fótons X?
De modo geral, os raios X produzidos por tubos de raios X
podem ser gerados a partir da colisão de elétrons acelerados
contra um material que, geralmente, é um alvo feito de metal (p.
ex. tungstênio ou molibdênio), e perdem energia. Para que essa
interação aconteça, são necessários alguns passos fundamentais:
1) geração de elétrons;
2) aceleração dos elétrons;
3) desaceleração dos elétrons.
Também é importante entender que os raios X carregam a
energia proveniente dos elétrons, denominadade energia
cinética. Essa energia é diretamente proporcional à velocidade
dos elétrons, ou seja, quanto maior a velocidade dos elétrons,
maior será a energia cinética. Desse modo, a produção dos raios
X ocorre quando os elétrons atingem o alvo e sua energia
cinética é transformada em energia eletromagnética (CASTRO
JÚNIOR, 2010).
Os raios X podem ser produzidos de duas formas diferentes: a
radiação de freamento (radiação bremsstrahlung), que apresenta
um espectro contínuo de energias; e a radiação característica ou
fluorescência, com um espectro de linhas com energias bem
definidas (OKUNO; YOSHIMURA, 2010) Veremos esses dois
fenômenos com mais detalhes no próximo tópico.
5. Radiação de freamento e
característica
Selecionamos um vídeo para você assistir.
Vale a pena conferir!
Como funcionam os Raios X

Como funcionam os Raios XComo funcionam os Raios X
https://www.youtube.com/watch?v=hST9DRCwBto
Os raios X de fretamento são produzidos por meio da interação
do elétron acelerado (carga negativa e de alta energia) com o
núcleo atômico (carga positiva). Nesse caso, os elétrons
acelerados são atraídos ao se aproximarem do núcleo, e,
consequentemente, são desviados de sua trajetória inicial,
diminuindo a sua velocidade (freamento). Com isso, os elétrons
perdem uma fração considerável de sua energia cinética, que,
por sua vez, é transformada em energia eletromagnética, na
forma de raios X (MOURÃO; OLIVEIRA,2009). Assim, quanto
maior a desaceleração, mais energia cinética é transformada em
raios X de freamento.
De acordo com Mourão e Oliveira (2009), alguns fatores podem
influenciar o valor da energia dos raios X de freamento, tais
como:
a quantidade de energia perdida pelo elétron acelerado;
as características do núcleo com o qual o elétron acelerado
interage;
o valor da energia cinética de entrada do elétron, ou seja,
quanto maior a energia de entrada, maior frenagem e geração
de um fóton mais energético.
Os raios X característicos são gerados a partir da interação de
elétrons acelerados com outros elétrons orbitais (eletrosfera) dos
átomos do alvo. Essa interação retira de órbita um elétron da
camada mais interna da eletrosfera, criando uma lacuna que é
rapidamente preenchida por um elétron da camada mais
externa, mas, para isso, ele perde parte de sua energia. Então, a
energia perdida pelo elétron que se descolou nas órbitas da
eletrosfera é transformada em radiação eletromagnética,
formando fótons denominados de raios X característicos. Esse
fenômeno recebe o nome de radiação característica, pois os
valores da energia dos raios X são predeterminados (fixos) e
dependem da energia do átomo que interagiu com o elétron
acelerado (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). Nesse caso, a
quantidade de energia perdida varia de acordo com os níveis de
energia dos elétrons orbitais, uma vez que cada elemento tem
níveis específicos (FENYO-PEREIRA; CRIVELLO JR., 2019).
Vale ressaltar que o mecanismo da radiação de fretamento
acontece com maior frequência do que os mecanismos de
radiação característica (CASTRO JÚNIOR, 2010).
6. Aparelhos de Raio X
Os aparelhos de raios X são formados por um conjunto de peças
organizadas, que produzem um feixe de raios X direcionado para
a região do corpo humano da qual se deseja obter a imagem
radiográfica (MOURÃO, OLIVEIRA, 2009).
Selecionamos um vídeo para você assistir que trata, de
forma didática, sobre como funcionam os raios X. Vale a
pena conferir!
TIPOS DE RAIOS X FRENAGEM &
CARACTERÍSTICO – FÍSICA

TIPOS DE RAIOS X *FRENAGEM & CARACTETIPOS DE RAIOS X *FRENAGEM & CARACTE……
https://www.youtube.com/watch?v=03_hSR9gTUk
Aparelho de raios X.
De modo geral, os principais componentes dos aparelhos de
raios x são a ampola e sua fonte de energia, que ficam
posicionados dentro de um cabeçote. Os aparelhos de raios X
também têm um painel de controle, ou console de operação, no
qual é feito o controle do tempo de exposição à radiação, bem
como da energia e da taxa de exposição à radiação (WHITE;
PHAROAH, 2015).
O tubo de raios X, também conhecido como ampola de Coolidge,
é considerado o coração do aparelho de raios X, pois é dentro
dele que ocorre a transformação da energia elétrica em radiação
eletromagnética radiográfica (MOURÃO, OLIVEIRA, 2009).
Existem diferentes tipos de tubos, como o ânodo fixo e o ânodo
giratório.
O objeto do ânodo pode ser construído com tungstênio,
molibdênio ou ródio. Todos esses metais têm
características adequadas para a construção do objeto
do ânodo, pois são bons dissipadores de calor e

A próxima figura apresenta um esquema do tubo de raios X com
seus principais componentes. Como podemos observar, ele é
formado por uma ampola de vidro a vácuo (para não ocorrer
perda de energia), na qual são encontrados dois eletrodos: o
cátodo (com carga negativa), que é fonte de elétrons; e o ânodo
ou placa de tungstênio (com carga positiva), que recebe os
elétrons e produz radiação (VAL, 2006).
Tubo de raios X.
Como vimos anteriormente, os elétrons são produzidos pelo
filamento incandescente do cátodo e saem, em alta velocidade,
em direção ao alvo de tungstênio. Então, quando esses elétrons
se chocam com o alvo, ocorre a conversão da energia cinética dos
elétrons em fótons de raios X (CHEN; POPE; OTT, 2012). No
entanto, todo esse processo é dito como ineficiente, uma vez que
99% da energia cinética dos elétrons é dissipada na forma de
calor, e apenas 1% é convertida em raios X (WHITE; PHAROAH,
2015).
Para a produção de raios X, também é necessário que a corrente
alternada da rede de distribuição seja transformada em uma
corrente alternada de alta tensão (kV), que, por sua vez, é
convertida em um corrente contínua de alta tensão. Esse
condutores elétricos, além de suportarem altas
temperaturas.
processo é realizado pelo transformador de alta tensão, cuja
função é de elevar, reduzir e regular tensões (BIASOLI, 2003).
O colimador é um componente que fica acoplado embaixo da
janela do tubo de raios X e sua função é de indicar, através de
um foco de luz, a região que será exposta aos raios X para a
aquisição da imagem. Desse modo, o colimador delimita a área
de interesse e reduz a dose de radiação absorvida pelo paciente.
O colimador também possui um comando que executa o
movimento do tubo ao longo da mesa do aparelho de raios X
(CASTRO JÚNIOR, 2010)
O paciente pode ser acomodando em uma mesa (posição
horizontal) ou no Bucky mural (posição vertical), para a
aquisição da imagem, dependendo do tipo de exame a ser
realizado. Tanto a mesa quanto o mural têm uma abertura para a
alocação e o posicionamento do chassi (também conhecidos
como cassetes), que é um compartimento que acomoda o filme
radiográfico no seu interior (MOURÃO, OLIVEIRA, 2009).
De acordo com Mourão e Oliveira (2009), a estrutura dos filmes
radiográficos é formada por uma base de poliéster (película
plástica), revestida por uma camada especial que contém cristal
de sal de prata, denominada de emulsão. Além disso, também
tem uma camada protetora de gelatina que é aplicada sobre a
camada de emulsão. Essa estrutura foi desenvolvida com a
finalidade de diminuir o tempo de exposição e a dose de radiação
para o paciente.
A grade antidifusora é um componente importante para remover
a radiação espalhada (radiação secundária), evitando que ela
chegue ao filme fotográfico. O uso dessa grade é fundamental
para melhorar a qualidade e o contraste da imagem, uma vez
que, sem a grade, a imagem perde a sua resolução e fica borrada
(CASTRO JÚNIOR, 2010). As grades são feitas com lâminas
delgadas de chumbo e com material radiotransparente, alumínio
ou acrílico.
7. Bioradiologia
A interação da radiação ionizante com a matéria pode provocar
efeitos biológicos que são nocivos para os organismos vivos. Tais
efeitos são estudados pela radiobiologia e podem ocorrer devido
à:
morte prematura da célula;
incapacidade de se reproduzir (não tem renovação celular);
transformação em uma célulaviável, tornando-a modificada.
Nesse caso, a divisão celular ocorre de forma descontrolado e
resulta no desenvolvimento do câncer.
Os mecanismos de ação dos efeitos biológicos podem ser diretos
ou indiretos. Os efeitos diretos são produzidos quando a
radiação é absorvida por moléculas biológicas, como o DNA e
proteínas. Já os efeitos indiretos são aqueles que resultam da
formação dos radicais livres e representa 80% dos efeitos
(MOURÃO, OLIVEIRA, 2009). Gunderman (2007) explica que
os fótons absorvidos são capazes de ionizar a água presente no
corpo humano, por um processo indireto denominado de
radiólise da água, tendo como resultado a formação de radicais
livres altamente reativos, que, por sua vez, podem reagir com o
nosso DNA e gerar danos.
Os efeitos biológicos podem ser classificados, de acordo com a
dose absorvida, em efeitos estocásticos e efeitos determinístico.
Afinal, você sabe dizer qual a diferença entre o efeito
determinístico e estocástico?

Essa classificação depende da quantidade de radiação à qual
aquela estrutura foi exposta. Por exemplo: quando o efeito
biológico pode ocorrer com qualquer dose de radiação, é
chamado de estocástico. Por outro lado, quando há uma relação
entre a dose recebida e os efeitos esperados, falamos que esse
efeito é determinístico (WERLANG; BERGOLI; MADALOSSO,
2009).
Os efeitos estocásticos causam danos subletais ao DNA, ou seja,
promovem transformações no material genético da célula. De
modo geral, nosso organismo tem um sistema de defesa, que
reconhece a mutação genética e elimina a célula alterada. No
entanto, se o organismo não conseguir reparar esses danos, a
célula pode continuar se dividindo até o aparecimento de
cânceres (carcinogênese), como câncer de tireoide, tumores nas
glândulas salivares, leucemia, entre outros (WERLANG;
BERGOLI; MADALOSSO, 2009). Desse modo, os efeitos
estocásticos estão associados ao aparecimento de cânceres e
efeitos hereditários.
Já os efeitos determinísticos causam danos letais ao DNA, isto é,
levam à morte celular. É importante compreender que, nesse
caso, a gravidade do dano provocado depende do tecido atingido
e aumenta conforme o aumento da dose. De modo geral, os
efeitos determinísticos são observados em pacientes submetidos
a doses elevadas de radiação durante o tratamento de
radioterapia. Como consequência desse processo, podem ocorrer
efeitos como a xerostomia, osteorradionecrose, infertilidade,
radiodermatite, catarata, leucopenia, entre outros (WERLANG;
BERGOLI; MADALOSSO, 2009). As principais diferenças entre
os efeitos estocásticos e determinístico estão descritas na Tabela
01.
  Efeitos determinísticos Efeitos Estocásticos
Exemplos Mucosite resultante do
tratamento de radiação
na cavidade oral;
formação de catarata
Câncer provocado pela
radiação; efeitos
hereditários.
provocada pela
radiação.
Causados por
Morte de muitas
células.
Dano subletal ao DNA.
Dose limite?
Sim: morte de células
suficientes necessária
para causar uma
resposta clínica.
Não: mesmo um fóton
poderia causar uma
mudança no DNA que
leva a um câncer ou
efeito hereditário.
Gravidade dos
efeitos clínicos
e dose
A gravidade dos efeitos
clínicos é proporcional
à dose; quanto maior a
dose, maior o efeito.
A gravidade dos
efeitos clínicos é
independente da dose;
a resposta é tudo ou
nada – produz ou não
produz efeito em um
indivíduo.
Probabilidade
de produzir
efeito e dose
A probabilidade do
efeito independente da
dose; há efeito em
todos os indivíduos
quando a dose está
acima do limite.
A frequência do efeito
é proporcional à dose;
quanto maior ela for,
maior a chance de
haver o efeito.
Os efeitos também variam de acordo com o tempo de
manifestação, podendo aparecer em curto prazo (imediato) ou
em longo prazo (tardios). De modo geral, os efeitos em curto
prazo ocorrem devido a uma grande quantidade de radiação em
grandes áreas corporais, podendo ser observados em questão de
horas, dias ou semanas após a exposição. Por exemplo,
inidvíduos com Síndrome Aguda de Radiação apresentam
vômitos e diarreia, febre, queda de cabelo, entre outros
sintomas. Já os efeitos em longo prazo demoram para aparecer
e, normalmente, são resultantes de grandes exposições em curto
espaço de tempo, ou de pequenas quantidades de radiação em
um longo período (MARCHIORI; SANTOS, 2015).
De acordo com Marchiori e Santos (2015), os efeitos das
radiações ionizantes podem ser classificados de acordo com o
nível de dano celular em:
Somático: quando os efeitos biológicos se manifestam no
próprio indivíduo irradiado. São exemplos as
radiodermatites, câncer, cataratas, leucemia e malformações
(exposição no feto).
Genético: surgem quando a radiação afeta os órgãos
reprodutores (células germinativas), e o dano pode ser
transmitido para os descendentes do indivíduo irradiado
(gerações futuras).
De acordo com Mourão e Oliveira (2009), a sensibilidade dos
efeitos biológicos causados pela radiação varia de acordo com
dose recebida e com o tipo de tecido/órgão. De modo geral, os
tecidos com maior taxa de reprodução celular são mais
suscetíveis aos efeitos biológicos da radiação, como sistema
hematopoético e o reprodutivo.
8. Radioproteção
Agora, você deve estar se perguntando como o profissional
radiologista se protege dos efeitos nocivos da radiação ionizante
durante a sua jornada de trabalho? No entanto, não é somente o
profissional que deve ser protegido, mas também o paciente e o
meio ambiente.
Diante disso, surgiu a necessidade de tomar medidas que visam
a proteger o paciente e os profissionais contra os possíveis
efeitos indesejáveis da exposição à radiação. Desse modo, a
radioproteção, ou proteção radiológica, envolve um conjunto de
métodos que evitam a ocorrência dos efeitos biológicos sem
limitar os benefícios proporcionados pela exposição às radiações
ionizantes (MOURÃO, OLIVEIRA, 2009).
No Brasil, a Resolução RDC n. 330/2019 estabelece as diretrizes
básicas para a organização e funcionamento dos serviços de
radiologia diagnóstica e intervencionista, bem como
regulamenta o controle das exposições médicas, ocupacionais e
do público decorrentes do uso da radicação.
De acordo com Mourão e Oliveira (2009), as medidas usadas
para a proteção radiológica consistem em três aspectos básicos:
• Controle da exposição: o indivíduo deve se manter o mais
distante possível da fonte de radiação, uma que vez que quanto
maior a distância entre o indivíduo e a fonte de radiação, menor
será a dose.
• Controle do tempo de exposição: devem ser evitadas exposições
longas que ultrapassam os limites máximos estabelecidos como
admissíveis. Nesse caso, quanto maior o tempo de exposição,
maior é a dose recebida.
• Blindagem: utilização de barreiras absorvedoras posicionadas
entre o indivíduo e a fonte de radiação, cujo objetivo principal é
diminuir a dose absorvida. Normalmente, os materiais de
blindagens são feitos de chumbo, barita, concreto e vidro com
alto teor de chumbo. O objetivo secundário da blindagem é
evitar danos ou interferências em aparelhos sensíveis à radiação.
Então, a proteção radiológica se baseia no uso de equipamentos
de proteção geral e equipamentos de exposição individual.
Machiori e Santos (2015) listaram algumas medidas utilizadas
para minimizar os danos da radiação, tais como:
• Uso de equipamentos com colimadores para restringir a área
radiografada.
• Diminuição da dose de irradiação, isto é, da dose de exposição.
• Limitação do número de exames, principalmente em crianças.
Vale a pena conferir!
Esse artigo mostra a importância do uso de vestimentas
de proteção radiológica (VPRs) para a redução da dose
absorvida de radiação ionizante nos pacientes e nos
indivíduos ocupacionalmente expostos
Clique aqui

https://www.scielo.br/pdf/rb/v44n2/v44n2a09.pdf
• Uso de protetores de genitália (gônadas), tireoide e cristalino,
para a proteção dos pacientes.
• Uso de argamassa baritada, paredes com chumboe vidro
plumbífero para a blindagem dos ambientes em que são feitos os
procedimentos radiológicos.
• Uso de aventais plúmbicos (chumbo), como uma proteção para
o radiologista.
• Uso do dosímetro, para realizar o monitoramento individual
dos radiologistas.
• Somente o operador do equipamento de raios X e o paciente
podem permanecer na sala de exame durante as exposições.
Aproveitamos, também, para apresentar três princípios básicos
que fundamentam as atividades de proteção radiológicas. A
justificação da prática, considera que utilização da radiação
ionizante deve ser autorizada se os benefícios forem maiores que
os possíveis danos que a exposição pode causar. Esse princípio
da justificação é aplicado sempre quando o profissional da área
da saúde solicita um exame de imagem para auxiliar no
diagnóstico do paciente, ou em casos de radioterapia (MOURÃO,
OLIVEIRA, 2009).
O princípio da otimização da proteção radiológica, também
conhecido como ALARA (as low as reasonably achievable), deve
garantir que as exposições sejam realizadas com as menores
doses possíveis, proporcionando maior proteção para todos os
envolvidos no processo. Por fim, a limitação da dose individual,
significa que existem limites de dose para os profissionais e para
os indivíduos em geral. Tais limites são estabelecidos pelas
normas de radioproteção de cada país (MOURÃO, OLIVEIRA,
2009). É importante destacar que as doses recebidas em
exposições ocupacionais são monitoradas de forma individual,
por meio do uso de dosímetro, cujas características veremos a
seguir.
9. Disometria
O dosímetro é um dispositivo utilizado para quantificar a dose
de radiação (cumulativa) depositada na matéria, bem como
qualificar o tipo de radiação da exposição. Esses dispositivos
contêm um cristal sensível à radiação (Al O ) ,com propriedades
termoluminescentes (WHITE; PHAROAH, 2015).
Segundo Mourão e Oliveira (2009), a dosimetria das radiações
tem como objetivo:
definir as normas de proteção para o uso de radiações
ionizantes, principalmente para o profissional radiologista;
prever os efeitos da radioterapia que podem afetar os tecidos
normais e os tecidos tumorais;
medir a energia depositada nos tecidos devido à interação das
radiações utilizadas na área médica.
É recomendado o uso de dosímetro para todos os profissionais
que ficam expostos a uma dose anual superior a 1 mSv. Além
disso, as gestantes que operam equipamentos de raios x devem
ser monitoradas com o dosímetro, independentemente dos
níveis de exposição (WHITE; PHAROAH, 2015).
Sendo assim, o uso desse dispositivo é essencial para garantir
que o profissional não está recebendo doses ocupacionais acima
dos limites estabelecidos.
2 3
“O profissional portador de dosímetro deve ter a dose
limitada em 100mSv num período de cinco anos, não
podendo exceder a 50mSv no período de um ano. O
indivíduo do público deve receber uma dose inferior a 5mSv
por ano; portanto, ambientes em que haja presença de
radiação ionizante devem ser devidamente preparados para
que essas radiações fiquem restritas a eles, não se
propagando para imediações onde estejam outras pessoas”.
(MOURÃO; OLIVEIRA, 2009, p. 48)
Werlang, Bergoli e Madalosso (2009) listaram algumas regras
para o uso do dosímetro:
cada profissional deve utilizar seu próprio dosímetro, nunca
utilizar de outra pessoa;
o profissional precisa estar devidamente cadastrado na
empresa responsável pela leitura do dosímetro;
o dosímetro deve ser usado na região mais exposta do tronco
(na altura do tórax) e sobre o avental pumbífero;
a troca do dosímetro deve ocorrer mensalmente;
o uso do dosímetro é exclusivo para o serviço o qual o
profissional foi designado e nunca deve ser levado para fora
do ambiente de trabalho, pois isso pode aumentar o risco de
exposição ao sol ou de outras formas de radiação.
Dosímetro pessoal, sensível à radiação ionizante, utilizado pelo
profissional.
10. Conclusão
Ao longo desta lição, contamos de forma rápida a história da
radiologia, mostrando que a sua descoberta foi um marco
importantíssimo para o diagnóstico e o tratamento de doenças.
Descrevemos as características físicas das radiações e
conhecemos os aparelhos de raios X.
Vimos também que os efeitos biológicos da radiação são
cumulativos, ou seja, os danos aumentam quando o indivíduo
recebe doses repetidas de radiação. No entanto, os riscos da
radiação diminuem com os métodos de controle e proteção
radiológica, para o profissional, o paciente e o ambiente.
Em nosso próximo conteúdo, iremos aprofundar o nosso
conhecimento sobre a radiologia, destacando alguns métodos de
exames do diagnóstico por imagem.
Estamos dando os primeiros passos para compreender as
principais modalidades do diagnóstico por imagem, mas ainda
temo um caminho cheio de descobertas pela frente. Vamos nessa
e até a próxima!
11. Referências
BIASOLI JR., A. Técnicas Radiográficas: princípios
radiográficas, anatomia básica e posicionamento. Rio de Janeiro:
Rubio, 2003.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância
Sanitária. Diretoria Colegiada. Resolução – RDC n. 330, de 20
de dezembro de 2019.Disponível em:
https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-rdc-n-330-de-20-
de-dezembro-de-2019-235414748?inheritRedirect=true.
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