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Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental CRISE EPILÉPTICA E EPILEPSIAS NA INFÂNCIA 1. CRISE EPILÉPTICA Descarga elétrica anormal, síncrona, que pode ser restrita em uma região ou espalhada pelo cérebro, gerando perda de consciência. Existem vários fatores que desencadeiam: luz, banho, leitura. No evento da crise pode ocorrer febre e vômito (no caso de meningite). A ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas secundários a atividade neuronal cerebral anormal excessiva ou síncrona Primeira tarefa: determinar se um evento tem as características de uma crise epiléptica e não de um dos muitos imitadores de crises O próximo passo é a classificação do tipo de crise → 1ª pergunta é sempre qual o tipo! ● Crise generalizada sempre vai ter perda de consciência ● Na crise focal a manifestação depende do local afetado CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL ILAE 2017 Na proposta de Classificação de 2010, crises focais são aquelas que se originam em uma rede neuronal limitada a um hemisfério, podendo ser muito localizada ou amplamente distribuída. Crises focais podem se originar em estruturas subcorticais; para cada tipo de crise, o início ictal é o mesmo de uma crise para outra e segue padrões de propagação preferencial, que podem envolver o hemisfério contralateral. Em alguns casos, há mais de uma rede epileptogênica e mais de um tipo de crise, mas cada tipo individual tem o mesmo local de origem Crises epilépticas generalizadas se originam em algum ponto e rapidamente envolvem redes neuronais distribuídas bilateralmente. Essas redes podem incluir estruturas corticais e subcorticais, mas não necessariamente todo o córtex. Embora o início das crises possa parecer localizado, a localização não se mantém de uma crise a outra; crises generalizadas podem ser assimétricas A proposta de 2010 considera ainda as crises focais evoluindo para crises epilépticas bilaterais, convulsivas (incluindo componentes tônicos,clônicos ou tônico-clonicos. Essa expressão substitui o termo crises secundariamente generalizadas. A partir dessa classificação define-se a investigação, a conduta e o tratamento. Toda crise focal, até que se prove o contrário, é secundária (tumor, malformações, quadro vascular). Exceto algumas crises bem clássicas da infância, nas outras vezes temos que investigar a etiologia. RECORRÊNCIA DE CRISES EM CRIANÇAS O risco de recorrência geral é de 42%, sendo maior nos primeiros seis meses → crises sintomáticas remotas apresentam maior índice de recorrência EEG anormal e crise inicial durante o sono se relacionam à maior índice de recorrência → a recorrência é maior para as crises de ausência, atônicas, mioclônicas e espasmos infantis (100%), seguidas pelas crises parciais complexas (79%) A etiologia das crises e o EEG são maiores indicadores de recorrência 2. EPILEPSIA É uma doença definida por qualquer uma das seguintes condições: ● Pelo menos duas crises epilépticas não provocadas (ou reflexas) ocorrendo com um intervalo superior a 24h ● Uma crise epiléptica não provocada (ou reflexa) e probabilidade de ocorrência de outras crises similar ao risco geral de recorrência (pelo menos 60%) após 2 crises epilépticas não provocadas, ocorrendo nos próximos 10 anos ● Diagnóstico de uma síndrome epiléptica Epilepsia deve ser considerada resolvida para os indivíduos que tenham uma síndrome epiléptica idade-dependente que já tenham ultrapassado a idade limite para esta síndrome ou para aqueles que tenham permanecido livres de crises nos últimos 10 anos, sem fármacos antiepilépticos nos últimos 5 anos. CLASSIFICAÇÃO Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental Perguntas: ● Realmente foi uma crise epiléptica? ● Qual a etiologia da convulsão? ○ Causas sistêmicas/metabólicas e neurológicas ○ Para investigação neurológica, utilizamos exames de imagem (TC/RNM) ● Qual o tipo de epilepsia? EPILEPSIA GENERALIZADA O paciente deve apresentar atividade de complexos de espícula-onda generalizados no EEG; Indivíduos com epilepsias generalizadas podem apresentar um conjunto de diferentes tipos de crises que incluem crises de ausência, mioclônicas, atônicas, tônicas e tônico-clônicas; O diagnóstico é feito com base nos dados clínicos, corroborados pelo achado de descargas interictais típicas no EEG. EPILEPSIA FOCAL Distúrbios unifocais e multifocais bem como crises envolvendo um hemisfério Uma variedade de tipos de crises epilépticas pode ser encontrada incluindo crises focais perceptivas, crises focais disperceptivas ou com comprometimento da percepção, crises focais motoras e não motoras e crises focais evoluindo para crises tônico-clônicas bilaterais O EEG interictal tipicamente mostra descargas epileptiformes focais O diagnóstico deve ser feito com bases clínicas, corroborado pelos achados de EEG 3. SÍNDROME EPILÉPTICA Conjunto de características incluindo tipos de crises, EEG e características de imagem, que tendem a ocorrer juntas. Frequentemente tem características dependentes da idade tais como idade de início e remissão (quando aplicável), desencadeadores de crises, variação diurna e algumas vezes prognóstico Pode ter comorbidades distintas tais como disfunção intelectual e psiquiátrica e características eletroencefalográficas e em estudos de neuroimagem Pode ter implicações etiológicas, prognósticas e terapêuticas. Importante notar que uma síndrome epiléptica não tem correlação um a um com o diagnóstico etiológico e tem um propósito diferente, como o de orientar o manejo clínico DEFICIÊNCIA DE PIRIDOXINA - NEONATAL Causada pela deficiência de piridoxina (vitamina B6) → pode se manifestar por abalos mioclônicos, espasmos epilépticos e crises focais; O início se dá durante primeiros dias de vida, há hiperexcitabilidade, padrões eletrencefalográficos anormais, com avaliação laboratorial normal e história familiar possivelmente positiva; Tratamento: administração de piridoxina. SÍNDROME EPILÉPTICAS NO LACTENTE Síndrome generalizada: ● Epilepsias generalizadas idiopáticas (epilepsia mioclônica benigna da infância), encefalopatias epilépticas (síndrome de West, síndrome de Dravet, estado de mal mioclônico em encefalopatias não progressivas) ● Os tipos de crises são espasmos epilépticos, crises mioclônicas, crises focais, crises tônicas generalizadas, crises TCGs e ausências ● Espasmos epilépticos consistem em contrações axiais que podem ocorrer em flexão, extensão ou ambos, podendo ser simétricos ou assimétricos Síndromes epilépticas focais: Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental ● Epilepsia focal idiopática (crises benignas do lactente e a síndrome de Panayiotopoulos) ● Epilepsia focal familiar (crise benigna familiar do lactente) ● Epilepsias focais sintomáticas (síndrome de hemiplegia e hemiconvulsão; crises migratórias focais do lactente etc) ● Investigar crises focais no lactente, a fim de se diagnosticar alguma lesão focal passível de tratamento cirúrgico ● Crises de clonias oculares, pálpebras, desvio da cabeça e olhos, clonias unilaterais, movimentos do corpo, parada comportamental e hipertonia uni ou bilateral. SÍNDROME DE WEST Tríade: salvas de espasmos infantis, hipsarritmia e parada ou regressão do desenvolvimento → 3-12 meses de idade, ou início mais tardio, sendo o sexo masculino mais afetado. Hipsarritmia: padrão eletrográfico interictal composto de ondas lentas e espículas de projeção anárquica e de elevada voltagem, duração e localização extremamente variáveis, praticamente contínua e, na maioria das vezes, presente tanto em vigília quanto em sono; Causas: ● Anormalidades cerebrais estruturais: malformações e injúrias pré e perinatais (encefalopatia hipóxica isquêmica, acidentes cerebrovasculares, infecções SNC) ● Síndrome de Aicardi, lisencefalia, esclerose tuberosa são comumente associadas ● Desordens cromossômicas: Síndrome de Down e Miller-Dieker ● Anormalidades genéticas: ARX, CDKL5, SPTAN1, STXBP1 ● Causas metabólicas Tratamento: ● Esclerose tuberosa associada → vigabatrina sabril (com moderação, pode ter visão tubular, usar no máx6 meses); ● Às vezes vai associar corticóide; ● Pode usar ácido valpróico, às vezes associado com benzodiazepínico EPILEPSIA AUSÊNCIA Predisposição genética, de 4 a 10 anos; Crises tipo ausência típica, breves, com perda de consciência, reação de parada, interrupção das atividades, início e final abruptos, com mioclonias, piscamentos, automatismos, retropulsão Precipitadas pela hiperventilação: se achar que está tendo ausência, pede pra fazer respiração rápida e profunda por 2 minutos e ai a crise pode aparecer e você está autorizado a tratar. EEG complexos espícula-onda 3Hz, projeção generalizada Tratamento: ácido valpróico CRISE FEBRIL Entre 3 meses e 5 anos de idade, associadas a febre e ausência de infecção intracraniana, até 5% podem desenvolver epilepsia futura Punção lombar deve ser considerada se < 18 meses quando a causa da febre não é determinada Causa desconhecida, predisposição genética. ● Simples: generalizada, curta duração e únicas em um evento febril ● Complexas: focais e/ou prolongadas e/ou se repetem em 24h de um mesmo evento febril Recorrência em até 30% ● Fatores de risco para recorrência: < 18 meses, história familiar + crise febril, crise complexa e tempo entre o início da febre e a crise < 1 hora Profilaxia: na presença de fatores de risco, após o segundo episódio ● Clobazam VO no período febril 0,5 a 1,0mg/kg/dia dividido em duas tomadas Dependendo do caso, pode ter tratamento contínuo: fenobarbital contínuo ou ácido valproico contínuo 4. DIAGNÓSTICO Dados clínicos → história, antecedentes pessoais, familiares etc. o Registro de crises – vídeos, diários Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental Avaliação complementar → EEG, neuroimagem, bioquímica, LCR, genética, metabólica, video EEG, SPECT, PET Teste psicométricos Diagnósticos diferenciais: ● Síncopes e crises anóxicas (vasovagal, crise anóxica reflexa, hipotensão ortostática, Valsalva) ● Transtornos comportamentais, psicológicos e psiquiátricos (pseudocrises, ataques de pânico, estados dissociativos) ● Desordens relacionadas ao sono (parassonias, desordens do sono REM, síndrome pernas inquietas, narcolepsia, cataplexia) ● Distúrbios paroxísticos do movimento (tique, estereotipias, discinesia paroxística, hiperecplexia) ● Desordens associadas à enxaqueca (migrânea com aura visual, migrânea hemiplégica) ● Outros eventos (síndrome de Sandifer, spasmus nutans, mioclonias benignas da infância, autoestimulação) 5. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Monoterapia – doses adequadas sem efeitos colaterais; Resposta terapêutica avaliada pela redução e controle das crises; Escolha da droga de acordo com tipo de crise e a síndrome epiléptica Administrar em intervalos e doses adequadas e associações racionais ● Ajuste gradativo da dose, assim como retirada ● Monitorização do nível sérico – na suspeita de não adesão ao tto ou ausência de controle das crises ou toxicidade Duração 2-3 anos após o controle completo das crises (em alguns casos, a possibilidade de recorrência é elevada) – avaliar sempre riscos e benefícios As drogas sublinhadas são consideradas 1ª escolha; Podem eventualmente agravar o tipo de crise em questão, usar com cautela. BDZ benzodiazepínico; CBZ carbamazepina; CZP clonazepam; CLB clobazam; ESM etossuximida; LEV levetiracetam; LMT lamotrigina; NTZ nitrazepan; OXC oxcarbazepina; PB fenobarbital; PHT fenitoína; STM sultiame; TPM topiramato; VGB vigabatrina; VPA ácido valpróico; ZNS zonisamida ● O valproato é uma boa droga para crises tônicoclônicas, ausência, mioclonias e Lennox Gastaut ● Nas crises parciais normalmente vamos usar carbamazepina ou oxcarbazepina ● O fenobarbital é reservado para os RN (pela comodidade posológica e impossibilidade de usar o valproato nessa idade pelo risco de hepatite fulminante) ● No espasmo infantil, se é por uma esclerose tuberosa, a droga de escolha é a vigabatrina ou corticoide NÃO FARMACOLÓGICO Epilepsias refratárias (≥ 3 drogas antiepilépticas em dose efetiva sem controle das crises), alta frequência das crises ou toxicidade ● Dieta cetogênica (específicos tipos de epilepsia) ● Cirurgia para epilepsia ● Eletroestimulação do nervo vago 6. ESTADO DE MAL EPILÉPTICO (EME) Condição resultante da falha dos mecanismos responsáveis pelo término das crises epilépticas ou pelo desencadeamento de mecanismos que levam ao prolongamento anormal das crises (ponto de tempo t1) Condição que pode ter consequências em longo prazo (ponto de tempo t2), incluindo morte neuronal, lesão neuronal e alteração de redes neuronais, dependendo do tipo e duração das crises Esta definição é conceitual, com duas dimensões operacionais: ● A primeira (t1) é a duração da crise além da qual ela deva ser considerada "atividade de crise contínua" ● Segundo ponto de tempo (t2) é o tempo de duração de crise após o qual existe um risco aumentado para consequências em longo prazo → tem valor prognóstico ● No caso do EME convulsivo (TCG), os pontos de tempo t1 (5 min) e t2 (30 min) foram definidos Características: ● Generalizado ou focal, convulsivo ou não convulsivo ● Causas mais frequentes: meningoencefalite, hipóxia, distúrbios metabólicos, febre, baixa aderência ao tratamento antiepiléptico, AVC ● Tempo: ○ 5’ iniciais → estágio prodrômico ○ 5-30’ → fase precoce ○ 30’ → EME estabelecido ○ > 30’ → EME refratário ● EEG é útil na identificação crises sutis ou não convulsivas, monitorar resposta terapêutica, identificar possível foco, sugerir etiologia, ou diferenciar de eventos não epilépticos. ● Mortalidade 3 a 9% Alterações sistêmicas: ● Estágios iniciais: taquicardia, hipertensão, aumento perfusão cerebral ● Estágios tardios: hipotensão, hipóxia, hipercapnia, PNM aspirativa, complicações autonômicas (hipertermia, rabdomiólise, arritmia cardíaca, choque neurogênico, falência renal, fraturas ósseas), edema cerebral TRATAMENTO EM SEM PRÉ-HOSPITALAR Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental TRATAMENTO NA EMERGÊNCIA Primeira fase: Segunda fase: Terceira fase: MEDICAMENTOS E DOSES No primeiro estágio usamos o benzodiazepínico (5º e 10º minutos) – o preferencial é midazolan, pois tem menos risco de depressão respiratória e tem maior comodidade de administração (EV, IM, sublingual...), na dose de 0,2-0,5mg/kg/dose Se não passou a crise, vamos hidantalizar. Se é RN, fazemos o gardenal (fenobarbital – não vamos usar benzodiazepínico). Se não é RN, fazemos o hidantal (preferencialmente EV diluído, mas pode ser intraósseo também), sua dose é de 15-20mg/kg/dose ● Se não passar, vamos para o fenobarbital (10- 20mg/kg/dose) ● Se depois disso não passar, encaminhamos para a UTI, para entubar e fazer o midazolan de forma contínua Nesse meio tempo, se a crise não tem nem cara de que vai parar, podemos fazer uma terceira dose de benzodiazepínico (que é o limite) Artigo https://www.scielo.br/j/jped/a/xcvXrtjVF7CZHc35GrgZ6Jr/?format= pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/jped/a/xcvXrtjVF7CZHc35GrgZ6Jr/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/jped/a/xcvXrtjVF7CZHc35GrgZ6Jr/?format=pdf&lang=pt
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