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Epilepsia na infância 1 Epilepsia na infância Prof. Luiza Crises Epilépticas - definições: Manifestação clínica de uma atividade neuronal excessiva ou sincrônica É um fenômeno súbito e transitório (paroxístico) que pode incluir manifestações motoras, sensoriais, sensitivas ou autonômicas com ou sem alterações de consciência Convulsões: com elementos motores Fisiopatologia da Crise: Desbalanço entre excitação e inibição → descargas excessivas Classificação e Semiologia → Certeza de que os eventos são crises epilépticas - não se refere a distinção entre crises epilépticas e eventos não epilépticos → Em algumas circunstâncias a classificação de acordo com o tipo de crise pode ser o máximo nível de diagnóstico possível → Em outros casos simplesmente há muito pouca informação para possibilitar um diagnóstico em um nível mais elevado ➯ Esquema simplificado de classificação: 1. Início focal: originam-se em redes neurais limitadas a um hemisfério cerebral Perceptivas: sem perda da consciência Disperceptivas: perda parcial ou total da consciência Início motor ou não motor Podem evoluir para tônico-clônica bilateral (generalizada) ➯Esquema Expandido: a. Focais com início motor: Automatismos Atônicas Espasmos epilépticos Hipercinéticas Mioclônicas c. Generalizada motoras: Tônico-clônicas Clônicas Tônicas Mioclônicas Atônicas Espasmos epilépticos d. Generalizadas não motoras (ausência): Epilepsia na infância 2 Podem ser localizadas ou distribuídas mais amplamente Semiologia depende da região acometida 2. Início generalizado: originam-se em algum ponto e rapidamente envolvem redes neurais distribuídas bilateralmente Motoras: tônico-clônicas ou outras Não motoras (ausência) Podem incluir estruturas corticais e subcorticais mas não necessariamente envolvem todo o córtex 3. Início desconhecido Motoras: tônico-clônicas ou outras Não motoras 4. Não classificadas Tônicas b. Focais com início não motor: Autonômicas Parada comportamental (confundida com crise de ausência) Cognitivas Emocionais Sensoriais Típicas Epilepsias Atípicas Mioclônicas Mioclônicas palpebrais Crises Focais São as que se originam em redes neurais limitadas a um hemisfério cerebral Podem ser muito localizadas ou distribuídas mais amplamente Semiologia depende da região acometida Lobo temporal: automatismo com alteração parcial da consciência Costumam durar mais tempo, pode ter manifestação de aura, e frequentemente com período pós-ictal Pode não ter alteração de consciência Espasmo-epiléptico (síndrome de West): espasmos tipo "sustos" Costumam acontecer em salvas Associada a quadros graves, associada com alteração do desenvolvimento Crises Generalizadas a. Tônico-clônicas: São as que se original em algum ponto e rapidamente envolvem redes neuronais distribuídas bilateralmente Podem incluir estruturas corticais e subcorticais mas não necessariamente envolvem todo o córtex Grito epiléptico: pode ser manifestado no início da crise por uma contração da laringe Fase tônica (aumento do tônus global) → Fase clônica (abalos repetitivos) → Atonia (nesse momento pode ocorrer incompetência de esfíncter) Período pós-ictal: paciente apresenta lentificação cerebral (sonolência, cefaleia, confusão mental, irritabilidade) b. Crises de Ausência: Pode ser desencadeada por hiperventilação Não tem período pós-ictal: início e fim abrupto Pode ser confundido com desatenção Diagnóstico Diferencial ➯ História e exame físico sugerem crise epiléptica? → Pelo menos 15% de erro, mesmo em grandes centros A história muitas vezes é mais útil que o EEG Não há sinal específico, mas morder a língua, estado pós-ictal e incontinência sugerem crise epiléptica Epilepsia na infância 3 ➯ Distúrbios paroxísticos não epilépticos: Episódios clínicos similares às crises epilépticas, porém sem descargas elétricas anormais no cérebro Envolvem atividade motora, alterações sensitivas, alterações sensoriais, alterações emocionais ou comprometimento da consciência Fisiológicos: Fenômenos hipóxico-isquêmicos: o mais comum são as crises de perda de fôlego causadas por choro → palidez, cianose e perda de tônus ("se finou") Transtornos do sono: movimentos durante o sono que lembram uma crise, terrores noturnos, despertares confusionais... Transtornos de movimento Enxaqueca e síndromes associadas Psicogênicos: Crises psicogênicas Crises de pânico Crise Provocada x Não Provocada ➯ CRISE PROVOCADA = CRISE EPILÉPTICA AGUDA SINTOMÁTICA Ocorre acompanhando um insulto sistêmico ou cerebral agudo Exemplo mais comum: convulsões febris Outros exemplos: neonatal (hipoglicemia, sepse...), AVC, TCE, infecções, neoplasias, eclampsia, insultos metabólicos.... Não é epilepsia! Mas pode evoluir para ➯ CRISE NÃO PROVOCADA = possibilidade de um quadro de epilepsia � Crises epilépticas febris: Acontecem em crianças pequenas, que estão relacionadas a imaturidade e predisposição genética Restrito a uma faixa etária Acontece normalmente no início do quadro febril, mas podem se manifestar antes ou após Sem infecção cerebral Normalmente, com bom prognóstico Epilepsia Epilepsia na infância 4 ➯ A epilepsia é uma doença cerebral caracterizada pela predisposição persistente em gerar crises epilépticas e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicossociais desta condição ➯ A definição de epilepsia requer a ocorrência de pelo menos uma crise epiléptica. (ILAE, 2005) ➯ DEFINIÇÃO OPERACIONAL: epilepsia é uma doença do cérebro definida por qualquer uma das seguintes condições: a. Ter no mínimo duas crises não provocadas (ou reflexas) ocorrendo em intervalo superior a 24 horas,; ou b. Ter uma crise não provocada (ou reflexa) com probabilidade de recorrência; ou ainda c. Diante do diagnóstico de uma síndrome epiléptica Risco para Recorrência: Após duas crises não provocadas, o risco da 3º em 60 meses é de 73% (59-87%, 95% intervalo de confiança) Então adotar 59 (~60%) como o menor valor do intervalo de confiança para o risco de recorrência e nós todos concordamos tratar-se de epilepsia Índice prognóstico para classificação do risco: � Epidemiologia: Prevalência mundial estimada: Epilepsia ativa em 19% do população Ao longo de vida 3% Risco de uma crise ao longo da vida: até 9% Até os 20 anos de idade, 90% dos indivíduos que serão epilépticos já iniciaram suas crises dentre as crianças, 60% tiveram sua primeira crise até os 3 anos de idade, ocorrendo a maior parte no primeiro ano de vida Etiologia ➯ Genética ➯ Estruturas ➯ Metabólica ➯ Imune ➯ Infecciosa ➯ Desconhecida Avaliação Clínica RISCO PARA RECORRÊNCIA Epilepsia na infância 5 1. História: Momento da crise Comportamento da criança antes/durante/depois da crise Descrição da crise Fatores de risco: História familiar História do DNPM História psicossocial História médica pregressa 2. Exame Físico: Busca por sinal neurológico focal Perímetro cefálico: pode ser indicativo de uma alteração estrutural Alterações cutâneas: pode ser indicativo de facomatose, doenças que acometem a pele e o SNC Dismorfias faciais: podem estar relacionadas a síndromes genéticas que favorecem a epilepsia 3. Eletroencefalograma: Exame neurofisiológico indicado na avaliação de crises epilépticas 4. Neuroimagem: Na urgência: TCE, alteração focal no exame, histórias de malignidade ou idade <1 ano Genética: BCECTS, EAI, EAJ e EMJ (se clássicas, não precisa neuroimagem) 40-60% do total Os demais tipos exigem realização de imagem para detecção de lesões (presentes em 50% das focais e 20% das generalizadas) Ressonância magnética é o método de escolha Alterações que podem ser encontradas na RM: Tumores Cisticercose Malformações Alterações de migrações neuronais Síndromes Epilépticas ➯ 15-40% das epilepsias ➯ 31 tipos no site da ILAE e em constante mudança ➯ De acordo com caracteristicas clinico-eletrográficas Epilepsia na infância 6 ➯ Ajudam a orientar tratamento/prognósticoTratamento - Conduta ➯ Orientações para familiares e acompanhantes durante a crise: 1. Mantenha-se calmo; 2. Tente proteger a pessoa em crise epllética, evitando que sofra acidentes tirando objetos pontiagudos ou cortantes de suas mãos e retirando objetos cortantes de locais próximos; ➯ Manejo da crise: Epilepsia na infância 7 3. Não o imobilize: se estiver indo em direção a algo perigoso, leve-o com tranquilidade para um local seguro; coloque-o deitado de lado e afrouxe as roupas para que ele possa respirar melhor; se possível, coloque um travesseiro ou uma almofada apoiando a cabeça do paciente; não tenha receio da saliva, pois não é contagiosa. O contato com a saliva do paciente não oferece qualquer tipo de risco; 4. Não de nada para a pessoa em crise epilética beber ou cheirar, 5. Não passe nada no pulso do paciente; 6. Não coloque nada dentro da boca do paciente e não segure a lingua, pois ela não enrola. 7. Ligar para SAMU em casos que necessitam de avaliação emergencial, como crise que dura mais que 5 minutos ou paciente não apresenta recuperação completa da consciência � ESTADO DE MAL EPILÉPTICO → EMERGÊNCIA NEUROLÓGICA Crise epiléptica contínua com duração superior a 30 minutos ou crises sequenciais sem recuperação da consciência entre elas Como a maioria das crises são de breves, protocolos de tratamento do estado de mal epiléptico têm usado cinco minutos de definição para minimizar as evoluções neurológicas adversas Tratamento Profilático Iniciar em pacientes com risco de recorrência acima de 60% Objetivo: controle de crises e seus efeitos no DNPM, com o mínimo de efeitos colaterais Eficácia: cerca de 60% ficam livres de crise após início, 30% apresentam epilepsia refratária Considerar: o tipo de crise, síndrome, idade, comorbidades... Focais: Carbamazepina e Lamotrigina > Gabapentina e Topiramato Generalizada: Ácido Valpróico > Topiramato, Lamotrigina e Levetiracetam Síndromes: Epilepsia de ausência infantil: etosuximida e ácido valproico Síndrome de West: Vigabatrina e corticóides Comorbidades ➯ 80% das crianças apresentam alguma comorbidade 30% atraso global 25% atraso linguagem 5-15% TEA 20-30% TDAH ➯ Importante na escolha do tratamento e qualidade de vida! Prognóstico Depende do tipo de crise/síndrome Risco de trauma: equimoses, hematomas, lacerações, queimaduras Morte: incidência muito baixa, geralmente por trauma - 2x maior que na população geral (mais em adultos) Epilepsia na infância 8 Crises mioclônicas (EMJ, Dravet) podem piorar com bloqueadores de canais de sódio (CBZ, FNT, LMT) Quando suspender? → Suspensão Gradual Mais de 2 anos sem crises Em monoterapia Sem tentativas prévias com falha Exame neurológico e EEG normais Síndromes generalizadas genéticas (menos EMJ - tratamento à longo prazo) e focais benignas Epilepsia resolvida: indivíduos que tiveram uma síndrome epiléptica idade-dependente e agora passaram da idade vulnerável ou aqueles que permaneceram livres de crises por pelo menos 10 anos, sem fármacos antiepilépticos pelos últimos 5 anos
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