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1 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO 1 SUMÁRIO NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 Introdução ................................................................................................ 3 Satisfação conjugal .............................................................................. 5 Em que situações deverá recorrer a uma Terapia Conjugal? ........... 7 Como é a Terapia Conjugal? ............................................................ 7 A quem não é indicada a Terapia Conjugal? .................................... 8 Entrevistas preliminares: período de avaliação familiar ....................... 9 Início de psicoterapia: da queixa à demanda ..................................... 11 Estrutura das sessões ........................................................................ 13 Técnica de avaliação: Arte-Diagnóstico Familiar................................ 14 Sessão de "devolução" ...................................................................... 18 Questionários para avaliação do funcionamento conjugal ................. 19 Instrumentos para avaliar o caso e os resultados da terapia: ......... 20 Instrumento para avaliar o processo terapêutico e organizar a agenda da sessão: ................................................................................................. 27 Procedimento de aplicação dos questionários: .............................. 29 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 30 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Introdução Conflitos no relacionamento conjugal podem surgir a partir de múltiplas variáveis, tais como problemas na comunicação, estratégias de resolução de problemas, histórico familiar, problemas de ordem financeira e no trabalho (Block-Lerner, Adair, Plumb, Rhatigan & Orsillo, 2007; Bodenmann & Shantinath, 2004; Byrne, Carr & Clark, 2004; Carr, 2006; Russel & Listel, 1992; Silva & Vanderbergh, 2008; Witkin, Edleson, Rose & Hall, 1983; Vanderbergh, 2006). Carr (2006) acrescenta a vulnerabilidade individual, a infidelidade e a ansiedade/depressão como fatores preditivos de problemas conjugais. Problemas conjugais podem ter impacto em outros aspectos do relacionamento. Fincham e Beach (1999) apontam que o conflito conjugal pode afetar negativamente tanto a saúde dos cônjuges (depressão, desordens alimentares, alcoolismo, desordens de ansiedade e psicopatologias) quanto a saúde familiar (práticas parentais pobres, ajustamento pobre da criança, aumento da probabilidade de conflitos pais-criança e conflitos entre irmãos). A discórdia no casal parental está relacionada a problemas de comportamento em crianças (Dessen & Braz, 2005). Kanoy, Ulku-Steiner, Cox & Burchinal (2003) verificaram, a partir de um estudo longitudinal, que quanto maior o conflito conjugal, maior o uso de agressividade nas interações com os filhos. Solantaus, Leinonen e Punamãki (2004) verificaram que quanto mais frequentes os conflitos conjugais, associados a outras variáveis de contexto, maiores eram os problemas de comportamento em crianças, tanto os internalizantes como os externalizantes. Loeber e Hay (1997) afirmam que a exposição da criança a 4 níveis intensos de violência e conflito favorece um aumento de suas próprias tendências agressivas. Assim, é possível supor que os conflitos conjugais, além de causarem dificuldades na saúde da criança, servem de modelo de agressividade a ela. Intervenções com casais têm sido propostas para atenuar problemas no relacionamento conjugal. Diversos modelos de terapia conjugal têm sido desenvolvidos. É relevante avaliar não apenas comportamentos "problema", mas também recursos que os participantes já possuem, de forma a ampliá-los e torná-los funcionalmente equivalentes às dificuldades relatadas (Goldiamond, 1974/2002). A avaliação focaliza comportamentos (comunicação e habilidades sociais conjugais), cognições (definição e avaliação do cônjuge e percepção do filho) e afetos (expressão de emoções e satisfação conjugal). No que se refere à questão de como avaliar, o procedimento de avaliação está baseado no autorelato de cada cônjuge, de acordo com a visão de que os tratamentos devam avaliar e estabelecer objetivos individuais de atendimento (Marçal, 2005). A consideração dos diferentes pontos de vista dos parceiros é também uma tendência dos estudos acerca do relacionamento conjugal (Ferez- Carneiro & Neto, 2008). Combina-se o relato espontâneo com o relato dirigido, de modo a preservar as vantagens de cada modalidade. Procura-se detectar convergências e divergências entre os relatos e delimitar tanto as dificuldades como os recursos a serem trabalhados na intervenção. Ao melhorar a interação conjugal, podem ocorrer mudanças em outras áreas, tais como redução de estresse e melhoria da satisfação conjugal (Bodenmann & Shantinath, 2004). Assim, a intervenção com o casal pode ser um recurso de prevenção da violência doméstica e de atenuação dos efeitos da discórdia conjugal sobre a relação pais-filhos. 5 Satisfação conjugal A satisfação no relacionamento conjugal tem se mostrado vinculada com o sentimento de bem-estar pessoal. O contentamento conjugal parece ser mais relevante para a satisfação do indivíduo do que fatores como sucesso profissional, amizades, religião, moradia e finanças. Além disso, casamentos satisfatórios tendem a ser protetivos contra dificuldades psicológicas. O conceito de satisfação conjugal é difícil de ser definido, já que engloba diversos fatores. Porém, variáveis interpessoais têm sido apontadas como relacionadas à satisfação no casamento, sendo algumas delas: a comunicação eficiente, a capacidade de resolver conflitos, bem como a preocupação em compreender o parceiro e a presença de comportamentos em benefício do cônjuge. O descontentamento mais comum em casais que buscam terapia é a comunicação ineficiente. A habilidade de comunicar-se de forma eficaz ajuda os cônjuges a se entenderem e a negociarem suas desavenças de forma positiva. Por outro lado, a comunicação com falhas tende a ser destrutiva a um relacionamento, podendo intensificar problemas enquanto o casal tenta resolvê- los. Além disso, a dificuldade de comunicar-se com o parceiro pode gerar uma série de consequências negativas no relacionamento, como, por exemplo, o sentimento de falta de compreensão e atenção por parte do cônjuge, o aumento de conflitos e dificuldade de resolvê-los. Relacionamentos satisfatórios não são caracterizados pela ausência de conflitos, já que problemas e dificuldades são inevitáveis na vida de um casal. Dessa forma, a insatisfação conjugal é relacionada com incapacidade de lidar com os momentos difíceis e de resolver os problemas inerentes a essas situações. A qualidade do relacionamento conjugal também pode ser intensificada com as pequenas atitudes que beneficiam o parceiro, como, por exemplo, uma comemoração quando o cônjuge é promovido no trabalho ou levar os filhos para passear, fornecendo um tempo livre ao companheiro. O reconhecimento e o sentimento de gratidão frente a gestos positivos do cônjuge fortalecem a relação 6 e tendem a aumentar a satisfação conjugal. Todavia, comportamentos em prol do parceiro, quando se tornam rotineiros, podem ser banalizados e não valorizados, diminuindo o contentamento na relação. Em síntese, algumas questões parecem se relacionar com a satisfação conjugal, como habilidades de comunicação e resolução de conflitos, a preocupação em compreender o parceiro e comportamentos para satisfazê-lo. Porém, o conceito de satisfação conjugal é complexo, já que é composto por diferentes fatores, desde características pessoais de cada parceiro até a forma de o casal se relacionar. Uma das alternativas para aumentar a satisfação conjugal é desenvolver habilidades de resolução de problemas e comunicação e aumentar a compreensão entre os parceiros é a terapia de casal. 7 Em que situações deverá recorrer a uma Terapia Conjugal? A intervenção terapêutica é centrada no relacionamento amoroso e procura: ◦Enriquecer os comportamentos positivos; ◦Enriquecer a capacidade comunicativa com o cônjuge; ◦Desenvolver habilidades de resolução nos conflitos do dia-a-dia; ◦Resolver divergências na educação dos filhos; ◦Mudar padrões de comportamentos que levam à discórdia conjugal; ◦Resolver situações associadas a ciúmes e traição; ◦Aliviar problemas relacionados com insatisfação sexual; ◦Reestruturar padrões de pensamentos disfuncionais e prejudiciais; ◦Procurar a diminuição progressiva dos conflitos destrutivos (discussões, intolerância e irritabilidade na relação); ◦Tentativa de salvar o relacionamento antes de haver uma decisão de separação do casal; ◦Avaliar crenças quanto ao relacionamento; ◦Resolução de situações associadas ao divórcio. Como é a Terapia Conjugal? Sessões iniciais (3/4 sessões) – Realização de uma avaliação cuidadosa do relacionamento através de reuniões e entrevistas individuais, com vista à elaboração de um plano de intervenção. Em alguns casos, poderá haver a necessidade de realizar sessões adicionais. 8 Se a Terapia Conjugal for a mais indicada, para os parceiros, o tratamento seguirá com sessões semanais, com o casal, com duração de 50 minutos. Para que a Terapia Conjugal tenha sucesso é preponderante realizar um trabalho conjunto com o casal. No decorrer das sessões o psicólogo apresentará atividades para serem realizadas quer no gabinete, quer em casa do casal. Estas atividades visam, principalmente, aumentar a capacidade comunicativa do casal e concomitantemente a sua satisfação conjugal. A quem não é indicada a Terapia Conjugal? Existem situações específicas em que requerem previamente Psicoterapia individual: 1. Dependência de álcool ou drogas de um dos elementos do casal; 2.Quando já existiram vários relacionamentos instáveis devido a uma perturbação de personalidade ou de carácter: Quando existem problemas emocionais ou comportamentais (por exemplo: esquizofrenia, depressão), o tratamento pode ser mais difícil, mas a Terapia Conjugal pode ser bem sucedida se estes problemas estiverem a ser tratados, podendo até ser um bom complemento para este tratamento psicoterapêutico e/ou medicamentoso. Se estes problemas forem o resultado das dificuldades conjugais (especialmente, depressão), a Terapia Conjugal é indicada desde logo. A Terapia Conjugal também não é indicada para os seguintes casos: 1. Existência de um relacionamento extraconjugal, com o qual não se procura terminar; 2. Quando a separação do casal já está decidida, por pelo menos um dos seus elementos; 3. Quando existem situações de abuso físico, por um dos elementos do casal; 9 4. Quando nunca houve atração ou paixão entre o casal. Entrevistas preliminares: período de avaliação familiar Na primeira entrevista é preciso estabelecer um contato empático entre o psicoterapeuta e os integrantes da família, basicamente porque o primeiro encontro, tanto com a família como com um paciente individual, desperta angústia e ansiedade, talvez pela artificialidade de expor conflitos a um estranho. De acordo com Mannoni (1965/2003), esta ansiedade e angústia emergem, não apenas pelo fato de o psicoterapeuta ser a pessoa a quem a família recorre, após tentativas fracassadas e ilusões perdidas, mas também por ser aquele que "denunciará" seus aspectos disfuncionais. Stierlin, Rücker-Embden, Wetzel e Wirsching (1980/1995) afirmam que o trabalho empático do psicoterapeuta depende, principalmente, de sua capacidade de alcançar uma visão do conjunto, do sistema e de saber mantê-la ao longo do tratamento. É preciso haver não só uma visão, mas também uma escuta do conjunto/sistema. Os autores ressaltam que na terapia de família os aspectos individuais não devem ser desvalorizados, eles devem ser respeitados como tais, porém encontram-se contidos no sistema familiar. No entanto, a família não consegue perceber os processos circulares patológicos, na medida em que se trata de mecanismos inconscientes, ou parcialmente inconscientes, cabendo ao psicoterapeuta de família acentuá-los e trabalhá-los. Talvez esta seja uma das tarefas mais difíceis do psicoterapeuta, pois, muitas vezes, a família vem ao consultório com a estrutura muito fragilizada e fragmentada, dificultando criar uma demanda familiar/conjunta. Nas primeiras sessões, a família tende a falar somente daquilo que a incomoda. Para Stierlin e cols. (1980/1995), os psicoterapeutas principiantes, devido à inexperiência, são induzidos a focar somente as perturbações e a patologia mencionadas no discurso manifesto do grupo, deixam de investigar também os recursos funcionais da família, que fundamentam a avaliação do prognóstico. Portanto, é fundamental pesquisar tanto os conflitos e aspectos 10 disfuncionais quanto os recursos e potenciais da família; assim como indagar sobre as tentativas que ela realizou para superar dificuldades. Elucidar os aspectos promotores de saúde, nas entrevistas preliminares, possibilita à família acreditar em suas capacidades funcionais, para que possa ver a possibilidade de mudança onde aparentemente não há. Uma das especificidades das entrevistas preliminares com famílias é a necessidade de atenção às suas regras, mitos e segredos, reconhecendo a força homeostática, cuja função é estabilizar a dinâmica familiar. É importante a presença de todos os membros da família, até mesmo das crianças, para que se possa observar a função de cada um. No final do processo de avaliação, o clínico deve elaborar uma hipótese sobre a função do sintoma na configuração da trama familiar, para que um trabalho psicoterapêutico seja delineado. Todavia, esta hipótese deverá ser sempre questionada e revisada. A fim de preencher as lacunas de informações da primeira entrevista, marca-se uma próxima, podendo incluir até mesmo a terceira geração da família, se for necessário para obter mais informações. Deve-se estabelecer um acordo com a família, envolvendo as expectativas, as metas e a dinâmica das sessões, ora poderá ser atendido o casal, ora o subsistema fraterno. O objetivo do contrato é conscientizar a família de que há um problema familiar comum, que afeta todos os seus integrantes, e como o processo psicoterapêutico poderá ajudá-los. A dinâmica do grupo familiar, assim como a entrevista inicial com a família e o diagnóstico, são concebidos, a partir das abordagens psicanalíticas e sistêmicas, dado que considera-se que a articulação entre tais perspectivas é mais pertinente para a eficácia de um tratamento familiar. Vários autores postulam que os enfoques sistêmicos e psicanalíticos se complementam na clínica de família e casal (Féres-Carneiro, 2008; Féres-Carneiro & Ponciano, 2005; Lemaire, 2007; Rabelo, 2008; Willi, 1993). Propõe-se aqui uma tríplice chave de leitura que considere o intrapsíquico, o interacional e o social (Lemaire, 1984). 11 Início de psicoterapia: da queixa à demanda Para entrar em psicoterapia é preciso que o sujeito se perceba implicado no problema e na queixa e que, ao questionar seu sofrimento e sintoma, reconheça-se envolvido no tratamento. Ou seja, o compromisso do paciente com a psicoterapia ocorre quando ele se implica naquilo de que se queixa, sentindo- se participante da situação desencadeadora de seu conflito interno. Cabe ao psicoterapeuta ajudar o paciente a transformar o pedido de ajuda em demanda de tratamento. Na visão de Rocha (2000), o período de entrevistas permite ao psicoterapeuta "situar-se diante do tipo de demanda que lhe faz o entrevistado" (p. 30). Segundo o autor, o reconhecimento do sofrimento leva o sujeito a buscar ajuda e desejar mudança. No entanto, este desejo é ambivalente e a psicoterapia pode ser vivenciada como uma ameaça. O sentimento de ameaça acontece porque a mudança psíquica pode ser ameaçadora, posto que o sintoma é a "solução" que o psiquismo encontrou para sobreviver ao conflito psíquico. Para Rocha (2000), é preciso que haja desejo de compreender o significado do sintoma, e que inconscientemente o paciente saiba que este significado, ainda incompreensível, está no interior de si mesmo. Diante do 12 incompreensível, o sujeito busca um interlocutor que é o psicoterapeuta. Trata- se, portanto, neste período de avaliação, de elucidar a "queixa" e possibilitar que se construa a demanda. A partir da reflexão sobre a prática clínica, tanto individualmente quanto com famílias, pode-se concluir que é preciso haver esta passagem da queixa à demanda, para que tanto o paciente individual quanto a família se comprometam com o tratamento. Stierlin e cols. (1980/1995) enfatizam que este processo dependerá da disposição do paciente para confrontar-se consigo mesmo, a qual surge a partir da pressão do sofrimento. Segundo estes autores, na terapia familiar, o psicoterapeuta deve estar capacitado a reconhecer e a mobilizar os recursos improdutivos no conjunto familiar, que envolvem a falta de disposição para a ação, a ambivalência do desejo de confrontar-se com as questões familiares e a dificuldade de suportar a realidade. Entende-se que o psicoterapeuta familiar deve explicitar estas dificuldades à família, ressaltando que as mudanças dependem deles mesmos, da motivação familiar ambivalente e do que é denominado pelos autores de "sabotagem encoberta". Para Eiguer (1985), na psicoterapia de famílias a ambivalência é mais clara e inflamada, devido ao fato de muitas vezes haver discordância entre seus membros com relação a querer, ou não, a psicoterapia. Não é tarefa fácil construir a demanda conjunta, até porque na maioria das vezes a família vem com a queixa direcionada a um membro do grupo, depositando nele a patologia da trama, pois não consegue discernir que o sintoma apresentado por um membro denuncia os conflitos familiares. Mannoni (1965/2003) afirma que o psicoterapeuta irá ajudar a família a articular sua demanda, constituindo-a em palavras, a partir da história familiar de origem, e decifrará a mensagem do sintoma. O psicoterapeuta não dará significado aos transtornos e sim ao mundo inconsciente do sistema familiar. Para que o tratamento aconteça, é preciso que o psicoterapeuta acredite na possibilidade de se firmar um contrato entre ele e a família que o procura, e que aposte na capacidade reflexiva desta, oferecendo condições necessárias para que seja capaz de formular sua demanda conjunta (Morandi, 2006). 13 Estrutura das sessões As sessões são divididas entre sessões individuais e sessões em conjunto. O terapeuta também já explica a questão do comprometimento do casal no processo. De início, a sessão é realizada com a presença de ambos os cônjuges. Para que o terapeuta pode verificar as áreas problemáticas no relacionamento, a interação entre o casal, como eles se comunicam, os pontos fortes da relação, os fatores externos que possam estar estressando os parceiros, etc. As informações que são obtidas nesta sessão irão auxiliar no processo de formulação de hipóteses preliminares sobre os motivos do conflito conjugal. Após a entrevista inicial, são feitas sessões individuais tendo como objetivo coletar informações que talvez não tenham sido apresentadas a princípio por um dos parceiros, visto que eles possam terem ficado inibidos na presença do outro. Nesta parte individual algumas questões só devem ser reveladas com a autorização do participante. A terapia visa à reestruturação de pensamentos inadequados e disfuncionais, manejo das emoções, modificação de padrões de comunicação disfuncionais e o desenvolvimento de estratégias para solução de problemas cotidianos mais eficazes. Com base nestes quarto objetivos, será descrito abaixo a forma de condução e de aplicação de técnicas que melhor auxiliará o terapeuta a alcançar os objetivos propostos. A primeira diretriz geral é a definição do problema, que tem como objetivo alcançar uma descrição clara e específica a seguir. Após, o casal tem que criar a maior diversidade possível de soluções; a seguir, o casal avalia cada proposta e as soluções possíveis considerados como vantagens e desvantagens, e por último a solução possível que foi escolhida tem que ter o compromisso mútuo e o acordo alcançado deve ser concretizado nos aspectos da sua execução prática e formalizado por escrito. O parceiro deve aprender a dizer sem ambiguidade o que quer do outro, abrindo mão de estratégias de controle aversivo. A contribuição de cada um 14 precisa ser reconhecida pelo companheiro. A comunicação é o resultado de interpretação criativa dos estímulos. O treino de comunicação tem o objetivo de aumentar a correspondência entre os significados que o ouvinte atribui aos estímulos recebidos e o significado que a pessoa que esta falando queria passar. Os problemas e as diferenças só se tornam importantes e passam a ser considerados a medida que foram produzidos desgastes no relacionamento. São feitas estratégias para trabalhar a comunicação do casal, para que possam compartilhar experiências gratificantes e assim contribuindo para a manutenção de um relacionamento afetuoso e dedicado. O processo terapêutico em geral e a terapia conjugal privilegia o desenvolvimento do autoconhecimento. O autoconhecimento coloca a pessoa em melhor posição de prever e controlar o seu próprio comportamento. A expressão das opiniões é importante para que a pessoa se torne assertiva e passe a agir de acordo com seus sentimentos e não se anulando. Técnica de avaliação: Arte-Diagnóstico Familiar Féres-Carneiro (1975) ressalta que o diagnóstico familiar deve ser um diagnóstico interacional, que considere a família como sistema homeostático. O sintoma de um membro deverá ser considerado um sintoma da patologia familiar. Recorrer às técnicas de avaliação diagnóstica nas entrevistas preliminares vai além do objetivo de diagnosticar a patologia da família, uma vez que elas também são um facilitador para a adesão da família à psicoterapia. O psicoterapeuta deve sentir-se confortável em aplicar as técnicas de avaliação, escolhendo qual ou quais serão aplicadas, de acordo com o contexto de cada família. A finalidade da aplicação deve estar clara para o profissional: avaliar a interação familiar, conhecer a história da família, constituir um vínculo terapêutico, elucidar a demanda familiar, estabelecer a adesão dos membros ao tratamento e implicar a família na efetuação de mudanças. O Arte-Diagnóstico Familiar foi desenvolvido por Hanna Kwiatkowska, professora de arte-terapia da Universidade George Washington e da Washington 15 School of Psychiatry, nos Estados Unidos da América. A autora criou uma técnica de avaliação, utilizada no período de entrevistas, cuja linguagem terapêutica baseia-se em desenhos com temas pré-determinados. A família expressa, por meio da arte, sua capacidade de criatividade, de flexibilidade e de integração, apresentando sua distribuição de papéis e suas formas de comunicação, assim como a dinâmica de seu funcionamento. A construção desse instrumento foi gradual, passando por diversas modificações e sendo submetido a várias pesquisas. Somente após muitos anos de estudos, finalmente, estruturou-se o ADF como instrumento de avaliação confiável e imparcial. A partir das pesquisas realizadas, concluiu-se que o material artístico espontâneo, produzido nas sessões com as famílias e com os pacientes psicóticos, ajudava os membros familiares e os psicoterapeutas a entenderem melhor os problemas familiares (Kwiatkowska, 1978). As tarefas que compõem o ADF foram inspiradas em desenhos que apareciam naturalmente nas sessões de arte-terapia familiar. Observou-se que, ao desenvolvê-los, as famílias frequentemente traziam temas em comum que estimulavam ricas discussões familiares. O ADF consiste na estruturação de seis tarefas realizadas em apenas uma sessão, com todos os membros possíveis da família, até mesmo a presença das crianças pequenas mostra-se importante para revelar segredos e a dinâmica familiar. Esta técnica permite obter também dados referentes às interações, separações, dominação, submissão, retraimento, dentre outros aspectos, de membros da família ou subsistemas. Para a realização dos desenhos, são utilizados cavaletes formando um semicírculo no setting, de modo que todos os membros da família possam ver os desenhos dos demais e comentá-los. Em cada cavalete há uma prancha com seis folhas de papel de tamanho 18x24 cm e uma caixa com lápis cera de cores variadas. Após cada etapa, pede-se à família para retirar a folha usada. Em todos os desenhos deverão ser observados os comportamentos verbais e não verbais, as interferências feitas nos desenhos dos outros e a ordem de finalização dos desenhos (quem termina primeiro ou por último). A família é convidada a expressar-se livremente, é pedido para cada membro assinar, datar e dar um título às respectivas criações. 16 A sequência das tarefas propostas por Kwiatkowska (1971, 1978) é a seguinte: (a) Primeiro desenho livre; (b) Retrato da família; (c) Retrato da família abstrata; (d) Rabisco individual; (e) Rabisco em conjunto; (f) Segundo desenho livre. Essa sequência é de fundamental importância, pois cada tema pode provocar afetos intensos e estressantes, sendo trabalhados no desenho posterior, como por exemplo, na criação do Retrato da família abstrata, tarefa durante a qual o nível de ansiedade e estresse pode se intensificar. Por isso, logo após esta etapa, faz-se um exercício de relaxamento, pedindo aos membros da família que façam movimentos com os braços e criem um rabisco no ar, desenhando-o em seguida no papel. De acordo com Kwiatkowska (1978), a primeira e a última tarefa foram inspiradas na técnica criada por Elionor Ulman, psiquiatra norte-americana que foi pioneira ao pesquisar sobre o uso da arte no diagnóstico psiquiátrico. O primeiro desenho, Primeiro desenho livre, é onde se registram as primeiras tensões do grupo familiar: pede-se que os membros da família "façam um desenho daquilo que vier à cabeça, que desenhem qualquer coisa que tenham vontade" (Kwiatkowska, 1978, p. 86). O tema da segunda tarefa foi inspirado na frequência com que os membros familiares desenhavam espontaneamente a família. O Retrato da família favorece discussão espontânea, quando é pedido a eles que "façam um desenho de sua família, cada pessoa, incluindo você mesmo" e que "façam um desenho da pessoa toda" (Kwiatkowska, 1978, p. 87). Nesse desenho, podem surgir várias perguntas relativas a quem incluir e como desenhar, devendo ser incentivado que seja criado da forma como a pessoa prefira. Ao terminarem, é solicitado que identifiquem cada membro desenhado. 17 Um momento que gera muita interação entre os membros da família é quando são solicitados a criar o terceiro desenho: Retrato da família abstrata. Esta tarefa é a mais difícil de ser explicada, e a que leva mais tempo para ser realizada, pois não é fácil de ser elaborada nem mesmo para as famílias mais integradas. Ela tem como objetivo colher informações simbólicas de cada membro. Pede-se que façam outro desenho da família, distinguindo cada membro, incluindo o próprio sujeito. No entanto, não devem desenhar rostos ou corpos, mas usar somente cores e formas para representar o que pensam ou sentem a respeito de cada membro da família. De acordo com Touson (2002), médico e psicoterapeuta argentino, as cores representam uma forma idônea de se conhecer o inconsciente e o mundo interior do sujeito. Ele justifica a importância das cores devido a sua presença em tudo que nos é visível. Elas são portadoras de conteúdos e significados complexos, que vão além da escuta e da observação sobre a representação do objeto. Desde a escolha da cor até a intensidade do traço, pode-se analisar a expressão espontânea das emoções do sujeito. A partir das considerações deste autor, pode-se afirmar que o uso de cores e formas, na terceira tarefa do ADF, é bastante adequado para representar abstratamente cada membro da família. O Rabisco individual é a quarta tarefa e oferece uma avaliação individual de cada membro familiar. Solicita-se que façam um rabisco no ar, depois desse movimento livre, solicita-se que cada um fique diante de sua folha, feche os olhos e faça o mesmo tipo de rabisco no papel. Depois do rabisco feito, pede-se que olhem o rabisco e vejam que imagem parece emergir deste, desenhando-a em seguida. O clímax de ansiedade do grupo familiar se dá no quinto desenho, Rabisco em conjunto, quando são dadas as mesmas instruções do rabisco individual, mas com uma diferença. Solicita-se ao grupo que escolham o rabisco e criem um desenho em conjunto. É importante o mínimo de interferência do psicoterapeuta, com o objetivo de deixar a família muito à vontade. Nesse desenho é solicitado que decidam também o título e a forma de assinarem juntos. Por fim, o último desenho solicitado, Desenho livre, tem como objetivo a redução da ansiedade do grupo, finalizando da forma que foi começada a 18 técnica. Todavia, existe uma diferença entre o primeiro e o último desenho livre, visto que a criação do último é realizada após a mobilização de afetos intensos. Ele oferece dados de como a família se expressa após momentos de estresse e ansiedade. Sessão de "devolução" Na sessão seguinte deve-se realizar a "devolução" dos dados recolhidos nos desenhos de cada um. Deve-se, junto com a família, entender os significados simbólicos de cada desenho e interpretá-los. Devido à espontaneidade do desenho, as figuras normalmente expressam sentimentos inconscientes e pensar sobre elas é de alguma forma trazê-los à consciência. Em sua prática clínica com desenhos, Touson (2002) observou que o ato da criação consiste em três momentos: o da expressão, o da contemplação e o da elaboração. O da expressão ocorre no momento da criação do desenho. A contemplação ocorre a posteriori, quando a pessoa tem a oportunidade de examinar e considerar com atenção o objeto expressado, reconhecendo-o como próprio e único. O último momento o da elaboração envolve a resposta e o insight do sujeito ao que foi expressado no papel e também contemplado. Pode-se pensar nestes três momentos da criação, observados por aquele autor, e correlacioná-los com o ADF. Não seria impróprio afirmar que estes momentos estão presentes na aplicação e na sessão de "devolução" deste instrumento. Na primeira sessão de criação dos desenhos, ocorrem os momentos de expressão e contemplação. Este último envolveria a contemplação familiar em relação aos desenhos de cada membro. Etapa importante de ser observada, pois envolve o "olhar familiar" sobre seu próprio sistema. Na sessão de "devolução" ocorre a re-contemplação e elaboração conjunta sobre os desenhos. A divisão didática proposta por Touson (2002) ajuda a pensar, de forma minuciosa, sobre a riqueza e coerência do ADF; sendo fundamental não só aplicá-lo, mas também interpretá-lo junto à família. O psicoterapeuta, durante a sessão de "devolução", incentiva a família a perguntar algo que gostaria de saber sobre os desenhos uns dos outros. Além disso, incita a família a pensar sobre o simbolismo das figuras desenhadas. As interpretações 19 do psicoterapeuta são feitas somente depois de oferecer este espaço de reflexão para a própria família (Kwiatkowska, 1978). Ainda na sessão de "devolução", aquela autora recomenda ao psicoterapeuta comparar o primeiro desenho com o último, com a finalidade de analisar como os membros da família se expressaram após passarem por um alto nível de estresse e ansiedade na sessão. Segundo a autora, são os dois desenhos livres que geralmente expressam mensagens mais importantes. A aplicação deste instrumento tem a particularidade de trazer à superfície assuntos que dificilmente seriam discutidos no início de uma psicoterapia, justamente pela possibilidade de o desenho representar os conteúdos inconscientes. Assim, o ADF, como instrumento de avaliação, não só contribui com dados significativos sobre a dinâmica familiar para o processo psicoterápico, mas também acelera a construção da demanda e a adesão ao tratamento. Questionários para avaliação do funcionamento conjugal A IBCT propõe uma fase inicial do processo terapêutico bem específica, voltada para a avaliação do caso, essencial para qualquer trabalho terapêutico. São quatro sessões, nas quais a primeira é realizada com o casal, as duas seguintes são sessões individuais, uma com cada parceiro(a) e a quarta sessão é de devolução da avaliação feita, na qual o casal participa tanto desta avaliação quanto da elaboração dos objetivos do tratamento (Jacobson & Christensen, 1998). Para auxiliar na formulação do caso são aplicados questionários de auto relato, os quais englobam satisfação conjugal, grau de compromisso com a relação, a possibilidades de haver, ou não, violência na relação e as principais áreas da relação conjugal que possam estar com problemas. Após a etapa de formulação do caso, a IBCT também propõe a aplicação de um questionário que auxilia na avaliação do processo terapêutico, o qual, além desta função, também funciona como agenda da sessão, visto que o casal elege os temas a serem trabalhados. 20 Instrumentos para avaliar o caso e os resultados da terapia: 1) Questionário para o Casal: Instrumento para avaliar a satisfação conjugal, se houve agressão física ou verbal e o grau de compromisso com a relação: Couple Questionnaire (Christensen, 2009). Avalia a satisfação conjugal usando um pequeno formulário com 4 itens do Índice de Satisfação Casal-CSI- 4 (Funk & Rogge, 2007), a violência conjugal (usando 3 itens desenvolvidos a partir de consulta com Dan O'Leary, Rick Heyman e Katherine Iverson) e o compromisso com o relacionamento. Ele é usado durante a fase inicial do tratamento para avaliar estas três áreas de funcionamento. A medida tem um alfa de 0,94. Os escores variam de 0-21 com uma média de 16 e desvio padrão de 4,7. As pontuações abaixo de 13,5 são consideradas numa faixa que representa situação crítica. 21 22 2) Questionário de Áreas Problemáticas: Instrumento para avaliar as áreas problemáticas do casal - Problem Areas Questionnaire (Heavey, Christensen e Malamuth, 1995), não é numericamente marcado, mas examinado para as informações relevantes fornecidas para a formulação clínica do caso. 23 3) Questionário de Frequência e Aceitabilidade dos Comportamentos do Casal: Instrumento para avaliar mecanismos de mudança de aceitação emocional e mudança de comportamento entre os casais: Frequency and acceptability of partner behavior inventory-FAPBI (Christensen & Jacobson, 1997; Doss, Christensen, 2006). Avalia a frequência de comportamentos positivos e negativos apresentados pelos parceiros, e aceitabilidade de cada comportamento, por meio de 20 perguntas. Os alphas de Cronbach para a aceitabilidade e frequência de comportamentos positivos entre os parceiros foram elevados (Aceitabilidade: marido = 0,85; esposa = 0,79 e Frequência: 24 marido = 0,83; esposa = 0,80) (Doss, Thum, Sevier, Atkins & Christensen 2005). No entanto, Alphas de Cronbach para a aceitabilidade e frequência de comportamentos negativos foram mais baixos (Aceitabilidade: marido = 0,65; esposa = 0,69). 25 26 27 Instrumento para avaliar o processo terapêutico e organizar a agenda da sessão: Questionário Semanal: Além de propiciar a avaliação do processo terapêutico, também é utilizado para avaliar como se deu a semana do casal durante o intervalo entre as sessões de terapia - Weekly Questionnaire 28 (Christensen, 2010). Há questões sobre satisfação, se houve algum episódio de violência conjugal, pede exemplo de uma interação positiva e uma negativa e se haverá algum incidente/situação que possa gerar desconforto ou preocupações entre eles. Este é pontuado somando o total de itens. Os escores variam de 0- 21 com uma média de 16 e desvio padrão de 4,7. As pontuações abaixo de 13,5 são consideradas numa faixa que representa situação crítica. A medida tem um alfa Crombach de 0,94. 29 Procedimento de aplicação dos questionários: Os instrumentos são utilizados da seguinte forma: 1º) Na pré-terapia, durante o período de avaliação e formulação do caso, cada membro do casal deverá comparecer a uma sessão individual, e nesta responderá aos instrumentos, além de trazer dados de sua história e seu olhar sobre o problema atual. 2º) Durante a terapia o Questionário Semanal é aplicado ao casal no início de cada sessão, fornecendo dados da evolução do tratamento, bem como uma agenda que demonstra o que será trabalhado em cada encontro terapêutico. 3º) No final da terapia, os questionários podem ser aplicados no período de encerramento dos atendimentos. Uma sessão de finalização na qual, num primeiro momento, o casal responde aos instrumentos e depois reflete sobre o processo realizado. O casal pode, ainda, responder aos questionários numa sessão follow up de um período de dois e depois de seis meses após o encerramento do processo terapêutico. Por fim, a aplicação dos questionários auxilia como um todo, desde o momento de avaliação e formulação do caso, até à condução dos temas e estratégias terapêuticas durante a terapia. 30 REFERÊNCIAS Angera, J. J., & Long, E. C. J. (2006). Qualitative and Quantitative Evaluations of an Empathy Training Program for Couples in Marriage and Romantic Relationships. Journal of Couple e Relationship Therapy, 5(1), 1-26. Bleger, J. (2001). Temas de psicologia: Entrevista e grupos (2a ed.). São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1980) Block-Lerner, J., Adair, C., Plumb, J. C., Rhatigan, D. L. & Orsillo, S. M. (2007). 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