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O MUNDO SENSORIAL DO AUTISMO
AULA 1
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Lilian Wellen S. dos Santos
SISTEMA NERVOSO: CAPÍTULO 1 – SISTEMA NERVOSO
CONVERSA INICIAL
Diversos estudos têm nos trazido a respeito da importância e de como funcionam os processos neurológicos relacionados ao sistema sensorial.
A Terapeuta Ocupacional Dra. Anna Jean Ayres iniciou seus estudos de Integração Sensorial (I.S.) na década de 60. Realizou muitos estudos que serviram de base para o tratamento que até hoje se mantém atuais e será base para o assunto que será tratado no decorrer deste material. (Bundy;Lane, 2020)
Seguindo os ensinamentos trazidos por Ayres (1998) e outros neurocientistas, sabemos que nosso sistema neurológico carrega informações dos sete sentidos que possuímos – tátil, proprioceptivo, vestibular, visual, auditivo, gustativo e olfativo e, é através da integração adequada destes que aprendemos sobre o mundo que nos rodeia e que apresentamos comportamentos adequados ou não.
O conhecimento neurocientífico das vias sensoriais contribui para a formação do professor, uma vez que ao se apropriar desse conhecimento, ficará apto a realizar as adaptações, arranjos e organizações necessárias ao desenvolvimento da aprendizagem destes estudantes.
Deste modo, vamos estudar a seguir como este processo de integração das informações sensoriais ocorrem em nosso sistema humano complexo e como influencia no desenvolvimento, aprendizagem e comportamento do ser humano.
TEMA 1 – FORMAÇÃO DO CÉREBRO E DO SISTEMA NERVOSO
O sistema nervoso é um sistema de órgãos sofisticados e complexos que vê, ouve, sente, move-se. Possui estruturas relacionadas com o comportamento e com as funções cognitivas que vieram caracterizar o ser humano. Alguns autores colocam como sua principal função, propiciar a adaptação ao meio ambiente. (Ayres, 1998).
Os processos mentais em nós humanos, ocorrem através da participação conjunta de grupos complexos de estruturas cerebrais que não estão localizados em áreas delimitadas do cérebro, mas sim, trabalhando de forma integrativa para a organização desse sistema. (Bundy; Lane, 2020)
1.1 FORMAÇÃO DO CÉREBRO E DO SISTEMA NERVOSO
O principal elemento a ser considerado no sistema nervoso, e que ele pode ser dividido anatomicamente em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP). (Maximo, et.al., 2014)
O cérebro, a medula espinhal e as meninges formam o SNC, enquanto os nervos cranianos e espinhais formam o SNP. Ambos têm como principal estrutura os neurônios, que consistem em corpo celular, axônio e dendritos.(Bundy, Lane, 2020)
O corpo celular é onde está o núcleo e de onde saem os prolongamentos dessa célula. Normalmente, um neurônio tem um único axônio que sai de seu corpo celular e transporta informações para o alvo, no entanto, este mesmo axônio pode se dividir em muitos ramos, permitindo que um único neurônio influencie em várias áreas. (Dunn, 2017)
Segundo Bundy e Lane (2020), através dos neurônios, um simples toque ou cheiro são capazes de produzir pensamentos, emoções, aprendizagem.
Ayres (1998), compara os axônios à cabos de uma rede de comunicação, que tem a função de transportar informações dentro e entre regiões do sistema nervoso central. Dentro desse sistema de “cabos” temos o cabo mais grosso isolado eletricamente pela bainha de mielina, transmitindo informações mais rapidamente e com menos perda de sinais que os axônios menores e não isolados.
Os dendritos são prolongamentos do neurônio que garantem a recepção dos estímulos, levando o impulso nervoso em direção ao corpo celular. São amplamente ramificados e ricos em sinapses (comunicação entre neurônios). (Dunn, 2017).
Essas estruturas são essenciais para a integração das entradas que acontecem com a combinação de dendritos e axônios formando o sistema nervoso central.
Abaixo, segue a Imagem 1, com ilustração de estrutura de um neurônio e suas estruturas supracitadas.
Figura 1 – Estrutura do neurônio
Crédito: L.Darin/Adobe Stock.
Sistema Nervoso Periférico (SNP)
Também faz parte da estrutura do Sistema nervoso, o sistema nervoso periférico (SNP) que é composto por receptores, ou terminações nervosas especializadas, e pelos neurônios que conduzem informações de/e para o SNC. (Maximo, et.al. 2014)
A principal função do Sistema nervoso periférico é conectar o mundo externo e as estruturas periféricas (por exemplo, músculos e glândulas) ao cérebro e medula espinhal. (Bundy; Lane, 2020)
Sistema nervoso autônomo (SNA)
O sistema nervoso também pode ser caracterizado funcionalmente como autônomo (SNA) sendo este os processos nervosos que inervam o musculo liso e as glândulas, e o somático transporta sinais neuronais para pele, músculos e articulações. (Bundy; Lane, 2020)
Cada sistema sensorial possui células receptoras únicas e especializadas ou terminações nervosas que são sensíveis a alguma forma de energia física. Deste modo, uma vez que um receptor responde a um estímulo sensorial, ocorre uma cascata de eventos que resulta na transmissão das características específicas dessa entrada pelo SNC. As características dessa informação enviada incluem densidade e tipo de sensação. (Bundy; Lane, 2020)
O sistema nervoso autônomo se responsabiliza também pela regulação de pressão sanguínea, frequência cardíaca, respiração e digestão, mudanças na química do corpo, dor e temperatura. O componente eferente do SNA prepara o corpo para lutar ou fugir (divisão simpática) e para” descansar e digerir” restaurando o estoque de energia do corpo ao promover a digestão de alimentos (divisão parassimpática). (Bundy; Lane, 2020);(Ayres, 1998).
Todos os sistemas citados, trabalham de forma integrada fazendo uma conexão corpo-cérebro/cérebro-corpo para gerar respostas adaptativas, sendo que o responsável pela função de regulação e controle é o sistema nervoso central (Maximo, et.al. 2014)
A seguir, em formato de quadro, consta um breve resumo baseado na literatura trazida por Bundy e Lane (2020) das principais estruturas do sistema nervoso central envolvidas no processo de integração sensorial.
Quadro 1 – Principais estruturas do SNC e integração sensorial
	NEURÔNIOS
	Cada neurônio se conecta com outros milhares de neurônios através de suas ramificações;
	
	Através dos neurônios, um simples toque ou cheiro são capazes de produzir pensamentos, emoções, aprendizagem.
	TRONCO ENCEFÁLICO
	Conecta a medula espinhal, com estruturas cerebrais superiores;
	
	Nele localiza-se a formação reticular, tem a função de filtrar as informações sensoriais (modulação sensorial), fazer manutenção da atenção e regulação do ciclo do sono
	CEREBELO
	Responsável pela manutenção do tônus;
	
	Relaciona-se à programação e execução de movimentos;
	
	Responsável por ajustar tempo, intensidade e velocidade de movimento;
	
	Influência nas funções executivas;
	
	Participação na memória dos movimentos.
	SISTEMA LÍMBICO
	Motivação e desenvolvimento do aprendizado e memória.
	
	Relacionado às respostas emocionais aos estímulos vestibulares e táteis.
	TALAMO
	Centro que recebe, processa e distribui o fluxo das informações sensoriais (o carteiro).
	
	Participação na motricidade e comportamento emocional.
	LOBO FRONTAL
	Controle movimento voluntário;
	
	Ativa movimentos da face e membros superiores orientados a um objetivo.
	
	Relacionado à prática mental do movimento.
	LOBO PARIETAL
	Projeta-se a diversas áreas envolvidas no controle motor;
	
	Fundação para consciência corporal;
Fonte: Santos.
Cada sistema conta com receptores que respondem a uma forma primária de entrada e na transformação dessa entrada em uma forma eletroquímica que poderá ser lida pelo SNC, em seguida assumirá uma forma eletroquímica e, a depender do receptor dará a informação das características da sensação. (Bundy; Lane, 2020)
De acordo com Bundy e Lane (2020), a integração das entradas sensoriais irá ocorrer em função da localização e função do SNC, sendo que cada uma dessas respostas será importante para a realização adequada das atividades do dia a dia do indivíduo, sendo a integração adequada, a base paraa aprendizagem do ser humano.
TEMA 2 - PERCEPÇÃO SENSORIAL
A percepção sensorial é uma função cerebral que envolve os sentidos: tato, paladar, olfato, audição, visão, o sistema vestibular e o proprioceptivo. É uma função complexa do SNC na qual o cérebro fornece significado a uma combinação de estímulos sensoriais para tornar consciente do que algo é através de outra experiência sensorial. (Dunn, 2017)
Crédito: Vectormine/Shutterstock.
A percepção sensorial é o processo por onde se captam as informações sobre o mundo e deve ser estimulada através do lúdico, desde a primeira infância e especialmente na escola – quando a criança já a frequenta – pois é através dos estímulos aos quais a criança é exposta que irá ocorrer a aprendizagem.
A percepção, entretanto, segundo Dunn, (2017) depende do aprendizado e da maturação. Não basta ter a capacidade de ouvir e ver, por exemplo, é necessário ser capaz de compreender o que se vê se ouve. A ineficiência dessa capacidade de perceber os estímulos sensoriais, afeta negativamente o nível superior das funções cognitivas necessárias para a aprendizagem acadêmica, bem como as capacidades de regulação da excitação, autorregulação das emoções e do comportamento, impactando diretamente na capacidade de aprendizagem.
As áreas do desenvolvimento que são influenciadas pelo processamento sensorial, de acordo com Ribas, et.al. (2019) são:
· Regulação do comportamento – a criança pode mostrar-se muito agitada ou muito letárgica quando a regulação não ocorre da maneira esperada.
· Planejamento motor - quando apresenta disfunção nos sistemas responsáveis pelo planejamento motor, a criança pode apresentar dificuldade em participar de atividades de educação, de segurar o lápis, ou outras atividades manuais (uso de tesoura, cola, régua, etc).
· Controle postural - a criança pode ter dificuldade em permanecer sentada na cadeira escolar quando há disfunção nos sistemas envolvidos no controle postural, apresentando comportamentos de fuga e/ou dificuldade em concentra-se na aula.
· Funções executivas (ideação, organização, flexibilidade, regulação).
· Respostas emocionais e interações.
Todos esses processos de percepção sensorial e respostas comportamentais irão influenciar diretamente na capacidade de atenção, concentração, interação social, controle postural, controle oculomotor, dentre outros, e portanto, aprendizagem acadêmica da criança. (Nepomuceno, et.al., 2019)
TEMA 3 – AUTISMO: UMA DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA
Crédito: Goodideas/Adobe Stock.
De acordo com Nepomuceno, et.al., (2019) a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, considera pessoa com transtorno do espectro autista aquela portadora de síndrome clínica com uma deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e interação social, manifestada por dificuldade de comunicação verbal e não verbal, reciprocidade social e dificuldades para desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento.
Ou seja, o autismo é um transtorno de neurodesenvolvimento com diversas apresentações clínicas e que se desenvolve a partir de uma combinação de influências genéticas e não genéticas ou ambientais.
Sabemos que muitos mitos rodeiam este diagnóstico, dentre eles, o questionamento sobre o desenvolvimento de aprendizagem desses indivíduos.
A neurociência tem trazido estudos que buscam explicar para a sociedade como se desenvolve o cérebro de uma pessoa autista. Deste modo, trago neste capítulo considerações a respeito do funcionamento do cérebro desses sujeitos, para que, com uma base de conhecimento, possa-se ter uma melhor abordagem e intervenção para facilitar a rotina de quem tem esse diagnóstico. (Rogers; Ozonoff, 2005)
De acordo com Serrano (2016), há uma série de distúrbios associados que indicam que existem lesões no Sistema Nervoso Central (SNC) das crianças com autismo.
Do ponto de vista neuropatológico, o cérebro no autismo apresenta alterações basicamente no cerebelo, sistema límbico e uma anormalidade na organização minicolunar cerebral, as quais serão consideradas aqui.
Para ilustrar e tornar mais fácil a compreensão dessas alterações, analise o quadro 2 - Diferenças no cérebro com TEA, baseado na literatura de Bundy e Lane (2019) a seguir.
Quadro 2 – Diferenças no cérebro com TEA
	ESTRUTURA
	FUNÇÃO
	Sistema nervoso central
	Atua como um centro integrador, processando todas as informações dos impulsos recebidos.
	Cerebelo
	É uma porção do sistema nervoso central que está relacionada com a nossa postura, coordenação e equilíbrio, bem como com o controle cognitivo, motivação e emoção.
	Sistema límbico
	Responsável pelo controle do comportamento emocional do sistema nervoso e está envolvido diretamente com a natureza afetiva das percepções sensoriais.
	Organização minicolunar cerebral
	Podem ser associados com o estilo de processamento cognitivo, podendo envolver a percepção, atenção, memória, pensamento, linguagem e aprendizagem
Fonte: Santos.
Analisando o quadro acima, conseguimos interpretar algumas alterações que podemos encontrar no desempenho do indivíduo autista, bem como comprometimento em equilíbrio e coordenação, percepções sensoriais inadequadas, alteração quanto à atenção, concentração, dificuldade de aprendizagem, atraso na linguagem, dentro outros.
Pesquisas também apontam que crianças com autismo possuem um menor volume de massa cinzenta na amígdala, região envolvida em processos emotivos, como por exemplo, uma situação de perigo. Outras pesquisas, indicam que que existe um mau funcionamento em “neurônios-espelho” – múltiplos circuitos neuronais especializados em executar e compreender ações e intenções de outras pessoas, o significado social do comportamento delas e suas emoções – em diversas áreas do cérebro. (Serrano, 2016).
Crianças com TEA podem ainda, ter alterações nas conexões neuronais, com ramificações mais curtas e mais acumuladas em uma área específica em vez de distribuídas por todo o cérebro, podendo trazer alterações para a aprendizagem e comportamentais, considerando a importância dessas estruturas para os processos sensoriais. (Bundy; Lane, 2020)
É importante compreender que o diagnóstico do autismo é complexo, uma vez que as crianças podem apresentar comorbidades associadas como: alergias (alimentos e ambientes), distúrbios do sono, deficiência intelectual, distúrbios genéticos, X-Frágil, esclerose tuberosa, problemas gastrointestinais (gastrite, colite, celíaco, esofagite), problemas motores, distúrbios metabólicos, convulsões, TDAH, distúrbios da saúde mental, transtorno de ansiedade, transtorno bipolar e doenças depressivas. (Serrano, 2016)
Serrano (2016), relata que parte da rotina de uma criança, independente da sua idade, se dá em uma instituição de aprendizagem. Seja no pré-escolar, no ensino fundamental ou médio. Deste modo, podemos afirmar que o professor passa, aproximadamente, quatro horas acompanhando essa criança, cinco dias da semana. Embora a atenção seja dividida entre a quantidade de alunos de uma sala, é período suficiente para se identificar características do desenvolvimento que possam estar comprometidas e/ou indicar um possível diagnóstico de TEA.
A seguir, temos um quadro baseado em Bee e Boyd (2011) com alguns sinais que servem de alerta e que podem ser observados em crianças – mais comumente – a partir dos dois anos, e que em conjunto podem significar que os pais dessa criança precisam ser alertados e encaminhados para um profissional competente para realizar o rastreio do Transtorno do Espectro Autista.
Vale ressaltar que, este quadro de características não serve para diagnosticar, mas sim, como meio para identificar possíveis alterações na criança.
Quadro 3 – Sinais de alerta no desenvolvimento infantil
	SINAIS DE ALERTA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
	
	Não aponta para coisas
	
	Apresenta dificuldade na linguagem (receptiva e/ou expressiva)
	
	Dificuldade com socialização
	
	Evita contato visual, ou quando o faz não o mantém
	
	Dificuldade para brincar de faz de conta
	
	Movimentosrepetitivos (estereotipados)
	
	Resistência a mudanças de rotina
	
	Olhar direcionado para algo ou alguém de forma fixa
	
	Sensibilidade a sons ou outras alterações sensoriais
	
	Dificuldade em ser acalmado
	
	Dificuldade de atenção e concentração
	
	Repertório de brincar restrito
	
	Alinhamento de objetos
	
	Não atende quando chamado pelo nome
	
	Padrões rígidos para a rotina
	
	Não responde a sorrisos ou expressões faciais de pessoas próximas
	
	Pode não seguir o apontar ou o olhar dos outros
	
	Riso inapropriado
	
	Dificuldade de imitação motora, como repetir a careta do adulto
	
	Dificuldade com a alimentação, seja por questões sensoriais e/ou comportamentais
	
	Dificuldade em permanecer em fila ou próximo de outras pessoas
	
	Tendência à ecolalia, repetição mecânica de palavras ou frases que ouve, sem função adequada
Fonte: Santos.
Alguns desses sinais quando vistos em conjunto podem indicar o autismo e/ou alterações sensoriais na criança. Não é necessário que todos os sinais estejam presentes. Na constância de alguma dessas dificuldades, a criança deve ser encaminhada para avaliação capacitada.
Uma dúvida muito comum é sobre um comportamento frequentemente visto em pessoas com diagnóstico de TEA: o comportamento estereotipado e repetitivo. Trago então, explicações encontradas por alguns pesquisadores.
Alguns indivíduos utilizam comportamentos estereotipados e repetitivos para auxiliar na autorregulação dessas disfunções, ou seja, quando esta hiper estimulado, ansioso, sobrecarregado. O movimento funcionaria, então como um bloqueador de estímulos, direcionando a atenção para dentro ou para o próprio movimento repetitivo. No entanto, outros pesquisadores trazem como justificativa uma entrada sensorial para satisfação (Rogers e Ozonoff, 2005); fornecimento de informação sensorial para despertar o sistema nervoso. Para estes comportamentos só haverá necessidade de intervenção clínica quando estiverem causando algum tipo de prejuízo para a pessoa.
As intervenções para as quais o indivíduo com TEA geralmente é encaminhado são:
· Terapias comportamentais (ABA. PRT);
· Intervenção de integração sensorial;
· Fonoaudiologia;
· Floortime (DIIR);
· Habilidades sociais;
· Medicação;
· Dieta e suplementação;
· Psicoterapia;
· Tecnologia assistiva;
· Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handicapped Children (TEACCH).
Foi apresentado anteriormente algumas características de dificuldades encontradas por pessoas com diagnóstico de TEA, no entanto, também podem-se notar dentro dessas peculiaridades pontos fortes desses indivíduos, como: facilidade em tarefas visuais e aprendizagem visual; excelente memória para conceitos concretos, fatos, regras, padrões; foco intenso, concentração e habilidade excepcional em atividades de interesse; foco em detalhes; habilidades musicais, artístico; etc. (Bundy;Lane, 2020)
As inquietações da neurociência, ao trazer para educação e a formação do professor do Atendimento Educacional especializado e da sala de aula regular conhecimentos para atuarem junto a estas crianças, têm sido caracterizadas como um conjunto de saberes, de matriz multidisciplinar e interdisciplinar e as relações com o interior e exterior no desenvolvimento do processo de ensino e da aprendizagem. Deste modo, cabe aos professores socializar com os pais e comunidade e garantir a permanência e inclusão das crianças diagnosticadas com autismo no espaço escolar.
TEMA 4 - DISFUNÇÕES DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL
Estudos demonstraram que a maioria das crianças com autismo apresenta disfunção no processamento sensorial, apresentado por comportamento de evitação para sensações sensoriais, baixo nível de resposta a estímulos e maior sensibilidade tátil e auditiva em comparação às crianças sem autismo. (Dunn, 2007)
Nos resultados de uma pesquisa realizada por Dunn (2007), 92% do total de crianças com autismo demonstrou algum grau de disfunção no processamento sensorial, sendo as maiores diferenças reportadas relacionadas à audição e sensibilidade tátil.
Disfunção de integração sensorial se caracteriza pela inabilidade do sistema nervoso processar a informação sensorial recebida, impactando em respostas adaptativas inadequadas frente aos estímulos. Ou seja, a pessoa apresenta dificuldade em integrar as informações recebidas do meio. (Caminha, 2008)
As disfunções podem ser de modulação ou de discriminação (práxis).
A modulação da entrada sensorial, de forma simplória, se trata de um processo neuronal, dentro do SNC que é aprimorado ou atenuado para atender a corrente de nível celular e é indispensável para filtrar as sensações, manter um nível ideal de atenção para a tarefa, deste modo podemos perceber que a modulação sensorial é crítica para a capacidade de se engajar e realizar de forma adequada as ocupações diárias. Pode ser resumida como a dificuldade em regular grau, intensidade e natureza das respostas aos estímulos sensoriais.
Ayres (1998) definiu a modulação como “o processo de aumentar ou reduzir a atividade para manter a atividade em harmonia com todas as funções do sistema nervoso.
Quando há disfunção na modulação da entrada sensorial, poderá haver prejuízo quanto a atenção, oscilações quanto a excitação (nível de alerta), impacto no comportamento, pode apresentar perfil controlador, comportamentos rígidos. (Ayres, 1998)
Deste modo, poderá impactar nas funcionalidades, apresentando dificuldade em permanecer nas atividades acadêmicas, dando atenção à estímulos irrelevantes, deixando de lado o que deveria estar em foco, por exemplo.
A discriminação/registro da entrada sensorial dão origem às disfunções de práxis, que terá impacto no desempenho motor (amplo e fino); ideação, planejamento e execução motora e organização, trazendo prejuízo quanto a participação e engajamento em atividades cotidianas. (Bundy;Lane, 2020)
Por fim, tem-se a disfunção generalizada de integração sensorial, que se trata do tipo mais grave de disfunção sensorial. É um conjunto das alterações citadas acima, envolvendo o processamento de múltiplos sistemas e gerando impacto funcional maior. (Bundy;Lane, 2020)
TEMA 5 - DESENVOLVIMENTO HUMANO INFANTIL
O bebê depende do sistema sensorial para seu pleno desenvolvimento e, para que isso ocorra as áreas posteriores do cérebro encontram-se altamente ativas já no início da vida, pois é nesta área que vão ser processadas as informações sensoriais recebidas da medula espinal ao córtex. Conforme descrevem Momo e Silvestre (2011), é possível observar sinais de desordem do
processamento sensorial desde os primeiros meses de vida.
Nesse início da vida, o córtex da criança encontra-se em intensa atividade neurofisiológica propiciando um período crítico, de grande riqueza e potencialidade para o desenvolvimento. (Bundy; Lane, 2020)
À medida que o sistema nervoso amadure, desenvolve mais conexões, aumentando a capacidade de modular a atividade de um sistema sensorial, por meio de informações para outros sistemas.
No entanto, do nascimento até os três anos (aproximadamente), as correlações entre função e estruturas são restritas, sendo direcionadas em grande parte, para aspectos motores e linguagem. Deste modo, o desenvolvimento humano infantil depende diretamente do amadurecimento do sistema nervoso. (Momo; Silvestre, 2011)
De acordo com Bee e Boyd (2011) estes amadurecimentos podemos evidenciar em atividades em que somos programados para realizar, sem necessitar de um comando externo como rastejar para depois engatinhar. São coisas que a criança faz de forma inata, quando o SNC apresenta maturidade para tal.
Crédito: Colorfuel Stduio/Shutterstock.
Cada uma das habilidades adquiridas nas fases de desenvolvimento da criança será primordial para as demais fases. Vemos, dessa forma, a importância da estimulação sensorial precoce, em todos os contextos, desde os primeiros dias de vida da criança, pois o desenvolvimento sensorial da criança é a base para toda a aprendizagem.
Nos próximos conteúdos, vamos estudar, de forma mais aprofundada, o desenvolvimento da primeira infânciae de cada sistema sensorial, refletindo o sobre amadurecimento do SNC.
NA PRÁTICA
Nesta aula trabalhamos as características do sistema nervoso, seu desenvolvimento e os produtos do seu amadurecimento.
Agora, para a prática, proponho uma atividade para ser realizada durante sua formação, com alguma criança de seu convívio, posteriormente com as crianças do contexto escolar. Ela poderá ser realizada de forma individual ou em grupo. Se possível, realize também com crianças com TEA.
Nela, quero te incentivar a identificar os comportamentos resultantes do amadurecimento do sistema nervoso central e, havendo alguma dificuldade apresentada pela criança durante a atividade, despertar o raciocínio de como proceder.
Crédito: 3D_KOT/adobe stock
· Materiais: piscina pequena/balde/bacia; bexigas; água; açúcar; corantes; gelo; feijão; café (ou outras coisas com cheiro); venda.
· Desenvolvimento: Encha as bexigas com os materiais previamente separados. A criança, vendada, deverá escolher uma bexiga e adivinhar o que contém, utilizando dos outros sistemas sensoriais, sem o auxílio visual.
O que você observou do comportamento desta criança durante esta atividade? Ela teve facilidade em adivinhar? Quais sistemas sensoriais você identificou estarem envolvidos no sucesso da adivinhação? Quais dificuldades você encontrou e devido à qual sistema você supõe que possa ter ocorrido?
ATENÇÃO: Quaisquer crianças, especialmente crianças com TEA, poderão apresentar resistência, caso apresentem disfunção no sistema tátil e/ou auditivo, tanto para manusear os objetos selecionados, quanto para colocar a  venda, ou por medo do barulho do balão. Te incentivo a estimular seu raciocínio para adaptar a atividade para esta criança (você terá essa necessidade em sua prática diária escolar) e a conversar com a terapeuta ocupacional da criança para maiores orientações.
FINALIZANDO
Nesta aula trabalhamos como funcionam os processos sensoriais e seus impactos na vida da criança com TEA. No tema um foram abordados aspectos do sistema nervoso e os caminhos de recepção e condução dos estímulos sensoriais. Identificamos ainda algumas características do cérebro com TEA, o desenvolvimento do sistema sensorial e algumas disfunções de integração sensorial.
Norteamos a cerca deste tema, no entanto, por ser algo tão amplo e complexo, retomaremos de forma mais descritiva em outras aulas.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. M. A. de. Análise da influência da abordagem de integração sensorial de ayres® na participação escolar de alunos com transtorno do espectro autista. 166 f. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação, Universidade Estadual Paulista, Marília, SP. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/202685/andrade_mma_dr_mar.pdf?sequence=3&isallowed=y> Acesso em: 15 dez. 2022.
AYRES, A. J. Sensory Integration and the Child. Los Angeles, 1998.
BARANEK, G.T. et. al. Sensory experiences questionnaire: Discriminating sensory features in young children with autism, developmental delays, and typical development. Journal of Child Psychology and Psychiatry. 2006;47(6):591–601
BARANEK, G.T. et.al. Hyporesponsiveness to social and nonsocial sensory stimuli in children with autism, children with developmental delays, and typically developing children. Development and Psychopathology. 2013. 25(02):307–320
BARROSO, F.; ANTUNES, M. Tecnologia na Educação: Ferramentas digitais facilitadoras na prática docente. Pesquisa e Debate em Educação, São Paulo,  v. 1, n. 1, p.124-131, maio, 2015.
BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento 12ª edição. São Paulo, 2011.
BUNDY, A. C.; LANE S.J. Sensory Integration – Theory and Practice. 3ª edição. Philadelphia: F.A.Davis, 2020.
CAMINHA, R. C. Autismo: Um Transtorno de Natureza Sensorial? 71 f. Dissertação de Mestrado Programa de Pós-graduação em Psicologia do Departamento de Psicologia do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <http://ppg.psi.puc-rio.br/uploads/uploads/1969-12-31/2008_61d166a244c37e45ba47bac616b1a845.pdf> Acesso em: 15 jan. 2023.
DUNN, W., (2017). Vivendo Sensorialmente. Entendendo seus sentidos. 1a. edição. São Paulo.
DUNN, W., (2007). Supporting children to practice successfully in everyday life by using sensory processing knowledge. Infants & Young Children, 20 (2), 84-101. Disponível em: < https://depts.washington.edu/isei/iyc/20.2_dunn.pdf> Acesso em: 26 dez. 2022
JORQUERA, S.C. et al. Assessment of Sensory Processing Characteristics in Children between 3 and 11 Years Old: A Systematic Review. Frente. Pediatr. Sec. Psiquiatria da Criança e do Adolescente. v. 5, 2017.
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O MUNDO SENSORIAL DO AUTISMO
AULA 3
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Lilian Wellen S. dos Santos
CONVERSA INICIAL
Segundo Baranek, et.al., (2013) as taxas e prevalências estimadas de problemas de processamentosensoriais entre pessoas com TEA variam de 69% a 95%.
Sendo esta prevalência tão alta, em nosso estudo serão abordados os aspectos sensoriais mais presentes no autismo e de forma interferem e favorecem no desenvolvimento e aprendizagem do sujeito contribuindo de forma significativa nos aspectos educacionais de quem atua no campo da educação e da saúde.
TEMA 1 – SISTEMA SENSORIAL E AUTISMO
A integração sensorial pobre no autismo pode ser vista como um déficit de integração do cérebro como um todo, que envolve não apenas o processamento da informação sensorial e motora, mas também a alocação de atenção e cognição para estímulos salientes (Schaaf, 2013).
Segundo Baranek, et.al., (2013) as taxas e prevalências estimadas de problemas de processamento sensoriais entre pessoas com TEA variam de 69% a 95%. Sendo esta prevalência tão alta, em nosso estudo serão abordados os aspectos sensoriais que interferem e favorecem no desenvolvimento e aprendizagem do sujeito contribuindo de forma significativa nos aspectos educacionais de quem atua no campo da educação e da saúde.
Jorquera et al. (2017) discorrem que crianças que são diagnosticadas com várias condições, como o exemplo do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), estão propensas a experimentar diferenças em seus padrões de processamento sensorial, quando comparadas aos padrões esperados.
Essas diferenças podem estar relacionadas à formação e diferenças estruturais do cérebro autista. Estudos mostram que há diferença estrutural no sistema límbico, causando diferenças nos padrões e áreas de ativação sensorial, podendo vincular também com o padrão de hiporresponsividade e falta de orientação aos estímulos (Shumann et.al, 2004).
Foram identificados também alteração no volume de substância cinza e branca, sendo ampliado, podendo estar relacionado ao processamento sensorial ineficaz, bem como alterações de conectividade e condutividade (Maximo; Cadena; Kana, 2014).
1.1 ALGUNS ESTILOS SENSORIAIS
Desde que saem do útero da mamãe, os pequeninos são mergulhados num universo cheio de sensações novas. O nosso mundo é sensorial. Começa pelo primeiro fôlego que entra em seus pulmões, seguido de imagens, sons, cheiros, sabores e toques.
O tempo todo recebemos alguns tipos de estímulos em nossas vivências por meio dos nossos sentidos: tato, olfato, gustação (paladar), visão, audição, propriocepção e vestibular. E é função do nosso cérebro receber, integrar e processar essas informações para dar uma resposta correta ao ambiente.
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Sistema tátil: sistema que recebe resposta dos receptores da pele sobre o toque, pressão, temperatura, dor e movimento dos pelos sobre a pele (Bundy; Lane, 2020).
Sistema olfativo: habilidade de perceber corretamente, discriminar, processar e responder a diferentes odores (Bundy; Lane, 2020).
Sistema gustativo: sistema responsável pela habilidade de perceber corretamente, discriminar, processar e responder aos paladares ou a estímulos dentro da boca (Bundy; Lane, 2020).
Sistema visual: responsável pela habilidade de perceber corretamente, discriminar, processar e responder ao que se vê (Bundy; Lane, 2020).
Sistema auditivo: sistema responsável por perceber corretamente, discriminar, transformar e reagir a sons (Bundy; Lane, 2020).
Sistema proprioceptivo: sistema ligado à noção espacial, posição de cada membro e do corpo como um todo, características como noção de peso, movimentos, pressão, seja com o corpo em movimento ou estático (Bundy; Lane, 2020).
Sistema vestibular:  responsável sobre as reações ao movimento e equilíbrio (Bundy; Lane, 2020).
Quando as informações desses estímulos sensoriais são recebidas, percebidas e processadas adequadamente, nosso corpo consegue dar respostas adequadas ao ambiente. Portanto, o processamento sensorial é essencial para um desenvolvimento apropriado.
Segundo Dunn (2017) é devido ao processamento sensorial adequado que toleramos comer diversas texturas, utilizar diferentes tipos de roupa, manter a atenção necessária para determinadas atividades, ler um livro adequadamente, temos a capacidade de aprendizagem, andamos com equilíbrio, subir e descer escadas sem cair, toleramos que cortem nossos cabelo e unhas, não passamos desconforto com quaisquer cheiros, enfim, é devido ao processamento correto e integração dos estímulos sensoriais que somos capazes de responder adequadamente às atividades do nosso cotidiano.
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Relacionado às particularidades das funções cerebrais, Ayres, citado por Bundy e Lane (2020), identificou a amígdala como uma região no cérebro envolvida com o registro sensorial e estudos encontraram hiperativação da amígdala diante de demandas de contato visual em crianças com TEA.
Estudos correlacionam também o envolvimento do sistema límbico – que está relacionado à regulação das emoções – e dos núcleos vestibulares com o registro sensorial e estruturas do tronco cerebral que estão relacionadas ao comprometimento motor e sensorial das crianças com TEA (Bundy; Lane, 2020) (Dunn, 2007).
Resumindo crianças com TEA podem não registrar ou discriminar essas informações sensoriais devidamente e, por isso, alocar a atenção de maneira distinta das outras crianças, ou seja, apresentar respostas inadequadas frente à estímulos.
 É necessário sempre considerar a particularidade de cada um, visto que nenhuma criança irá apresentar a mesma demanda que outra.
TEMA 2 – ALGUNS ESTÍMULOS SENSORIAIS
É fundamental para o educador, saber a importância dos estímulos sensoriais e como fazer isso adequadamente, para que a criança possa ter segurança em suas ações e saiba lidar com as diferentes sensações que tem, de maneira positiva.
Deste modo, seguem listadas algumas considerações e estratégias para o contexto escolar para facilitar estímulos sensoriais positivos:
· Respeitar as diferenças nas preferências de brincadeiras e a motivação;
· Ensinar a atividade de forma graduada;
· Equilibrar estrutura da aula e organização com oportunidades da criatividade da criança;
· Utilizar os interesses da criança como ponto de partida;
· Não esquecer a importância do brincar incluindo experiências sensoriais, respeitando as limitações de cada criança;
· Esteja alerta para mudanças inesperadas e drásticas na regulação sensorial, sabendo retroceder e aliviar o incomodo;
· Assistir a criança antes de agir, ou seja, se atentar e interpretar o que ela está buscando e/ou comunicando;
· Fornecer feedbacks simples e específicos;
· Equilibrar preferências e necessidades para jogos repetitivos com redirecionamento e introdução à novidade;
· Considerar modificações ambientais – solicitar auxílio de um terapeuta ocupacional poderá trazer melhores resultados;
· Permitir certo controle da criança em relação às modificações de ambiente;
· Permitir descanso e locais para regulação sensorial.
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Considerações ambientais importantes:
· Dimensão e espaço aberto;
· Qualidade e tipo de luz;
· Ruídos (ventilador, colegas falando, objetos batendo ou arrastando etc.);
· Odores no ambiente (perfume do professor e/ou dos colegas, lixeira etc.);
· Posicionamento da cadeira onde a criança ficará;
· Estímulos visuais excessivos (cartazes, letras, números, desenhos nas paredes);
Outro tipo de estratégia que pode ser utilizada no meio acadêmico: o uso de estratégias sensoriais direcionadas e individuais, sendo:
· Fidgests: instrumentos de manipulação que proporcionam autorregularão;
· Itens ponderados e vestuário de pressão: são itens adequadamente pesados que podem ser usados durante o momento escolar para fornecer regulação sensorial;
· Assentos adaptados: assentos alternativos utilizados estrategicamente para atividades direcionadas.
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Para estas estratégias, porém, faz-se necessário a prescrição e acompanhamento por um terapeuta ocupacional especializado.
Outro cuidado a se tomar é evitar o toque leve. Autistas com disfunção sensorial, relatam que quanto mais leve o contato, mais desconfortável e, quanto mais firme o toque, mais potencialmenteagradável. Saber disso importa para que, atividades como cócegas sejam restringidas das práticas escolares, evitando que a criança autista entre em desconforto ou mesmo em crise.
Para que se tenha conhecimento a respeito dessas disfunções e se possa evitar possíveis desconfortos, a seguir falaremos sobre a existência delas.
Tendo conhecimento dos cuidados que devem ser tomados, podemos pensar em atividades sensoriais pedagógicas para cada etapa da criança.
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Para Maria Montessori, citado por Ribas, et.al. (2019), a educação sensorial deve anteceder a educação das atividades intelectuais, pois é pelos sentidos que a criança entra em contato com o mundo exterior. Defendia que o caminho do intelecto passa pelos sentidos, principalmente pelo tato, porque é por meio do movimento e do toque que as crianças exploram e decodificam o mundo ao seu redor.
Os autores ainda relatam que, para as crianças menores é importante propiciar bastante espaço livre no chão, para que a criança tenha experiências vestibulares, proprioceptivas e táteis em contato com seu próprio corpo e com o ambiente.
Atividades envolvendo diversas texturas como areia, panos mais ásperos, gramados, tatames texturizados, esponjas, objetos mornos e gelados, brinquedos que emitam sons que lembrem o real – animais de modo geral – musicalização na escola são ótimas experiências sensoriais.
Lembra-se de que o afeto faz parte da construção neurocognitiva da criança, bem como sensorial. Desta forma, pode-se fornecer carinho com diferentes texturas: com suas mãos, com a naninha, com os brinquedos molhados, uma esponja, ou o que tiver de diferente para criança sentir sem que lhe ofereça algum perigo.
Livros sensoriais são ótimas estratégias para proporcionar experiências táteis e visuais e podem ser utilizados em qualquer faixa etária.
Utensílios de cozinha ou quaisquer objetos que são utilizados pelo adulto ganham o interesse da criança e permitem que as experiências sensoriais aconteçam. É estritamente rica uma atividade em que a criança utilize diferentes tamanhos e formas de colher para trocar a areia de recipiente, por exemplo.
Ribas et.al. (2019), relatam que as atividades motoras e cognitivas são dependentes das experiências sensoriais, desta forma, muito além de investir em recursos caros e diferenciados, o educador precisa investir na imitação e proporcionar recursos de uso presente no cotidiano da criança.
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É importante lembrar que se sujar faz parte do desenvolvimento. Esteja e deixe os pais cientes de que a criança irá se sujar, seja no contato com o chão, seja nas atividades propostas. O sujar-se com diferentes experiências está relacionado com o desenvolvimento do sistema tátil, noção espacial, corporal, dentre outros aspectos importantes para o desenvolvimento global da criança. (Serrano, 2016).
TEMA 3 – HIPERSENSIBILIDADE
A habilidade de lidar e organizar reações às sensações de maneira adequada e adaptativa é a modulação sensorial. Este processo ocorre tanto a nível neurofisiológico quanto a nível comportamental e irá depender de como o indivíduo processa as informações sensoriais (Schaaf, 2013).
Um dos principais padrões de alteração sensorial encontrado na criança autista é a hipersensibilidade ou hiper-responsividade, que são padrões encontrados na disfunção de modulação sensorial. Este padrão é mais comumente encontrado no imput auditivo e tátil, segundo pesquisas.  (Dunn, 2007)
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Anteriormente ao ano de 2019, no Manual de Diagnóstico para Transtornos Mentais-Quinta Edição (DSM-5), hipo e hiper-reatividade sensorial foram incluídos como critérios diagnósticos de TEA (Oliveira, 2020).
A hiper-responsividade sensorial é caracterizada pela sensação de forma mais intensa e mais rápida ou com maior tempo de duração que em um padrão sensorial adequado. Quando a sensação acontece de modo inesperado, se torna ainda mais intensa e aversiva. A informação sensorial pode ter um efeito acumulativo e, desta forma, gerar respostas exageradas à um estímulo como resultado da acumulação dos estímulos recebidos durante o dia. (Bundy; Lane, 2020)
Os comportamentos mais frequentemente observados nas crianças com hiper-reatividade são: apresentam agitação motora, impulsividade, agressividade, comportamento de evitar situações e/ou sensações. (Oliveira, 2020).
A defensividade tátil é uma das principais disfunções encontradas dentro de padrão de hiper-responsividade. Se trata, basicamente, de uma sensação de desconforto exacerbado quando experimenta alguns estímulos táteis. (Bundy; Lane, 2020)
Andrade (2020), afirma que nesses casos, as principais características comportamentais encontrada são de reclamação referente a etiquetas, rejeição a brincadeiras que sujem, como areia, tinta; costuma recusar abraços, beijos, toque físico de modo geral e, muitas vezes, é a causadora de recusas alimentares.
Segundo Bundy e Lane (2020) encontramos também dentro do padrão de hiper-responsividade o que chamamos de insegurança gravitacional, que se caracteriza por um medo acima do esperado de altura. A criança costuma apresentar esquiva a brinquedos de parque como balanços, escorregador, evita escada rolante, elevador. 
Por fim, entre as principais disfunções dentro da hiper-reatividade temos a intolerância ao movimento, que se trata de reações de enjoo, náusea e mal-estar frente à estímulos mínimos de movimentos (Bundy; Lane, 2020).
Se formos pensar isoladamente em como a hiper-responsividade se caracteriza em cada sistema sensorial, baseados em Bundy e Lane (2020) podemos elencar as características da seguinte forma:
Sistema tátil: sensibilidade ao toque inesperado; reação negativa a texturas, especialmente às que sujem; evitam areia; podem evitar certos tipos de roupas; podem não gostar de cortar os cabelos e unhas.
Sistema auditivo: sensíveis a sons que normalmente não são notados por outros; podem reagir com agressividade, esquiva ou tapar os ouvidos quando sons altos e inesperados.
Sistema visual: Incomodo com ambientes com muitos estímulos visuais (pessoas e/ou itens); incomodo com certas luzes.
Sistema gustativo: Não gostar de escovar os dentes; recusa/seletividade alimentar;
Sistema olfativo: Pode apresentar incomodo ou náusea frente a cheiros que não seriam notados por outros.
Sistema proprioceptivo: Evitam atividades físicas; dificuldade ao movimentar-se, caindo com facilidade ou apresentando movimentos rígidos.
Sistema vestibular: medo de cair; insegurança em pisos desnivelados; evitam brincadeiras que os pés saiam do chão; dificuldades quanto ao equilíbrio.
As principais implicações funcionais acarretadas por esses padrões serão referentes aos sintomas afetivos (ansiedade/sintomas depressivos); aumento da rigidez comportamental (inflexibilidade), aumento dos comportamentos repetitivos, problemas de socialização, dificuldade quanto a atenção e foco, impactando diretamente no meio acadêmico, respostas exageradas a texturas, gerando recusa a certos tipos de roupas, alimentos, atividades (Andrade, 2020).
TEMA 4 – SOBRECARGA SENSORIAL E BAIXA CARGA SENSORIAL
A sobrecarga sensorial é mais comum em crianças com autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Se caracteriza por apresentar alta sensibilidade ao ambiente em que estão inseridas, o que significa que os seus sentidos podem ser facilmente sobrecarregados (Andrade, 2020).
A informação sensorial pode ter um efeito acumulativo e, desta forma, gerar respostas exageradas à um estímulo como resultado da acumulação dos estímulos recebidos durante o dia e, quando ocorre de maneira inesperada também pode apresentar uma resposta mais exacerbada (Bundy; Lane, 2020).
Como nem sempre é possível controlar os estímulos que estarão presentes, segundo Andrade (2020), por vezes a criança não consegue regular as emoções ocasionadas pela sobrecarga de estímulos aversivos e apresentam comportamentos que se confundem com birra e mau comportamento. No entanto, isto não está sob o controle dela.
De modo geral,a sobrecarga sensorial pode gerar: ansiedade, medo, inquietação, irritabilidade, superexcitação, tensão muscular, aumento da frequência cardíaca, respiração rápida suor extremo, cobrir os ouvidos ou os olhos para bloquear o estímulo, não querer ser tocado ou abordado, comportamentos de automutilação (Caminha, 2008).
Por outro lado, algumas pessoas podem apresentar baixa carga sensorial, o que significa que apresentam uma baixa resposta à entrada sensorial. Por vezes, são chamados de buscadores sensoriais.
A baixa carga sensorial pode causar pobre coordenação motora e pouco equilíbrio; dificuldades em identificar objetos (Caminha, 2008).
Garantir a quantidade certa de entrada sensorial é importante para o bem-estar físico e emocional da uma criança. Pessoas que se enquadram em quaisquer dessas alterações, tendem a ter esgotamentos, ou tornam-se incapazes de se controlarem e apresentarem uma resposta adaptativa adequada ao ambiente (Bundy; Lane, 2020).
Algumas crianças, após a terapia adequada, desenvolvem a autorregulação, que é a capacidade de gerenciar e controlar o comportamento e as reações aos sentimentos, estímulos e situações cotidianas. Cada criança aprenderá sua forma individual de autorregular-se (Nepomuceno, 2019).
A capacidade de autorregular-se, segundo Bundy e Lane (2020), inclui:
· Controlar as emoções e manter a calma em momentos de forte emoção;
· Focar e persistir em uma tarefa;
· Aprender comportamentos que ajudem a se relacionar com outras pessoas;
· Adaptar-se e redirecionar a atenção de acordo com as exigências da situação.
· Controlar seus impulsos.
A autorregulação é fundamental para o ambiente escolar, visto que está relacionado à capacidade de aprendizado, comportamento, socialização e autonomia (Nepomuceno, 2019).
Aprendizado: A autorregulação possibilita que a criança adquira a capacidade de ouvir, manter-se sentada e ter mais atenção na sala de aula.
Comportamento: Com a autorregulação, a criança adquire a capacidade de controlar seus impulsos e comportar-se de maneira adequada para o ambiente escolar.
Socialização: Permite que a criança consiga se relacionar com o educador e os colegas de sala de maneira adequada, interagindo, dividindo brinquedos, aceitando esperar etc.
Autonomia: A criança desenvolve a capacidade de tomar boas decisões sobre seu comportamento, sem precisar de intervenção contínua do educador.
TEMA 5 – FALHAS NO SISTEMA SENSORIAL
Todo ser humano processa os estímulos sensoriais de forma diferente, no entanto, em sua grande maioria, é possível conviver com os desconfortos e encontrar soluções – ainda que adaptativas para estes. Torna-se um Transtorno, ou seja, uma falha, quando essas dificuldades influenciam negativamente nas atividades da rotina do sujeito (Bundy; Lane, 2020).
A aprendizagem e o desenvolvimento da criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) estão ligados a diversos fatores, dentre eles o Transtorno do Processamento Sensorial, que pode prejudicar o aprendizado de crianças com TEA.
A Dr.ª Anna Jean Ayres (1998) descreveu a integração sensorial como a transformação, realizada pelo sistema nervoso central, da informação em ação. Quando o processamento dessas informações sensoriais apresenta alguma falha, ou seja, não ocorrem da forma adequada, a literatura chama de disfunção de integração sensorial (DIS).
De acordo com Bundy e Lane (2020), os padrões existentes, na teoria de integração sensorial trazidos por Ayres são desordem de modulação sensorial e de práxis e, também de acordo com os autores, seguem as descrições de cada um.
Desordem da Modulação Sensorial:
A modulação dos estímulos sensoriais é um processo que envolve a formação reticular, sistema límbico e sistema nervoso autônomo. Tem como principais funções a regulação e memória emocional, regulação de nível de alerta e ativação de respostas ao estresse (Schaaf, et.al., 2013)
Schaaf, at.al. (2013), a modulação é o filtro de estímulos sensoriais, para que o sujeito consiga manter o foco apenas naqueles que são relevantes. Por ser a disfunção que mais impacta visivelmente na rotina da criança, também é a mais conhecida.
Os padrões de disfunção de modulação sensorial são descritos por Bundy e Lane (2020) como:
Defensividade tátil: O principal sistema envolvido é o tátil. Se caracteriza pela sensação de desconforto exacerbado quando experimenta alguns estímulos táteis.
Insegurança gravitacional: O principal sistema envolvido é o vestibular e se caracteriza por um medo acima do esperado de altura.
Intolerância ao movimento: O principal sistema envolvido é o vestibular, que se trata de reações de enjoo, náusea e mal-estar frente à estímulos mínimos de movimentos.
Hiporresposta vestibular: O principal sistema envolvido é o vestibular e são estímulos processados de forma ineficiente. Se caracteriza, principalmente, por dificuldades motoras.
Problemas de práxis (dispraxia)
Práxis é a habilidade de executar tarefa motora incluindo a ideação, o planejamento e a execução. Se caracteriza como uma disfunção, a incapacidade de realizar uma das etapas citadas anteriormente devido à problemas sensoriais, especialmente nas atividades que são novas para a pessoa.
No cotidiano, o indivíduo utiliza constantemente a Práxis para conseguir interagir de maneira eficiente com o ambiente. Os problemas de práxis irão impactar no nível de alerta, nas funções motoras, impactando na independência das atividades de vida diária, na escola, no brincar, dentre outras.
Os padrões de disfunção de práxis também descritos por Bundy e Lane (2020) são:
Somatodispraxia: Os principais sistemas são tátil e proprioceptivo. Se caracterizam por pobre planejamento motor, influenciando no autocuidado, organização, manipulação e uso de objetos e socialização.
Dispraxia ideacional: Os principais sistemas são tátil e proprioceptivo. Envolvem a conceituação do objeto para uma ação e a identificação das etapas necessárias para conclusão do objetivo.
Integração bilateral e sequenciamento – VBIS: Principais sistemas relacionados são vestibular e proprioceptivo. Se caracterizam por uma dificuldade em coordenar o uso adequado dos dois lados do corpo e no desempenho de sequencias motoras.
Para que a aprendizagem ocorra, com a qualidade esperada, além de outros fatores, é preciso harmonizar as informações que chegam ao cérebro e se transformam em respostas adaptativas esperadas. Deste modo, o tratamento das disfunções sensoriais é realizado em ambiente específico, por terapeuta ocupacional capacitado na abordagem de Integração de Ayres. (Nepomuceno, 2019)
Pesquisas identificaram como padrões comuns de problemas de processamento sensorial no TEA a responsividade sensorial, que está relacionado à função cerebelar e é dividida em hiporresponsividade, hiper-responsividade e responsividade flutuante, sendo que esses padrões costumam aparecer com maior frequência nos sistemas: auditivo, tátil e visual (Baranek, 2006).
O impacto desses problemas na modulação se dá especialmente na atenção, motivação, participação social, comportamento, busca excessiva por sensações para obter imput sensorial. Alguns autores também correlacionam que o padrão hiporresponsivo está ligado ao menor funcionamento adaptativo e ao comprometimento severo da comunicação e linguagem, pois se uma criança não é capaz de manter uma homeostase fisiológica em função de problemas de modulação sensorial, lhe sobra muito pouca energia para participar das atividades significativas do cotidiano (Rogers; Ozonoff, 2005).
Deste modo, segundo Serrano (2016), as principais características que podemos identificar nessas crianças com possíveis disfunções, dentro do ambiente escolar são:
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· A criança pode ser impulsiva, desatenta, distraindo-se facilmente;
· Pode haver prejuízo no seu movimento, que pode ser muito agitado ou muito letárgico; descoordenado, caindo e tropeçando com frequência;
· Influenciar a sua capacidade de aprendizagem, devido à atenção que se direciona para estímulos que deveriam ser irrelevantes;
· Dificultar relações sociais, com intençãode evitar estímulos táteis ou outros aversivos;
· Baixo contato visual ou dificuldade em mantê-lo;
· Baixa motivação para se engajar em atividades intencionais.
Para o melhor desempenho das atividades implicadas pelas disfunções sensoriais, é necessário que a criança seja acompanhada por um terapeuta ocupacional com formação em Integração Sensorial de Ayres em conjunto com estratégias sensoriais para a casa e escola desta criança, visando redução de danos na rotina e melhora no desempenho ocupacional.
NA PRÁTICA
Nesta abordagem, foi possível identificar as características de disfunções sensoriais que impactam no comportamento do estudante com TEA.
Agora, para a prática, veremos elencados alguns comportamentos que podem servir como rastreio para que você, educador, identifique sinais de alerta de disfunção sensorial e possa auxiliar a criança, fazendo o devido encaminhamento para o terapeuta ocupacional com capacitação em integração sensorial.
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A criança...
· É agressiva;
· Bate ou empurra colegas quando se aproximam dela;
· Se frusta frente a desafios;
· Não mantem a atenção;
· Evita atividades com tinta, cola, areia;
· É desorganizada com os materiais;
· Apresenta traçado de lápis fraco ou forte demais;
· Tem escrita espelhada e troca letras/números;
· Parece muito insegura/tímida;
· Tem dificuldade para permanecer sentada;
· Cai com facilidade;
· Se mexe excessivamente;
· Evita as aulas de educação física;
· Tem dificuldade em fazer cópia.
Muitas vezes, esses comportamentos estão relacionados com dificuldades de processamento sensorial. O educador, muitas vezes é quem passa a maior parte do tempo com a criança, por isso, é importante estar atento aos comportamentos e auxiliar no encaminhamento para o profissional capacitado.
FINALIZANDO
Nesta abordagem, falamos sobre o sistema sensorial e o autismo, sendo possível conhecer as particularidades do sistema sensorial da criança com TEA, alguns estilos de disfunção, suas manifestações comportamentais e estratégias para auxiliar.
É importante retomar os altos índices de alteração sensorial encontrados em crianças com TEA e a importância de um olhar atento para identificar os comportamentos e os possíveis motivos dos comportamentos apresentados pela criança. Cada comportamento, quer sinalizar/comunicar algo, portanto, a capacitação do educador favorece que a escola seja um ambiente mais acolhedor e afetivo, bem como facilita diagnósticos precoces, contribuindo para resultados satisfatórios e em amenizar possíveis danos no cotidiano do estudante.
Ou seja, o conhecimento irá tornar possível que o educador considere as alterações sensoriais em alunos com TEA, no desenvolvimento das atividades pedagógicas e na sua prática docente, a fim de amenizar os prejuízos por ele causados ​​na aprendizagem.
Crédito: suerz/Shutterstock.
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O MUNDO SENSORIAL DO AUTISMO
AULA 4
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Lilian Wellen S. dos Santos
CONVERSA INICIAL
Sabemos que as primeiras experiências de um bebê são sensoriais; assim, os sentidos têm importância desde o início da vida, pois por meio deles ocorrem as primeiras relações com o mundo. Para que esse bebê se desenvolva, engatinhe e ande, uma quantidade enorme de integração sensorial deve acontecer no seu sistema nervoso central (Momo; Silvestre,2011).
Considerando a relevância dos sentidos na vida das crianças e que 69% a 80% daquelas com transtorno do espectro autista (TEA) apresentam problemas sensoriais, já aprendemos anteriormente sobre o impacto do desenvolvimento do sistema nervoso no desempenho sensorial da criança e nas respostas adaptativas, ou seja, nas respostas ante os estímulos durante as atividades diárias (Serrano, 2016).
Todavia, isso tudo foi visto de um panorama geral, e nesta etapa vamos entender como cada um dos sistemas sensoriais se desenvolvem e quais são seus produtos em cada fase da infância. Ou seja, veremos a descrição deles, alguns conceitos importantes, suas principais funções sob os aspectos do desenvolvimento dos sentidos e as respectivas necessidades para cada faixa etária.
Os sete órgãos dos sentidos são os sistemas tátil, auditivo, visual, gustativo, olfativo, proprioceptivo e vestibular. Esses sentidos se desenvolvem com a idade e com a experiência, principalmente a social (na interação com o outro); ou seja, o bebê não nasce com estratégias prontas de interação com o mundo que o rodeia, mas as desenvolve com o desenvolvimento e integração adequadas dos sentidos (Momo; Silvestre, 2011).
Conforme vimos anteriormente, os sentidos sensoriais são captados por receptores em nosso corpo e interpretados pelo nosso cérebro, dando respostas adaptativas ao ambiente. Esse mecanismo se inicia na vida intrauterina e segue se desenvolvendo até a infância; do mesmo modo que o sistema sensorial se desenvolve, as habilidades da criança também o fazem.
A qualidade da aprendizagem e desenvolvimento das habilidades da criança está diretamente ligado à qualidade do desenvolvimento sensorial dela. A doutora A. Jean Ayres definiu como um dos postulados de sua teoria que a integração sensorial eficiente é a base da aprendizagem. “A aprendizagem, no sentido mais amplo, depende da capacidade de processar e integrar a sensação e usá-la para planejar e organizar o comportamento” (Bundy; Lane, 2020, p. 4).
Para compreender as diferentes experiências sensoriais de autistas, é necessário compreender primeiramente como se dá o processamento sensorial no desenvolvimento típico. Desse modo, falaremos agora de modo mais detalhado sobre o desenvolvimento e os produtos de cada sistema sensorial. No entanto, embora vejamos de modo individual, os produtos (respostas) dependem da integração adequada desses sistemas
Figura 1 – Os sete sentidos
Créditos: Phawkstudio/Shutterstock.
TEMA 1 – TATO
É o primeiro a se desenvolver ainda no útero e fornece informações principalmente por meio da superfície da nossa pele, da cabeça aos pés, sobre a textura, o formato e o tamanho dos objetos no ambiente. Isso nos diz se estamos tocando algo ou sendo tocados e também nos ajuda a distinguir sensações ameaçadoras das não ameaçadoras (Bundy; Lane, 2020).
Alguns receptores táteis, segundo Bundy e Lane (2020), são:
· terminações nervosas livres: receptores de dor;
· discos de Merkel: sensação dos objetos na pele;
· bulbos terminais de Krause: receptor térmico para o frio (onde não há pelos);
· corpúsculos de Ruffini: receptores térmicos para o calor (onde há pelos).
Nos primeiros meses de vida, o desenvolvimento adequado do sistema tátil (em conjunto com os demais) é importante para que seja possível ao bebê: interpretar as sensações e responder ao toque por meio de movimentos reflexos; conseguir pegar nas pessoas e nos objetos, mesmo que ainda não tenha a coordenação olho-mão totalmente consolidada; desenvolver a habilidade de pinça; e, posteriormente, engatinhar e andar.
O sistema tátil detecta qualidades e localização de estímulos externos aplicados à pele. Ele é importante para a regulação do comportamento, alerta, movimentos amplos e refinados e também se responsabiliza tanto por ação quanto por percepção (Schumann, 2004).
Desse modo, com a criança um pouco maior e o sistema já mais desenvolvido, o sistema tátil terá participação no desempenho de atividades como vestir-se, utilizar lápis e tesoura e tarefas manuais de modo geral. Além disso, em conjunto com o sistema proprioceptivo (sistema somatossensorial), o sistema tátil demonstrou estar envolvido na flexão postural, programação de sequências de movimentos complexos, destreza manual refinada e manipulação, representação mental de objetos e atenção seletiva (Schumann, 2004).
Figura 2 – Sistema tátil
Créditos: Nina Puankova/Shutterstock.
De acordo com Ayres (1998), as principais funções do sistema tátil são:
· desenvolvimento de vínculos primários;
· capacidade de exploração;
· função protetora;
· desenvolvimento de esquema corporal;
· destreza para mover o corpo;
· destreza oral, motora e manual;
· relevante na aprendizagem acadêmica;
· segurança emocional;
· relações sociais.
Crianças com disfunção nesse sistema costumam apresentar recusa ao toque, têm dificuldades em permanecer em fila (pelo risco do toque) e em cuidar da higiene pessoal (como escovar dentes e cabelos) e preferem andar descalços. No contexto escolar, as principais dificuldades que podem ser encontradas são as de relacionamento pessoal, atividades que exijam o toque, uso de tinta, tarefas de manipulação e coordenação motora grossa (Bundy; Lane, 2020).
Em sua maioria, crianças com TEA apresentam desejo por chupar e tocar objetos, uso limitado das habilidades manuais e evitação social.
TEMA 2 – VISÃO
Esse sistema é o que apresenta a conclusão do seu desenvolvimento de forma mais tardia, embora se inicie na vida intrauterina. Os receptores sensoriais são ativados pela retina por meio do estímulo de luz, que a leva a enviar input sensorial para centros de processamento visual no tronco encefálico. Este, por sua vez, processa tais impulsos e integra com outros, principalmente vestibulares e proprioceptivos, mas também há integração com informações auditivas (Baranek et al., 2013).
Segundo Dunn (2017), a função do sistema visual depende, em parte, do sistema vestibular, pois as informações vestibulares contribuem para os movimentos oculares compensatórios que mantêm a estabilidade do mundo visual quando a cabeça se movimenta. Em conjunto com os outros sistemas, fornece uma estrutura contextual para a capacidade de prever e antecipar o movimento no tempo e no espaço.
A visão serve a três propósitos principais: aprender sobre objetos e objetos no espaço, manter a postura e informar a respeito de nossa posição no espaço (Posar; Visconti, 2018).
Figura 3 – Sistema visual
Créditos: Nina Puankova/Shutterstock.
De acordo com Ayres (1998), as principais funções do sistema visual são:
· copiar do quadro;
· rastrear objetos no espaço;
· coordenar os movimentos dos olhos com os da cabeça e pescoço;
· oferecer consciência básica sobre o ambiente; orientação espacial;
· entregar informações sobre estímulos distantes;
· realizar funções complexas de comunicação e social.
De modo geral, observam-se como produto da disfunção desse sistema incômodo com algum tipo de luz, dificuldade em subir e descer escadas e evitação de contato visual. Crianças com TEA costumam apresentar como comportamentos a fascinação por se olhar no espelho, hipersensibilidade à luz, dificuldade no contato visual, fácil distração diante de telas, dificuldade em reconhecimento facial; também se atentam demasiadamente a detalhes (Mattos; Cysneiros; D’Antino, 2013).
TEMA 3 – AUDIÇÃO
O sistema auditivo, assim como o visual, também apresenta um desenvolvimento tardio e sua ativação é um processo complexo. Os receptores desse sistema – células ciliadas que compõem o órgão de Corte – estão localizados na orelha interna em uma estrutura membranosa chamada cóclea (Momo; Silvestre, 2011).
O ouvido está localizado próximo dos órgãos vestibulares, compartilhando circulação sanguínea, inervação do oitavo nervo craniano e com mecanorreceptores sensoriais que identificam som, movimento da cabeça e orientação espacial (Baranek et al., 2013).
Figura 4 – Sistema auditivo
Créditos: Nina Puankova/Shutterstock.
As principais funções do sistema auditivo, segundo Ayres (1998), são:
· entregar informações sobreestímulos distantes;
· contribuir com a orientação espacial;
· desenvolver a linguagem;
· promover o equilíbrio.
Crianças com disfunção nesse sistema costumam ter reação negativa a ruídos fortes e sons inesperados, se escondem, ou apresentam comportamentos inadequados ante diversos ruídos (mesmo aqueles que por vezes passariam desapercebidos), se distraem com ruídos de fundo, sentem angústia ou excitação demasiada em ambientes barulhentos ou com muitas pessoas. Podem apresentar também uma agitação motora, pois algumas recebem comando do cérebro para que se movimentem a fim de conseguir escutar e prestar atenção ao que é dito; desse modo, estudos indicam grande correlação de problemas com memória e com aprendizagem das habilidades acadêmicas básicas, com problemas no processamento do input auditivo (Mattos; Cysneiros; D’Antino, 2013; Caminha, 2008).
Crianças com TEA costumam apresentar irritação por estímulos de eletrodomésticos, não respondem quando chamadas pelo nome e produzem constantemente ruídos (com a boca e/ou com os objetos) (Mattos; Cysneiros; D’Antino, 2013).
TEMA 4 – GUSTAÇÃO E OLFATO
Embora a neurociência da gustação (gosto) e do olfato (cheiro) tenham propriedades únicas, funcionalmente esses dois sistemas estão intimamente ligados. Iniciaremos estudando as particularidades do sistema olfativo (Momo; Silvestre, 2011).
Os receptores do sistema olfativo estão localizados no epitélio olfatório – uma camada de células receptoras que revestem o nariz. Esse epitélio é revestido por uma fina camada de muco na qual os odores se dissolvem e se concentram, permitindo-lhes interagir com as células receptoras (Baranek et al., 2013).
 O estímulo olfativo entra pelas narinas, se direciona aos neurônios sensoriais olfativos e em seguida é direcionado para o sistema límbico, que está relacionado com as emoções (Caminha, 2008).
Seu desenvolvimento tem início na vida intrauterina, por volta da vigésima oitava semana, permitindo que muitos odores (e sabores) que a gestante experimente também sejam sentidos pelo feto (Momo; Silvestre, 2011). Considerando sua relação com o sistema límbico, conseguimos explicar o motivo de conseguirmos ter memórias afetivas relacionadas a cheiros. Além disso, o olfato é um componente essencial nas interações sociais, incluindo o reconhecimento de coisas familiares, por exemplo (Caminha, 2008).
Figura 5 – Sistema olfativo
Créditos: Nina Puankova/Shutterstock.
Já o estímulo gustativo é o que permite perceber as sensações causadas por diferentes substâncias na boca. Seu desenvolvimento começa de forma precoce e se torna fundamental já no terceiro trimestre da gestação, quando, segundo estudos, o bebê é capaz de sentir diferentes sabores. No entanto, esse sistema continua a se desenvolver e se alterar durante toda a infância (Baranek et al., 2013).
Segundo Baranek et al. (2013), o paladar é detectado pelas células gustativas, situadas nas papilas gustativas, que estão localizadas em papilas na língua, palato mole, faringe e parte superior do esôfago. A maioria de nós tem entre 2 mil e 5 mil botões de sabores. A concentração do sabor e a qualidade de cada um são codificadas pelas células gustativas, que mapeiam e depois transmitem por vias sensoriais e neurônios para o SNC. É importante ressaltar que o olfato também desempenha um papel na capacidade de detectar sabores.
Figura 6 – Sistema gustativo
Créditos: Nina Puankova/Shutterstock.
As principais funções dos sistemas gustativo e olfativo, de acordo com Ayres (1998), são:
· promover vínculo da criança com seu cuidador;
· proteger contra substâncias nocivas;
· atrair substâncias potencialmente alimentícias;
· influenciar o humor e bem-estar;
· promover qualidade alimentar.
Os sistemas olfativo e gustativo são sistemas quimiorreceptores, ou seja, respondem a produtos químicos em seus ambientes especializados. Juntos, eles exercem uma função protetora e de influenciar o apetite e a escolha de alimentos, como mencionado anteriormente; portanto, os principais desdobramentos decorrentes da disfunção desses sistemas estão na recusa alimentar, cheirar objetos ou alimentos e evitar certas texturas e odores. Nas crianças com TEA são comportamentos comumente presentes, acrescidos da intolerância a certas temperaturas dos alimentos (Momo; Silvestre, 2011; Mattos; Cysneiros; D’Antino, 2013).
TEMA 5 – VESTIBULAR E PROPRIOCEPÇÃO
5.1 SISTEMA VESTIBULAR
Os receptores vestibulares são formados no início do desenvolvimento fetal e correspondem a uma estrutura membranosa localizada na região temporal do crânio, no ouvido interno – próximo do órgão auditivo. Estão funcionando no nascimento e operam de forma contínua e inconsciente no contexto da vida cotidiana. Qualquer posição ou movimento da cabeça ativa esse sistema (Momo; Silvestre, 2011).
Segundo Baranek et al. (2013), nele são desenvolvidos dois tipos de receptores:
· canais semicirculares: detectam o movimento angular da cabeça;
· órgãos otólitos (utrículo e sáculo): detectam o movimento linear e a atração da gravidade.
Figura 7 – Sistema vestibular
Créditos: Nina Puankova/Shutterstock.
Conforme destaca Ayres (1988), as principais funções do sistema vestibular estão relacionadas a:
· alerta;
· controle postural dinâmico e estático;
· equilíbrio e movimentos;
· coordenação bilateral;
· manutenção de um campo visual estável;
· percepção espacial;
· suporte para movimentos coordenados dos olhos e da cabeça;
· ações e planejamentos motores;
· tônus muscular;
· processamento auditivo e de linguagem.
Por meio do sistema vestibular desenvolvemos uma relação com o mundo, sabendo onde é em cima, embaixo, os lados, aqui, ali, horizontal, vertical, se estamos nos movendo ou não etc. (Caminha, 2008).
Por ser um sistema que influencia diretamente o comportamento e a atenção da criança, Ayres comprovou em suas pesquisas que ele pode desempenhar papel importante na aprendizagem das crianças e adolescentes (Bundy; Lane, 2020).
A ineficiência desse sistema sensorial afeta negativamente o nível superior das funções cognitivas necessárias à aprendizagem acadêmica, bem como as capacidades de regulação da excitação, autorregulação das emoções e do comportamento, impactando diretamente a capacidade de aprendizagem. Outros desdobramentos se dão em atividades rotineiras da vida escolar, como uso de tesoura, copiar do quadro, escrever adequadamente na linha e legível, permanecer sentado etc. (Caminha, 2008).
Em crianças com TEA, os principais comportamentos observados na disfunção desse sistema são por meio do girar em seu próprio eixo e bater nas orelhas ou cabeça – buscando estimulação vibratória (Schaaf et al., 2013).
5.2 SISTEMA PROPRIOCEPTIVO
Os receptores desse sistema se encontram nos fusos musculares, receptores mecânicos das cápsulas articulares e nos órgãos tendinosos de Golgi. A informação desse sentido é causada pela contração e alongamento musculares e pela flexão, endireitamento, estiramento e compressão das articulações entre os ossos. As informações proprioceptivas fazem o seguinte trajeto: medula espinhal → tronco encefálico e cerebelo → hemisférios cerebrais (Baranek et al., 2013). A maioria dessas informações é processada em regiões cerebrais que não produzem consciência.
O feedback proprioceptivo surge principalmente de receptores nos músculos, com algumas contribuições feitas por receptores na pele e nas articulações (Momo; Silvestre, 2011). A propriocepção decorrente do movimento ativo auxilia no desenvolvimento do esquema corporal e das ações utilizadas para planejar movimentos complexos. Em contrapartida, o movimento passivo, a compressão articular e a tração articular não produzem o mesmo nível de feedback (Bundy; Lane, 2020).
Figura 8 – Sistema proprioceptivo
Créditos: Nina Puankova/Shutterstock.
As principais funções do sistema proprioceptivo são (Ayres, 1998):
· graduação de força;
· esquema corporal;
· controle motor e planejamento motor;
· aquisição de habilidades motoras;
· estabilidade postural;
· segurança emocional.
O processamento inadequado desse sistema pode ser observado por

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