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Reconhecer o funcionamento dos adicionais integrantes e não integrantes do salário, assim como seus reflexos nos ganhos

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PRIMEIRAS PALAVRAS
Que verbas integram os cálculos para outros direitos trabalhistas? E quais não o fazem? Diversos adicionais analisados neste tema apresentam esta característica: integrar (ou não) a base de cálculo para outros direitos trabalhistas.
Uma gama de adicionais integra a base de cálculo de verbas, como, por exemplo, férias, 1/3 das férias e gratificação natalina. Quando integram as férias, essas verbas têm reflexos nos recolhimentos de FGTS e contribuição previdenciária tanto dos empregados quanto dos empregadores. Quando não as integram, essas verbas também não se refletem em ambos.
Listaremos a seguir as verbas que se refletem nas férias, no 1/3 constitucional de férias e na gratificação natalina:
swap_horiz Arraste para os lados.
Comissões e porcentagens
Gratificações
Abonos
Quebra de caixa
Prêmios
Adicionais salariais
como, por exemplo, horas extras, adicional noturno, adicional de transferência
Adicionais de insalubridade e de periculosidade
As demais verbas que o empregado recebe não estão refletidas nas férias, no 1/3 constitucional de férias e na gratificação natalina. Como são consideradas verbas indenizatórias, elas não fazem parte do salário ou da remuneração do empregado.
Cada verba que compõe o salário do empregado recebe um tratamento. Algumas seguem um padrão comum, incidindo pela média mensal sobre as férias, enquanto outras têm um tratamento diferenciado, não incidindo ou fazendo-o parcialmente.
Esse tratamento será explorado de forma apropriada ao longo deste módulo. Apontaremos nele quais verbas refletem e quais não o fazem.
De antemão, voltamos a frisar que as verbas indenizatórias não provocam reflexos nas férias, no 1/3 constitucional de férias e na gratificação natalina. Demonstraremos a seguir alguns exemplos disso:
swap_horiz Arraste para os lados.
Participação nos Lucros e Resultados (PLR)
Ajuda de custo
Diárias para viagem
Vale-transporte
Salário-família
Seguro-desemprego, bonificação e principal do PIS/PASEP
Stock Option
REFLEXOS DAS DEMAIS VERBAS
Questões sobre as férias
As férias foram uma conquista dos trabalhadores, garantindo-lhes um mês de descanso após doze meses de trabalho. Esse direito passou a fazer parte da vida de todos os empregados que têm sua carteira de trabalho assinada.
Conheceremos agora suas principais características:
Adicional de férias
Além do descanso de um mês com o salário garantido, foi instituído na CF um adicional de 1/3 sobre esse valor (que ganhou o nome popular de 1/3 constitucional). Incorporado pelo artigo 7º, esse valor é considerado uma cláusula pétrea pelos teóricos do Direito Constitucional.
O salário que o empregado faz jus durante seu período de descanso de férias deve ser acrescido de diversas outras verbas e direitos recebidos por ele durante o período aquisitivo.
Período aquisitivo
Lapso de tempo de 12 meses no qual o empregado deve trabalhar para ter seu direito às férias. Os próximos 12 meses após o período aquisitivo são considerados o período de gozo – e ele não pode deixar de ser exercido.
Caso o empregado não usufrua de suas férias no período de um ano após passar a ter o direito, o empregador será obrigado a pagá-las em dobro.
Verbas e valores
Existem diversas verbas que repercutem sobre o valor devido nas férias do empregado. Fora o 1/3 constitucional, os valores que integrarem o salário para todos os fins também integrarão o valor devido como férias remuneradas.
Entre outros tipos, esses valores são constituídos por:
Comissões
Gratificações legais
Gorjetas
Adicionais
No entanto, diversas verbas recebidas pelos empregados não incidem no valor devido nas férias, como, por exemplo, as premiações e outras gratificações determinadas pela CLT e por súmulas do TST.
Conforme atesta a Súmula nº 253 do TST, a “gratificação semestral não repercute no cálculo das horas extras, das férias e do aviso prévio, ainda que indenizados. Repercute, contudo, pelo seu duodécimo na indenização por antiguidade e na gratificação natalina”.
As verbas que repercutirem sobre o valor das férias serão normalmente calculadas com base na média anual daqueles recebidos mensalmente pelo empregado para as verbas variáveis e no valor em vigor quando ele usufruir das férias para valores fixos, como, por exemplo, adicionais por insalubridade e periculosidade.
Essa forma de cálculo:
Garante um equilíbrio na apresentação do valor a ser pago.
Indica uma regra de acúmulo dos valores mês a mês, algo reconhecido pela contabilidade na questão do reconhecimento por competência.
Assegura que os valores reconhecidos a cada mês serão os mesmos reconhecidos por competência pela contabilidade.
Competência
Princípio contábil a indicar que:
Os valores devem ser registrados na data de sua realização, não importando se houve ou não o desembolso financeiro.
A data da realização é aquela em que o fato realmente acontece.
Exemplo
Na compra de um produto, sua data de realização será o dia em que o negócio for fechado independentemente de ter havido algum adiantamento de pagamento ou do parcelamento do valor a ser pago.
Verba salarial
Um exemplo de verba salarial que deve ser paga com as férias é o chamado salário utilidade na modalidade alimentação (vale-alimentação). Por conta disso, tal valor é devido mesmo quando o empregado está gozando as suas férias, não podendo ser interrompido durante esse período.
Gorjetas
Trata-se de outra parcela salarial que deve integrar a base de cálculo das férias, embora ela não se reflita em outras verbas. Neste caso, as gorjetas farão parte da base de cálculo das férias e, por consequência, do 1/3 constitucional e das férias.
Vejamos a interpretação do TST para esse assunto em duas súmulas distintas:
Clique nas barras para ver as informações.
SÚMULA Nº 241, 2003
“O vale para refeição, fornecido por força do contrato de trabalho, tem caráter salarial, integrando a remuneração do empregado, para todos os efeitos legais”.
SÚMULA Nº 354, 2003
“As gorjetas, cobradas pelo empregador na nota de serviço ou oferecidas espontaneamente pelos clientes, integram a remuneração do empregado, não servindo de base de cálculo para as parcelas de aviso-prévio, adicional noturno, horas extras e repouso semanal remunerado”.
Ao tratar do assunto do pagamento das férias quando ele ocorresse em período diferente daquele relativo aos doze meses do (obrigatório) gozo das férias, o TST apontou o seguinte: mesmo que o empregado tenha ficado efetivamente de férias durante esse período, sendo o pagamento executado em um que seja posterior, ele terá direito a recebê-lo em dobro.
A Súmula nº 450 do TST veio dirimir a controvérsia de que bastava o empregado cumprir o tempo de férias no período correto, o que já é suficiente para afastar esse direito (receber em dobro). Com essa regulamentação, ele tem o direito a esse recebimento até no período de gozo das férias.
Questões sobre o 13º salário
A gratificação natalina (ou 13º salário) é uma das verbas que, em geral, recebe diversos reflexos dos adicionais, como, por exemplo, adicional noturno, de periculosidade, de insalubridade e horas extras. Esse reflexo acontece por meio do cálculo da média desses valores durante o ano ou de seu valor quando do usufruto do direito.
Para que esse cálculo seja feito, é preciso que as diversas verbas variáveis sejam controladas de forma segregada dos salários-base e demais direitos do empregado. Verbas como comissões, horas extras e gorjetas precisam ser muito bem acompanhadas e registradas pelo empregador para posterior aplicação e pagamento dos seus reflexos em outras verbas ou indenizações trabalhistas e fiscais.
Deve-se não apenas fazer os cálculos, mas também documentá-los de forma muito precisa, principalmente se isso for feito com a anuência dos funcionários que receberão as verbas, pois eles serão uma prova perante o Tribunal Regional do Trabalho caso o empregado mova ações contra o empregador. Nesses casos, o ônus da prova é sempre do empregador, que precisa provar que procedeu de forma correta e justa em relação aos direitos do empregado.
Uma dessas verbas querecebe um tratamento diferenciado é a contida na Súmula nº 253 do TST. Os desembargadores sumularam que as gratificações semestrais refletiriam sobre as verbas da gratificação de Natal, mesmo que não o fizessem em relação a outras verbas.
A gratificação semestral não repercute no cálculo das horas extras, das férias e do aviso prévio, ainda que indenizados. Repercute, contudo, pelo seu duodécimo na indenização por antiguidade e na gratificação natalina.
(SÚMULA 253, 2003, grifos nossos)
Nas demissões por justa causa, o empregado não terá direito à gratificação de Natal, ao 13º salário e ao proporcional, o que acarreta o não pagamento de forma integral das verbas que incidiriam sobre essa parcela devida na rescisão. Além de deixar de receber o valor da gratificação de Natal, ele não receberá os valores das verbas variáveis que refletiriam sobre esse valor.
Para o cálculo da gratificação natalina devida nas demissões sem justa causa, o empregador tem de dividir o salário devido ao empregado na proporção de 1/12 e multiplicar pelo número de meses transcorrido do período de aquisição. A esse valor deverão ser somados os valores das verbas variáveis que ele receber regularmente na mesma proporção. Para isso, considera-se a média dos meses transcorridos do período aquisitivo até o momento da demissão.
Vejamos no exemplo a seguir como deve ocorrer o cálculo:
Um funcionário é demitido com o período de 10 meses já transcorridos do ano. Seu salário mensal para o período de 40 horas semanais é de R$1.200. Em média, ele recebeu R$600 de comissão pelas vendas. Além desse valor, conseguiu outros R$600 pela função gratificada de supervisor de vendas.
Com essas informações, calcule o valor da gratificação natalina que o empregador deve pagar para o empregado no momento de sua demissão.
Vamos aos cálculos.
Primeiramente, listaremos as informações que temos sobre o empregado que está sendo demitido:
· Salário mensal = 1.200
· Comissões médias nos últimos 10 meses = 600
· Gratificação pela função de supervisor = 600
· Período transcorrido do ano = 10 meses
13º salário sobre a parcela fixa:
Valor devido = (salário mensal/12 meses) x número de meses transcorrido no ano.
Valor devido = (1.200/12) x 10 = 1.000.
O valor fixo devido, portanto, é de R$1.000.
13º salário sobre comissões:
Deve-se fazer a média dos valores pagos nos 10 meses de trabalho durante o ano. No nosso exemplo, essa média já foi calculada: R$600.
Valor devido de comissões = (valor médio de comissões/12) x número de meses transcorrido no ano.
Valor devido de comissões = (600/12) x 10 = 500.
13º sobre gratificação de função:
Como o valor pago é fixo, basta usar o último como base para o cálculo.
Valor devido = (gratificação de função/12) x número de meses transcorrido no ano.
Valor devido = (600/12) x 10 = 500.
Logo, o valor total devido de gratificação natalina no momento da rescisão contratual é este: 1.000 do salário normal + 500 do proporcional das comissões + 500 do proporcional da gratificação de função.
A soma dá um total de R$2.000.
Outros reflexos dos adicionais associados ao salário
Pensando nas demais possibilidades de reflexos sobre a remuneração dos empregados, assim como sobre as verbas e os direitos trabalhistas, podemos começar esta seção nos voltando para as possibilidades de descontos.
Segundo a legislação trabalhista, é vedado qualquer tipo de desconto.
Há exceções apenas nos seguintes casos:
Ocorre um adiantamento salarial: ele normalmente é pago entre o dia 15 e 20 do mês corrente e descontado no pagamento mensal.
Alguma lei autoriza o desconto: no caso de faltas sem justificativa, por exemplo, é permitido o desconto do dia não trabalhado e do DSR.
Um contrato coletivo de trabalho permite o desconto.
A despeito de um desconto ocorrer de forma coletiva ou individual, sua autorização sempre é coletiva.
Segundo a CLT, em caso de dolo, os salários podem ser descontados à revelia do empregado desde que sejam respeitados os limites legais para esse desconto. Já no caso de um dano sem dolo, um acordo entre ele e o empregador é necessário. Anterior ao ocorrido, esse acordo é normalmente selado quando o empregado é contratado ou assume sua função.
Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo. [...] Em caso de dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado.
(BRASIL, 1943, art. 462, § 1º)
Quando os descontos estão atrelados a benefícios fornecidos pela empresa, a regra do artigo 462 da CLT não é infringida. Esse é o tópico tratado pela Súmula nº 342 do TST, que desconsidera uma lista de descontos com tais características.
Clique na barra para ver as informações.
VEJAMOS AGORA O QUE DIZ A SÚMULA Nº 342
Descontos salariais efetuados pelo empregador, com a autorização prévia e por escrito do empregado, para ser integrado em planos de assistência odontológica, médico-hospitalar, de seguro, de previdência privada, ou de entidade cooperativa, cultural ou recreativo-associativa de seus trabalhadores, em seu benefício e de seus dependentes, não afrontam o disposto no art. 462 da CLT, salvo se ficar demonstrada a existência de coação ou de outro defeito que vicie o ato jurídico.
(SÚMULA Nº 342, 2003)
Outra questão que se reflete em todas as verbas pagas pelo empregador é a data em que ele precisa pagar os valores devidos. Segundo o artigo 459, § 1º, da CLT, os empregadores podem pagar os salários mensais até o 5º dia útil do mês subsequente ao de referência. Isso quer dizer que esse dia pode cair até o dia 8 de cada mês, dependendo de feriados e finais de semana que ocorram até o 5º dia dele: “Quando o pagamento houver sido estipulado por mês, deverá ser efetuado, o mais tardar, até o quinto dia útil do mês subsequente ao vencido”.
Os reflexos da habitação, da energia elétrica e dos veículos sobre os salários e demais verbas trabalhistas, quando eles forem considerados um salário “in natura”, serão calculados a partir do seu valor nominal ou da média de mercado no caso da habitação.
Quando esses elementos forem fornecidos como condição para a execução dos trabalhos, eles não serão considerados um salário “in natura”. Pessoas da área costumam utilizar estas duas expressões como forma de identificar quando algum desses benefícios é fornecido com a incorporação ou não do salário “in natura”:
Clique nas informações a seguir.
“Pelo trabalho”
“Para o trabalho”
Toda essa questão é muito importante, pois os benefícios que forem considerados salário “in natura” terão seu valor refletido nas demais verbas trabalhistas, como férias, gratificação natalina, entre outras.
Esse reflexo deve ser acrescido em todas as verbas por:
Valor de fornecimento
(quando representado por um valor fixo)
Sua média nos últimos 12 meses
(quando representada por valores variáveis)
Conforme Súmula nº 367, 2005:
I - A habitação, a energia elétrica e veículo fornecidos pelo empregador ao empregado, quando indispensáveis para a realização do trabalho, não têm natureza salarial, ainda que, no caso de veículo, seja ele utilizado pelo empregado também em atividades particulares. [...]
II - O cigarro não se considera salário utilidade em face de sua nocividade à saúde.
PALAVRAS FINAIS
Para a prática trabalhista, a regra de que ao cidadão é permitido fazer tudo o que a lei não proíbe é muito menos elástica. Afinal, a maior parte dessas rotinas está expressa em alguma lei.
Mesmo para os procedimentos em que não existe uma lei, a maioria está condicionada a alguma súmula do TST ou a algum julgado que traz uma referência de como se deve proceder em tal caso.
Esse excesso de regramento é hoje considerado um impeditivo à contratação de novos funcionários. Por conta disso, diversas reformas vêm sendo propostas – e, algumas, aprovadas – no intuito de flexibilizar um pouco essa relação.
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