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Nasceu em 1935, em Jerusalém. Filho de árabes cristãos, foi educado no Cairo e, mais tarde, em Nova York, onde lecionou literatura na Universidade Columbia. Um dos mais importantes críticos literários e culturais dos Estados Unidos, Said escreveu dezenas de artigos e livros sobre a questão palestina. O autor contribuiu significativamente com os Estudos Pós-Coloniais, especialmente com as obras Orientalismo (1978) e Cultura e Imperialismo (1993). Morreu em 2003. Em sua introdução da obra Orientalismo, Said busca apresentar seus diferentes entendimentos acerca do significado de Orientalismo, todas elas divergentes entre si, mas complementares. (Tese do texto) A primeira designação destacada pelo autor trata-se da acadêmica, onde “orientalismo” designa o trabalho de um pesquisador acadêmico que se preocupe com o oriente. Seguidamente, trata do sentido mais geral, no qual orientalismo é um estilo de pensamento baseado na distinção entre “oriente” e “ocidente”, construída principalmente tendo como base obras literárias e artísticas. A terceira acepção se baseia no sentido histórico e material do orientalismo, na qual o orientalismo é visto como instrumento de “negociação” entre do ocidente para com o oriente, em suma: um instrumento de dominação. Definição mais interessante para a História. Nessa concepção, o orientalismo e a própria ideia de oriente foram criados pelo ocidente. Contudo, destaca Said, isso não quer dizer que o oriente seja determinado por essa construção. (Como isso ocorre é algo que o livro como um todo pretende destacar). Em seguida, Said determina onde o orientalismo surge, principalmente: França e Inglaterra (recorte pela quantidade enorme de autores e obras que discorrem sobre o orientalismo). O que o autor pretende demonstrar é que o orientalismo deriva de uma proximidade particular que se deu entre a Inglaterra e a França no Oriente, apesar de não surgir exclusivamente nestas duas localidades, como os Estados Unidos que, desde a segunda Guerra, têm buscado dominar o oriente. Em seguida, o autor discorre sobre “generalizações” construídas sobre o oriente. No início da primeira delas, temos uma frase que eu particularmente achei muito significativa, especialmente levando em conta que o tema central da aula é a construção da alteridade. O trecho diz: o oriente não é um fato inerte da natureza. Não está meramente lá, assim como o próprio ocidente não está apenas lá. Portanto, assim como o próprio ocidente, o oriente é uma ideia que tem uma história e uma tradição de pensamento, imagística e vocabulário que lhe deram realidade e presença no e para o Ocidente. As duas entidades geográficas, desse modo, apoiam e, em certa medida, refletem uma à outra. Em seguida, Said coloca que é um erro concluir que o Oriente era essencialmente uma ideia, uma criação sem realidade correspondente. O estudo do autor trata não da busca por essa correspondência, mas da consistência do orientalismo e o próprio oriente. A segunda qualificação destaca que as ideias, culturas e histórias não podem ser estudadas fora das relações e configurações de poder. Acreditar que o oriente simplesmente foi criado como que por uma necessidade da imaginação é, nas palavras do autor, agir de má fé. Relação de poder. E dominação, complexa. A terceira qualificação alerta sobre o erro de acreditar que a estrutura na qual se fundamenta o orientalismo é um simples apanhado de mentiras e construções sem fundamento. Afinal, qualquer sistema de ideias que possa permanecer “inalterado” durante um período de tempo tão longo, deve ser mais que uma mera coleção de mentiras. As melhores mentiras são temperadas com uma pitada de verdade. Nesse sentido, Said vê o orientalismo como um sinal do poder europeu-atlântico sobre o oriente. Nessa mesma qualificação, Said traz a ideia de Gramsci de cultura e dominação, hegemonia. Ao finalizar essa parte da argumentação, o autor questiona se o que importa no orientalismo é o grupo geral de ideias atropelando a massa material ou o trabalho muito mais variado produzido pelos escritores individuais. 1 - Distinção entre conhecimento puro e conhecimento político: o autor destaca que, em maior ou menor grau, todo conhecimento tem implicações políticas. Importância política atribuída> interesses econômicos. “Pois, se for verdade que nenhuma produção de conhecimento nas ciências humanas pode jamais ignorar ou negar o envolvimento de seu autor como sujeito humano em suas próprias circunstancias, deve então ser verdade que, para um europeu ou americano que esteja estudando o oriente, não pode haver negação das circunstâncias mais importantes da realidade dele: que chega ao oriente primeiramente como um europeu ou um americano, e depois como indivíduo” (p. 23) Não é um mero tema político de estudos, campo refletido passivamente pela cultura, ampla difusão de textos. O orientalismo, define Said, é uma distribuição de consciência geopolítica, uma série de interesses, acima de tudo, um discurso que não está em relação direta e correspondente ao poder político em si mesmo, mas que antes é produzido e existe em um intercâmbio desigual entre vários tipos de poder. Uma considerável dimensão da moderna cultura político-intelectual, e como tal tem menos a ver com o oriente que com “nosso” mundo. 2 - Questão metodológica. não existe um ponto de partida meramente dado e disponível, para cada projeto devem ser feitos recortes. No caso do orientalismo, a dificuldade se dá em escolher quais textos, autores e períodos são os mais adequados. Escolha do material franco britânico e americano. Desenvolvimentos subsequentes do orientalismo acadêmico e literário, mostrar como todas essas primeiras questões são mais ou menos reproduzidas pelo orientalismo americano pós segunda guerra. Dispositivos metodológicos: localização estratégica (posição ocupada pelo autor) e formação estratégica (como grupos de textos e até gêneros textuais adquirem massa, densidade e poder entre si e depois na cultura). Se deve procurar estilos, figuras de linguagem, cenários, mecanismos narrativos, circunstâncias históricas e sociais, e não correlação com a realidade. O que circula não é verdade, mas representação. O oriente “real” apenas provocou a visão nos escritores. Tarefa mais importante: estudo das alternativas contemporâneas para o orientalismo, que investigue como se podem estudar outras culturas e povos de uma perspectiva literária e não manipulativa. Concepções e tratamentos ocidentais do outro, papel da cultura ocidental no “mundo das nações”. 3 - Dimensão pessoal: como uma criança que cresceu em duas colônias britânicas, teve educação nessas colônias e nos EUA, portanto Said estuda o orientalismo, mas também foi significativamente marcado por esta criação. Tentou manter uma consciência crítica, empregou instrumentos de pesquisa histórica, humanística e cultural. Nunca perdeu de vista a realidade de que foi construído como um oriental. Mas as circunstâncias históricas vem mudando. Com um mundo cada vez mais eletrônico e digital, o oriente fica mais próximo e o mito tende a se esvaziar. Contudo, novas ilusões são criadas, como a dicotomia simplista entre amantes da liberdade de Israel a árabes maus, totalitários e terroristas. Concluindo: O nexo de conhecimento e poder que cria o oriental e o oblitera como ser humano não é exclusivamente uma acadêmica. Said coloca que supõe-se que a literatura e a cultura são, política e até historicamente, inocentes, mas não vê dessa forma. O autor finaliza citando o anti-semitismo e sua relação íntima com o orientalismo e afirmando que, se o texto de um modo geral puder estimular um novo tipo de relação com o oriente, ou mais idealmente eliminar a distinção entre oriente e ocidente, teremos avançado um pouco naquilo que Raymond Williams denomina “desaprendizado”.
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