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Hepatites Virais Relevância: Alta Todos as aulas da Mentoria possuem relevância moderada, alta ou muito alta, baseado na incidência nas provas de residência médica dos últimos 5 anos. Hepatites Virais 3 Doutor, depois que meu fi lho pegou esse amarelão já são 4 pessoas lá em casa com a mesmo problema. O que eu faço? Com toda certeza você já atendeu um paciente no ambulatório, ou mesmo no pronto socorro, com queixa de astenia e icterícia, o famoso amarelão. As hepatites são muito comuns e dentro dessas, as hepatites virais ganham destaque, principalmente nas provas de residência. Diversos aspectos são cobrados pelas bancas, desde padrões sorológicos até características específi cas de cada vírus, portanto vamos ajudá-lo a entender melhor cada uma delas. Vamos nessa! O que você deve saber? Conhecimentos básicos Síndrome colestática ou hepatocelular? Antes de falar especifi camente das hepatites é preciso que você domine alguns conceitos. As hepatites fazem parte de um espectro de doenças, a síndrome ictérica. A icterícia nada mais é que o acúmulo de bilirrubina, produto fi nal da degradação da hemoglobina, seja ela direta (também chamada de conjugada, ou solúvel) ou indireta (também conhecida como não conjugada, ou insolúvel). Quando a icterícia é causada pelo acúmulo de bilirrubina direta, a síndrome pode se manifestar de duas formas principais: hepatocelular (intra-hepática) e colestática (extra-hepática). A síndrome colestática é caracterizada pela obstrução da via biliar, enquanto a síndrome hepatocelular é caracterizada pelo sofrimento e destruição do hepatócito. Como o intuito desta aula é falar um pouco mais sobre as hepatites virais, principal etiologia das síndromes hepatocelulares, vamos nos concentrar neste cenário. Causas de Hiperbilirrubinemia Produção Hemólise Conjugação S. Gilbert Neonatal Sépsis Excreção Intra-hepática: vírus, drogas, sépsis, tóxicos, auto-imune Extra-hepática: cálculos, neoplasias, estenoses Captação Drogas Sépsis Hepatites Virais 4 A síndrome hepatocelular Quando avaliamos o perfi l laboratorial do paciente com lesão hepatocelular podemos observar o predomínio das enzimas hepáticas AST e ALT, essa última mais específi ca do fígado. Em casos agudos, as transaminases podem atingir até 10x os valores normais. Na investigação etiológica da condição, as sorologias são a principal arma. Apesar de existirem diversas formas de hepatite, como a autoimune e a alcoólica, vamos nos concentrar nas virais, deixando as demais para uma outra discussão. Hepatites virais Conhecimentos básicos Quando falamos sobre temporalidade, as hepatites podem ser divididas em agudas e crônicas, sendo 6 meses o corte para considerar um quadro como crônico. Dentro das hepatites virais, a hepatite C e a Hepatite B são as que têm maiores chances de cronifi cação. Alguns casos de hepatite podem evoluir de forma assustadoramente rápida, evoluindo com encefalopatia em < 8 semanas, o que caracteriza os quadros fulminantes. Eles acontecem por uma resposta exagerada do hospedeiro, além do necessário, que culmina em dano celular intenso. Dentre as hepatites virais, a hepatite B é a que têm maiores chances de evoluir com um quadro fulminante na população geral. Já nas grávidas, a hepatite E também está relacionada a quadros fulminantes. Manifestações clínicas A manifestação básica das hepatites é trifásica. A primeira delas é a fase prodrômica de febre, desconforto abdominal em hipocôndrio direito e sintomas gastrointestinais. A seguir o paciente desenvolve uma fase ictérica, com acolia (fezes esbranquiçadas) e colúria (urina escura), que pode estar ausente em alguns casos. Por fi m, o paciente chega em um período de resolução da doença, conhecido como fase de convalescência. Hepatites Virais 5 Laboratório O laboratório das hepatites virais é clássico, com aumento de ALT e AST, sendo o predomínio da primeira, aumento de bilirrubina direta e linfocitose. A biópsia hepática não é necessária para diagnóstico na maioria dos casos, mas se fosse realizada evidenciaria um infi ltrado linfocítico com corpúsculos de Councilman (ilustrados na imagem abaixo, na ponta das setas) e necrose em “saca-bocado” ou em ponte. Tratamento O tratamento das hepatites virais é baseado em suporte, com repouso relativo e aumento de ingestão calórica. A terapia específi ca fi ca reservada para os casos graves de hepatite B aguda e nos casos de hepatite C. Nos quadros de Hepatite B crônica por mutação pré-core ou em indivíduos com HBeAg positivo e >30 anos e/ou transaminases aumentadas em mais que 2x, o tratamento também está indicado. Vale lembrar que as hepatites A e B possuem possuem profi laxia primária, estando contidas no calendário nacional de vacinação. Tipos de Hepatite Viral Agora que você já possui os conhecimentos básicos sobre a síndrome hepatocelular, podemos falar um pouco mais sobre cada um dos tipos de hepatite viral. Vamos seguir a ordem alfabética, começando pela hepatite A. Hepatites Virais 6 Hepatite A Em nosso meio, a hepatite A é a mais comum em crianças. Devido a transmissão predominantemente fecal-oral, esta condição está associada à pobreza e falta de saneamento básico, sendo prevalente em países subdesenvolvidos. Com um período de incubação que dura entre 15-45 dias, a hepatite A é caracterizada pela presença do marcador sorológico Anti-HAV, com sua parcela aguda (IgM) e crônica (IgG), esse último permanecendo como cicatriz sorológica. O quadro clínico varia desde a forma assintomática, até a forma colestática, no qual o padrão clínico laboratorial é parecido com aqueles identifi cados na obstrução das vias biliares. Esta condição difi cilmente evolui para a forma fulminante e não há cronifi cação. O isolamento dos indivíduos deve ser realizado por até 7-14 dias após o surgimento da icterícia. A profi laxia primária é realizada pela vacinação em dose única aos 15 meses, conforme consta no calendário vacinal nacional. A profi laxia pós-exposição, indicada para os contactantes íntimos pode ser feita até 14 dias do contato, com imunoglobulina nos <1ano e/ou imunodeprimidos e apenas vacina nos >1 anos e imunocompetentes. A HAV Picornavírus RNA Fecal-oral 15-45 HAV Ag IgM anti-VHA Não Sim HBV Hepadnavírus DNA Parenteral Sexual 30 -180 HBsAg HBeAg HBcAg IgM anti-HBc HBsAg VHB DNA Sim Sim HCV Flavivírus RNA Parenteral Esporádica 15 - 150 HCV Ag Anti-VHC VHC RNA Sim Não HDV Satélite (viróide) RNA Parenteral Sexual 30 - 180 HDV Ag IgM anti VHD Sim Sim (Hep. B) HEV Calicivírus RNA Fecal-oral 15 - 60 HEV Ag IgM anti VHE Não Não Vírus Família Genoma Transmição Incubação (dias) Antígenos Diagnóstico Forma Crônica Vacina B C D E Hepatites Virais 7 Hepatite B Aspectos gerais Com um período de incubação que pode varias de 30-180 dias, a hepatite B é a mais comum em adultos e a mais associada à forma fulminante, podendo também cronifi car, principalmente em recém-natos. De transmissão predominantemente sexual, o HBV é o único DNA vírus dentre aqueles que causam hepatite e também pode ser transmitido de forma vertical e percutânea. Sem sombra de dúvidas a interpretação do painel sorológico da hepatite B é o tema mais cobrado pelas bancas quando o assunto é hepatite, sendo um dos conceitos mais importantes dentro da síndrome ictérica. Devido sua importância, teremos um tópico específi co para isto logo abaixo. Voltando ao cenário geral da hepatite B, quando falamos de manifestações clínicas estas podem ser divididas em hepáticas e extra-hepáticas. A minoria dos casos desenvolve a forma clássica ictérica, e por isso o risco de cronifi cação. Dentre as manifestações extra-hepáticas mais comuns podemos citar a poliarterite nodosa (PAN), a acrodermatite papular e a glomerulonefrite membranosa. Vale lembrar que na Hepatite B a evolução para hepatocarcinoma pode ocorrer sem que a doença passe pelo estágio de cirrose. O tratamento específi co fi ca reservadopara os casos fulminantes, nos quais, além de um suporte intensivo, o uso de algum dos antivirais disponíveis (tenofovir, entecavir) está indicado Painel sorológico Com toda certeza a parte mais cobrada nas provas de residência quando o assunto é hepatites virais é a sorologia da hepatite B. Mas como saber interpretar o painel sorológico de um indivíduo? Simples! Basta seguir nossas dicas. Com elas você será capaz de acertar qualquer questão. A primeira coisa a fazer é observar o HBsAg, ou seja, o antígeno da hepatite. Se o HbsAg é positivo, o indivíduo tem hepatite, mas não sabemos se ela é crônica ou aguda. Portanto, passamos à próxima etapa. O segundo passo, quando o HBsAg é positivo é avaliar o anti-HBc, antígeno nuclear do vírus. Se a fração IgM do anti-HBc é positiva podemos afi rmar que o indivíduo tem hepatite B aguda. Se a fração IgM é negativa e a fração IgG é positiva ele tem hepatite B crônica. Quando o HbsAg é negativo não é possível confi rmar se ele teve ou não hepatite. Para sanar esta dúvida devemos avaliar o anti-HBc e o anti-HBs. O anti-HBs surge sempre que o indivíduo teve contato com o vírus da Hepatite B, seja por vacinação ou infecção. Já o anti-HBc só é positivo se o paciente foi infectado. Portanto, se o anti-HBc total (IgM+IgG) é negativo e o anti-HBs é positivo quer dizer que o indivíduo foi vacinado. Por outro lado, se o anti-HBc total, ou apenas sua fração IgG, é positivo, e o anti-HBs também é positivo, o indivíduo teve hepatite mas se curou. Mas este conhecimento não é sufi ciente para acertar todas as questões. Você também precisa conhecer o conceito de mutação pré-core. Além do aumento da carga viral, outro sinal de atividade da doença e replicação viral é o marcador sorológico HBeAg. Já o anti-HBe é o marcador de remissão da doença. Hepatites Virais 8 Existem casos de Hepatite B em que apesar de ocorrer intensa replicação viral, a sorologia traduz falsamente uma fase de remissão da doença. Nestes casos observamos um paciente com padrão claro de atividade de doença (transaminases elevadas, HBsAg positivo) mas com HBeAg negativo e anti-HBe positivo. Este é o perfi l do paciente com mutação pré-core. Nestes casos, para confi rmar a atividade de doença, devemos dosar o DNA-HBV (carga viral), o qual estará elevado. Acha que estamos exagerando quando dizemos que este tópico chove nas provas de residência médica, veja o que pergunta a banca: (SMS-SP de 2020) Mulher, 36 anos, procedente de Belém-PA, admitida na UTI por quadro de hepatite fulminante pelo vírus da hepatite B, com indicação de transplante hepático. Tem antecedente de hepatite C tratada com resposta virológica sustentada (cura). Assinale a alternativa que melhor refl ete seu estado sorológico atual. (A) HBsAg (+), anti-HBc total (+), anti-HBc IgM (+), anti-HBs (-), Anti-HCV (+) (B) HBsAg (+), anti-HBc total (+), anti-HBc IgM (-), anti-HBs (-), Anti-HCV (-) (C) HBsAg (+), anti-HBc total (+), anti-HBc IgM (+), anti-HBs (-), Anti-HCV (-) (D) HBsAg (-), anti-HBc total (+), anti-HBc IgM (-), anti-HBs (+), Anti-HCV (+) (E) HBsAg (+), anti-HBc total (+), anti-HBc IgM (-), anti-HBs (+), Anti-HCV (+) CCQ (Conteúdo chave da questão) Conhecer o painel sorológico da Hepatite B Esse CCQ é importantíssimo para os concursos de residência! Principalmente os testes sorológicos da Hepatite B precisam ser conhecidos e interpretados para interpretação do momento da evolução da doença em que o paciente se encontra. Aqui, temos uma paciente que HBsAg + - - - + + + + - - - - - + + + + - + + + + - - - - - - - + - - + + - Interpretação Infecção Aguda HBV com recuperação Infecção antiga, oculta, janela imune ou falso-positivo Vacinação prévia Portador crônico inativo Mutantes pré-core ou core-promater HBV ativa (perfil clássico) HBeAg Anti-HBc Anti-HBc IgM Anti-HBe - + - + - - - Anti-HBs Aumentado Normal Normal Normal Normal Normal ou aumentada Normal ou Aumentada ALT Alta Não detectado Não detectado Não detectado <200 ≥2000 ≥2000 DNA-HBV (UI/mL) Hepatites Virais 9 já teve hepatite C, logo, o Anti-HCV vai ser positivo (ainda que se tenha uma resposta virológica sustentada= cura)! Quanto à hepatite B, a paciente teve um quadro fulminante, assim trata-se da forma aguda da doença: HBsAg positivo, Anti-HBc total positivo, Anti-HBc IgM positivo e Anti-HBs negativo. Portanto, gabarito letra A. Profi laxia Na Hepatite B a profi laxia primária é realizada por meio da vacinação (ao nascer, 2, 4 e 6 meses de idade) estando incluída no calendário de vacinação nacional. A profi laxia pós-exposição envolve o uso de imunoglobulina e vacina e está indicada naqueles não vacinados após exposição ao vírus. Sem sombra de dúvidas o quadro mais importante de profi laxia pós-exposição nas provas de residência médica é sem dúvidas a prevenção da infecção perinatal da Hepatite B. A profi laxia em fi lhos de mulheres HBsAg positivas deve ser realizada nas primeiras 12 horas de vida, seja qual for o peso e idade gestacional. A vacina e a imunoglobulina devem ser feitas simultaneamente. Esta prática é extremamente importante, visto que a cronifi cação da infecção pelo vírus B chega a quase 90% em recém-natos, contra cerca de 2% em adultos. Vale lembrar que se a mãe é HbeAg positivo, a passagem transplacentária do vírus é muito mais provável. Hepatite C Na hepatite C a principal forma de transmissão é a parenteral. Com um período de incubação que varia entre 15-150 dias, na maioria das vezes o quadro é assintomático, manifestando-se raramente com icterícia ou de forma fulminante. O diagnóstico envolve a realização do anti-HCV, que se positivo, deve sempre ser complementado pelo HCV RNA, já que este é um RNA vírus. Este último serve para afastar os casos falso-positivos e também diferenciar, por exemplo, a hepatite C da hepatite autoimune tipo 2, já que alguns indivíduos com hepatite C podem apresentar anticorpo anti-LKM1 positivo e pacientes com hepatite autoimune podem apresentar anti-HCV positivo. A grande complicação da hepatite C é, sem sombra de dúvidas, a cronifi cação, chegando a até 80% dos casos. Portanto, como já foi dito, todos os quadros agudos identifi cados devem ser tratados para tentar evitar a cronifi cação, a evolução para cirrose e o surgimento do hepatocarcinoma, mais comum neste subtipo. Entre as manifestações extra-hepáticas mais clássicas da Hepatite C estão a crioglobulinemia, o líquen plano e a glomerulonefrite membranoproliferativa. O tratamento dos casos crônicos evoluiu muito ao longo dos anos. Os tratamentos com diversos efeitos colaterais e baixas taxas de efi cácia deram lugar a drogas modernas, com poucos efeitos colaterais e taxas de cura de quase 90%. Entre os fármacos utilizados estão a ribavirina, o daclatasvir e o sofosbuvir, entre os outros, sendo a escolha do esquema dependente do genótipo do vírus. Quer ver como as provas costumam cobrar o conceito da confi rmação diagnóstica na Hepatite C? Veja esta questão do concurso: Hepatites Virais 10 (USP-RP - 2019) Homem, 46 anos, assintomático, comparece em UBS buscando orientações para os resultados de exames abaixo realizados após doação de sangue. Exames laboratoriais: HBsAg = não reagente; anti-HBc IgG = reagente; anti-HBsAg = reagente; anti-HCV = reagente; AST = 18 U/L; ALT = 25 U/L. Qual é a conduta mais adequada? (A) Indicar biópsia hepática. (B) Solicitar RNA-HCV. (C) Solicitar HBV-DNA. (D) Repetir os exames em 6 meses. CCQ (Conteúdo chave da questão) Sempre solicitar RNA-HCV para confi rmação do diagnóstico de Hepatite C. Diante de um resultado anti-HCV reagente podemos inferir que o paciente teve contato com o vírus da Hepatite C, o que pode resultar em CURA ou CRONIFICAÇÃO. Para fazer essa diferenciação precisamos de um outro exame, que é o teste molecular de pesquisa do RNA do vírus da hepatite C, o que faz da alternativa B nosso gabarito. Hepatite D Não temos muito a falar sobrea Hepatite D. O que você precisa saber é que ela ocorre apenas em pacientes com o vírus B, ou seja, HBsAg positivos. Existem dois conceitos importantes, as coinfecção, quando Hepatite B e Hepatite D são adquiridas de forma aguda, e a superinfecção, quando pacientes com Hepatite B crônica são infectados pela Hepatite D. A coinfecção não aumenta o risco de cronifi cação da hepatite B, mas a superinfecção aumenta absurdamente a chance de hepatite B fulminante. Para diferenciar laboratorialmente as duas formas, devemos avaliar o anti-HBc. Se o anti-HBc IgG vier positivo, trata-se de superinfecção. Se o anti-HBc IgM vier positivo trata-se de coinfecção. Vale lembrar que alguns casos de hepatite D podem manifestar a anticorpo anti-LKM3 e que a Hepatite D é a principal causa de cirrose hepática em crianças e adultos jovens na região amazônica do Brasil. Hepatites Virais 11 Hepatite E Quanto à hepatite E você deve saber apenas que seu quadro clínico é igual ao da hepatite A, mas como falamos anteriormente, o vírus pode causar hepatite fulminante em grávidas. #JJTop3 Conhecer o painel sorológico da hepatite B e hepatite C. Conhecer os conceitos de superinfecção e coinfecção. Saber as principais características de cada tipo de hepatite viral. equipe@jjmentoria.com.br jjmentoria www.jjmentoria.com.br
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