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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Biociências Bacharelado em Ciências Biológicas ELIS BRISA DOS SANTOS Papel do sistema Nociceptina/Orfanina FQ – receptor NOP no processamento da memória de reconhecimento de objetos Natal 2023 ELIS BRISA DOS SANTOS Papel do sistema Nociceptina/Orfanina FQ – receptor NOP no processamento da memória de reconhecimento de objetos Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Biológicas, do Centro de Biociências (CB) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Ciências Biológicas. Orientadora: Profª Dra. Janine Inez Rossato Natal, 2023 Esta obra está licenciada com uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. Permite que outros distribuam, remixem, adaptem e desenvolvam seu trabalho, mesmo comercialmente, desde que creditem a você pela criação original. Link dessa licença: creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - Centro de Biociências - CB Santos, Elis Brisa dos. Papel do sistema Nociceptina/Orfanina FQ - receptor NOP no processamento da memória de reconhecimento de objetos / Elis Brisa dos Santos. - Natal, 2023. 45 f.: il. Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Graduação em Ciências Biológicas. Natal,RN, 2023. Orientação: Profa. Dra. Janine Inez Rossato. 1. Receptor NOP - Monografia. 2. N/OFQ - Monografia. 3. Hipocampo - Monografia. 4. Codificação da memória - Monografia. 5. Consolidação - Monografia. I. Rossato, Janine Inez. II. Título. RN/UF/BSCB CDU 577.175.8 Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351 Papel do sistema Nociceptina/Orfanina FQ – receptor NOP no processamento da memória de reconhecimento de objetos ELIS BRISA DOS SANTOS Apresentada em 14 de dezembro de 2023. BANCA EXAMINADORA ____________________________________________ Profª. Drª. Andressa Radiske - Membro Externo Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra - ISD ____________________________________________ Profª. Drª. Elaine Cristina Gavioli - Membro Interno Departamento de Biofísica e Farmacologia - UFRN ____________________________________________ Profª. Drª. Janine Inez Rossato - Orientadora Departamento de Fisiologia e Comportamento - UFRN AGRADECIMENTOS Aqui, neste trabalho, está a conclusão de mais uma etapa da minha vida. Finalizar uma segunda graduação, tendo passado por uma pandemia mundial, com o Brasil em meio a uma crise governamental e econômica, ao mesmo tempo que faço um doutorado e enfrento tantas coisas em minha vida pessoal e profissional… Só me fazem ser imensamente grata ao Pai Celestial, o Grande Arquiteto do Universo, que me deu forças e ferramentas para enfrentar cada passo de toda essa jornada. Meu primeiro agradecimento só poderia ser esse, sem mais. Reconheço que absolutamente nada disso seria possível sem que meus pais, Andréa e Francisco, estivessem onde sempre estão, me amparando e sendo meu suporte emocional em tantos momentos, devo tudo o que sou e tudo o que eu conquisto a vocês. Aos meus irmãos Sol e Mar também, mesmo quando longe ou quando perto, tudo que aprendi com vocês fez e faz a diferença. Meu avô José Fernandes, apresentei esse trabalho no dia do seu aniversário, então esse trabalho eu dedico à você. Tenho em vocês, família, todo o amor que existe dentro de mim, deixo aqui expresso que vencemos, essa conquista é plural e é de vocês também. Aos meus grandes amigos de todos os momentos, Andressa, Ana, Gustavo e Dêverton, vocês foram essenciais para que eu nunca desistisse e tivesse forças, dia após dia. Aos meus demais amigos e familiares que fizeram a diferença, em especial Renata, André, João, Carine, Gênedy, Caio, Annara, Joseph, Davi, Camila, Jhones, Marcel e Joel, e as crianças que estiveram presentes nesse período, Nico e Zazá. Agradeço profundamente à Janine, a melhor orientadora e profissional que já tive o prazer em conhecer. Obrigada por topar fazer comigo esse TCC, mesmo eu sendo tão “enrolada” às vezes, haha. Agradeço às profissionais incríveis da minha banca, Andressa e Elaine, por todos os comentários e ajuda na arguição deste trabalho. Agradeço a todos do Laboratório de Pesquisa da Memória, aos membros atuais e anteriores, Martín, Lia, Andressa, Caro, Gênedy, João, Johseph, Raquel, Carla, Samuel, Gustavo, Luizi, Lívia, Rodrigo, Líginy, Marina, Vitória e Gabi. Agradeço ao Instituto do Cérebro e Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pelo espaço e infraestrutura para o desenvolvimento das atividades deste trabalho, e pelo espaço de formação e desenvolvimento profissional. Por último e não menos importante, agradeço também ao CNPq, pelo financiamento de insumos ao laboratório no qual esse estudo foi realizado. Si hortum in bibliotheca habes deerit nihil Cícero (106-43 a.C.) RESUMO A nociceptina/orfanina FQ (N/OFQ) é um peptídeo endógeno de 17 aminoácidos relacionado aos peptídeos opióides, mas que possui seu próprio receptor, NOP. Em sua via canônica, a atividade do receptor NOP medeia abertura e fechamento de canais iônicos que induzem a inibição da atividade neural e, por estar amplamente distribuídos no SNC, sendo particularmente abundantes em áreas corticais e límbicas (hipocampo, giro denteado, áreas septais e amígdala), sugere-se que esse receptor esteja diretamente associado ao processamento cognitivo complexo. De fato, o sistema N/OFQ - NOP é capaz de modular o processamento nociceptivo, de aprendizado, do estado emocional, do controle neuroendócrino, da ingestão de alimentos, do controle motor e das vias de recompensa e prazer. Trabalhos anteriores demonstraram que o receptor NOP participa da formação de diversas memórias, como as aversivas e espaciais, porém pouco se sabe de sua participação nas memórias de reconhecimento. O objetivo central deste trabalho é avaliar o papel do sistema N/OFQ - NOP hipocampal nas diferentes fases do processamento da memória de reconhecimento de objetos, utilizando ratos como modelos experimentais. Como principais achados, verificamos que a ativação dos receptores NOP hipocampais antes da sessão de treino, prejudica a formação da memória de reconhecimento, porém quando administrada imediatamente após o treino esse efeito amnésico não é observado, mostrando que esse receptor tem papel na formação do engrama mnemônico, porém não na sua estabilização a longo prazo. Para garantir que esse efeito não ocorreu em detrimento de fatores inespecíficos, verificamos que as diferentes doses utilizadas nesse estudo não foram capazes de modificar o comportamento exploratório e ambulatório dos animais, tampouco modificou estados relacionados à ansiedade nos animais experimentais. Esses achados representam avanços no entendimento da ação do receptor NOP na região do hipocampo e abre caminho para que novos estudos envolvendo sua ação em outros processos cognitivos sejam realizados. Palavras-chave: Receptor NOP; N/OFQ; Hipocampo; Codificação de memórias; Consolidação. ABSTRACT Nociceptin/orphanin FQ (N/OFQ) is an endogenous peptide, made of 17 amino acids, related to the opioid peptides, but having its own receptor, NOP. In its canonical pathway, the activity of the NOP receptor mediates the opening and closing of ion channels that induce the inhibition of neural activity and, because it is widely distributed in the CNS, being particularly abundant in cortical and limbic areas (hippocampus, dentate gyrus, septal areas and amygdala), it is suggested that this receptor is directly associated with complex cognitive processing. Indeed, the N/OFQ - NOP system can modulate nociceptive processing, learning, emotional states, neuroendocrine control, food intake, motor control,and reward and pleasure pathways. Previous studies have demonstrated the involvement of the NOP receptor in the formation of various memories, including aversive and spatial memories, but little is known about its role in recognition memory. The main objective of this study is to evaluate the role of the hippocampal N/OFQ - NOP system in different phases of object recognition memory processing, using rats as experimental models. As primary findings, we observed that the activation of hippocampal NOP receptors before the training session, using different doses of the endogenous ligand N/OFQ, impairs the formation of recognition memory. However, when administered immediately after training, this amnestic effect is not observed, indicating that this receptor plays a role in the formation of the mnemonic engram but not in its long-term stabilization. To ensure that this effect did not occur due to nonspecific factors, we confirmed that the different doses used in this study did not alter the exploratory and ambulatory behavior of the animals, nor did they induce anxiety-related states in the experimental animals. These findings contribute to advancing the understanding of the NOP receptor's action in the hippocampal region and pave the way for further studies involving its role in other cognitive processes. Keywords: NOP receptor; N/OFQ; Hippocampus; Memory encoding; Consolidation. LISTA DE FIGURAS E TABELAS Figura 1.2.1: Modelagem molecular do complexo N/OFQ-NOP 14 Figura 1.2.2: Resumo da sinalização do receptor NOP 15 Figura 5.1.1: Ação da ativação do receptor NOP utilizando a N-OFQ antes do treino 26 Figura 5.1.2: Análise do comportamento ambulatório dos animais que receberam veículo ou diferentes doses de N/OFQ antes do treino 27 Tabela 5.1: Exploração em segundos durante a sessão de treino para o experimento com administração farmacológica pré-treino 27 Tabela 5.2: Exploração em segundos durante a sessão de treino para o experimento com administração farmacológica pós-treino 30 Figura 5.2.1: Ação da ativação do receptor NOP utilizando a N-OFQ depois do treino 31 Figura 5.2.2: Análise do comportamento ambulatório dos animais que receberam veículo ou diferentes doses de N/OFQ depois do treino 32 Figura 5.3: Atividade exploratória e ambulatória espontânea 33 Tabela 5.3: Atividade exploratória e ambulatória espontânea 34 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 1.1 A memória de reconhecimento e o hipocampo 11 1.2 O Sistema Nociceptina/Orfanina FQ – Receptor NOP 13 1.3 O Sistema N/OFQ – NOP e memória 17 2. JUSTIFICATIVA 18 3 OBJETIVOS 19 3.1 Objetivo central 19 3.2 Objetivos específicos 19 4 MATERIAIS E MÉTODOS 20 4.1 Animais experimentais 20 4.2 Procedimentos cirúrgicos 20 4.3 Procedimentos comportamentais: 21 4.3.1 Tarefa de reconhecimento de objeto novo (TRON) 21 4.3.2 Tarefa do campo aberto 22 4.4 Infusão de drogas 22 4.5 Análise estatística dos dados 23 5 RESULTADOS 24 5.1 A ativação do receptor NOP hipocampal, com o peptídeo N/OFQ, afeta a codificação da memória de reconhecimento de objetos 24 5.2 A ativação do receptor NOP hipocampal, com o peptídeo N/OFQ, não afeta a consolidação da memória de reconhecimento de objetos 28 5.3 A ativação do receptor NOP hipocampal, com o peptídeo N/OFQ, não afeta a atividade exploratória e ambulatória espontânea no campo aberto 32 6 DISCUSSÕES 35 7 CONCLUSÕES 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38 11 1 INTRODUÇÃO 1.1 A memória de reconhecimento e o hipocampo Numa perspectiva evolucionista, as memórias são criadas de modo que possamos armazenar informações relevantes sobre o ambiente que estamos inseridos. Tê-las nos permite uma análise aprofundada das situações, a partir desses conhecimentos prévios, para que possamos direcionar o nosso comportamento de forma assertiva, favorecendo a sobrevivência dos indivíduos e a reprodução. Entretanto, nem todas as memórias são iguais. Elas podem ser relacionadas ao aprendizado motor, de procedimentos, de localização espacial, ou mesmo sobre nossa capacidade de reter conhecimentos e lembrar acontecimentos passados; podendo durar poucos segundos ou permanecer por vários dias ou anos, sendo portanto classificadas em diferentes categorias (Squire e Kandel, 2003). As memórias que podem ser acessadas de forma consciente e verbalizadas são chamadas de memórias declarativas, ou explícitas, enquanto as que não o são podem ser chamadas implícitas, ou não-declarativas (Bear et al., 2015). Nas memórias declarativas baseia-se nosso conhecimento acerca do mundo, e são elas as que definem a maneira como interagimos com outros indivíduos e com os diferentes componentes ambientais que nos rodeiam (Prado et al., 2007; Prado et al., 2008). A memória de reconhecimento é um componente central das memórias declarativas, elas permitem discriminar características, elementos, situações e/ou artefatos familiares e novos, uma capacidade obviamente significativa no que diz respeito à sobrevivência (Wan et al., 1999). Mas como essas memórias são armazenadas? Diversos estudos neurocientíficos vêm demonstrando a existência de diferentes substratos físicos que sustentam os engramas, em especial as alterações na eficiência da transmissão sináptica de diferentes populações neuronais em diferentes regiões cerebrais, permitindo o armazenamento dos diferentes tipos de memória (Ramon y Cajal, 1899; Morris et al., 1949; Goelet et al., 1986; Martin et al., 2000; Dayan e Abbott, 2001). Em outras palavras, cada tipo de memória possui diferentes marcos anatômicos, eletrofisiológicos e bioquímicos (Stangor e Walinga, 2014). A codificação e o 12 armazenamento inicial de uma memória são seguidos pelo processo de consolidação permitindo que os traços mnemônicos se tornem estabilizados (Muller e Pilzecker, 1900; McGaugh, 1966). Para estar disponível como memória de longo prazo, as informações precisam passar por três estágios de processamento, precisando ser codificadas, armazenadas para depois poderem ser evocadas no momento oportuno (Melton, 1963). A codificação refere-se à experiência inicial de perceber e adquirir a informação. Em geral, a codificação é seletiva e está relacionada com a relevância do fato a ser recordado, estando diretamente relacionada com mecanismos atencionais (Hunt, 2003). O armazenamento/consolidação é entendido como a manutenção das informações ao longo do tempo. As experiências criam rastros de memória, ou engramas, que são como impressões produzidas por alterações morfofuncionais no sistema nervoso (Tulving e Bower, 1975). Já a recuperação, ou evocação das memórias, é a etapa no qual a informação armazenada é acessada, sendo este o processo chave da memória (Tulving e Bower, 1975). Análises neuropsicológicas de pacientes amnésicos e experimentos com lesões cerebrais em animais indicam que a integridade do lobo temporal medial, em particular do hipocampo, é essencial para adquirir, manter e expressar as memórias de reconhecimento (Alvarez et al., 1995; Meunier et al., 1996; Scoville e Milner, 1957). Em concordância com esses achados, estudos farmacológicos demonstraram que a consolidação da memória de reconhecimento requer síntese protéica e atividade de diferentes cascatas de sinalização em diferentes estruturas do lobo temporal, além de neurogênese no giro denteado hipocampal (Kelly et al., 2003; Akirav e Maroun, 2005; Jessberger et al., 2009; Rossato et al., 2007). A tarefa de reconhecimento de objetos foi desenvolvida para acessar a memória de reconhecimento em roedores, de forma análoga aos testes psicológicos realizados em humanos (Reed e Squire, 1997). Ela baseia-se na atração natural desses animais pela novidade, que passam mais tempo explorando o objeto identificado como novo (Ennaceur e Delacour, 1988). Com esse teste se torna possível avaliar os diferentes processos mnemônicos das memórias de reconhecimentos enquanto se executa as diferentes intervenções experimentais. 13 1.2 O Sistema Nociceptina/Orfanina FQ – Receptor NOPCom a clonagem dos receptores opióides kappa, mu e delta, um quarto receptor foi clonado por homologia aos receptores opióides, sendo também um receptor acoplado à proteína G, com estrutura e sequência de aminoácidos muito semelhante aos demais receptores opióides. Por esta alta homologia, diversos grupos o descobriram e o denominaram quase simultaneamente (Mollereau et al., 1994; Bunzow et al., 1994; Fukuda et al., 1994; Wang et al., 1994; Pan et al., 1995). Entretanto, apesar de sua semelhança, esse receptor não era ativado nem ligava-se aos ligantes opióides padrão, pois apresentava o aminoácido fenilalanina no lugar do aminoácido tirosina, que inviabiliza essa ligação, sendo considerado um receptor órfão (Lachowicz et al., 2002; Donica et al., 2013). Posteriormente foi convencionalmente denominado receptor NOP (nociceptin opioid peptide) pela descoberta de seu ligante nociceptina (Cox et al., 2014). A nociceptina/orfanina FQ (N/OFQ) é um neuropeptídeo de 17 aminoácidos (FGGFTGARKSARKLANQ) que foi isolado pela primeira vez em 1995, em cérebros de ratos e porcos, por técnicas pioneiras de farmacologia reversa, que permitiu identificar pela primeira vez um ligante posteriormente à descoberta do receptor (Civelli et al., 2013). Esse composto foi denominado diferentemente por dois grupos de pesquisa diferentes. Meunier e colaboradores (1995) denominaram o composto de nociceptina, devido ao efeito hiperalgésico evocado pela administração supraespinal em camundongos expostos ao teste de placa quente e ao teste de retirada da cauda. Enquanto que Reinscheid e colaboradores (1995) denominaram o composto de orfanina FQ, devido ao fato de que este se ligava a um receptor anteriormente órfão e por conter os aminoácidos fenilalanina e glicina nas suas extremidades amino e carboxi terminal, respectivamente. Apesar da estreita semelhança com os opióides endógenos, a N/OFQ não apresenta afinidade pelos receptores opióides clássicos, sendo específico do receptor NOP (Cox et al., 2000; Toll et al., 2016). Uma visualização da estrutura tridimensional pode ser observado na Figura 1.2.1. 14 Figura 1.2.1: Modelagem molecular do complexo N/OFQ-NOP. Peptídeo N/OFQ (1-13) estão representados como os bastões verdes centrais, interagindo com diferentes alças da estrutura quaternária do receptor NOP, em seu estado ativo (Autoria: Toll et al., 2016). Como dito anteriormente, em sua sinalização canônica, o receptor NOP é um receptor acoplado à proteína G (GPCR), do tipo Gi/o, sendo assim a sua ativação ocasiona a redução da formação de AMPc, bloqueia canais de Ca2+ e estimula a condutância do K+ (Connor e Henderson, 1996; Vaughan e Christie, 1996; Wu et al., 1997). Portanto, a sinalização mediada pela ativação do receptor NOP induz efeitos inibitórios, causando redução da neurotransmissão (Schlicker e Morari, 2000) e/ou inibição do disparo neuronal (Heinricher, 2003). Além disso, a ativação do receptor NOP por N/OFQ aumenta os níveis de quinases reguladas por sinal extracelular (ERK) e de quinases c-Jun N-terminal (JNK) fosforiladas (Lou et al., 1998; Zhang et al., 1999; Chan e Wong, 2000; Zhang et al., 2012a), estas são responsáveis por respostas celulares ao estresse ambiental e modulação de fatores de crescimento, sugerindo que o receptor NOP pode ter papel nesses processos. Entretanto, existe um outro caminho de sinalização do receptor NOP. Semelhante aos demais receptores opióides, as GPCRs acoplam-se às vias das proteínas quinase A e C (PKA e PKC, respectivamente), além de proteínas quinases 15 ativadas por mitógenos (MAPK) (Bruchas e Chavkin, 2010; Whalen et al., 2011; Chang e Bruchas , 2013). Dessa forma, a inibição desse receptor pode não representar simplesmente um estado inativo, mas recrutar diversas cascatas alternativas via MAPKs, como de dessensibilização via GRK3 e GRK2, na mediação da sinalização de citocinas inflamatórias e agindo na sinalização da arrestina que podem iniciar a sinalização a jusante para as vias JNK e ROCK (Al-Hasani e Bruchas, 2011; Mittal et al., 2013). A Figura 1.2.2 representa graficamente um resumo das diferentes vias de sinalização do receptor NOP. Figura 1.2.2: Resumo da sinalização do receptor NOP. Note o caráter modulatório nos diferentes canais iônicos em seu estado ativado pela N/OFQ, agindo diretamente no potencial de membrana celular, e no seu estado inativo modula principalmente a fisiologia da célula via cascatas de sinalização por diferentes quinases (Autoria: Toll et al., 2016) Esse sistema N/OFQ - NOP está expresso em uma boa parte das regiões que os receptores opióides padrão estão. No sistema nervoso periférico está distribuída principalmente nos cornos dorsal e ventral da medula espinhal e nos corpos celulares dos gânglios da raiz dorsal, no sistema nervoso central encontram-se vastamente expressos, sendo particularmente abundantes em áreas corticais e límbicas (hipocampo, giro denteado, áreas septais e amígdala), em núcleos hipotalâmicos e do tronco encefálico (Boom et al., 1999; Neal et al., 1999). Além do mais, o receptor NOP também se encontra expresso em núcleos serotoninérgicos, noradrenérgicos e dopaminérgicos, tais como núcleo da rafe, locus ceruleus, núcleo do trato solitário, área tegmental ventral e substância negra (Mollereau e Mouledous, 2000). 16 Baseado nesse padrão de expressão e pelo seu caráter inibitório, pode-se postular que a ativação do sistema N/OFQ - NOP é capaz de modular diferentes funções cognitivas e comportamentais (Lambert, 2008). De fato a bibliografia mostra que os receptores NOPs estão envolvidos em diversos processos cerebrais, como percepção de dor, aprendizado, memória, estados emocionais, ingestão alimentar e controle motor (Meunier et al., 1995; Reinscheid et al., 1995; Sandin et al., 1997; Jenck et al., 1997; Murphy et al., 1999; Polidori et al., 2000; Sandin et al., 2004). A nível perceptual e comportamental, o papel da N/OFQ no sistema opióide e na nocicepção foi a primeira ação investigada, mostrando que o efeito depende da dose e da via de administração e é específico sobre o receptor NOP (Calo et al., 2000; Calo et al., 2002; Erb et al., 1997; Hao et al., 1998; Kamei et al., 1999; King et al., 1997; Yamamoto et al., 1997). No entanto a ativação intensa deste sistema, causada por concentrações ou dosagens mais elevadas, causa prejuízos sobre a atividade locomotora espontânea em roedores (Devine et al., 1996; Noble e Roques, 1997; Reinscheid et al., 1995), Neste sentido, os antagonistas do receptor NOP facilitam a coordenação motora e atenuam déficits motores em modelos de Parkinson em roedores e primatas não humanos (Mabrouk et al., 2010; Marti et al., 2004; Marti et al., 2005; Viaro et al., 2008; Volta et al., 2010). A nível de expressão emocional, existem indícios que o sistema N/OFQ - NOP é um modulador importante em transtornos como ansiedade e depressão. Um crescente corpo de evidências sugere que o sistema N/OFQ - NOP desempenha papéis opostos na modulação da ansiedade e dos transtornos do humor. De fato, a ativação da sinalização do receptor NOP evoca consistentemente efeitos do tipo ansiolítico, enquanto seu bloqueio causa ações do tipo antidepressivo (Gavioli et al., 2019; Gavioli et al., 2003, 2004; Gavioli e CALO, 2006; Lu et al., 2010; Post et al., 2015; Redrobe et al., 2002; Rizzi et al., 2007; Uchiyama et al., 2008; Varty et al., 2005; Vitale et al., 2009; Witkin et al., 2016). Importantemente, a injeção intracerebroventricular (icv) de N/OFQ não induz nenhuma modificação comportamental em camundongos submetidos a testes comportamentais de desespero, mas reverte o efeito do tipo antidepressivo dos antagonistas dos receptores NOP (Gavioli et al., 2003, Gaviolli et al., 2004; Gavioli e Calo, 2006; Redrobe et al., 2002; Rizzi et al., 2007). 17 1.3 O Sistema N/OFQ – NOP e memória O sistema N/OFQ - NOP apresenta uma distribuição tão ampla no cérebro que seus efeitos sobre a memória são provavelmente mediadospor uma multiplicidade de mecanismos envolvendo muitas regiões como o hipocampo, a amígdala, o córtex pré-frontal e núcleos aminérgicos (Gavioli e Calo, 2013; Mollereau e Mouledous, 2000; Witkin et al., 2014). Os primeiros estudos de memória envolvendo esse sistema foram realizados em ratos e focaram na memória espacial, mostrando que a administração intra-CA3 (hipocampo) de 10 nmol bloqueia a aquisição dessa memória (Mamiya et al., 1998; Sandin et al., 1997). No entanto, estudos posteriores mostraram que essa dose prejudica o comportamento motor, o que pode ser considerado um confundidor em relação à interpretação correta dos dados (Devine et al., 1996; Noble e Roques, 1997; Reinscheid et al., 1995). Outros tipos de memória, como é o caso da memória de medo condicionado ao contexto, também dependente de hipocampo, são afetadas pela administração intracerebral ou icv do peptídeo N/OFQ, com doses que variam de 1 a 2.5 nmol em ratos (Fornari et al., 2008; Goeldner et al., 2009). Na maioria dos estudos executados, os tratamentos com agonistas NOP são realizados antes do aprendizado, o que dificulta o entendimento de qual fase do processamento mnemônico, codificação, consolidação ou ambas, está sendo afetada. Mais ainda, paradigmas comportamentais, como o labirinto aquático de Morris, envolvem múltiplos dias de treino, criando mais confundidores (Sandin et al., 2004; Fornari et al., 2008; Higgins et al., 2002; Hiramatsu e Inoue, 1999; Kuzmin et al., 2009; Mamiya et al., 2003; Redrobe et al., 2000; Roozendaal et al., 2007). Um conjunto de dados utilizando camundongos nocaute (KO) para receptores NOP sugere que os efeitos amnésicos produzidos pela administração de agonistas do receptor NOP, e/ou a liberação de N/OFQ endógena poderiam inibir os processos de aprendizagem e memória. Diferentes grupos relataram que a exclusão do receptor NOP em camundongos transgênicos aumenta a LTP dependente do receptor NMDA no hipocampo e melhora o desempenho em testes de memória que são altamente dependentes do funcionamento do hipocampo, como o labirinto aquático de Morris (Mamiya et al., 1998; Manabe et al., 1998; Taverna et al., 2005). 18 2. JUSTIFICATIVA Nos últimos anos, a associação entre o sistema N/OFQ - NOP e as funções de memória ganhou interesse considerável. Apesar dos esforços na tentativa de explicar como as funções cognitivas são afetadas, ainda não é claro como esse sistema altera as memórias, e muito pouco se sabe sobre que fase do processamento mnemônico está sendo afetado. A utilização de uma tarefa de sessão única, permite essa diferenciação das fases do processamento mnemônico. Esse trabalho é de particular importância uma vez que estuda um modelo de memória declarativa dependente de hipocampo, região encefálica particularmente enriquecida por receptores NOP e bastante envolvida nos transtornos de humor e ansiedade, alvos proeminentes do estudo do sistema N/OFQ - NOP. Este trabalho de conclusão de curso compreende as primeiras etapas desse estudo, através da elucidação da dose de infusão intrahipocampal necessária para que o receptor NOP module a formação de novas memórias de reconhecimento em ratos, sem que efeitos inespecíficos sejam gerados, como alterações no comportamento ambulatório dos animais e estados emocionais. 19 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo central Avaliar a participação do sistema N/OFQ – NOP no processamento da memória de reconhecimento de objetos. 3.2 Objetivos específicos ● Avaliar se a ativação do receptor NOP, utilizando uma curva dose-resposta de N/OFQ, afeta a codificação da memória de reconhecimento de objetos. ● Avaliar se a ativação do receptor NOP, utilizando uma curva dose-resposta de N/OFQ, afeta a consolidação da memória de reconhecimento de objetos. ● Avaliar se a ativação do receptor NOP, utilizando uma curva dose-resposta de N/OFQ, produz alterações comportamentais diversas, como alterações no comportamento ambulatório e exploratório dos animais. 20 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Animais experimentais Trata-se de um estudo quantitativo com desenho de pesquisa do tipo experimental com a utilização de ratos como modelo experimental. Foram utilizados 116 ratos machos adultos da linhagem Wistar. Todo o estudo foi realizado no Laboratório de Pesquisas da Memória do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) localizado em Natal, Rio Grande do Norte. Os animais foram tratados conforme a Lei número 6638 de 8 de maio de 1979 que regulamenta o uso de animais para prática didático-científica. Eles receberam ração e água ad libitum e permaneceram em ciclo de 12h claro/escuro, tendo a temperatura controlada (21°C). Os animais foram mantidos em suas caixas moradia, 5 animais/caixa (caixa padrão de polisulfona 49 x 34 x 16 cm), em um mini-isolador, com 60 trocas de ar por hora (Alesco®, Ltda., Monte Mor - São Paulo - Brasil). O protocolo experimental foi desenvolvido de acordo com as diretrizes da Lei AROUCA (Lei número 11.794, de 08 de outubro de 2008), que estabelece procedimentos para uso científico de animais, sendo submetido à Comissão de Ética no Uso de Animais/UFRN para avaliação. 4.2 Procedimentos cirúrgicos Os animais foram anestesiados por administração i.p. de cloridrato de ketamina (80 mg/kg) e xilazina (10 mg/kg) e posteriormente submetidos à cirurgia estereotáxica para implantação bilateral de cânulas na região CA1 do hipocampo dorsal (AP - 4,2; ML ± 3,0; DV - 2,0), coordenadas estereotáxicas em mm (Paxinos e Watson, 2006). Também foram inseridos parafusos que auxiliam na fixação mecânica das cânulas. A associação de ketamina + xilazina possui efeito anestésico de leve a moderado. As cirurgias para implantação de cânulas no hipocampo duram em média 25-30 min, o que possibilita o uso dessa combinação anestésica. Os animais receberam meloxicam (2 mg/kg, s.c.) como analgésico e antinflamatório imediatamente antes da cirurgia e nos três dias subsequentes. Os animais foram mantidos nas suas gaiolas moradia originais e os experimentos começaram 7 a 10 dias após a cirurgia. 21 4.3 Procedimentos comportamentais: 4.3.1 Tarefa de reconhecimento de objeto novo (TRON) Quando roedores são apresentados a objetos familiares e novos, eles despendem um tempo maior explorando o objeto novo. Este comportamento típico tem sido utilizado no desenho de um paradigma comportamental conhecido como tarefa de reconhecimento de objetos (Antunes e Biala, 2011), o qual vem sendo amplamente utilizado para avaliar os mecanismos envolvidos na formação de memórias declarativas (Reed e Squire, 1997; Moses et al., 2005). O aparato para estudar o reconhecimento de objetos consiste de um campo aberto de 60 x 60 x 60 cm, localizado em uma sala com baixa luminosidade e isolamento acústico. Os objetos-estímulo utilizados na tarefa de reconhecimento de objetos não possuem significância comportamental para os animais experimentais. Durante a tarefa comportamental, analisamos a exploração dos objetos pelos animais, o que é definido como cheirar ou tocar os objetos-estímulo com o focinho ou patas dianteiras. Usamos a ferramenta computacional TopScan Lite para gravar vídeos dos experimentos bem como fazer o cálculo do tempo de exploração dos objetos. Antes de serem submetidos ao protocolo de treino, os animais passaram por um processo de habituação ao aparato comportamental que consistiu em uma sessão diária de vinte minutos por quatro dias. Nesta sessão os animais foram colocados individualmente no campo aberto para que o explorassem livremente. Na sessão de treino os animais foram colocados no campo aberto na presença de dois objetos iguais, por 5 minutos. A sessão de teste, realizada um dia mais tarde, consistiu na re-exposição dos animais ao campo aberto na presença de um objeto familiar (apresentado na sessão de treino) junto a um objeto novo, por 5 minutos (Rossato et al., 2022). Para avaliar o aprendizado e comparar os diferentes tratamentos foi utilizadoo índice de discriminação. Os animais que não atingiram o critério de exploração, definido como no mínimo 10 s de exploração para cada objeto, foram excluídos das análises estatísticas. Nesse cálculo, valores positivos indicam exploração diferencial pelo objeto novo. 𝐼𝐷 = 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑥𝑝𝑙𝑜𝑟𝑎çã𝑜 𝑜𝑏𝑗. 𝑛𝑜𝑣𝑜 − 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑥𝑝𝑙𝑜𝑟𝑎çã𝑜 𝑜𝑏𝑗. 𝑓𝑎𝑚𝑖𝑙𝑖𝑎𝑟 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑥𝑝𝑙𝑜𝑟𝑎çã𝑜 𝑜𝑏𝑗. 𝑛𝑜𝑣𝑜 + 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑥𝑝𝑙𝑜𝑟𝑎çã𝑜 𝑜𝑏𝑗. 𝑓𝑎𝑚𝑖𝑙𝑖𝑎𝑟 22 4.3.2 Tarefa do campo aberto Para avaliar a influência da cirurgia e dos tratamentos na atividade locomotora e/ou comportamento exploratório de animais, utilizou-se a tarefa denominada de campo aberto. O aparelho utilizado para esta tarefa consiste em uma caixa de madeira (60 X 60 X 60 cm). O assoalho da caixa foi dividido conceitualmente em duas regiões, bordas e centro (28 X 28 cm). Durante o experimento, o animal foi colocado no aparato para que o explorasse livremente por 5 minutos, durante os quais se registrou distância percorrida e velocidade, comportamentos nos roedores que denotam atividade locomotora e exploratória. Para avaliar o estado de ansiedade dos animais nesta tarefa, se avaliou o tempo que o animal despende se locomovendo no centro e nas bordas do campo aberto, bem como o número de visitas ao centro. Quanto mais ansioso estiver o animal, menor o tempo de permanência no centro do aparato comportamental. 4.4 Infusão de drogas Nos experimentos farmacológicos/comportamentais, os animais receberam microinjeções bilaterais através de cânulas posicionadas na região CA1 do hipocampo dorsal mediante cirurgia estereotáxica. Os fármacos foram administrados no volume de 1 μL/lado, das seguintes drogas e concentrações: - Peptídeo nociceptina/orfanina (N/OFQ; 0.1; 0.3 e 1 nmol/lado). - Solução veículo (VEH, NaCl 0.9 %). Todas as doses das drogas utilizadas foram baseadas em estudos prévios (Duzzioni et al., 2011; Asth et al., 2015). As drogas foram diluídas, aliquotadas e armazenadas em Freezer -20°C até a realização dos experimentos, quando foram diluídas na concentração de uso e infundidas. A infusão da droga/veículo foi realizada por meio de uma agulha gengival conectada a uma microseringa Hamilton (Hamilton Company®, USA). A agulha gengival foi acoplada à cânula de infusão permitindo que a droga/veículo seja administrada na região de estudo. A velocidade de infusão foi controlada por uma bomba de infusão (Insight) que permite controlar o volume e a velocidade da infusão (0,25 μL/min). Ao término de cada infusão, a agulha foi mantida no local por 30 segundos para evitar refluxo. 23 Para a verificação do posicionamento das cânulas, ao final dos experimentos comportamentais, os animais foram perfundidos com PBS 0.1 M seguido por solução PFA 4%, após tiveram os cérebros removidos e mantidos em solução PFA 4% overnight e após solução de glicose 30% por aproximadamente 3 dias. Posteriormente, secções coronais de 50 µm de espessura foram obtidas utilizando um equipamento criostato, seguido da montagem das lâminas e coloração Nissl. Visões gerais das secções foram fotodocumentadas em mosaico em microscopia de campo claro em objetiva de 10X no microscópio Stereo Investigator (Zeiss Imager M.2 ApoTome 2). 4.5 Análise estatística dos dados A análise estatística dos resultados foi realizada usando o programa GraphPad Prism. Para comparações cuja distribuição de dados obedece uma distribuição normal, foi empregado o Teste T de Student para amostra única (valor fixo=0 para o ID e valor fixo=50 para % Exploração total). Para comparações entre dois grupos usamos o teste-t de Student, e para comparações entre três ou mais grupos, foi empregada ANOVA de uma via seguida de teste de Bonferroni. 24 5 RESULTADOS 5.1 A ativação do receptor NOP hipocampal, com o peptídeo N/OFQ, afeta a codificação da memória de reconhecimento de objetos No primeiro experimento deste trabalho, avaliamos se o receptor NOP gera prejuízos mnemônicos na medida que seu caráter inibitório impediria os mecanismos que geram a codificação inicial do engrama (Higgins et al., 2002; Yu et al., 1997). Desta forma, realizamos a intervenção farmacológica antes da sessão de treino, onde os animais receberam infusão intrahipocampal de veículo (VEH, NaCl 0.9 %) ou N/-OFQ em diferentes doses (0.1; 0.3 e 1 nmol/lado) e vinte minutos depois foram treinados na tarefa de reconhecimento de objetos na presença de dois objetos iguais. Para avaliar a retenção da MRO, um dia mais tarde, os animais foram reapresentados a um dos objetos familiares e a um objeto novo (protocolo na Figura 5.1.1-A). A confirmação da localização da cânula na região hipocampal está representada na Figura 5.1.1-B. Inicialmente analisamos o tempo de exploração de cada objeto para cada dia experimental e tratamento. Os animais que receberam veículo discriminaram o objeto novo do objeto familiar durante a sessão de teste, assim como na menor dose de 0.1 nmol/lado de N/OFQ (Figura 5.1.1-C painel superior: VEH, t(9) = 6.842, p < 0.001; Figura 5.1.1-D painel superior: 0.1 nmol, t(8) = 5.21 p < 0.001; Teste T de amostra única comparado com 50). No entanto, os animais que receberam as doses de 0.3 ou 1 nmol/lado de N/OFQ 20 minutos antes do treinamento, foram incapazes de discriminar entre os objetos familiar e novo na sessão de teste realizado 1 dia mais tarde (Figura 5.1.1-E painel superior: 0.3 nmol, t(9) = 1.021, p = 0.3337; Figura 5.1.1-F painel superior: 1 nmol, t(7) = 1.15, p = 0.2879; Teste T de amostra única comparado com 50). Durante a sessão de treino, nenhum dos grupos apresentou número de eventos de exploração diferencial entre os objetos. Entretanto, no dia do teste, os eventos de exploração direcionados ao objeto novo são maiores nos animais controle (VEH) e nos animais que receberam 0.1 nmol/lado de N/OFQ antes do treino (Figura 5.1.1-C painéis inferiores: VEH, t(9) = 3.085, p = 0.013; Figura 5.1.1-D painéis inferiores: 0.1 nmol, t(8) = 3.00, p = 0.0171; em um Teste t pareado), no entanto essa variável não é alterada nos animais que receberam 0.3 ou 1 nmol/lado 25 de N/OFQ 20 minutos antes do treino (Figura 5.1.1-E painéis inferiores: 0.3 nmol, t(9) = 0.239, p = 0.8166; Figura 5.1.1-F painéis inferiores: 1 nmol, t(7) = 0.2647, p = 0.799; em um Teste t pareado). Para uma análise comparativa entre os grupos usamos a variável índice de discriminação como inferência de aprendizado (Figura 5.1.1-G). Podemos observar, que os animais que recebem as doses mais alta de N/OFQ (0.3 e 1 nmol/lado) não discriminam o objeto familiar do novo e (VEH: t(9) = 6.946, p < 0.001; 0.1: t(8) = 5.173, p < 0.001; 0.3: t(9) = 1.01, p = 0.339; 1.0: t(7) = 0.5384, p = 0.607, em um teste T de amostra única comparado com 0), na análise comparativa o grupo com a dose maior é diferente dos grupos VEH e 0.1 nmol de N/OFQ (F(3,33) = 5.741, p = 0.0028, ANOVA de uma via; p > 0.999 para VEH vs N/OFQ 0.1 nmol, p = 0.0571 para VEH vs N/OFQ 0.3 nmol, p = 0.0261 para VEH vs N/OFQ 1 nmol, no teste de Bonferroni de comparações múltiplas). Ao avaliar o comportamento ambulatório, verificamos que as diferentes doses não prejudicaram a distância percorrida (Figura 5.1.2-A; F(3,33) = 0.6899, p = 0.5647 para a sessão do treino; F(3,33) = 0.080, p = 0.9703 para a sessão de teste, ANOVA de uma via para o tratamento). Bem como não alterou a velocidade média de cada minuto da sessão de treino (Figura 5.1.2-B painel da esquerda; F(3,34) = 1.246, p = 0.3084 para o 1° minuto; F(3,34) = 0.3393, p = 0.797 para o 2° minuto; F(3,34) = 0.2672, p = 0.8485 para o 3° minuto; F(3,34) = 0.3067, p = 0.8203 para o 4° minuto; F(3,34) = 1.076, p = 0.3724 para o 5° minuto; ANOVA de uma via), e no dia teste (Figura 5.1.2-B painel da direita; F(3,34) = 0.01378, p = 0.9977 para o 1° minuto; F(3,34) = 0.1113, p = 0.9529 para o 2° minuto; F(3,34) = 0.662, p = 0.5811 para o 3° minuto; F(3,34) = 1.502, p = 0.2316 para o 4° minuto; F(3,34)= 0.8508, p = 0.4759 para o 5° minuto; ANOVA de uma via). É importante salientar que no dia do treino, não foi observado preferências intrínsecas dos animais por um dos objetos ou por um dos lados da caixa experimental. A Tabela 5.1 mostra uma descrição detalhada dos valores exploração e índice de discriminação para o treino. 26 Figura 5.1.1: A ativação do receptor NOP prejudica a codificação da memória de reconhecimento de objetos. A: Protocolo experimental: os animais receberam infusão de veículo (VEH) ou diferentes doses de N/OFQ (0.1; 0.3 ou 1 nmol/lado) vinte minutos antes do treino (TR) realizado na presença de dois objetos iguais A e A’. 24 horas mais tarde os animais foram testados (TT) na presença de um objeto familiar A e um objeto novo B. B: Histologia confirmando localização da cânula 1 mm acima do hipocampo. C-F: Painéis superiores: Porcentagem de tempo de exploração aos objetos durante o treino (TR) e teste (TT); Painéis inferiores: número de eventos de exploração dos objetos para cada sessão experimental, seguida da representação da diferença de eventos de exploração para o objeto novo - o familiar. G: Índice de discriminação dos diferentes tratamentos na seção de teste. Os dados são apresentados como média ± EPM, n = 8-10 animais por grupo. As linhas pontilhadas marcam o nível de chance. # p<0.05 em um teste t de Student com média teórica = 0. *p<0.05 em uma ANOVA de uma via seguida pelo teste de comparações múltiplas de Bonferroni. ObjB-ObjA: *p<0.05, **p<0.01 em um teste t pareado. Fonte: Autoria própria. 27 Figura 5.1.2: A infusão de N/OFQ antes do treino não altera os comportamentos exploratórios e ambulatórios. Análise do comportamento ambulatório dos animais que receberam veículo ou diferentes doses de N/OFQ antes do treino na tarefa de reconhecimento de objetos. A: Distância total percorrida dada em metros para a sessão de treino (esquerda) e teste (direita). B: Velocidade média em cm/s para cada minuto nas sessões de treino (esquerda) e teste (direita). Os dados são apresentados como média ± EPM, n = 8-10 animais por grupo. Fonte: Autoria própria. Tempo de exploração do objeto (s) Par de objetos Objeto 1 Objeto 2 Total ID p n A-A' 27.49 ± 3.99 26.59 ± 2.68 54.08 ± 4.98 -0.008 ± 0.064 0.896 13 B-B' 26.64 ± 3.53 24.65 ± 3.31 51.28 ± 6.37 -0.053 ± 0.043 0.246 12 C-C' 30.69 ± 2.17 27.34 ± 2.40 58.03 ± 4.22 -0.052 ± 0.033 0.234 13 Tabela 5.1: Exploração em segundos durante a sessão de treino para o experimento com administração farmacológica pré-treino. Os dados apresentados representam a média da exploração dos distintos objetos durante o treino na TRON. Os dados estão apresentados como média da exploração dos objetos e ID (índice de discriminação) para os pares utilizados; p em um teste t de Student com média teórica igual a zero. A exploração total não difere nos distintos pares de objetos utilizados para o treino, F(2,34) = 0.4227, p = 0.6587 em ANOVA de uma via. Fonte: Autoria própria. 28 5.2 A ativação do receptor NOP hipocampal, com o peptídeo N/OFQ, não afeta a consolidação da memória de reconhecimento de objetos No trabalho de Fornari et al. (2008), os autores realizaram experimentos com memórias de medo utilizando a administração de diferentes doses de N/OFQ intracerebroventricular antes da sessão de exposição ao evento aversivo, os achados desses experimentos mostram que a ativação do receptor NOP prejudica a formação desses tipos de memória. Semelhante a esse achado, Goeldner et al. (2009) delineou um experimento utilizando outros agonistas não peptídicos do receptor NOP no paradigma clássico de condicionamento ao medo, mostrando que a atividade desse receptor diminuiu os escores de imobilidade pós-choque ainda na sessão de treino. Esse achado levantam a hipótese que, pelo caráter inibitório neuronal gerado pela atividade do receptor NOP, a ativação dessa via pode estar prejudicando a codificação inicial do engrama, alterando a percepção ou a valência do estímulo aversivo, gerando o prejuízo observado na seção de teste, sem interferir diretamente nos processos de armazenamento dessas memórias (Fornari et al., 2008; Goeldner et al., 2009). Para colocar a prova se o prejuízo causado pela administração intrahipocampal de N/OFQ antes do treino na TRON ocorreria por sua influência na codificação e não no armazenamento da memória, a configuração do segundo experimento deste trabalho foi desenhada de modo a permitir a codificação inicial do engrama, sendo a interferência farmacológica realizada imediatamente após a sessão de treino. No treino (TR) os animais foram apresentados a dois objetos iguais e, imediatamente após receberam administração de veículo (NaCl 0.9 %) ou N/OFQ em diferentes doses (0.1; 0.3 e 1 nmol/lado). No dia seguinte, os animais foram re-apresentados a um dos objetos familiares e a um objeto novo (protocolo na Figura 5.2.1-A). A confirmação da posição da cânula imediatamente acima da região de interesse está representada na Figura 5.2.1-B. Avaliamos a porcentagem de tempo de exploração de cada objeto, para cada sessão do experimento e tratamento realizado. Foram encontradas diferenças 29 significativas apenas no dia do teste, mostrando preferência de exploração do objeto novo (Figura 5.2.1-C painel superior: veículo, t(11) = 5.93, p < 0.001; Figura 5.2.1-D painel superior: 0.1 nmol, t(9) = 3.99. p < 0.01; Figura 5.2.1-E painel superior: 0.3 nmol, t(10) = 3.296, p < 0.01; Figura 5.2.1-F painel superior: 1 nmol, t(11) = 3.139, p < 0.01; Teste T de amostra única comparado com 50). Outro parâmetro analisado foi a quantidade de eventos de exploração, onde observamos que, no dia do treino, não houve diferença na quantidade de eventos de exploração entre os objetos, ocorrendo exploração diferencial no dia do teste, que está representado também pela média na diferença entre o objeto novo e o familiar (Figura 5.2.1-C painéis inferiores: veículo, t(11) = 3.588, p < 0.01; Figura 5.2.1-D painéis inferiores: 0.1 nmol, t(9) = 3.849, p < 0.01; Figura 5.2.1-E painéis inferiores: 0.3 nmol, t(10) = 2.459, p < 0.05; Figura 5.2.1-F painéis inferiores: 1 nmol, t(11) = 2.51, p < 0.05; em um Teste T pareado). Nossos resultados mostram que a N/OFQ, em nenhuma das doses administradas, foi capaz de impedir a consolidação da MRO. Os animais exploram diferencialmente o objeto novo se comparado ao familiar. É importante salientar que no dia do treino, foi possível observar a inexistência de preferências intrínsecas dos animais por um dos objetos apresentados. A Tabela 5.1.1 mostra uma descrição detalhada dos valores de tempo de exploração e índice de discriminação para cada par de objetos utilizado nesse experimento. Para uma análise comparativa entre os diferentes tratamentos, foi utilizado os índices de discriminação para inferir aprendizado, onde todos os tratamentos foram capazes de discriminar o objeto familiar do novo (VEH: t(11) = 5.893, p < 0.001; 0.1: t(9) = 3.957, p < 0.01; 0.3: t(10) = 3.322, p < 0.01; 1.0: t(11) = 3.136, p < 0.01, em um teste T de amostra única comparado com 0), como demonstrado pela média dos índice de discriminação assumindo valores positivos e sem diferença significativa entre os tratamentos (Figura 5.2.1-G; F(3,41) = 0.8941, p = 0.4524, ANOVA de uma via). Como foi demonstrado em estudos anteriores que doses mais elevadas (10 nmol) intra-hipocampal prejudicam o comportamento motor (Mamiya et al., 1998; Sandin et al., 1997), foram também analisados parâmetros acerca do comportamento ambulatório dos animais. Em relação ao deslocamento total durante 30 os comportamentos analisados, não foram encontradas diferenças significativas entre os diferentes tratamentos (Figura 5.2.2-A; F(3,41) = 0.5818, p = 0.6303, para a sessão de treino; F(3,41) = 1.885, p = 0.1472, para a sessão de teste; ANOVA de uma via). Também foi avaliada a velocidade média dos animais a cada minuto de exploração, também não sendo encontrada diferença significativa entre os diferentes tratamentosno dia do treino (Figura 5.2.2-B painel da esquerda; F(3,41) = 0.8678, p = 0.4655 para o 1° minuto; F(3,41) = 0.6586, p = 0.5823 para o 2° minuto; F(3,41) = 0.259, p = 0.8545 para o 3° minuto; F(3,41) = 1.048, p = 0.3815 para o 4° minuto; F(3,41) = 0.5222, p = 0.6695 para o 5° minuto; ANOVA de uma via), e também não para o dia teste (Figura 5.2.2-B painel da direita; F(3,41) = 1.773, p = 0.1673 para o 1° minuto; F(3,41) = 2.097, p = 0.1154 para o 2° minuto; F(3,41) = 1.571, p = 0.211 para o 3° minuto; F(3,41) = 1.163, p = 0.3354 para o 4° minuto; F(3,41) = 0.9473, p = 0.4267 para o 5° minuto; ANOVA de uma via). Tempo de exploração do objeto (s) Par de objetos Objeto 1 Objeto 2 Total ID p n A-A' 28.59 ± 3.17 27.14 ± 2.41 55.72 ± 5.44 -0.016 ±0.027 0.573 10 B-B' 27.12 ± 2.8 27.37 ± 2.95 54.48 ± 5.53 0.004 ± 0.03 0.906 8 C-C' 32.11 ± 2.7 29.81 ± 2.61 61.91 ± 5.03 -0.042 ± 0.026 0.136 10 I-I' 26.79 ± 3.84 25.93 ± 4.44 52.71 ± 8.01 -0.022 ± 0.037 0.588 6 P-P' 24.13 ± 1.8 25 ± 4.05 49.13 ± 5.54 0.005 ± 0.058 0.937 4 R-R' 19.72 ± 1.59 22.5 ± 1.94 42.22 ± 3.22 0.061 ± 0.037 0.134 9 Tabela 5.2: Exploração em segundos durante a sessão de treino para o experimento com administração farmacológica pós-treino. Os dados apresentados representam a média da exploração dos distintos objetos durante o treino na TRON. Os dados estão apresentados como média da exploração dos objetos e ID (índice de discriminação) para os pares utilizados; p em um teste t de Student com média teórica igual a zero. A exploração total não difere nos distintos pares de objetos utilizados para o treino, F(5,41) = 1.295, p = 0.2848 em ANOVA de uma via. Fonte: Autoria própria. 31 Figura 5.2.1: A ativação do receptor NOP não afeta a consolidação da memória de reconhecimento de objetos. A: Protocolo experimental: os animais foram treinados (TR) na presença de dois objetos iguais A e A´ e imediatamente após receberam infusão de veículo (VEH; 0.9 % solução salina) ou diferentes doses de N/OFQ (0.1; 0.3 ou 1 nmol/lado). Vinte quatro horas mais tarde os animais foram testados (TT) na presença de um objeto familiar A e um objeto novo B. B: Histologia confirmando localização da cânula 1 mm acima do hipocampo. C-F: Painéis superiores: Porcentagem de tempo de exploração aos objetos durante o treino (TR) e teste (TT); Painéis inferiores: número de eventos de exploração dos objetos para TR e TT, seguida da representação da média da diferença de eventos de exploração para o objeto novo - objeto familiar. G: Índice de discriminação dos diferentes tratamentos na seção de teste. Os dados são apresentados como média ± EPM, n = 10-12 animais por grupo. As linhas pontilhadas marcam o nível de chance. # p<0.05 em um teste t de Student com média teórica = 0. *p<0.05, **p<0.01 e ***p<0.001 em um teste t pareado ou um teste t de amostra única. Fonte: Autoria própria. 32 Figura 5.2.2: A infusão de N/OFQ após o treino não altera os comportamentos exploratórios e ambulatórios. Análise do comportamento ambulatório dos animais que receberam veículo ou diferentes doses de N/OFQ antes do treino na tarefa de reconhecimento de objetos. A: Distância total percorrida dada em metros para a sessão de treino (esquerda) e teste (direita). B: Velocidade média em cm/s para cada minuto nas sessões de treino (esquerda) e teste (direita). Os dados são apresentados como média ± EPM, n = 10-12 animais por grupo. Fonte: Autoria própria. 5.3 A ativação do receptor NOP hipocampal, com o peptídeo N/OFQ, não afeta a atividade exploratória e ambulatória espontânea no campo aberto Para avaliar se a ativação do receptor NOP hipocampal afeta a atividade exploratória e ambulatória espontânea, além de verificar se as doses apresentaram algum efeito ansiogênico ou ansiolítico, os animais receberam infusão intra hipocampal de VEH ou N/OFQ (01; 0.3 ou 1 namol/lado) e vinte minutos antes foram submetidos a uma sessão de 5 minutos no campo aberto (Figura 5.3-A). O campo aberto foi dividido em duas regiões, bordas e centro e, analisamos os seguintes comportamentos: número de visitas ao centro; tempo gasto em cada uma das regiões e distância percorrida em cada uma das regiões. Nossos resultados indicam que os tratamentos utilizados não afetam os parâmetros comportamentais analisados. O número de visitas ao centro do campo 33 aberto não difere nos distintos grupos experimentais (Figura 5.3-B; F(3,30) = 0.1347, p = 0.9386). O tempo de exploração nas bordas do campo aberto é maior em todos os grupos (Figura 5.3-C; F(3,30) = 1.573, p = 0.2164) e a distância percorrida pelos animais nas bordas do campo aberto não difere nos distintos tratamentos (Figuras 5.3-D; F(3,30) = 0.7632, p = 0.5236). A Tabela 5.3.1 mostra os dados detalhados. Figura 5.3: Atividade exploratória e ambulatória espontânea. (A) Protocolo experimental. Os animais receberam infusão intra-hipocampal de VEH (salina 0.9 %) ou diferentes doses de N/OFQ (0.1; 0.3 ou 1.0 nmol/lado). Vinte minutos após a infusão os animais foram submetidos ao teste de campo aberto. (B) Número de visitas ao centro do campo aberto. (C) Tempo de exploração nas bordas do campo aberto. Inset: tempo de exploração no centro do campo aberto. (D) Distância percorrida (cm) nas bordas do campo aberto. Inset: distância percorrida no centro do campo aberto. (E) Trajetória representativa para cada grupo experimental. n = 8-9 animais por grupo. Os dados são apresentados como média ± EPM. 34 VEH 0.1 nmol 0.3 nmol 1 nmol ANOVA Tempo nas bordas 288.4 ± 1.98 280.5 ± 6.17 288.7 ± 1.45 289.2 ± 1.52 F(3,30)=1.573 Tempo no centro 6.46 ± 1.88 9.04 ± 3.04 6.68 ± 0.96 6.67 ± 1.29 F(3,30)=0.390 Distância nas bordas (cm) 14.4 ± 2.30 17.07 ± 2.09 15.75 ± 1.99 19.2 ± 2.89 F(3,30)=0.763 Distância no centro (cm) 0.80 ± 0.19 0.95 ± 0.22 1.02 ± 0.13 0.96 ± 0.18 F(3,30)=0.261 Velocidade bordas (cm/s) 0.05 ± 0.008 0.06 ± 0.007 0.06 ± 0.007 0.07 ± 0.011 F(3,30)=0.719 Velocidade centro (cm/s) 0.13 ± 0.022 0.13 ± 0.019 0.17 ± 0.017 0.16 ± 0.012 F(3,30)=1.104 N° de entradas no centro 4.67 ± 1.08 5.12 ± 1.24 4.75 ± 0.77 5.44 ± 0.82 F(3,30)=0.135 Tabela 5.3: Atividade exploratória e ambulatória espontânea. Os parâmetros comportamentais representam o tempo gasto nas bordas e no centro do campo aberto, distância percorrida e velocidade nas bordas e no centro do campo aberto, bem como número de entradas no centro do campo aberto. Os dados estão apresentados como média e EPM para todos os tratamentos e valor de ANOVA para comparação entre os grupos na variável analisada. n = 8-9 animais por grupo. 35 6 DISCUSSÕES O potencial uso terapêutico do sistema N/OFQ - NOP tem gerado uma atenção considerável da comunidade científica. A ideia de utilizar um receptor homólogo ao receptores opióides clássicos, que altera a nocicepção sem gerar comportamento aditivo, tem feito deste um importante alvo para intervenções farmacológicas (Preti, Caló e Guerrini, 2019; Zaveri e Meyer, 2019). Entretanto as funções exatas desse sistema ainda não foram totalmente descobertas. Estudos mostram que a atividade do receptor NOP modula a abertura e fechamento de canais iônicos na membrana celular, estando associado a supressão da atividade elétrica neuronal que, entre outros fatores, podem modular diversos estados cognitivos e perceptuais (Meunier et al., 1995; Reinscheid et al., 1995; Sandin et al., 1997; Jenck et al., 1997; Murphy et al., 1999; Polidori et al., 2000; Sandin et al., 2004). Alguns estudos já mostraram que a atividade no receptor NOP prejudica a formação de diferentes tipos de memória, como espacial e de medo (Mamiya et al., 1998; Sandin et al., 1997; Fornari et al., 2008; Goeldner et al., 2009). Porém estudos envolvendo as memórias de reconhecimento ainda não foram elucidados. O presente trabalho de conclusão compõe os primeiros passos rumo a esse estudo, através do teste de diferentes doses para verificar a dose e a fase do processamento mnemônico em que o receptor NOP hipocampal possa estar atuando. Encontramos que a intervenção com asdoses maiores (0.3 e 1 nmol/lado), quando administradas antes do treino, gerou prejuízos na formação da memória de reconhecimento nos animais experimentais. Esse resultado demonstra que o receptor NOP, por seu caráter inibitório, pode estar prejudicando os mecanismos eletrofisiológicos pelos quais o hipocampo forma o engrama inicial do objeto a ser recordado (Schlicker e Morari, 2000). Em conjunto com isso, tendo em vista que os tempos de exploração não foram prejudicados pelos diferentes tratamentos, podemos inferir que a atividade do receptor NOP não foi capaz de prejudicar os estados atencionais nos animais, neste estudo. Esse efeito amnésico não foi observado nos animais que receberam as intervenções farmacológicas após o treino, mostrando que a atividade deste receptor 36 parece não ser importante para os processos consolidatórios da memória de reconhecimento, tendo em vista que os animais foram capazes de manifestar comportamentalmente a lembrança do objeto familiar, durante a sessão de teste. De modo geral, por não alterar parâmetros inespecíficos, como o deslocamento, velocidade média e permanência no centro da arena, podemos afirmar que as doses utilizadas também não foram capazes de modificar a motricidade e o comportamento tipo ansioso nos animais experimentais. Dessa forma, confirmamos que os prejuízos observados são específicos do processo de codificação, não ocorrendo em detrimento de alterações motoras ou do estado emocional dos animais. 37 7 CONCLUSÕES Esse trabalho demonstra que a ativação do receptor NOP pode alterar a formação da memória de reconhecimento de objetos, na medida que prejudica a formação do engrama inicial durante o estágio de codificação. Esse trabalho abre espaço para que estudos mais robustos envolvendo a ação do receptor NOP possam ser realizados, de modo que possa ser verificada sua ação em outros processos das memórias de reconhecimento, como nos processos reconsolidatórios e nas memórias de curta duração, além de sua ação em outros tipos de memória, como memórias sociais, espaciais, procedimentais, entre outras. Além disso, será necessário investigar por quais vias o receptor NOP atua, como exemplo a alteração no perfil de expressão de proteínas ou modificação da atividade elétrica hipocampal. 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Akirav, I., & Maroun, M. (2005). Ventromedial Prefrontal Cortex Is Obligatory for Consolidation and Reconsolidation of Object Recognition Memory. Cerebral Cortex, 16(12), 1759–1765. https://doi.org/10.1093/cercor/bhj114 Al-Hasani, R., & Bruchas, M. R. (2011). Molecular Mechanisms of Opioid Receptor-dependent Signaling and Behavior. Anesthesiology, 115(6), 1. https://doi.org/10.1097/aln.0b013e318238bba6 Alvarez, P., Zola-Morgan, S., & Squire, L. (1995). Damage limited to the hippocampal region produces long-lasting memory impairment in monkeys. The Journal of Neuroscience, 15(5), 3796–3807. https://doi.org/10.1523/jneurosci.15-05-03796.1995 Antunes, M., & Biala, G. (2011). The novel object recognition memory: neurobiology, test procedure, and its modifications. 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