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AULA 6 GESTÃO ESTRATÉGICA DA INOVAÇÃO TEMA 1 – CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA A PARTIR DO DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES DINÂMICAS Para compreender os estudos iniciais a respeito das Capacidades Dinâmicas, é necessário um resgate das principais teorias que fundamentaram os estudos realizados por Teece, Pisano e Schuen (1997). 1.1 As principais influências teóricas das capacidades dinâmicas A base teórica para a criação das capacidades dinâmicas, segundo Teece, Pisano e Schuen (1997), foram: as forças competitivas (Porter, 1980); conflito estratégico (Shapiro, 1989), com ênfase na exploração do poder de mercado, e a perspectiva baseada no recurso, também apontada nos estudos de Einsenhardt e Martin (2000) (Schumpeter, 1942; Penrose, 1959; Nelson; Winter, 1982; Rumelt, 1984; Teece, 1984; Barney, 1991; Peteraf, 1993), na busca por compreender a eficiência das organizações. Assim, é necessário realizar um resgate dos principais pontos dessas teorias que foram relevantes para o desenvolvimento de um framework das capacidades dinâmicas, apontados por Tecce, Pisano e Schuen, no artigo seminal de 1997, intitulado “Dynamic capabilities and strategic management”. 1.1.1 Forças competitivas Um dos primeiros pontos destacados por Teece, Pisano e Schuen (1997) vem ao encontro às forças competitivas estudadas por Porter (1980). Segundo Porter (1999), as estratégias organizacionais são decorrentes da necessidade de se obter uma fatia do mercado. Isso por si só não é fácil, ainda mais quando se está inserido em um ambiente economicamente turbulento (Porter, 1986). A competição que ocorre no mercado depende de certas forças: barreira de entrada para novos concorrentes; ameaça de produtos substitutos; poder de barganha com fornece (Porter, 1986). Segundo o autor, a união dessas forças pode determinar a perspectiva de lucro do setor. Nesse sentido, Porter (1986) afirma que o objetivo das estratégias organizacionais é encontrar uma maneira pela qual a empresa se defenda contra essas forças ou saiba utilizá-las em seu favor. No que diz respeito aos estudos de Porter (1986) em relação às forças competitivas, Teece, Pisano e Schuen (1997) deram ênfase às estratégias 2 competitivas de uma organização, ao compreender como uma empresa se relaciona com o ambiente onde está inserida, bem como os aspectos essenciais desse ambiente, sabendo que estão disponíveis para seus concorrentes. As cinco forças competitivas de Porter (1999) servem como modelo para compreender como uma organização adquire vantagem competitiva. Segundo Teece, Pisano e Schuen (1997), as cinco forças competitivas proporcionam observar como empresas de um mesmo segmento ou indústrias em geral obtêm rentabilidade além da possibilidade de compreender as fontes de estratégias, bem como a natureza dos processos estratégicos. 1.1.2 Conflitos estratégicos A segunda influência teórica para a criação das capacidades dinâmicas surgiu a partir dos estudos de Shapiro (1989) que buscou compreender as estratégias do negócio por meio da Teoria dos Jogos. Essa teoria analisa a “natureza da interação competitiva entre empresas rivais” (Teece; Pisano; Schuen, 1997, p. 511). Shapiro (1989) buscou compreender como uma organização pode influenciar o comportamento de seus concorrentes e também o mercado como um todo; ou seja, é a capacidade de uma organização de manipular o mercado e dessa forma obter lucro. Ao tentar encaixar a teoria dos jogos nas capacidades dinâmicas, Teece, Pisano e Schuen (1997) observaram a dissonância do termo dinâmico. Na teoria dos jogos, o termo é utilizado para analisar os movimentos estratégicos utilizados pelas organizações. Já quanto às capacidades dinâmicas, o termo se refere a situações nas quais existe uma rápida mudança tecnológica, considerando as forças do mercado e como as empresas agem nessas situações. Teece, Pisano e Schuen (1997) justificam que esse estudo, com base na teoria dos jogos, traz para as capacidades dinâmicas a compreensão do poder de gerenciamento das estratégias; ou seja, sublinha-se o dinamismo que os gestores têm a partir de uma situação que exige uma rápida mudança, seja por meio de produtos ou processos, tornando a empresa competitiva no mercado. 3 1.1.3 Visão baseada em recursos A visão baseada em recursos surgiu a partir dos estudos de Selsnick e Penrose (1959), mas são Barney (1991) e Peteraf (1993) que dão continuidade e corpo a eles. Barney (1991) é o autor mais citado quando o assunto é a VBR, pois desenvolveu uma teoria que afirma que a vantagem competitiva das organizações advém de seus recursos internos, de modo a obter melhor condição diante seus concorrentes. Para Barney (1991), esses recursos são distribuídos entre todos os ativos contidos na organização, bem como os seus processos, os recursos financeiros, físicos e humanos, além de toda informação e conhecimento gerados nos processos de produção. Para se conquistar vantagem competitiva, Barney (1991) afirma que é necessário analisar esses recursos pelas seguintes óticas: (1) valor do recurso, ou seja, a capacidade que os recursos têm de agregar valor à organização ao explorar oportunidades; (2) raridade do recurso; nesse caso, como o recurso pode ser exclusivo de uma organização, pois empresas que detêm recursos raros dificultam que seus concorrentes obtenham vantagem competitiva; (3) imitabilidade do recurso, que tem a ver com a condição que as empresas têm de imitar os recursos disponíveis – quanto mais difíceis de imitar, maior a vantagem em relação aos concorrentes; e (4) organização dos recursos, ou seja, a maneira pela qual a empresa organiza os recursos existente, para que possam ser explorados da melhor forma possível. TEMA 2 – O CONCEITO DE CAPACIDADES DINÂMICAS E SUAS ABORDAGENS Após compreender as principais fontes que deram surgimento aos estudos a respeitos das Capacidades Dinâmicas (CD), iniciamos nesse tema a descrição dos conceitos a respeito do assunto, bem como suas diversas abordagens nos assuntos relacionados a estratégias organizacionais. Ao estudar os diversos trabalhos a respeito de CD, nota-se que os principais autores partem de um ponto em comum. Teece, Pisano e Schuen (1997) e Eisenhardt e Martin (2000), ambos seminais quando se trata de CD, iniciam as pesquisas como forma extensora do conceito já apresentado por Barney (1991) a respeito da VBR. 4 As CD foram desenvolvidas para responder uma questão chave: Como as organizações conseguem adquirir e manter vantagem competitiva quanto estão em um contexto de alta variação tecnológica? (Teece; Pisano; Schuen, 1997). Já Eisenhardt e Martin (2000) surgem com uma reconstrução a partir dessa abordagem, apontando que as CD também podem ocorrem em ambiente menos turbulentos. Porém, antes dessa divisão, ambos os estudos mantêm foco nas rotinas organizacionais, além de compreenderem que os mecanismos de gerenciamento fazem parte dos processos organizacionais e, como citado anteriormente, dão continuidade aos estudos da VBR (Peteraf; Stefano; Verona, 2010). A visão inicial de CD apresentada por Teece, Pisano e Schuen (1997) foi contrastada com o estudo de Eisenhardt e Martin (2000), quando questionamos os seguintes quesitos: • � Ambiente: Teece, Pisano e Schuen (1997) afirmam que as CD são melhor observadas em ambientes tecnológicos, que mudam com uma grande frequência; ou seja, é a habilidade que a organizações tem de se adaptar de acordo mudanças exigidas pelo mercado. Já Eisenhardt e Martin (2000) afirmam que as CD também ocorrem em ambientes moderados. • � Teece, Pisano e Schuen (1997) apontam que é possível adquirir vantagem competitiva em um ambiente de rápida mudança; por outro lado, Eisenhardt e Martin (2000) afirmam que as CD não podem ser uma fonte de vantagem competitiva. • � Teece, Pisano e Schuen (1997) afirmam que as CD devem ser difíceis de imitar; já Eisenhardt e Martim (2000) apostam nas melhores práticas.• � As CD, para Teece, Pisano e Schuen (1997), oferecem à organização capacidade de inovar, o que para Eisenhartd e Martin (2000) gera vantagem competitiva limitada, além de ser homogênea com as demais organizações. Para ficar mais claro, a seguir vamos realizar um aprofundamento no assunto, resgatando os estudos seminais de Teece, Pisano e Schuen (1997) e Eisenhardt e Martin (2000), além da corroboração dos principais seguidores, com os estudos que surgiram após essa divisão de conceitos encontrados a respeito das CD. 5 Como citado anteriormente, as CD surgiram da necessidade de compreender como organizações adquirem vantagem competitiva quando imersas em um ambiente de alta mudança tecnológica. Teece, Pisano e Schuen (1997) afirmam que empresas tecnológicas lutam constantemente por espaço no mercado, exigindo delas estratégias para conquistar vantagem competitiva. Até então, a visão baseada em recursos foi seguida por inúmeras empresas, uma delas a IBM, por “acumular ativos tecnológicos valiosos, que muitas vezes utilizados de forma agressiva de propriedade intelectual” (Teece; Pisano; Schuen, 1997, p. 515). Rosenbloom (2000) corrobora com esse ponto, afirmando que empresas de tecnologia têm o desafio de desenvolver novas estratégias e capacidades que se sobressaiam aos concorrentes na busca por novas tecnologias. Porém, Teece, Pisano e Schuen (1997) afirmam que somente essa estratégia não é suficiente para sustentar uma vantagem competitiva significativa. Os autores apontam que empresas que conquistaram uma alta vantagem competitiva perante seus concorrentes foram aquelas que tiveram a capacidade de resposta rápida ao meio ambiente, por meio da inovação de produtos, além de flexibilidade, bem como o poder de gerenciamento e coordenação das competências internas e externas. A capacidade de conquistar novas vantagens competitivas, segundo Teece, Pisano e Schuen (1997), é a Capacidade Dinâmicas. O termo “dinâmico” refere-se à capacidade de renovar competências de modo a alcançar congruência com o ambiente de negócios em mudança, para isso, respostas inovadoras são necessárias visto que o tempo do mercado é relevante bem como a taxa de mudança tecnológica que é rápida além da dificuldade de compreender a natureza das concorrências futuras. O termo “capacidade” enfatiza o papel da gestão estratégica em adequadamente adaptar, integrar e reconfigurar as habilidades internas e externas da organização, bem como seus recursos e competências funcionais para corresponder às exigências de um ambiente em mudança. (Teece; Pisano; Schuen, 1997, pg. 515) Ao estudar os processos organizacionais, Teece, Pisano e Schuen (1997) os dividem em três funções: coordenação/integração, aprendizagem e reconfiguração/transformação. Coordenação/integração se refere ao poder de gestão quanto às atividades tecnológicas internas, bem como ao poder de aliança com parceiros que possam contribuir para o avanço tecnológico organizacional (Teece; Pisano; Schuen, 1997). 6 No que diz respeito à coordenação, Adner e Helfat (2003) apresentam o conceito de Capacidades Gerenciais Dinâmicas, que consiste em um meio de observar as inúmeras formas de gerenciamentos e como elas resultam em um desempenho positivo, estando inseridas em um ambiente de mudança. A aprendizagem diz respeito ao processo de repetição dos integrantes no processo produtivo. Segundo Teece, Pisano e Schuen (1997), esse processo ocorre de forma efetiva quando existe uma integração forte e colaborativa entre as organizações. Além disso, os autores apontam um quesito relevante com relação à aprendizagem, que são as rotinas organizacionais, ou seja, “rotinas são padrões de atividades realizadas que permite satisfazer uma necessidade de forma satisfatórias” (Teece; Pisano; Schuen, 1997, p. 520). Esses padrões de interação permitem integrar o grupo em busca de soluções pontuais, além de contribuir para a aprendizagem organizacional. Corroborando, Zollo e Winter (2002) estudam o desenvolvimento de CD por meio das rotinas já instaladas, e como ocorrem as adaptações necessárias em um ambiente com uma rotina operante. Os autores afirmam que existe um conjunto de variáveis que permitem que isso ocorra: as experiências acumuladas; as articulações do conhecimento; e a codificação do conhecimento para a evolução do dinamismo dos processos e rotinas. Em outras palavras, Zollo e Winter (2002) compreendem que, para haver CD em uma organização, o processo de aprendizagem é relevante, visto que o conhecimento é repassado a toda organização, constituindo assim uma rotina. Nesse contexto, ao compreender que o processo de aprendizagem envolve o capital intelectual da organização, Subramaniam e Youndt (2005) afirmam que as relações que envolvem o sujeito, com a gestão do conhecimento e a gestão social, influenciam positivamente a capacidade de inovação radical; ou seja, a gestão do capital intelectual, sendo efetiva, colabora para a inovação das organizações. Reconfiguração e transformação, para Teece, Pisano e Schuen (1997), são observadas em ambiente de rápida mudança, em que se nota o poder que a empresa tem de se ajustar conforme as demandas que o ambiente exige. Para isso, é necessário que as organizações estejam sempre atentas às mudanças que ocorrem nos mercados, para desse modo observar quais as estratégias que melhor se adequam ao atendimento daquela necessidade, utilizando os recursos existentes, com as rotinas já empregadas. 7 Ao abordar as questões dos recursos, Helfat e Peteraf (2009) complementam os estudos de Teece, Pisano e Schuen (1997), com o conceito de Ciclo de Vida das Capacidades. Esse método possibilita visualizar a articulação dos recursos na evolução da organização. Helfat e Peteraf (2009) afirmam que existe uma dificuldade em identificar como a organização usa os recursos e suas capacidades para gerar vantagem competitiva. Rosembloom (2001) corrobora com o posicionamento de Teece, Pisano e Schuen (1997), no que diz respeito à transformação e reconfiguração, ao citar o caso da NCR, empresa de tecnologia dominante entre as décadas de cinquenta a setenta, que inovou com seus produtos por meio de mudanças incrementais, além de garantir valor ao seu modelo. Isso mostra que a necessidade de investimento em tecnologias, bem como todas as transformações decorrentes, colaborou para o sucesso da organização (Rosembloom, 2001). TEMA 3 – RECURSOS EMPRESARIAIS NECESSÁRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES DINÂMICAS Teece, Pisano e Schuen (1997) abordam a questão da posição da organização, que segundo se refere à postura estratégica de uma empresa, que é determinada por seus ativos específicos, como por exemplo instalações e equipamentos especializados. Segundo Teece, Pisano e Schuen (1997), esses ativos determinam a vantagem competitiva da organização em qualquer momento da organização. Dentro da posição, são identificadas algumas classes (Teece; Pisano; Schuen, 1997): • � Ativos tecnológicos, que se referem à tecnologia própria empregada, que não está disponível no mercado; • � Ativos complementares, que são os ativos que, em conjunto com os ativos tecnológicos, vão criar o produto final; • � Ativos financeiros, que é a posição do caixa na empresa e como serve para alavancar a empresa estrategicamente; • � Ativos de reputação, em referência à qualidade das informações que são repassadas aos seus clientes; • � Ativos estruturais, como a estrutura de vínculos externos que auxilia na inovação, bem como nas competências e na capacidade de evoluir; 8 • � Ativos institucionais, que se referem a leis e regulamentações que exercem influência sobre o regimento organizacional; • � Ativos de mercado, como sendo a posição da organização no mercado, definida por suas capacidades e competências para inovar; • � E os limites organizacionais, que demonstram como a empresa está integrada. Com relaçãoà trajetória, Teece, Pisano e Schuen (1997) apresentam o conceito de dependência da trajetória, que que nada mais é do que o caminho que a organização percorreu para chegar ao seu ponto atual. Nesse trajeto percorrido pela organização, entram as tecnologias adquiridas e produzidas, os produtos criados, os processos, os preços estabelecidos, as parcerias realizadas e como todos esses elementos em conjuntos contribuíram para o posicionamento da organização, lembrando que isso tudo por meio de seus recursos e de rotinas já estabelecidas (Teece; Pisano; Schuen, 1997; Nelson; Winter, 1982; Zollo; Winter, 2002). Dentro da dependência da trajetória, Teece, Pisano e Schuen (1997) apresentam o conceito de oportunidades tecnológicas, que é definindo como o poder que a organização tem de inovar por meio de ações conjuntas com universidade e instituições de pesquisa, em busca de tecnologias que vão auxiliar no desenvolvimento da organização. A área de P&D das organizações se torna peça chave no que diz respeito aos avanços tecnológicos. Para Teece, Pisano e Schuen (1997), o conhecimento adquirido durante sua trajetória é capaz de mudar o rumo de uma organização, atuando em áreas até então desconhecidas; serve, dessa forma, como ponto de partida para a inovação. Eisenhardt e Martin (2000) apontam que a dependência da trajetória cria uma rotina que se deve ao conhecimento adquirido na organização, podendo, dessa forma, fazer evoluir as Capacidades Dinâmicas. Isso corrobora com a ideia de Teece, Pisano e Schuen (1997) e Zollo e Winter (2002), ao afirmarem que as rotinas geram aprendizagem. Em outra abordagem, Eisenehardt e Martin (2000) assumem um papel diferente com relação às CD. O foco principal colocado pelos autores tem por base os recursos que as organizações possuem; ou seja, as organizações obtêm vantagem competitiva por meio de seus recursos. Para Eisenhardt e Martin (2000), as CD são um conjunto de processos específicos e que podem ser identificados – por exemplo, desenvolvimento de 9 produtos e tomada de decisão. Um ponto de desencontro entre ideias parte da ideia de imitabilidade das CD, apresentada por Teece, Pisano e Schuen (1997). Segundo Teece, Pisano e Schuen (1997), para entender o conceito de imitação, é necessário compreender o significado de replicação, que “envolve a transferência ou reinstalação de competências em um cenário econômico concreto para outro (Teece; Pisano; Schuen, 1997, p. 525). Ou seja, é a capacidade de a empresa reaplicar seu conhecimento em cenários diferentes. Porém, muitas vezes isso só ocorre quando se transfere capital humano, embora isso seja minimizado quando se transforma conhecimento tácito em conhecimento explícito (Teece; Pisano; Schuen, 1997). Por outro lado, os autores apontam que a replicação ocorre de forma estratégica quando se pretende expandir os negócios geograficamente, aos abrir filiais em lugares novos, atendendo a demanda local. Dessa forma, a replicação pode gerar valor para a organização. Teece, Pisano e Schuen (1997) afirmam que pelo fato de o conhecimento ainda ser extremamente tácito, os processos podem não seguir a mesma linha das organizações iniciantes. Em relação à imitação, Teece, Pisano e Schuen (1997) afirmam que é a replicação realizada por um concorrente. Como foi apresentamos anteriormente, o processo de replicação já é difícil, pois envolve competências únicas e difícil de serem repassadas; dessa forma, entende-se que a imitação se torna um cmainho mais dificultoso, pois os processos de outras organizações não condizem com a realidade da empresa que detém certo conhecimento ou tecnologia. Os autores afirmam que, quanto mais tácito o conhecimento, mais difícil de ser imitado. Além disso, Teece, Pisano e Schuen (1997) apresentam outros componentes que impedem a imitação, como a contratação de um indivíduo- chave e também de um processo-chave. Uma dessas barreiras, e uma das mais conhecidas, é a proteção de propriedade intelectual na criação de patentes. Em um mundo no qual as empresas buscam por inovação, as organizações devem optar por estratégias e competências difíceis de imitar. No entanto, as competências das organizações são influenciadas por escolhas passadas; ou seja, durante a sua trajetória foram definidas competências que fazem parte do presente e que determinam o caminho que se deve seguir (Teece; Pisano; Schuen, 1997). Essa dificuldade de imitar é chamada por Teece, Pisano e Schuen (1997) de competência distintiva; ou seja, um produto ou serviço se caracteriza como 10 uma competência por não existir no mercado, exigindo uma configuração própria por parte da empresa; isso faz com que organizações do mesmo setor não obtenham esse diferencial. Já para Eisenhardt e Martin (2000), existe uma certa semelhança de capacidade entre as empresas, o que é chamado de melhores práticas; há, dessa forma, uma certa homogeneidade das Capacidades Dinâmicas. Outra questão que difere dos estudos de Teece, Pisano e Schuen (1997) diz respeito ao ambiente. Einsenhardt e Martin (2000) afirmam que, em ambientes moderados, as capacidades dinâmicas se assemelham às rotinas organizacionais, com resultados previsíveis dentro da organização. A crítica que se faz ao ambiente de alta mudança, como é mencionado por Teece, Pisano e Schuen (1997), questiona se nesses ambientes as rotinas se tornam processos simples, frágeis e com resultados inesperados. Entrando mais a fundo nos estudos de Eisenhardt e Martin (2000), no que diz respeito ao dinamismo do mercado, os autores afirmam que os padrões das CD são decorrentes das alterações do mercado. Em mercados dinâmicos moderados, as mudanças ocorrem frequentemente de maneira linear; dessa forma, demonstram certa instabilidade, por conta de serem previsíveis durante o percurso, de modo que todos os atores (stakeholders) são conhecidos. Assim, as CD são eficientes pela forma como o conhecimento é adquirido e transformado em estratégia (Eisenhardt; Martin, 2000). Por outro lado, Eisenhardt e Martin (2000) afirmam que, em mercados mais dinâmicos, como citado por Teece, Pisano e Schuen (1997), a mudança não é linear e não há previsibilidade. Ou seja, a incerteza ocorre pois não é possível identificar as oportunidades. As CD nesse mercado de alta velocidade podem estar embasadas no conhecimento adquirido, e muito menos adquirir novos conhecimento, devido à agilidade em mudanças; o conhecimento adquirido pode entrar como desvantagem nesse processo por vantagem competitiva (Eisenhardt; Martin, 2000). Dessa forma, entende-se que os recursos geram vantagem competitiva em longo prazo nos ambientes moderados, levando em conta a lógica da estratégia de alavancagem, podendo então se equiparar às estratégias adquiridas em ambientes de mercados de rápida mudança (Eisenhardt, Martin; 2000). Eisenhardt e Martin (2000, p. 1107), de modo semelhante a Teece, Pisano e Schuen (1997), definem Capacidade Dinâmica como: 11 processos da empresa que utiliza recursos específicos para integração, reconfiguração, adquirir e disponibilizar recursos para igualar e até mesmo criar uma mudança no mercado. Capacidades dinâmicas, portanto, são as rotinas organizacionais e estratégicas por parte das empresas de alcançar novas configurações de recursos como os mercados emergem, colidem, se unem, evoluem e morrem. Einsenhardt e Martin (2000) receberam influência de vários autores, como por exemplo Kogut e Zander, Henderson e Cockburn, Amit e Schoemarker, que estudaram as Capacidades Combinativas ou Arquitetura de Capacidades, com vistas a descrever os processos organizacionais em busca de sintetizar e adquirir recursos de conhecimento, para então gerar novas aplicações desses recursos. Outros autores que importantes descrevem que as CD integram os recursos, ou seja, as rotinas de desenvolvimento de produtos e a combinação das habilidades de gestão para a criação de serviços e receita (Helfat;Raubitschek, 2000). Nesse sentido, a tomada de decisão é uma CD, pois exige dos gestores o poder de reunir os recursos de forma funcional, moldando as estratégias necessárias para a criação de vantagem competitiva. Ainda corroborando com a criação das CD, de acordo com a visão de Einsenhardt e Martin (2000) e Szulanski (1996) afirmam que as CD também podem ser vistas como reconfiguração de recursos dentro das organizações, ou seja, processos de transferência e replicação de rotinas feitas pelos gestores para copiar, transferir e recombinar recursos baseados no conhecimento da empresa. TEMA 4 – MODELO DE NEGÓCIOS Para compreendermos o termo Modelo de Negócio (MN), bem como suas diversas abordagens, vamos utilizar como ponto de partida o trabalho realizado por Lambert e Davidson (2013), que estudaram, por meio de uma análise bibliométrica, como vem sendo apresentadas as pesquisas sobre MN. O termo modelo de negócio está presente em diversos meios, na própria academia científica e também nas empresas (Lecocoq; Demil; Warnier, 2006; Zott; Amit; Massa, 2011). Zott, Amit e Massa (2011) descrevem alguns conceitos atribuídos aos modelos de negócio, chegando assim a uma divisão do termo em quatro temas: (1) o modelo de negócio como nova unidade de análise; (2) o modelo de negócio para explicar como as empresas fazem negócio; (3) o modelo de negócio para analisar os modelos comerciais propostos; e (4) o modelo de negócio para explicar a criação e captura de valor na organização. 12 O último tema descrito anteriormente é resultado dos procedimentos que uma empresa adota para criar valor para seus (Jhonson; Christensen E Kagermann, 2008; Tecce, 2010; Sako 2012; Bekmezc, 2013). No entanto, para chegar a esse resultado, as pesquisas de mercado comumente realizadas não são suficientes, exigindo métodos diferenciados que abordem ações tecnológicas e as necessidades dos clientes. Empresas que criam valor têm uma boa reputação diante seus consumidores. Isso ocorre quando uma empresa encontra alternativas para problemas ou apresenta um serviço ou produto inovador que atenda necessidades reais. Esse processo, no entanto, acontece quando existe um modelo de negócio estruturado. Outros critérios que colaboram com o modelo de negócio são as seleções das tecnologias adotadas, bem como os mais diferentes recursos; além disso, relatórios dos benefícios oferecidos aos clientes ao consumirem um produto ou serviço inovador. Podemos destacar também a identificação de novos mercados e possíveis segmentos de clientes que devem ser explorados. Podemos afirmar que esses elementos levam à criação de valor, quando bem trabalhados. Esse valor pode ser percebido quando a receita da empresa sofre alterações positivas; ou seja, o lucro obtido a partir desse novo modelo de negócio é um importante indicador de sucesso empresarial. Outros pontos relevantes na estrutura do modelo ne negócio são os recursos-chave e os processos-chaves. O primeiro trata dos recursos fundamentais para o desenvolvimento de certa atividade na organização. Já os processos-chave são ações primordiais que irão gerar receita e valor para a organização. Para ter sucesso, uma empresa deve adotar procedimentos e recursos que seus concorrentes dificilmente possam imitar; assim, essa estrutura, desde que bem estruturada, irá gerar vantagem competitiva. TEMA 5 – INOVAÇÃO NO MODELO DE NEGÓCIO A inovação tecnológica, como já tratamos anteriormente, tem importância central no desenvolvimento das organizações e da sociedade como um todo. Nesse cenário, métodos de produção bem desenvolvidos são essenciais para atender as necessidades de uma sociedade e de um mercado cada vez mais exigentes. 13 Esses métodos novos podem se caracterizar como inovação no modelo de negócio, quando adotados por empresas, já que esses elementos, quando bem aplicados, tornam a empresa bem-sucedida. Teece (2010) afirma que os modelos de negócios resultam da inovação tecnológica que ocorre na organização. A tecnologia que tem como objetivo atender as necessidades do mercado e também dos clientes não correspondidos. Essa capacidade de mudança da organização, de se adaptar às condições, faz com que a empresa obtenha um melhor desempenho (Lambert; Davidson, 2013). Novos modelos de negócios, ou refinamentos para os já existentes, muitas vezes resultam em um custo mais baixo ou o aumento do valor para o consumidor; se não for facilmente replicado por concorrentes, eles podem fornecer uma oportunidade de gerar retornos mais altos para o empresário, pelo menos até que seus novos recursos sejam copiados. (Teece, 2010, p. 181) Design e estrutura organizacional são características críticas do modelo de negócio da inovação. Compreender como os inovadores modelos de negócios alcançam flexibilidade estratégica requer uma apreciação diferenciada da relação entre mudanças estruturais, a atenção gerencial e controle. Além disso, que as tentativas de reduzir a complexidade do projeto estariam associadas com o aumento da flexibilidade. (Bock et al., 2002, p. 299) Dessa forma, o modelo de negócio também pode ser considerado como uma inovação em si, a partir de sua reestruturação, independentemente da utilização ou não de novas tecnologias. O importante é a criação de valor. Também podemos tratar da inovação do modelo de negócio a partir da necessidade de internacionalização da empresa – ou seja, da busca por novos mercados e clientes. Empresas que adequam o seu modelo de negócio, a fim de tirar proveito de novos mercados, conseguem adquirir novos conhecimentos e recursos, gerando assim vantagem competitiva para a organização. Outro ponto a ser considerado é que, quando a empresa escolhe por entrar em novos mercados, a utilização de novas tecnologias pode atrapalhar o processo, considerando a necessidade de um certo grau de aprendizagem para quaisquer tecnologias. Sugere-se que as empresas, antes de tudo, aprendam muito bem sobre essas tecnologias, para então entrarem em novos mercados. Isso mostra que o modelo de negócio é flexível, podendo ser ajustado em decorrência da necessidade da empresa. A adoção de novos processos e recursos, dependendo do grau do impacto, não irá gerar dificuldades no andamento das atividades empresariais. 14 Assim, a inovação no modelo de negócio pode ser um dos caminhos mais assertivos para a empresa, trazendo consigo vantagem competitiva e sucesso financeiro. A mudança no modelo é algo complexo e exige muito conhecimento por parte da gestão; no entanto, é um procedimento muitas vezes necessário para a sobrevivência da empresa. 15 REFERÊNCIAS ADNER, R., HELFAT, C E. 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