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fatores que contribuem para os conflitos identitários

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CONTEXTUALIZAÇÃO
O local onde você mora, sua ascendência familiar, suas relações sociais de entorno e a forma como foi criado(a) são elementos fundamentais para moldar a sua identidade, não é mesmo? A identidade cultural é a identidade de pertencer a um grupo. Tem a ver com sua história, enquanto membro de um grupo social.
Nós podemos interagir com outas pessoas, considerando a etnia, a nacionalidade, a religião, a classe social, a geração ou até mesmo a localidade. Quantas vezes, você não diz que seu bairro é diferente de todos os outros? Ou a sua religião? Ou afirmar categoricamente que tem orgulho do seu sobrenome?
A cultura é o modo de vida de um grupo de pessoas, ou seja, a vida social passa a ser estruturada de uma forma particular. Identidade significa saber quem você é. Cultura e identidade estão frequentemente ligadas.
O problema é quando você diz que sua religião, etnia ou bairro é melhor do que a dos outros, quando pessoas não toleram o que é diferente. No esquema a seguir, observe alguns tipos de intolerância e/ou discriminação:
swap_horiz Arraste para os lados.
DISCRIMINAÇÃO RACIAL
DISCRIMINAÇÃO RELIGIOSA
DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO
DISCRIMINAÇÃO POLÍTICA
DISCRIMINAÇÃO DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA
A intolerância, a falta de empatia com o outro e a violência são elementos essenciais para deflagração dos conflitos identitários, que têm permeado a história mundial, com exemplos em vários continentes.
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Espanha: Catalães e Bascos
A Espanha vive movimentos separatistas por conta das diferenças entre espanhóis e catalães ou entre espanhóis e bascos.
China: Han
Na China, a maioria da etnia Han domina os tibetanos, que desejam seguir os desígnios do Dalai Lama.
Geórgia: Ossétia
Na Geórgia, a Ossétia do Sul deseja a independência para se reunir com a Ossétia do Norte, na Rússia.
Rússia: Chechênia e Daguestão
Na própria república russa, os chechenos e a população do Daguestão (foto) desejam autonomia e/ou independência.
Neste módulo, vamos trabalhar com as diferenças identitárias que causaram o desmembramento da Iugoslávia (nos Balcãs); entre Paquistão e Índia, bem como os problemas entre turcos e curdos, no Oriente Médio.
DESMEMBRAMENTO DA IUGOSLÁVIA E OS CONFLITOS NOS BALCÃS
Para entender o conflito na ex-Iugoslávia, temos que voltar no tempo. Já havia muitas diferenças e conflitos entre as nações que outrora formavam a Iugoslávia. A Macedônia já foi anexada pela Sérvia. A Bósnia-Herzegovina já foi parte do Império Austro-Húngaro.
A Iugoslávia foi organizada geopoliticamente no final da Primeira Guerra Mundial, sendo aglutinada até compor os Estados da Sérvia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Eslovênia e Montenegro.
 Formação da Iugoslávia.
Havia muitas diferenças identitárias, uma vez que o país reunia sérvios, croatas, eslovenos, albaneses, turcos, montenegrinos, entre outras etnias e aglutinava, também, grande diversidade religiosa, com católicos, cristãos ortodoxos e muçulmanos.
Todas essas diferenças eram controladas durante a Guerra Fria por causa do carisma e da liderança do marechal Josip Broz Tito, e foram mantidas fora de vista da opinião pública internacional. Com a sua morte, começaram os problemas.
A principal preocupação de Tito era a coesão dentro da Iugoslávia e a criação de uma identidade iugoslava. Ele aderiu à visão marxista-leninista de que, em longo prazo, as nações tendiam a desaparecer. As classes sociais e o estado comunista criariam bem-estar para todos (FAUCOMPRET, 2001). O problema é que as diferenças étnicas começaram a superar a determinação de Tito de os manter unidos e os problemas cresceram com as crises econômicas, nos anos 1970 (choques do petróleo, greve de trabalhadores, desemprego, fome). As diferenças tornaram-se insustentáveis com a morte de Tito, em 1980, fortalecendo os movimentos separativas.
Antes de morrer, Tito havia determinado que o governo iugoslavo seria resultante de um rodízio étnico no poder. Mas a fragilidade do sistema é que os novos governantes não tinham confiança dos diferentes grupos étnicos como em outrora, com Tito. Além disso, não era respaldado por votos majoritários da população, ou seja, faltavam os parâmetros democráticos da eleição, o que se provou ser um ponto decisivo para o fracasso do sistema.
Na década de 1980, o sérvio Slobodan Milosevic materializou a sua ascensão ao poder alçando a presidência do país em 1989. Ele percebeu que o socialismo estava morrendo e o seu projeto político de poder passou ao incentivo da nova ideologia do nacionalismo étnico. Ele era um mestre da propaganda e usou a mídia cativa sérvia para promover sua causa e a da Grande Sérvia. Milosevic canalizou a desconfiança sérvia contra as outras repúblicas e orquestrou manifestações em massa. “Ninguém vai te bater de novo”, ele disse aos sérvios em Kosovo em 1987, quando foi aplaudido ruidosamente pelas multidões sérvias (FAUCOMPRET, 2001).
Em 1991, Croácia e Eslovênia foram as primeiras repúblicas a se declarar independentes, seguidas logo depois pela Macedônia, desagradando Milosevic. Quando a Bósnia-Herzegovina tomou a mesma decisão, o presidente sérvio interveio, causando um conflito local com consequências genocidas sem precedentes no país.
A Bósnia-Herzegovina reunia grupos étnicos diversos: bósnios-muçulmanos, sérvios-bósnios (em sua maioria cristãos ortodoxos) e croatas-bósnios (de maioria católica), que lutaram pelo governo do país.
A guerra iniciou e imediatamente os sérvios-bósnios receberam apoio da Sérvia, que chegou a ocupar 70% do território, com o avanço do conflito. Os bósnios propriamente ditos (muçulmanos) foram dominados devido à falta de armamentos e de treinamento miliar.
Inicialmente, os sérvios dominaram e promoveram uma verdadeira limpeza étnica, através de um genocídio alarmante – um dos mais conhecidos foi o massacre de Srebrenica. Com o avanço da guerra, os bósnios começaram a receber apoio dos países muçulmanos que lutaram duramente e também cometeram inúmeros excessos ou crimes de guerra, forçando o país ao acordo de paz alinhado aos Estados Unidos e à Europa Ocidental, conhecido como Acordo de Dayton, em 1995.
Depois do conflito, a Iugoslávia reuniu a Sérvia (com suas duas regiões autônomas: Kosovo e Voivodina) e Montenegro. Veremos a seguir essas regiões ilustradas em um mapa:
 Localização da Sérvia e Montenegro.
A população em Kosovo era majoritariamente albanesa e desejava uma aproximação com a independente e vizinha Albânia. Entretanto, Milosevic via Kosovo como o berço do nacionalismo sérvio (que remonta ao século XIV) e não desejava mais perda territorial. Por isso, no final dos anos 1990, a guerra de Kosovo causou preocupações à liderança atroz de Milosevic contra os separatistas albaneses na região. Uma proposta de paz foi declarada com a participação da ONU, porém os albaneses queriam a total independência e os sérvios ofereceram apenas uma autonomia parcial. Não houve acordo e a guerra prosseguiu, com crescentes ações genocidas por parte dos sérvios.
As forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) intervieram belicamente, promovendo bombardeios e forçando a permissão de entrada de suas tropas em Kosovo, instaurando um governo provisório, sob a tutela da ONU. E foi a partir de 2006, após um referendo, que Montenegro se tornou independente.
Unilateralmente, Kosovo declarou-se independente em 2008 – ação que foi reconhecida por França, Alemanha, Dinamarca e Estados Unidos. Por outro lado, países como a Sérvia, Rússia e Espanha não demonstraram reconhecimento (até por terem movimentos separatistas em seu território). Em 2020, Sérvia e Kosovo retomaram as conversações diplomáticas.
CONFLITO ENTRE ÍNDIA E PAQUISTÃO
A disputa entre a Índia e o Paquistão pela Caxemira foi desencadeada por uma decisão fatídica, em 1947, e resultou em décadas de violência, incluindo diferentes guerras.
Vamos entender a origem desse conflito?
Para isso, é preciso vasculhar a história colonial da Índia e Paquistão, antigas colônias britânicas. Nesse período, já havia crescentestensões entre a maioria hindu e a minoria muçulmana no país.
Com o avanço do movimento nacionalista, houve ameaça ao declínio da coroa britânica na região, o que acabou por acontecer após a Segunda Guerra Mundial, quando inúmeras ex-colônias na Ásia e África, predominantemente, alcançaram a independência política.
Em 1947, os britânicos criaram duas nações independentes: uma de maioria muçulmana, no Paquistão, e outra de maioria hindu, na Índia. É importante destacar que nos termos da partição política, centenas de pequenos estados principescos da Índia colonial deveriam decidir se juntar a uma nova nação ou permanecerem independentes.
Na época, o estado principesco de Jammu e Caxemira, de população majoritariamente muçulmana, era governado pelo marajá Hari Singh, um hindu. Ele desejava a independência de seu principado. O Paquistão pressionou em favor da unificação com seu país, uma vez que a maioria do principado era muçulmano. Com a ameaça de invasão por tribos pashtuns (do Paquistão), o marajá solicitou ajuda à Índia, que aceitou protegê-los desde que a Caxemira aderisse à Índia.
A fatídica decisão do marajá de unificar a Caxemira à Índia deu início a décadas de conflito na região contestada, incluindo guerras e uma insurgência de longa data. Então, vamos traçar uma linha histórica do conflito na Caxemira?
Vejamos:
Primeira guerra na Caxemira
1947-1948
Segunda guerra na Caxemira
1965
Terceira guerra e a independência do Paquistão Oriental (Bangladesh)
1971
Guerra de Kargil
1999
Cessar-fogo
2003
Linha do tempo das Guerras na Caxemira.
Pode-se afirmar, então, que a primeira Guerra da Caxemira aconteceu entre 1947 e 1948, quando a Índia se impôs sobre o Paquistão pela posse de seus territórios. O gigante indiano foi até as Nações Unidas para a exigência de um cessar-fogo, uma vez que o principado já tinha optado pelos hindus formalmente.
De acordo com editorial publicado pela BBC (2019), em 1965 e 1971 mais conflitos envolveram paquistaneses e indianos, na região. Em 1965, a Índia precisou deter uma ação paquistanesa de infiltrar guerrilheiros para fomentar uma revolta na Caxemira, estimulando uma insurreição. Mais uma vez, o Conselho de Segurança da ONU interveio e um cessar-fogo foi imposto.
Em 1971, as forças indianas e paquistanesas novamente entraram em conflito e, diante do avanço da Índia, o Paquistão rendeu-se. Sua parte oriental sofreu o separatismo completo, formando o Estado independente de Bangladesh. A população local, bengali, já desejava autonomia, não tinha a mesma atenção que a parte ocidental do Paquistão, e aproveitou o momento para promover a sua independência.
Com o crescimento do movimento de valorização da população muçulmana, os populares islâmicos da Caxemira iniciaram uma ampla insurreição armada, nos anos 1980 e 1990, com o apoio de terroristas de origens primariamente paquistanesa e afegã (com envolvimento de Al-Qaeda e talibãs).
Saiba mais
Al-Qaeda é uma organização formada por militares fundamentalistas islâmicos, criada por Osama Bin Laden em 1989. Os talibãs são um grupo político-militar que atua no Afeganistão e no Paquistão. Teve origem junto a povoados na fronteira entre esses países e se formou em 1994, durante a ocupação soviética do Afeganistão.
Os exércitos paquistaneses e indianos envolveram-se em outro conflito, em 1999, chamado de Guerra de Kargil. O diferencial deste evento é que os rumores de que os dois países tinham desenvolvido armas nucleares deixaram o Ocidente preocupado com a evolução para uma guerra nuclear descontrolada, temperada pelo fanatismo religioso. Os Estados Unidos intervieram e o Paquistão recuou, devolvendo os postos e controle obtidos anteriormente.
Embora ambos os países tenham mantido frágil cessar-fogo desde 2003, eles trocam tiros regularmente através da fronteira contestada, conhecida como Linha de Controle. Paquistaneses e indianos acusam o outro de violar o cessar-fogo e afirmam estar atirando em resposta aos ataques. Tudo isso em meio a ataques terroristas ao Parlamento indiano (2001), ataques múltiplos em Mumbai (2008) e a bases do exército indiano (2016). A Índia também promoveu ataques ao Paquistão e, em 2019, causou um furor diplomático internacional ao realizar ataques aéreos ao grupo terrorista JeM, em Balakot, no Paquistão (DW, 2019).
Para visualizar os conflitos territoriais envolvidos, observe o mapa regional apresentado a seguir:
 Região da Caxemira e a organização dos territórios reclamados.
O vale da Caxemira, região com montanhas cobertas de neve, é demarcada por territórios. Em verde, Caxemira Livre e Territórios do Norte, é uma unidade política sob o controle do Paquistão, com autonomia governamental parcial. Em roxo, estão os territórios Jammu e Caxemira, sob o controle da Índia e reclamada pelo Paquistão. A parte amarela, Aksai Chin, foi conquistada pela China através de uma ocupação militar, posteriormente reclamada pela Índia. Na parte amarela mais ao norte, há um trecho territorial da Caxemira cedida pelo Paquistão à China, em 1963, porém reclamada pela Índia. A parte branca cobre uma área conquistada pela Índia no conflito em 1965, ou seja, é uma fronteira bem indefinida, ainda.
O que se tem conhecimento é que, na Caxemira, as opiniões sobre a lealdade legítima do território são diversas e fortemente defendidas. Muitos não querem ser governados pela Índia, preferindo a independência ou a união ao Paquistão. A diversidade religiosa é o principal fator de conflito: Jammu e Caxemira tem população superior a 60% composta por muçulmanos, tornando-se o único estado da Índia onde são maioria. Sentimentos de privação de direitos foram agravados na Caxemira administrada pela Índia pelo alto índice de desemprego e pelas queixas de abusos dos direitos humanos pelas forças de segurança que lutavam contra manifestantes de rua e insurgentes.
Ademais, o parlamento aprovou um projeto de lei que dividia a Caxemira administrada pela Índia em dois territórios governados diretamente por Delhi: Jammu e Caxemira, e a remota Ladakh. O problema foi a oposição da China a esta reorganização, uma vez que compartilhava uma disputada fronteira com a Índia em Ladakh, e acusou Delhi de minar sua soberania territorial.
A QUESTÃO DOS CURDOS
Os curdos, juntamente aos turcos, persas e árabes, formam o grupo predominante no Oriente Médio e vivem nas áreas montanhosas entre Irã, Iraque, Síria, Armênia e Turquia, como pode ser observado na imagem a seguir:
 Região do Curdistão.
Esse povo compõe uma nação, por conta de sua mesma origem étnica, língua e cultura, mas não possui um recorte espacial onde sejam soberanos. Destaca-se que os curdos ocupavam uma região montanhosa que permeia vários países soberanos, sendo lógico pensar que essa nação desejaria ter também o seu próprio país – um Estado Nação curdo.
No início do século XX, muitos curdos passaram a considerar a criação de uma pátria, geralmente conhecida como "Curdistão". As lideranças políticas dos países que possuíam os curdos em seu território viam esse movimento nacionalista como ameaça e passaram a buscar formas de deter a criação desse Curdistão independente em potencial.
Durante a Guerra Fria, os curdos tinham status de grupo étnico minoritário protegido, mas a partir dos anos 1980, foram alijados de seus privilégios culturais e perseguidos. Muitos refugiaram-se na Rússia ou na Europa Ocidental.
Na República do Irã, a semelhança entre as línguas e as culturas curda e persa (em comparação aos turcos e árabes) e o equilíbrio populacional mais igualitário entre esses grupos étnicos resultaram em uma experiência de cidadania mais consolidada. Os curdos iranianos desejavam mais autonomia e não a independência, de forma geral.
Desde a Revolução Iraniana, em 1979, na revolta dos curdos contra o aiatolá Khomeini, o governo teocrático desenvolveu uma nova concepção excludente do nacionalismo curdo, expulsando os curdos sunitas do país. Desde 2004, os guerrilheiros curdos secessionistas do Partido por uma Vida Livre no Curdistão (PJAK) têm enfrentado o governo iraniano, resultando emmortes em ambos os lados.
No Iraque contemporâneo, a população curda está usufruindo de um momento de paz política, com as demandas de autonomia sendo atendidas, mesmo que parcialmente. Mas esses privilégios democráticos lhes foram negados durante décadas.
Nos anos 1970, no Iraque, os curdos perseguiram o objetivo de maior autonomia e foram brutalmente reprimidos por Saddam Hussein. Durante a guerra Irã-Iraque, nos anos 1980, o regime de Saddam implementou uma dura política contrária aos curdos, praticando um verdadeiro genocídio, mas o país nunca foi seriamente punido pela ONU pelas suas ações violentas.
Com a Guerra do Golfo, nos anos 1990, quando a ONU autorizou o uso de força militar para liberar o Kuwait da sede de petróleo de Saddam, os curdos aproveitaram a temporária fragilidade do líder iraquiano para se rebelar, mas a resposta de Hussein foi dura, resultando na criação de uma grande massa de refugiados em direção ao Irã e à Turquia.
Para proteger o povo curdo, o Conselho de Segurança da ONU impôs a criação de uma Zona de Exclusão Aérea no Iraque, ao norte do país. Para proteger os povos islâmicos xiitas, também foi criada uma área de proteção ao sul. Os povos obtiveram mais autonomia e, durante um tempo, a região foi controlada pelos partidos políticos locais.
Com a invasão norte-americana ao Iraque, no início dos anos 2000, os curdos apoiaram a força tarefa da ONU e passaram a alcançar maior estabilidade política, são autônomos e formam uma entidade federal reconhecida pelo Iraque e pelas Nações Unidas.
Os maiores problemas geopolíticos envolvendo a população curda, no Oriente Médio, costumam acontecer na Turquia e na Síria, envolvendo o grupo terrorista Estado Islâmico.
Durante as primeiras décadas do século XXI, na Turquia, vivem aproximadamente metade dos curdos existentes na região e, mesmo sendo tão numerosos, têm a manifestação de sua cultura e modo de vida reprimidos pelo governo.
O governo turco sempre frustrou as tentativas dos curdos de se organizarem politicamente. Os partidos políticos curdos foram fechados, um após o outro, e os membros do partido acabam perseguidos e presos por "crimes de opinião". Como promover um debate democrático de suas divergências sem direito a uma representação política?
O fracasso na abordagem das queixas curdas, ao longo das décadas de 1960 e 1970, levou a vias alternativas para resolução do problema. Em 1984, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) iniciou uma insurgência de guerrilha contra a República Turca e, a partir de então, passaram a adotar uma movimentação sistemática de confronto, que resulta em constantes conflitos entre curdos e turcos no país.
Somado às queixas desses povos das montanhas na Turquia está o subdesenvolvimento econômico da região curda no país. O governo de Ancara (capital turca) retinha sistematicamente recursos curdos, contribuindo para o empobrecimento daquele povo.
Com o crescimento da força dos curdos durante a Guerra na Síria, a Turquia aumentou os esforços na supressão da cultura curda em seu território, temendo os movimentos separatistas liderados pelo PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão).
Assim como nos demais países, os curdos da Síria também desejavam autonomia e, nesse caso, querem a independência total.
A partir da segunda metade do século passado, o governo sírio passou a não reconhecer a nacionalidade curda e, portanto, despojados desse importante elemento de união nacional, tiveram o direito à sua cultura e modo de vida proibidos.
Com a eclosão da Guerra Civil na Síria, em 2011, a partir dos desígnios da Primavera Árabe, as forças do governo sírio abandonaram muitas áreas povoadas pelos curdos, deixando-os livres para preencher o vácuo de poder e governar essas áreas de forma mais autônoma. Não era possível o governante Bashar al-Assad combater o Estado Islâmico, resolver a questão da guerra civil e lutar para permanecer no poder ao mesmo tempo.
O que o Estado Islâmico tem a ver com os curdos?
Vamos retomar uma questão geopolítica importante.
O Estado Islâmico é um califado (Estado governado por uma autoridade religiosa) que se proclamou independente e tomou extensas áreas no Iraque e na Síria, como podemos observar no esquema a seguir. Tem uma atuação terrorista, cuja ideologia é baseada em interpretações radicais de determinados princípios do islamismo.
 Localização dos territórios que foram controlados pelo Estado Islâmico, para a criação de um califado islâmico.
O seu crescimento está associado ao vazio do poder deixado pela invasão ao Iraque em 2003, afastando Saddam Hussein do poder e permitindo que gupos jihadistas tivessem sua atuação ampliada. Com a Guerra na Síria, a partir de 2011, e a perseguição do governo aos insurgentes no país, o Estado Islâmico cresceu e se tornou uma força terrorista internacional a ser combatida pelas Nações Unidas.
Na luta contra os grupos terroristas, personagens até então rivais como Estados Unidos, Rússia, Síria e curdos, sentaram-se a mesa para o desenvolvimento de uma estratégia de combate para derrotar o inimigo em comum.
Os combatentes curdos no norte da Síria e do sul da Turquia serviram como aliados cruciais dos EUA na luta contra o Estado Islâmico. As forças curdas lutaram incansavelmente contra o Estado Islâmico e foram treinados e armados pelo Ocidente, o que manteve o governo turco em alerta, receoso do aumento do poder e influência dos curdos na região.
Em 2019, a Turquia e a Rússia (rival dos Estados Unidos) selaram um acordo para expulsar as forças curdas da fronteira entre a Turquia e a Síria. As tropas turcas lançaram uma ofensiva contra as forças curdas apoiadas pelos EUA, o que deixou o gigante norte-americano em desvantagem diplomática na região.
A partir do início deste século, os curdos ainda desenvolvem uma luta contra o Estado Islâmico, apoiado pelos Estados Unidos, mas temem as forças turcas, o que mantem essa região desarmônica e com chances de recrudescimento da violência a qualquer momento.
Resumindo
O que se observa é que a expansão do capitalismo e dos ideais democráticos ainda mobiliza diferentes grupos que desejam alcançar ou manter o seu controle sobre territórios e grupos sociais.
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