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PÓS-ESTRUTURALISMO

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PÓS-ESTRUTURALISMO: DEFINIÇÕES
Para um estudioso que compreenda as Relações Internacionais a partir das teorias tradicionais, o Construtivismo pareceu ser um movimento rival que apresentava um modelo explicativo bem consistente.
Imagine, então, uma escola teórica que seja tão crítica às teorias tradicionais e que questione até a própria legitimidade da Ciência. Estamos falando dos pensadores pós-estruturalistas, também identificados, pela bibliografia anglo-saxã do tema, como pós-modernos.
A seguir, veja as principais características relacionadas aos movimentos estruturalista, pós-estruturalista e pós-modernista:
Clique nas barras para ver as informações.
ESTRUTURALISMO
O Estruturalismo foi um movimento europeu, predominantemente francês, que, na primeira metade do século XX, defendia que a cultura humana poderia ser compreendida objetivamente por meio do estudo das estruturas sociais.
PÓS-ESTRUTURALISMO
O pós-Estruturalismo não se apresenta diretamente como uma escola de pensamento teórico-metodológico que propõe uma possibilidade de análise em relação às teorias que estudamos. O pós-Estruturalismo, em sua face radical, é muito mais uma classificação dada aos pesquisadores e pensadores que compartilham das críticas comuns a determinados aspectos das escolas de pensamento tradicionais.
PÓS-MODERNISMO
O termo pós-modernismo está presente na bibliografia das Relações Internacionais para fazer referência a esse mesmo movimento, especialmente por pesquisadores e teóricos radicados no mundo anglo-saxão. Embora a concepção inicial do termo pós-moderno faça referência a movimentos artísticos e literários do século XIX, a teoria das Relações Internacionais também o mobiliza para enfatizar o discurso de necessidade de superação das instituições modernas para compreensão de um mundo complexo e globalizado.
Atenção
O prefixo “pós” não indica a contrariedade entre Estruturalismo e pós-Estruturalismo, mas apenas que os pós-estruturalistas são intelectuais que, em sua produção acadêmica, resolveram levar às últimas consequências os pressupostos de seus antecessores, chegando ao subjetivismo da verdade e ao desconstrucionismo, que abordaremos mais adiante.
Dando continuidade à ênfase construtivista, ao protagonismo dos agentes em detrimento da estrutura, e enfatizando os elementos cultural e linguístico como formativos de uma perspectiva que interfere nas relações políticas, os pós-estruturalistas deram um passo a mais em direção ao questionamento das bases das concepções modernas de política e sociedade.
Fonte: bartu / Shutterstock
O pensamento pós-moderno tem sua principal característica na crença de que as instituições modernas, que antes eram sinais de ordem e segurança, são artifícios construídos historicamente para manter determinadas formas de dominação.
Como afirmam Nogueira e Messari (2005), a crítica pós-estruturalista tem sua fundamentação teórico-metodológica na acusação de que teorias como o neorrealismo não refletem o real, mas sim produzem por meio de representações do real baseadas no discurso científico. Na verdade, é a obsessão pela cientificidade e a lealdade à sua metodologia que conduz os pressupostos sobre o que é real e o que merece ser estudado nas Relações Internacionais.
Exemplo
Por exemplo, enquanto um teórico realista vê a construção de um muro fronteiriço entre países como uma afirmação de soberania e uma questão de segurança nacional, o pensador pós-estruturalista entende que não apenas o muro, mas a própria ideia de fronteira foi estabelecida ao longo dos séculos como uma forma de o Estado moderno controlar a mobilidade de mão de obra e impedir a evasão de recursos para outros povos que não o seu.
A partir desse exemplo, podemos averiguar, ainda, mais duas características que marcaram a entrada do pensamento pós-estruturalista nos centros de estudos de Relações Internacionais:
O confronto direto com a escola realista, em seu momento de renovação.
A crítica contundente às ideias de Estado e Nação.
QUAIS OS PRINCÍPIOS TEÓRICOS DO PÓS-ESTRUTURALISMO?
O pós-Estruturalismo inclui, nas teorias das Relações Internacionais, as críticas à modernidade ocidental, presentes nas obras dos filósofos franceses Michel Foucault (1926-1984) e Jacques Derrida (1930-2004), influentes em todos os demais campos das ciências humanas. A partir da interpretação de Foucault, o movimento pós-estruturalista associa as relações sociais institucionalizadas como formas de opressão e controle elaboradas ao longo dos tempos para sustentar diferentes maneiras de dominação.
Foucault trabalhava com a ideia de genealogia do poder e do saber, com a qual apontava, na busca das origens das instituições, as razões e intenções dos modos de dominação. Influenciados por essa matriz de pensamento, os pós-estruturalistas rompem com a noção clássica de que o Estado sempre foi necessário e partem em direção à busca de suas origens históricas, bem como as origens de seus atos para questionar as regras estabelecidas recentemente.
Michel Foucault. Fonte: Wikimedia
Indo de encontro à noção hobbesiana de que o estado nacional seria o “monstro” que impede a humanidade de dar vazão à sua natureza e se destruir mutuamente, o pós-modernismo critica a racionalidade do Estado, considerando-o apenas uma instituição controlada por indivíduos, estes sim os verdadeiros agentes a serem estudados no cenário político. O pós-modernismo também critica a noção de que haja uma natureza humana una e coerente, considerando que os diferentes povos devam ser percebidos em suas múltiplas culturas e comportamentos.
Jacques Derrida é um autor relevante para a origem do pós-Estruturalismo devido à sua abordagem desconstrutiva da linguagem. Na filosofia de Derrida, a linguagem é compreendida como um meio de construção de relações de dominação, estando marcada por elementos que atestam a marginalização dos grupos que não fazem parte de um núcleo socialmente dominante.
Jacques Derrida. Fonte: Wikimedia
A partir desta matriz de pensamento desconstrutivista, os autores pós-estruturalistas renegam as explicações simplistas - nas palavras deles – oferecidas pelas escolas tradicionais de pensamento, baseadas em simples contrapontos como nós/eles, aliados/rivais, democratas/autoritários, ocidentais/orientais. Afinal, a elaboração de tais conceitos e classificações seria uma maneira de manter um vínculo de dominação sobre o Outro que se é objetivamente desconhecido.
Isso quer dizer que, para um teórico adepto do pós-Estruturalismo, por exemplo, quando o governo George Bush declarou a “guerra ao terror”, expondo midiaticamente imagens de Osama bin Laden como o perfil do inimigo a ser combatido, seu governo mobilizou a linguagem (narrativa) que mais convinha para manter sua base política interna e rotulou mais de um bilhão de muçulmanos como ameaça ao Ocidente e aos seus valores, mesmo não sendo.
Bush, ao lado de al-Maliki, desviando de um sapato arremessado por Muntadhar al-Zaidi, que alegadamente o fez para "protestar contra a ocupação do Iraque." Fonte: Wikimedia
Nessa relação, não há uma racionalidade do Estado, mas uma razão seguida por indivíduos e grupos de interesse, ao mesmo tempo que o discurso predominante mantém o Outro um ente desconhecido. Era importante que os cidadãos norte-americanos, especialmente os militares que iam combater nas montanhas do Afeganistão, achassem que o inimigo era aquele terrorista que aparecia nos telejornais e não qualquer outra coisa que mitigasse a motivação da guerra.
Saiba mais
Guerra ao terror
Conceito cunhado pela gestão do presidente norte-americano George W. Bush, como parte de sua estratégia global de combate ao terrorismo. Campanha militar iniciada em 2001, após os atentados de 11 de setembro, tendo como alvo uma série de organizações radicais de origem islâmica, como Al Qaeda, Talibã etc., e gerando a ocupação do Afeganistão, Iraque e de outras regiões do Oriente Médio por tropas da OTAN e da ONU.
O rompimento com as diretrizes das escolas de pensamento que estudamos até agora faz com que os intelectuais pós-modernosquestionem a existência do Estado como uma instituição opressora, e a ideia de nação como uma construção artificial feita pelos agentes dominantes para manter sob controle os dominados. Na perspectiva pós-moderna, o patriotismo, por exemplo, seria uma construção discursiva para que a população se lançasse em direção à morte em combate a fim de que possa ser mantido o controle do território nacional por parte dos típicos agentes dominantes.
Exemplo
Um exemplo que enfatiza a perspectiva da linguagem como elemento determinante para a ação e classificação do Outro é o uso do termo combatentes da liberdade em vez de terroristas: o mesmo indivíduo retratado pela mídia como terrorista, ou seja, inimigo da sociedade, pode ser retratado por outro detentor de poder discursivo como combatente da liberdade, isto é , um defensor dos valores de uma sociedade.
Clique nas barras para ver as informações.
PRINCIPAIS CRÍTICAS DE AUTORES PÓS-ESTRUTURALISTAS AOS PARADIGMAS DAS TEORIAS CLÁSSICAS
1. Muitos atores, no cenário internacional, são esquecidos ou subestimados pelas teorias clássicas: organizações não governamentais, classes sociais, países pobres, empresas transnacionais etc.
2. Os Estados não deveriam ser considerados protagonistas da política internacional por serem meramente um artifício que representa interesses internos, não devendo ser considerados racionais por si.
3. A partir dos pressupostos citados, entende-se que não existe um “interesse nacional” objetivo, pois a Nação é uma abstração.
4. A definição de poder, nas escolas tradicionais, é limitada a elementos tangíveis e quantificáveis, deixando de lado os elementos abstratos. Para pós-estruturalistas, ideias, normas e discursos são tão ou mais importantes quanto bases militares e capacidade comercial de exportação.
5. Se o Estado é um ator irracional e superestimado, também é considerado imprevisível. Enquanto as teorias tradicionais das Relações Internacionais afirmam sua cientificidade buscando explicar e prever o cenário global, a crítica pós-estruturalista coloca em dúvida a legitimidade da própria disciplina. Seriam os discursos sobre as Relações Internacionais que legitimam a competição e a anarquia, e não estas que geram o discurso teórico. As palavras constroem a realidade.
1. Muitos atores, no cenário internacional, são esquecidos ou subestimados pelas teorias clássicas: organizações não governamentais, classes sociais, países pobres, empresas transnacionais etc.
2. Os Estados não deveriam ser considerados protagonistas da política internacional por serem meramente um artifício que representa interesses internos, não devendo ser considerados racionais por si.
3. A partir dos pressupostos citados, entende-se que não existe um “interesse nacional” objetivo, pois a Nação é uma abstração.
4. A definição de poder, nas escolas tradicionais, é limitada a elementos tangíveis e quantificáveis, deixando de lado os elementos abstratos. Para pós-estruturalistas, ideias, normas e discursos são tão ou mais importantes quanto bases militares e capacidade comercial de exportação.
5. Se o Estado é um ator irracional e superestimado, também é considerado imprevisível. Enquanto as teorias tradicionais das Relações Internacionais afirmam sua cientificidade buscando explicar e prever o cenário global, a crítica pós-estruturalista coloca em dúvida a legitimidade da própria disciplina. Seriam os discursos sobre as Relações Internacionais que legitimam a competição e a anarquia, e não estas que geram o discurso teórico. As palavras constroem a realidade.
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO PÓS-ESTRUTURALISMO NA ANÁLISE DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS?
1. Os Estados estão em declínio e não são os atores mais importantes do cenário internacional.
2. Os indivíduos e grupos de interesse (partidos políticos, ONGs, empresas etc.) que controlam os Estados são os reais atores da política.
3. O sistema internacional possui inumeráveis atores e não possui uma racionalidade intrínseca, ou seja, é muito mais complexo do que as teorias clássicas das Relações Internacionais imaginavam.
4. Não existem leis que permitam explicar ou prever a dinâmica do sistema internacional com rigor científico devido à sua grande complexidade. Cabe ao internacionalista observar a sinergia entre os agentes e buscar compreender as diferentes narrativas que se propõem sobre ele. O pós-modernismo põe em xeque a validade das Relações Internacionais como saber científico, tendo em vista que, se não há como prever ou explicar os fenômenos observados, não seria possível a consolidação de um paradigma
5. Os Estados estão em declínio e não são os atores mais importantes do cenário internacional.
6. Os indivíduos e grupos de interesse (partidos políticos, ONGs, empresas etc.) que controlam os Estados são os reais atores da política.
7. O sistema internacional possui inumeráveis atores e não possui uma racionalidade intrínseca, ou seja, é muito mais complexo do que as teorias clássicas das Relações Internacionais imaginavam.
8. Não existem leis que permitam explicar ou prever a dinâmica do sistema internacional com rigor científico devido à sua grande complexidade. Cabe ao internacionalista observar a sinergia entre os agentes e buscar compreender as diferentes narrativas que se propõem sobre ele. O pós-modernismo põe em xeque a validade das Relações Internacionais como saber científico, tendo em vista que, se não há como prever ou explicar os fenômenos observados, não seria possível a consolidação de um paradigma
Resumindo
O pós-Estruturalismo considera que as teorias tradicionais de RI analisam cenários que elas mesmas racionalizaram. O mundo além do discurso realista ou idealista é muito complexo para ser completamente compreendido ou previsto. A missão do internacionalista seria colaborar com a inclusão dos agentes políticos marginalizados pelo sistema internacional.
PODER E CONHECIMENTO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
No pensamento pós-estruturalista, a valorização do papel da linguagem e da cultura nas Relações Internacionais e, especialmente, na construção de uma narrativa que importa uma visão de mundo, determinando regimes de soberania e gerando as condições para atuação de agentes no cenário político internacional, evidencia, também, a impossibilidade de se pensar separadamente a articulação de discursos e a constituição das formas de exercício do poder.
Atenção
Apesar de terem alguns pontos teóricos semelhantes, a escola construtivista convencionalmente afirma a cientificidade das teorias de Relações Internacionais e o protagonismo do Estado no cenário internacional, ao contrário do pensamento pós-estruturalista.
Agora buscaremos compreender, em síntese, quais as contribuições dos autores pós-estruturalistas para o debate sobre as relações de poder e o conhecimento nas Relações Internacionais, que, muitas vezes, refletem sobre os paradigmas da própria disciplina ao questionar as fórmulas de análise de conjuntura estabelecidas pelas escolas tradicionais.
Clique nas barras para ver as informações.
O PÓS-ESTRUTURALISMO E AS QUESTÕES DO CENÁRIO INTERNACIONAL
Como vimos, o pós-Estruturalismo trata o cenário internacional questionando o protagonismo dos Estados nacionais e, em decorrência disso, não apenas abre espaço para a visibilidade de outros atores políticos, como também expande a percepção disciplinar da própria política, por vezes borrando os limites praticados pelos pensadores clássicos que separavam a política interna da política externa.
Como vimos, o pós-Estruturalismo trata o cenário internacional questionando o protagonismo dos Estados nacionais e, em decorrência disso, não apenas abre espaço para a visibilidade de outros atores políticos, como também expande a percepção disciplinar da própria política, por vezes borrando os limites praticados pelos pensadores clássicos que separavam a política interna da política externa.
A PERSPECTIVA ESTUTURALISTA PARA UMA CONSTRUÇÃO POLÍTICA INTERNA NOS ESTADOS
Na perspectiva pós-estruturalista, haveria uma primazia da construção política interna nos Estados queseria, de fato, o elemento gerador do posicionamento desses atores no cenário internacional. Segundo o ensaísta inglês Martin Wright, as Relações Internacionais de modo tradicional constroem a visão de mundo que separa a política interna da política externa, contornando assim toda a percepção de política moderna.
Desse modo, o conceito de soberania seria resultado das reflexões em Relações Internacionais e se manifestaria como uma narrativa de poder que constitui a visão que “sempre” tivemos sobre o indivíduo/cidadão e o Estado. Ainda seguindo os passos da filosofia de Foucault, Wright e o pós-Estruturalismo afirmam, então, que a ideia de anarquia (incerteza, violência e repetição) serve como contraponto ao discurso comum da política doméstica, na qual prevalece a cooperação e o progresso (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).
Essa linha de pensamento pós-moderno, inspirada na filosofia de Foucault, dedica-se a problematizar as relações de saber teórico das RI e o poder exercido pelo Estado, até então julgado possuidor de competência e racionalidade intrínsecas. Nessa perspectiva, Richard K. Ashley, teórico pós-estruturalista de grande impacto, propõe a desconstrução da ideia de soberania, questionando as representações da política externa construídas pelas teorias tradicionais, que têm por base binarismos considerados simplificadores, mas também elementos de dominação e marginalização.
Fonte: maximmmmum / Shutterstock
Conceitos pareados como anarquia/soberania, guerra/paz, estrangeiro/cidadão, identidade/diferença, ideias/interesses etc. apresentam, numa perspectiva binária, uma hierarquia de acordo com pressupostos do discurso racional – o cidadão vale mais que o estrangeiro, por exemplo - e que delimita um campo de julgamento da ação política a partir do lado positivo dos pares.
Ashley questiona, em sua desconstrução, o fato de que esses binarismos são tratados como uma realidade lógica e inquestionável, servindo de base para a narrativa das teorias tradicionais como uma verdade autoevidente. A crítica pós-moderna leva, então, à crítica do Estado como o único ente capaz de lidar com as adversidades do estado anárquico das Relações Internacionais, conforme a narrativa realista.
Essa narrativa da anarquia, construída pelas teorias tradicionais em RI, seria um subterfúgio criado para legitimar a força unificadora dos Estados, que internamente se veem legitimados a suprimir diferenças em nome da ordem e com base na ideia de soberania; enquanto as teorias tradicionais entendem por aceitáveis a diversidade, a disputa e o conflito no cenário internacional, e justificam a política interna marcada pela marginalização, eliminação ou hibridização dos diferentes.
Fonte: Nejron Photo / Shutterstock
A crítica ao “estadocentrismo” nas Relações Internacionais concebidas conforme a visão de mundo tradicional realista/idealista é considerada elemento fundamental para cumprimento de uma das pautas éticas do pós-modernismo: a inclusão de narrativas minoritárias e excluídas dos modos de exercício do poder. Somente com a demonstração de que o Estado soberano é uma construção historicamente datada, por isso não natural, e consequentemente passível de ser superada, novos atores podem ser alçados a condições de visibilidade.
Rob Walker indica que o discurso da soberania nacional resolve três tradições relacionadas à identidade na tradição ocidental: a relação entre o universal e o plural, a relação entre o eu e o outro e a relação entre espaço e tempo. Segundo Walker, ao “conter” os indivíduos no interior de suas fronteiras, o Estado moderno afirma a autonomia do indivíduo racional no mundo, como cidadãos que podem realizar suas possibilidades tendo por única referência a ordem constituída pela nação, e lida com a história independentemente de imposições universalizantes, como era a mentalidade cristã medieval europeia.
Assim, a partir da reelaboração das relações com o espaço e o tempo promovidas pelo protagonismo do Estado, a literatura teórica cita a crítica de Walker:
1) à historicidade da concepção das teorias de Relações Internacionais acerca da organização espacial da vida internacional;
2) ao caráter normativo de todas as teorias de RI, na medida em que afirmam onde a política deve ser, por meio do discurso da anarquia/soberania;
3) ao tratamento problemático das questões de temporalidade e da mudança nas Relações Internacionais.
(NOGUEIRA; MESSARI, 2005)
A contribuição de Walker ao movimento pós-estruturalista nas RI estaria na possibilidade de construção de alternativas de ação política, inclusive internamente aos Estados, a partir de uma nova imaginação da ordem internacional. Assim, a crítica ao status quo alcança a vigência dos conceitos teóricos, que também devem ser tratados como campos de disputas, resistência e relações de poder.
Outro autor relevante para o debate sobre as Relações Internacionais a partir de uma perspectiva pós-moderna é David Campbell. Sua contribuição está voltada para a problematização da relação entre o Estado como sujeito político elaborado nas perspectivas clássicas e a formação das identidades. Na obra de Campbell, o Estado é interpretado como o “produtor de fronteiras”, o qual cria o sistema político que permite a diferenciação entre “nós” e os “outros”, os estrangeiros.
David Campbell argumenta que, como num mundo secularizado não há uma sustentação transcendental que delimite as identidades como havia nos tempos dos “direitos divinos dos reis” e na mentalidade religiosa medieval, cabe ao Estado, e aos agentes que o controlam, produzir a diferença e afirmar as identidades no interior de suas fronteiras. De acordo com Campbell, o meio utilizado pelo Estado para alcançar esse objetivo de demarcar as relações entre sujeito, Estado e o mundo exterior teria sido a “evangelização do medo” e o uso de “discursos de perigo”.
Atenção
Essa demarcação de fronteiras coloca sobre o elemento externo, o estrangeiro, o imigrante, e sobre o cidadão que não se enquadra em um suposto padrão de identidade nacional, como as minorias étnicas, a suspeita e a representação de um elemento perigoso. Assim, Campbell diagnostica que toda essa narrativa apresentada a partir do protagonismo do Estado serve às formas contundentes de concentração de poder, dominação e marginalização de minorias em nome da defesa de uma identidade nacional e da manutenção das relações de tempo e espaço sustentadas pelo ente federativo.
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