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Integração dos Marcos do Desenvolvimento Linguístico, Cognitivo, Socioemocional e Motor Conteudista Prof.ª M.ª Nívea Maria Símaro Gomes Revisão Textual Esp. Renata Panovich Ferreira 2 Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo on-line para que você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do conteúdo. Este arquivo PDF contém o mesmo conteúdo visto on-line. Sua dis- ponibilização é para consulta off-line e possibilidade de impressão. No entanto, recomendamos que acesse o conteúdo on-line para melhor aproveitamento. OBJETIVO DA UNIDADE • Promover a atualização dos conhecimentos teórico-práticos acerca dos preditores cognitivo-linguísticos e percepto-motores no desenvolvimen- to de fala e linguagem da criança. 3 Introdução Vamos iniciar nossa Unidade de Estudo trazendo a conceituação sobre os marcos do desenvolvimento neuropsicomotor e a relação com o desenvolvimento de fala e lin- guagem na visão da Fonoaudiologia. Vale ressaltar que essa temática é fundamen- tal para a sua prática profissional, pois, possivelmente, durante sua carreira como Fonoaudiólogo, as questões relacionadas à fala e à linguagem farão parte do seu estudo e de sua rotina clínica. Nessa perspectiva, vamos discutir os marcos do de- senvolvimento neuropsicomotor e a estreita relação com o desenvolvimento de fala e linguagem, com vistas à compreensão dos conceitos envolvidos nessa temática. Lembre-se de realizar anotações, mapas mentais, resumos, bem como ler e assis- tir aos Materiais Complementares, pois eles ampliarão seu conhecimento e sua curiosidade por essa área tão complexa e, ao mesmo tempo, tão interessante que é a comunicação humana! Definição dos Marcos do Desenvolvimento Neuropsicomotor Sabemos que o desenvolvimento motor é compreendido como o processo res- ponsável pelas mudanças nos movimentos motores da criança e envolve uma integração neuromuscular com participação de todos os sistemas do organismo. O desenvolvimento das etapas do aspecto motor não é uma regra, podendo va- riar de criança para criança, mas existe um tempo máximo, devendo sempre ser acompanhado pelo pediatra a fim de detectar atrasos e patologias precocemen- te. Os marcos do desenvolvimento infantil são referências usadas para acompa- nhar o crescimento das crianças. Esse termo conceitua uma série de parâmetros que indicam como está o desenvolvimento dos pequenos. Isso pode gerar com- paração e preocupação em alguns pais e cuidadores, o que é absolutamente nor- mal. No entanto, devemos lembrar que os marcos do desenvolvimento infantil são apenas padrões, e não regras, conforme destacado a seguir: Há uma intensa interação entre a estimulação precoce, via órgãos dos sentidos e a carga genética. Como consequência, produz-se um efeito decisivo no desenvolvimento cerebral da criança, com impacto de lon- ga duração na fase adulta. O desenvolvimento do cérebro humano é mais do que natureza (patrimônio genético) versus criação (vivências, meio ambiente, cultura), mas uma substancial ênfase na interação. – SHONKOFF; PHILLIPS, 2000, p.42 4 Um adequado desenvolvimento motor repercute no futuro da criança em as- pectos sociais e cognitivos. Os pais e cuidadores devem estimular os bebês e as crianças na primeira infância por meio de atividades psicomotoras e brin- quedos próprios para cada idade, inicialmente com chocalhos ou tapetes de atividades, por exemplo, pois nessa fase o desenvolvimento das habilidades acontece rapidamente. Agora vamos falar dos marcos de desenvolvimento motor desde o primeiro mês de vida até os 4 anos, quando os separamos entre desenvolvimentos motores grosso e fino. O desenvolvimento motor grosso envolve os maiores grupos musculares e é res- ponsável pelos movimentos de andar, sentar e sustentar a cabeça. O desenvol- vimento motor fino está relacionado com os movimentos de pinça e preensão. Vamos dividir por etapas de 0 a 18 meses e de 2 a 4 anos para melhor entendi- mento, conforme demonstrado a seguir. • De 0 a 18 meses: • 1 mês: • Motor grosso: move as mãos e os pés ao mesmo tempo; • Motor fino: abre os dedos ligeiramente quando em repouso; • 2 meses: • Motor grosso: levanta a cabeça e o peito em posição prona; • Motor fino: abre e fecha as mãos, e, por breves períodos, deixa as mãos juntas; • Entre 3 e 4 meses: • Motor grosso: nessa fase a criança leva as mãos à boca, com fre- quência, e começa a rolar; • Motor fino: inicia movimento de abrir e fechar as mãos, conse- gue prensar um objeto e levá-lo até a boca; Vamos pensar sobre os marcos do desenvolvimento e sua relação com o desenvolvimento da criança? Os marcos do desenvolvimento são incluídos em uma lista de verificação e confirmados refletindo uma estimativa de que 75% - 90% das crianças de uma faixa etária es- tabelecida alcancem determinadas habilidades (Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC, 2022). 5 • Entre 5 e 6 meses: • Motor grosso: rola por completo, senta-se com apoio e breve- mente sem apoio; • Motor fino: consegue pegar objetos e passar de uma mão para outra, bate os brinquedos na mesa ou no chão e sorri com o som emitido; • Entre 7 e 9 meses: • Motor grosso: senta sem apoio, engatinha e ameaça passos com apoio; • Motor fino: balança objetos (p. ex. chocalho), joga objetos in- tencionalmente, pega alimentos para comer com três dedos; • 1 ano: • Motor grosso: começa a “andar” e a dar os primeiros passos, muitas vezes com apoio ainda, e aos poucos consegue ficar em pé sozinho; • Motor fino: pega objetos com dois dedos (pinça aberta), conse- gue colocar e tirar objetos de um lugar; • 15 meses: • Motor grosso: anda sozinho, para e continua andando nova- mente; pode agachar para pegar um objeto e levantar sem apoio; • Motor fino: tira e coloca tampas de panelas e potes, com o in- dicador aperta um interruptor, pode rasgar as páginas de um livro. Monta uma torre de dois cubos; • 18 meses: • Motor grosso: se você chutar uma bola, ele pode fazer igual por imitação; • Motor fino: monta uma torre com três a quatro cubos, explora toda a sua casa, querendo abrir portas e gavetas; • De 2 a 4 anos: • Entre 24 e 30 meses: • Motor grosso: corre, sobe escadas com ajuda de um adulto, um degrau por vez; abre portas; • Motor fino: consegue usar colher para comer e segura bem o seu copo. • Entre 36 e 42 meses: • Motor grosso: alterna os pés para subir escadas, consegue pe- dalar um triciclo; • Motor fino: come sozinho, calça sapatos sozinho. 6 • 48 meses: • Motor grosso: pula em um pé só, anda de bicicleta; • Motor fino: segura e pinta com lápis, faz desenhos, escova den- tes sozinho, (BARBOSA; FUKUSATO, 2020) Pensando, ainda, sobre os aspectos gerais que envolvem os marcos do desenvolvi- mento infantil, vamos falar sobre os diferentes domínios relacionando-os ao desen- volvimento da fala e linguagem (DOSMAN; ANDREWS; GOULDEN, 2012), dentre eles: • Domínio motor: habilidade para controlar e refinar os movimentos, en- volve a motricidade e os aspectos percepto-viso-motores; • Domínio cognitivo: habilidade de manipular, memorizar e resolver pro- blemas, funções executivas; • Domínio linguístico: habilidade de compreensão e expressão da comu- nicação/linguagem, percepção auditiva; • Domínio socioemocional: habilidade para controlar de forma intencio- nal o comportamento e a cognição. Figura 1 – Desenvolvimento motor do bebê – bebê engatinhando Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: fundo desfocado. Bebê engatinhando, trajando um macacão branco curto. Pele branca, cabelos ruivos, olhos claros, sorridente. Fim da descrição. 7 Dessa forma é necessário que haja uma integração entre os diferentes domínios motor, cognitivo, perceptual, socioemocional, socioambiental e linguístico para o desenvolvimento integral da criança. Nessa perspectiva, o pensamento, o conhecimento e a razão se estruturam a partir de certo número de conceitos básicos que não podem se transmitir unica- mente pela relação verbal,porém necessitam de uma experiência motriz, uma vivência corporal com o mundo, com o espaço. Experiência que se adquire pela manipulação do próprio corpo e dos objetos na realidade espaço-tempo. A crian- ça descobre o mundo através do corpo e, quanto maior sua vivência corporal, melhor sua visão de mundo. Habilidades Psicomotoras Importante O desenvolvimento das habilidades psicomotoras na criança possibilita o domínio sobre o próprio corpo e a relação dele com o ambiente e o espaço. A interação com os outros aspec- tos do desenvolvimento neuroinfantil, tais como o cognitivo e o emocional, são fundamentais para o desenvolvimento integral da criança. Fiquemos atentos! Um dos fatores fundamentais do desenvolvimento das habilidades motoras du- rante os 5 primeiros anos de vida diz respeito ao crescimento físico. Nesse período, o crescimento dos ossos é muito rápido em relação ao desenvolvimento do tecido muscular. Aos 5 anos, o tecido muscular aumenta ¾ do que ele aumentava em etapa anterior. Dos 3 aos 6 anos, a força muscular aumenta 65%. Esse aumento leva a uma melhor habilidade dos membros, permitindo maior velocidade na exe- cução das atividades motoras. Dos 5 anos em diante, a rapidez do crescimento do tecido muscular proporciona força e energia necessárias para o dinamismo das habilidades motoras. As mudanças decorrentes da maturação física explicam em grande parte as modificações que ocorrem nas duas primeiras infâncias. É nessa fase que aumenta rapidamente a mielinização do sistema nervoso. A mielinização é um processo de revestimento das fibras nervosas pela mielina, que proporciona o aumento da velocidade do impulso elétrico entre os neurônios, aumentando a rapidez das respostas dos movimentos e da coordenação motora. Esse processo de mielinização permite que os sinais se propaguem mais rapidamente e com maior fluidez. A mielinização começa aproximadamente na metade da ges- 8 tação, tem seu auge durante o primeiro ano de vida, continua na ado- lescência e persiste durante a terceira década de vida. – PAPALIA; MARTORELL, 2021, p. 112 A combinação entre os fatores do crescimento físico aumenta a coordenação, a destreza e a força dos membros, auxiliando a criança a expandir suas possi- bilidades motoras. Todo o aparelho motor é uma unidade funcional; nunca são os seus elementos que se movimentam como membros independentes: todo movimento decorre na esfera global do sistema motor. O que reforça essa com- binação de fatores são as oportunidades de praticar movimentos através das so- licitações do meio. A aquisição de uma função depende do desenvolvimento de estruturas que lhe são indispensáveis. O desenvolvimento neuropsicomotor se faz por meio de uma sequência ascendente, conduzindo a atividades mais com- plexas, elaboradas e aperfeiçoadas. Cada nova aquisição se faz por integração ao conjunto, em um processo de assimilação progressiva. Essa evolução se faz no sentido de um aperfeiçoamento progressivo da matu- ração. Há uma constância marcada quanto à ordem de sucessão, que preside a essa maturação progressiva e à aquisição de novas funções. Dessa forma toda estimulação deverá proporcionar atividades, levando-se em consideração as ap- tidões da criança, pois sua realização é primordial para atingir a maturação do processo do andar, fase motora, que será a base para os processos do falar e pensar, maturando os pré-requisitos percepto-motores e cognitivo-linguísticos para a alfabetização. Coordenação Motora Ampla • Deve estar amadurecida até os 4-5 anos. Envolve movimentos amplos com todo o corpo, colocando grupos musculares diferentes em ação si- multânea, com o objetivo de execução de movimentos voluntários; • Esses movimentos amplos servem de base à motricidade fina e diferen- ciada. Coordenação entre membros superiores e inferiores, acrescida do autocontrole da tonicidade entre eles (rigidez ou flexibilidade dos mús- culos). Dissociação de movimentos, com autocontrole de movimentos de algumas partes do corpo e da imobilidade de outras. Conseguir tanto no andar como no correr uma harmonia entre destreza e velocidade; • A coordenação motora ampla propicia o desenvolver do equilíbrio dinâ- mico e estático, da lateralidade, do aprimoramento do salto, da tomada de consciência do corpo e de seu ritmo. Através dos jogos envolvendo distâncias, trajetórias e alturas, tem-se a oportunidade da apreciação do deslocamento e da orientação no tempo e espaço. 9 Postura Uma boa postura, seja em pé ou sentada, permite a colocação correta das vér- tebras da coluna vertebral, que é o eixo central e o sustentáculo de nosso corpo. Adotada a partir da infância evitará uma série de problemas futuros. O valor de uma postura correta não está ligado apenas à conservação da coluna vertebral em si ou valorizada pelo senso estético. A coluna vertebral é contendedora da medula espi- nhal, que é responsável pelas vias condutoras de estímulos e respostas aos diver- sos centros nervosos, desempenhando um papel de grande destaque nas funções mentais e motoras. Uma posição correta, sem curvaturas exageradas ou distorções, pode colaborar para uma boa qualidade daquelas mensagens dos centros mentais superiores e, consequentemente, ser um dos fatores de uma boa aprendizagem. O professor pode levar seus alunos a adquirir bons hábitos posturais durante as di- versas atividades na escola, em pé, parados ou andando e sentados, principalmente nos exercícios pré-gráficos, onde eles serão preparados para escrita. A postura ideal em pé, quando se está parado, deve ser com os pés ligeiramente afastados, com o peso do corpo distribuído igualmente entre os dois lados do corpo. A postura ideal para as atividades de mesa é a posição com a coluna vertebral apoiada no encosto da cadeira, com os antebraços apoiados sobre a mesa ou carteira. Marcha Constitui uma das atividades habituais de deslocamento; portanto, seu aper- feiçoamento permite exercitar a coordenação global. Aproximadamente aos 12 meses, o bebê adquire o andar tosco. Após os 16 meses, caso não domine essa habilidade, é considerado atraso do andar. Aos 3 anos, adquire o andar cruzado. Aos 5 anos, as diferenças entre os movimentos do andar da criança e do adulto não devem mais ser notadas facilmente. Correr Correr procede, naturalmente, do caminhar. O correr em si caracteriza-se por períodos de não sustentação, quando o corpo fica suspenso no ar. Em geral a criança não está apta a impulsionar o próprio corpo para o ar até os 18 meses, mas, se encorajada, tenta caminhar rapidamente. A força, o equilíbrio e a coorde- nação necessários para executar os requisitos para correr desenvolvem-se aos 2 anos. Apesar do refinamento do padrão do correr ser contínuo até a puberdade, aos 5 anos a criança, geralmente, corre de uma forma mais segura. 10 Saltar A criança começa a ensaiar o salto logo que adquire um caminhar mais seguro e confiante. Entre os 18 e 24 meses, a criança salta frequentemente. Aos 3 anos, a criança consegue saltar de uma altura de 60 cm, de uma distância de 30 a 90 cm e por cima de um obstáculo de 30 cm de altura. A criança só consegue saltar com um pé só ou com pés alternados com a maturação do sistema nervoso. As atividades relativas a saltos estimulam o desenvolvimento da força e da resistência cardiovascular. Chutar Esse padrão começa a se desenvolver tão logo a criança comece a correr. Em geral, o chutar vai de um fraco movimento pendular da perna sem impulso até um movimen- to de uma perna arrebatadora que envolve também o movimento de todo corpo. Arremessar e Pegar A criança começa a lançar logo no seu primeiro ano de vida, através dos mo- vimentos de segurar e largar os objetos. Pegar ou apanhar uma bola é talvez a mais difícil das habilidades que a criança precisa adquirir. Inúmeras variáveis interferem no apanhar uma bola: o tamanho da bola, o percurso da bola no ar, a distância entre o atirador e o receptor, a velocidade da bola e o deslocamento que a criançaterá que fazer ou não para apanhar a bola. Arremessar e pegar são atividades que caminham juntas. Subir e Descer O subir é muito importante, pois o corpo da criança se movimenta completamen- te. Esse padrão se desenvolve bem cedo, iniciando-se quando a criança começa a engatinhar. O movimento que a criança executa com as mãos e os joelhos é o mesmo se for na escada ou no chão liso, logo a criança não encontra dificuldade para engatinhar em escada. A criança aprende a subir escada antes de conseguir descer. Inicialmente desce a escada sentada. A habilidade de subir e descer es- cada está na oportunidade de praticar. A criança deve ser encorajada a subir e descer qualquer tipo de saliência. De grande importância é a posição das mãos no corrimão, o polegar deve ser colocado em volta da barra que está segurando. Aos 2 anos, a criança sobe escada marcando passo. 11 Rolar e Engatinhar O rolar é de extrema importância, pois propicia a adequação do tônus muscular e a maturação do sistema vestibular, tão importante para o equilíbrio da criança. Engatinhar A maturação do mesencéfalo está intimamente relacionada ao engatinhar. A ma- nutenção da boa postura ereta depende do engatinhar, pois, ao realizar esse mo- vimento, a criança estará preparando o tônus da musculatura dorsal. Engatinhar é o primeiro exercício preparatório para o grafismo (ato de escrever), pois propi- cia a dissociação das grandes articulações. Figura 2 – Bebê engatinhando Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: no centro da imagem, há um bebê, de pele branca, cabelos loiros, olhos azuis. Ele usa um macacão azul claro com um laço também da mesma cor e uma camisa de mangas curtas na cor branca. Ele está engatinhando, sorridente. Ao fundo, há um balão colorido e três caixas de presentes. Fim da descrição. 12 Coordenação Motora Fina A coordenação motora fina é uma das coordenações mais diferenciadas e espe- cíficas do nosso corpo. Uma boa coordenação motora fina proporciona traçados mais precisos, desenhos mais bem configurados e letras mais legíveis. Os primei- ros movimentos de preensão se dão na posição de decúbito dorsal. Desde a mais tenra idade é importante que a criança vivencie o relaxamento de braços e mãos, movimentação de braço e mãos livres, flexibilidade do pulso e independência digital, que irão dar condições à criança de realizar as atividades de coordenação motora fina com ferramentas (lápis, tesoura, pincel etc.), preparando sua muscu- latura manual para as atividades gráficas posteriores. Marcos do Desenvolvimento Neuropsicomotor e a Relação com o Desenvolvimento de Linguagem A linguagem é, possivelmente, a maior habilidade e a maior conquista dos seres humanos. Composta por uma complexa rede de estruturas neurológicas envol- vidas nas funções cerebrais, permite a nossa capacidade de comunicação; desse modo, descrever sua anatomia não é uma tarefa fácil. Para dar início à descrição do que se sabe até agora sobre o caminho que a lin- guagem percorre em nosso cérebro, faz-se necessário entender o conceito de percepção, especificamente quando nos referimos à linguagem. Percepção é a capacidade de associar as informações sensoriais que recebemos às nossas memórias e à nossa cognição, de modo a for- mar conceitos sobre o mundo e sobre nós mesmos e orientar nosso comportamento. Portanto, apesar de ser totalmente dependente dos sentidos, por isso a chamamos de percepção visual, percepção audi- tiva ou percepção somestésica, envolve processos complexos ligados à memória, à cognição e ao comportamento e é a base do desenvolvi- mento de linguagem. – FÁVERO; PIRANA, 2019, p. 15 13 Esquema Funcional de Lúria – Alexander Romanovitch Luria (1902 – 1977) Justifica o funcionamento do córtex cerebral subdividindo-o em três comparti- mentos funcionais: • Áreas primárias: de projeção ou recepção ou sensação; • Áreas secundárias: de decodificação ou gnósticas ou percepção; • Áreas terciárias: de associação ou integração ou superposição. Se nas áreas primárias ocorre a sensação e nas secundárias a percepção, nas áreas terciárias podemos afirmar que ocorre a cognição. Dessa forma, para a aquisição da linguagem oral, faz-se necessária integridade e ma- turação neurobiológica e neurofuncional, por meio da integração neurossensorial, do processamento auditivo inicial; da codificação fonológica; associação semântica; codificação e programação articulatória, para a execução da fala contextualizada. A comunicação é um meio pelo qual o indivíduo recebe e expressa a linguagem, sendo um elemento essencial para a socialização e a integração na comunidade. A linguagem é o sistema simbólico usado para representar os significados em uma cultura, abrangendo seis componentes: fonologia (sons da língua), prosódia (entonação), sintaxe (organização das palavras na frase), morfologia (formação e classificação das palavras), semântica (vocabulário) e pragmática (uso da lingua- gem). A linguagem significa trocar informações (receber e transmitir) de forma efetiva, enquanto a fala se refere basicamente à maneira de articular os sons na palavra, incluindo a produção vocal e a fluência. É o canal que viabiliza a expres- são da linguagem e corresponde à sua realização motora. Desde o nascimento, a criança se comunica através do choro, do olhar e dos gestos. É capaz de discri- minar vozes, diferenciar padrões de entonação e movimentos corporais, que são bases para o desenvolvimento comunicativo. A aquisição normal da linguagem é dependente de uma série de fatores como o contexto social, familiar e histórico pré, peri e pós-natal do indivíduo, suas experiências, suas capacidades cognitivas e orgânico-funcionais. 14 Vídeo Primeira Infância (Até 6 Anos) Exige Con- vivência Olho no Olho Reflita sobre a importância da estimulação socioambiental para o desenvolvimento mo- tor e de linguagem do bebê. Exige convivên- cia, olho no olho. Vamos agora caracterizar as habilidades de linguagem oral em relação aos as- pectos: fonético-fonológicos, sintático-semânticos, morfossintáticos e prag- máticos, relacionando-os ao período de desenvolvimento típico das crianças, mas antes vamos nos lembrar dos conceitos envolvidos nessa temática. Glossário • Fonética: é a parte da linguística que estuda o próprio som da fala, emitido, captado e percebido. Seu objeto de estudo é o som do ponto de vista articulatório e acústico. Realidade física dos sons da língua. Os sons da fala são aqueles emiti- dos pelo aparelho vocal humano e ocorrem nas línguas do mundo; • Fonologia: é a parte da linguística que estuda o som como significado do código. Seu objeto de estudo é a organização dos sons da fala em cada sistema linguístico e seus padrões de funcionamento. Os fonemas de uma língua são os sons que são pertinentes para a veiculação de significado; • Sintático-semântico: estudo das regras que regem a for- mação de frases e do seu significado; • Morfossintático: nível da estrutura e/ou da descrição linguística que engloba a morfologia (estudo das formas) e a sintaxe (regras de combinação que regem a formação de frases); • Pragmática: A pragmática analisa a linguagem considerando a influência do contexto comunicacional, extrapolando assim a visão da semântica e da sintaxe, CORTINA et al., 2018. https://youtu.be/0bZHm3fQJZ0 15 Principais Características da Comunicação das Crianças na Faixa Etária de 0 a 7 Anos Trocando Ideias Mas o que esperar do desenvolvimento de fala e da linguagem de crianças sem queixas de alterações do neurodesenvolvimento? Vejamos alguns parâmetros. • Entre 0 e 2 meses: • Comunicação não verbal/pré-linguística; • Nessa fase, os seus comportamentos estão caracterizados por reações determinadas por uma organização do sistema nervoso (cérebro); • Ainda não se constitui como sujeito; • Riqueza de comunicação pré-verbal não intencional; • Embora a criança não tenha condições de comunicar algo intencio- nalmente, a tendência dos adultos de atribuírem a ela talcapacidade constitui-se como fator relevante para seu desenvolvimento. • Entre 2 e 10 meses: • Os bebês vão demonstrando um interesse crescente acerca de tudo o que está ao seu alcance; • Começam a perceber, de forma regular e repetitiva que certos com- portamentos produzem determinados resultados, estabelecendo assim, intuitivamente, vínculos causais entre eles; • Aos 03 ou 04 meses de vida: o bebê vocaliza sons sem significado e apenas para se divertir, sem a intenção de se comunicar; • Entre 06-09 meses: as vocalizações dão lugar aos balbucios – “papa”, “mama”, “auau” – Sons que as crianças produzem com intenção comunicativa; 16 • Entre 10 e 12 meses: • Comunicação intencional: por volta dos 10 meses: reduplicação si- lábica – (“dadada”, “papapa”), de onde surgirão as primeiras palavras; • Também aparecem os monossílabos intencionais, sílabas com signi- ficado de palavra. Ex: /ma/ - mamadeira, /bo/- bolacha; • Entre 1 e 2 anos: • Aparição dos fonemas plosivos: /p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/; • Fonemas nasais: /m/, /n/, /nh/; • Fonemas fricativos: /f/, /v/; • Aos 20 meses apresenta todo o sistema vocálico. Estágio I - /a/, /i/, /u/. Estágio II - /e/, /o/. Estágio III - /é/, /ó/. (Obs: os fonemas não estão representados conforme a Associação Internacional de Fonética). • Vocabulário elementar infantil – dia a dia; • Velocidade lenta, 1 a 3 palavras por semana; • O marco de 50 palavras proporciona a EXPLOSÃO VOCABULAR por volta dos 18 meses; • Velocidade acelerada, 10 palavras por semana; • Evolução do vocabulário é outro marco importante; aos 2 anos tem vocabulário de 200 palavras (MÍNIMO de 50 palavras); • O repertório das primeiras 50 palavras é formado por palavras de categoria lexical (substantivos, verbos e adjetivos); • A aquisição da categoria de palavras gramaticais (preposições, conjunções, advérbios e pronomes) é mais abstrata e dependente da evolução sintática; • Aos 18 meses, surgem os primeiros enunciados, com o início da morfossintaxe; 17 • Entre 18 e 20 meses, apresenta um estilo “telegráfico” em seus enun- ciados - /nenê mimi/, /mama bo/ (etapa da sintaxe primitiva); • Entre 2 e 3 anos: • Fonemas fricativos: /z/, /s/, /j/, /ch/; • Fonema líquido: /l/; • Todas as simplificações fonológicas são esperadas; • Aos 3 anos, tem vocabulário de 450 a 500 palavras (MÍNIMO de 200 palavras); • É característica marcante dessa fase a rapidez em realizar trocas de turno; • Entre 30 e 36 meses, surgem frases coordenadas com os verbos “ser” e “estar”, uso de pronomes e artigos definidos (etapa da expansão gramatical); • Entre 3 e 4 anos: • Aos 4 anos, tem vocabulário de 1000 a 2500 palavras (MÍNIMO de 500 palavras); • Entre 36 e 42 meses (continua a etapa da expansão gramatical), as frases coordenadas se tornam mais complexas com uso frequente da conjunção “e”; uso do passado simples e futuro; • Fonema líquido: /rr/; • Entre 4 e 5 anos: • Vocabulário acima de 3000 palavras; • Entre 42 e 54 meses (continua a etapa da expansão gramatical), as modalidades do discurso tornam-se cada vez mais complexas — afir- mação, negação e interrogação; • Fonemas líquidos: /lh/, /r/; • Entre 5 e 6 anos: 18 • Vocabulário acima de 4000 palavras; • Em torno dos 5 anos, já consegue o domínio do sistema gramatical básico de uma língua; • Grupos consonantais: /r/, /l/; • Entre 6 e 7 anos: • Vocabulário de 7000 a 10.000 palavras; • Aos 6 anos, todas as simplificações fonológicas são superadas; • Com 11 anos, aproximadamente 40.000 palavras; • Aprendizagem de palavras novas é facilitada em combinação à re- presentação gráfica destas; Trocando Ideias Dessa forma, exploramos aqui sobre a relação dos marcos do de- senvolvimento e das habilidades percepto-motoras e linguísticas para o desenvolvimento integral da criança. A integração entre os diferentes estímulos e experiências com o ambiente socioam- biental e educacional constitui fator importante para o aumento da comunicação, com vistas à identificação precoce de alterações de desenvolvimento para posterior intervenção, se necessário. Mas, afinal, como a família poderá estimular suas crianças no dia a dia? • Dar oportunidades e observar desvios no desenvolvimento infantil; • Estimular o desenvolvimento das habilidades sensoriais, perceptuais, motoras e linguísticas através das brincadeiras infantis e das atividades de vida diária (psicomotricidade); • Fornecer um ambiente harmonioso; • Não usar linguagem infantilizada; • Pensamento coerente e claro das pessoas que cercam a criança; 19 • Limites; • Estimular através de histórias (papel dos avós). Figura 3 – Interação entre mãe e bebê de 05 meses Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: mulher e bebê deitados em um travesseiro branco. Mulher sorridente, cabelos e olhos castanhos, pele branca, sorrindo para seu bebê, simulando uma interação afetiva. Bebê está trajando um macacão branco, com listras azuis claras, responsivo ao estímulo da mãe, sorridente, fitando os seus olhos e tocando seu queixo com a mão direita. Fim da descrição. Importante Alguns fatores são determinantes para o desenvolvimento da comunicação infantil (combinados): • A criança necessita ter uma razão ou motivo para se comu- nicar = uma intenção; • Há necessidade de se ter algo para comunicar = um conteúdo; • Faz-se necessário um meio de comunicação = forma; • Há necessidade de pessoas com quem se comunicar = um interlocutor; • Condições favoráveis para a interação = uma situação ou contexto; • A criança necessita ter capacidades cognitivas favoráveis = para compreender e atuar sobre o mundo. 20 Chegamos ao final da nossa Unidade de Estudo. Você, como futuro Fonoaudiólogo, poderá fazer a diferença na identificação precoce de altera- ções no desenvolvimento de fala e linguagem, pois, ao conhecer os parâme- tros dos marcos de desenvolvimento infantil, você terá condições clínicas de contribuir para o diagnóstico e a intervenção fonoaudiológica nos casos que se fizerem necessários. MATERIAL COMPLEMENTAR Vídeos Marcos do Desenvolvimento Infantil – O que São e Como Acompanhar https://youtu.be/DDAAb03Y9Bw Marcos do Desenvolvimento Infantil https://youtu.be/5sIONvd1dQ0 Como Estimular a Fala e a Linguagem do Bebê de 0 a 6 Meses https://youtu.be/OXTJX_DB2Ys Leitura Diretrizes de Estimulação Precoce: Crianças de Zero a 3 Anos com Atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor https://bit.ly/3ZBuAn4 Manual Para Observação Dinâmica dos Marcos do Desenvolvimento em Crianças de 0 a 3 Anos https://bit.ly/45dZDGC https://youtu.be/5sIONvd1dQ0 https://youtu.be/OXTJX_DB2Ys https://bit.ly/3ZBuAn4 https://bit.ly/45dZDGC REFERÊNCIAS ADAMS, M. 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