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AULA 1 CAPACITAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES E COMPETÊNCIAS TEMA 1 – MUDANÇA ORGANIZACIONAL Figura 1 – Mudança organizacional Crédito: Etiammos/Shutterstock. Vivemos em um mundo em constante mudança e transformação. A mudança é um fator natural em nossas vidas, por exemplo na natureza: as fases da lua, as marés, as estações do ano, entre tantas outras transformações. Nós mudamos constantemente. A impressionante velocidade das mudanças sociais, econômicas, políticas e principalmente tecnológicas têm obrigado as organizações a grandes transformações para garantirem sua sobrevivência e se manterem competitivas no mercado. Dessa maneira, as empresas precisam ser proativas em relação às mudanças para se tornarem mais ágeis para atender as exigências impostas pelo mercado. De acordo com Savagnago e Vizeu (2020, p. 233), A mudança organizacional se refere ao processo de transformação, planejada ou não, de elementos das organizações – como estrutura, processos, cultura, práticas, pessoas e tecnologias – ou das ações entre as empresas e o ambiente externo. 2 Figura 2 – Processo de mudança organizacional Estado atual Período de Futuro transição pretendido Fonte: Savagnago; Vizeu, 2020, p. 233. Verificamos que uma das grandes transformações globais que estamos vivendo é o surgimento de uma sociedade cada vez mais baseada na informação alicerçada pela tecnologia. As organizações diante de tantas mudanças procuram se transformar constantemente, inovam-se por meio de inserção de novas tecnologias advindas de diversas partes do mundo, e nós recebemos informações em tempo integral de tudo o que acontece no mercado. Temos, todos os dias, um volume significativo de informações. Segundo Robbins (2005), há várias forças que norteiam o processo de mudança das empresas: a tecnologia, a natureza da força de trabalho, a competitividade, os choques econômicos, as tendências sociais e a política internacional. São diversas as razões para realizar mudanças, como proporcionar melhores condições de trabalho, ganhar competitividade, agir de acordo com as atualizações e exigências do mercado, melhorar resultados, dentre outros. Essas mudanças abrangem diversos campos, entre eles político, tecnológico, econômico, social e, por que não, psicológico! Afinal, as empresas precisam de pessoas, dos seus colaboradores, por isso menciona-se o psicológico. Para que as organizações sobrevivam a esse ambiente mutável e competitivo, precisam mudar também – como diz o ditado, “dançar conforme a música”. De acordo com Lima, Sampaio e Simões (2005), desde a época de 3 Heráclito, a ideia de que “a única coisa constante é a mudança” tem sido um truísmo de vida. Complementando o pensamento de Savagnago e Vizeu, para as empresas a palavra mudança tem diversas conotações, podendo se referir a mudanças externas em tecnologias, nos clientes, na concorrência, no mercado, no ambiente sociopolítico etc. E também se referir a mudanças internas, como a organização se adaptar a mudanças no ambiente organizacional, nas práticas, visões e estratégias. O importante é perceber que essas mudanças se correlacionam. De acordo com Silva e Vergara (2003), citados por Cruz e Freitas (2010), a mudança organizacional deve valorizar uma dimensão social como fator determinante para com o sucesso das organizações. É necessário perceber a mudança organizacional também como uma mudança de relações: do indivíduo com a organização, dele com os companheiros, da organização com a sociedade, do indivíduo com a sociedade e consigo mesmo. A mudança organizacional combina alterações internas nos valores, aspirações e comportamento das pessoas com alterações externas nos processos, nas estratégias, nas práticas e nos sistemas, visto que quando ocorre uma mudança, consequentemente ocorre aprendizagem, pois a organização não realiza simplesmente algo de novo, ela constrói a capacidade de mudar constantemente, conforme apresentando por Lima, Sampaio e Simões (2005). Wood Jr (1995) é um estudioso que serviu de base para outros estudiosos, menciona que a mudança organizacional como qualquer alteração, sendo ela planejada ou não, de elementos constitutivos da organização, em função de fatores internos e/ou externos, podendo desencadear consequências positivas ou negativas para os resultados organizacionais e a sua sobrevivência. Sendo a mudança organizacional considerada uma tarefa desafiadora, pois possibilita diversas e múltiplas características, como a profundidade e a complexidade. Para ele, as organizações se deparam com ambientes modificados e dinâmicos, buscando se adaptar aos novos desafios da mudança. Segundo o autor, a mudança organizacional é “qualquer transformação de natureza estrutural, estratégica, cultural, tecnológica, humana ou de qualquer outro componente, capaz de gerar impacto em partes ou no conjunto da organização”. E que para sobreviver nesse ambiente mutável e competitivo, as empresas procuram desenvolver competências, capacidades organizacionais para melhorarem seu desempenho e assegurarem sua sobrevivência. O desenvolvimento dessas 4 competências, dessas capacidades, dependerá de a empresa gerar, disseminar e utilizar informações necessárias com as oportunidades do mercado, enfim, é a capacidade da empresa aprender. TEMA 2 – CONHECIMENTO E SUA CRIAÇÃO Figura 4 – Conhecimento Crédito: Rudall30/Shutterstock. Diante de tantas mudanças é fundamental que as organizações reflitam sobre como gerir o conhecimento para continuar sobrevivendo com sucesso no mundo competitivo, afinal o conhecimento é um dos seus bens intangíveis de maior valor. Estamos vivendo a sociedade do conhecimento. Sociedade essa globalizada e interdependente, na qual o valor central está nas ideias e informações transformando-se em uma fonte de inovação e criatividade. Segundo Menezes et al. (2017), percebe-se que as organizações modernas têm sofrido grande impacto da era do conhecimento, e isso tem imposto às organizações a repensarem meios e metodologias para se diferenciarem dentro do mercado competitivo. 5 Diversos filósofos antigos tentaram conceituar o conhecimento, porém este termo assume diversos significados, que variam de acordo com o contexto em que está sendo empregado, podendo ser considerado um aprendizado, habilidade, experiência, percepção, competência entre outros. Nonaka e Takecuhi (1997), dois dos autores mais citados na área dos estudos organizacionais, indicam que o estudo do conhecimento humano é tão antigo quanto a própria história do homem e que no período grego esse tema já fazia parte dos estudos de filosofia e epistemologia. Complementam afirmando que foi Platão quem desenvolveu inicialmente a conceitualização do termo conhecimento sob uma perspectiva racionalista. Para eles, Platão argumentou que o mundo físico é uma mera sombra do mundo perfeito das ideias, isto é, as ideias são conhecidas apenas através da razão pura, de modo que tudo se justifica por meio da matemática e através dela que se chega à verdadeira realidade. Para este filósofo existem quatro graus de conhecimento: crença, opinião, raciocínio e indução. Já Aristóteles enfatizou a importância da observação e da nítida verificação da percepção sensorial individual, sendo que as ideias para ele eram adquiridas pela experiência. Aristóteles destaca a existência de seis graus de conhecimento: sensação, raciocínio, intuição, percepção, imaginação e memória. Para ele não há diferença entre conhecimento sensível e intelectual, pelo contrário, um é a continuação do outro. Nonaka e Takeuchi (1997, p. 26) argumentam que para Aristóteles: Da percepção sensorial surge o que chamamos de lembranças, e das lembranças da mesma coisa, repetidas com frequência, desenvolvemos a experiência; pois diversas lembranças constituem uma única experiência. Da experiência novamente – ou seja, de sua totalidade universal, e hoje estabilizada,dentro da alma, um ao lado dos muitos que constituem uma única identidade dentro de todos eles – origina-se a habilidade do artesão e o conhecimento do cientista, a habilidade na espera do que virá a ser e a ciência do ser. Concluímos que essas etapas do conhecimento não são inatas de uma forma determinista nem se desenvolveram a partir de estados superiores de conhecimento, mas sim a partir da percepção sensorial. Para Zabot e Silva (2002, p. 66), o conhecimento não é uma descoberta nova. Existe desde os tempos mais remotos, porém o acesso ao conhecimento era restrito a alguns privilegiados e muitas vezes usado como meio de domínio e opressão. E embora esse conhecimento tenha sido restrito a alguns privilegiados, em diversos momentos históricos houve grandes pensadores e estudiosos que por apresentarem seus conhecimentos, suas descobertas consideradas revolucionárias, foram severamente intitulados de loucos e tiveram suas obras 6 publicadas apenas após anos de sua elaboração. Essas obras serviram de alicerce para novas teorias que a posteriori realizaram uma verdadeira transformação nos meios acadêmico, literário, organizacional e até social. Já Angeloni (2002) sugere que para se compreender melhor o que é conhecimento se faz necessário primeiramente distinguir dado, informação e conhecimento. Dados referem-se a elementos descritivos de um evento e são desprovidos de tratamento lógico ou de contextualização, informando um estado da realidade pura. A informação pode ser entendida como um conjunto de dados selecionados e agrupados logicamente para a consecução de determinado objetivo. O conhecimento é composto de um conjunto de informações pertinentes a um sistema de relações críticas, significando a compreensão de todas as dimensões da realidade, captando e expressando essa totalidade cada vez mais ampla. Embora o conhecimento contenha um conjunto de informações articuladas, o mesmo não é sinônimo de acúmulo de informações. Nesta mesma linha, Davenport e Prusak (1998), afirmam que o conhecimento pode ser entendido a partir de dados e da informação que são utilizados para sua construção. Os dados são registros estruturados de transações organizadas que criam a ilusão de exatidão científica e que não fornecem julgamento nem interpretação para a tomada de decisão. A informação pode ser representada por uma mensagem na forma de documento ou comunicação audível ou visível, trata-se de um dado dotado de significado, relevância e propósito, que se movimenta na organização por meio de redes hard (infraestrutura) e soft (pessoas). Conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma ser embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais. (Davenpor; Prusak, 1998, p. 6) Vejamos o quadro a seguir que apresenta a proposta da composição de dados, informação e conhecimento: 7 Quadro 1 – Dados, informação e conhecimento Dados Informação Conhecimento Fonte: Davenport; Prusak, 1998. O conceito de conhecimento de Davenport e Prusak, em certa medida, vai de encontro aos de Fleury e Oliveira (2001) que entendem o conhecimento como informação associada à experiência, intuição e valores e também aos de Nonaka e Takeuchi (1997), que entendem estar o conhecimento ancorado nas crenças e compromisso de quem o detém e diretamente relacionado à ação humana. Este seria, portanto, o processo humano dinâmico de justificar a crença pessoal com relação à verdade. Para Neves (2004), o conhecimento vem das pessoas que estão imbuídas em um constante processo de aprendizagem. O conhecimento é fruto da aprendizagem em três níveis: individual, grupal e organizacional. Crawford (1994) complementa que a informação é muitas vezes confundida com conhecimento, porém, ele distingue que o conhecimento é encontrado somente no ser humano e a informação pode ser encontrada em objetos. Para tanto o autor destaca quatro características do conhecimento, a saber: • a) o conhecimento é difundível e se autorreproduz, o conhecimento aumenta à medida que é utilizado; • b) o conhecimento é substituível, pode substituir trabalho e capital; • c) o conhecimento é transportável, com a tecnologia o conhecimento pode se mover em velocidades cada vez menores; • - Simples observação sobre estado de alguma coisa • - Facilmente estruturado • - Facilmente obtido através do uso de máquinas • - Frequentemente quantificado • - Facilmente transferível • - Dados dotados de relevância e propósito • - Requer unidade de análise • - Exige consenso em relação ao significado • - Exige necessariamente a mediação humana • - Contextual • - Intuitivo e se refere a experiências e valores do usuário • - Informação valiosa da mente humana • - Inclui reflexão, síntese, contexto • - De difícil estruturação • - Difícil de ser obtido por máquinas • - Frequentemente tácito • d) o conhecimento é compartilhável, o conhecimento pode ser transferido para várias pessoas. 8 Em ambientes globalizados, competitivos e concorrentes a capacidade de utilizar e criar conhecimento é a mais importante vantagem competitiva para as organizações. Mas você sabe quais são os conhecimentos? 2.1 Tipos de conhecimento Sabemos que o conhecimento é criado pelo indivíduo. E conhecimento é criado por meio da interação dos conhecimentos tácito e explícito. Encontramos em Boisot (1985), citado por Choo (2003), a tipologia conhecimento que o classifica no fato dele ser ou não codificável e difuso, sendo que para ele o conhecimento codificado é aquele que pode ser guardado ou colocado em forma escrita sem a perda de informação. Complementando, Choo (2003) sugere que o conhecimento de uma organização pode ser diferenciado em conhecimento tácito, conhecimento explícito e conhecimento cultural. O conhecimento tácito que consiste nas habilidades das pessoas, à intuição e ao know-how individual. Para que aconteça a transferência do conhecimento tácito são necessárias a tradição e a experiência compartilhada por meio de treinamento. O conhecimento explícito baseado em regras é utilizado para integrar ações a situações envolvendo essas regras. Deve ser utilizada para desenhar rotinas, procedimentos operacionais padrão. E o terceiro faz parte da cultura da organização e é comunicada por meio de textos orais e verbais como estórias, metáforas, declaração de missão, dentre outros. Nonaka e Takeuchi (1997), consideram o conhecimento explícito como conhecimento formal, que é fácil de transmitir entre indivíduos e que pode ser expresso formalmente com a utilização de um sistema de símbolos, podendo também ser facilmente comunicado ou difundido. Já o conhecimento tácito é o conhecimento implícito, pessoal, que é difícil formalizar ou comunicar a outros, é usado pelos membros da organização para realizar seu trabalho, é difícil de ser verbalizado, de ser transmitido e compartilhado pois é expresso por habilidades baseada na ação, nas experiências de um indivíduo, bem como suas emoções, valores e ideais, é o conhecimento que está embutido na mente das pessoas: cada um é detentor do seu conhecimento tácito. Esta concepção corresponde à de Polanyi (1962, 1983) que é referência dos diversos autores pois foi um dos pioneiros nesse estudo, considera o conhecimento explícito como conhecimento codificado, que pode ser transmitido em linguagem formal, ligado às rotinas e procedimentos, e o conhecimento tácito que é na sua totalidade pessoal, 9 constituído de insights, conclusões que torna difícil sua expressão ou formalização por meio de métodos sistemáticos. Para os autores, a criação do conhecimentoé realizada pelo ser humano. As pessoas são as responsáveis pela criação e disseminação do conhecimento no ambiente organizacional. Então vamos entender como funciona esse processo de criação do conhecimento? 2.2 Criação do conhecimento Como mencionado, a criação do conhecimento é realizada pelas pessoas. A empresa que objetiva a criação do conhecimento, deve estar atenta aos insights e intuições dos empregados, para obter contribuições para a mesma a partir desses. Para Fleury e Oliveira Jr. (2001), o conhecimento organizacional é fruto das interações ocorridas no ambiente organizacional, desenvolvidas por meio de processos de aprendizagem. Este argumento segue o de Drucker (2000), que afirma que as organizações devem aprender a criar novos conhecimentos por meio de melhoria contínua, como, por exemplo, mantendo o processo de inovação com o intuito de responder aos desafios atuais e aumentar a sua competitividade. Para Nonaka e Takeuchi (1997), a criação do conhecimento é uma interação contínua e dinâmica entre os dois conhecimentos, tácito e explícito, e as organizações precisam aprender a converter o conhecimento tácito em conhecimento explícito, objetivando promover a inovação e o desenvolvimento na organização. Para tanto, os autores apresentam quatro maneiras de conversão, denominada de Técnica SECI (Socialização, Externalização, Combinação e Internalização): a) Socialização – converte conhecimento tácito em tácito. Adquire-se o conhecimento tácito partilhando experiências (treinamento); b) Exteriorização ou externalização – converte conhecimento tácito em explícito. O conhecimento tácito é traduzido em conceitos explícitos por meio da utilização de metáforas, analogias e modelos; c) Combinação – converte conhecimento explícito em explícito. Constrói- se constrói conhecimento explícito reunindo conhecimentos explícitos. Os indivíduos trocam e combinam seus conhecimentos em conversas; d) Internalização – converte o conhecimento explícito em conhecimento tácito. Está relacionada ao aprender fazendo. As experiências adquiridas são internalizadas pelos indivíduos na forma de modelos mentais ou know-how técnico compartilhado. 10 As quatro maneiras de conversão do conhecimento se retroalimentam em uma espiral contínua de construção do conhecimento organizacional conforme figura a seguir: Figura 5 – Espiral do conhecimento Fonte: Nonaka; Takeuchi, 1997, p. 80. Os autores explicam a espiral do conhecimento da seguinte maneira: Em primeiro lugar, o modo da socialização normalmente começa desenvolvendo um “campo” de interação. Esse campo facilita o compartilhamento das experiências e modelos mentais dos membros. Segundo, o modo de externalização é provocado pelo “diálogo ou pela reflexão coletiva” significativos, nos quais o emprego de uma metáfora ou analogia significativa ajuda os membros da equipe a articularem o conhecimento tácito oculto que, de outra forma, é difícil de ser comunicado. Terceiro, o modo de combinação é provocado pela colocação do conhecimento recém-criado e do conhecimento já existente proveniente de outras seções da organização em uma “rede”, cristalizando-os assim em um novo produto, serviço ou sistema gerencial. Por fim, o “aprender fazendo” provoca a internalização. (Nonaka; Takeuchi, 1997, p. 80) Ainda de acordo com os autores, essas quatro maneiras de conversão do conhecimento geram conteúdos de conhecimentos diferentes e esses conteúdos do conhecimento interagem entre si na espiral de criação do conhecimento: 11 • a) Socialização – conhecimento compartilhado, como modelos mentais ou habilidades técnicas compartilhadas; • b) Externalização – conhecimento conceitual, os novos conceitos; • c) Combinação – conhecimento sistêmico, como por exemplo, tecnologia de novos componentes; • d) Internalização – conhecimento operacional, como uso de novos produtos, gerenciamento de projeto. A criação do conhecimento engloba a capacidade de uma empresa criar um novo conhecimento, conseguir difundi-lo e incorporá-lo a produtos, sistemas e serviços, mas para que isso aconteça a organização precisa oferecer um ambiente propício, favorável que apoie esse processo. E principalmente, entender o conhecimento é fundamental para o sucesso organizacional. As organizações que usam e geram conhecimento são organizações consideradas saudáveis. TEMA 3 – GESTÃO DO CONHECIMENTO (GC) Figura 6 – Gestão do conhecimento Crédito: Fizkes/Shutterstock. Como já mencionado, um dos grandes desafios das organizações está em saber extrair o conhecimento gerado e acumulado ao longo dos anos pelos indivíduos. 12 GC tem seu termo originado do inglês Knowledge management, que é definido como um conjunto de tecnologias e processos que objetiva contribuir para a criação, transmissão e aplicado do conhecimento dentro das organizações, promovendo uma visão integrada. De acordo com Alvarenga Neto e Souza (2003) muitos pesquisadores tentaram definir a Gestão do Conhecimento e que para melhor ilustrar a GC é preciso utilizar seus conceitos complementares, como Capital Intelectual e Inteligência Competitiva. Além desses conceitos, A GC tem sido tradicionalmente associada aos conceitos de criatividade, inovação e compartilhamento, e engloba conceitos oriundos de teorias da gestão empresarial da chamada era neoclássica da administração como endomarketing, qualidade total, reengenharia, downsizing e de estratégias como comércio eletrônico e as Learning Organizations. (Alvarenga Neto; Souza, 2003, p. 5) Alvarenga Neto (2005), apresenta a proposta integrativa da GC, no qual estão inseridos a metáfora do “guarda-chuva conceitual da GC” e o modelo de Choo (1998). A metáfora do guarda-chuva conceitual da GC pressupõe que debaixo do mesmos temas, ideias, abordagens e ferramentas gerenciais são contemplados, destacando o capital intelectual, aprendizagem organizacional e inteligência competitiva. Figura 7 – Proposta de mapeamento conceitual integrativo da GC Fonte: Alvarenga Neto, 2005. 13 Desde o princípio da década de 1990, a gestão do conhecimento ganhou maior visibilidade como fonte de vantagem competitiva e como meio de construir um ambiente propício ao aprendizado. A informação e o conhecimento tornaram- se mais importantes que qualquer outro produto da era industrial, pois é uma valiosa fonte de vantagem competitiva. Angeloni (2002), afirma que a GC é um processo moderno e sistemático, articulado e intencional, apoiado na geração, codificação, disseminação e apropriação de conhecimentos e habilidades, com o propósito de atingir a excelência organizacional. Para Angeloni (2002), as empresas estão preocupadas em descobrir como alcançar resultados por meio da GC contida na experiência, conhecimento e habilidades de seus membros. Cabe à gestão do conhecimento integrar esses conhecimentos em torno dos objetivos organizacionais. Esse processo envolve criar novos conhecimentos, mas também melhor utilizar os que já foram disseminados dentro da organização. Segundo Leonard-Barton (1998), para a empresa gerir conhecimento é necessário primeiramente entender as aptidões estratégicas da empresa, isto é, deve identificar as competências que não podem ser facilmente imitadas, constituindo sua vantagem competitiva. A gestão do conhecimento está centrada no envolvimento das pessoas com os processos organizacionais, na distribuição da informação e na troca de experiências. É uma forma de se relacionar e incentivar a busca e a troca de competências, gerindo pessoas para o compartilhamento, mediante a união de esforços e a crença de que, com o compartilhamento, se ganha mais do que se perde. (Tomael, 2005, p. 62) Diante do exposto, verifica-se que o principal objetivo da GC é o de criar, armazenar, disseminar e utilizar o conhecimento para atingir os objetivos da organização. Segundo os diversos autores mencionados, a GC tem como principal foco o indivíduo e ogrupo, pois o conhecimento e sua produção pertencem aos mesmos, ou seja, a GC pode ser entendida como gestão com foco no conhecimento, sendo este considerado como um recurso estratégico e de fator de competitividade. Verifica-se, ainda, que dentro do campo da GC, um dos grandes desafios das organizações é o de fazer com que o conhecimento, principalmente o conhecimento pertencente ao ser humano, denominado pelos autores conhecimento tácito, seja compartilhado dentro da organização objetivando a criação de novos conhecimentos. 14 TEMA 4 – APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL Figura 8 – Aprendizagem organizacional Crédito: Ndab Creativity/Shutterstock. Em 1990, o conceito de aprendizagem organizacional era lançado por Peter Senge em seu livro A quinta disciplina. Ele enfatiza que as organizações são como seres vivos, pois são capazes de se adaptar ao ambiente, interpretando e dando sentido às informações que recebem. De acordo com Santos, Steil e Varvakis, (2012, p. 2), “a aprendizagem organizacional é compreendida como um processo dinâmico que ocorre ao longo do tempo e entre os níveis individual, grupal e organizacional”. Nonaka e Takeuchi (1995) e Senge (2004), enfatizam que a aprendizagem organizacional é realizada através do compartilhamento do conhecimento entre a aprendizagem individual (do profissional) e a organização. Antonio e Costa (2017) complementam discorrendo que a aprendizagem organizacional deve ser definida como a aquisição de novo conhecimento pelos atores organizacionais que são capazes e estão dispostos a aplicar esse conhecimento na tomada de decisões ou na influência de outras pessoas na organização. 15 Segundos os autores existem cinco práticas para que as organizações possam aprender continuamente: Figura 9 – Práticas da aprendizagem organizacional Pela resolução de problemas Pela experimentação Pela aprendizagem com a história passada Pela aprendizagem com os outros Pela difusão do conhecimento pela organização. Fonte: Antonio; Costa, 2017. A aprendizagem organizacional busca desenvolver o conhecimento e desenvolver competências que capacitem as pessoas a compreender e a agir, eficazmente, dentro das organizações. Uma organização de aprendizagem constrói relações colaborativas no sentido de dar força aos conhecimentos, experiências, competências e maneiras de fazer as coisas. É o repensar e revitalizar as organizações em direção à sua identidade futura. (Chiavenato, 2021, p. 381) A aprendizagem organizacional se inicia em seu colaborador, o qual repassa seu conhecimento à organização, ou seja, a organização aprende através dos seus colaboradores, que, por sua vez, também aprendem. Temos dois grandes autores que já trabalhavam a questão do processo de aprendizagem nas décadas de 1970 e 1980: Piaget e Vygotsky. Para Piaget (1973), as etapas do aprendizado se constituem em um constante processo de adaptação do homem ao mundo, isto é, o homem se adapta às exigências do mundo, ele se desenvolve e se conhece. Essa adaptação ocorre como resultado do processo que tenta equilibrar a percepção que o sujeito tem da realidade com os seus próprios conhecimentos, gerando novos conhecimentos. Para o autor, o aprendizado é um processo no qual o indivíduo se adapta à realidade gerando novos conhecimentos e novas maneiras de interpretação da realidade. Se 16 pensarmos em organização, é isso o que acontece: os colaboradores estão sempre em aprendizagem com as transformações, mudanças que acontecem no cenário. Eles vão se adaptando às novas abordagens, novas tecnologias, novas aprendizagens que são requeridas todos os dias. Para Vygotsky (1989), a aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo, a partir de seu contato com a realidade, com o meio ambiente e com outras pessoas, apropria-se de informações, habilidades, atitudes e valores. Botelho et al. (2011) visualiza a aprendizagem organizacional como um fenômeno em que as partes são maiores que o todo, ou que a aprendizagem organizacional é maior que a soma das aprendizagens individuais dos componentes da organização, graças ao ambiente, regulações e características sociais que determinam um contexto específico. De acordo com DiBella e Nevis (1999), “a natureza da aprendizagem e a forma pela qual ela acontece estão intimamente ligadas à cultura da organização”. Para eles, as organizações desenvolvem sua aprendizagem de diversas maneiras, e os princípios que norteiam a cultura dão origem a alguns valores de aprendizagem e a condicionam à escolha das áreas que receberão investimento para o processo de aprendizagem. O papel da aprendizagem organizacional é o de ajudar as organizações a superarem seus limites e cada dia mais procurar melhorar seu desempenho. TEMA 5 – FATORES FACILITADORES DA APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL Os fatores facilitadores promovem a aprendizagem em qualquer ambiente, mas o que são os fatores facilitadores? Segundo DiBella e Nevis (1999), são práticas ou condições que catalisam a ocorrência da aprendizagem em qualquer tipo de organização. Esses fatores representam as condições necessárias e suficientes para que a aprendizagem aflore e se propague. Mas para eles os fatores facilitadores são insuficientes para definir um processo de aprendizagem, sequer garantem a ocorrência de qualquer nível de aprendizagem, mas a sua inexistência constitui uma obstrução ao estabelecimento dos ciclos de aprendizagem. Os autores descrevem dez fatores facilitadores de aprendizagem, a saber: • Investigação imperativa: as pessoas buscam informações sobre condições e procedimentos no ambiente externo, ou seja, fora de sua própria unidade. 17 Representa o esforço de investigar o ambiente em busca de informações. Quando passa a entender o ambiente, torna-se capaz de alcançar um nível adequado de aprendizagem. • Defasagem de desempenho: percepção generalizada de que há a existência da diferença entre o desempenho real e o desejado. Esse fator refere-se à consciência coletiva que os membros da organização têm de que existe uma diferença entre o desempenho desejado e o desempenho real da organização. • Preocupação com medição: esforços são necessários e despendidos na definição e na medição de fatores básicos, e a discussão dos critérios de medição faz parte da atividade de aprendizagem; é o grau de preocupação com a medição do conhecimento adquirido e dos resultados operacionais da organização. Quanto maior a preocupação com a medição, mais adequada será a aprendizagem na organização. • Curiosidade organizacional: curiosidade sobre condições e práticas e interesse por ideias criativas e novas tecnologias acabam por proporcionar a experimentação nas organizações. Esse fator propicia a criação de um ambiente onde as pessoas são encorajadas a fazer experiências continuamente. • Clima de abertura: os membros da organização se comunicam abertamente, compartilham problemas, erros e lições. Este fator está relacionado com a liberdade de comunicação entre os indivíduos formadores da organização, ao grau de oportunidade que é concedido aos membros para conhecerem e participarem das atividades realizadas na organização. A organização em que os membros têm liberdade de se expressar propicia um ambiente à aprendizagem. • Educação continuada: a organização se empenha constantemente para prover recursos de alta qualidade para a aprendizagem, ou seja, manter um clima que possibilite a continuidade da educação em todos os seus níveis. • Variedade operacional: os membros valorizam a variedade de procedimentos, métodos, entre outros. Esse fator proporciona a oportunidade de entender as implicações e consequências na empresa de diferentes formas de trabalho, desenvolvendo, assim, a capacidade de aprendizagem organizacional. 18 • Defensores múltiplos: os colaboradores de todos os níveis organizacionais são motivados a desenvolver novas ideias e métodos detrabalho,ocasionando a existência de defensores múltiplos. Este fator avalia o efeito de indivíduos capazes de defender novas ideias e processos da organização. • Envolvimento das lideranças: as iniciativas de aprendizagem contam com a participação pessoal e ativa dos líderes, garantindo, assim, um ambiente propício para que aconteça. • Perspectiva sistêmica: reconhecimento da interdependência das diversas unidades e dos grupos organizacionais, consciência da necessidade de decurso de tempo entre ações e a obtenção de seus resultados. Este fator está relacionado à capacidade de se pensar em termos globais sem perder de vista a interdependência das partes. Os dez fatores defendidos por DiBella e Nevis (1999) representam as condições para que uma organização seja capaz de aprender. Eles fornecem os incentivos para que a aprendizagem seja promovida na organização. A aprendizagem organizacional é muito importante pois potencializa o conhecimento e seu compartilhamento, fortalece a cultura da organização e estimula um ambiente de inovação. 19 REFERÊNCIAS ALVARENGA NETO, R. C. D. Gestão do conhecimento em organizações: proposta de mapeamento conceitual integrativo. 400 p. 2005. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005. ALVARENGA NETO, R. C. D.; SOUZA, R. R. A construção do conceito de gestão do conhecimento: práticas organizacionais, garantias literárias e o fenômeno social. In: Encontro da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento, São Paulo, 2003. Anais.... São Paulo, 2003. ANGELONI, M. T. Organizações do conhecimento: infraestrutura, pessoas e tecnologias. 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