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e-Tec Brasil121 Aula 19 – Mundialização da cultura: Religiosidade, festas, músicas, gastronomia, artesanato, danças, lendas Vamos estudar nesta aula como a cultura mundializada interfere nas cul- turas. Veremos também alguns impactos desta mundialização nas culturas locais e regionais. O termo mundialização da cultura é mais adequado do que globalização da mesma. Segundo WARNIER (2003), como nem todos no planeta participa- rão da globalização e temos traços da cultura industrial em vários lugares do mundo, podemos afirmar que aspectos da cultura produzida em larga escala foi internacionalizada. Neste sentido a cultura que foi mundializada virou produto de consumo com grande intenção comercial. Considerando que a cultura gera dinheiro. A indústria cultural passou a ser um ramo importante da economia. E a cultura midiática, produzida e divulgada por meio da mídia é privilegiada. Sendo que a cultura, conforme já estudamos, é fator de socialização, desen- volvimento das identidades sociais baseada no patrimônio material e imate- rial. É importante refletir sobre o impacto da cultura mundializada na vida das pessoas. Considerando os sentidos apresentados a cultura tem função política e econômica. Define o país, seu povo e parte significativa da sua economia. Daí tem origens políticas educacionais e políticas culturais. A presença da cultura industrial no mundo interfere na cultura local, a qual podemos também chamar de cultura simples. Portanto, a cultura produzida e mundializada interfere na religiosidade, festas, músicas, folclore, gastrono- mia, artesanato, danças, lendas etc. De um modo industrializante e dominador as cultura singulares tiveram im- pacto significativo. Algumas desapareceram, fruto da colonização violenta e outras tiveram características transformadas devido ao contato com outras culturas. Mas isto não significa o fim das culturais locais superadas pela cul- tura industrial e global. Figura 19.1: Indígena filmando Fonte: http://sensentido2.wordpress.com Na figura 19.1 você pode apreciar uma fotografia de um indígena brasileiro, usando recursos audiovisuais para registrar a cultura da tribo. Ao invés de regis- tro oral, as manifestações são registradas em audiovisual. A cultura mundializada produz as novas condições de registro. Com relação a isso nos alerta WARNIER: [os etnológos] testemunharam uma erosão rápida e irreversível das culturas singulares em escala planetária. Por outro lado, na prática de sua profissão, junto às comunidades locais, eles observam que esta erosão é limitada por elementos sólidos das culturas-tradições e que há, no mundo inteiro, uma produção cultural constante, abundante e diversificada, a despeito da hegemonia cultural exer- cida pelos países industrializados. (WARNIER, 2003, p. 119) Na figura 19.2 podemos observar uma fotografia do “Monumento aos povos nativos latino-americanos - Plaza de Armas - Santiago (Chile). Na escultura o autor faz crítica à perda da identidade dos nativos: o rosto não está completo Figura 19.2: Plaza de Armas - Santiago (Chile) Fonte: Foto Sandro Fernandes, acervo do autor. Interculturalidadee-Tec Brasil 122 Então devemos considerar que há interferência, mas não padrões de mudan- ças. A forma de produzir cultura mudou, mas as manifestações e os signifi- cados não acompanham necessariamente o mesmo ritmo. Mas para ganhar espaço na mídia (meios de comunicação de massa) a cultura tem que apresentar características para consumo de massa. E neste sentido deve virar espetáculo para ser mais divulgado e atingir seus fins comerciais. A canção do grupo Engenheiros do Hawaii, O papa é pop, descreve um pouco a espetacularização promovida pela mídia. Para estarem presentes nos noticiários e programas midiáticos as coisas devem virar espetáculo, desde a coroação do papa, incidentes diplomáticos internacionais até assassinatos. “(...) O Papa é Pop, O Papa é Pop! O Pop não poupa ninguém O Papa levou um tiro À queima roupa O Pop não poupa ninguém Uma palavra Na tua camiseta O planeta na tua cama Uma palavra escrita a lápis Eternidades da semana (...)” A letra da canção se refere à espetacularização que algumas manifestações sofrem e desta forma se tornam pop. Pop no sentido de ser divulgado ao ex- tremo, até ficar muito conheci- do e mover o consumo. Nem o esporte escapa disto, veja a mundialização das Olím- piadas de Pequim em 2008 na figura 19.3. Figura 19.3: Cubo D’água em Pequim (2008) - espaço para as competições aquáticas em piscinas Fonte: http://xiripity.wordpress.com e-Tec Brasil Aula 19 – Mundialização da cultura: Religiosidade, festas, músicas, gastronomia, artesanato, danças, lendas 123 Com esta exposição dos esportes (futebol, rúgby, olímpiadas...) novos con- tatos culturais são criados (interculturalidade). E isto agrega mais as nações do que a ONU. Há mais filiados à FIFA (Federação Internacional de Futebol) do que à ONU (Organização das Nações Unidas). E isto tem características positivas e negativas. É uma forma de congraçamento e de respeito às di- ferenças que substitui conflitos regionais e foca na competição esportiva. A qual, mesmo sendo excludente e mostrando a força de algumas nações sobre outras, ainda é uma forma clara e festiva de disputa. Porém leva a uma noção de esporte apenas de alta performance que não é de congraçamento entre culturas ou de incentivo à saúde. “Assim nascem a política espetáculo, a religião espetáculo e o esporte es- petáculo, não sem criar confusão e desordem entre a política, a religião e o esporte.” (WARNIER, 2003). Resumo Aprendemos nesta aula que a cultura que foi mundializada virou produto de consumo com grande intenção comercial, pois cultura gera dinheiro. A indústria cultural passou a ser um ramo importante da economia. E a cultura midiática, produzida e divulgada por meio da mídia é privilegiada. Anotações Interculturalidadee-Tec Brasil 124