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CULTURA BRASILEIRA AULA 5 Profª Edna Gambôa Chimenes 2 CONVERSA INICIAL Vamos conhecer um pouco sobre a cultura e democracia, associando as duas e analisando como atuam na sociedade brasileira atual. Também realizaremos um panorama da cultura popular, cultura de massas e cultura das elites, avaliando os conceitos e atuação, e a relação que possuem com a mídia, na configuração contemporânea. Além disso, vamos analisar as características das periferias e minorias e sua conexão com a comunicação, mostrando o papel que exerce, principalmente nos padrões idealizados e criados opor movimentos culturais das classes mais privilegiadas. CONTEXTUALIZANDO A cultura brasileira é representada por vários movimentos que foram sendo construídos ao longo da história e dividindo a população de acordo com o acesso e tipo de produção realizado. São movimentos que dividem a sociedade, direcionando as produções, de acordo com o nível econômico e social de cada indivíduo, apesar de se buscar uma democratização do que é oferta culturalmente em diferentes ambientes. Nesse contexto, a indústria cultural passa a representar uma espécie de criadora dos valores para as produções, dividindo ainda mais as classes sociais, partindo dessas características apresentadas pelas diferentes culturas acessadas pelos indivíduos. No Brasil, as periferias representadas pelas minorias são uma classe social, normalmente, compostas por negros e pobres, que habitam as favelas e vilas, entendidas como a margem da sociedade e responsável por difundir o tipo de cultura mais popular, menos técnica ou rebuscada. Dessa forma, a sociedade, da maneira como é dividida em classes, apresenta, historicamente, essa divisão entre a cultura dominante e a cultura dominada, também conhecidas como cultura de elite e cultura popular. A cultura popular, na formação da identidade cultural brasileira, depende da ocorrência de uma interação entre os indivíduos, seus elementos e tradições, considerando e valorizando a linguagem popular e o que é produzido em cada região. Não depende de técnicas e muitos estudos para tal produção; ocorrem de uma forma simples e evidenciando várias situações do dia a dia, mostrando 3 a tradição, porém, não sendo ensinada formalmente em escolas e/ou em meios oficiais. A cultura de massa, semelhante à cultura popular, é produzida pelas classes sociais mais baixas, definida pelo conjunto de costumes, crenças e atividades que são direcionadas para a grande massa, para a multidão. É considerada, pela maioria, algo sem um real valor cultural, que aparece, normalmente, vinculada nos grandes meios de comunicação (de massa). A televisão e a internet, nesse aspecto, têm importante papel de difusão das culturas de massa, sendo que 90% das casas acessam a internet utilizando algum tipo de aparelho celular, de acordo com dados do IBGE, de 2016. Já a cultura das elites, uma cultura mais tradicional, é formada por expressões das classes sociais mais ricas, que, historicamente, sempre estiveram relacionadas à pintura, escultura, literatura, música etc., elitizando o acesso a esse tipo de cultura e demonstrando a clara separação que existe na valorização e vinculação desses diferentes tipos de elementos. Abordaremos os seguintes temas: 1. Cultura e democracia; 2. Cultura popular e cultura de massas (I); 3. Cultura popular e cultura de massas (II); 4. Cultura das elites; 5. Periferias, minorias e comunicação. TEMA 1 – CULTURA E DEMOCRACIA A cultura, inicialmente, era uma espécie de cultivo das potencialidades de algo ou alguém, como o cultivo da terra, dos deuses ou das crianças. Essa definição foi perdendo essas características ao longo da história, em especial no século XVIII, quando a cultura passa a estar diretamente relacionada à civilização. No século XIX, combinado a ideia de progresso, a cultura é um dos artifícios que caracterizam a sociedade, avaliando a presença de determinados elementos, definindo, inclusive, um conceito próprio para distinguir as formas culturais. Há vários aspectos que, aliados à cultura, apresentam especial contribuição para a reprodução de uma sociedade que, agora, encontra-se dividida pela tecnologia. Assim, nota-se que passa a ser possível identificar as 4 diferenças entre os grupos sociais, por meio das normas e valores que são fixados por eles. Apesar de toda essa capacidade de recriação permanente, ainda é possível definir a cultura como um conjunto de rituais, aspectos, crenças, hábitos e valores, que demonstram a identidade de determinado grupo social, podendo, inclusive, ser fator determinando de formas de exclusão, como quando um grupo insiste para que todos vivam de acordo com uma regra específica da sociedade. A democracia, que significa “governo do povo”, antigamente, era configurada por uma participação direta dos cidadãos nas decisões dos assuntos políticos. Hoje, essa configuração mudou um pouco; a democracia é realizada de forma indireta pelo cidadão, que escolhe seu representando por meio do voto e este irá, junto ao seu grupo, decidir o melhor para a sociedade. Pensando esses dois conceito, cultura e democracia, nota-se, ao longo da história, que foram definitivos para diversos fatos que foram ocorrendo na sociedade, criando separações de grupos e inúmeras divergências trazidas pelo poder que alguns grupos passaram a exercer perante os demais indivíduos. Um exemplo de aplicação da retomada da cultura com os aspectos da democracia, é o sistema de cotas nas universidades, que busca garantir o acesso dos negros aos cursos superiores em universidades pública, além da pressão que inicio acerca da inserção, nos currículos, de conteúdos sobre a história da África e a participação dos negros na criação e desenvolvimento da cultura do país. Com isso, procura-se chegar a uma sociedade mais justa, conduzindo à modernização, que seja baseada em um sistema produtivo que respeite, efetivamente, o homem. A indústria cultural, que conhecemos atualmente, é responsável por criar valor para as produções (obras), segregando, ainda mais, as classes dentro da sociedade. Por outro lado, essa mesma indústria transforma a cultura e entretenimento ou passatempo, gerando uma classificação e uma espécie de alienação das massas. No Brasil, para regulamentar e fazer valer a importância da cultura, foram criados vários órgãos, durante o governo Getúlio Vargas (1930 a 1945), chegando à criação do Conselho Nacional de Cultura (CNC), em 1938, por meio do Decreto-Lei n. 526, de 1º de julho. Esse novo órgão pretendia garantir o acesso, abrangendo todas as áreas da cultura, como: produções filosóficas, literatura, ciência, artes, patrimônio cultural, difusão da cultura de massa etc. 5 Posteriormente, em 1960, começam a serem criados alguns conselhos estaduais e municipais. Essas ações, buscavam valorizar as ações de pensar, refletir, sentir e experimentar, imaginar, transformando a arte em algo acessível para todos. Porém, como mencionado por Rubim et al. (2010, p. 132), isso não é, até hoje, efetivamente o que ocorre: Pode parecer um paradoxo, mas é bastante recente a discussão sobre a participação política nos conselhos de cultura do Brasil, ainda que estes existam desde a década de 1930. Poderíamos pensar que depois da constituição de 1988, os conselhos de cultura se tornaram mais participativos, permeáveis e sensíveis as demandas do campo cultural. Contudo, a realidade indica que existem matizes, fenômenos específicos e até contraditórios destes conselhos que precisam ser analisados antes de chegar a conclusões possivelmente equivocadas. Assim, a sociedade de classes, que foi configurada na história brasileira, estabelece uma divisão cultural, sendo conhecida como cultura dominante e cultura dominada, ou cultura opressora e cultura oprimida, ou, ainda,cultura de elite e cultura popular. Mas, independentemente de qual termo seja adotado, o que se verifica é uma clara divisão entre a cultura formal (letrada) e a cultura popular (que ocorre espontaneamente na sociedade), principalmente na questão de valorização e vinculação dessas produções. O Estado sempre tentou capturar toda a criação social da cultura, com a intenção de ampliar o campo cultural público e transformando essa produção em algo oficial. Contudo, o que encontramos atualmente é uma espécie de massificação da cultura popular, e isso é contrário à democratização da cultura, sendo uma espécie de negação dessa democratização, fazendo com que, apesar de se garantir o acesso de todas as classes à cultura, tem-se uma diferenciação no tipo de cultura que é ofertado em determinados lugares, de acordo com o público que o frequenta. Saiba mais Para saber um pouco mais sobre o tema, leia o seguinte artigo: PRZEWORSKI, A.; CHEIBUB, J. A.; LIMONGI, F. Democracia e Cultura: uma visão não culturalista. Lua Nova, n. 58, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ln/n58/a03n58.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2019. TEMA 2 – CULTURA POPULAR E CULTURA DE MASSAS (I) De acordo com a definição de Taylor (1832-1917), cultura é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os http://www.scielo.br/pdf/ln/n58/a03n58.pdf 6 costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Assim, a cultura, de maneira geral, inclui comportamentos que envolvem aprendizagem social. A cultura popular apresenta-se como mais contemporânea, pois costuma resistir ao tempo e tem características que raramente se modificam. Já a cultura de massa possui um conceito mais amplo, pois engloba uma grande diversidade de manifestações e atividades conhecidas como populares – envolvendo desde o carnaval até o rock and roll. Porém, ambas são vistas como algo destinado às classes sociais mais baixas, pois são bastante diferenciadas da cultura erudita (clássica), que, ao longo da história, foi e é representada pela classe alta, tida como letrada, com maior acúmulo de capital cultural. 2.1 Cultura popular A cultura popular, para sua formação, depende da interação entre os indivíduos, reunindo elementos e tradições, sempre ligadas à linguagem popular de determinada região. É representada por qualquer expressão artística transmitida por um povo, passando pelas gerações, pela oralidade. Um exemplo bastante característico é a literatura de cordel dos nordestinos, ou mesmo a culinária baiana, que, de alguma forma, resistem ao tempo e permanecem vivas na sociedade. Além disso, temos as festas de carnaval, que são representadas de diferentes maneiras nas regiões brasileiras. Figura 1 – Feira popular em Cabedelo, (Paraíba, 2017) Crédito: Kleber Cordeiro/Shutterstock. 7 Essa cultura não depende de muitos estudos para a sua produção, sendo aprendida de maneira simples, em casa ou em situações do dia a dia, sempre ligada à tradição e não sendo ensinada nas escolas ou em meios oficiais. É uma expressão que não é imposta por uma indústria cultural ou pela elite, e apresenta-se bastante diversificada, mostrando movimentos próprios da população e se atualizando de acordo com ela. Contrário à cultura de massa, a cultura popular tem suas raízes nos costumes dos povos, na forma de ser e nas tradições que são trazidas pela história de cada um. Essa cultura é produzida para a grande massa da população, porém, atualmente, está em decadência, por não estar sendo tão valorizada, estando em evidência aquilo que é imposto pelo capitalismo, ou seja, aquilo que seja capaz de gerar lucros. 2.2 Cultura de massas A cultura de massas é definida por um conjunto de costumes, crenças e atividades, voltados para a multidão, e seu principal objetivo é igualar as manifestações artísticas, ignorando o caráter criativo e inovador que as produções culturais tinham originalmente. É considerada, pela maioria, uma atividade sem valor cultural real, veiculada nos meios de comunicação de massa. É produto da indústria cultural, sendo, portanto, a produção dos conteúdos a serem consumidos, e não dependendo da obrigatoriedade de aplicação de técnicas. Esse tipo de cultura é produto do capitalismo e feita para ser comercializada nos grandes centros das cidades, ou seja, é um tipo de mercadoria, que tem como finalidade o lucro. Os produtos gerados pela cultura de massas são bastante semelhantes entre si, não prezando por uma individualidade ou singularidade, e as pessoas, que antes eram de grande importância para qualquer produção cultural, agora passam a exercer um papel de consumidoras e secundárias a todo esse sistema. Além disso, este é um tipo de cultura globalizada, unindo elementos de diferentes grupos sociais, e os indivíduos passam a demonstrar desejo por determinados produtos, não pela necessidade ou admiração, mas, sim, pelo fato de todos terem algum produto específico. 8 Figura 2 – Marcas que fazem parte da cultura de massas Crédito: Bloomicon/Shutterstock. Essas atitudes vêm sendo analisadas ao longo da nossa história, como mencionado por Lorenz (1973, p. 45), ao colocar que “[...] para as pessoas contaminadas por essa doença cultural, um par de sapatos, uma roupa, um carro, perdem o encanto com pouco tempo de uso, exatamente como a pessoa amada, o amigo ou até mesmo a pátria”. A cultura de massa, nessa configuração, transforma obras de arte e pensamentos em elementos repetitivos, que acabam perdendo sua essência e seu caráter expressivo; e passando a ser algo que busca sua finalidade de consumo, impedindo a criação do novo e copiando apenas o que já está estabelecido. Saiba mais Para conhecer um pouco mais sobre esse novo modelo de cultura, assista o vídeo, que ilustra como esse modo de consumo foi mudando, incluindo o acesso e consumo cultural. CUTTS, S. MAN. 21 dez. 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WfGMYdalClU>. Acesso em: 24 fev. 2019. Leitura complementar Leia o capítulo “Cultura de massa e cultura popular: questões metodológicas”, disponível na obra: BOSI, E. Cultura de Massa e Cultura Popular – Leituras de Operárias. Petrópolis: Vozes, 1978. p. 183-196. 9 TEMA 3 – CULTURA POPULAR E CULTURA DE MASSAS (II) No mês de dezembro, de 2015, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentou alguns dados que foram investigados (em 2014) sobre a diversidade cultura e territorial presentes em todos os estados brasileiros e seus 5.570 municípios. Nota-se, ainda, pouco investimento e acesso às diferentes culturas, como demonstrado em alguns exemplos a seguir. Figura 3 – O acesso à cultura no Brasil 3.1 Cultura popular – possibilidades e abordagem atuais Talvez a coisa mais alentadora que esteja ocorrendo com o popular é que alguns folcloristas não se preocupam só em resgatá-lo, os comunicólogos em difundi-lo e os políticos em defendê-lo, que cada especialista não escreve só para seus iguais nem para determinar o que o povo é, mas antes para perguntar-nos, junto aos movimentos sociais, como reconstruí-lo. (Canclin, 2008, p. 281) A cultura popular sempre foi um ponto de grande resistência e luta na sociedade, porém, ao pensarmos nos dias atuais, é bastante complexo separá- la das culturas de massa e erudita, já que as influências sofridas pelas três são provenientes de campos bastante próximos e de um processo híbrido, no qual há diversas interpretações e atuações para cada uma delas. Assim, no contexto atual, é necessário se considerar desde as práticas culturais mais discretas e simples até as mais elaboradas e disponibilizadas em espaços diversos. Isso faz com que se deixe de lado aquele antigo conceito homogêneo de cultura e se passe a considerar novas estruturas, objetos e práticas, comomencionado por Hall (2003, p. 255): o essencial em uma definição de cultura popular são as relações que colocam a ‘cultura popular’ em uma tensão contínua (de relacionamento, influência e antagonismo) com a cultura dominante. 10 Trata-se de uma definição de cultura que se polariza em torno dessa dialética cultural. Considera o domínio das formas e atividades culturais como um campo sempre variável. Observa o processo pelo qual as relações de domínio e subordinação são articuladas. Trata-se de um processo pelo qual algumas coisas são ativamente preferidas para que outras possam ser destronadas. Então, é necessário dar devida importância aos conteúdos vinculados (por exemplo, os conteúdos políticos) na base da construção da cultura popular. Além disso, a cultura popular apresenta grande importância no desenvolvimento e valorização atual da cultura local, considerando as diversas manifestações e expressões populares, englobadas em um contexto regional, demonstrando a identidade de cada grupo social. Isso, além de reforçar os traços característicos dos povos, busca uma elevação e contemplação de aspectos econômicos, políticos, educativos e sociais, no processo de desenvolvimento das regiões. Dentre os fatores que podem interferir nessa valorização e desenvolvimento da cultura popular, temos a influência da mídia, a tecnologia da informação (representada por celulares internet etc.), papel da escola da difusão desses elementos e projetos de políticas culturas. Atualmente, a valorização da cultura popular tem aparecido de forma mais efetiva, com programas de incentivo à população e com algumas reportagens que mostram esses elementos, para que todos tenham conhecimento do que ocorre em sua região, como na reportagem a seguir. Porém, isso ainda é feito em pequena escala e em veículos não tão grandes ou considerados como os “principais”. Saiba mais Leia a reportagem “Cultura popular”, de Luciana Veras, publicada pela revista Continente em 01/09/2017, disponível em: <http://www.revistacontinente.com.br/edicoes/201/cultura-popular>. 3.2 Cultura de massas e as mídias Pensando nos dias atuais, tem-se uma forte associação da cultura de massas com os meios de comunicação de massas. O avanço tecnológico, trazido pela inovação das ferramentas presentes em nosso dia a dia, geraram certa aceleração no processo de homogeneização cultural, fazendo com que os indivíduos seguissem um mesmo modelo imposto. 11 Dessa forma, a mídia possui um papel de porta voz da indústria cultural, padronizando a cultura ofertada e alienando os consumidores. Isso ocorre porque a cultura de massa possui essa característica de produtos em série, desconsiderando o que é individual e deixando de valorizar técnicas que são mais específicas. A televisão, nesse contexto, aparece como o principal meio de comunicação, devido a sua fácil acessibilidade à todas as classes sociais. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2016, apenas 2,8% dos brasileiros não tinham televisão em casa, sendo um importante instrumento de acesso à cultura de massa. Entre as classes menos favorecidas, a televisão aparece como elemento de apropriação cultural, por não terem a possibilidade de acessarem outro tipo de lazer, buscando, neste aparelho midiático, uma forma de instrução, de formação de opinião e de acesso ao “conhecimento”. Entretanto, o que é visível neste meio de comunicação é uma produção e reprodução de capital, com a finalidade de forma e informa a população, de acordo com o que é estabelecido pela indústria cultural, mantendo certo controle da sociedade. Um meio de comunicação, informação e propaganda presente e ativo no cotidiano de uns e outros, indivíduos e coletividades, em todo mundo. Registra e interpreta, seleciona e enfatiza, esquece e sataniza o que poderia ser a realidade e o imaginário. Muitas vezes transforma realidade, seja em algo encantado, seja em algo escatológico, em geral virtualizando a realidade em tal escala que o real aparece como forma espúria do virtual. (Ianni, 2000, p. 150) Ainda pensando na sociedade brasileira, as novelas também são bastante acessadas pela população, na forma de entretenimento, “vendendo sonhos” e ajudando a formar uma classe mais homogênea dentro dos interesses, desejos e da cultura que é consumida. Além da televisão, a internet está ocupando especial papel da difusão da cultura de massas, quando temos que 45,3% das residências possuem computadores e 92,6% possui telefone móvel celular, sendo que 90% acessam a internet utilizando este aparelho (IBGE, 2016). Leia a matéria “Impactos da cultura de massa são debatidos em painel da Fliporto”, publicada em 16/11/2012 pelo G1 e disponível em: <http://g1.globo.com/pernambuco/fliporto/2012/noticia/2012/11/impactos-da- cultura-de-massa-sao-debatidos-em-painel-da-fliporto.html>. Ela aborda os 12 impactos da cultura de massa e como as tecnologias podem ser bem utilizadas na sociedade contemporânea. Saiba mais Para complementar a discussão sobre a cultura popular e a cultura de massas, leia o artigo “Cultura de massa versus cultura popular na cidade do espetáculo e da ‘retradicionalização’”. SERPA, A. Cultura de massa versus cultura popular na cidade do espetáculo e da “retradicionalização”. Espaço e cultura, Rio de Janeiro, n. 22, p. 79-96, jan./dez. 2007. Disponível em: <www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/download/3514/2441>. Acesso em: 25 fev. 2019. TEMA 4 – CULTURA DAS ELITES A cultura das elites é caracterizada pela forma de pensar e de se expressar da classe mais rica e dos intelectuais, ou seja, a camada mais privilegiada da sociedade brasileira. Atualmente, ao observarmos a configuração da social, a cultura de elite e a cultura de massa acabam estando bastante próximas, pois os dois grupos possuem acessos facilitados às produções um do outro. Um exemplo bastante claro é a música de Chico Buarque de Holanda, que tanto a classe mais alta, quanto a classe baixa saberão responder quem é e como é sua produção musical. Portanto, o que notamos não é uma divisão entre os estilos de cultura, mas, sim, às pessoas que têm acesso às informações e aos elementos culturais e os que não têm tal acesso. Assim, há uma elite cultural que, apesar de não se distinguir muito dos demais grupos, mantém uma diferenciação no tipo de programação selecionado, além da quantidade de participação nesses eventos. Não se pode dizer, portanto, que apenas determinada classe social é culta ou possui o hábito de frequentar espaços culturais. Ir à missa ou frequentar o futebol também são formas de acessar um tipo de cultura. Historicamente, a cultura das elites sempre esteve relacionada com a pintura, escultura, literatura, música clássica etc., elitizando a vinculação e demonstrando uma separação baseada na percepção sobre a vida, valorização de bens culturais e elementos intelectuais. Com o tempo, essa hierarquização 13 foi sendo reduzida, já que a elite vem perdendo um pouco de sua “autoridade” com relação à detenção e monopolização do conhecimento, que, hoje, passa a ser mais facilmente acessado, por diferentes grupos sociais, através de novas ferramentas introduzidas pela tecnologia. Entretanto, mesmo com essa aproximação entre a cultura das elites e a cultura popular e massificada, ainda permanece a diferente linguagem utilizada em cada uma delas, já que, nas culturas mais populares, há uma espécie de transformação do cotidiano em obras de arte, valorizando os acontecimentos do dia a dia desta classe social. Além disso, é necessário considerar que a cultura das elites é proveniente de uma aristocracia, representada, inicialmente, pelo clero, em que as pessoas eram esclarecidas. E os elementos culturais criados por essa elite foram sendo estudados e preservados, ao longo do tempo, atravésde museus, livros, conteúdos acadêmicos etc. Figura 4 – Cultura para as elites econômicas Crédito: Pitk/Shutterstock. Atualmente, essa arte é encontrada e conservada em museus e em grandes coleções particulares, que representam um valor incontestável, sustentando a apreciação de um público que desenvolve sua sensibilidade durante sua criação e formação, precisando de conhecimentos e análises específicas. É caracterizada por exigir esforços para a compreensão do significado da existência humana, envolver um desenvolvimento específico da linguagem artística e da expressão pessoal de quem a cria, além de determinar, em seu público-alvo, uma forma especial de ver o mundo, baseado nas técnicas tradicionais exploradas em sua construção. 14 Entendemos, portanto, essa cultura como uma expressão e reprodução do estilo de vida da alta classe social, demonstrando que o consumo de cultura é bastante seletivo, diferenciando o culto e sua dimensão estética, do que é massificado e acessado pelas classes menos favorecidas. É claro que, com o avanço da tecnologia e com as políticas culturais que foram sendo criadas, ficou mais fácil frequentar e conhecer diversas obras e elementos da cultura de elite. Porém, ainda permanece a separação social cultural, quando analisamos o interesse que determinado componente desperta na população. TEMA 5 – PERIFERIAS, MINORIAS E COMUNICAÇÃO Com o desenvolvimento da história e urbanização das regiões brasileiras, em especial a partir da década de 1950, começaram a surgir vários núcleos periféricos nas grandes cidades, representando significativa transformação na configuração social. O crescente número de pessoas que passou a deixar o campo, buscando novas oportunidades nas capitais industrializadas, fez com que começassem a se espalhar, pelo Brasil, várias periferias, que passa a representar não só um local de afastamento do centro urbano, mas, também, representa um grupo que está distante do acesso à vários subsídios da cidade central, como: informação, civismo e recursos políticos, econômicos e sociais. Para Sodré (2005, p. 11), “a minoria não é, portanto, uma fusão gregária mobilizadora, como massa ou a multidão ou ainda um grupo, mas principalmente um dispositivo simbólico com uma intencionalidade ético-política dentro da luta contra-hegemônica”. Essa configuração, baseada em padrões idealizados por movimentos culturais das classes sociais mais privilegiadas, demonstravam um lugar de exclusão social, onde os cidadãos vivem de forma segregada e marginalizada, se distanciando, não só simbolicamente e socialmente, mas do poder exercido pelo restante da sociedade. Assim, no Brasil, a periferia e minorias são grupos relacionados, representando uma mesma classe da sociedade, normalmente representada por negros e pobres. São locais como favelas e vilas, que são entendidas como “fora” do centro geográfico ou simbólico de uma cidade. O crescimento desses locais fez com que surgissem diversos movimentos, na tentativa de ganharem visibilidade e novas oportunidades, 15 perante uma configuração criada pela cultura das elites. Assim, a cultura das periferias, ao ser vinculada na mídia, traz questionamentos sobre a forma como esses lugares foram sendo construídos e ocupados ao longo dos anos e o significa que possuem hoje, frente à sociedade e às políticas culturais e sociais que são criadas. Além disso, a representação cultural dessa minoria, residente nas periferias, expressa, interpreta e reflete situações da pós- modernidade, demonstrando suas frustrações, problemas, carências etc., vividas por esses indivíduos. Essas periferias e suas produções culturais sempre foram marginalizadas, não fazendo parte de um circuito tradicional e rompendo com regras estabelecidas por ele. Essas pessoas passam a encontrar novos desafios, principalmente na “comunicação”, na tentativa de erradicarem a imagem de agressão, perigo, exclusão etc., e passarem a construir atividades que sejam capazes de denunciar, principalmente, a violação dos direitos humanos, quando pensamos na forma como cada um desses cidadão vive. A mídia, nesse contexto, age como mediadora social e, consequentemente, tenta regulamentar “normas” sociais, sendo a representação de um espaço que possibilita uma luta política. Além da mídia, a aceleração do capitalismo, a globalização e as novas tecnologias crescente na comunicação possuem papel fundamental no surgimento dessas novas identidades, permitindo a vinculação de uma multiplicidade, independente da limitação territorial que limita as vivências sociais. Normalmente, a mídia seleciona as formas e produtos por meio de uma estruturação do pensamento da comunicação e sociedade, que utilizam os meios de comunicação (e a indústria cultural) como uma forma de dominação, manipulando o pensamento individual, gerando uma hegemonia na utilização das tecnologias e dessas ferramentas de comunicação, e contrapondo à ideia de democratização da cultura e da informação para as grandes massas. Mesmo com a utilização de mídias alternativas, ainda se nota um ideário, na tentativa de possuir maior visibilidade global e uma ampla audiência. Porém, essa visibilidade também pode auxiliar na busca por mostrar, aos órgãos de fomento e financiamento, as dificuldades encontradas na sociedade, fugindo de representações preestabelecidas e, muitas vezes, corrompidas. 16 Hoje, é difícil encontrar eventos sociais que estejam diretamente relacionados ao papel que a mídia possui na sociedade, ou demonstrar um afastamento que tenha ocorrido nesta relação. O que se percebe é uma analogia em que a mídia oferece e o indivíduo consome, confirmando um jogo social, que não valoriza ou se preocupa com as minorias e/ou periferias. Portanto, a questão das minorias é uma problemática social bastante evidente na configuração da sociedade contemporânea, pois, historicamente, são grupos fora de um padrão aspirados, baseado em culturas elitizadas e tradicionais. A principal criadora e confirmadora deste conceito é justamente a mídia, que traz um exemplo de perfeição a ser seguido pela população, não sendo passiva dentro deste processo de vinculação do tradicional. Contudo, apenas deste papel estimulador, não é a mídia que cria essas minorias ou periferias. Permanece, assim, uma luta pela democratização a mídia, para que deixe de reproduzir questões excludentes e preconceituosas, e passe a trabalhar com a inclusão de grupos sociais, rompendo com estereótipos e possibilitando que as minorias tenham seu espaço. Leitura complementar Leia o seguinte livro: BARBALHO, A.; PAIVA, R. (Org.). Comunicação e cultura das minorias. São Paulo: Paulus, 2005. TROCANDO IDEIAS As culturas populares, de massa e das elites, representam uma forte segmentação, atualmente, na sociedade brasileira, enfatizando o tipo de acesso de cada grupo social e os elementos que cada indivíduo terá conhecimento e poderá fazer parte da produção. Partindo das definições e exemplos sobre esses tipos de culturas, faça uma análise, considerando o seu cotidiano, de como atuam cada uma delas e para quais tipo de públicos são direcionadas. Também analise a forma como cada uma é vinculada e exposta na mídia atual. NA PRÁTICA Observe a tirinha a seguir: 17 Figura 5 – Mafalda Crédito: © Joaquin S. Lavado Tejón (QUINO). Foto Arena. Partindo do conteúdo estudado nesta aula, crie uma nota falando sobre o tipo de cultura apresentado na tirinha e a relação com a indústria cultura e com a mídia. FINALIZANDO Atualmente, encontramos diversos movimentos que buscam difundir e facilitar o acesso à cultura, a democratizando, a tornando mais popular e tentando a inserir no cotidiano das pessoas. Entretanto, mesmo com isso, ainda é visível a divisão gerada pelos diferentes tipos de culturas: popular, de massa e de elite.Além disso, a divisão social também é fortemente marcada pelo grupo representado pelas minorias e pela periferia, que representam o mesmo grupo social. Esse público é o que possui maior acesso e atuação na produção das culturas populares, inclusive, sendo utilizadas como um meio para retratarem os problemas que enfrentam no dia a dia. A cultura de massa, intimamente ligada à indústria cultural e à mídia, representa um modelo de consumo, que passa a ser idealizado pela população, tentando padronizar o gosto dos indivíduos e ditando o que é melhor para cada um. Diferente de todo esse cenário, a cultura das elites, apesar de, teoricamente, estar aberta a toda a população, simboliza uma tradição direcionada às classes sociais mais privilegiadas, contrariando a tentativa de democratização cultural. Assim, a diferença é vista não só nas camadas econômica, política e social, mas, também, na oferta e acesso a diferentes espaços e conhecimentos, 18 selecionando os grupos de acordo com os interesses e formação, em especial, cultural. 19 REFERÊNCIAS BOSI, E. Cultura de massa e cultura popular: leituras de operárias. Petrópolis: Vozes, 1978. CANCLINI, N. G. Culturas híbridas. São Paulo: Edusp, 2008. HALL, S. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Trad. Adelaine La Guardiã Resende et al. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Brasília: Representação da Unesco no Brasil, 2003. IANNI, O. Teorias da globalização. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. IMPACTOS da cultura de massa são debatidos em painel da Fliporto. G1, 16 nov. 2012. Disponível em: <http://g1.globo.com/pernambuco/fliporto/2012/notici a/2012/11/impactos-da-cultura-de-massa-sao-debatidos-em-painel-da- fliporto.html>. Acesso em: 26 fev. 2019. LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1986. LORENZ, K. Os oito pecados mortais da civilização. Lisboa: Litoral Edições, 1973. ORTIZ, R. Cultura brasileira & identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1994. PERFIL dos estados e dos municípios brasileiros. Cultura, 2014. In: IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE, 2015 QUINO. Toda Mafalda: da primeira à última tira. São Paulo: Martins Fontes, 2003. RUBIM, I. et al. Políticas culturais, democracia e conselhos de cultura. Salvador: EDUFBA, 2010. Políticas culturais, democracia e conselhos de cultura. Salvador: EDUFBA, 2010. SODRÉ, M. Por um conceito de minoria. In: PAIVA, R.; BARBALHO, A. (Org.). Comunicação e cultura das minorias. São Paulo: Paulus, 2005. p. 11-14. VERAS, L. Cultura popular. Revista Continente, 1 set. 2017. Disponível em: <http://www.revistacontinente.com.br/edicoes/201/cultura-popular>. Acesso em: 26 fev. 2019. Conversa inicial Contextualizando Trocando ideias Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS