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161Urbanização e industrialização no século XIX História Um domingo à noite, dispunha-se a se deitar Maubert Isabeau, padeiro estabelecido no largo da igreja, em Faverolles, quando ouviu uma violenta pancada na vidraça gradeada da sua loja. Acudiu ime- diatamente e chegou a tempo de ver um braço passado por uma abertura feita com um murro na grade e na vidraça. O braço pegou um pão e levou-o. Isabeau correu precipitadamente atrás do ladrão, que fugia à toda, e agarrou-o. Havia jogado o pão fora, mas ainda escorria sangue do seu braço. O ladrão era Jean Valjean. (Adaptado de HUGO, 1985, pp. 90-92). Documento 6 Veja a opinião do critico literário Marshall Bermam sobre o período de modernização através dos pensamentos de Marx, contemporâneo dos romancistas do Realismo: O capital se concentra cada vez mais nas mãos de poucos. Camponeses e artesãos independen- tes não podem competir com a produção de massa capitalista e são forçados a abandonar suas terras e fechar seus estabelecimentos. A produção se centraliza de forma progressiva e se racionaliza em fá- bricas altamente automatizadas. (No campo acontece o mesmo: fazendas se transformam e “fábricas agrícolas” e os camponeses que não abandonam o campo se transformam em proletários campesinos.) Um vasto número de migrantes pobres são despejados nas cidades, que crescem como um passe de mágica – catastroficamente – do dia para noite. (BERMAN, 1999, p. 90). Em 1880, Émile Zola inaugurou o naturalismo francês influenciado por leituras sobre a teoria evolucionista do biólogo inglês Charles Da- rwin (1809-1882) presentes na obra A origem das espécies, publicado em 1859. Zola acreditava que as ações dos indivíduos eram determinadas pelo ambiente que estavam inseridos e pela hereditariedade. Sua pro- posta era mostrar a “verdade”, explicar as mazelas sociais com exage- ro realista. A obra-prima de Zola foi Germinal, publicada em 1885; para escrevê-la, viveu como mineiro por dois meses. Seus romances servi- ram de exemplo para escritores de várias partes do mundo, inclusive do Brasil, como Aluísio de Azevedo (1857-1913) com a obra O mulato, publicada em 1881. Documento 7 Na casa dos Maheu, no número 16 do segundo corpo, nada se tinha mexido. Trevas espessas afo- gavam o único quarto do primeiro andar, como que esmagando com o seu peso o sono das criaturas que estavam ali aos montes, de boca aberta, esfalfadas. Apesar do frio intenso de fora, o ambiente pe- sado tinha um calor de vida, esse cheiro tépido dos mais asseados dormitórios, que cheiram a gado humano. Bateram quatro horas no cuco da sala do rés-do-chão; continuaram a não se mexer, apenas asso- biavam respirações fracas acompanhadas de dois roncos sonoros. E, repentinamente, Catarina levan- tou-se. Malgrado seu cansaço, tinha, pela força do hábito, contado as quatro badaladas da campainha, pelo soalho, sem encontrar forças para acordar inteiramente. Depois, com as pernas de fora da roupa, apalpou, pegou uma caixa de fósforos, riscou um e acendeu a vela de sebo. Mas, ficava sentada à bei- ra da cama, com a cabeça tão pesada que se lhe bambeava de ombro para ombro, cedendo à inven- cível necessidade de tornar a cair sobre o travesseiro. 162 Relações culturais Ensino Médio Agora, a vela clareava o quarto, quadrado, com duas janelas, atravancado com três camas. Havia ali um armário, uma mesa, duas cadeiras de velha nogueira, cujo tom embaçado manchava duramen- te as paredes pintadas de amarelo-claro. E mais nada a não ser trapos suspensos nos pregos, e uma bilha no chão, ao pé de um alguidar vermelho que fazia às vezes de bacia. Na cama da esquerda, Za- carias, o mais velho, rapaz de vinte e um anos, estava deitado com seu irmão Jeanlin, que ia para os seis anos e aquele de quatro, dormiam abraçados um ao outro; enquanto Catarina partilhava o terceiro leito com sua irmã. Alzira tão enfezada para os seus nove anos, que nem ela a teria sentido junto de si, se não fosse o cotovelo da pobre enferma, que lhe entrava pelas costelas adentro. A porta de vidraça estava aberta, podia-se ver o corredor do patamar, a espécie de cacifo em que o pai e a mãe ocupa- vam um quarto leito, onde tinham encostado o berço da mais nova, Estela, que tinha apenas três me- ses. (ZOLA, 1996, pp. 22-23). • Os romances podem ser uma boa fonte de pesquisa para os historiadores. Através deles podemos perceber como os escritores procuraram representar a vida cotidiana de pessoas das classes mais pobres. Desta forma, o romance não retrata a realidade fielmente, mas é uma forma de representar como a realidade era vista por estas pessoas. Lendo os dois fragmentos dos romances acima (do- cumento 5: Os miseráveis e documento 7: Germinal), quais informações podemos destacar pa- ra entender como era a vida dos trabalhadores urbanos do século XIX? Compare estes fragmentos com o documento 6. ATIVIDADE Arte iconográfica Nas artes o realismo, também, procurou representar a realidade social. A riqueza dos capitalistas industriais que se chocava com a vida miserável dos operários e camponeses mostrada pelos pintores em cores escuras e melancólicas. São expoentes des- se movimento: os franceses Homoré Daumier (1808- 1879), Gustave Coubet (1819-1877) e Jean-François Mil- let (1814-1875). Outro movimento artístico importante do século XIX foi o Impressionismo. Entretanto, não foi bem aceito pela sociedade e críticos; muitos desses eram artistas e passaram dificuldades e até fome. Eles procuravam destacar as impressões a partir dos efeitos da luz so- bre a água, objetos e superfícies. Artistas como Claude Monet (1840-1926), Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), Edouard Manet (1832-1883), Edgar Degas (1834-1917) expressavam em suas obras algo inacabado (para acen- tuar a ação à vida), a atmosfera das cenas geralmente Documento 8 JEAN FRANÇOIS MILLET. As Respigadeiras, 1857, Óleo sobre tela, 84 x 111 cm. Museu d’Orsay, Paris. n ww w. ac -v er sa ille s.f r n
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