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317Relações de dominação e resistência na sociedade medieval européia: camponeses, artesãos, mulheres, hereges e doentes História Sociedades Medievais: uma reflexão sobre a sociedade feudal Muitas sociedades desenvolveram-se no período medieval, tanto no Oriente, quanto no Ocidente. Entretanto, o modo pelo qual a História explicava esta questão, baseando-se numa visão eurocêntrica, fez com que os reinos bárbaros e as propriedades feudais do Ocidente europeu ou o Império Bizantino e Império Islâmico, no Oriente, entre os século V e XV, se tornassem as referências mais comuns. Nas relações da sociedade feudal, que ocorreram em boa parte da Europa ocidental, percebe-se a desigualdade social medida pela posse ou exclusão da terra e, para compreendê-la, é preciso resgatar algumas idéias centrais sobre este sistema: o feudalismo. O feudalismo tem suas origens na crise do Império Romano e nas estruturas políticas e econômicas dos reinos germânicos, especialmente dos francos. Atingiu seu apogeu entre os séculos IX e XII. Foi um sistema baseado nas relações de suserania e vassalagem, na posse dos feudos e na servidão. Tinha o poder político descentralizado. Sua sociedade era estamental, hierárquica e imobilista. Foi ideologicamente mantida pelo teocentrismo imposto pela Igreja Católica. Nesta sociedade os mais pobres davam seus bens, suas propriedades e até mesmo sua liberdade em troca da proteção e segurança de um senhor. Observe esta explicação histórica sobre uma condição social da Idade Média, presente em sociedades feudais: Texto 2 Tornar-se um “desclassificado” na Idade Média era sair de seu “estado”, ser privado de seus instru- mentos de trabalho e dos signos de sua condição. Era para um camponês, a perda de suas ferramen- tas, de seus animais; para um artesão, a perda de seu ofício; para um mercador, a perda de sua loji- nha; para um clérigo, a perda de seus livros; para um nobre, a perda de seu cavalo e de suas armas. Sem isso, o homem já não era mais nada, visto que já não tinha meios de existência social. A partir des- te momento, desclassificado, excluído, o homem estava voltado à emigração e ao nomadismo. O po- bre estava só e sem vínculos. (MOLLAT, 1989, p.6) Produza um texto sobre as condições que podiam tornar uma pessoa excluída da sociedade Feu- dal. ATIVIDADE 318 Relações culturais Ensino Médio Algumas manifestações de dominação e resistência entre os camponeses Os camponeses que trabalhavam nas propriedades feudais rece- biam diversos nomes, conforme suas origens: podiam ser chamados de rústicos – em lembrança à designação romana de homem do campo; de vilãos – quando habitavam as vilas; de rendeiros e foreiros – quando eram homens livres e deviam uma parte fixa da sua produção ao senhor; ou simplesmente de pobres. Normalmente trabalhavam e viviam em propriedades que pertenciam aos nobres ou à Igreja Católica e estavam ligados aos seus senhores pelo compromisso da servidão. Este compromisso obrigava o pagamento de impostos, taxas e serviços, além da obediência às ordens dos senhores. Os foreiros e rendeiros, por serem livres, tinham obrigações fixas, mas os servos, além destas obrigações, sujeitavam-se a muitas outras. Entre as formas de domínio dos senhores sobre os camponeses, servos ou não, podem-se destacar algumas obrigações de trabalho que servem para ilustrar a exclusão e dependência a que estes camponeses estavam submetidos: • derrubada de árvores, limpeza dos campos, plantio e colheita nas terras dos senhores (corvéia); • conserto de estradas, pontes e represas; • pagamento pelo uso dos moinhos, fornos, passagem por estradas e pontes das propriedades feudais; • pagamentos de dotes de casamento para as filhas do senhor; • indenização ao senhor pelo nascimento, morte ou casamento do servo; • indenização ao senhor pelo adultério cometido pela esposa do servo; • concessão ao senhor da esposa do servo na primeira noite do casal. O Trabalho dos servos num feudo, c. século XV - iluminura. S/l. - Fonte: http://sepiensa.org. mx/contenidos/historia_mundo/ media/feudal/feudalismo/feudo_ 2.htm - Acesso em 28 nov. 2005. n Texto 3 Você já estudou, em outros momentos, as diferenças entre servos e escravos. Para relembrar: ser- vos eram trabalhadores dependentes. Recebiam do senhor lotes de terra, os mansos, de cujo cultivo dependia sua sobrevivência e em troca da qual realizavam o pagamento de determinadas taxas àquele senhor. Trabalhavam em lugares e tarefas indicados pelo senhor, sem nenhum tipo de remuneração. Ti- nham a posse vitalícia e hereditária de seus mansos e a proteção militar proporcionada pelo senhor. Os escravos existiam em pequena quantidade, nas sociedades feudais; eram mais comuns nas re- giões mais próximas do Império Bizantino ou Império Islâmico; ao contrário de trabalhadores dependen- tes, eram propriedade dos senhores. (Adaptado de FRANCO JR., 2004, p. 91). Documento 1