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Figura 2.14 de percolação–poropressões induzidas e de fluxo volumétrico em problemas simples, é necessária muita prática para que se produzam resultados confiáveis. Como alternativa, podem ser usadas as planilhas (que estão disponíveis quase universalmente para os engenheiros em atividade) para determinar as pressões de percolação de modo mais rápido e confiável. Uma ferramenta baseada em planilha para resolver uma grande variedade de problemas está disponível no site da LTC Editora complementar a este livro, acompanhando o material deste capítulo. As planilhas analisam os problemas de percolação resolvendo a equação de Laplace por meio do Método das Diferenças Finitas (MDF). Em primeiro lugar, o problema é discretizado em uma malha de nós espaçados regularmente representando o solo do problema. Se estiver acontecendo uma percolação em regime permanente através de uma determinada região do solo com permeabilidade isotrópica k, a carga total em um nó genérico no solo será a média dos valores de carga nos quatro nós que se conectam, de acordo com o ilustrado na Figura 2.14: Determinação da carga em um nó do MDF. É possível obter formas modificadas da Equação 2.31 para limites impenetráveis e para determinar valores de carga em cada um dos lados de cortinas finas impermeáveis, como estacas-prancha. A técnica de análise pode ser usada adicionalmente para estudar solos anisotrópicos na escala transformada de solos de permeabilidade k′, conforme a definição ao final da Seção 2.5. Também é possível modificar a Equação 2.31 para modelar os nós no limite entre duas camadas de solo de permeabilidade isotrópicas diferentes (k1, k2), conforme analisado na Seção 2.6. O site da LTC Editora complementar a esta obra contém uma ferramenta de análise de planilha (Percolação_CSM8. xls) que pode ser usada para solucionar uma grande variedade de problemas de percolação. Cada célula é usada para representar um nó, com o valor daquela igual à carga total, h0 para o nó. Uma biblioteca de equações para h0 para uma grande variedade de condições de contorno diferentes está incluída nessa planilha, que pode ser copiada quando necessário para constituir um modelo completo e detalhado de diversos problemas. Uma descrição mais detalhada das condições de contorno que podem ser usadas e sua formulação são dadas no Manual do Usuário, que também pode ser encontrado no site da LTC Editora complementar a este texto. Depois de as fórmulas terem sido copiadas para os nós adequados, são fornecidos os valores da carga nos contornos de recarga e descarga, e, a seguir, são realizados iterativamente os cálculos até que as iterações posteriores forneçam uma variação insignificante da distribuição de carga. Esse processo iterativo é completamente automatizado dentro da planilha. Em um computador moderno, a resolução dos problemas mencionados neste capítulo deve demorar alguns segundos. O uso dessa planilha será demonstrado no exemplo a seguir, que utiliza todas as condições de contorno incluídas na planilha. Exemplo 2.3 Deve ser feita uma escavação profunda nas proximidades de um túnel de alvenaria para linhas de metrô, conforme ilustra a Figura 2.15. O solo circunvizinho apresenta-se em camadas, com permeabilidades isotrópicas de acordo com a figura. Calcule a distribuição da pressão de água nos poros em torno do túnel e encontre a taxa de fluxo da água para o interior da escavação. Solução Dada a geometria mostrada na Figura 2.15, escolheu-se um espaçamento de grade de 1 m nas direções horizontal e vertical, fornecendo o layout nodal mostrado na figura. As fórmulas apropriadas são, então, inseridas nas células que representam cada nó, de acordo com o demonstrado no Manual do Usuário no site da LTC Editora complementar a este livro. Adota-se o nível da escavação como referência. A distribuição da carga total é mostrada na Figura 2.15, e, aplicando-se a Equação 2.1, pode ser desenhada a distribuição de água nos poros em torno do túnel. A taxa de fluxo de água para o interior da escavação pode ser encontrada considerando-se o fluxo entre os oito nós adjacentes no contorno de descarga. Tendo em vista os nós nas proximidades da cortina de estacas-prancha, a variação de carga entre os dois últimos nós é Δh = 0,47. Isso é repetido ao longo do contorno de descarga, e o valor médio Δh entre cada conjunto de nós é calculado. Adaptando a Equação 2.19 e observando que o solo no contorno de descarga tem permeabilidade k1, a taxa de fluxo é, consequentemente, dada por: Figura 2.15 Exemplo 2.3. Figura 2.16 Condição de transferência. 2.8 Condição de transferência Agora, serão feitas considerações sobre a condição que deve ser satisfeita quando a percolação ocorre diagonalmente através da interface entre dois solos isotrópicos, 1 e 2, com coeficientes de permeabilidade k1 e k2, respectivamente. A direção de percolação nas proximidades de um ponto B no limite ABC faz um ângulo α1 com a normal em B, conforme mostra a Figura 2.16; a velocidade de descarga nas proximidades de B é v1. Os componentes de v1 na direção da interface e na direção normal a ela são v1s e v1n, respectivamente. A direção da percolação ao se afastar do ponto B faz um ângulo α2 com a normal, conforme mostra a figura; a velocidade de descarga no afastamento de B é v2. Os componentes de v2 são v2s e v2n. Para os solos 1 e 2, respectivamente φ1=−k1h1 e φ2=−k2h2 No ponto comum B, h1 = h2; portanto, Diferenciando no que diz respeito a s, a direção ao longo da interface: Para a continuidade do fluxo ao longo da interface, os componentes normais da velocidade de descarga devem ser iguais, isto é, v1n = v2n Dessa forma, Daí, segue-se que A Equação 2.32 especifica a mudança na direção da linha de fluxo que passa pelo ponto B. Essa equação deve ser satisfeita na interface por toda linha de fluxo que a atravessar. A Equação 2.18 pode ser escrita como Se Δq e Δh devem ter, cada um, os mesmos valores em ambos os lados da interface, então e fica claro que os quadrados curvilíneos são possíveis apenas em um solo. Se então Se o índice de permeabilidade for menor do que 1/10, é improvável que a parte da rede de fluxo no solo de maior permeabilidade precise ser considerada. 2.9 Percolação através do maciço de barragens de terra Esse problema é um exemplo de percolação não confinada, com um limite da região de fluxo sendo a superfície freática na qual a pressão é atmosférica. No interior da seção, a superfície freática constitui a linha de fluxo superior, e sua posição deve ser estimada antes que a rede de fluxo possa ser desenhada. Considere o caso de uma barragem de terra isotrópica sobre uma fundação impermeável, conforme mostra a Figura 2.17. O limite impermeável BA é uma linha de fluxo, e CD é a linha de fluxo superior exigida. Em cada ponto do talude de montante BC, a carga total é constante (u/γw e z variam de um ponto para outro, mas sua soma permanece constante); portanto, BC é uma linha equipotencial. Se o nível de água de jusante for tomado como nível de referência, a carga total na linha equipotencial BC será igual a h, a diferença entre os níveis de água de montante e de jusante. A superfície de descarga AD, apenas para o caso mostrado na Figura 2.17, é a linha equipotencial para a carga total zero. Em todos os pontos da linha de fluxo superior, a pressão é nula (atmosférica), portanto a carga total é igual à altimétrica, e deve haver intervalos verticais iguais Δz entre os pontos de interseção entre linhas equipotenciais sucessivas e a linha de fluxo superior. Em uma barragem de terra, sempre deve ser construído um filtro adequado na superfície de descarga. A função do filtro é manter a percolação completamente dentro da barragem; a saída de água de percolação no talude de jusante resultaria na erosão gradual deste. As consequências disso podem ser graves. Em 1976, foi observado um vazamento próximo a um dos encontros da barragem Teton (Teton Dam), em Idaho, EUA. A seguir, foi observada percolação através do talude de jusante. No intervalo de duashoras após o ocorrido, a barragem apresentou uma falha estrutural catastrófica, causando uma enorme inundação, conforme mostra a Figura 2.18. Os custos Figura 2.17 Figura 2.18 diretos e indiretos dessa falha estrutural foram estimados em algo próximo a 1 bilhão de dólares. A Figura 2.17 mostra um filtro subterrâneo horizontal. Outras formas possíveis de filtro são ilustradas nas Figuras 2.22a e 2.22b; nesses dois casos, a superfície de descarga AD não é uma linha de fluxo nem uma equipotencial, uma vez que há componentes da velocidade de descarga tanto no sentido normal quanto no tangencial à AD. Seção transversal de uma barragem de terra homogênea. Falha estrutural da barragem Teton (Teton Dam), 1976 (foto cedida pelo Bureau of Reclamation). As condições de contorno da região de fluxo ABCD na Figura 2.17 podem ser escritas da seguinte forma: Linha equipotencial BC: φ = –kh Linha equipotencial AD: φ = 0 Linha de fluxo CD: ψ = q (além disso, φ = –kz) Linha de fluxo BA: ψ = 0 A transformação conforme r = w2 Pode-se usar a teoria de variáveis complexas a fim de se obter uma solução para o problema da barragem de terra. Vamos admitir que o número complexo w = φ + iψ seja uma função analítica de r = x + iz. Considere a função r = w2 Dessa forma Igualando as partes reais e imaginárias: As Equações 2.34 e 2.35 regem a transformação de pontos entre os planos r e w. Considere a transformação de linhas retas ψ = n, na qual n = 0, 1, 2, 3 (Figura 2.19a). A partir da Equação 2.35, e a Equação 2.34 se torna A Equação 2.36 representa uma família de parábolas com mesmo foco. Para valores positivos de z, as parábolas com os valores especificados de n estão desenhadas no gráfico da Figura 2.19b. Considere também a transformação de linhas retas φ = m, na qual m = 0, 1, 2, …, 6 (Figura 2.19a). A partir da Equação 2.35, e a Equação 2.34 se torna Figura 2.19 Transformação conforme r = w2: (a) plano w; e (b) plano r. A Equação 2.37 representa uma família de parábolas com mesmo foco e conjugadas àquelas representadas pela Equação 2.36. Para valores positivos de z, as parábolas com os valores especificados de m estão desenhadas no gráfico da Figura 2.19b. As duas famílias de parábolas satisfazem às exigências de uma rede de fluxo. Aplicação a seções transversais de barragens de terra A região de fluxo no plano w que satisfaz às condições de contorno para a seção transversal (Figura 2.17) é mostrada na Figura 2.20a. Nesse caso, será usada a função de transformação r = Cw2 em que C é uma constante. Assim sendo, as Equações 2.34 e 2.35 se tornam A equação da linha de fluxo superior pode ser obtida por meio da substituição das condições Assim, Parte 1 - Desenvolvimento de um modelo mecânico para o solo 2 Percolação 2.8 Condição de transferência 2.9 Percolação através do maciço de barragens de terra