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3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 PARKINSON Definição: A doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, acometendo entre 2% e 3% da população acima dos 65 anos. Manifesta-se com caráter predominantemente motor, é progressiva e ligeiramente mais comum no sexo masculino. Anormalidades não motoras como distúrbios cognitivos, psiquiátricos e autonômicos, hiposmia (baixa sensibilidade olfativa), fadiga e dor também podem ocorrer, e algumas delas podem preceder as alterações motoras. Epidemiologia: A incidência e a prevalência da DP aumentam com a idade. A média de idade por ocasião do início da doença é de 60 anos. Quando começa antes da idade de 20 anos, a doença é conhecida como parkinsonismo juvenil. O início do parkinsonismo primário na faixa etária de 20 a 40 anos é definido pelo termo DP de início precoce; alguns pesquisadores estenderam o limite de idade até 50 anos, de forma a contemplar a contribuição genética mais expressiva que nos casos de início tardio. A DP é mais comum nos homens e a razão entre os sexos masculino e feminino é de 3:2. A prevalência da doença é de cerca de 160 por 100.000 e a incidência anual fica em torno de 20 por 100.000. A prevalência e a incidência aumentam exponencialmente com a idade e, na faixa dos 70 anos. Fisiopatologia Na etiologia da DP interagem de forma complexa fatores genéticos, ambientais (exposição a pesticidas e metais pesados, desnutrição, obesidade) e o próprio envelhecimento. Em cerca de 10% a 15% dos casos, a moléstia é de natureza genética, sendo que mais de 20 loci já foram identificados. As formas genéticas da doença, geralmente, são de início mais precoce. Do ponto de vista fisiopatológico, a expressão motora da DP é decorrente de uma deficiência na transmissão dopaminérgica na via nigroestriatal, consequência do processo degenerativo que acomete os neurônios mesencefálicos nigrais. 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 Atualmente, considera-se que a participação de depósitos anormais da alfassinucleína (proteína de ação pré-sináptica) esteja envolvida na etiopatogenia da DP. Admite-se que, sob a influência dos fatores etiológicos, ocorram alterações estruturais na molécula desta proteína que favorecem a sua agregação e o acúmulo em populações neuronais mais suscetíveis, tais como substância negra, locus ceruleus, entre outras, levando à disfunção de organelas e sistemas celular que acarretam a morte neuronal. Portanto, a DP é considerada uma proteinopatia da classe das sinucleinopatias, juntamente com demência por corpos de Lewy e a atrofia de múltiplos sistemas. Do ponto de vista anatomopatológico, há a ocorrência de perda neuronal em diversas regiões do encéfalo com o aparecimento à microscopia de corpúsculos de Lewy, corpos de inclusão eosinofílicos no corpo dos neurônios, expressando o acúmulo de alfassinucleína. As manifestações motoras da DP decorrem principalmente da perda progressiva de neurônios da parte compacta da substância negra. A degeneração nesses neurônios é irreversível e resulta na diminuição da produção de dopamina. Manifestações não motoras da doença tais como hiposmia, constipação intestinal, depressão e transtorno comportamental da fase REM (rapid eye movement) do sono, podem estar presentes anos antes do surgimento das alterações motoras. Manifestações Clínicas (Motoras e não motoras) Manifestações motoras principais As manifestações clínicas como tremor, bradicinesia, rigidez, abolição dos reflexos tendíneos, postura em flexão e congelamento são os seis sinais motores principais do parkinsonismo. Nem todos precisam estar presentes simultaneamente, mas ao menos dois devem ocorrer – tremor ou bradicinesia – antes que se possa considerar o diagnóstico de parkinsonismo clinicamente provável. 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 O tremor em repouso a uma frequência de 4 a 5 Hz afeta os membros, quase sempre os segmentos distais; em alguns casos, o tremor em repouso acomete a parte proximal do membro, em vez dos segmentos distais. O tremor clássico de “contar notas” afeta os dedos polegar e indicador. O tremor em repouso desaparece com a ação, mas algumas vezes recomeça quando os membros são mantidos em determinada posição. O tremor em repouso também é comum nos lábios, queixo e língua. O tremor em repouso das mãos aumenta quando o paciente caminha e pode ser um sinal precoce quando ele ainda não tem outras anormalidades. Estresse ou excitação agrava o tremor. Alguns pacientes têm tremor cinético em vez ou além do tremor em repouso. O principal diagnóstico diferencial do parkinsonismo é tremor essencial (TE). Em geral, essas duas doenças causam tremores fáceis de diferenciar. Nos casos típicos, o tremor da DP ocorre em repouso, enquanto o TE é postural e cinético. Contudo, as manifestações clínicas desses tremores podem sobrepor-se e, nestes casos, os pacientes com TE grave apresentam tremor em repouso. Nem todos os pacientes com DP têm tremor; quando não ocorre, o diagnóstico é mais difícil e, em geral, transcorre um período longo entre o início dos sintomas e a confirmação do diagnóstico. Por fim, a bradicinesia agrava-se a ponto de causar alguma limitação física, inclusive micrografia ou arrasto de uma das pernas à medida que o paciente anda; isto leva os pacientes a buscar atendimento médico. Acinesia significa escassez de movimentos espontâneos, mas este termo é utilizado comumente como sinônimo de bradicinesia e hipocinesia. Bradicinesia (lentidão dos movimentos, dificuldade de iniciar o movimento e perda dos movimentos automáticos) e hipocinesia (redução da amplitude dos movimentos, principalmente dos movimentos repetitivos, também conhecida como decremento) são as manifestações mais comuns do parkinsonismo, ainda que possam começar depois do tremor. A bradicinesia tem muitas facetas, dependendo das partes afetadas do corpo. A face perde sua expressão espontânea (fácies de máscara, ou hipomimia) com redução do piscar dos olhos. A pobreza de movimentos espontâneos caracteriza-se por perda da gesticulação e pela tendência a que o paciente sente-se imóvel. A fala torna-se suave (hipofonia) e a voz monótona com pouca inflexão (aprosódia). Alguns pacientes não pronunciam claramente (disartria) e não separam as sílabas nitidamente e, por isto, pronunciam as palavras juntas (taquifemia). A bradicinesia da mão dominante resulta na escrita lenta com letras diminutas (micrografia) e o paciente tem dificuldade de barbear-se, escovar os dentes, pentear os cabelos, abotoar ou aplicar maquiagem. Tocar instrumentos musicais também é difícil. A marcha é lenta com passadas curtas e tendência a embaralhar as pernas e não apoiar os calcanhares no piso; as oscilações dos braços diminuem e, por fim, desaparecem por completo. A dificuldade de levantar-se de uma cadeira baixa, sair do automóvel e virar-se no leito são indícios de bradicinesia do tronco/corpo. A saliva escorrendo resulta da incapacidade de deglutir espontaneamente (um sinal de bradicinesia) e não é causada pela produção excessiva de saliva. Os pacientes podem engolir normalmente quando são solicitados a fazê-lo, mas apenas alertas constantes permitem-lhes continuar a deglutir a saliva. Do mesmo modo, as oscilações dos braços podem ser normais quando o paciente quer balançar voluntariamente os braços com esforço ao caminhar. A bradicinesia grave impede que um paciente com parkinsonismo dirija automóvel quando o movimento do pé retirado do acelerador para o pedal de freio é muito lento. A bradicinesia é confundida comumente pelos pacientes com fraqueza. A fadiga – uma queixa comum na DP, especialmente no estágio brando da doença e antes que se desenvolva lentidão acentuada dos movimentos – pode estar relacionada com a bradicinesia branda ou a rigidez, ou pode ser manifestação independente. Os sinais sutis de bradicinesia podem ser detectados 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 mesmo nos estágios iniciais doparkinsonismo quando o examinador atenta para a lentidão dos movimentos de encolher os ombros, a escassez de gesticulação, a oscilação reduzida dos braços e a redução da amplitude dos movimentos sucessivos rápidos. Com a agravação da bradicinesia, a lentidão e a dificuldade de executar as atividades da vida diária aumentam. Uma refeição normalmente consumida em 20 min pode ser ingerida apenas à metade depois de uma hora ou mais. A deglutição pode ser prejudicada à medida que a doença avança e existe o risco de ocorrerem engasgos e aspiração. A bradicinesia evidencia-se de muitas formas, dependendo da parte do corpo afetada. Rigidez é um aumento do tônus muscular desencadeado quando o examinador movimenta os membros, o pescoço ou o tronco do paciente. Essa resistência aumentada à mobilização passiva é igual em todas as direções e, em geral, evidencia-se por uma “liberação por catraca” durante o movimento. Isso é fenômeno de roda dentada e é causado pelo tremor coexistente, mesmo que não haja tremores visíveis. O fenômeno da roda dentada também ocorre nos pacientes com TE. A rigidez à mobilização passiva dos membros aumenta quando o outro membro está envolvido em algum movimento ativo voluntário (“manobra de Froment”). A postura em flexão comumente começa nos braços e espalha-se para todo o corpo. A cabeça é curvada, o tronco é inclinado para frente, o dorso é cifótico, os braços são mantidos à frente do corpo e os cotovelos, quadris e joelhos são flexionados. As deformidades das mãos incluem desvio ulnar das mãos, flexão das articulações metacarpofalangianas e extensão das articulações interfalangianas (mão estriatal). A inversão dos pés é evidente e o primeiro pododáctilo pode estar dorsiflexionado (dedo estriatal), enquanto os demais dedos do pé estão retorcidos para trás. A inclinação lateral do tronco é comum (síndrome da torre de Pisa) e, em alguns casos, pode haver flexão extrema do tronco (camptocormia). A abolição dos reflexos posturais provoca quedas e, por fim, incapacidade de manter-se de pé sem ajuda. Os reflexos posturais são testados pelo teste do empurrão, que é realizado com o examinador posicionado atrás do paciente, e consiste em dar um empurrão firme nos ombros depois de explicar o procedimento e verificar se há retropulsão. Com aviso prévio, um indivíduo normal pode recuperar-se com duas passadas. O examinador sempre deve estar preparado para segurar o paciente ao realizar esse teste; caso contrário, um paciente com reflexos posturais abolidos poderia cair. O examinador deve ter uma parede sólida atrás dele, caso um paciente pesado caia para trás e leve junto consigo o próprio examinador. À medida que os reflexos posturais são reduzidos, o paciente cai sobre a cadeira à medida que tenta sentar-se (movimento de sentar-se em bloco). A marcha pode ser marcada por festinação, ou seja, o paciente anda cada vez mais rápido tentando movimentar os pés para frente e ficar abaixo do centro de gravidade do corpo flexionado e, deste modo, evitar uma queda. O fenômeno de congelamento (bloqueio motor) é uma incapacidade transitória de realizar movimentos ativos. Isso afeta mais comumente as pernas enquanto o paciente anda, mas também pode afetar os movimentos de abrir as pálpebras (apraxia da abertura palpebral, ou inibição do músculo levantador), falar (palilalia) e escrever. O congelamento ocorre repentinamente e é transitório e, em geral, não persiste por mais que alguns segundos de cada vez. Os pés parecem como se “estivessem colados no piso” e então, subitamente, são “despregados” e permitem que o paciente comece a andar novamente. Nos casos típicos, o congelamento ocorre quando o paciente começa a andar (hesitação inicial); vira-se enquanto caminha; ou se aproxima de algum destino, como uma cadeira na qual possa sentar-se (hesitação final); em geral, isto ocorre quando o paciente caminha em lugares aglomerados (p. ex., nos limites exíguos de uma fila no cinema, ou quando tenta passar por uma porta giratória, ou quando é confrontado repentinamente por uma pessoa que caminha em sua direção) e 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 quando há limitação do tempo para andar (p. ex., tentar entrar ou sair de um elevador antes que a porta feche, ou tentar atravessar uma rua antes que o sinal fique vermelho). O congelamento geralmente é suplantado pelos estímulos visuais, por exemplo, quando o paciente caminha sobre marcas no chão e é muito menos frequente quando ele sobe ou desce escadas, que quando caminha no plano. A combinação de congelamento da marcha e abolição dos reflexos posturais é especialmente devastadora, porque isto frequentemente provoca quedas. As quedas são responsáveis pela incidência alta de fraturas do quadril nos pacientes parkinsonianos. Manifestações não motoras Os sintomas não motores da doença de Parkinson podem ser mais problemáticos que as manifestações motoras. As alterações da personalidade e do comportamento incluem redução da capacidade de concentração, déficit visuoespacial e personalidade que lentamente se torna mais dependente, amedrontada, indecisa e passiva. O cônjuge progressivamente toma mais decisões e torna-se dominante. A passividade e a falta de motivação são comuns e evidenciam- se pela aversão do paciente a visitar amigos. O paciente é mais resistente a participar das conversas. Depressão é comum nos pacientes com DP, com prevalência em torno de 25 a 50%. A ansiedade pode ser ainda mais comum, comumente com depressão. Deterioração cognitiva não é manifestação inicial, mas pode tornar-se pronunciada à medida que o paciente envelhece. Ao contrário da DA, o déficit de memória não é um sinal precoce da DP; pelo contrário, o paciente apenas demora a responder às perguntas, um fenômeno descrito como bradifrenia. A resposta certa pode ser obtida quando o paciente tem tempo suficiente para responder. Os sinais sutis de bradifrenia incluem os fenômenos de “ponta da língua”, desde redução da fluência verbal até incapacidade de alterar rapidamente o foco mental. Estadiamento clínico (Hoehn-Yahr) O estadiamento clínico de Hoehn-Yahr ilustra a progressão das manifestações motoras da DP: de unilateral para bilateral, depois para abolição dos reflexos posturais e, por fim, incapacidade. 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 Diagnóstico (London Brain Bank) O diagnóstico diferencial da DP está baseado nas seguintes manifestações clínicas: parkinsonismo; início assimétrico insidioso; agravação lenta dos sintomas; e inexistência de outros indícios na história, no exame físico ou nos exames laboratoriais, que possam indicar outra causa para o parkinsonismo. A presença de tremor em repouso e a melhora significativa com levodopa reforçam claramente o diagnóstico da DP. Um dos distúrbios confundidos mais comumente com a DP é o tremor essencial, que se caracteriza por tremor cinético e postural (sem anormalidades em repouso), a menos que a doença esteja avançada. Por fim, alguns pacientes com tremor essencial (TE) desenvolvem DP. A RM é normal nos pacientes com DP, a menos que exista demência ou outro distúrbio. A tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT) com transportador de dopamina (DAT) ou tomografia por emissão de pósitrons (PET) com e sem 3,4-di-hidroxi-6-18Ffluoro-L-fenilalanina (FDOPA) correlacionam-se com a redução das terminações neurais dopaminérgicas estriatais; a parte caudal do putame é afetada primeiramente. Nas tabelas a seguir constam os critérios diagnósticos propostos pela United Kingdom Parkinson’s Disease Society Brain Bank (Gibb e Lees), que têm sido os mais utilizados nas últimas décadas. 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 Exames Complementares O diagnóstico da DP apoia-se amplamente na anamnese, exame neurológico e acompanhamento do paciente. Exames de imagem estruturais como a ressonância magnética e a tomografia computadorizada do encéfalo são utilizadas como auxílio para a exclusãodos diagnósticos diferenciais. Outros exames complementares que podem ser utilizados como meio auxiliar no diagnóstico da DP são os exames de neuroimagem funcional, PET (positron emission tomography) e o SPECT (single photon emission computed tomography), a ultrassonografia transcraniana, a cintilografia cardíaca com 123I-MIBG e o exame do olfato. 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 Tratamento (medicamentoso, cirúrgico – ablativo e estimulação cerebral) A levodopa segue sendo a principal forma de tratamento da DP desde o seu lançamento comercial. É considerada uma “pró-droga”, pois seu efeito é decorrente da conversão para dopamina. Atua diretamente sobre a deficiência dopaminérgica que é a base fisiopatológica dos sinais e sintomas motores associados à doença. É a droga mais eficaz para o controle dos sintomas motores, mas seu uso pode estar associado a problemas (especialmente no longo prazo), podendo ocorrer redução do tempo de efeito (wearing-off) e movimentos involuntários (discinesias). Um dos principais problemas da levodopa é sua meia-vida curta, que é de 90 minutos. Os preparados comerciais de levodopa vêm com drogas que bloqueiam a conversão da levodopa no sangue periférico, permitindo uma maior entrada do fármaco no SNC e minimizando os efeitos adversos da ação direta da dopamina sobre os receptores periféricos (hipotensão postural, náuseas e vômitos). Há dois inibidores periféricos da dopa descaboxilase (DDC) disponíveis comercialmente: a carbidopa e a benserazida. Nas fases iniciais da DP a utilização de preparados comerciais de levodopa com inibidores da DDC é muito bem-sucedida na maioria das vezes. O uso de duas a quatro doses diárias de 50 ou 100 mg de levodopa permite um efeito homogêneo e estável durante as 24 horas do dia. Nas fases iniciais ainda existem neurônios dopaminérgicos sobreviventes e com a entrada da levodopa no cérebro, parte dela é convertida em dopamina dentro do neurônio e é estocada em vesículas para ser utilizada posteriormente. Outra parte da levodopa é convertida em dopamina e é utilizada imediatamente no terminal sináptico. Com o passar do tempo, a reserva de neurônios dopaminérgicos vai escasseando e a maior parte da levodopa passa a ser convertida em dopamina fora do neurônio dopaminérgico e o tempo de efeito passa a ser quase o mesmo que o de sua meia-vida (90 minutos). Esta é uma das razões para a ocorrência de uma das complicações mais frequentes do tratamento da DP: o encurtamento do tempo de efeito (wearing-off). Todas as outras opções terapêuticas para o tratamento da DP são menos eficazes que a levodopa, mas têm meia-vida plasmática maior e, portanto, um perfil de efeitos adversos diferente não estando associados a wearing-off e a discinesias. Temos como drogas com ação no sistema dopaminérgico, além da levodopa, os agonistas dopaminérgicos (rotigotina e pramipexol), os inibidores da MAO (selegilina e rasagilina) e os inibidores da COMT (entacapona e tolcapona). As drogas com ação fora do sistema dopaminérgico são os anticolinérgicos (biperideno e triexifenidila - cada vez menos usados) e os antiglutamatérgicos (amantadina). Os anticolinérgicos, a selegilina e a amantadina são as drogas com menor capacidade para reverter a sintomatologia parkinsoniana, mas que podem ter um papel útil no tratamento. 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 Manejo não farmacológico: A fisioterapia e a fonoterapia podem ser indicadas em qualquer fase da doença, sempre em combinação com o tratamento medicamentoso. Tratamento cirúrgico A principal indicação para o tratamento cirúrgico é para os casos em que ocorrem as complicações motoras de longo prazo apesar da melhor combinação de drogas antiparkinsonianas. Deve ser evitada nos casos de declínio cognitivo, pois o procedimento pode agravar estas complicações. O tratamento cirúrgico pode ser feito com cirurgias ablativas (talamotomia, palidotomia e subtalamotomia) ou com estimulação cerebral profunda (deep brain stimulation – DBS). O alvo para escolha do tratamento cirúrgico pode variar de acordo com a sintomatologia. A talamotomia costuma ser o alvo de escolha quando o tremor unilateral é a principal manifestação da doença. A palidotomia é a cirurgia escolhida nos casos de discinesia. A cirurgia ablativa tem sido menos utilizada já que estes procedimentos não devem ser feitos bilateralmente (alto risco de síndrome pseudobulbar) e as possíveis complicações advindas do procedimento são irreversíveis. A cirurgia com DBS é a melhor escolha quando disponível no centro de atendimento do paciente. Sua eficácia tem sido demonstrada e não resta dúvida de que este tipo de abordagem proporciona um melhor controle dos sintomas quando o melhor 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 tratamento clínico disponível já está sendo utilizado. A DBS no globo pálido ou no núcleo subtalâmico têm sido indicadas na maior parte dos casos e parece não haver diferença significativa na eficácia da abordagem dos dois alvos. ALZHEIMER Definição: A doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa progressiva com grande relevância epidemiológica e significante impacto social. É a causa mais comum de comprometimento cognitivo ou demência em indivíduos com mais de 65 anos e, com o aumento da longevidade, é prevista uma pandemia mundial de comprometimento cognitivo associado à DA. Epidemiologia: A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência correspondendo a mais de 50% dos casos. Acomete 5-10% dos pacientes acima de 65 anos e 20-40% daqueles acima de 85 anos. Fisiopatologia Em 95% dos pacientes, a DA acontece de forma esporádica, sendo uma associação entre fatores genéticos e ambientais. Mais de 20 loci genéticos foram relacionados à manifestação de DA, sendo que o principal fator genético é a presença do alelo 4 da apolipoproteína E (APOE4). A doença de Alzheimer é causada pelo acúmulo progressivo de beta amiloide e proteína tau no cérebro. Os principais fatores de risco para DA são idade, história familiar e presença de apolipoproteína E. O paciente apresenta um acúmulo de proteína beta amiloide no espaço extracelular em placas amiloides, encontradas principalmente no hipocampo, na amígdala e no neocortex. Ocorre também acúmulo de proteína tau, formando os emaranhados neurofibrilares, estruturas intracelulares encontradas principalmente hipocampo, amigdala e núcleos da base. A formação dessas estruturas leva à perda da ligação sináptica e atrofia cerebral. O cérebro passa a ter um aumento de ventrículos e de sulcos, com diminuição do peso do encéfalo. As placas amiloides e os emaranhados neurofibrilares começam a surgir cerca de 20 anos da instauração da DA. 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 Manifestações Clínicas: Para o diagnóstico de Alzheimer, é necessário que o paciente apresente declínio em duas formas de cognição, sendo que uma delas obrigatoriamente é a memória. A perda de memória costuma ser o primeiro sintoma a ser observado e geralmente a memória de curto prazo é a mais afetada, fazendo com que o paciente perca a capacidade de reter novas informações. A memória de trabalho e a memória de cunho afetivo costumam estar preservadas. Além da alteração de memória, outros déficits cognitivos costumam ocorrer. O paciente evolui com um discurso empobrecido, usando muitas palavras para explicar algo. Ocorre perda de pragmatismo e funcionalidade, fazendo com que o paciente perca primeiramente a habilidade de realizar atividades instrumentais e progressivamente as atividades básicas, chegando até a perda do autocuidado. Podem cursar com alterações visuais, perdendo as funções visuais altas. O paciente passa a não reconhecer alguns ambientes, podendo se perder na rua ou não reconhecer a própria casa. Os sintomas cognitivos se apresentam de forma insidiosa e progressiva. É incomum que apareçam alterações de equilíbrio,marcha e força muscular, sendo estas queixas limitadas aos estágios finais da doença. Além dos sintomas cognitivos, o paciente experimenta também sintomas não cognitivos, como apatia, depressão, sun dowing, agitação e sintomas psicóticos. O sun dowing é caracterizado por uma agitação durante o período de fim de tarde, que costuma ocorrer em estágios mais avançados da doença. 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 Diagnóstico (NIA-AA 2018): O diagnóstico da demência da DA permanece sendo eminentemente clínico, segundo as diretrizes do NIA-AA propostas por McKhann et al. (2011): 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 Exames Complementares: Tomografia computadorizada cerebral é solicitada para excluir possíveis causas reversíveis de demências, como um tumor cerebral ou um sangramento. Devem ser solicitados exames de função tireoidiana, vitamina b12, ácido fólico, sífilis e HIV para detectar causar reversíveis de demências. Além disso, deve-se avaliar o humor do paciente para detectar um possível quadro de depressão, que pode cursar com um quadro de pseudodemência. A ressonância magnética no paciente com DA mostra uma hipotrofia cortical da região temporoparietal e do hipocampal, com diminuição da volumetria hipocampal, evidenciando a neurodegeneração causada pelo acúmulo de proteína beta amiloide e de proteína tau. 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 Evidencia também dilatação dos ventrículos laterais e alargamento dos sulcos corticais nas regiões temporais. Pode apresentar também alterações vasculares como hiperintensidades, microsangramentos e lacunas. A avaliação neuropsicológica é o padrão-ouro para avaliação da cognição. É um teste realizado por psicólogos especializados em neuropsicologia que investiga o funcionamento cerebral a partir do estudo comportamental, estabelecendo a presença ou não de disfunção cognitiva, além do seu estágio. Tratamento A doença de Alzheimer é incurável. O tratamento é baseado no uso de inibidores da colinesterase, sintomático (para alterações de comportamento) e na relação paciente, familiares e cuidadores. Os anticolinesterásicos centrais existentes no mercado são: (1) donepezil 5-10 mg VO 1x/dia; (2) rivastigmina 6 a 12 mg/dia em duas tomadas; (3) galantamina 16 a 24 mg/dia em duas tomadas; (4) tacrina (também chamada tetra-hidroaminoacridina) 10-20 mg VO 6/6h. A desvantagem da tacrina é em relação aos seus efeitos adversos, entre eles a hepatotoxicidade, por isso praticamente não é utilizada hoje em dia. Essas quatro drogas aumentam a acetilcolina cerebral e podem melhorar discretamente os sintomas e/ou reduzir a progressão da doença. O donepezil, por evitar a toxicidade hepática e por ser administrado uma vez ao dia, é o de maior vantagem terapêutica entre os quatro. Outras drogas: • Antioxidantes: vitamina E e seleginina (inibidor da monoamina oxidase) trabalhos mostraram redução da institucionalização e aumento da sobrevida. A vitamina E, por ser mais barata e melhor tolerada, leva vantagem sobre a seleginina. Está indicada na dose de 1.000 UI duas vezes ao dia em pacientes sem insuficiência cardíaca. • Memantina (antagonista do receptor do glutamato neurotransmissor tóxico para os neurônios): para o tratamento da doença moderada a severa associado a um inibidor da colinesterase, ou o uso isolado para pacientes que não tenham benefício ou não toleram os anticolinesterásicos. 3º módulo/ Jeovanna Miranda-M3 Para pacientes com depressão é recomendado inibidor seletivo da recaptação da serotonina (citalopram, sertralina).
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