Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Metodologia Científica Caso 4 Estudos sobre Fatores de Risco Introdução O melhor tipo de estudo para avaliar fatores de risco é o estudo longitudinal. Dentro desse grupo de estudos, os principais desenhos são os estudos de coorte e estudos de caso controle por serem os estudos que apresentam as medidas de associação mais relevantes. Tanto os estudos de coorte quanto os de caso controle são estudos que permitem fazer uma estimativa de risco, uma avaliação da relação de causa e efeito entre uma exposição e um desfecho. Estudo Prospectivo É um estudo que começa antes da ocorrência do desfecho, com isso a amostra é formada por indivíduos saudáveis que podem vir a apresentar a doença. Neles o investigador pode avaliar diretamente a exposição (isso minimiza vieses) e pode obter dados sobre fatores de confusão, mesmo sem ter muito controle sobre eles. A principal desvantagem desses estudos é que eles são demorados e caros. Estudos Retrospectivos Aqui, a exposição e o surgimento da doença precedem o início do estudo, com isso, os grupos de indivíduos já estão pré-definidos. Esses estudos dependem da disponibilidade de registros dos pacientes e são eficientes quando o período de latência da doença é longo (como em cânceres). São estudos mais rápidos, baratos e que permitem um N amostral muito maior pois não há perda de seguimento neles uma vez que o pesquisador só usa os dados do paciente, não tem contato diretamente com ele. A principal desvantagem desses estudos é a dependência de registros dos pacientes, pois frequentemente se encontram prontuários incompletos que dificultam os estudos Estudo de Coorte Prospectivo O estudo de coorte tem um foco maior no fator de risco. Nele se estuda a exposição ao fator de risco e quais os possíveis desfechos a partir dela. Será descrito o estudo de coorte prospectivo pela sua capacidade de fornecer valores de incidência e risco relativo. Estudo de coorte é um estudo com um número amostral grande formado por indivíduos que compartilham algum atributo. A partir da população alvo se obtém uma amostra de indivíduos sadios, que será dividida em dois grupos, um de indivíduos expostos e outro de indivíduos não expostos. Feito isso, deve-se aguardar o tempo de seguimento (geralmente é longo) para avaliar a presença ou ausência de desfecho em ambos os grupos, avaliando a morbidade e a mortalidade da exposição. O estudo de coorte prospectivo é o principal estudo usado para monitoras incidência de doenças, sendo também usado para identificar determinantes para a ocorrência de doenças, monitorar a sobrevida de portadores de determinadas doenças e ainda identificar fatores associados à progressão de determinadas doenças. A exposição nesse tipo de estudo NÃO está sob o controle do pesquisador, ela já existe e o pesquisador apenas observa o efeito dela. Em processos agudos, o tempo de seguimento pode ser de dias a meses, já em processos crônicos pode ser de anos a décadas. O tempo de seguimento deve ser longo o suficiente para permitir o surgimento do desfecho estudado, e ele deve ser estabelecido no início do estudo. Os ECR também permitem a avaliação de incidência, porém, quando se pensa em desfechos associados a um fator de exposição, o estudo de coorte prospectivo é o melhor, uma vez que no ECR a exposição é manipulada pelo pesquisador, diferente do estudo de coorte. . Risco Relativo A partir dos dados obtidos, o pesquisador deve calcular o risco relativo. O risco relativo é um cálculo de probabilidade, por isso é o valor mais absoluto para cálculos de riscos. Esse valor corresponde a probabilidade de um indivíduo do grupo exposto desenvolver o desfecho comparada com a probabilidade de um indivíduo não exposto desenvolver o mesmo desfecho. O RR é a forma do pesquisador identificar se determinada exposição realmente oferece mais risco à população para apresentar determinado desfecho. Além disso, é uma medida que permite identificar quantas vezes mais risco corre uma pessoa exposta a determinado fator, de apresentar o desfecho estudado. O RR permite dizer: se você for exposto ao fator de risco X você terá Y vezes mais chances de desenvolver o desfecho Z. O RR não trabalha com chances, mas sim com risco literalmente. Exemplo de cálculo de RR: A conclusão que se chega nesse caso é que homens expostos ao trabalho de fundição apresentam um risco 10x maior de desenvolver CA de testículo do que homens não expostos. Vantagens dos estudos de coorte Esses estudos permitem estabelecer uma relação temporal entre exposição e efeito, calcular incidência e permitem o conhecimento da história natural da doença. São estudo úteis para avaliar fatores associados a doenças de evolução rápida e fatal, além de serem bons para avaliar exposições raras (NÃO doenças raras). Os estudos de coorte permitem avaliar múltiplos efeitos de uma exposição, nele não se nega tratamento aos pacientes e não expõe eles deliberadamente a nenhum potencial risco. Desvantagens dos estudos de coorte Existe sempre o viés associado a perda de seguimento (por migração, falta de aderência, desistência ou morte), por esse motivo é difícil ter certeza que os grupos serão comparáveis, e isso dificulta a análise estatística. Além disso, uma coorte prospectiva é demorada e cara. Estudo de Caso Controle O estudo de caso controle faz o processo contrário do estudo de coorte, seu foco está em um desfecho, e ele avalia os possíveis fatores de risco e proteção para que esse desfecho surgisse. A partir desse estudo será calculado o Odds Ratio. OR é uma razão que, quando o estudo é bem feito, se aproxima muito do risco relativo. O estudo de caso controle é uma investigação SEMPRE retrospectiva, de dois grupos de pessoas com alguma característica em comum, que foram selecionados com base na presença ou ausência de uma doença, para depois se avaliar a frequência de expostos e não expostos em ambos os grupos. Indivíduos Caso e Indivíduos Controle Indivíduos Caso são aqueles portadores de determinada doença, enquanto Indivíduos Controle são aqueles que não são portadores da doença. Eles devem ser alocados em dois grupos diferentes, e o objetivo do pesquisador é identificar possíveis fatores de proteção que impediram o desenvolvimento da doença nos Indivíduos Controle, e possíveis fatores de risco que favoreceram o desenvolvimento da doença nos Indivíduos Caso. Etapas de um Estudo de Caso Controle Primeiro, é importante definir adequadamente a doença que se quer investigar e estabelecer critérios rígidos para seu diagnóstico. Em seguida, selecione os Indivíduos Caso que, de preferência, devem ser selecionados de forma aleatória dentre todos os doentes. A próxima etapa do estudo é a seleção dos Indivíduos Controle, etapa essa que corresponde ao maior problema dos estudos de caso controle pois os Indivíduos Controle devem ter tido a mesma possibilidade de adoecer que os indivíduos doentes. Deve-se selecionar indivíduos que poderiam se tornar casos, mas não se tornaram. *.Note que até agora nem se mencionou a avaliação de exposição, porque ambas as seleções não devem se basear nesse fator. Um ponto muito importante das seleções é a fonte dos indivíduos. A fonte de onde se obteve os Indivíduos Controle deve ser a mesma de onde se obteve os Indivíduos Caso. Isto é, se todos os Indivíduos Caso fazem parte de uma determinada escola, ou frequentaram determinado local num mesmo período de tempo, todos os Indivíduos Controle devem ser selecionados a partir desse mesmo local. Acima de tudo não se deve procurar Indivíduos Controle que representem somente os não-doentes, deve-se procurar Indivíduos Controle que poderiam adoecer, mas não adoeceram, para identificar o porquê disso ter acontecido. . Um exemplo de como deve ser feita as seleções: em dezembro de 2020, várias crianças foram levadas a unidades de saúde onde receberam diagnóstico de Salmonela. Você decide investigar por que isso temacontecido, então descobre que todas as crianças estudam na mesma escola. Você seleciona então seus indivíduos Caso, que serão crianças doentes que estudam na escola X. Feito isso, para selecionar os Indivíduos Controle você deve ir até a escola X e selecionar crianças que estudem lá e não foram contaminadas por Salmonela. Os Indivíduos Controle tiveram a mesma probabilidade de desenvolver a doença que os Indivíduos Caso pois foram expostos ao mesmo fator de risco, que foi algum alimento contaminado. Mesmo assim, existiram fatores de risco e proteção que permitiram o desfecho encontrado, então cabe a você descobrir que fatores foram esses. Avaliação de Exposição Avaliação de exposição nada mais é que pesquisar se os indivíduos presentes em ambos os grupos foram expostos a determinado fator de risco (que o pesquisador quer avaliar se é relevante para o aparecimento da doença) ou não. O procedimento para obter informações deve ser o mais semelhante possível entre os dois grupos, sendo que os entrevistadores devem tentar ao máximo ignorar a hipótese que estão testando para evitar um viés. A fonte de informação sobre a exposição pode ser uma entrevista, exame médico, registro ocupacional, amostra biológica ou uma medida direta do ambiente. A informação de “exposto” ou “não-exposto” não deve ser influenciada por o indivíduo ser caso ou controle. Vantagens São mais baratos e rápidos que coorte e precisam de menos indivíduos para identificar diferenças entre os grupos (por isso são bons para investigar doenças raras), diferentemente de outros desenhos. Esse estudo é eficaz para avaliar doenças com longo período de latência e ainda permite avaliar ao mesmo tempo várias exposições com uma possível associação com a doença estudada, para identificar qual foi mais significativa para o aparecimento da doença Desvantagens É o estudo que está mais sujeito a vieses de metodologia, como erros de seleção, de lembranças e de registros de informações sobre a exposição. Ele é ineficiente para exposições raras, pode ser difícil estabelecer uma relação temporal e como é um estudo de fácil realização, existem muitos sendo conduzidos de forma errada. Análise de Dados Em estudos de caso controle não é possível avaliar a incidência da doença porque o estudo inicia já com os indivíduos doentes e não-doentes. *Lembre-se que incidência é o número de novos casos de uma doença, enquanto prevalência é o número total A medida de associação dos estudos retrospectivos em geral é a Odds Ratio, também chamada de razão de chances. OR não se refere a probabilidade ou risco, mas sim a chance de os indivíduos expostos desenvolverem a doença. O cálculo da chance deve levar em conta a chance de acontecer e de não acontecer, por isso OR é obtida a partir da divisão entre a chance de um evento ocorrer e a chance de ele não ocorrer. Note que OR não é um valor tão absoluto como risco relativo. Se o estudo prospectivo for muito bem feito, OR fica bem próximo do RR estatisticamente. Se OR=1, não existe associação entre o desfecho e o fator de risco. Se OR > 1, existe associação entre o desfecho e o fator de risco. Se OR < 1, existe na verdade uma proteção, da exposição sobre o desfecho. Por mais próximo do RR que o OR pode ser, ele sempre será uma medida superestimada, isto é, sempre apresenta um risco maior do que o real. RR é calculado a partir de um ECR ou coorte prospectivo, já o OR é calculado a partir de um estudo de caso controle ou coorte retrospectivo Observações Coorte X Caso Controle . Outras Medidas de Associação Risco Atribuível Proporcional: também chamado de Fração Etiológica, é a porcentagem de doentes dentre os expostos. ie é a incidência de doença nos expostos, io é a incidência de doença nos não expostos. A Diferença de Riscos é o valor que estima o excesso absoluto de risco associado a uma exposição. O cálculo é feito a partir da diferença entre ie e io.
Compartilhar