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Lúpus Eritematoso sistêmico Definição e epidemiologia É uma doença inflamatória crônica de etiologia autoimune que acomete diversos órgãos e sistemas que apresenta períodos de exacerbação e remissão. Acomete principalmente mulheres jovens Estrogênio atua como potencializador da resposta inflamatória; Apesar de serem menos acometidos, homens possuem costumam apresentar a doença com maior gravidade Pacientes acometidos com idade mais avançada, bem como aqueles com quadro fármaco- induzidos, apresentam formas mais brandas da patologia Etiopatogenia Etiologia desconhecida - há um processo multifatorial envolvido na doença Interações entre genes suscetíveis (HLA-DR1) e fatores ambientais levariam a respostas imunológicas inapropriadas, com hiperreatividade de células B e T; e falência do circuito imunorregulatório. A patogenia está relacionada à presença de autoanticorpos e a formação de imunocomplexos circulantes e locais. Pacientes com predisposição podem ter gatilhos ambientais: o Lúpus induzido por drogas que surge com o uso de medicações: hidralazina (anti- hipertensivo), isonizida (tratamento TB), carbamazepina (neuroléptico), procainamida (antiarritmico) e o rifiximabe (imunobiológico - anti TNF) o Agentes infecciosos: EPB-V, citomegalovírus, retrovírus, parvovírus B19 etc. o Drogas: alguns medicamentos são capazes de induzir quadro semelhante ao de LES → lúpus induzido por droga. Essa doença é clínica e sorologicamente diferente do lúpus idiopático. o Pacientes com exposição maior a radiação UVA e UVB o Tabagistas o Fatores hormonais: forte relação com os hormônios femininos, principalmente na menacme, e costuma piorar durante a gestação (estrogênio) Fisiopatologia Os pacientes com doença autoimune têm uma perda da autotolerância. No LES, existe uma tendência na alteração da apoptose celular, assim, quando os pacientes são expostos aos gatilhos ambientais, esse defeito na apoptose se manifesta; Ao formar o corpúsculo apoptótico, ele deveria ser degradado pelos neutrófilos e macrófagos, mas no caso do LES, os macrófagos e neutrófilos são ineficientes. Dessa forma, como não há degradação dos restos celulares da apoptose, os restos celulares funcionam como antígenos e são apresentados às células dendríticas que ativam uma grande quantidade de anticorpos, originando o processo inflamatório da doença. Os anticorpos são fruto da perda da regulação do sistema imunológico, sendo formados contra as células do organismo, principalmente contra os antígenos específicos que estão no núcleo, chamados de fator antinúcleo (FAN). * LES, pensar em: vasculite (reação inflamatória destrói o vaso), trombose (na presença de anticorpos antifosfolípides) e citopenias; Manifestações clínicas GERAIS febre, fadiga, anorexia, perda de peso e mialgias. Comum nas primeiras manifestações da doença PELE Lúpus cutâneo (80%) → a maioria das lesões do lúpus são fotossensíveis. Três apresentações clínicas: aguda, subaguda e crônica. Não é uma escala evolutiva. Aguda: muito inflamatório. O rash malar é característico, ja que é uma região muito exposta ao sol, com preservação do suco nasolabial (o que diferencia para rosácea); pode acometer também colo e mãos. Subagudo: processo inflamatório com forma anelar e lesões psoriaseformes (placas descamativas que lembram psoríase). São fotossensíveis e pode coexistir com as lesões agudas Crônico: aspecto cicatricial. A lesão mais frequente é o lúpus discoide - lesão no couro cabeludo que impede o crescimeto do folículo piloso, causando alopécia. Outras apresentações: lúpus tumidos (lúpus discoide umedecido e eritematoso pelo acúmulo de mucina) e paniculite lúpica/lúpus profundo (nódulos dérmicos e subcutãneos profundos, com aderências que provocam depressões) MÚSCULO ESQUELÉTICO Articulações (90%): artralgia, poliarticular, periférica e simétrica - manifestações semelhantes à AR. o Artrite: não erosiva e não deformante - o que diferencia da AR. Artropatia de Jaccoud: afrouxamento dos ligamentos, o que deixa a mão desforme, porém sem erosão - diferente da AR. Músculos: mialgia/fraqueza muscular o Miosite é o processo inflamatório do músculo, com queixa de fraqueza muscular, o que diferencia da mialgia. RENAIS O comprometimento renal é frequente no LES e ocorre de metade a 2/3 dos pacientes Fator de mau prognóstico que pode provocar nefrite, com alteração do sedimento urinário com hematúria microscópica e leucocitúria, perda da função renal, hipertensão e proteinúria - a qual pode ser nefrótica. Clinicamente: edema + HA Nesses casos a proteinúria está alta, hematúria com urina espumosa, oligúria e pode evoluir com insuficiência renal grave! Classificação: • Mesangial mínima (I) – assintomáticos; • Proliferativa mesangial (II) - nenhum sintoma ou hipertensão; • Proliferativa focal (III); • Proliferativa difusa (IV); • Membranosa (V) - síndrome nefrótica; • Esclerose avançada (VI) - insuficiência renal crônica ➢ Classe IV é a mais comum e mais grave de comprometimento renal - sedimento urinário rico, consumo de complemento e anti-DNA positivo ENVOLVIMENTO CARDÍACO O envolvimento do miocárdio não é comum, mas pode cursar com: miocardite, endocardite asséptica fibrinosa de Libman-Sacks (lesão inflamatória da válvula pelo LES), doença arterial coronariana Atualmente a DAC (IAM), é o que mais mata pacientes com LES. Pode ser de dois tipos: • Aterosclerótica: mais frequente e evolução gradual • Vasculítica: quadro agudo que pode levar a uma obstrução da artéria por inflamação O envolvimento do pericárdio é o mais comum - pode ser assintomática ou com dor que piora à inspiração e à manobra de Valsalva. Pericardite: inflamação do pericárdio que aumenta a concentração de líquido local, o que causa um derrame pericárdico. Cursa com os seguintes sintomas: dor torácica, dispneia, sinais de ICC PULMÃO Manifestações pulmonares são comuns, mas raramente com risco de morte O envolvimento da pleura pode causar: dor torácica, geralmente ventilatório-dependente, tosse, dispneia, hemoptoicos. Pode ter envolvimento inflamatório dos alvéolos, que pode levar o paciente a óbito Pleurite (com ou sem derrame pleural), pneumonite, fibrose pulmonar e hemorragia alveolar ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS o Pode comprometer o SNC e SNP o Meningite asséptica: processe inflamatório na meninge sem infecção o AVC o Cefaleia diferente do habitual - surge “do nada”, tornando-se diária, com mudança do tipo, intensa e que não melhora com medicação habitual o Distúrbios de movimento - coreia o Mielite transversa o Convulsões o Delirium o Transtornos de humor ou ansiedade o Disfunção cognitiva e psicose ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS o TRÍADE: anemia, leucopenia e plaquetopenia o Anemia: doença crônica e hemolítica (<15%) o Leucopenia, neutropenia e/ou linfopenia o Plaquetopenia crônica o O paciente pode cursar com aplasia medular o Linfadenopatia (40%) ALTERAÇÕES VASCULARES Fenômeno de Raynaud (trifásico): extremidade fria, cianótica e vermelha. OBS: existe a Raynaud não patológica, em que essa hiper-reatividade ocorre no frio A aterosclerose acelerada é uma causa importante de morbimortalidade entre pacientes lúpicos → pode ser independente dos fatores de risco tradicionais, estando associada à doença em si. Vasculite palmar Úlceras digitais COMPROMETIMENTO ABDOMINAL Não é comum. O paciente cursa com dor abdominal, hepatomegalia e esplenomegalia (mais comum) Pancreatite Peritonite asséptica Vasculite abdominal CONDIÇÕES ASSOCIADAS: outras doenças autoimunes, síndrome de Sjogren, lúpus induzido por drogas, lúpus neonatal (presença de anticorpos nos bebês nos primeiros três meses), síndrome antifosfolípide GESTAÇÃOLÚPUS NEONATAL: o anticorpo anti-SSA passa da mãe para o bebê. Pode acometer qualquer órgão, sendo mais comum a pele. O problema do lúpus neonatal é o acometimento cardíaco, causando uma inflamação do nó sinusal causando um bloqueio de ramo/bloqueio cardíaco congênito. Por isso, paciente gestante ou mulher que pensa em engravidar: solicitar anti-SSA - risco de parto prematuro. Quando o bloqueio é parcial, o tto é feito com corticoides (dexametasona ou betametasona), que passam pela barreira placentária; após três meses, os anticorpos, assim como as proteínas, irão desaparecer. SD. DO ANTICORPO ANTIFOSFOLÍPIDE: o anticorpo antifosfolípide se liga à célula endotelial do vaso causando uma reação inflamatória e formação do trombo no local O paciente que tem LES pode ter anticorpo antifosfolípide, mas o problema é ao engravidar, podendo te perda gestacional, eventos trombóticos (arterial ou venoso), complicações na gravidez e plaquetopenia. A perda da gestação ocorre porque os microtrombos podem acontecer nos vasos que irrigam a placenta Trata-se ou previne-se o evento trombótico com plexane. Exames para confirmar o diagnóstico: anticardiolipina, anticoagulante lúpico (+ causa trombose), anti B2-glicoproteína 1 → basta 1 positivo; nenhum deles é FAN +! Critérios classificatórios o Rash malar o Rash discoide o Fotossensibilidade o Úlceras orais o Artrite o Serosite: pleurite/pericardite o Nefrite o Alt. neurológica: convulsão/psicose o Alt. hematológica: anemia, leucopenia, plaquetopenia o Alt. imunológicas: anti SM, anti DNA, anticardiolipina o FAN Exames laboratoriais Atividade da doença: PCR e VHS, hemograma (anemia, plaquetopenia), sumário de urina (nefrite) + exames dos órgãos que estão acometidos no paciente Exames complementares: Anticorpo antinuclear (FAN): junção do anticorpo do paciente com a cultura de células (Hep2). Se o paciente tiver o anticorpo, ele irá reagir, o que será visualizado na imunofluorescência no microscópio As células hep2 são as oriundas do câncer de laringe, já que no câncer há muita mitose com divisão celular, isso expõe os antígenos aos anticorpos que o paciente teoricamente possui. Titulação: encontrada com a diluição da solução do anticorpo no soro, e é feita até o momento em que não se encontra mais anticorpos. Quanto maior o denominador, maior a quantidade de anticorpos (1/40, 1/80, 1/160, 1/640) Quando o paciente tem o FAN, e não tem a doença, a dosagem desses anticorpos é baixa. Padrões: locais onde os anticorpos estão distribuídos. Pode ser nucleares, nucleolares, citoplasmáticos e do aparelho mitótico. Além disso, indicamos o formato do anticorpo - pontilhado fino, pontilhado grosso, homogêneo. O LES tem como característica o padrão nuclear e homogêneo/pontilhado grosso Pontilhado fino → população saudável FAN está positivo em 99% dos pacientes com LES não tratado; Testes negativos repetidos sugerem que o diagnóstico não seja LES; FAN positivo isolado não indica diagnóstico, mas é um bom teste de triagem pela sua alta sensibilidade. Cerca de 20% das mulheres adultas têm FAN positivo. FAN demonstra a probabilidade da presença de autoanticorpos; apesar do nome ser fator anti núcleo, também há FAN dirigidos ao citoplasma. A partir desse resultado, sabemos que o paciente tem autoanticorpos, mas não sabemos qual ele tem. Por isso, solicitar autoanticorpos: ➢ Anti SM → específico para LES, por isso é útil para diferenciar se o paciente realmente tem LES ou outra condição com FAN positivo ➢ Anti DNA (dupla-hélice): relaciona do com doença renal ➢ Anti DNA (hélice simples): induzido por drogas ➢ Anti SSA: lúpus neonatal ➢ Anti SSB: lúpus subagudo/cutâneo ➢ Anti RNP: doença mista - quando o pct tem sintomas de duas doenças, como LES e AR, LES e ES etc. Os anticorpos específicos para LES são: anti-DNA dupla hélice, anti Sm e anti-P ⇒ alta especificidade, mas baixa sensibilidade. FAN: alta sensibilidade, baixa especificidade Exames específicos o RIM: proteinúria 24h, ureia e creatinina o Pulmão: raio-x e TC de tórax o Coração: raio-x, ecocardiograma, ECG o SNC: TC, RM de crânio e líquor o Abdômen: TGO, TGP, amilase, USG abdome, TC abdome Tratamento medicamentoso Corticosteróides: dose depende do órgão envolvido. Órgãos nobres recebem doses maiores, nesse caso pode fazer uma dose oral alta ou uma baixa com pulsoterapia IV com metilprednisolona. ➢ Tomar cuidado: pacientes com HAS, dislipidemia, DM, eletrólitos, osteoporose, obesidade. ➢ Reduzir corticoide à medida que ocorre melhora do quadro; para corticoide destina- se para início rápido de ação na resolução da inflamação e quadros de atividade do LES. Antimaláricos: hidroxicloroquina - usar em todos os casos. Age em órgãos específicos, como mãos e pele, mas é indicada para todos pois reduzem a mortalidade e progressão do lúpus (reduzindo recidivas), pois a hidroxicloroquina aparentemente tem uma ação protetiva na formação da placa de ateroma Imunossupressores: MTX (pele e articulação), azatioprina, ciclosporina, ciclosfamida, micofenolato mofetil. ➢ Azatioprina - permite a redução da dose de manutenção do corticoide Quando há envolvimento de órgão nobre, utiliza CE em altas doses e imunossupressores (ciclosfosfamida); Em casos graves: • Plasmaferese • Imunoglobulina • Imunobiológicos: devem ser os que agem na célula B → rituximabe, belimumabe Utiliza-se os diferentes da AR, porque a imunidade dela é celular e no LES é imunidade humoral mediado por células B. • Transplante autológo de MO Riscos potenciais: depressão e ansiedade, infecções oportunistas, osteoporose, doença cardiovascular precoce Outras medidas: suporte psicológico, grupos de apoio, fotoproteção, orientações dietéticas, condicionamento físico, contracepção (cuidado devido ao risco de trombose), reabilitação; há orientações dietéticas (dieta rica em cálcio, controle de dislipidemias e HAS) e de atividade física. Fatores prognóstico • Raça - pior em não brancos • Sexo - controverso, acredita-se ser pior em homens • Idade - pior em crianças e mais jovens • Fatores socioeconômicos • Quando a doença começa com comprometimento renais e neurológico, tem pior prognóstico