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Artrites na infância Artrite idiopática juvenil Forma mais comum de artrite na infância e uma das doenças crônicas mais frequentes dessa fase, de causa desconhecida. Trata-se de um grupo de desordens que tem a artrite inflamatória crônica como manifestação. Em 50% dos casos, a doença mantém atividade na vida adulta A AIJ é um diagnóstico de exclusão, e inclui uma lista de subtipos que tem critérios comuns: Forma sistêmica ou doença de Still RARA (10% das crianças com AIJ têm a forma sistêmica) Disfunção da imunidade adaptativa (autoimue) e humoral (autoinflamação) Febre > 2 sem (diária, com episódios de picos febris elevados e temperaturas normais ou subnormais durante o dia) e pelo menos uma das manifestações extra-articulares: Rash maculopapular eritematoso evanescente de caráter não fixo e não pruriginoso, que se manifesta no tronco e região proximal dos membros, e desaparece quando a febre não está presente. Hepatomegalia Esplenomegalia Linfadenopatia Serosite O achado padrão é febre e artrite. Pode desenvolver-se qualquer idade < 16 anos; depois disso chamamos de doença de Still do adulto Meninos e meninas são igualmente acometidos Acomete punhos, joelhos e tornozelos mais comumente, mas coluna cervical, quadris, articulações temporomandibulares e mãos também são envolvidos. Pacientes com poucas articulações envolvidas (≤ 4) terão recuperação completa; aqueles com poliartrite têm curso mais progressivo, com deformidades e perda funcional. É o subtipo de maior morbimortalidade. Síndrome de ativação macrofágica ocorre devido à deficiência do sistema citotóxico em matar os macrófagos; assim, os macrófagos irão estimular muito o fígado. É uma doença rara e potencialmente fatal, uma das complicações mais graves da AIJ sistêmica. Febre não remitente, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, disfunção hepática, hemorragias, convulsões e coma. Biópsia da medula óssea é importante e pode revelar hemofagocitose, no entanto não é indispensável para o diagnóstico Outros achados são as citoses que, devido à hemofagocitose (macrófagos), evolui com penias → pancitopenia, hipertrigliceridemia e ferritina sérica elevada (com anemia da doença crônica) Forma oligoarticular Mais comum Acomete em geral MMII (joelho e tornozelo) Meninas são mais acometidas que meninos, sendo menores de 5 anos (1-3 anos – dificuldade de deambulação) Oligoarticular: acometimento de 4 ou menos articulações durante os 6 primeiros meses de doença Oligoarticular persistente: mais benigna, melhor prognóstico, geralmente acomete apenas 1 articulação (joelho). Chance de remissão na vida adulta: 75% Oligoarticular estendida: passa a cometer mais de 4 articulações após os 6 primeiros meses de doença; acomete pcts mais jovens, meninas, FAN positivo com elevado risco de desenvolver uveíte. Tem pior prognóstico articular, cronificando-se e torna erosiva em 60% dos casos O FAN É POSITIVO em até 85% dos casos de AIJ oligoarticular e está associado a elevado risco de desenvolver uveíte crônica anterior, sobretudo em meninas - por isso, pacientes com AIJ devem ser avaliados regularmente pelo oftalmologista, mesmo se assintomáticos Forma poliarticular Segundo mais comum (40%) A criança deve ter ≥ 5 articulações acometidas durante os 6 primeiros meses de doença. 10% possuem FR positivo e 30% com FR negativo FR positivo: geralmente são meninas, com idade pouco mais elevada (8-16 anos), com HLA-DR4 positivo, artrite simétrica de pequenas articulações das mãos e pés; elevado risco de desenvolver erosões, nódulos e perda funcional. É a que mais se assemelha à AR no adulto. Manifestações extra-articulares: fadiga, anoreia, desnutrição, anemia, retardo de crescimento, retardo na maturação sexual e osteopenia FR negativo: melhor prognóstico Forma relacionada a entesite Quadro de espondiloartrite antes dos 16 anos Para o diagnóstico → artrite + entesite ou artrite com 1 dos seguintes achados: o Dor nas sacroilíacas e/ou dor lombossacral inflamatória o HLA-B27 positivo o Acometimento em meninos ≥ 6 anos o Uveíte anterior aguda sintomática o Presença de parente de 1º grau com espondilite anquilosante, artrite relacionada à entesite, doença inflamatória intestinal com sacroileíte, artrite reativa ou uveíte anterior aguda. o Artrite geralmente é oligoarticular o Até 25% terão envolvimento ocular Forma psoriásica A artrite psoriásica que se inicia antes dos 16 anos é tida como AIJ psoriásica Crianças costumam ter a artrite antes da manifestação cutânea Definida pela presente de artrite com psoriase diagnosticada por médico OU artrite + dois critérios: Dactilite (edema articular e de partes moles de um ou mais dedos, geralmente assimétrico) Pintting nail ou unha “em dedal” (unha com depressões típicas de psoríase) Onicólise Parente de 1º grau com psoríase A artrite normalmente é periférica, poliarticular, assimétrica, com envolvimento de pequenas articulações de mãos, pés, joelhos e tornozelos. Sacroilíacas também podem ser acometidas; também apresenta tenossinovite. Até 20% poderão ter envolvimento ocular Forma indiferenciada Quando paciente não fecha critério para nenhuma das classificações. Normalmente evoluirão para alguma outra categoria. Exames complementares Hemograma (citoses), PCR E VHS, FR, FAN Excluir hepatites B, C e HIV Ureia, creatinina, TGO, TGP (doença de Still - triglicerides, coagulograma e fibrinogênio) Tratamento No geral, AINES Poliarticulares com FR negativo no geral não responde a AINES Formas graves: imunossupressor (metotrexato – manifestações articulares ou ciclosporina – manifestações sistêmicas) Comprometimento axial não responde à imunossupressor → imunobiológicos (ANTI-TNF, ANTI IL-1 e ANTI IL-6) Febre Reumática Doença inflamatória multissistêmica como sequela tarida supurativa desencadeada pela infecção da orofaringe pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A de Lancefield e caracterizada pelo acometimento do coração, articulações, SNC, tecido celular subcutâneo e pele. Geralmente afeta indivíduos entre 5-15 anos As cepas que causam piodermites e infecções de tecidos moles não causam faringite nem FR, mas podem causar glomerulonefrite aguda (importante diagnóstico diferencial); Das cepas que causam a faringite, as ricas em proteína M, uma proteína externa da parede bacteriana, são mais artritogênicas Ocorre por meio de uma reação cruzada: a similaridade entre sequências antigênicas do ser humano e o EBHGA levaria a produção de anticorpos induzida pela infecção estreptocócica e direcionados contra antígenos bacterianos, mas que agiriam contra estruturas do hospedeiro, desencadeando a lesão tecidual. Pacientes com FR apresentam altos níveis de anticorpos contra a proteína M, que pode atuar como um superantígeno, induzindo uma resposta imune excessiva e autoimunidade; ela impede a fagocitose e a ação do complemento e ajuda a fixar a bactéria na célula epitelial da faringe. Quadro clínico Inicia-se após 2-4 semanas de um quadro de faringite estreptocócica (média de idade é de 7 anos; podendo acometer principalmente na faixa de 4-9 anos) Critérios de Jones modificados: dois critérios maiores ou um maior e dois menores indica grande probabilidade diagnóstica Nenhum dos critérios é específico da FR, mas a presença de coreia e/ou cardite permite maior segurança diagnóstica; coreia é o único sinal maior que isoladamente permite o diagnóstico de FR. Quadro de infecção por EBHGA → ASLO + ARTRITE: poliartrite intensa, migratória e fugaz, assimétrica, articulações grandes e médias (joelho, tornozelo, ombro e punhos) com boa resposta a AINES e resolução espontânea em 1- 4sem sem deixar sequelas; ➢ Acometimento articular é precoce e costuma sero primeiro achado, sendo o sintoma mais comum (75%) A valva mitral é a mais acometida pela CARDITE; miocardite e pericardite sem endocardite não são característicos de FR. COREIA DE SYDENHAM: desordem neurológica que se manifesta por movimento abruptos, involuntários e desordenados nos membros e na face. Geralmente são unilaterais ou mais evidentes em um lado do corpo e desaparecem durante o sono. Ocorre em menos de 10% dos pacientes; predomínio em meninas; surge mais tardiamente - por isso pode ocorrer isoladamente e dar o diagnóstico de FR sem a presença de outros critérios. Transtornos emocionais, choro e alterações psiquiátricas podem ser observados nesses pacientes. NÓDULOS SUBCUTÂNEOS: são pequenos (1- 2cm), firmes e indolores, localizados sob proeminências ósseas, próximas aos tendões, em superfícies extensoras, como cotovelos, joelhos, punhos e região occipital Podem ser únicos ou múltiplos e assemelham-se a grãos de arroz sob a pele, que não apresenta inflamada e geralmente pode ser móvel sobre os nódulos ERITEMA MARGINADO: rash cutâneo evanescente, não pruriginoso, de coloração rósea a avermelhada, que acomete principalmente o tronco e a porção proximal dos membros, poupando a face. o As lesões se estendem centrifugamente, enquanto a região central é de coloração normal e de limites bem delimitados o Normalmente é precoce durante a doença e está associado à cardite. EXAMES LABORATORIAIS VHS e PCR Culturas de orofaringe normalmente são negativas quando a FR aparece Tratamento da faringoamigdalite e a erradicação do estreptococo da orofaringe devem ser feitos na suspeita clínica de FR, independentemente do resultado da cultura de orofaringe Anticorpos contra antígenos bacterianso podem ser dosados: ALSO (pico de 3-6sem), anti-DNAse B (pico 6-8sem) e anti-hialuronidase. Raiox-x de tórax - cardite ECG: alargamento do intervalo PR ou do QT ECO: pode mostrar espessamento e diminuição da mobilidae das válvulas atingidas TRATAMENTO PROFILAXIA PRIMÁRIA OU ERRADICAÇÃO DO FOCO → uma dose de penicilina G benzatina (1.200.000UI), se alergia: eritromicina TRATAMENTO SINTOMÁTICO → artrite: AINE; cardite: coticoide em casos moderado ou grave - prednisona; coreia: haloperidol ou ácido valproico ou carbamazepina Se o paciente fizer uso de corticoide, o uso do AINE será dispensável; só será necessário novamente quando a dose da prednisona for reduzida para menos de 0,5mg/kg/dia. Uso de corticoides é controverso! PROFILAXIA SECUNDÁRIA: penicilina G benzatina a cada 21 dias. PROFILAXIA DA ENDOCARDITE BACTERIANA • Procedimentos cirúrgicos ou dentários em pacientes com cardiopatia reumática devem ser acompanhados de doses suplementares de antibióticos.