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DEFICIÊNCIA INTELECTUAL, ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO Faculdade de Minas 2 Sumário NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 3 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4 2 – CONCEITOS ........................................................................................................ 6 3 - ETIOLOGIA DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL .................................................. 11 3.1 - TIPO DE DEFICIÊNCIA, SEGUNDO O SEXO E IDADE ................................. 12 4 - CAUSAS E FATORES DE RISCO ...................................................................... 13 4. 1 - HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO ................................................................. 16 5.1 - Fatores de risco e causas pós-natais ............................................................... 24 5.2 - DESENVOLVIMENTO, APRENDIZAGEM E A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 25 5.3 - DECLARAÇÃO DE MONTREAL SOBRE A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL .... 27 6 - ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO ...................................................... 34 6.1 - A POLÍTICA DE ATENDIMENTO À PESSOA COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO NO BRASIL ............................................................................... 44 6.2 AS ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO NOS DIAS DE HOJE ................ 46 6.3 - ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO E A INCLUSÃO ESCOLAR .......... 50 7 - O QUE É INTELIGÊNCIA? ................................................................................. 55 7.1 - INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS ......................................................................... 57 7.2 - INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E EDUCAÇÃO ................................................ 67 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 73 Faculdade de Minas 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Faculdade de Minas 4 1 – INTRODUÇÃO Ao se falar de DEFICIÊNCIA devemos compreender seu significado, quais as causas e, como os professores, a partir deste entendimento, podem auxiliar o aluno no processo de inclusão. Conhecer a deficiência, especificamente a deficiência intelectual nos remete à compreensão do funcionamento intelectual. Assim, cabe destacar que a deficiência intelectual apresenta particularidades, sendo compreendida como uma incapacidade caracterizada por limitações significativas tanto no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, que abrange habilidades diárias, sociais e práticas (AAID, 2018). Ao longo deste livro, iremos compreender o conceito de deficiência intelectual, sua etiologia, ou seja, os fatores de risco que podem incidir no desenvolvimento da deficiência intelectual. Podemos destacar esses fatores da seguinte forma: • Fatores de risco e causas pré-natais: são os fatores que acometem o indivíduo desde a concepção até o parto. • Fatores de risco e causas perinatais: são os fatores que acometem o bebê, do início do trabalho de parto até seu 30º dia de vida. • Fatores de risco e causas pós-natais: são os fatores que acometem do 30º dia de vida até a vida adulta. Por meio das abordagens aqui relatadas, pretendemos trabalhar com o conceito de inclusão, o qual abarca a compreensão da singularidade que cada sujeito apresenta em seu desenvolvimento biológico, psicológico, cultural e social. Ao se pensar em altas habilidades e superdotação, algumas ideias estão muito presentes no senso comum. Poderíamos nos remeter a imagens de pessoas conhecidas que se tornaram famosas pelas suas características peculiares no que se refere à inteligência, à personalidade ou à criatividade. Faculdade de Minas 5 Poderíamos citar personalidades como: Albert Einstein, Leonardo da Vinci, Mozart e outros que deixaram contribuições científicas e artísticas para a nossa sociedade. Entretanto, muitas vezes, apresentamos uma ideia estereotipada sobre a superdotação, remetendo-nos somente a pessoas que se destacaram significativamente na sociedade, e a mídia reforça essas ideias, resumindo pessoas talentosas a indivíduos cujo conhecimento acadêmico é precoce e que apresentam habilidades maravilhosas. No entanto, pessoas com altas habilidades e superdotação podem estar mais próximas do que pensamos. Podemos encontrar pessoas em entidades com propensões a grandes habilidades em contextos sociais, como é o caso, por exemplo, da instituição escolar. Contudo, muitas vezes, esses sujeitos não apresentam ainda consciência de seus talentos, por considerar que, mesmo talentosas, suas habilidades não estão inteiramente prontas ao nascer, elas precisam ser desenvolvidas no decorrer da sua vida. Quando as habilidades de um sujeito não são identificadas, seus talentos podem permanecer escondidos por muitos anos ou, às vezes, por toda a sua vida. Faculdade de Minas 6 2 – CONCEITOS A deficiência intelectual é caracterizada pelo funcionamento cognitivo que não corresponde à média esperada, ou seja, que esteja abaixo do que é considerado normal. A dúvida de pais e mães se deve aos campos que podem ser direta ou indiretamente afetados pelo desempenho cerebral da criança, por exemplo. A questão em si não deve se pautar pela suposição, mas pela certeza de um diagnóstico que seja certificado por um profissional de saúde. Por se tratar de uma limitação que atinge determinadas habilidades da pessoa, é sempre bom lembrar que Faculdade de Minas 7 os casos devem ser analisados de forma isolada pelas peculiaridades que cada paciente tem. Quando ouvimos a palavra deficiência, nos reportamos primeiramente a alguém em uma cadeira de rodas, usando muletas. Reportamo-nos também aos sujeitos que não ouvem ou não veem. No entanto, a deficiência não se resume a andar, ouvir, falar e ver. Para explorarmos melhor este conceito, reportar-nos-emos a 1976, ano este em que a Organização Mundial da Saúde (OMS), com o objetivo de conhecer melhor as doenças, publicou a International Classification of Impairment, Disabilities and Handicaps (ICIDH) em caráter experimental. Ao ser traduzido para o português, lê-se: Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens, a CIDID3. A partir dessa classificação, Farias e Buchalla (2005) descrevem que a Impairment, ou deficiência passou a ser descrita como anormalidades nos órgãos, sistemas e nas estruturas do corpo. No entanto, a Disabilities, ou incapacidade, foi caracterizada como as consequências da deficiência do ponto de vista funcional (desempenho das atividades) e os Handicaps, comoa adaptação ao meio, o qual resulta da deficiência. No contexto apresentado, Pessotti (2004) destaca que o termo deficiência mental foi utilizado pelo modelo médico para classificar, denominar e conceituar os sujeitos que possuíam problemas em seu desenvolvimento mental e cognitivo. Problemas estes que influenciavam na autonomia, independência e adaptação social. No entanto, a partir das definições expostas na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), a qual foi ratificada pelo Decreto nº 6.949/2009 (BRASIL, 2009, s. p.), ocorrendo reflexões sobre o conceito de deficiência. O referido Decreto em seu Artigo 1º define as pessoas com deficiência como “[...] aquelas que tem impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial permanentes, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em bases iguais com as demais pessoas”. Faculdade de Minas 8 Com base na definição exposta na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), a Associação Americana de Retardo Mental (AAMR) inicia pesquisas sobre a deficiência mental. As pesquisas da referida associação definiram conceitos, classificações, modelos teóricos e orientações em diversas áreas. No contexto que abarcou as pesquisas, emergiu a ressignificação do termo deficiência mental, para o termo deficiência intelectual, o qual segundo Pessotti (2004) surgiu para ampliar a conotação de termos como “débil mental”, “idiota”, “retardado mental”, “excepcional”, “incapaz mentalmente”. Termos os quais foram utilizados por médicos em determinados períodos históricos da sociedade. Ao nos referirmos à deficiência intelectual, ressaltamos Sassaki (2005, s.p.), que faz um comentário sobre os termos deficiência mental e Deficiência Intelectual: A partir da década de 80, o termo utilizado tem sido ‘Deficiência Mental’. Antes disso, muitos outros termos já existiram. E, atualmente, há uma tendência mundial (brasileira também) de se usar ‘Deficiência Intelectual’, termo com o qual concordo por duas razões. A primeira razão tem a ver com o fenômeno propriamente dito. Ou seja, é mais apropriado o termo ‘intelectual’ por referir-se ao funcionamento do intelecto especificamente e não ao funcionamento da mente como um todo. Assim, a deficiência intelectual, segundo a American Association on Intellectual and Developmental Disabilities (AAIDD, 2018, s.p.), “é uma incapacidade caracterizada por limitações significativas tanto no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, que abrange habilidades conceituais, sociais e práticas”. Segundo Smith (2008), as habilidades conceituais envolvem os aspectos acadêmicos, cognitivos e de comunicação; as habilidades sociais respondem às exigências sociais exemplificadas pela responsabilidade, autoestima, habilidades interpessoais, observância de regras, normas e leis; e as habilidades práticas remetem ao exercício da autonomia, como: alimentar-se, arrumar a casa, deslocar - se de maneira independente e utilizar meios de transporte. Faculdade de Minas 9 O autor nomeia essas habilidades de habilidades adaptativas, como mostra a figura a seguir: No contexto da figura apresentada, vale destacar que o déficit nas habilidades adaptativas resulta em fracasso somente quando o domínio do funcionamento adaptativo (conceitual, social e/ou prático) está extremamente prejudicado, sendo necessário apoio contínuo, o que pode impedir a pessoa de agir independentemente. No entanto, o domínio das habilidades adaptativas depende das oportunidades e das experiências vivenciadas (LOPES, 2016). Em consonância com o anunciado pelos autores, vale destacar que a AAIDD anuncia que a deficiência se origina antes dos 18 anos de idade. Neste contexto, ressaltam- se algumas premissas que estão na base da AAIDD, sendo elas: a) as limitações no funcionamento individual devem ser consideradas nos contextos comunitários típicos da faixa etária e da cultura da pessoa; Faculdade de Minas 10 b) a avaliação da deficiência intelectual deve considerar a diversidade linguística e cultural, além dos fatores comunicativos, sensoriais e motores da pessoa; c) limitações coexistem com capacidades; d) as limitações são identificadas objetivando a oferta de apoios necessários; e) os apoios têm efeito positivo no funcionamento da pessoa com deficiência intelectual, considerando sua aplicação nos aspectos, intensidade e duração necessários (AAID, 2018). Frente ao anunciado pelos autores e o evidenciado pela AAIDD (2018), cabe destacar a importância da compreensão dos contextos nos quais a pessoa com deficiência intelectual está inserida, bem como a identificação dos apoios que ela necessita. A compreensão destes aspectos contribui para o desenvolvimento para a aprendizagem, para a qualidade de vida e a participação social, no entanto, a utilização dos apoios requer os domínios de aplicação, os quais necessitam ser catalizadores de funções em diversos ambientes, promovendo o desenvolvimento humano; a aprendizagem; a vida em sociedade; a participação escolar; a qualidade de vida; as relações interpessoais, entre outros. Mediante o apresentado, cabe destacar que todas as reflexões científicas só terão validade se forem incorporadas no cotidiano da pessoa com deficiência intelectual. O movimento que abarca esta incorporação requer mudanças de conceitos sobre a deficiência intelectual. Mudanças as quais envolvem a compreensão dos sujeitos, no reconhecimento das identidades e na valorização das vivências, pois os indivíduos com deficiência necessitam de uma formação para a realidade social, cultural e para a emancipação. Faculdade de Minas 11 3 - ETIOLOGIA DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Estudos epidemiológicos evidenciam que a prevalência da deficiência intelectual varia em função dos critérios de diagnóstico, da representação da população, das influências como de idade, nível sociocultural e condições relacionadas à educação e à saúde. Neste contexto, cabe destacar os percentuais de deficiência apresentados pelo Censo Demográfico (IBGE, 2010), os quais destacam a porcentagem conforme tipo de deficiência, sexo e idade. Faculdade de Minas 12 3.1 - TIPO DE DEFICIÊNCIA, SEGUNDO O SEXO E IDADE Segundo os dados, a proporção de pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas na população por idade mostrou a existência de pontos de inflexão, ou seja, idades para as quais essa proporção sofre um aumento. O primeiro ponto de inflexão se situou na idade de 10 anos, o que pode estar relacionado ao início da vida escolar da criança e ao aumento da percepção das dificuldades na realização de tarefas e atividades escolares. O segundo ponto ocorreu na idade de 39 anos, quando começam os primeiros sinais do início do processo de envelhecimento e do consequente declínio das capacidades auditivas, motoras e visual do indivíduo (IBGE, 2010). Faculdade de Minas 13 Mediante dados apresentados considera-se que os números de deficiências sensoriais, auditivas e visuais estão em alguns dos casos relacionadas à idade. No entanto, o número de pessoas com deficiência intelectual relaciona-se ao grau de desenvolvimento do país. Levanta-se essa hipótese devido à compreensão de que um dos fatores para a prevenção da deficiência intelectual seria a aplicação de ações preventivas aplicadas à população, pois quanto maior forem as intervenções que abarquem a prevenção da deficiência intelectual, maior será a qualidade de vida da população e menor será o índice de casos de deficiência intelectual. 4 - CAUSAS E FATORES DE RISCO CROMOSSOMO Os fatores de risco, os quais envolvem a deficiência, tornam-se umaconstante no desenvolvimento do ser humano, pois este pode ocorrer já na concepção. Assim, cabe destacar que são várias as causas e os fatores que podem levar à deficiência intelectual. No entanto, apesar de sofisticados recursos tecnológicos na área da medicina, desconhece-se muitas vezes a etiologia, ou seja, a causa em 50% dos casos de deficiência intelectual, pois os fatores etiológicos podem ocorrer antes, durante e após o nascimento (OMS, 2013). Os fatores etiológicos podem ser: pré- natais; perinatais e pós-natais. Faculdade de Minas 14 São os fatores que acometem o indivíduo desde a concepção até o parto. Alguns desses fatores são de difícil identificação, tendo por exemplo: a desnutrição materna, a ausência de assistência médica para a gestante. Assim, considera-se que entre os fatores de risco presentes antes do nascimento estão: • Fatores maternos, os quais envolvem desordens genéticas; incompatibilidade sanguínea; fertilidade reduzida; idade materna (mais de 40 anos e menos de 15 anos); doenças infecciosas durante a gravidez; exposição ao Raio X; uso de drogas, fumo ou álcool; ingestão de remédios; excesso de vitamina A e B; hipertensão e epilepsia. • Fatores psicológicos os quais envolvem desordens psiquiátricas. • Fatores sociais, os quais envolvem a ausência de assistência médica; pré-natal. Mediante os fatores apresentados, vale destacar que, as causas mais fáceis de identificação são as de desordens genéticas, as quais envolvem alterações cromossômicas (provocadas por alteração no número de cromossomos). Um cromossomo é uma longa sequência de DNA, o qual contém vários genes, e outras sequências de nucleotídeos com funções específicas nas células dos seres vivos (ARCANJO, 2010). Faculdade de Minas 15 TESTE DE PEZINHO As alterações cromossômicas podem ainda afetar os sujeitos em nível metabólico. Nesse caso, associam-se à deficiência intelectual as alterações endócrinas, ou seja, a incapacidade de produzir determinadas proteínas ou enzimas. Dentre as alterações cromossômicas configuram-se nas causas mais frequentes de deficiência intelectual, a Fenilcetonúria, o Hipotireoidismo Congênito, a Síndrome do X-frágil, a Síndrome de Down, e a Síndrome de Rett. Fenilcetonúria A fenilcetonúria, segundo o Ministério da Saúde (2013), é uma doença genética, causada por mutações do cromossomo. A ausência ou a deficiência da enzimafenilalanina hidroxilase impede que o organismo metabolize o aminoácido fenilalanina. Ao não ser metabolizado pelo organismo, esse aminoácido em excesso no sangue, torna-se tóxico, ocasionando a deficiência intelectual. Em conjunto com a deficiência intelectual, a fenilcetonúria causa microcefalia, retardo da fala, Faculdade de Minas 16 convulsões, distúrbios do comportamento, irritabilidade, hipopigmentação cutânea, eczemas e problemas no trato urinário. O diagnóstico ocorre por meio de triagem neonatal de rotina (“Teste do pezinho”), o qual mostra se o bebê pode ter a fenilcetonúria. A partir do diagnóstico, o médico poderá começar o tratamento dietético de imediato para evitar problemas a longo prazo. Os recém-nascidos com a doença são tratados com uma fórmula especial de aminoácidos. O tratamento dessa doença envolve o controle alimentar com dieta especial à base de leite e com alimentos que não contenham fenilalanina. Esse controle ocorre sob rigorosa orientação médica, para que o bebê tenha uma vida normal. Dados do Ministério da Saúde (2013) evidenciam que a cada 10.0000 recém-nascidos, um apresenta a fenilcetonúria. 4. 1 - HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO Faculdade de Minas 17 O hipotireoidismo congênito é causado pela ausência de uma enzima, a qual impossibilita que o organismo produza o T4 (hormônio tireoidiano). De acordo com Maciel et al. (2013), o hipotireoidismo congênito é um distúrbio endócrino frequente e com maior incidência variando de 2.000 a 4.000 crianças nascidas vivas. No Brasil, a prevalência se aproxima a esses valores, variando de 2.595 a 4.795. Assim, cabe destacar que os bebês com hipotireoidismo congênito apresentam peso e estatura dentro da normalidade. No entanto, um dos sinais observados é a icterícia neonatal prolongada. Com o passar do tempo, a criança sem o diagnóstico passa a apresentar letargia, que se associa a movimentos lentos, choro rouco e engasgos frequentes. Os autores ainda evidenciam que a ausência de um diagnóstico precoce e de tratamento adequado impedem o crescimento e o desenvolvimento do organismo o que propicia vários graus de deficiências neurológicas, incluindo a deficiência intelectual. O tratamento do hipotireoidismo congênito abarca a administração de hormônio tireoidiano, o qual deve ter controle médico. Estima-se que entre 3.000 crianças uma apresente o hipotireoidismo congênito. Síndrome do x-frágil A síndrome do X frágil é considerada a responsável pela maioria das causas de deficiência intelectual. A expressão “X-Frágil” deve-se a uma anomalia causada por um gene defeituoso localizado no cromossomo X, o qual, por sua vez, passa a apresentar uma falha. Essa falha ou a “fragilidade do X” causa um conjunto de sintomas clínicos (ANRAIN et al., 2013). Faculdade de Minas 18 CARIÓTIPO DA SÍNDROME DO X FRÁGIL Sendo esta síndrome ligada a alterações no cromossomo X, ela acomete ambos os sexos, apresentando menos incidência em sujeitos do sexo feminino. No entanto, cabe destacar que a mãe da criança com síndrome do X frágil obrigatoriamente apresenta a mutação (ANRAIN et al., 2013). Como já mencionado, o sexo masculino apresenta maior incidência da síndrome e maiores expressões fenotípicas, ou seja, as características observáveis tornam-se mais evidentes. Entre essas características, destacam-se: a deficiência intelectual, o estreitamento e o alongamento da face, alterações comportamentais, problemas ortopédicos, pés planos, escoliose, peito escavado, autismo, convulsões, fissura palatina, ausência congênita de dentes, entre outros (ANRAIN et al., 2013). O diagnóstico da Síndrome do X Frágil ocorre na infância. Fase em que os pais percebem em seus filhos alterações comportamentais e atrasos no desenvolvimento. Faculdade de Minas 19 Essas alterações observáveis envolvem a dificuldade para engatinhar, o atraso na fala e no caminhar, além de dificuldades intelectuais. A partir das alterações observáveis, Anarain et al. (2013) anunciam que a alteração do cromossomo X pode ser confirmada por meio de mapeamento genético. Síndrome de Down A síndrome de Down é uma condição genética, que foi reconhecida em 1866, pelo médico inglês, John Langdon Down. O referido médico apresentou, na época, cuidadosa descrição clínica da síndrome, entretanto, erroneamente estabeleceu associações com caracteres étnicos, seguindo a tendência da época, nomeando a condição inadequadamente de idiotia mongoloide (MOREIRA; EL-HANI, 2000). Atualmente, a síndrome pode ser identificada como Trissomia do Cromossomo 21, sendo as pessoas que a possuem trissômicas. Os cromossomos como já mencionado anteriormente se constituem em estruturas que encontram no núcleo de cada célula, contendo características hereditárias. Em cada célula, apresenta-se um total de 46 cromossomos, dos quais 23 são de origem paterna e 23 de origem materna. Os indivíduos com síndrome de Down não apresentam 46 cromossomos, mas sim 47. O cromossomo a mais se localiza no par 21 e por esse motivo a síndrome pode ser chamada de Trissomia do 21. Estima-se que entre cada 550 bebês que nascem um possua a síndrome (MOREIRA; EL-HANI, 2000). Frente ao contextualizado, vale destacar que referida síndrome se constitui como uma das causas mais frequentes de deficiência intelectual. Alémda deficiência intelectual, Moreira e El-Hani (2000) anunciam que podem ocorrer na criança com síndrome de Down: cardiopatia congênita (40%); hipotonia (100%); problemas de audição (50 a 70%); de visão (15 a 50%); alterações na coluna cervical (1 a 10%); distúrbios da tireoide (15%); problemas neurológicos (5 a 10%); obesidade e envelhecimento precoce. Faculdade de Minas 20 CARIÓTIPO DA SÍNDROME DE DOWN A criança com síndrome de Down também apresenta características observáveis, que são: • Olhos com pálpebras estreitas e levemente oblíquas, com prega de pele no canto interno. • Íris com pequenas manchas brancas. • Cabeça com parte posterior achatada. • Boca pequena, a qual se mantém muitas vezes aberta, com a língua projetandose para fora. • Mãos curtas e largas, muitas vezes com uma única linha transversal na palma das mãos. • Musculatura de maneira geral flácida (hipotonia muscular). • Orelhas geralmente pequenas e de implantação baixa. • Dedos dos pés comumente curtos, havendo espaço entre o dedão e o segundo dedo. Faculdade de Minas 21 • Pés achatados (BRASIL, 2013). Síndrome de Rett A síndrome de Rett (SR) é considerada uma doença de ordem neurológica de caráter progressivo, a qual acomete crianças de ambos os sexos, principalmente crianças do sexo feminino. A síndrome apresenta-se associada a mutações no gene localizado no cromossomo X (QUEIROZ; BARROS, 2014). Os bebês com a síndrome desenvolvem-se normalmente nos primeiros meses de vida, no entanto, após o 6º mês, surgem os primeiros sintomas. Com o passar do tempo, as crianças passam a desenvolver problemas relacionados ao movimento, à coordenação e à comunicação. Os autores ainda destacam que a síndrome foi evidenciada pelo Dr. Reet, em 1966, que relatou, nessa época, casos de 130 meninas com a síndrome. Queiroz e Barros (2014) demonstraram em seus estudos que a síndrome acomete cerca de 10.000 a 15.000 meninas, nas quais se tornou mais frequente a deficiência intelectual. Queiroz e Barros (2014) ainda acrescentam que, além da deficiência intelectual, a síndrome apresenta outros sinais, sendo eles: epilepsia; regressão das habilidades sociais, cognitivas; estereotipias, caracterizadas pela perda de uso funcional das mãos, passando a realizar movimentos de torcer com entrelaçamento de dedos e mão na boca, tornando-se incapaz de utilizar voluntariamente as mãos. Fatores de risco e causas perinatais São os fatores que acometem o bebê, do início do trabalho de parto até seu 30º dia de vida. Assim, consideram-se os fatores de risco perinatais: • Parto: parto demorado (mais de 18 horas); uso de fórceps; prolapso do cordão umbilical e ruptura tardia ou prévia da placenta, entre outros. • Condições do bebê: bebês prematuros; pós-maturos que apresentam características de desnutrição (peso ao nascer inferior a 2.500 kg); hiperbilirrubina nas primeiras 48 horas de vida; convulsões; bebê impregnado de mecônio ao nascer; Faculdade de Minas 22 com anóxia; choro reduzido; reflexos anormais; dificuldades respiratórias, entre outros. Faculdade de Minas 23 5 - PARALISIA CEREBRAL A paralisia cerebral se apresenta como uma disfunção neurológica que pode ser descrita como um conjunto de desordens posturais e de movimento que acabam levando à limitação funcional da criança, pois esta decorre de uma disfunção sensório-motora que envolve o tônus muscular, postura, movimentos voluntários, associadas geralmente à hipóxia e/ou anóxia, as quais ocorrem no período de maturação estrutural e funcional do cérebro (DIAS; FREITAS; MARTINS, 2010). No que tange à incidência, cabe destacar que se observam índices de 1 a 2 para cada 1.000 nascidos vivos em países desenvolvidos, e 7 para cada 1.000 em países em desenvolvimento. No Brasil, segundo Dias, Freitas e Martins (2010), os dados apresentam cerca de 30 a 40 mil casos novos por ano. A etiologia da paralisia cerebral abarca vários fatores, podendo ser desencadeada por causas perinatais e pós-natais. Faculdade de Minas 24 Mediante o exposto, vale destacar que a criança com paralisia cerebral apresenta um determinado ritmo de evolução do sistema nervoso, porém, junto a esse ritmo apresenta também a plasticidade cerebral, a qual se torna a base para a aprendizagem. Com base no entendimento da plasticidade cerebral, Dias, Freitas e Martins (2010) denota que a criança com paralisia cerebral, apesar de apresentar alterações motoras e sensoriais, irá aprender e desenvolver-se de acordo com as condições e as possibilidades propiciadas pelo meio. O atraso motor, na maioria das vezes, pode vir acompanhado de alterações de comunicação, cognição, percepção, comportamento, funções sensoriais e crises convulsivas. 5.1 - Fatores de risco e causas pós-natais São os fatores que acometem do 30º dia de vida até a vida adulta, sendo eles: • Condições de bebê: anormalidades congênitas que não foram identificadas no período pré-natal; peso e altura abaixo do normal; desidratação e subnutrição. • Distúrbios degenerativos; lesão cerebral traumática; má nutrição. • Condições sociais: abandono e maus tratos; redução de interações positivas da mãe com a criança na primeira infância. A partir dos fatores apresentados, os quais podem acometer a deficiência intelectual, buscamos elucidar por meio de pressupostos teóricos como ocorre a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças com deficiência intelectual. Estes pressupostos serão apresentados no tópico a seguir. Faculdade de Minas 25 5.2 - DESENVOLVIMENTO, APRENDIZAGEM E A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL As crianças com deficiência intelectual apresentam dificuldades com maior ou menor intensidade, dependendo das interações sociais vivenciadas, porém, as interações sociais no ambiente escolar, em junção com o processo de ensino e de aprendizagem, podem levar esses sujeitos ao desenvolvimento. Vygotsky (2003), ao ressaltar a importância educacional no desenvolvimento, reforça: A aprendizagem não é em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem a aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam na criança essas características humanas não naturais, mas formadas historicamente (VYGOTSKY, 2003, p. 115). Faculdade de Minas 26 Os conceitos de aprendizagem e de desenvolvimento favorecem alterações na prática pedagógica do professor, pois, nos postulados de Vygotsky, ocorre uma inter-relação entre os dois processos, sendo que o desenvolvimento é posterior ao processo de aprendizagem. Assim, a criança primeiro aprende para, depois, desenvolver-se, resultando as zonas de desenvolvimento proximal. Ressaltamos a importância de o professor proporcionar atividades que possibilitem o desenvolvimento da zona de desenvolvimento proximal, desprendendo-se das dificuldades relacionadas à deficiência primária da criança. Compreendemos que a zona de desenvolvimento proximal é caracterizada pela distância estabelecida entre os níveis de desenvolvimento “real” e “potencial”. A distância entre esses conceitos permite ao professor pontuar o nível potencial apresentado pela criança e, então, reorganizar suas ações pedagógicas. Esse movimento implica novas ações do professor para estimular na criança novas zonas de desenvolvimento proximal. Em consonância com a mediação pedagógica do professor ou de colegas mais experientes, a zona de desenvolvimento proximal auxilia a criança com deficiência intelectual a superar as dificuldades encontradasno processo de aprendizagem. Dessa forma, por meio da mediação do professor ou do colega mais experiente, a criança atingiria nova aprendizagem. Em síntese, a zona de desenvolvimento proximal é: A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração em companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 2003, p. 112). No sentido apontado por Vygotsky (2003), a mediação torna-se primordial na educação escolar no que se refere à zona de desenvolvimento proximal (ZDP), pois é por meio dela que ocorre a transformação do processo interpessoal (social), para o processo intrapessoal (individual). Faculdade de Minas 27 Após a compreensão do processo de aprendizagem da criança com Deficiência Intelectual, apresentada por meio dos escritos de Vygotsky (2003), compreendemos que as dificuldades de aprendizagem das crianças com Deficiência Intelectual requerem que o professor busque subsídios teóricos para que tenha a compreensão do processo de aprendizagem. As dificuldades encontradas no processo de aprendizagem das crianças com deficiência intelectual precisam impulsionar a reflexão e a transformação da prática pedagógica, por meio de diferentes metodologias e estratégias de ensino visando à superação e buscando um ensino de qualidade para todos. Para Beyer (2006, p. 109) “não custa lembrar a máxima vygotskyana, que afirma que a pedagogia deve buscar conectar o amanhã e o hoje evolutivo da criança, ou conforme outra formulação vygotskyana, que o bom ensino deve sempre se adiantar ao desenvolvimento”. 5.3 - DECLARAÇÃO DE MONTREAL SOBRE A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Frente aos movimentos internacionais que tinham como slogan “A educação para todos”, e que proclamaram a necessidade de criação de políticas públicas educacionais direcionadas à igualdade de oportunidades, emergiu a Declaração de Montreal (2004), que anuncia que: “todos os setores da sociedade recebem benefícios da inclusão e são responsáveis pela promoção e pelo progresso do planejamento e desenho inclusivos” (artigo 4º). Sobre a educação, a Declaração salienta que: “o Congresso urge para que os princípios do desenho inclusivo sejam incorporados nos currículos de todos os programas de educação” (artigo 6º). Nesta perspectiva inclusiva vale destacar que o conceito de deficiência intelectual substituiu o de deficiência mental a partir de 2004, por recomendação da Declaração de Montreal Montreal – Canadá OPS/OMS – 6 DE OUTUBRO DE 2004 Tradução: Dr. Jorge Márcio Pereira de Andrade, novembro de 2004. Faculdade de Minas 28 Afirmando que as pessoas com deficiências intelectuais, assim como os demais seres humanos, têm direitos básicos e liberdades fundamentais que estão consagradas por diversas convenções, declarações e normas internacionais; Exortando todos os Estados Membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) que tornem efetivas as disposições determinadas na Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas com Deficiências; Aspirando reconhecer as desvantagens e barreiras históricas que as pessoas com deficiências intelectuais têm enfrentado e, conscientes da necessidade de diminuir o impacto negativo da pobreza nas condições de vida das pessoas com deficiências intelectuais; Conscientes de que as pessoas com deficiências intelectuais são frequentemente excluídas das tomadas de decisão sobre seus Direitos Humanos, Saúde e Bem-Estar, e que as leis e legislações que determinam tutores e representações legais substitutas foram, historicamente, utilizadas para negar a estes cidadãos os seus direitos de tomar suas próprias decisões; Preocupados porque a liberdade das pessoas com deficiências intelectuais para tomada de suas próprias decisões é frequentemente ignorada, negada e sujeita a abusos; Apoiando o mandato que tem o Comitê ad hoc das Nações Unidas (ONU) em relação à formulação de uma Convenção Internacional Compreensiva e Integral para Promover e Proteger os Direitos e a Dignidade das Pessoas com Deficiências; Reafirmando a importância necessária de um enfoque de Direitos Humanos nas áreas de Saúde, Bem-Estar e Deficiências; Reconhecendo as necessidades e as aspirações das pessoas com deficiências intelectuais de serem totalmente incluídos e valorizados como cidadãos e cidadãs tal como estabelecido pela Declaração de Manágua (1993); Faculdade de Minas 29 Valorizando a significativa importância da cooperação internacional na função de gerar melhores condições para o exercício e o pleno gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais das pessoas com deficiências intelectuais; Nós Pessoas com deficiências intelectuais e outras deficiências, familiares, representantes de pessoas com deficiências intelectuais, especialistas do campo das deficiências intelectuais, trabalhadores da saúde e outros especialistas da área das deficiências, representantes dos Estados, provedores e gerentes de serviços, ativistas de direitos, legisladores e advogados, reunidos na Conferência Internacional sobre Deficiência Intelectual, da OPS/OMS (Organização PanAmericana de Saúde e Organização Mundial de Saúde), entre os dias 5 e 6 de outubro de 2004, em Montreal, Canadá, JUNTOS DECLARAMOS QUE: • As Pessoas com Deficiência Intelectual, assim como outros seres humanos, nascem livres e iguais em dignidade e direitos. • A deficiência intelectual, assim como outras características humanas, constitui parte integral da experiência e da diversidade humana. A deficiência intelectual é entendida de maneira diferenciada pelas diversas culturas, o que faz com que a comunidade internacional deva reconhecer seus valores universais de dignidade, autodeterminação, igualdade e justiça para todos. • Os Estados têm a obrigação de proteger, respeitar e garantir que todos os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais e as liberdades das pessoas com deficiência intelectual sejam exercidos de acordo com as leis nacionais, convenções, declarações e normas internacionais de Direitos Humanos. Os Estados têm a obrigação de proteger as pessoas com deficiências intelectuais contra experimentações científicas ou médicas, sem um consentimento informado, ou qualquer outra forma de violência, abuso, discriminação, segregação, estigmatização, exploração, maus tratos ou castigo cruel, desumano ou degradante (como as torturas). Faculdade de Minas 30 • Os Direitos Humanos são indivisíveis, universais, interdependentes e interrelacionados. Consequentemente, o direito ao nível máximo possível de saúde e bem-estar está interconectado com outros direitos fundamentais, como os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais ou outras liberdades fundamentais. Para as pessoas com deficiências intelectuais, assim como para as outras pessoas, o exercício do direito à saúde requer a inclusão social, uma vida com qualidade, acesso à educação inclusiva, acesso a um trabalho remunerado e equiparado, e acesso aos serviços integrados da comunidade. • Todas as pessoas com deficiências intelectuais são cidadãos plenos, iguais perante a lei e como tais devem exercer seus direitos com base no respeito nas diferenças e nas suas escolhas e decisões individuais. • O direito à igualdade para as pessoas com deficiência intelectual não se limita à equiparação de oportunidades, mas requer também, se as próprias pessoas com deficiência intelectual o exigem, medidas apropriadas, ações afirmativas, adaptações ou apoios. Os Estados devem garantir a presença, a disponibilidade, o acesso e utilização de serviços adequados que sejam baseados nas necessidades, assim comono consentimento informado e livre destes cidadãos e cidadãs. • As pessoas com deficiências intelectuais têm os mesmos direitos que outras pessoas de tomar decisões sobre suas próprias vidas. Mesmo que algumas pessoas possam ter dificuldades de fazer escolhas, formular decisões e comunicar suas preferências, elas podem tomar decisões acertadas para melhorar seu desenvolvimento pessoal, seus relacionamentos e sua participação nas suas comunidades. Em acordo consistente com o dever de adequar o que está estabelecido no parágrafo 5 B, as pessoas com deficiências intelectuais devem ser apoiadas para que tomem suas decisões, as comuniquem e estas sejam respeitadas. Consequentemente, quando os indivíduos têm dificuldades para tomar decisões independentes, as políticas públicas e as leis devem promover e reconhecer as decisões tomadas pelas pessoas com deficiências intelectuais. Os Estados devem providenciar os serviços e os apoios necessários para facilitar que as pessoas com deficiências intelectuais tomem decisões significativas sobre as suas próprias vidas. Faculdade de Minas 31 • Sob nenhuma condição ou circunstância as pessoas com deficiências intelectuais devem ser consideradas totalmente incompetentes para tomar decisões baseadas apenas em sua deficiência. Somente em circunstâncias mais extraordinárias o direito legal das pessoas com deficiência intelectual, para tomada de suas próprias decisões, poderá ser legalmente interditado. Qualquer interdição deverá ser por um período limitado, sujeito às revisões periódicas e, com respeito apenas a estas decisões, pelas quais será determinada uma autoridade independente, para determinar a capacidade legal. • A autoridade independente, acima mencionada, deve encontrar evidências claras e consistentes de que, apesar dos apoios necessários, todas as alternativas restritivas de indicar e nomear um representante pessoal substituto foram, previamente, esgotadas. Esta autoridade independente deverá respeitar o direito a um processo jurídico, incluindo o direito individual de ser notificado, ser ouvido, apresentar provas ou testemunhos a seu favor, ser representado por uma ou mais pessoas de sua confiança e escolha, para sustentar qualquer evidência em uma audiência, assim como apelar de qualquer decisão perante um tribunal superior. Qualquer representante pessoal substituto da pessoa com deficiência ou seu tutor deverá tomar em conta as preferências da pessoa com deficiência intelectual e fazer todo o possível para tornar efetiva a decisão que essa pessoa teria tomado caso não o possa fazê- lo. Com este propósito, os participantes de Conferência OPS/OMS de Montreal sobre Deficiências Intelectuais, em solidariedade com os esforços realizados a nível nacional, internacional, individual e conjuntamente, ACORDAM: • Apoiar e defender os direitos das pessoas com deficiências intelectuais; difundir as convenções internacionais, declarações e normas internacionais que protegem os Direitos Humanos e as liberdades fundamentais das pessoas com deficiências intelectuais; e promover, ou estabelecer, quando não existam, a integração destes Faculdade de Minas 32 direitos nas políticas públicas nacionais, legislações e programas nacionais pertinentes. • Apoiar, promover e implementar ações, nas Américas, que favoreçam a Inclusão Social, com a participação de pessoas com deficiências intelectuais, por meio de um enfoque intersetorial que envolva as próprias pessoas com deficiência, suas famílias, suas redes sociais e suas comunidades. Por conseguinte, os participantes da Conferência OPS/OMS de Montreal sobre a Deficiência Intelectual, RECOMENDAM: Aos Estados: • reconhecer que as pessoas com deficiências intelectuais são cidadãos e cidadãs plenos da sociedade; • cumprir as obrigações estabelecidas por leis nacionais e internacionais criadas para reconhecer e proteger os direitos das pessoas com deficiências intelectuais. Assegurar sua participação na elaboração e avaliação de políticas públicas, leis e planos que lhes digam respeito. Garantir os recursos econômicos e administrativos necessários para o cumprimento efetivo destas leis e ações; desenvolver, estabelecer e tomar as medidas legislativas, jurídicas, administrativas e educativas, necessárias para realizar a inclusão física e social destas pessoas com deficiências intelectuais; • prover para as comunidades e para as pessoas com deficiências intelectuais e suas famílias o apoio necessário para o exercício pleno destes direitos, promovendo e fortalecendo suas organizações; • desenvolver e implementar cursos de formação sobre Direitos Humanos, com treinamento e programas de informação dirigidos a pessoas com deficiências intelectuais. Aos diversos agentes sociais e civis: • Participar de maneira ativa no respeito, na promoção e na proteção dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais das pessoas com deficiências intelectuais. • Preservar cuidadosamente sua dignidade e integridade física, moral e psicológica Faculdade de Minas 33 por meio da criação e da conservação de condições sociais de liberação e não estigmatização. Às Pessoas com Deficiência Intelectual e suas famílias: • Tomar a consciência de que eles têm os mesmos direitos e liberdades que os outros seres humanos; de que eles têm o direito a um processo legal, e que têm o direito a um recurso jurídico ou outro recurso eficaz, perante um tribunal ou serviço jurídico público, para a proteção contra quaisquer atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos por leis nacionais e internacionais. • Tornarem-se seguros de que participam do desenvolvimento e da avaliação contínua da legislação vigente (e em elaboração), das políticas públicas e dos planos nacionais que lhes dizem respeito. • Cooperar e colaborar com as organizações internacionais, governamentais ou não governamentais, do campo das deficiências, com a finalidade de consolidação e fortalecimento mútuo, em nível nacional e internacional, para a promoção ativa e a defesa dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais das pessoas com deficiências. Às Organizações Internacionais: • Incluir a “DEFICIÊNCIA INTELECTUAL” nas suas classificações, programas, áreas de trabalho e iniciativas com relação a “pessoas com deficiências intelectuais” e suas famílias a fim de garantir o pleno exercício de seus direitos e determinar os protocolos e as ações desta área. • Colaborar com os Estados, pessoas com deficiências intelectuais, familiares e organizações não governamentais (ONGs), que os representem, para destinar recursos e assistência técnica para a promoção das metas da Declaração de Montreal, incluindo o apoio necessário para a participação social plena das pessoas com deficiências intelectuais e modelos integrativos de serviços comunitários. Montreal, 6 de outubro de 2004. Faculdade de Minas 34 6 - ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO Diante da trajetória das altas habilidades e superdotação, podemos observar que o termo “superdotado” apresentou e, em muitos casos, ainda apresenta uma conotação que nos remete a sujeitos muito diferentes do que a maioria das pessoas costuma ser. Provavelmente, porque esta expressão nos remete aos super-heróis com seus poderes sobrenaturais. Entretanto, ao observar a variedade de pessoas habilidosas, podemos identificar uma gama muito grande de características e formas de manifestação, que diferem pelos seus interesses, seus estilos de aprendizagem, sua personalidade, motivações e necessidades. A habilidade superior, a superdotação, a precocidade, o prodígio e a genialidade são gradações de um mesmo fenômeno que estão sendo estudados em diversos países. Faculdade de Minas 35 Porém, vale ressaltar que as abordagens teóricas ainda são divergentes e,faz-se necessário um olhar atento às concepções e suas diferenças. Por não haver uma definição universal, de modo geral, podemos dizer que as pessoas com altas habilidades e superdotação se caracterizam pela elevada potencialidade de aptidões e talentos que se evidenciam em uma ou diversas áreas de atividade. Para a Política Nacional de Educação Especial (1994), consiste em pessoas que apresentam notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: O processo de construção dos conceitos que envolvem a área das Altas Habilidades e Superdotação, porém, para melhor clareza de leitura é importante apresentar, em termos de definição/denominação, quem seria “precoce” a criança que apresenta alguma habilidade prematuramente desenvolvida em qualquer área do conhecimento. a) Capacidade intelectual geral: indivíduos que apresentam rapidez de pensamento, compreensão, memória, curiosidade e elevada capacidade de abstração. Faculdade de Minas 36 CAPACIDADE INTELECTUAL b) Aptidão acadêmica específica: apresentam motivação por disciplinas acadêmicas do seu interesse, excelente desempenho escolar e capacidade de produção acadêmica. APTIDÃO ESPECÍFICA c) Pensamento criativo ou produtivo: indivíduos com alta capacidade de imaginação, resolvem situações de forma inovadora e originalidade de pensamento. Faculdade de Minas 37 PENSAMENTO CRIATIVO d) Capacidade de liderança: caracterizam-se pela relação interpessoal, cooperação, poder de persuasão e de resolver situações sociais. Faculdade de Minas 38 LIDERANÇA e) Talento especial para a arte: apresentam grande desempenho em artes plásticas, musicais, cênicas e/ou literárias e facilidade em expressar-se através de gestos ou comunicar sentimentos. f) Capacidade psicomotora: indivíduos que apresentam desempenho superior em esportes ou atividades físicas, podendo se destacar em agilidade de movimentos, coordenação, força e resistência. Faculdade de Minas 39 CAPACIDADE PSICOMOTORA Nos aspectos apresentados já podemos perceber que a superdotação pode estar presente em diversas áreas do conhecimento, ou seja, que a pluralidade do conhecimento humano vai além da tradicional visão acadêmica, que enfatizou e ainda enfatiza os conhecimentos linguísticos e matemáticos. Ainda podemos destacar que as altas habilidades e a superdotação podem estar relacionadas ao desempenho já demonstrado pelo indivíduo ou ainda a um potencial que venha a se transformar em um desempenho notável. Ressaltamos ainda que uma pessoa com altas habilidades e superdotação se destaca em uma das capacidades anteriormente apresentadas, ou ainda, combina várias delas. Ao conceituar as altas habilidades e superdotação, faz-se necessário, inicialmente, esclarecer as diversas denominações utilizadas tanto por pesquisadores quanto pelo conhecimento popular para o termo “superdotado”. Para isso, utilizamos como referencial as ideias apresentadas por Virgolim (2007), Morelock e Feldman (2000) e Alencar (2001). Faculdade de Minas 40 Você já deve ter ouvido a expressão “criança precoce”, para indivíduos que apresentam alguma habilidade, prematuramente desenvolvida em qualquer área do conhecimento. Entretanto, vale destacar que não devemos rotular a criança precoce como superdotada, prodígio ou gênio sem antes acompanhar o seu desenvolvimento. Ser uma criança precoce não é garantia de que essa pessoa se tornará um adulto eminente. Ou conforme Freeman e Guenther (2000), nem todos os superdotados eram crianças precoces. Principalmente se levarmos em consideração que vários fatores podem interferir na trajetória de vida de uma criança precoce, como, por exemplo, o ambiente familiar e as oportunidades que surgirão no percurso de suas vidas, incluindo, neste caso, um ambiente educacional enriquecido para o seu desenvolvimento. A “criança prodígio”, segundo Morelock e Feldman (2000), consiste no indivíduo que apresenta um alto desempenho, em nível de um profissional adulto, em algum campo cognitivo específico. Essas pessoas podem se destacar em uma única habilidade e em outros aspectos se apresentar como uma pessoa simples e intelectualmente normal. Ou seja, especialistas extremos em uma dada área e não tão talentosos numa perspectiva intelectual mais generalizada. Para Virgolim (2007), sendo precoce, o prodígio revela tenacidade no envolvimento com sua área de talento, sendo este aspecto absolutamente necessário para a sua satisfação, expressão e bem-estar. Por isso revela que: Nossa última denominação se refere às pessoas consideradas “gênios”. Para muitos estudiosos (ALENCAR, 2001; FELDMAN, 2001), o termo gênio é reservado para descrever as pessoas que deram contribuições originais e de grande valor à humanidade em algum momento da história, cujos conhecimentos e capacidades foram incrivelmente excepcionais e únicos. Citamos algumas dessas pessoas no início desse caderno, você está lembrado(a)? Ao analisarmos as denominações dadas para o termo “superdotado”, chamamos a atenção para as ideias de Virgolim (2007), que considera a expressão “altas habilidades e superdotação” a mais apropriada para designar a pessoa com sinais de habilidade superior em alguma área do conhecimento, quando comparada a seus Faculdade de Minas 41 pares. Ou seja, as habilidades da pessoa apresentada como precoce, prodígio, gênio ou com potenciais menos aparentes podem ser enquadradas em um termo mais amplo: Altas Habilidades e Superdotação. Então podemos nos questionar: o que faz uma pessoa ser habilidosa e superdotada? Ela nasce com uma predisposição ou adquire essas habilidades no decorrer da sua vida? Para Renzulli (1986), os comportamentos de superdotação são justificados por fatores genéticos, porém também são influenciados por características peculiares do indivíduo (coragem, persistência, autoestima elevada) e ambientais (oportunidades variadas, estímulo familiar e escolar, entre outros). Destaca com ênfase que a superdotação pode estar mais presente ou não, de acordo com as diferentes épocas e diferentes circunstâncias na vida de uma pessoa. Ou seja, que os comportamentos de superdotação podem ser exibidos em certas crianças (mas não em todas elas), em alguns momentos (e não em todos) e sob certas circunstâncias. O prodígio é relativamente raro e necessita da convergência de um número de circunstâncias únicas para permitir uma completa e especializada expressão de um poderoso potencial. O prodígio emerge em um ambiente para onde convergem a tendência altamente específica do indivíduo de se engajar profundamente na área em que apresenta precocidade, com uma específica receptividade ambiental, sendo por isso mesmo infrequente e improvável (VIRGOLIM, 2007, p. 24). Virgolim (2007) nos mostra que a expressão do talento excepcional dessas crianças envolve numerosos elementos que compreendem desde um ambiente cultural favorável e profissionais que dominem o conhecimento apresentado pela criança prodígio até o apoio e suporte que esta receberá para o aprimoramento do seu talento. Nossa última denominação se refere às pessoas consideradas “gênios”. Para muitos estudiosos (ALENCAR, 2001; FELDMAN, 2001), o termo gênio é reservado para descrever as pessoas que deram contribuições originais e de grande valor à humanidade em algum momento da história, cujos conhecimentos e capacidades Faculdade de Minas 42 foram incrivelmente excepcionais e únicos. Citamos algumas dessas pessoas no início desse caderno, você está lembrado(a)? Porém, vale salientar que somente com o acompanhamento do desenvolvimento dessa criança é que saberemosse ela se tornará superdotada, prodígio ou gênio. Para Winner (1998), crianças superdotadas são precoces e progridem mais rapidamente que outras crianças, por apresentarem mais facilidade em uma dada área. Fazendo um recorte da história, podemos observar que na antiguidade o corpo perfeito era cultuado e que na sociedade grega, em Esparta, por exemplo, os homens tinham dedicação quase total para a guerra. A sociedade enfatizava a beleza física e a perfeição dos corpos. Dessa forma, qualquer criança que apresentasse um padrão diferente do ideal era eliminada. Já os atenienses valorizavam o intelecto. Assim, os sujeitos “pensantes” tinham o ofício de comandar e aos demais cabia cumprir as tarefas estabelecidas. Para os gregos, as pessoas com inteligência superior recebiam atenção distinta e, quando identificadas ainda crianças, eram preparadas para um dia assumir o papel de líderes na sociedade. O surgimento de cientistas, pensadores e artistas na Grécia pode ser justificado pelo estímulo e oportunidades dados na época a pessoas que apresentavam alguma dotação especial, de modo que pudessem desenvolver suas habilidades e aptidões. Existem relatos de que, durante o século XV, um sultão, que vivia na Turquia, “[...] fundou uma escola em um palácio em Constantinopla, enviando emissários por todo o império, a fim de recrutar meninos mais fortes e inteligentes, independente da classe social a que pertenciam, para nesta escola desenvolver de forma mais adequada seu potencial” (WHITMORE, 1980 apud ALENCAR; FLEITH, 2001, p. 42). Com a Idade Moderna e o início do modelo capitalista, em que se enfatizaram as descobertas científicas, a burguesia tornou-se responsável por ditar novas regras. Muitos cientistas firmaram suas teorias, entre eles Copérnico, Galileu Galilei, Bacon, Newton, dessa forma a inteligência começa a ser valorizada e, consequentemente, o Faculdade de Minas 43 investimento em novas pesquisas nesta área. O surgimento de testes que avaliavam o quociente de inteligência (QI) das pessoas permitiu que se pesquisassem crianças que apresentavam QI acima das demais crianças de sua idade. Faculdade de Minas 44 6.1 - A POLÍTICA DE ATENDIMENTO À PESSOA COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO NO BRASIL Há relatos de trabalhos com alunos com altas habilidades no Brasil consolidados pelo incentivo de uma professora chamada Helena Antipoff. A partir da compra de uma fazenda em Minas Gerais, nomeada de Fazenda do Rosário, em 1940, Antipoff deu início a um programa de atendimento escolar ao aluno com altas habilidades do meio rural, conforme nos descreve Alencar (2001, p. 87, grifos do original): O interesse em organizar programas educacionais para superdotados teve início em nosso país com o trabalho da professora Helena Antipoff, que veio para o Brasil em 1929 e que, desde os seus primeiros anos aqui, chamou a atenção para o aluno que se destaca por suas potencialidades superiores, a quem preferia chamar de bem- Faculdade de Minas 45 dotados. Esta educadora publicou vários estudos, como “Primeiros casos de Supernormais”, em 1938, “Campanha da Pestalozzi em Prol do Bem-dotado”, em 1942, e “A criança Bem-dotada”, em 1946, estudos estes reunidos recentemente em livro organizado por Daniel Antipoff (1992). O seu trabalho na área teve início em 1945 no Instituto Pestalozzi do Brasil, no Rio de Janeiro, através de reuniões com pequenos grupos de alunos com um potencial superior para realizar com eles estudos sobre a literatura, teatro, música. Alguns anos depois, a professora Helena Antipoff deu início, na Fazenda do Rosário, a um programa de atendimento ao aluno bem-dotado do meio rural e da periferia urbana, programa este que foi continuado até os dias de hoje, sob a coordenação do professor Daniel Antipoff. Ainda em âmbito nacional, as Altas Habilidades e Superdotação tiveram os seus primeiros registros na forma legal com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu artigo 9º: “Os alunos que apresentam deficiências físicas ou mentais, os que se encontram em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação” (BRASIL, 1971, s.p.). E ainda um avanço maior na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, no Art. 59, onde prevê que: “Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: [...] II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do Ensino Fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados”. Também em seus incisos II e III, a LDB (1996) descreve a aceleração para os superdotados e um encaminhamento para o mercado de trabalho dos alunos com habilidades superiores, conforme indica no Artigo 59: […] visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para Faculdade de Minas 46 aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; [...] Outro marco importante para a inclusão da pessoa com altas habilidades e superdotação foi a elaboração da Resolução do Conselho Nacional de Educação, de 11 de fevereiro de 2001, através das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial, que define o tipo de atendimento aos alunos com AH/SD, destacando que sejam realizadas: IX - Atividades que favoreçam ao aluno que apresente altas habilidades/ superdotação, o aprofundamento e enriquecimento de aspectos curriculares, mediante desafios suplementares nas classes comuns, em sala de recursos ou em outros espaços definidos pelos sistemas de ensino, inclusive para conclusão, em menor tempo, da série ou etapa escolar, nos termos do Artigo 24, V, ‘c’, da Lei 9.394/96. Podemos encontrar também, de acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, encaminhamentos para os alunos com altas habilidades e superdotação, possibilitando que o atendimento a esta demanda ocorra em salas de recursos multifuncionais, através de projetos desenvolvidos em universidades ou, ainda, em centros específicos como os Núcleos de Atividades em Altas habilidades/superdotação - NAAH/S (BRASIL, 2008). 6.2 AS ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO NOS DIAS DE HOJE Esforços têm sido dedicados para a apresentação de políticas públicas que ofereçam o atendimento especializado à pessoa com altas habilidades e superdotação, sua família e professores, bem como a inserção desta criança no contexto escolar. O Ministério da Educação (MEC) elaborou a Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), que estabelece alguns nortes no atendimento de crianças contempladas na educação especial: Faculdade de Minas 47 OBJETIVO Orientar os sistemas de ensino para promover o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, garantindo: • transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior; • atendimento educacional especializado; • continuidade da escolarização nos níveis mais elevados de ensino; • formação de professores para o atendimento educacional especializado à inclusão; • participação da família e da comunidade; • acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários, nos transportes, nas comunicações e informações; • articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. (MEC, 2008, p. 8) A EducaçãoEspecial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e demais modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os serviços e recursos e orienta os alunos e professores quanto à sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. O atendimento educacional especializado tem a função de identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando as suas necessidades específicas. Disponibiliza programas de enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização, ajudas técnicas e tecnologia assistiva, dentre outros. Ao longo de todo o processo de escolarização, esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. O Artigo 8º enfatiza que: Faculdade de Minas 48 As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns: [...] serviços de apoio pedagógico especializado em salas de recursos nas quais o professor especializado em educação especial realize complementação ou suplementação curricular, utilizando procedimentos, equipamentos e materiais específicos. Refere-se ainda aos Núcleos de Atendimento aos alunos com Altas Habilidades e Superdotação (NAAH/S). O que é o NAAH/S? São espaços voltados para o atendimento às altas habilidades/ superdotação dos alunos, nos estados e municípios brasileiros, para identificar, atender e estimular o potencial criativo do aluno com altas habilidades/ superdotação, matriculado no sistema público de ensino. Para quê? Para estimular e desenvolver as potencialidades criativas e o senso crítico dos alunos com altas habilidades/superdotação com o uso de recursos didáticos e pedagógicos, bem como profissionais com competência técnica para prover os desafios acadêmicos, sociais e emocionais e oportunizar o aprendizado. Como? Os núcleos são organizados em três unidades: Unidade de Atendimento ao Professor; Unidade de Atendimento ao Aluno; Unidade de Atendimento à Família. a) Núcleo de Formação de Profissionais Objetivos: • apoiar profissionais e professores da rede de ensino; • oportunizar o acesso a materiais de formação docente; • disponibilizar recursos didáticos e pedagógicos para o desenvolvimento das potencialidades dos alunos por meio de pesquisas e estudos. Os profissionais desse núcleo devem realizar atendimento nas escolas onde os alunos estão matriculados e apoiar o processo pedagógico com orientações aos professores. Devem também viabilizar a sistematização de cursos de formação continuada de professores e demais profissionais da educação envolvendo temáticas, tais como: Faculdade de Minas 49 b) Núcleo de Atendimento ao Aluno Este atendimento visa identificar as necessidades educacionais especiais dos alunos e prestar atendimento suplementar para que eles explorem áreas de interesse, aprofundem conhecimentos já adquiridos e desenvolvam habilidades relacionadas à criatividade, à resolução de problemas e raciocínio lógico, desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, propiciando vivenciar o processo de aprendizagem com motivação. Para impulsionar estas ações deve-se realizar parceria com Instituições de Ensino Superior para: • ampliação das oportunidades educacionais para os alunos com altas habilidades/ superdotação; • desenvolver pesquisas, atividades, projetos e cursos com os alunos, professores e pais. c) Núcleo de Apoio à Família O objetivo deste núcleo é orientar e apoiar a família, com vistas à compreensão do comportamento dos seus filhos e às condutas educativas dos pais, melhorando as relações interpessoais, criando um ambiente acolhedor e incentivando o desenvolvimento das potencialidades dos alunos. Com base nessas informações elaboradas pelo Ministério da Educação (MEC), é possível realizar alguns esclarecimentos quanto aos direitos das pessoas com características de superdotação e os possíveis encaminhamentos a serem realizados. Atualmente, a representação de superdotados na população é definida de acordo com o critério adotado para esta avaliação. Quando o critério utilizado é resultado obtido através de testes de inteligência, que avaliam o conhecido QI (Quociente de Inteligência), estamos indicando apenas os talentosos que se destacam por habilidades intelectuais ou acadêmicas, cuja perspectiva é de 3% a 5% da população de uma dada sociedade. Porém, se forem incluídos na avaliação aspectos relacionados à liderança, à criatividade, a características psicomotoras e artísticas, as estatísticas sobem significativamente, chegando a uma porcentagem de 10% a 30% (VIRGOLIM, 2007). Este percentual tende a crescer à medida que as condições socioculturais melhoram. Faculdade de Minas 50 A partir desta significativa demanda presente em nossa sociedade, muitas vezes não evidente ou não identificada e estimulada, podemos justificar a necessidade de estudar e nos aprofundarmos em conhecimentos já adquiridos e pesquisas atuais sobre esses grupos específicos, principalmente pelos profissionais da educação que lidam diariamente com uma diversidade muito grande de pessoas e que podem ter a oportunidade de reconhecer, no espaço escolar, as potencialidades de cada indivíduo. 6.3 - ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO E A INCLUSÃO ESCOLAR A Declaração de Salamanca (UNESCO & Ministério da Educação e Ciência da Espanha, 1994) veio influenciar as decisões políticas brasileiras junto ao Ministério da Educação no que diz respeito a debates sobre o conceito, indicadores, políticas sociais e à atenção educacional dispensada ao aluno com necessidades educacionais especiais. Os movimentos sociais em prol dos direitos humanos ajudaram as pessoas com necessidades educacionais especiais a conquistarem o direito de plena participação social e tais conquistas orientaram a reformulação de marcos legais para o sistema educacional. Um marco histórico neste sentido foi a Declaração dos Direitos Humanos de Viena (UNESCO, 1993, p. 7) que trouxe o princípio da diversidade, colocando o direito à igualdade no mesmo patamar do direito à diferença: “o reconhecimento da pluralidade de sujeitos portadores de direitos e de seus direitos específicos como parte integrante e indivisível da plataforma universal dos Direitos Humanos”. Introduziu-se assim a Ética da Diversidade na implantação da política inclusiva, um desafio para a educação brasileira. Consta da Declaração de Salamanca (1994), entre outros temas, que: “[...] Cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios”; “Os sistemas educativos devem ser projetados e os programas ampliados de modo que tenham em vista toda gama dessas diferentes características e necessidades”; Faculdade de Minas 51 “Os programas de estudo devem ser adaptados às necessidades das crianças e não o contrário: as que apresentam necessidades educativas especiais devem receber apoio adicional no programa regular de estudos, ao invés de seguir um programa de estudo diferente”; “Os administradores e os orientadores de estabelecimentos escolares devem ser convidados a criar procedimentos mais flexíveis de gestão, a remanejar recursos pedagógicos, diversificar as ações educativas, estabelecer relações com pais e a comunidade”; “O corpo docente, e não cada professor, deverá partilhar a responsabilidade do ensino ministrado à criança com necessidades especiais”. Este avanço do pensamento político em torno da educação inclusiva abre os horizontes das políticas educacionais, mas traz para a escola a difícil tarefa de romper com paradigmas tradicionais e propor ações mais amplas que estejam de acordo com as necessidades histórico-culturaisda comunidade que a cercam. Esse rompimento é um processo longo, que envolve desprendimento dos agentes educacionais no que se refere à mudança na forma de agir. Na última década, os conceitos de inclusão foram amplamente discutidos e claramente colocados em leis, resoluções e pareceres (veja as leis em GOTTI, 2004). No que diz respeito à educação inclusiva, o Ministério da Educação implementou o Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, que visa disseminar a política de inclusão e apoiar o processo de construção e implementação de sistemas educacionais inclusivos nos municípios brasileiros. Tal projeto envolve o apoio às escolas para que estejam habilitadas a trabalhar com as diferenças e que possam envolver a comunidade na colaboração dessa prática. Para tanto é necessário que sejam oferecidos aos professores subsídios para que venham a desenvolver esta prática inclusiva. Neste sentido, Mastiski (2004) argumenta que as políticas curriculares são espaços públicos de tomada de decisões que refletem ideologias e a dinâmica de movimentos sociais e que os textos curriculares simbolizam o discurso oficial do Estado, Faculdade de Minas 52 legitimados pelos atores sociais que os colocam em prática, principalmente os agentes educacionais. Assim, a autora sugere um amplo debate escolar no sentido de propor nova dimensão aos fundamentos e concepções do fazer pedagógico, com a finalidade de formar um currículo que acolha as diferenças presentes no contexto escolar. A autora sugere, ainda, que seja planejada, em paralelo à reformulação curricular, a formação continuada de professores no sentido de implementarem práticas pedagógicas que reflitam a diversidade de necessidades apresentadas pelos alunos em sala de aula. Mastiski (2004) argumenta que devem ser oferecidos subsídios que ampliem as possibilidades de reflexão e intervenção no fazer pedagógico, uma vez que a inclusão começa em sala de aula: não importa o quão comprometido um governo possa ser com relação à inclusão; são as experiências cotidianas das crianças nas salas de aula que definem a qualidade de sua participação e a gama total de experiências de aprendizagem oferecidas em uma escola. As formas através das quais as escolas promovem a inclusão e previnem a exclusão constituem o cerne da qualidade de viver e aprender experimentado por todas as crianças (MITTLER, 2003, p. 139 apud MASTISKI, 2004). O Parecer CNE/CEB nº 17/2001 alerta para o fato de que os alunos superdotados e talentosos fazem parte das comunidades excluídas e que permanecem à margem do sistema educacional. Para o Conselho Nacional de Educação e a Câmara de Educação Básica (2001), esta população necessita de motivações específicas e não aceita a rigidez curricular e aspectos do cotidiano escolar – “[...] são tidos como trabalhosos e indisciplinados, deixando de receber os serviços especiais de que necessitam, como, por exemplo, o enriquecimento e o aprofundamento curricular”. Corroborando essa ideia, Maia-Pinto (2002) afirma que uma constante preocupação para os educadores é a presença, em sala de aula, de crianças com características fora do padrão da classe. Quase sempre é um desafio para o professor trabalhar com esta criança. Para a autora, o professor logo percebe quando o aluno apresenta um rendimento abaixo da média da classe e as ações para este fim são hoje bem divulgadas no ambiente escolar, havendo um certo consenso de que esta criança Faculdade de Minas 53 precisa de um atendimento extra ou de estratégias de ensino especiais que favoreçam o seu desenvolvimento. Entretanto, alunos que apresentam um desempenho acima da média e se sobressaem em alguma área têm uma grande motivação ou interesse, são criativos ou possuem habilidades de liderança. Esses alunos, na maioria das vezes, têm apenas o reconhecimento de “que são ótimos alunos”, além de alguns mitos, como a certeza de que terão um futuro brilhante (ALENCAR; FLEITH, 2001). No Brasil, a criança com necessidades especiais tem garantido por lei o seu acesso ao ensino regular, assim como a diferenciação curricular para casos específicos. As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2002, p. 39) apresentam algumas vantagens do atendimento ao superdotado e uma política que valoriza o talento. De acordo com este documento, as altas habilidades/superdotação referem-se a alunos com: [...] grande facilidade de aprendizagem que os leva a dominar rapidamente os conceitos, os procedimentos e as atitudes e que, por terem condições de aprofundar e enriquecer esses conteúdos, devem receber desafios suplementares em classes comuns, em sala de recursos ou em outros espaços definidos pelos sistemas de ensino, inclusive para concluir, em menos tempo, a série ou etapa escolar. Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996 – Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – e o Plano Nacional de Educação em 2001, este atendimento foi reconhecido legalmente. Este reconhecimento está no Art. 24, que estabelece: “A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: [...] V – a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: [...] possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado”. E no Art. 59, alerta que: “Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: [...] II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do Faculdade de Minas 54 Ensino Fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados”. Outros fundamentos legais estão nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, instituída pela Resolução nº 2, de 11 de setembro de 2001. Esta Resolução define, no Art. 3º, a Educação Especial como a modalidade de educação escolar que: “[...] assegura recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos”. O Art. 5º considera “[...] educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem: [...] inciso III – altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes”, e, ainda, no Artigo 8º, enfatiza que: As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns: [...] serviços de apoio pedagógico especializado em salas de recursos, nas quais o professor especializado em educação especial realize a complementação ou suplementação curricular, utilizando procedimentos, equipamentos e materiais específicos. Nesse sentido, a proposta de atendimento educacional para os alunos com altas habilidades/superdotação dos NAAH/S tem fundamento nos princípios filosóficos e ideológicos que embasam a educação inclusiva, valorizando a diversidade como elemento enriquecedor do desenvolvimento pessoal e social, promovendo o desenvolvimento de currículos amplos, flexíveis e abertos que possibilitem a aprendizagem e participação de todos; respeitando as diferentes formas de aprender e atendendo às necessidades educacionais de todos os alunos; garantindo a acessibilidade física e as comunicações; desenvolvendo um trabalho cooperativo entre os diversos segmentos que compõem a comunidade escolar. Faculdade de Minas 55 7 - O QUE É INTELIGÊNCIA? Tratar sobre habilidades, superdotação, talentos, genialidades nos remete aos aspectos relacionados à inteligência. Mas o que é inteligência?