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MUSCULAÇÃO Cristiano Cardoso de Matos Análise mecânica dos exercícios de força Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os componentes que diferenciam os exercícios de musculação. � Classificar os exercícios de musculação de acordo com a mecânica externa. � Diferenciar as exigências musculares decorrentes da mecânica externa dos exercícios de força. Introdução O conhecimento a respeito das forças que agem no corpo, como tam- bém da mecânica dos movimentos, é de extrema importância para o professor de educação física. Com esse conhecimento, ele terá uma base teórica mais concisa para uma correta prescrição das sessões de treinamento de força. Neste capítulo, você vai ler sobre os componentes que diferenciam os exercícios de musculação e a classificação dos exercícios de musculação de acordo com a mecânica externa. Além disso, você vai estudar sobre a diferença das exigências musculares decorrentes da mecânica externa dos exercícios de força. 1 Componentes que diferenciam os exercícios de musculação O sistema musculoesquelético é uma estrutura fantástica. Por meio da união dos ossos, temos as articulações que permitem as amplitudes de movimento ao longo de determinados planos e eixos. São mais de 205 ossos que, unidos, possibilitam a formação de inúmeras articulações. O agente do movimento, o músculo, por meio da sua contração permite a realização do movimento. Ao todo, temos mais de 600 músculos, que nos permitem a realização dos movimentos das atividades diárias (HAMMIL; KNUTZEN, 2000; WATKINS, 2001; MCGINNIS, 2002; CAMPOS, 2006). Podemos observar três tipos de contrações do tecido muscular: isotônica, isométrica e isocinética. Na contração isotônica, ou dinâmica, ocorre o movimento em razão da desigualdade entre a força muscular e a resistência, provocando o movimento do segmento corporal. Existem dois tipos de contração dinâmica, a concên- trica e a excêntrica. A contração muscular concêntrica é descrita como a diminuição do comprimento muscular quando comparado com o músculo em repouso. Ao realizar esse tipo de contração, é aproximada a inserção distal da proximal, causando encurtamento do seus sarcômeros. A contração muscular excêntrica é entendida como uma contração que ocorre enquanto se observa um aumento do comprimento muscular. Essa contração causa um afastamento da inserção distal da proximal. Na contração isométrica, ou estática, observa-se um mínimo movimento ou nenhum, ou seja, nesse tipo de contração, não é observado movimento articular. Veja a Figura 1. Figura 1. Contração isotônica e isométrica. Fonte: Adaptada de Pearce (2019). O músculo encurta O músculo é alongado O comprimento do músculo permanece inalterado Contração isotônica Contração isométrica Análise mecânica dos exercícios de força2 Por fim, na contração isocinética, é mantida a mesma velocidade ao longo de toda a amplitude de movimento. Esse tipo de contração só pode ser realizado em aparelhos isocinéticos (HAMMIL; KNUTZEN, 2000; WATKINS, 2001; MCGINNIS, 2002; CAMPOS, 2006; LIMA; PINTO, 2012; HALL, 2015). Por meio da contração dos músculos esqueléticos são realizados os mo- vimentos entre as estruturas ósseas. A junção entre as estruturas ósseas é chamada de articulação. O corpo humano tem três tipos de articulações. Sinartroses são articulações fibrosas imóveis, mas têm um grande papel na absorção de impactos, um exemplo é a sindesmose tibiofibular. Anfiartroses são articulações cartilaginosas pouco móveis que diminuem a sobrecarga na região onde é aplicada força e também permitem um pouco de movimento entre as uniões ósseas, um exemplo é a sínfise púbica. Por fim, temos as arti- culações diartroses, que têm uma grande amplitude de movimento. Um tipo de articulação diartrose é a articulação sinovial, um exemplo é a articulação glenoumeral. Esta constitui a maioria das articulações do corpo humano, possibilitando os diferentes tipos de movimentos, conforme descrição a seguir. � Flexão: movimento que aproxima um segmento corporal (distal) de outro segmento adjacente (proximal) e se caracteriza pela diminuição do ângulo interno de uma articulação. � Extensão: movimento que visa a afastar um segmento corporal distal de um segmento corporal proximal; durante a extensão, é possível observar um aumento do ângulo interno de uma articulação, causado pelo afastamento de duas estruturas ósseas. � Hiperextensão: movimento de extensão realizado além do limite anatômico da articulação, observado em indivíduos que têm muita flexibilidade articular; os movimentos de hiperextensão são comumente associados a movimentos lesivos às articulações, com comprometimento das estruturas ligamentares. Podemos citar como exemplos de articulações que realizam flexão e extensão: cotovelo, ombro, punho, coluna, quadril, joelho e tornozelo. � Abdução: corresponde ao movimento de afastamento do segmento corporal em relação à linha média do corpo. � Adução: movimento de aproximação do segmento corporal em relação à linha média do corpo. Podemos citar como exemplos de articulações que realizam abdução e adução: ombro, quadril, punho e cintura escapular. 3Análise mecânica dos exercícios de força � Flexão horizontal/adução horizontal: corresponde ao movimento de aproximar um segmento corporal em direção à linha média do corpo no eixo craniossacral. � Extensão horizontal/abdução horizontal: movimento de afastar um segmento corporal da linha média do corpo no eixo craniossacral. Podemos citar como exemplos de articulações que realizam esses movi- mentos: ombro e quadril (embora tradicionalmente seja referida apenas com abdução/adução). � Rotação medial/interna: movimento no qual o segmento corporal gira ao redor do seu eixo em direção à linha média do corpo. � Rotação lateral/externa: movimento no qual o segmento corporal gira ao redor do seu eixo para fora da linha média do corpo. Na posição anatômica, o ombro é rotado externamente. Podemos citar como exemplos de articulações que realizam rotação medial/interna e rotação lateral/externa: ombro e quadril e o joelho. Algumas articulações realizam movimentos específicos que são exclusivos dela. Veja a seguir. Na articulação do tornozelo, temos a flexão plantar, que corresponde a um aumento do ângulo entre tíbia e pé, e a flexão dorsal, que é uma diminuição do ângulo entre tíbia e pé. Além disso, temos a inversão, que é a aproxima- ção do segmento corporal em direção à linha média, e a eversão, que é um afastamento do segmento da linha média. Na articulação radioulnar, é realizada a pronação, que corresponde ao movimento de rotação interna da ulna ao redor do rádio, e a supinação, que é o movimento de rotação externa da ulna sobre o rádio. Na cintura escapular, é observada a elevação, o movimento de erguer o mais alto a escápula no plano frontal. A depressão corresponde ao abaixar da escápula no plano frontal. A rotação superior corresponde à cavidade glenoide estar o mais elevada possível no plano frontal. Já a rotação inferior é o movimento de retorno da escápula em direção a sua posição inicial. Na coluna, são descritos os movimentos de flexão lateral (direita ou es- querda), que corresponde à inclinação de um segmento ou de toda a coluna para um determinado lado, rotação para direita ou esquerda, que é o movimento de girar ao redor do próprio eixo para o lado direito ou esquerdo, retroversão, que é o movimento de deslocamento da pelve para trás, e, por fim, anteroversão, que é o deslocamento da pelve para frente. Análise mecânica dos exercícios de força4 Por meio da interação de músculos, ossos e, por consequência, articulações, o corpo humano consegue realizar os movimentos em razão de certas facili- tações provenientes das alavancas. Alavancas são estruturas rígidas capazes de movimentar ao redor de um ponto de apoio quando uma força é aplicada. As alavancas são constituídaspor três estruturas básicas. O eixo ou fulcro é o local que permite o movimento. A força de resistência é a força ou a estrutura a ser vencida. E a força potente é o local de aplicação da força pelo músculo. Por meio das alavancas, são observados os braços de alavanca de força ou potência (distância perpendicular do local onde é aplicada a força potente até o eixo) e o braço de alavanca de resistência (distância perpendicular do local onde é aplicada a força resistente até o eixo). A seguir, veja a Figura 2, na qual: � P.A. = é o ponto de apoio ou eixo; � Fr = força resistente, que corresponde à massa do objeto que pretende- -se levantar; � Fp = força potente, que corresponde à força para mover o objeto; � Fp = força potente; � d1 = braço de alavanca da força ou braço de potência ou braço de força; � d2 = braço de alavanca da resistência ou braço de resistência. Figura 2. Exemplo de uma alavanca e seus constituintes. Fonte: Adaptada de Teixeira (2020). P.A. Fr Fp d1 d2 5Análise mecânica dos exercícios de força São observados três tipos distintos de alavancas. Veja a seguir. � Alavanca de primeira classe ou interfixa: o eixo está no meio. Um exemplo no corpo humano é a primeira vértebra cervical. A cabeça é a força resistente, a articulação apofisária é o eixo e os músculos posteriores são a força potente. � Alavanca de segunda classe ou inter-resistente: a resistência está no meio. É o tipo de alavanca que apresenta a melhor vantagem mecânica, pois o braço de força sempre será maior do que o braço de resistência. Um exemplo é um carrinho de mão e no exercício de flexão plantar em pé em um degrau, no qual a força potente está no calcanhar, pelo tendão do calcâneo, a força de resistência é o peso corporal, que pode ser representado pelo centro de massa do corpo, passando sobre o maléolo, e o eixo de rotação pode ser apontado como a parte do antepé, que é o ponto a partir do qual ocorre o movimento. � Alavanca de terceira classe ou interpotente: a aplicação da força muscular fica entre a resistência e o eixo. É o tipo de alavanca mais comum no corpo humano. Um exemplo é o cortador de unha, como também o exercício de rosca direta para trabalhar os músculos flexores do cotovelo, em que o eixo de rotação é na articulação, a força potente pode ser representada pelo tendão do bíceps braquial (principal músculo flexor de cotovelo) e a resistência está no peso do segmento (identifi- cado pelo centro de massa do mesmo na metade do comprimento do antebraço) e na carga externa (haltere ou barra). Análise mecânica dos exercícios de força6 Na Figura 3, são mostrados os tipos de alavancas. Figura 3. Os três diferentes tipos de alavancas. Fonte: Adaptada de Costa (2016). F F F R R R Primeira classe Segunda classe Terceira classe A vantagem mecânica é obtida quando realizamos o quociente entre o braço de força pelo braço de resistência. Sempre que o valor for maior ou igual a 1, teremos uma vantagem mecânica, pois o momento de força será maior. Em contrapartida, sempre que o quociente entre o braço de força e o braço de resistência for menor do que 1, teremos uma desvantagem mecânica, pois o momento de resistência será maior. Lembre que o corpo humano está sempre em desvantagem mecânica. 7Análise mecânica dos exercícios de força Podemos observar os tipos de contrações musculares, como também os tipos de movimentos realizados nas articulações sinoviais e, por fim, os mecanismos que auxiliam no movimento do corpo humano que são as alavancas. Conforme são aplicadas as forças pelo tecido muscular, as estruturas ósseas tendem a realizar movimento. O efeito de giro produzido pela força é denominado de torque, momento de força ou simplesmente momento. O torque é uma força angular ou rotatória ou também uma tendência de giro produzida por uma força. Matematicamente, esse torque pode ser definido como: T = F × d⊥ onde: � T = torque; � F = força aplicada; � d⊥ = distância perpendicular entre a linha de ação de uma força e o eixo de rotação. A unidade de medida do torque é newtons metro (Nm). Para o toque ser corretamente descrito, é necessário informar o seu tamanho, o eixo no qual é criado o efeito de rotação e o sentido de rotação no eixo (no caso horário ou anti-horário). O torque está presente em todos os movimentos que realizamos, por exemplo, o simples abrir uma porta, pois, quando puxamos a maçaneta da porta, criamos um torque que faz a porta abrir. É importante ressaltar que a força e a distância perpendicular têm o mesmo “peso” na definição do torque, isto é, um torque de mesma magni- tude pode ser criado com uma força maior associada a um menor braço de alavanca ou também pode ser criado por uma pequena força aplicada em um grande braço de alavanca. No corpo humano, os músculos, ao contraírem, criam torques que possibilitam a realização de flexões, extensões, abduções, entre outros movimentos. Veja a Figura 4 (HAMMIL; KNUTZEN, 2000; WATKINS, 2001; MCGINNIS, 2002; CAMPOS, 2006; LIMA; PINTO, 2012; HALL, 2015). Análise mecânica dos exercícios de força8 Figura 4. Um exemplo de como é o torque em um movimento de flexão do cotovelo a 90° e em graus mais agudos e obtusos. Fonte: Adaptada de Cinesiologia ([201-?]). Centro de rotação d⊥ d⊥ d⊥ d⊥ Fm Fm Fm Fm Tm = Fm × d ⊥ 9Análise mecânica dos exercícios de força Conforme observado na Figura 4a, o torque muscular variou com a mudança da d⊥. Na Figura 4b, a articulação do cotovelo está fletida a 90°, 120° e 45°. Lembrando que o torque é o produto entre a força e a d⊥. Podemos observar que conforme aumenta a d⊥, por exemplo, a 90° a força produzida pelo músculo para manter um mesmo torque tende a ser menor em comparação a uma d⊥ de 120 e de 45°. Em ângulos obtusos e agudos, a d⊥ é menor em comparação a 90°, assim, para manter um torque que de continuidade ao movimento a força muscular deverá ser maior. Conforme é alterada a distância perpendicular entre a linha de ação de uma força e o eixo de rotação, ocorrem alterações nas forças musculares, por exemplo, para que o movimento ocorra. Ao longo de uma amplitude de movimento, podemos observar que a força que o músculo bíceps braquial realizou para manter o movimento foi grande. Ao longo da amplitude de movimento, em algum momento a vantagem mecânica se torna muito pequena ou nula, em outros, ela acabou sendo grande. Por esse motivo, em determinadas amplitudes, o movimento exige muito do praticante em comparação a outras amplitudes. Em aparelhos de musculação, são utilizadas roldanas excêntricas para amenizar essas desvantagens mecânicas (HAMMIL; KNUTZEN, 2000; WATKINS, 2001; MCGINNIS, 2002; CAMPOS, 2006; LIMA; PINTO, 2012; HALL, 2015). Basicamente, dois tipos de torque, interno e externo, coexistem no corpo humano. O torque externo pode ser entendido como as forças operando fora do corpo, como por exemplo, os torques produzidos por um haltere durante o movimento de flexão do cotovelo. Já o torque interno seriam as contrações musculares, agindo em suas inserções nos segmentos ósseos (HAMMIL; KNUTZEN, 2000; WATKINS, 2001; MCGINNIS, 2002; CAMPOS, 2006; LIMA; PINTO, 2012; HALL, 2015). Quando analisamos as forças a que estamos submetidos, devemos pensar nas forças de contato e não contato. Força de contato, como o próprio nome diz, são aquelas forças que resultam da interação entre dois ou mais objetos. As forças predominantes no movimento humano são a força de reação do solo, a força de reação articular, o atrito, a força muscular, a força elástica e a força peso. Já a força de não contato de maior expressão é a força da gravidade. Por exemplo, quando pensamos em forças atuando com um aluno realizando o exercício rosca bíceps, podemos observar a ação de quatro forças: a força muscular do bíceps, a força da reação articular, a força da gravidade gerando o peso do braço e a força peso do haltere (HAMMIL; KNUTZEN, 2000; WATKINS, 2001; MCGINNIS, 2002; CAMPOS, 2006; LIMA; PINTO,2012; HALL, 2015). Análise mecânica dos exercícios de força10 Ainda pensando em forças de não contato, a gravidade é expressa no corpo pelo centro de gravidade ou centro de massa. Ele é o ponto em um corpo ou sistema no qual a sua massa, ou o seu peso, esteja uniformemente distribuída ou equilibrada e ocorre a ação da força de gravidade. Ou seja, o centro de massa é o ponto no qual toda a massa ou peso do corpo podem ser considerados concentrados. O centro de massa é um ponto imaginário no espaço, variando o seu local conforme o indivíduo se movimenta. Sempre que uma força externa resultante atuar em um corpo, a aceleração causada por essa força resultante será a aceleração do centro de massa do corpo. O centro de massa é o ponto de equilíbrio. No corpo humano, cada segmento corporal tem o seu centro de massa e, ainda, o corpo como um todo também tem o seu centro de massa (HAMMIL; KNUTZEN, 2000; WATKINS, 2001; MCGINNIS, 2002; CAMPOS, 2006; LIMA; PINTO, 2012; HALL, 2015). O centro de massa com o indivíduo em pé em posição anatômica fica na linha média, levemente à frente das articulações dos tornozelos e aproximada- mente entre 5 cm abaixo do umbigo e 15 cm acima do púbis. Veja a Figura 5. Figura 5. O centro de massa de um indivíduo em pé em uma visão frontal e outra superior. Fonte: Adaptada de Centro... ([201-?]). C.G. C.G. Sacro Conforme o indivíduo realiza algum movimento, o centro de massa irá se alterar para frente, para trás, para cima ou para baixo. O centro de massa é refletido diretamente na estabilidade de um indivíduo. Indivíduos com centro 11Análise mecânica dos exercícios de força de massa mais alto tendem a ser mais instáveis em comparação a indivíduos mais baixos com centros de massa mais próximos ao chão. Todas essas variáveis descritas anteriormente, como alavancas, torques, vantagens mecânicas, entre outras, acabam influenciando diretamente a me- cânica externa dos exercícios de força. 2 Exigências musculares decorrentes da mecânica externa dos exercícios de força Uma prática muito utilizada com alunos iniciantes é a recomendação da uti- lização de aparelhos, pois estes, quando comparados a pesos guiados e pesos livres, têm como característica uma maior segurança em relação a chances de acidentes e lesões. Essa segurança ocorre pela indução do movimento, dessa maneira, movimentos desnecessários ou incorretos têm a chance de ser minimizados com a utilização de aparelhos. Alguns acidentes que possam ocorrer com a montagem de pesos livres são descartados com os aparelhos. Já para indivíduos que têm maior experiência com a rotina de treinamentos, é recomendada a utilização de exercícios de pesos livres, pois desenvolvem maior coordenação muscular e força. Os exercícios de pesos livres são realizados com barras, halteres, anilhas, entre outros, que podem ser movimentados em qualquer direção ou ainda de qualquer maneira, sem a necessidade de seguir um padrão de movimento determinado. A análise do torque nesses casos se dá de maneira mais simpli- ficada, já que, após identificar as forças que atuam nesse sistema (geralmente peso do segmento e peso do implemento utilizado), é necessário identificar que as forças externas ocorrem sempre na vertical, ou seja, perpendicular ao solo. Ainda, são exercícios que apresentam por característica uma grande instabilidade em razão de grandes alterações no centro de massa (HAMMIL; KNUTZEN, 2000; WATKINS, 2001; MCGINNIS, 2002; CAMPOS, 2006; LIMA; PINTO, 2012; HALL, 2015; LIMA et al., 2017). Esses equipamentos apresentam uma análise das forças externas mais com- plexas. Muitas estruturas tendem a afetar a análise, como o tamanho da polia, o ponto de aplicação da força, a direção do cabo, a lubrificação do aparelho, entre outras (HAMMIL; KNUTZEN, 2000; WATKINS, 2001; MCGINNIS, 2002; CAMPOS, 2006; LIMA; PINTO, 2012; HALL, 2015; LIMA et al., 2017). Análise mecânica dos exercícios de força12 A análise dos exercícios realizados em máquina de musculação são com- plexas e não podem ser utilizadas como padrão ou referência, já que a análise mecânica de uma máquina não pode ser utilizada em outra. Os exercícios realizados em cabos guiados têm como característica o deslocamento por uma haste ou cabo fixo. Essa direção de movimento causa maior estabilidade ao aluno em comparação aos pesos livres. As forças ex- ternas ocorrem na vertical, diagonal ou horizontal, dependendo da mecânica do equipamento. Tanto os equipamentos de musculação como os exercícios em cabos guiados sofrem influência das polias que são responsáveis pela transmissão das forças realizadas. As polias fixas/concêntricas tendem a não alterar a carga, apenas transferir o peso do equipamento, sem facilitar a realização dos movimentos. Já as polias móveis tendem a diminuir a carga do exercício pela metade. Ao realizar um exercício em um equipamento desses, é facilmente observado que as roldanas se movimentam junto com a carga. Outra característica das roldanas móveis é que elas dividem a carga em dois cabos, sendo que apenas um deles chega até o participante, que, nesse caso, realiza o movimento com apenas 50% da carga selecionada no exercício. Por fim, as polias excêntricas, ou de raio variável (CAMs), têm formato irregular, isto é, elas não são perfeitamente circulares e, por isso, alteram a distância entre a linha de ação da força e o eixo da roldana, manipulando assim a distância perpendicular do torque imposto pela máquina. Dessa forma o torque gerado pelas forças externas ao longo do movimento tende a ser variado. Ainda, a desvantagem mecânica nessas máquinas tende a ser menor, pois essas modificações compensam as alterações na capacidade de produção de torque muscular, seja por uma distância perpendicular potente pequena ou pela ineficiência dos músculos em gerar força em diferentes comprimentos. Acesse o link a seguir e leia o artigo intitulado Influência da utilização de pesos livres e máquinas no desenvolvimento da força máxima de membros inferiores, que aborda detalhes sobre a comparação dos diferentes estímulos dados a um mesmo padrão de movimento. https://qrgo.page.link/AZKZE 13Análise mecânica dos exercícios de força A partir das definições abordadas, é possível fazer a análise mecânica de diferentes exercícios e, inclusive, realizar a comparação entre esses diferentes exercícios. Confira a seguir uma comparação entre os exercícios para flexores de cotovelo rosca direta e rosca scott. Para a comparação, a amplitude de movimento de ambos os exercícios será exatamente a mesma, iniciando com o cotovelo estendido (0° de flexão) até a flexão máxima (nesse caso, 130° de flexão, equivalente a 50° de ângulo interno da articulação do cotovelo). O exercício será executado com veloci- dade considerada lenta e, portanto, o torque de resistência é igual ao torque de potência. Em ambos os exercícios, serão utilizadas as mesmas definições e os segmentos analisados serão o antebraço e a mão, considerados como um corpo único e rígido, durante todo o exercício. O eixo de rotação principal será a articulação do cotovelo. As principais forças envolvidas são: o peso do halter, que atua verticalmente na mão do executante; o peso do antebraço e da mão, que atua aproximadamente no meio do segmento (centro de massa); e a força muscular dos flexores, que atua na região proximal do segmento. Na posição inicial do exercício rosca direta, o braço está na vertical e as forças peso do halter e peso do segmento estarão alinhadas com o eixo articular, ocasionando uma distância perpendicular igual a zero e, consequentemente, não exercendo nenhum torque. Imediatamente após o início do exercício, ambas as forças começam a ter distância perpendicular diferente de zero e passam a fazer um torque que gera tendência de extensão do cotovelo. À medida que o cotovelo é flexionado, a linha de ação das forças peso do halter e peso do segmento se afasta do eixo de rotação, aumentando a distância perpendicularde ambas as forças, fazendo com que o torque de resistência aumente, aumentando, consequentemente, o torque de potência. Com o antebraço na horizontal (a 90° de flexão), a distância perpendicular de ambas as forças será máxima (pois estará perpendicular ao segmento) e o torque de resistência será máximo, bem como o torque de muscular. Continuando o exercício (aumentando o ângulo de flexão, o que equivale a diminuir o ângulo interno do cotovelo), as linhas de ação de força tanto do halter quanto do peso do segmento passam a se aproximar do eixo de rotação. Desta forma, a distância perpendicular dessas forças diminuirá, diminuindo o torque de resistência e, consequentemente, o torque de potência. Dessa forma, no exercício rosca direta com halteres na posição ortostática, o torque de resistência aumenta de zero (posição inicial) ao máximo (posição intermediária – 90° de flexão), e a partir desse ponto reduz, até o final do exercício, mas não chega a ser nulo no final, pois as linhas de ação de força não chegam a ficar sobre o eixo. O torque de potência terá o mesmo comportamento. Análise mecânica dos exercícios de força14 Já o exercício de rosca scott é realizado sobre o banco, que fornece um apoio adicional para o peito (apoio vertical) e para o braço (apoio inclinado), fazendo com que o ombro fique em uma posição de flexão. Na posição inicial (cotovelo completamente estendido e braço apoiado sobre o banco scott), as forças peso do halter e peso do segmento já estarão fazendo um torque extensor. À medida que o cotovelo é flexionado, a linha de ação das forças peso do halter e peso do segmento rapidamente chegam à máxima distân- cia do eixo (quando o antebraço fica na horizontal). O torque de resistência nessa amplitude será máximo, assim como o torque de potência. O ângulo da articulação que corresponde ao torque máximo dependerá da inclinação do banco scott. Por exemplo, caso o banco tenha uma inclinação de 50° com a vertical, quando o cotovelo chegar aos 40° de flexão (140° de ângulo interno), o antebraço estará na horizontal, atingindo o torque máximo nos primeiros graus de flexão. Quanto mais horizontalizado for o apoio do banco, mais cedo o antebraço ficará na horizontal. Continuando o exercício, depois de o antebraço passar pela horizontal e o cotovelo continuar flexionando, as linhas de ação de força do haltere e do peso do segmento se aproximam do eixo de rotação, diminuindo a distância perpendicular de ambas as forças, fazendo com que o torque de resistência diminua, diminuindo, consequentemente, o torque de potência. Caso o antebraço chegue na vertical (flexão máxima de cotovelo), a distância perpendicular de ambas as forças será nula (pois a linha de ação das forças estará apontada para o eixo) e o torque de resistência será nulo, bem como o torque de potência. Dessa forma, no exercício de flexão de cotovelo executado com o auxílio do banco scott, o torque de resistência inicia em um valor já próximo do máximo, chegando ao valor máximo no início do exercício (posição em que o antebraço fica na horizontal), depois reduz até o final do exercício, podendo chegar até zero (caso o antebraço fique na posição vertical), assim como o torque de potência. Em resumo, no exercício rosca direta, partimos de um torque resistente nulo e temos um aumento do torque resistente até 90° de flexão de cotovelo. Após essa flexão, temos uma diminuição do torque resistente. Já na rosca scott, logo no início do movimento, temos um grande torque resistente, que aumentará até que o antebraço fique paralelo ao solo (logo após o início do movimento). a partir desse momento, temos uma diminuição da distância perpendicular das forças peso do segmento e peso do halter. Essas distâncias chegam próximas de zero no final da amplitude, fazendo com que o torque de resistência fique também próximo a zero. 15Análise mecânica dos exercícios de força No link a seguir, você poderá ver os conceitos de torque e alavancas na prática na sala de musculação. https://qrgo.page.link/dz8sk Neste capítulo, pudemos observar sobre as forças que agem no corpo durante os movimentos. Para que possamos mover as diferentes articulações nos diferentes tipos de movimentos, nas diferentes alavancas, devemos gerar torques, sendo que esses torques, para um mesmo movimento, podem ter maior ou menor sobrecarga, apenas escolhendo se esse gesto será realizado com peso livre ou com aparelho, por exemplo. CAMPOS, M. A. Biomecânica da musculação. 3. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2006. CENTRO de gravidade no corpo humano. [S. l., 201-?]. Disponível em: http://underpop. online.fr/b/biomecanica-da-musculacao/centro-de-gravidade-no-corpo-humano. htm. Acesso em: 12 fev. 2020. CINESIOLOGIA. [S. l., 201-?]. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile. php/3959896/mod_resource/content/1/2_cinesiologia_forca_torque_alavancas. pdf. Acesso em: 12 fev. 2020. COSTA, E. Alavancas. In: BIOMECÂNICA. [S. l.], 2016. Disponível em: http://biomfisio. blogspot.com/2016/06/alavancas.html. Acesso em: 12 fev. 2020. HALL, S. J. Biomecânica básica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. HAMMIL, J.; KNUTZEN, K. M. Bases biomecânicas do movimento humano. Barueri, SP: Manole, 2000. LIMA, C. S.; PINTO, R. S. Cinesiologia e musculação. Porto Alegre: Artmed, 2012. LIMA, F. R. et al. Influência da utilização de pesos livres e máquinas no desenvolvimento da força máxima de membros inferiores. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, v. 11, n. 69, p. 676–683, 2017. Disponível em: http://www.rbpfex.com.br/index. php/rbpfex/article/view/1246/969. Acesso em: 12 fev. 2020. MCGINNIS, P. M. Biomecânica do esporte e exercício. Porto Alegre: Artmed, 2002. Análise mecânica dos exercícios de força16 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. PEARSON, R. Plateau no more! 3 ways to keep your workouts working for you!. [S. l.], 2019. Disponível em: https://freeformfitness.ca/plateau-no-more-3-ways-to-keep-your- -workouts-working-for-you/. Acesso em: 12 fev. 2020. TEIXEIRA, M. M. Alavancas. In: ALUNOS online. [S. l.], 2020. Disponível em: https://alu- nosonline.uol.com.br/fisica/alavancas.html. Acesso em: 12 fev. 2020. WATKINS, J. Estrutura e função do sistema musculoesquelético. Porto Alegre: Artmed, 2001. 17Análise mecânica dos exercícios de força
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