Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA (CAMPUS SÃO CARLOS) Curso Formação Inicial e Continuada em Responsabilidade Socioambiental Professora: Larissa Pinheiro de Melo APOSTILA 1 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1. CONTEXTO HISTÓRICO: A partir da década de 1950, verificou-se um grande crescimento econômico em quase todo o mundo. A atividade industrial foi impulsionada por vários fatores, dentre eles o crescimento populacional e a consequente ampliação do número de consumidores de produtos industrializados. Essa expansão aumentou significativamente a poluição atmosférica e o uso dos recursos naturais da Terra (INPE, 2017). A Revolução Industrial trouxe novas formas de produção que desencadearam um aumento significativo das práticas de consumo e, como consequência, a sociedade passou a fazer uso crescente (e descontrolado) dos recursos naturais. Á excessiva demanda por matéria-prima e territórios e pelas chamadas externalidades dos processos produtivos integrou a sociedade. A partir de então, o meio ambiente começou a dar sinais de que as agressões sofridas poderiam trazer resultados graves, como catástrofes imprevisíveis, incontroláveis e de dimensões extensas. Passaram a surgir daí preocupações ambientais relacionadas à qualidade de vida e à sobrevivência do planeta (LAMARE e SAMPAIO, 2021). As primeiras questões ambientais foram identificadas pelos países desenvolvidos, protagonistas da revolução vivenciada pela indústria. Para debater o assunto, que claramente não respeitava fronteiras, tais países decidiram criar o Clube de Roma, cujo objetivo era tratar de assuntos relacionados à política e à economia (LAMARE e SAMPAIO, 2021). A partir disto, entraram em cena os marcos e as conferências ambientais: 2. MARCOS AMBIENTAIS E CONFERÊNCIAS: CLUBE DE ROMA O grupo foi fundado em 1966, e um dos principais temas discutidos foram os impactos causados pelas atividades industriais ao meio ambiente. Problemas que se apresentavam como prováveis barreiras para um futuro saudável, como energia, poluição, saneamento e crescimento populacional, foram intensamente debatidos. Estudos apresentados à época chegaram a concluir que o planeta não suportaria aquele ritmo intenso de utilização dos recursos naturais (LAMARE e SAMPAIO, 2021). A evolução também vivenciada pela ciência permitiu que dados concretos sobre o avanço econômico fossem apurados e que hipóteses problemáticas, relacionadas ao desgaste da camada de ozônio e ao efeito estufa, fossem confirmadas. Foi aí que, pela primeira vez, a comunidade internacional reconheceu que o desenvolvimento econômico deveria, necessariamente, estar aliado a práticas de conservação ambiental. Desse modo, reconheceu-se a urgente demanda por um desenvolvimento que respeitasse o meio ambiente – o que, mais tarde, ficou conhecido como desenvolvimento sustentável. CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO - (CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO) Em 1972, embalada por essa preocupação de nível internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU) organizou sua primeira reunião com os chefes de Estado para tratar dos problemas relacionados à degradação ambiental. A reunião, realizada em 1972 em Estocolmo, ficou conhecida como a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano ou, simplesmente, Conferência de Estocolmo. Na oportunidade, ficou muito clara a existência de um conflito entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento: o primeiro grupo, que já tinha avançado em termos econômicos, passou a defender o desenvolvimento zero; o segundo grupo, que ainda dependeria de um forte movimento de industrialização para enriquecer e melhorar a vida de suas populações, defendia o desenvolvimento a qualquer custo (LAMARE e SAMPAIO, 2021). Apesar das divergências e da dificuldade de encontrar um consenso entre os países, durante a Conferência de Estocolmo, foi elaborada a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. A referida declaração reconheceu, pela primeira vez, o meio ambiente como um direito humano necessário a uma vida com dignidade (LAMARE e SAMPAIO, 2021). A Declaração inovou também ao prever uma série de princípios que deveriam guiar o desenvolvimento econômico e social de todos os países signatários. A Conferência de Estocolmo inaugurou, com isso, um novo pensamento em nível mundial e exerceu inegável pioneirismo em inserir a problemática ambiental entre as prioridades dos governos participantes (LAMARE e SAMPAIO, 2021). Com natureza de soft law, a Declaração representava apenas diretrizes e sua observância encontrava limite na soberania dos países. Não obstante, o documento foi responsável por influenciar a edição de diversas normas internas que impunham obrigações ambientais ao desenvolvimento econômico. O Brasil, que estava inserido no grupo de países em desenvolvimento à época, inicialmente, demonstrou resistência à adoção de regras que poderiam frear o crescimento econômico. No entanto, com a intensificação dos debates relacionados à proteção do meio ambiente e com a crescente pressão internacional, o País passou a internalizar, paulatinamente, os princípios já consolidados em âmbito internacional e a adotar regras internas de proteção ambiental. Foi nesse contexto que, em 1981, o Brasil instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, criada pela Lei Federal 6.938/1981. RELATÓRIO DE BRUNDTLAND (“NOSSO FUTUTO COMUM”) O período entre 1983 e 1997 e é caracterizado por uma crescente internacionalização do discurso ambiental, com repercussões na legislação e na criação de ministérios do ambiente em todos os países desenvolvidos. Em 1983, as Nações Unidas criaram a Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento. Em 1987, essa Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento publicou um relatório inovador - “Nosso Futuro Comum” – que trouxe a público o conceito de desenvolvimento sustentável, definida como “a competência da humanidade em garantir que as necessidades do presente sejam atendidas sem comprometer a qualidade de vida das gerações futuras”. O documento ficou conhecido também como Relatório Brundtland, em referência à Gro Harlem Brundtland, ex-primeira ministra norueguesa e médica que chefiou a comissão da ONU responsável pelo trabalho e também apontou para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo, trazendo à tona mais uma vez a necessidade de uma nova relação “ser humano-meio ambiente”. Ao mesmo tempo, esse modelo não sugere a estagnação do crescimento econômico, mas sim essa conciliação com as questões ambientais e sociais. CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO (CNUMAD/RIO 92/ECO 92). Os debates na comunidade internacional continuaram. Países subdesenvolvidos investiram em seu crescimento econômico, e a questão ambiental foi se tornando cada vez mais sensível, tornando-se palco para inúmeras discussões. Em 1992, a ONU organizou uma nova conferência, dessa vez, no Rio de Janeiro, que ficou conhecida como Rio 92 (LAMARE e SAMPAIO, 2021). A CNUMAD é mais conhecida como Rio 92, referência à cidade que a abrigou, e https://pt.wikipedia.org/wiki/Relat%C3%B3rio_Brundtland https://pt.wikipedia.org/wiki/Gro_Harlem_Brundtland como “Cúpula da Terra” por ter mediado acordos entre os Chefes de Estado presentes. Os 179 países participantes da Rio 92 acordaram e assinaram a Agenda 21 Global, um programa de ação baseado num documento de 40 capítulos, que constitui a mais abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, denominado “desenvolvimento sustentável”. O termo “Agenda 21” foi usado no sentido de intenções, desejo de mudança para esse novo modelo de desenvolvimento para o século XXI.A Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. As áreas de ação incluem: proteger a atmosfera; combater o desmatamento, a perda de solo e a desertificação; prevenir a poluição da água e do ar; deter a destruição das populações de peixes e promover uma gestão segura dos resíduos tóxicos. A Agenda 21 foi além das questões ambientais para abordar os padrões de desenvolvimento que causam danos ao meio ambiente. Incluiu também a pobreza e a dívida externa dos países em desenvolvimento; padrões insustentáveis de produção e consumo; pressões demográficas e a estrutura da economia internacional. O programa também recomendou meios de fortalecer o papel desempenhado pelos grandes grupos – mulheres, organizações sindicais, agricultores, crianças e jovens, povos indígenas, comunidade científica, autoridades locais, empresas, indústrias e ONGs – para alcançar o desenvolvimento sustentável. Na oportunidade, foi também aprovada a Declaração do Rio de Janeiro, que reiterou vários dos princípios da Declaração de Estocolmo, aperfeiçoou outros e ainda criou alguns não previstos anteriormente. Naquele momento, a divergência entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento era menos expressiva, e já eram inúmeros os ordenamentos jurídicos domésticos que contemplavam a tutela do meio ambiente (LAMARE e SAMPAIO, 2021). 3. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL O ponto de partida para o desenvolvimento sustentável consistiu na necessidade de integrar as questões ambientais na política económica (Dresner, 2002). Nas décadas de 60 e 70, a política internacional do ambiente iniciou passos em defesa de um modelo de desenvolvimento diferente do habitual, na qual, as preocupações e políticas ambientais passaram a estar inseridas neste contexto. Para a época eram necessárias não apenas medidas que visem poupar recursos naturais, amplamente utilizados desde aquela época, mas também uma mudança nos padrões de consumo da população. Em consequência dos problemas ambientais enfrentados resultantes da demanda do desenvolvimento, pensou-se na criação de um novo desenvolvimento calcado numa base social, econômica, cultural e ambiental mais sustentável. A construção de um novo modelo desenvolvimentista carregado de princípios de sustentabilidade tornou- se um desafio (MATTOS, 2008). A ONU conceitua o Desenvolvimento Sustentável da seguinte forma: É o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Esse conceito implica possibilitar às pessoas, agora e no futuro, atingir um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais. Em resumo, é o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. A Word Wide Fund for Nature (WWF) retrata que para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representou uma nova forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta o meio ambiente, ou seja, procura harmonizar os objetivos de desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e a conservação ambiental. Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. Atividades econômicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos naturais dos países. Desses recursos depende não só a existência humana e a diversidade biológica, como o próprio crescimento econômico. O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: Em agosto de 2015 foram concluídas as negociações que culminaram na adoção, em setembro, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), por ocasião da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Processo iniciado em 2013, seguindo mandato emanado da Conferência Rio+20, os ODS deverão orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos próximos quinze anos, sucedendo e atualizando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Os ODS representam um plano de ação global para eliminar a pobreza extrema e a fome, oferecer educação de qualidade ao longo da vida para todos, proteger o planeta e promover sociedades pacíficas e inclusivas até 2030. Chegou-se a um acordo que contempla 17 Objetivos e 169 metas, envolvendo temáticas diversificadas, como erradicação da pobreza, segurança alimentar e agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, água e saneamento, energia, crescimento econômico sustentável, infraestrutura, redução das desigualdades, cidades sustentáveis, padrões sustentáveis de consumo e de produção, mudança do clima, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas terrestres, sociedades pacíficas, justas e inclusivas e meios de implementação. Brasil e o Desenvolvimento Sustentável: A discussão sobre o desenvolvimento sustentável realizada tem grande relevância para a formação de políticas nacionais e conta com o engajamento da sociedade civil. O Brasil desempenha papel de crescente importância no tema, tanto pelos recentes avanços domésticos nos aspectos ambiental, social e econômico quanto por sua consistente atuação nos foros internacionais. O Brasil sediou as duas conferências internacionais sobre sustentabilidade mais importantes da história: a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) e a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). A Rio 92 consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável como a promoção simultânea e equilibrada da proteção ambiental, da inclusão social e do crescimento econômico. Nessa conferência, o Brasil assumiu postura ambiciosa nas discussões e teve papel determinante na aprovação de documentos cruciais, como a Agenda 21, a Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento, a Declaração de Princípios sobre Florestas e as Convenções sobre Biodiversidade, sobre Mudança Climática e sobre Desertificação. A Rio+20 contribuiu para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. O objetivo da Conferência foi a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes. A Conferência teve como tema principal a discussão da estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável e consolidou, de forma integrada e indissociável, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Componentes do desenvolvimento sustentável O campo do desenvolvimento sustentável pode ser dividido em quatro componentes: a sustentabilidade ambiental, a sustentabilidade econômica, a sustentabilidade sociopolítica e a sustentabilidade cultural. A sustentabilidade ambiental consiste na manutenção das funções e componentes dos ecossistemas para assegurar que continuem viáveis – capazes de se autorreproduzir e se adaptar a alterações, para manter a sua variedade biológica. É também a capacidade que o ambiente natural tem de manteras condições de vida para as pessoas e para os outros seres vivos, tendo em conta a habitabilidade, a beleza do ambiente e a sua função como fonte de energias renováveis. A sustentabilidade econômica é um conjunto de medidas e políticas que visam a incorporação de preocupações e conceitos ambientais e sociais. O lucro passa a ser também medido através da perspectiva social e ambiental, o que leva à otimização do uso de recursos limitados e à gestão de tecnologias de poupança de materiais e energia. A exploração sustentável dos recursos evita o seu esgotamento. A sustentabilidade sociopolítica é orientada para o desenvolvimento humano, a estabilidade das instituições públicas e culturais, bem como a redução de conflitos sociais. É um veículo de humanização da economia, e, ao mesmo tempo, pretende desenvolver o tecido social nos seus componentes humanos e culturais. Vê o ser humano não como objeto, mas sim como objetivo do desenvolvimento. Ele participa na formação de políticas que o afetam, decide, controla e executa decisões. A sustentabilidade cultural leva em consideração como os povos encaram os seus recursos naturais, e sobretudo como são construídas e tratadas as relações com outros povos a curto e longo prazo, com vista à criação de um mundo mais sustentável a todos os níveis sociais. A integração das especificidades culturais na concepção, medição e prática do desenvolvimento https://pt.wikipedia.org/wiki/Sustentabilidade_ambiental https://pt.wikipedia.org/wiki/Sustentabilidade_econ%C3%B4mica https://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimento_sustent%C3%A1vel#Sustentabilidade_s.C3.B3cio-politica https://pt.wikipedia.org/wiki/Sustentabilidade_Cultural https://oeco.org.br/dicionario-ambiental/28588-o-que-e-desenvolvimento-sustentavel/dicionario-ambiental/28516-o-que-e-um-ecossistema-e-um-bioma sustentável é fundamental, uma vez que assegura a participação da população local nos esforços de desenvolvimento. REFERÊNCIAS: DE LAMARE, J. e SAMPAIO, R.S. Direito Ambiental. Rio de Janeiro. Fundação Getúlio Vargas, 2021 MATTOS, Eduardo da Silva. Desenvolvimento sustentável: uma análise histórica. A Vitrine da Conjuntura, Curitiba, v.1, n.9, dezembro 2008. Word Wide Fund for nature. www.wwf.org.br. Acessado em fevereiro, 2022; http://www.wwf.org.br/
Compartilhar