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DOMINGOS DOS SANTOS DA SILVA BENGO https://www.cefal.net FILOSOFIA E LITERATURA Uma Relação Transacional Luiz Rohden & Cecília Pires RESENHA CRÍTICA Luanda (AO), Setembro de 2016 2 American World University United States of America / Distance Learning Latin American Division Dados de Identificação do aluno e da obra Nível Graduação Tradicional Curso Filosofia Disciplina Filosofia Comparada Aluno Domingos dos Santos S. Bengo Matrícula LAD 4316 Título do Livro Filosofia e Literatura – Uma Relação Transacional Autor (a) Luiz Rohden & Cecília Pires Editora Unijuí: Rio Grande do Sul, 2009 – 1ª edição. Mini-Curriculum Luiz Rohden, é professor do curso e do Programa de Pós- Graduação em Filosofia – Unisinos. Doutor em Filosofia pela PUCTS. Realizou estágio de Pós-Doutoramento em Boston (USA). É autor dos livros O poder da linguagem: “Arte Retórica” de Aristóteles; Hermenêutica filosófica: entre a linguagem da experiência e a experiência da linguagem, e; Interfaces da Hermenêutica. Cecília Pires, Doutora em Filosofia Social pela UFRJ, é professora do curso de Graduação e do Programa de Pós- graduação em Filosofia/Unisinos. Membro do GT Ética Cidadania/Anpof. Pesquisa na área de Filosofia Social e Política. Organizou o livro Vozes Silenciadas e publicou Ética da Necessidade e Outros Desafios. É autora do livro de poesia Olhares Poéticos. Tipo de Obra Resenhada ------- Didático-Pedagógica Data da Produção 23/08/2016 – 12/09/2016 Data da Recepção ___/___/___ Luanda (AO), Setembro de 2016 3 INTRODUÇÃO Filosofia e literatura nutrem uma relação de produtividade recíproca. Embora essa não seja a única possibilidade de relacionamento, como sugere o texto resenhado, ela é, sem maior equívoco, a que mais se adéqua aos objectivos da filosofia. Desse prisma, entende-se que uma serve-se da outra para atingir seus fins na medida em que se completam mutuamente. Isto é, se por um lado a literatura permite ao filósofo expressar seu pensamento sem, contudo, sujeitar-se a graves consequências adversas, como é o caso de Dante, por exemplo, com a sua Divina Comédia, a filosofia permite a literatura repensar-se, ser repensada, e, portanto, superar-se. Esta última ocorre pelo comprometimento que a filosofia tem com a linguagem. Sendo a literatura baseada na linguagem escrita, narrada, o rigor filosófico empreitado no campo da linguagem aflora novos sentidos literários. Esta relação é tão intima que não poucas vezes não se revela errado confundir-se esses dois campos do pensamento. No mais, a filosofia constitui um gênero literário. No mais a literatura constitui uma doutrina filosófica. O texto que nos propomos resenhar discorre exatamente sobre essa relação transacional entre Filosofia e Literatura. Rohden & Pires (2009) apresentam uma relação entre essas duas áreas do saber “que não é de dominação nem de submissão, porém de entrelaçamento, de fusão, de procriação, de proliferação de sentidos”. Este livro, dividido em três partes: 1) Relações entre filosofia e literatura; 2) Relações entre filósofos e literatura; 3) O “caso” de João Guimarães Rosa – resulta do “VI colóquio: Filosofia e Literatura” realizado em 2003, na Universidade do Vale do Rio de Sinos. A primeira parte apresenta os textos de Benedito Nunes, Donaldo Schuller e Jayme Paviani, refletindo sobre as relações entre Filosofia e Literatura. A segunda parte 4 inclui os textos de Hans-Georg Flickinger, Francimar Duarte Arruda e Cecília Pires, abordando o modo como três filósofos – no caso, Adorno, Camus e Unamuno – se relacionaram com a Literatura. A última parte procura ver o caso concreto dessa relação em João Guimarães Rosa. Com suas idiossincrasias, enquanto áreas próprias do conhecimento, elas possibilitam um encontro criativo e criador entre filósofos e literatos, não apenas no âmbito dos temas que comungam – a linguagem, o tempo, o sentido, a estética, a morte, o amor, o ódio, a liberdade – mas, também, no modo de expressá-los, posto que cada leitor pode neles projetar-se, refletir-se e reconfigurar-se em sua humanidade. Este livro não é património exclusivo de filósofos e literatos. Todos aqueles que queiram aventurar-se no perigoso mundo do saber pensar, encontrarão aqui refúgios e artilharia pesada para poderem projetar-se e projetar seu pensamento num mundo que combate estoicamente a originalidade e a pureza cognitivas. OBJECTIVOS • Demonstrar a relação existente entre a Filosofia e a Literatura 5 ENFOQUES • ENFOQUE PRINCIPAL Enfoque Didático-pedagógico O contexto da elaboração dessa obra e a metodologia adotada espelha muito bem a abordagem principal do texto resenhado. Os colóquios são, em regra, cenários ideais para o confronto de ideias no sentido de se parir outras novas ou de se esclarecer uma dúvida. Este sentido do termo, emprestado do Dicionário da Apple (2015), traduz muito bem o sentido iminentemente didático-pedagógico da obra resenhada. Para os organizadores do texto apresentado fica claro a realidade dos limites, ainda que tênues, existentes entre Filosofia e Literatura. Ressalta-se, contudo, que não obstante esta evidência os autores não se limitam a buscar os pontos de convergência entre um e outro. Eles tratam de acentuar também as suas respectivas fronteiras. Lê-se no texto organizado por Rohden & Pires (2009, p. 11) “no livro apresentado, procuramos aprofundar, por um lado, a linha divisória entre essas áreas do saber e, por outro, explicamos os fios que tecem a unidade indissociável entre ambas”. Só isso explica a preocupação dos organizadores da obra apresentada em ajudar a esculpir uma nova geração de filósofos e literatos, cujo termo mais apropriado para os descrever parece suscitar ainda algumas controvérsias. Ou melhor, as produções dessas gerações, tal como os diálogos de Platão devem ser catalogados de filosófico- literários ou literário-filosóficos!? A resposta para essa pergunta não constitui preocupação da obra em recensão – afinal a filosofia está mais preocupada em formular perguntas do que respondê-las. Tal é, analogamente, a pretensão da literatura. Problematizar o indubitável. 6 ENFOQUES SECUNDÁRIOS • Enfoque Sócio-ontológico No capítulo sobre Filosofia e Revolução Literária, apresentado em colóquio por Donald Schuller, é apresentada uma fábula sobre Aquiles e a Tartaruga, narrada por Zenão de Eléia no v século antes de Cristo, que retrata uma competição entre ambos, na qual, conforme as regras a observar, revela-se impossível a Aquiles, proverbialmente veloz, vencer a tartaruga, símbolo da lentidão. Esta narrativa na interpretação do autor (SCHLLER, 2009, p. 37) “representa um golpe no orgulho dos heróis homéricos, homens plenos, seguros de si, semelhantes aos deuses, protagonistas de feitos espantosos. Reduzi-los à penúria, irremediavelmente privados dos objetivos, é humilhante”. Esse exercício só se consegue mediante a literatura. Mesmo a filosofia, com o seu pensamento crítico, só consegue afastar-se da realidade para poder contemplá-la em perspectiva, e assim parir novas possibilidades de ser e estar, dentro da especulação literária, pois, a imaginação é parte do domínio artístico e não do racional. Entretanto, Zenão não foi o primeiro nem o último a aventurar-se nesse mar das transfigurações quer do real quer do imaginário. Se Zenão fere uma imagem heroica, Foucault, ao proclamar a morte do homem, não é o primeiro homicida. Destarte, “outros houve, outros haverá. Tal é o caso de Heráclito, que recomendava tratar cadáveres como excremento, úteis somente para adubar a terra (...)”. Essas ousadias forçamum repensar da sociedade e do homem. Surgem novas formas de ser e agir conosco e com o outro. Uma vez mais essa jornada ontológica só se consegue através do casamento entre filosofia e literatura. Uma sem a outra é estéril para esta tarefa. Heráclito que, ao parafrasear o oráculo de Delfos, lançava o homem na busca de si mesmo. Os grandes pensadores que a história nos legou; Parmênides, Platão, Agostinho, Descartes e Galileu, dentre outros, cada um com o seu gesto, influíram de uma forma ou de outra sobre a sociedade e condição humanas. 7 PONTOS POSITIVOS DA OBRA A disposição dos tópicos apresentada pelos organizadores reserva a cada texto autonomia e independência. Isso garante ao leitor uma leitura ajustada ao seu ritmo de leitura e campos de interesse, pois não existe no texto uma exposição linear e progressiva e sim contraposição de ideias que expressam diferentes ângulos da relação entre Filosofia e Literatura. Outro ponto interessante da obra em abordagem, é a capacidade que o texto tem de persuadir o leitor tanto para a leitura como para a escrita. O caso de João Guimarães Rosa, por exemplo, incita a leitura e treina a escrita de forma nada exaustiva. Sobre questão hermenêutica da (re) leitura de um texto, no mais, é-nos convidado a assumir um compromisso mais comprometido com o texto, na medida em que “lendo e relendo o texto da estória, relermo-nos e nos abrirmos à disposição de acolher o texto da vida de cada outro ser humano” (SILVA, 2009, p. 123). PONTOS NEGATIVOS DA OBRA Importa, contudo, considerar que, face ao universo vastíssimo de filósofos e literatos que contribuíram largamente para a construção de um entrelaçamento cada vez mais produtivo entre Filosofia e Literatura, o autor selecionou os que selecionou. Porque João Guimarães Rosa e não Fernando Pessoa, Pepetela ou Saramago; porque Nietzsche é abordado descomprometidamente!? Porque não Aristóteles. Esses mistérios não nos são dados a conhecer – em ponto algum da obra o autor faz referência ao seu critério de seleção. Só isso pôde constranger-nos. 8 CONCLUSÃO Um olhar mais atento à origem da Filosofia nos revela que lá estavam e encontravam-se articulados conjuntamente metáforas, aforismos, poemas, diálogos, o que não minimizou a força do exercício filosófico, nem impossibilitou sua elaboração sistemática com carácter interdisciplinar. No mais, sobre a alma humana Rohden & Pires (2009) não há como não olhar e dizer senão deste modo. Nessa ótica, o confronto crítico entre a Filosofia e a Literatura é gerado incessante de sentidos, seja para os escritores, seja para os leitores. Enfim, tanto as obras literárias quanto as filosóficas são como que variações imaginativas acerca do ser, do real, da vida humana. Destarte, um filósofo pode empregar gêneros literários, como o romance, o conto, o teatro, para expressar idéias filosóficas – da mesma sorte que a literatura permite ao escritor articular num só escrito todos os saberes. Um romance pode apresentar uma visão económica, social, política, religiosa de um povo, de uma cultura. Aqui reside uma maior representação da relação transacional existente entre a Filosofia e a Literatura, levando, assim, o texto resenhado a plenitude dos objectivos preconizados: Demonstrar a relação existente entre a Filosofia e a Literatura. Embora de modo próximo ao acima exposto, porém num outro nível reflexivo, a Filosofia questiona a possibilidade de conhecer a realidade, investiga as relações entre a unidade e a multiplicidade. Sintetizando, a Filosofia realiza, no plano ontológico, o que a Literatura faz no plano ôntico do vivido e da experiência. Os organizadores do texto resenhado bem como os outros mais autores envolvidos diretos o indiretamente nessa empreitada coloquial, abrem uma nova possibilidade de relacionamento entre filósofos e literatos. 9 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO Nome do aluno: Domingos dos Santos S. Bengo LAD 4316 Correio electrónico: domingosbengo90@gmail.com https://www.cefal.net Domingos dos Santos da Silva Bengo Domingos Bengo
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