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Algumas Pérolas “Nenhuma produção de ordem superior, nenhuma invenção jamais procedeu do homem, mas emanou de uma fonte ultraterrena. Portanto, o homem deveria considerá-la um dom inspirado do Alto e aceitá-la com gratidão e veneração. Nestas circunstâncias, o homem é somente o instrumento de uma Potência Su- perior, semelhante a um vaso julgado digno de receber um conteúdo divino”. Goethe “O gênio, porque sabe encontrar relações novas entre as coisas, revela-nos novas harmonias e nos aproximam do pensamento de Deus.” E = m · c2 Pietro Ubaldi “Sois de tal modo levados a vos tomar por tipos do Universo, que credes sempre que fora do vosso mundo não há mais nada. Pareceis verdadeiramente com esses selvagens que nunca sáıram de sua ilha e crêem que o mundo não vai mais longe”. O Livro dos Médiuns “Apenas aqueles que pensam por metades se tornam ateus, aqueles que se aprofundam em seus pensamentos e vêem as maravilhosas relações entre as leis universais reconhecem um poder criador”. Max Planck “Um conceito é um estado vibratório individualizado e delicad́ıssimo que, uma vez perdido, não mais se acha nem com a lógica e muito menos com a vontade, não retornando senão quando excitado por uma conexão de idéias, isto é, por uma nova passagem próxima num estado vibratório afim”. Pietro Ubaldi/As Noúres “. . . O matemático, como o pintor ou poeta, é um desenhista. Se os seus desenhos são mais duradouros que os deles, é porque são feitos com idéias”. G.H. Hardy “A fusão entre fé e ciência, tão auspiciada, já se completou em meu esṕırito: visão única na substância e de uma a outra eu passo unicamente por uma mudança de perspectiva visual ou de focalização de meus centros pśıquicos ”. Pietro Ubaldi/As Noúres “Não se pode imaginar que tenacidade de resistência, que massa de inércia re- presenta o homem médio, justamente o que impõe as normas da vida social”. Pietro Ubaldi/As Noúres “O fenômeno baseia-se na sintonização pśıquica e a mente do observador, se não afasta com suas emanações um objeto do microscópio, nem influencia um fenômeno f́ısico ou qúımico, pode paralisar, todavia, o funcionamento de um fenômeno psiqúıco. O fenômeno tem suas defesas e se retira em face da ameaça à sua vitalidade e, então, a ciência não consegue a observação, e sim, a destruição”. Pietro Ubaldi/As Noúres “Para poder avançar na investigação cient́ıfica e ver no ı́ntimo das coisas, é indispensável a sutilização do instrumento de pesquisa - a consciência”. Pietro Ubaldi/As Noúres 2 Números Hipercomplexos− 3D (Uma Nova Generalização dos Números Complexos ) Gentil Lopes da Silva∗ 18 de maio de 2007 ∗www.dmat.ufrr.br/∼ gentil ∴ gentil.silva@gmail.com Sumário 1 Os Números Hipercomplexos 7 1.1 Definição: Números Hipercomplexos . . . . . . . . . . . . . . . . 8 1.2 Propriedades das operações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.3 Divisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 1.4 Imersão de C em H . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.5 Imersão de H − 2D em H − 3D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 1.6 Forma algébrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.6.1 Unidade imaginária/Unidade hiperimaginária . . . . . . . 21 1.7 Forma trigonométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 1.7.1 Representação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 1.8 Potenciação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 1.9 Forma polar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 1.9.1 Interpretação geométrica da multiplicação hipercomplexa 45 1.10 Radiciação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 2 Equações 83 2.1 Resolução da equação a · w = b . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 2.1.1 Resolução da equação b · w = a . . . . . . . . . . . . . . . 87 2.1.2 Resolução da equação a · w−1 = b . . . . . . . . . . . . . . 90 2.1.3 Resolução da equação b · w−1 = a . . . . . . . . . . . . . . 92 2.2 Resolução da equação a · w2 = b . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 2.2.1 Algoritimo para extração de ráızes quadradas . . . . . . . 113 3 Funções Hipercomplexas de Argumentos Hipercomplexos 117 3.1 Generalização da fórmula de Euler (26.01.07 ) . . . . . . . . . . . 117 3.2 Generalização de funções complexas elementares . . . . . 119 3.2.1 Logaritmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 3.2.2 Funções trigonométricas com argumentos hipercomplexos . . . 124 4 Aplicações 133 4.1 Computação Gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 4.2 Robótica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 4.3 Um Desafio Dirigido aos Matemáticos do Planeta Terra . . . . . . . . 135 Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 • Da impossibilidade de uma multiplicação no R3 . . . . . . . . . 140 • Programa para multiplicar hipercomplexos . . . . . . . . . . . 141 • Programa para transformar coordenadas retangulares em polares . . 147 3 O Homem e a Eternidade Aproveito esta oportunidade para resumir minha concepção a respeito da relação entre Deus e o homem. Algumas pessoas questionam se existe um limite para o homem (até onde o homem pode crescer-evoluir- ou avançar) ou qual a natureza do homem. A relação entre Deus e o homem pode ser entendida, parcialmente, pelo gráfico abaixo: - 6 0 t h(t) D q - 6 0 t h(t) D q D−ε D+ε δ “O homem é uma função do tempo e tem em Deus uma asśıntota” Assim como o gráfico aproxima-se indefinidamente de sua asśıntota, sem nunca tocá-la, da mesma forma o homem terá a eternidade para aproximar- se de Deus, sem nunca tocá-lo, digo, jamais será igual a Deus. Podemos resumir isto na fórmula: lim t→∞ h(t) = D Esta equação encerra o seguinte significado: Dado, arbitrariamente, um número ε > 0, existe um δ > 0 de tal modo que ∣ ∣h(t) − D ∣ ∣ < ε, sempre que t > δ. Traduzindo: Fixada uma distância qualquer (ε) de Deus, sempre vai existir um instante no tempo (δ) a partir do qual a distância do homem a Deus será menor que aquela distância fixada. Observe que o gráfico não parte do zero (origem), isto se deve ao fato do homem possuir natureza divina. Então Jesus afirmou: − Na Lei de voces está escrito que Deus disse: “Voces são deuses”.(João, 10 : 34) Ainda no gráfico observamos que Deus é uma função constante do tempo, em outras palavras, é imutável. Cada homem individualmente encontra-se sobre algum ponto do gráfico (falando em termos evolutivos). Agora levando em conta o conjunto dos Esṕıritos (isto é, não somente o homem, como também outros seres) podemos dizer que Deus é um ponto de acu- mulação para este conjunto. Isto é: a qualquer distância de Deus, encontramos um Esṕırito. Prefácio Neste trabalho construimos um sistema numérico sobre o R3: os números Hipercomplexos−3D (uma nova generalização dos números Complexos). Notação: H, ou ainda, H − 3D. Nosso escopo, com este trabalho, é trazer à baila o tema números tridi- mensionais. O matemático irlandês William Rowan Hamilton (1805-1865) ([2]) ao per- ceber que os números complexos poderiam ser representados por pontos no plano, isto é, por pares ordenados (x, y) de números reais, teve a idéia de gene- ralizá-los para pontos no espaço a três dimensões. Isto é, para ternos ordenados (x, y, z). Por nada menos que dez anos Hamilton procurou pelos números na terceira dimensão sem lograr sucesso. O que significa procurar por estes números? Eles, por acaso, estariam perdidos em algum recanto da natureza? Certamente que não; o homem − à semelhança de Deus − também tem o poder de crear; e foi isto o que Hamilton intentou. E como se crea um conjunto numérico? Respondemos: Definindo uma soma e uma multiplicação∗. Por exemplo:Números Complexos: { (a, b) + (c, d) = (a + b, c + d) (a, b) · (c, d) = (ac − bd, ad + bc) pronto! estão criados os números complexos. Portanto, o que Hamilton procu- rou foi definir uma soma e uma multiplicação de ternos ordenados. A soma nunca apresentou problemas, é fácil, veja Números 3 −D : { (a, b, c) + (d, e, f) = (a + d, b + e, c + f) (a, b, c) · (d, e, f) = ( ?, ?, ?) O que Hamilton desejou foi preencher as três interrogações acima. Posteriormente ficou provada a impossibilidade de uma tal multiplicação. No apêndice (pág. 140) reproduzimos esta prova tal como comparece em [3]. Acontece que, para a prova de uma tal impossibilidade, assume-se a hipótese de que a multiplicação deve ser associativa e distributiva. Podemos ignorar uma prova matemática. Isto mesmo, um teorema não encerra uma verdade absoluta no momento em que, não aceitando sua hipótese, estamos desobrigados de aceitar sua tese. Em resumo: para nós que não exigimos, da multiplicação, as propriedades citadas anteriormente, os números tridimensionais são uma realidade. De outro modo: Hamilton tentou preservar propriedades algébricas (da multiplicação) e malogrou. Nós, a priori, preservamos uma única propriedade; não algébrica, mas sim geométrica: a rotação, e tivemos mais sorte. Ademais justificaremos, com razões geométricas (ou ainda, “razões intŕınsecas”), porque o “natural” é que em três dimensões (isto é, no R3) a multiplicação não seja nem associativa e nem distributiva. Por exemplo, o - clássico - problema: ∗Existem condições adicionais sobre estas operações. Condições intŕınsecas e extŕınsecas, diriamos. A mais importante, dentre estas últimas, - assim cremos - é que resultem de utilidade nas ciências. 6 “separar o número 10 em duas partes tais que o produto destas seja 40.”, o qual se traduz na resolução do sistema, { x + y = 10 x · y = 40 como se sabe, em R não possui solução, em C possui uma única solução; nos hipercomplexos ( H − 3D ), como mostraremos, este problema possui infinitas soluções; isto se deve a razões intŕınsecas ao espaço R3 (quero dizer: por dis- pormos de uma dimensão a mais que no R2), isto não poderia acontecer se a multiplicação fosse associativa e distributiva. Há de se assinalar, todavia, a existência de problemas insolúveis no corpo complexo C e com solução em H, por exemplo o (simples) sistema a seguir x + y = 0 (−1 · x − y) · y = 2 Acontece que, como diz o velho adágio popular, “onde passa um boi, passa uma boiada” , quero dizer: se existe um problema insolúvel em C - e com solução em H - então pode existir uma infinidade de tais problemas. Em nosso contexto, generalizamos a equação de Euler: eiy = cos y+i sen y, para o R3, assim: eiy+jz = cos y cos z + i sen y cos z + j sen z onde, i = (0, 1, 0) e j = (0, 0, 1). Por exemplo, e(i+j)π = e(i−j)π = 1. Conseguimos também colocar argumentos hipercomplexos nas funções tri- gonométricas, por exemplo, sen ( π 2 , π 4 , π 6 ) = 14 [ (e π 4 + e− π 4 ) √ 3 − j (eπ4 − e−π4 ) ] Quanto à primeira das propriedades em questionamento, como se sabe, existem álgebras não associativas; quanto a álgebras não-distributivas estas po- derão ter interêsse para a ciência, vejamos a seguinte citação ( [4], pág. 167 ): “No tocante aos sistemas quânticos, tudo muda de figura. . . Procedendo-se analogamente ao caso clássico, o reticulado a que se chega, conforme Birkhoff e Von Neuman, não é a álgebra de Boole, porém um reticulado não distributivo;”. Mais á frente (pág. 169): “Ele observa, seguindo a trilha de Birkhoff e Von Neuman, que o reticu- lado das proposições da mecânica quântica não é distributivo. Mas, em vez de considerar as operações definidas entre as proposições do reticulado como novas operações que se superporiam aos conectivos clássicos, trata de mostrar que a posição mais sensata é a de se aceitar tais operações como as operações de uma nova lógica proposicional, não distributiva, a qual, ao ser aplicada a proposições relativas a fenômenos macroscópicos, recai na lógica clássica.” Ficaremos gratos a cŕıticas e/ou sugestões. Minha gratidão maior ao bom Deus, por ter me concedido gestar e dar à luz este trabalho. Isto é, assentar este tijolinho em sua magnânima obra. Gentil Lopes da Silva. Boa Vista-RR, 02 de maio de 2007. Caṕıtulo 1 Os Números Hipercomplexos “Dizendo isso, gritou bem forte: ‘Lázaro, saia para fora!’ O morto saiu. Tinha os braços e as pernas amarrados. . . Jesus disse aos pre- sentes: ‘Desamarrem e deixem que ele ande’.” Jo. (43 − 44 ) Introdução: Diferença entre conjunto e estrutura Em matemática são freqüentes conjuntos munidos de uma ou mais operações, que gozam de certas propriedades. Esses conjuntos com tais operações e respec- tivas propriedades constituem aquilo que denominamos estruturas algébricas. Primeiramente observamos que quando nos referimos - na maioria das ve- zes - aos “conjuntos numéricos” Z, R, C, por exemplo; estamos nos referindo, a estes conjuntos com suas respectivas operações, isto é, às estruturas (Z, +, ·), (R, +, ·), etc. Em função do exposto sugerimos a seguinte notação: R =conjunto dos números reais; R =sistema dos números reais C =conjunto dos números complexos; C =sistema dos números complexos Observe que, de acordo com nossa convenção, C = R2 e C = ( R2, +, · ) Definição 1 (Número). Um “elemento” de um conjunto continuará a ser cha- mado de elemento; agora, ao construirmos uma estrutura algébrica sobre este conjunto, este elemento terá adquirido o status de número. Por exemplo, 1 é um elemento do conjunto dos naturais N = {1, 2, 3, . . .} enquanto que 1 é um número da estrutura N = ( N, +, · ) . Continuaremos a usar o śımbolo de pertinência (∈ ) tanto de elemento para conjunto quanto de número para estrutura. Por exemplo, 1 ∈ N, 1 ∈ N No primeiro caso 1 é um reles elemento do conjunto dos naturais; enquanto no segundo caso, 1 terá adquirido o status de número do sistema numérico dos naturais. 7 8 1.1 Definição: Números Hipercomplexos Seja R o conjunto dos números reais. Consideremos o produto cartesiano R × R × R = R3: R3 = { (x, y, z) : x, y, z ∈ R } Vamos tomar dois elementos, (a1 , b1 , c1) e (a2 , b2 , c2), de R 3, para dar três definições: ( i ) Igualdade: dois ternos ordenados são iguais se, e somente se, ocorre o se- guinte: (a 1 , b 1 , c 1 ) = (a 2 , b 2 , c 2 ) ⇔ a 1 = a 2 , b 1 = b 2 , e c 1 = c 2 . ( ii ) Adição: chama-se adição de dois ternos ordenados a um novo terno orde- nado, obtido da seguinte forma: (a1 , b1 , c1) + (a2 , b2 , c2) = (a1 + a2 , b1 + b2 , c1 + c2) ( iii ) Multiplicação: chama-se multiplicação de dois ternos ordenados a um novo terno ordenado, obtido da seguinte forma: (a 1 , b 1 , c 1 ) · (a 2 , b 2 , c 2 ) = (−c1 · c2 , 0, 0), se r1 = 0 e r2 = 0 (D1) (−c1 · c2 · a2 r2 , −c1 · c2 · b2 r2 , c1 · r2), se r1 = 0 e r2 6= 0 (D2) (−c1 · c2 · a1 r1 , −c1 · c2 · b1 r1 , c2 · r1), se r 1 6= 0 e r 2 = 0 (D 3 ) ( (a1 · a2 − b1 · b2)γ, (a1 · b2 + a2 · b1)γ, c1 · r2 + c2 · r1 ) , se r1 6= 0 e r2 6= 0 (D4) Onde, r 1 = √ a2 1 + b2 1 , r 2 = √ a2 2 + b2 2 e γ = 1 − c1 · c2 r 1 · r 2 Observe que, r = √ a2 + b2 = 0 ⇒ a2+b2 = 0 ⇒ a2 = −b2 ⇒ a = b = 0; porquanto, a, b ∈ R. Nota: Já neste momento observe que se tomarmos c 1 = c 2 = 0 estamos de volta aos complexos C. Nota: Na pág. 141 mostramos um programa para multiplicar dois hipercom- plexos. Definição 2 (Números hipercomplexos). Chama-se sistema dos números hiper- complexos, e representamos por H, ao sistema dos ternos ordenados de números reais para os quais estão definidas a igualdade, a adição e a multiplicação con- forme o ı́tem acima. Gentil 9 Representaremos cada elemento genérico (x, y, z) ∈ H com o śımbolo w, portanto: w ∈ H ⇔ w = (x, y, z) ∈ (R3,+, ·) Exemplos: 1o ) Dados w 1 = (1, 2, 3) e w 2 = (2, 0, 0), calcule: w 1 + w 2 , w 1 · w 2 e w2 1 . Solução: Temos, ( i ) w 1 + w 2 = (1, 2, 3) + (2, 0, 0) = (1 + 2, 2 + 0, 3 + 0) = (3, 2, 3). ( ii ) w 1 · w 2 = (1, 2, 3) · (2, 0, 0). Então, r1 = √ 12 + 22 = √ 5, r2 = √ 22 + 02 = 2, γ = 1 − 3 · 0√ 5 · 2 = 1, como r 1 6= 0 e r 2 6= 0, calculamos o produto em (D 4 ), assim: w1 · w2 = ( (1 · 2 − 2 · 0) · 1, (1 · 0 + 2 · 2) · 1, 3 · 2 + 0 · √ 5 ) = (2, 4, 6). ( iii ) w2 1 = w 1 · w 1 = (1, 2, 3) · (1, 2, 3). Então, r 1 = r 2 = √ 12 + 22 = √ 5, γ = 1 − 3 · 3√ 5 · √ 5 = −4 5 , como r1 = r2 6= 0, calculamos o produto em (D4), assim: w2 1 = ( (1·1−2·2)·(−4/5), (1·2+2·1)·(−4/5), 3· √ 5+3· √ 5 ) = ( 12 5 , −16 5 , 6 √ 5 ) 2o ) Dados w 1 = (−1, 0, 0) e w 2 = (0, 0, 1), calcule: w 1 +w 2 , w 1 ·w 2 e w2 2 . Solução: Temos, ( i ) w 1 + w 2 = (−1, 0, 0) + (0, 0, 1) = (−1 + 0, 0 + 0, 0 + 1) = (−1, 0, 1). ( ii ) w 1 · w 2 = (−1, 0, 0) · (0, 0, 1). Então, r 1 = √ (−1)2 + 02 = 1, r 2 = √ 02 + 02 = 0, como r 1 6= 0 e r 2 = 0, calculamos o produto em (D 3 ), assim: (−1, 0, 0) · (0, 0, 1) = ( − 0 · 1 · 0 1 , −0 · 1 · 0 1 , 1 · 1 ) = (0, 0, 1). ( iii ) w2 2 = w 2 · w 2 = (0, 0, 1) · (0, 0, 1). Então, r 1 = r 2 = √ 02 + 02 = 0, como r 1 = r 2 = 0, calculamos o produto em (D 1 ), assim: (0, 0, 1) · (0, 0, 1) = (−1 · 1, 0, 0) = (−1, 0, 0). 3o ) Dados w 1 = (4, 3, 2) e w 2 = (6, 7, 8), calcule w de modo que w 1 + w = w 2 . Solução: Tomemos w = (x, y, z), então, 10 w 1 +w = w 2 ⇒ (4, 3, 2)+(x, y, z) = (6, 7, 8) ⇒ 4 + x = 6, 3 + y = 7, 2 + z = 8. ⇒ x = 2, y = 4, z = 6. Portanto, w = (2, 4, 6). 4o ) Dados w 1 = (1, −1, 2) e w 2 = (1, 0, 3), calcule w de modo que w 1 ·w = w 2 . Solução: Tomemos w = (x, y, z), então, w 1 · w = w 2 ⇒ (1, −1, 2) · (x, y, z) = (1, 0, 3), temos, r 1 = √ 12 + (−1)2 = √ 2, r 2 = √ x2 + y2, temos dois casos a considerar, ( i ) r 2 = √ x2 + y2 = 0, isto é, x = y = 0. Neste caso calculamos o produto em (D3), assim: (1, −1, 2) · (0, 0, z) = ( − 2 · z · 0√ 2 , −2 · z · (−1)√ 2 , z · √ 2 ) Então, (0, z · √ 2, z √ 2) = (1, 0, 3) ⇒ 0 = 1, z · √ 2 = 0, z · √ 2 = 3. Isto significa que não existe um número hipercomplexo w = (x, y, z), com x = y = 0, satisfazendo a condição dada; logo este primeiro caso pode ser ignorado. ( ii ) r 2 = √ x2 + y2 6= 0. Neste caso calculamos o produto em (D 4 ), assim: (1, −1, 2) · (x, y, z) = ( (1 · x− (−1) · y) · γ, (1 · y − x · (−1)) · γ, 2 · r 2 + z · √ 2 ) onde, γ = 1 − 2z√ 2 r 2 = 1 − √ 2 z r 2 . Igualando este produto a (1, 0, 3), obtemos (x + y) · ( 1 − √ 2 z r 2 ) = 1 (1.1) (−x + y) · ( 1 − √ 2 z r 2 ) = 0 (1.2) 2 r 2 + √ 2 · z = 3 (1.3) De (1.3), temos: 1 − √ 2 z r 2 = 3 ( 1 − 1r2 ) , substituindo em (1.1) e (1.2), Gentil 11 obtemos (x + y) · 3 ( 1 − 1 r 2 ) = 1 (1.4) (−x + y) · 3 ( 1 − 1 r 2 ) = 0 (1.5) De (1.4) concluimos que ( 1− 1 r 2 ) 6= 0, então dividindo (1.5) por 3 ( 1− 1 r 2 ) , obtemos: −x + y = 0, ou ainda, x = y. Substituindo este resultado em (1.4), resulta: (x + x) · 3 ( 1 − 1√ x2 + x2 ) = 1 ⇒ x · ( 1 − 1√ 2 · |x| ) = 1 6 Temos dois casos a considerar: a) x > 0 (|x| = x). Sendo assim, resulta, x · ( 1 − 1√ 2 · x ) = 1 6 ⇒ x = 1 + 3 √ 2 6 = y b) x < 0 (|x| = −x). Sendo assim, resulta, x · ( 1 − 1√ 2 · (−x) ) = 1 6 ⇒ x = 1 − 3 √ 2 6 = y Da equação (1.3) tiramos, z = 3 − 2 r 2√ 2 = 3√ 2 − 2 |x| portanto, z = 3√ 2 − 2 ∣ ∣ ∣ 1 + 3 √ 2 6 ∣ ∣ ∣ = −2 + 3 √ 2 6 e z′ = 3√ 2 − 2 ∣ ∣ ∣ 1 − 3 √ 2 6 ∣ ∣ ∣ = 2 + 3 √ 2 6 Sendo assim temos dois números que satisfazem a equação w 1 · w = w 2 , quais sejam: w = ( 1 + 3 √ 2 6 , 1 + 3 √ 2 6 , −2 + 3 √ 2 6 ) e w′ = ( 1 − 3 √ 2 6 , 1 − 3 √ 2 6 , 2 + 3 √ 2 6 ) Observe que a equação w 1 · w = w 2 poderia, alternativamente, ter sido escrita como, a · x = b, com a = (1, −1, 2) e b = (1, 0, 3). Conclusão: em H, diferentemente do que ocorre em R ou C, uma equação do 1o grau pode ter duas soluções. 12 1.2 Propriedades das operações Proposição 1. A operação de adição define em H uma estrutura de grupo co- mutativo, isto é, verifica as seguintes propriedades: A1) Propriedade associativa; A2) propriedade comutativa; A3) existência do elemento neutro; A4) existência do elemento simétrico (ou oposto). Prova: Deixamos como exerćıcio. � Apenas observamos que, 0 = (0, 0, 0) é o elemento neutro para a adição. Dado w = (x, y, z) temos que −w = (−x, −y, −z) é o seu oposto aditivo, isto é, w + (−w) = 0. Subtração Decorre da proposição anterior que, dados os hipercomplexos w 1 = (a 1 , b 1 , c 1 ) e w2 = (a2 , b2 , c2) existe um único w ∈ H tal que w1 + w = w2 . Esse número w é chamado diferença entre w 2 e w 1 e indicado por w 2 − w 1 . Proposição 2. A operação de multiplicação em H verifica as seguintes propri- edades: M1) Propriedade comutativa; M2) não associativa; M3) existência do elemento neutro; M4) existência do elemento inverso; M5) não distributiva em relação à adição. Prova: M1) Propriedade comutativa. Dados w1 = (a1 , b1 , c1) e w2 = (a2 , b2 , c2) em H, devemos mostrar que w 1 · w 2 = w 2 · w 1 . De acordo com a definição de multiplicação temos quatro casos a considerar: ( 1 ) r 1 = 0 e r 2 = 0 (D 1 ). Nesta situação, temos: w1 · w2 = (0, 0, c1) · (0, 0, c2) = (−c1 · c2 , 0, 0) = (−c2 · c1 , 0, 0) = (0, 0, c2) · (0, 0, c1) = w2 · w1 . ( 2 ) r 1 = 0 e r 2 6= 0 (D 2 ). Nesta situação, temos: w 1 · w 2 = (0, 0, c 1 ) · (a 2 , b 2 , c 2 ) = ( − c1 · c2 · a2 r 2 , −c1 · c2 · b2 r 2 , c 1 · r 2 ) = ( − c2 · c1 · a2√ a2 2 + b2 2 , −c2 · c1 · b2√ a2 2 + b2 2 , c 1 · √ a2 2 + b2 2 ) = (a 2 , b 2 , c 2 ) · (0, 0, c 1 ) = w 2 · w 1 . (D 3 ) Gentil 13 ( 3 ) r1 6= 0 e r2 = 0. Análogo ao caso ( 2 ). ( 4 ) r 1 6= 0 e r 2 6= 0 (D 4 ). Nesta situação, temos: w1 · w2 = ( (a1 · a2 − b1 · b2)γ, (a1 · b2 + a2 · b1)γ, c1 · r2 + c2 · r1 ) = ( (a 2 · a 1 − b 2 · b 1 )γ, (a 2 · b 1 + a 1 · b 2 )γ, c 2 · r 1 + c 1 · r 2 ) = w 2 · w 1 . M2) Não associativa. Tomando, por exemplo, w 1 = (0, 1, 0), w 2 = (0, 0, 1), w 3 = (0, 0, −1). Resulta (confira), (w 1 · w 2 ) · w 3 = (1, 0, 0) w1 · (w2 · w3) = (0, 1, 0) M3) Existência do elemento neutro. Existe 1 = (1, 0, 0) ∈ H com a seguinte propriedade: w · 1 = w, ∀w ∈ H. De fato, considerando w = (a, b, c) temos dois casos a considerar: ( i ) r = √ a2 + b2 = 0 (D 2 ), então, w · 1 = (0, 0, c) · (1, 0, 0) = ( − c · 0 · 1 1 , −c · 0 · 0 1 , c · 1 ) = (0, 0, c) = w ( ii ) r = √ a2 + b2 6= 0 (D 4 ), então, w·1 = (a, b, c)·(1, 0, 0) = ( (a·1−b·0)·1, (a·0+1·b)·1, c·1+0·r1 ) = (a, b, c) = w. Da comutatividade da multiplicação decorre a unicidade do elemento neu- tro, assim: sejam u e ũ dois elementos neutros para a multiplicação. Sendo assim, ter-se-à, por um lado, w ·u = w, para todo w ∈ H; em particular ũ ·u = ũ (∗). Por outro lado também temos w · ũ = w, para todo w ∈ H; em particular u · ũ = u. Esta última igualdade pode ser reescrita como ũ · u = u. Daqui e de (∗) concluimos que u = ũ. M4) Existência do elemento inverso. Desejamos mostrar que, ∀w ∈ H∗, ∃w−1 ∈ H / w · w−1 = 1. De fato, tomando w = (a, b, c), procuramos w′ = (x, y, z) satisfazendo w·w′ = (1, 0, 0). Vamos inicialmente supor, r 1 = √ a2 + b2 6= 0. A possibilidade r 2 = √ x2 + y2 = 0 (isto é, w′ = (0, 0, z)) nos conduz a uma inconsistência. Consideremos então r2 = √ x2 + y2 6= 0. Sendo assim, temos, w ·w′ = (a, b, c)·(x, y, z) = ( (a ·x−b ·y)γ, (a ·y+x·b)γ, c ·r 2 +z ·r 1 ) = (1, 0, 0). Sendo assim, obtemos (ax − by) · ( 1 − c · z r 1 · r 2 ) = 1 (1.6) (ay + bx) · ( 1 − c · z r 1 · r 2 ) = 0 (1.7) c · r 2 + z · r 1 = 0 (1.8) 14 De (1.8), temos: 1− c · z r1 · r2 = r2 1 +c2 r2 1 , substituindo em (1.6) e (1.7), obtemos (ax − by) · r 2 1 + c2 r2 1 = 1 (1.9) (ay + bx) · r 2 1 + c2 r2 1 = 0 (1.10) De (1.9) e (1.10) concluimos que ay + bx = 0, (de r 1 6= 0 ⇒ a 6= 0 ou b 6= 0) supondo a 6= 0, resulta y = − b·xa . Substituindo este resultado em (1.9), resulta: ( a x − b (−b x a ) ) = r2 1 r2 1 + c2 ⇒ x = a r2 1 · r 2 1 r2 1 + c2 = a a2 + b2 + c2 . Logo, y = − b a · x = − b a · a a2 + b2 + c2 = −b a2 + b2 + c2 e, z = −c · r2 r 1 = −c a2 + b2 + c2 portanto, w′ = ( a a2 + b2 + c2 , −b a2 + b2 + c2 , −c a2 + b2 + c2 ) - Vamos agora supor r 1 = √ a2 + b2 = 0, então, w′ = ( 0 02 + 02 + c2 , −0 02 + 02 + c2 , −c 02 + 02 + c2 ) = ( 0, 0, −1 c ) Temos, w · w′ = (0, 0, c) · ( 0, 0, −1 c ) = ( − c · −1 c , 0, 0 ) = (1, 0, 0) Portanto, qualquer que seja w = (a, b, c) 6= (0, 0, 0), temos que: w · w′ = (a, b, c) · ( a a2 + b2 + c2 , −b a2 + b2 + c2 , −c a2 + b2 + c2 ) = (1, 0, 0). � Nota: Observe que também provamos que o inverso multiplicativo é único. De fato, o sistema w · w′ = (1, 0, 0) possui uma única solução. 1.3 Divisão Devido a existência do inverso multiplicativo, podemos definir em H a operação de divisão, simbolizada por w1 w2 , estabelecendo que w1 w2 = w1 · w′2 = w 1 · w−1 2 , onde mudamos de notação: w′ 2 = w−1 2 . Gentil 15 Exemplo: (0, 1, 0) (0, 0, 1) = (0, 1, 0) · (0, 0, 1)−1 = (0, 1, 0) · ( 0 02 + 02 + 12 , −0 02 + 02 + 12 , −1 02 + 02 + 12 ) = (0, 1, 0) · (0, 0, −1) Em (D 3 ), temos: (0, 1, 0) · (0, 0, −1) = ( − 0 · (−1) · 0 1 , −0 · (−1) · 1 1 , −1 · 1 ) = (0, 0, −1), portanto, (0, 1, 0) (0, 0, 1) = (0, 0, −1). Uma observação importante é que para resolvermos, por exemplo, a equação a · x = b em H, não é ĺıcito procedermos assim: a · x = b ⇒ a−1 · (a · x) = a−1 · b ⇒ (a−1 · a) · x = a−1 · b ⇒ x = a−1 · b, uma vez que a multiplicação em H é não associativa. Para resolver a equação em questão devemos proceder como no exemplo 4o ), pág. 10. Uma outra observação é a de que, como o produto é comutativo, podemos definir a multiplicação em H com apenas três sentenças, ao invés de quatro. A operação de multiplicação pode ser vista (é) uma aplicação: f : R3 × R3 → R3, definida por três sentenças. M5) A multiplicação é não distributiva em relação à adição. Tome, por exemplo, a = (1, 2, 1), b = (0, 1, 1) e c = (3, 2, 1) e mostre que a · (b + c) 6= a · b + a · c. 16 1.4 Imersão de C em H Consideremos agora a subestrutura C̃ de H na qual C̃ é formado pelos ternos ordenados cujo terceiro termo é zero: C̃ = { (a, b, c) ∈ R3 : c = 0 } Consideremos agora a aplicação f , de C em C̃, que leva cada (x, y) ∈ C ao terno (x, y, 0) ∈ C̃, tipo assim: C C̃ H f (a 1 , b 1 ) (a 1 , b 1 , 0) (a 2 , b 2 ) (a 2 , b 2 , 0) (a1 + a2 , b1 + b2) (a1 + a2 , b1 + b2 , 0) (a 1 · a 2 − b 1 · b 2 , a 1 · b 2 + a 2 · b 1 ) (a 1 · a 2 − b 1 · b 2 , a 1 · b 2 + a 2 · b 1 , 0) f : C C̃ (x, y) (x, y, 0) Primeiramente notemos que f é bijetora, porquanto: ( i ) todo terno (x, y, 0) ∈ C̃ é o correspondente, segundo f , de (x, y) ∈ C (isto quer dizer que f é sobrejetora); ( ii ) Dados (x, y) ∈ C e (x′, y′) ∈ C, com (x, y) 6= (x′, y′) os seus correspon- dentes (x, y, 0) ∈ C̃ e (x′, y′, 0) ∈ C̃ são distintos, de acordo com a definição de igualdade de ternos ordenados (isto quer dizer que f é injetora). Em segundo lugar, notemos que f preserva as operações de adição e mul- tiplicação pois, f ( (a 1 , b 1 ) + (a 2 , b 2 ) ) = f ( (a 1 + a 2 , b 1 + b 2 ) ) = (a 1 + a 2 , b 1 + b 2 , 0) = (a 1 , b 1 , 0) + (a 2 , b 2 , 0) = f ( (a 1 , b 1 )) ) + f ( (a 2 , b 2 ) ) No que concerne à multiplicação, temos f ( (a 1 , b 1 ) · (a 2 , b 2 ) ) = f ( (a 1 · a 2 − b 1 · b 2 , a 1 · b 2 + a 2 · b 1 ) ) = (a 1 · a 2 − b 1 · b 2 , a 1 · b 2 + a 2 · b 1 , 0) Observe que (a1 , b1) · (a2 , b2) está em C e como tal verifica a regra de multiplicação de C, isto é: (a 1 , b 1 ) · (a 2 , b 2 ) = (a 1 · a 2 − b 1 · b 2 , a 1 · b 2 + a 2 · b 1 ) Gentil 17 Por outro lado, (a1 · a2 − b1 · b2 , a1 · b2 + a2 · b1 , 0) está em H, obedecendo, portanto, as regras operacionais deste sistema. Devemos mostrar que, (a 1 ·a 2 −b 1 ·b 2 , a 1 ·b 2 +a 2 ·b 1 , 0) = (a 1 , b 1 , 0)·(a 2 , b 2 , 0) = f ( (a 1 , b 1 ) ) ·f ( (a 2 , b 2 ) ) Para efetuar o produto (a1 , b1 , 0) · (a2 , b2 , 0) temos que analisar quatro alternativas, em cada uma delas devemos ter: f ( (a 1 , b 1 )·(a 2 , b 2 ) ) = f ( (a 1 , b 1 ) ) · f ( (a 2 , b 2 ) ) . Vamos provar para a alternativa (D 4 ) (r 1 6= 0 e r 2 6= 0), pois para as demais se prova de modo análogo. Temos, (a 1 , b 1 , 0) · (a 2 , b 2 , 0) = ( (a 1 · a 2 − b 1 · b 2 ) · 1, (a 1 · b 2 + a 2 · b 1 ) · 1, 0 · r 2 + 0 · r 1 ) = (a 1 · a 2 − b 1 · b 2 , a 1 · b 2 + a 2 · b 1 , 0) Sendo assim, (a1 ·a2−b1 ·b2 , a1 ·b2+a2 ·b1 , 0) = (a1 , b1 , 0)·(a2 , b2 , 0) = f ( (a1 , b1) ) ·f ( (a2 , b2) ) . Devido ao fato de existir uma aplicação f : C → C̃ que preserva as operações de adição e multiplicação, dizemos que C e C̃ são isomorfos. Devido ao isomorfismo, operar com (x, y, 0) leva a resultados análogos aos obtidos operando com (x, y); em razão disto, de agora em diante, faremos a identificação que se segue: (x, y) = (x, y, 0), ∀ (x, y) ∈ C Em particular, pela teoria dos números complexos, podemos escrever ainda, x = (x, 0) = (x, 0, 0), ∀x ∈ R Aceita estas igualdades, temos em particular que, 0 = (0, 0) = (0, 0, 0), 1 = (1, 0) = (1, 0, 0), a = (a, 0) = (a, 0, 0). Assim o corpo C dos números complexos passa a ser considerado uma subestrutura do sistema H dos números hipercomplexos. Nota: Para o nosso próximo ı́tem veja [5]. 18 1.5 Imersão de H − 2D em H − 3D Consideremos agora a subestrutura H̃ de H na qual H̃ é formado pelos ternos ordenados cujo segundo termo é zero: H̃ = { (a, b, c) ∈ R3 : b = 0 } Vamos mostrar que H̃ é fechado para as operações de soma e multiplicação. De fato, sejam (a1 , 0, c1) e (a2 , 0, c2) dois pontos em H̃, então, (a 1 , 0, c 1 ) + (a 2 , 0, c 2 ) = (a 1 + a 2 , 0, c 1 + c 2 ) ∈ H̃ Por outro lado (ver pág. 8), ( a1 , 0, c1) · (a2 , 0, c2 ) = ( − c 1 · c 2 , 0, 0 ) , se r 1 = 0 e r 2 = 0 ( − c1 · c2 · a2 r 2 , 0, c 1 · r 2 ) , se r1 = 0 e r2 6= 0 ( − c1 · c2 · a1 r 1 , 0, c 2 · r 1 ) , se r 1 6= 0 e r 2 = 0 ( (a 1 · a 2 )γ, 0, c 1 · r 2 + c 2 · r 1 ) , se r 1 6= 0 e r 2 6= 0 Onde, r 1 = |a 1 | , r 2 = |a 2 | e γ = 1 − c1 · c2|a 1 | · |a 2 | De outro modo, (a1 , 0, c1) · (a2 , 0, c2) = ( − c 1 · c 2 , 0, 0 ) , se a 1 = 0 e a 2 = 0 ( − c 1 · c 2 a 2 |a 2 | , 0, c1 · |a2 | ) , se a1 = 0 e a2 6= 0 ( − c 1 · c 2 a 1 |a 1 | , 0, c2 · |a1 | ) , se a1 6= 0 e a2 = 0 ( a 1 · a 2 − c 1 · c 2 a 1 · a 2 |a 1 | · |a 2 | , 0, c1 · |a2 | + c2 · |a1 | ) , se a 1 6= 0 e a 2 6= 0 Portanto, (a 1 , 0, c 1 ) · (a 2 , 0, c 2 ) ∈ H̃ Gentil 19 Consideremos agora a aplicação f , de H − 2D em H̃, que leva cada (x, y) ∈ H − 2D ao terno (x, 0, y) ∈ H̃, tipo assim: H − 2D H̃ H f (a 1 , b 1 ) (a 1 , 0, b 1 ) (a 2 , b 2 ) (a 2 , 0, b 2 ) (a 1 + a 2 , b 1 + b 2 ) (a 1 + a 2 , 0, b 1 + b 2 ) (a 1 · a 2 − b 1 · b 2 , a 1 · b 2 + a 2 · b 1 ) (a 1 · a 2 − b 1 · b 2 , 0, a 1 · b 2 + a 2 · b 1 ) f : H − 2D H̃ (x, y) (x, 0, y) Podemos mostrar que f é um isomorfismo. Devido ao fato de existir uma aplicação f : H − 2D → H̃ que preserva as operações de adição e multi- plicação, dizemos que H − 2D e H̃ são isomorfos. Devido ao isomorfismo, operar com (x, 0, y) leva a resultados análogos aos obtidos operando com (x, y); em razão disto, de agora em diante, faremos a identificação que se segue: (x, y) = (x, 0, y), ∀ (x, y) ∈ H − 2D Em particular,pela teoria dos números hipercomplexos−2D, podemos es- crever ainda, x = (x, 0) = (x, 0, 0), ∀x ∈ R Aceita estas igualdades, temos em particular que, 0 = (0, 0) = (0, 0, 0), 1 = (1, 0) = (1, 0, 0), (0, 1) = (0, 0, 1) = j. Assim o sistema H − 2D, dos números hipercomplexos bidimensionais, passa a ser considerado uma subestrutura do sistema H dos números hipercom- plexos tridimensionais. Em resumo, os números H − 3D generalizam, a um só tempo, os números complexos e os hipercomplexos−2D. Podemos ilustrar a imersão de estruturas através de diagramas de Venn, assim: C R H−2D H−3D 20 Proposição 3. Para todo k ∈ R, a seguinte identidade k · (a, b, c) = (k a, k b, |k| c) = { (k a, k b, k c), se k ≥ 0; (k a, k b, −k c), se k < 0. se verifica. Prova: Temos algumas alternativas a considerar: ( i ) k = 0, trivial. ( ii ) k 6= 0 e r 2 = √ a2 + b2 = 0. Temos (D 3 ): k · (0, 0, c) = (k, 0, 0) · (0, 0, c) = ( − 0 · c · k|k| , − 0 · c · 0 |k| , c · |k| ) = (k 0, k 0, |k| c) ( iii ) k 6= 0 e r 2 = √ a2 + b2 6= 0. Temos (D 4 ): k · (a, b, c) = (k, 0, 0) · (a, b, c) = ( (k · a − 0 · b) · 1, (k · b + 0 · a) · 1, 0 · r 2 + c · |k| ) = (k a, k b, |k| c ) . � Esta proposição nos proporciona um fenômeno que não ocorre em R ou em C. Corolário 1. Em H a seguinte identidade −1 · x = −x é falsa. Prova: De fato, tomando x = (0, 0, 1), resulta, −x = −(0, 0, 1) = (0, 0, −1) −1 · x = (−1 · 0, −1 · 0, | − 1| · 1) = (0, 0, 1) � Sendo assim é importante estar atento para o fato de que, ao contrário do que ocorre em R, ou em C, em H é necessário distinguir entre −x e −1 · x. Observe que, enquanto no primeiro caso temos o oposto aditivo de x, no segundo caso temos o produto de dois hipercomplexos: −1 = (−1, 0, 0) e x = (a, b, c). Observe, outrossim, que em H não vale a propriedade de cancelamento para a multiplicação; para se convencer disto considere a seguinte igualdade, 1 · (0, 0, 1) = −1 · (0, 0, 1) Isto se deve ao fato da multiplicação não ser associativa. Prove a seguinte, Proposição 4. Sejam a ∈ R e w ∈ H, j · a = w ⇒ a = w j , se a ≥ 0; a = − w j , se a < 0. (1.11) Nota: Esta proposição nos alerta quando formos “dividir” por j. Gentil 21 1.6 Forma algébrica 1.6.1 Unidade imaginária/Unidade hiperimaginária Chamamos unidade imaginária e indicamos por i o número hipercomplexo (0, 1, 0). Notemos que i2 = (0, 1, 0) · (0, 1, 0) = ( (0 · 0 − 1 · 1) · 1, (0 · 1 + 0 · 1) · 1, 0 · 1 + 0 · 1 ) = (−1, 0, 0) = −1, isto é, a propriedade básica da unidade imaginária é, i2 = −1 Chamamos unidade hiperimaginária e indicamos por j o número hiper- complexo (0, 0, 1). Notemos que j2 = (0, 0, 1) · (0, 0, 1) = (−1 · 1, 0, 0) = −1, isto é, a propriedade básica da unidade hiperimaginária é, j2 = −1 Digamos que a unidade hiperimaginária tem duas propriedades básicas, sendo a outra dada por, −1 · j = j (1.12) propriedade esta que não é partilhada pela unidade imaginária. A bem da verdade esta é apenas um caso especial da seguinte: Vamos multiplicar j pelo número complexo z = (x, y, 0). Temos (0, 0, 1) · (x, y, 0) = ( − 1·0·xr2 , − 1·0·y r2 , 1 · r 2 ) = (0, 0, √ x2 + y2) Portanto, j · z = ( 0, 0, |z| ) Observe que se |z| = 1 (ćırculo unitário) então z · j = j. Forma algébrica Dado um número hipercomplexo qualquer w = (x, y, z), temos: w = (x, y, z) = (x, 0, 0) + (0, y, 0) + (0, 0, z) Temos, ( i ) (x, 0, 0) = x. ( ii ) Temos, y · (0, 1, 0) = (y · 0, y · 1, |y| · 0) = (0, y, 0) ⇒ y · i = (0, y, 0) ( iii ) Se z ≥ 0, então (0, 0, z) = z (0, 0, 1) = z j. Se z ≤ 0 ( |z| = −z ), então −j z = z·(−j) = z·(0, 0, −1) = (z·0, z·0, |z|·(−1)) = (0, 0, (−z)·(−1)) = (0, 0, z) 22 Tendo em conta estes resultados podemos escrever, w = (x, y, z) = { x + i y + j z, se z ≥ 0; x + i y − j z, se z ≤ 0. (1.13) Assim, todo número hipercomplexo w = (x, y, z) pode ser escrito sob a forma acima, chamada forma algébrica. O número real x é chamado parte real de w, o número real y é chamado parte imaginária de w e o número real z é chamado parte hiperimaginária de w. Neste momento precisamos fazer um esclarecimento assaz importante: A estas alturas o leitor já percebeu que a álgebra hipercomplexa é “ligeiramente” distinta da álgebra real ou complexa. Isto nos obriga a estar (bastante) atento quanto às notações. Por exemplo, consideremos as quatro expressões seguintes x + i y − j z x + i y − z j x + i y + j(−z) x + i y + z(−j) Vejamos o significado da terceira parcela em cada uma delas: −jz, significa: o oposto de j que multiplica z −zj, significa: o oposto de z que multiplica j j(−z), significa: o oposto de z que multiplica j z(−j), significa: o oposto de j que multiplica z O leitor pode mostrar, a partir da proposição 3, que −jz 6= −zj = j(−z) Podemos dar as seguintes denominações a alguns hipercomplexos: w = (0, 0, c), c 6= 0, hiperimaginário puro; w = (0, b, 0), b 6= 0, imaginário puro; w = (a, 0, 0), real puro; w = (a, b, 0), a 6= 0, b 6= 0, complexo puro; w = (a, b, c), c 6= 0, hipercomplexo puro; w = (a, b, c), a 6= 0 ou b 6= 0; c 6= 0, hipercomplexo não-singular. Nota: Um hipercomplexo não-singular é um hipercomplexo puro com a 6= 0 ou b 6= 0. Gentil 23 Um milagre aos olhos dos habitantes Complexos Se, algum dia, um matemático do Universo complexo se defrontar com a se- guinte equação elementar: (−1·x + x)·x = −1, êle teria duas sáıdas: abandonar o “jogo”, ou consultar um matemático do “universo Hipercomplexo”∗. De fato, esta é uma equação imposśıvel de se resolver dentro dos universos numéricos conhecidos dos matemáticos (hodiernos), em razão de que vale: (−1 · x + x) · x = −1 ⇐⇒ 0 · x = −1 Pois bem, vamos assumir o desafio. Proposição 5 (Gentil/04.12.2008). A seguinte equação, (−1 · x + x) · x = −1 (1.14) possui solução em H. Prova: Tomando x = (c, d, e), temos −1 · x = −1 · (c, d, e) = (−c, −d, e), pela prop. 3, pág. 20. Portanto, −1 · x + x = (−c, −d, e) + (c, d, e) = (0, 0, 2e) Substituindo este resultado em (1.14), obtemos (0, 0, 2e) · (c, d, e) = −1 O produto acima fica, (0, 0, 2e) · (c, d, e) = (−2e2, 0, 0), se c = d = 0; (−2e2 c/r 2 , −2e2 d/r 2 , 2e · r 2 ), se c 6= 0 ou d 6= 0. Onde: r 2 = √ c2 + d2. Para c = d = 0 concluimos que e = ± √ 2/2. Portanto, x = ( 0, 0, ± √ 2 2 ) ⇒ x = √ 2/2 j ou x = − (√ 2/2 j ) . Observe que o número j foi o responsável por este milagre! É fácil ver que para c 6= 0 ou d 6= 0 o problema não tem solução. � A t́ıtulo de curiosidade, observe que, das duas equações abaixo: x2 + 1 = 0 (−1 · x + x) · x + 1 = 0 Com o número i resolvemos apenas a primeira, ao passo que, com o número j resolvemos as duas. ∗No caso eu, que por enquanto, sou o único habitante deste Universo. 24 − Considere a equação, 0 · x = b, b 6= 0 (1.15) nos reais, ou complexos; como, nestes universos, vale 0 = −1 · x + x 0 = −1 · (−x) + (−x) Segue-se que, 0 · x = b ⇐⇒ (−1 · x + x) · x = b (−1 · (−x) + (−x)) · x = b (1.16) Em H, embora não possamos resolver diretamente a equação (1.15), pode- mos resolver suas equivalentes, dadas acima. Se b > 0, resolvemos a segunda das equações em (1.16), caso contrário resolvemos a primeira. Por exemplo, seja a equação 0 · x = 1, então, 0 · x = 1 ⇐⇒ (−1 · (−x) + (−x)) · x = 1 Tomando x = (c, d, e), temos, −x = (−c, −d, −e), logo, −1 · (−x) + (−x) = −1 · (−c, −d, −e) + (−c, −d, −e) = (c, d, −e) + (−c, −d,−e) = (0, 0, −2e) Então, (−1 · (−x) + (−x)) · x = 1 ⇒ (0, 0, −2e) · (c, d, e) = 1 O produto acima fica, (0, 0, −2e) · (c, d, e) = (2e2, 0, 0), se c = d = 0; (2e2 c/r 2 , 2e2 d/r 2 , −2e · r 2 ), se c 6= 0 ou d 6= 0. Onde: r2 = √ c2 + d2. Para c = d = 0 concluimos que e = ± √ 2/2. Portanto, x = ( 0, 0, ± √ 2 2 ) ⇒ x = √ 2/2 j ou x = − (√ 2/2 j ) . É fácil ver que para c 6= 0 ou d 6= 0 o problema não tem solução. Gentil 25 1.7 Forma trigonométrica Definição 3 (Conjugado). Chama-se conjugadodo hipercomplexo w = (a, b, c) ao hipercomplexo w = (a, −b, −c), isto é: w = (a, b, c) ⇔ w = (a, −b, −c) Definição 4 (Norma). Chama-se norma do hipercomplexo w = (a, b, c) ao número real N(w) = a2 + b2 + c2 Definição 5 (Módulo). Chama-se módulo (ou valor absoluto) do hipercomplexo w = (a, b, c) ao número real |w| = √ N(w) = √ a2 + b2 + c2 Nota: Alternativamente podemos usar a notação: ρ, para o módulo. Deixamos como exerćıcio ao leitor, mostrar que w · w = |w|2. Observe que o inverso de w = (a, b, c) pode ser escrito como, w−1 = ( a a2 + b2 + c2 , −b a2 + b2 + c2 , −c a2 + b2 + c2 ) ⇔ w−1 = ( a |w|2 , −b |w|2 , −c |w|2 ) Ou ainda, w−1 = 1 |w|2 ( a, −b, −c ). (1.17) Definição 6 (Argumento). Chama-se argumento de um hipercomplexo w = (x, y, z), não nulo, ao par de ângulos (θ, β) tal que cos θ · cosβ = x ρ , sen θ · cosβ = y ρ , e sen β = z ρ . Observe que, existe ao menos um par (θ, β) satisfazendo a definição, pois ( cos θ · cosβ )2 + ( sen θ · cosβ )2 + ( sen β )2 = ( x ρ )2 + ( y ρ )2 + ( z ρ )2 = x2 + y2 + z2 ρ2 = 1. Fixado o hipercomplexo w 6= 0, estão fixados cos θ · cosβ, sen θ · cosβ e sen β, mas os ângulos θ e β podem assumir infinitos valores, congruentes dois a dois (congruência módulo 2π). Assim o hipercomplexo w 6= 0 tem argumento, (θ, β) = (θ 0 + 2kπ, β 0 + 2k′π); k, k′ ∈ Z (1.18) onde (θ 0 , β 0 ) é chamado argumento principal de w, é tal que cos θ0 · cosβ0 = x ρ , sen θ0 · cosβ0 = y ρ , e senβ0 = z ρ . 26 e 0 ≤ θ 0 < 2π, −π 2 ≤ β 0 ≤ π 2 (1.19) Por vezes trabalharemos com (θ 0 , β 0 ) chamando-o simplesmente argu- mento de w. Exemplos: 1o) Para w = √ 3 + i, temos ρ = √ ( √ 3)2 + 12 + 02 = 2, então cos θ0 · cosβ0 = x ρ = √ 3 2 sen θ 0 · cosβ 0 = y ρ = 1 2 sen β 0 = z ρ = 0 2 = 0 Tendo em conta (1.19), resulta θ0 = π 6 ⇒ θ = π 6 + 2kπ β 0 = 0 ⇒ β = 0 + 2k′π 2o) Para w = (0, 1, 1), temos ρ = √ 02 + 12 + 12 = √ 2, então cos θ 0 · cosβ 0 = x ρ = 0√ 2 = 0 sen θ0 · cosβ0 = y ρ = 1√ 2 sen β 0 = z ρ = 1√ 2 Tendo em conta (1.19), desta útima equação concluimos que β 0 = π4 , sendo assim resulta cos θ0 · cos π4 = 0 ⇒ cos θ0 = 0 ⇒ θ 0 = π2 sen θ 0 · cos π4 = √ 2 2 ⇒ sen θ0 = 1 Sendo assim, temos θ = π 2 + 2kπ, β = π 4 + 2k′π 3o) Para w = − √ 3 + 3i − 2j, temos ρ = √ (− √ 3)2 + 32 + (−2)2 = 4, então cos θ 0 · cosβ 0 = x ρ = − √ 3 4 sen θ 0 · cosβ 0 = y ρ = 3 4 sen β0 = z ρ = −2 4 = −−1 2 Gentil 27 Tendo em conta (1.19), desta útima equação concluimos que β0 = −π6 , sendo assim resulta cos θ 0 · cos(−π6 ) = − √ 3 4 ⇒ cos θ0 = − 12 ⇒ θ 0 = 2π3 sen θ 0 · cos(−π6 ) = 34 ⇒ sen θ0 = √ 3 2 Sendo assim, temos θ = 2π 3 + 2kπ, β = −π 6 + 2k′π Dado um número hipercomplexo w = (x, y, z), não nulo, podemos escrever w = (ρ cos θ 0 ·cosβ 0 , ρ sen θ 0 ·cosβ 0 , ρ senβ 0 ). Sendo ρ > 0, podemos reescrever, w = ρ (cos θ0 · cosβ0 , sen θ0 · cosβ0 , senβ0) chamada forma trigonométrica de w. Na forma algébrica (equação (1.13), pág. 22): w = ρ ( cos θ 0 · cosβ 0 + i sen θ 0 · cosβ 0 + j senβ 0 ) , se senβ 0 ≥ 0; ρ ( cos θ0 · cosβ0 + i sen θ0 · cosβ0 − j senβ0 ) , se senβ0 < 0. (1.20) Observe que se β0 = 0, resulta w = ρ ( cos θ0 + i sen θ0). 28 1.7.1 Representação gráfica As noções de módulo e argumento tornam-se mais concretas quando repre- sentamos os números hipercomplexos w = (x, y, z) pelos pontos do espaço R3, com a convenção de marcamos sobre os eixos 0X , 0Y e 0Z, respectivamente, a parte real, a parte imaginária e a parte hiperimaginária de w. Assim a cada número hipercomplexo w = (x, y, z) corresponde um único ponto P do espaço X0Y Z, assim: 0 z X x Y y Z P (x, y, z) r ρ ρ = √ x2+y2+z2 r = √ x2+y2 θ0 β0 0≤ θ0 < 2π −π2 ≤ β0 ≤ π2 Note que a distância entre w = (x, y, z) e 0 = (0, 0, 0) é o módulo de w: |w| = √ x2 + y2 + z2 = ρ Nomenclatura: X0Y Z = espaço R3; 0X = eixo real; 0Y = eixo imaginário; 0Z = eixo hiperimaginário; X0Y = plano complexo C; X0Z = plano hipercomplexo − 2D; P = afixo de w. Observação: Gráficamente a condição r = √ a2 + b2 = 0 para w = (a, b, c) significa que este número está localizado sobre o eixo 0Z. Desta forma as sentenças que definem o produto podem ser interpretadas como: 1a) r 1 = r 2 = 0. Neste caso w 1 e w 2 estão situados sobre o eixo 0Z. Isto é, dois hiperimaginários puro são multiplicados segundo D 1 . 2a) r 1 = 0 e r 2 6= 0. Neste caso w 1 está situado sobre o eixo 0Z e w 2 está situado fora deste eixo. Observe que as condições (D 2 ) e (D 3 ), para o produto, podem ser unificadas em uma única, onde fazemos r 1 (ou r 2 ) corresponder ao ponto que situa-se fora do eixo 0Z. 3a) r 1 6= 0 e r 2 6= 0. Neste caso w 1 e w 2 estão situados, ambos, fora do eixo 0Z. Desta forma dois números que não são hiperimaginários puro são multiplicados em D4 . Gentil 29 Considere, novamente, o diagrama de Venn: C R H−2D H−3D A seguir colocamos em destaque uma versão geométrica, Y Z i R Plano C j R Y Z P l a n o H − 2D Vimos que em H temos −w 6= −1 · w. Sendo, w = (x, y, z) −w = (−x, −y, −z) −1 · w = (−x, −y, z) Geometricamente −w é uma rotação de 180o (em torno da origem) em w; en- quanto −1 · w pode ser visto como a rotação anterior seguida de uma reflexão, com respeito ao plano complexo. Por exemplo, assim, 30 Y Z X w −w −1·w Um problema clássico no contexto dos hipercomplexos O fato de os hipercomplexos residirem em dimensão 3, enquanto os com- plexos em dimensão 2 isto, naturalmente, se reflete na (re) solução de um mesmo problema trabalhado em um ou outro destes espaços. Vejamos um exemplo do que estamos falando. Vamos resolver o clássico, Problema: Separar o número 10 em duas partes x e y tais que o produto destas seja 40. Solução: Devemos resolver o seguinte sistema, { x + y = 10 (1.21) x · y = 40 (1.22) 1o) Resolução no universo C. Tirando y na primeira equação e substituindo na segunda, obtemos: x · ( 10 + (−x) ) = 40 Aplicando a propriedade distributiva e associativa temos 10 x − x2 = 40, ou ainda, x2 − 10x + 40 = 0. Sendo assim, temos x = −(−10)± √ (−10)2 − 4 · 1 · 40 2 = 5 ± √ −15 Sendo assim, em C, temos uma única solução para este problema: X Y x=5+i √ 15 y=5−i √ 15 5p x = 5 + i √ 15 y = 5 − i √ 15 Gentil 31 2o) Resolução no universo H. Aqui vamos fazer uma mudança de notação, { x′ + y′ = 10 (1.23) x′ · y′ = 40 (1.24) Tirando y′ na primeira equação e substituindo na segunda, obtemos: x′ · ( 10 + (−x′) ) = 40 (1.25) Observe que em H não podemos aplicar, na equação acima, a propriedade distri- butiva da multiplicação em relação à adição. Devemos proceder assim: façamos x′ = (x, y, z). Substituindo em (1.25), resulta (x, y, z) · ( 10+ (−x, −y,−z) ) = 40, de outro modo, (x, y, z) · (10 − x, −y, −z) = 40 Inicialmente observamos que este problema só tem solução se considerar- mos r 1 = √ x2 + y2 6= 0 (por que?). Sendo assim calculemos o produto anterior em D 4 : (( x · (10− x) − y · (−y) ) · γ, ( x · (−y) + (10− x) · y ) · γ, z · r 2 + (−z) · r 1 ) = 40 onde, r 1 = √ x2 + y2, r 2 = √ (10 − x)2 + y2 e γ = 1+z2/(r 1 ·r 2 ). Sendo assim, montamos o seguinte sistema (10x − x2 + y2) · ( 1 + z2 r 1 · r 2 ) = 40 (1.26) (−2xy + 10y) · ( 1 + z2 r 1 · r 2 ) = 0 (1.27) z · (r 2 − r 1 ) = 0 (1.28) De (1.26) e (1.27) concluimos que −2xy +10y = 0, ou ainda (−x+5) ·y = 0. Desta equação tiramos y = 0 ou x = 5. Então: I ) x = 5 ⇒ r 1 = r 2 = √ y2 + 25 γ = 1 + z 2 y2+25 As equações (1.27) e (1.28) estão satisfeitas, resta satisfazer (1.26): (10 · 5 − 52 + y2) · ( 1 + z2 25 + y2 ) = 40 Donde, y2 + z2 = 15 (cilindro) Logo, (x = 5 ) ︸ ︷︷ ︸ plano ∩ ( y2 + z2 = 15 ) ︸ ︷︷ ︸ cilindro = ćırculo (1.29) 32 II) y = 0 ⇒ r 1 = |x|, r 2 = |x − 10| γ = 1 + z 2 |x|·|x−10| A equação (1.27) está satisfeita, resta satisfazer (1.26) e (1.28): (10x − x2 + 02) · ( 1 + z2 |x| · |x − 10| ) = 40 z · ( |x| − |x − 10| ) = 0 Desta última equação concluimos que z = 0 ou |x| − |x− 10| = 0. Se z = 0, na primeira equação obtemos 10x− x2 = 40, a qual não tem solução (porquanto x deve ser real). Se |x| − |x − 10| = 0, resulta x = 5; volta ao primeiro caso. Deste modo existem infinitas soluções para o nosso problema, todas da forma, x′ = (5, y, z), y′ = (5, −y, −z), onde y2 + z2 = 15. Tomando, por exemplo, z = 0, obtemos y = ± √ 15. Como as soluções são “conjugadas”, resulta: x′ = ( 5, √ 15, 0 ), y′ = ( 5, − √ 15, 0 ) que é a solução complexa. Tomando, por exemplo, y = 0, obtemos z = ± √ 15. Como as soluções são “conjugadas”, resulta: x′ = ( 5, 0, √ 15 ), y′ = ( 5, 0, − √ 15 ) que é a solução hipercomplexa (2 − D) (ver [5]). A equação y2 + z2 = 15 representa um cilindro em R3, a interseção deste cilindro com o plano x = 5 nos dá um ćırculo (eq. (1.29)), onde moram as infinitas soluções do nosso problema. Geometricamente temos, X Y Z x′ y′ 5 X Y Z 5 No gráfico da direita temos, na cor azul, os afixos da solução complexa e, na cor vermelha, os afixos da solução hipercomplexa (2 − D). Gentil 33 Multiplicação na forma trigonométrica Veremos a seguir que a multiplicação na forma trigonométrica se apre- senta de forma mais simples (e mais estética) que na forma retangular e, o que é melhor, nos possibilita dar uma interpretação geométrica ao produto hiper- complexo, o que aumentará, substancialmente, o espectro de aplicações destes números. Proposição 6. Dois números na forma trigonométrica, w1 = ρ1 (cos θ1 · cosβ1 , sen θ1 · cosβ1 , sen β1) w 2 = ρ 2 (cos θ 2 · cosβ 2 , sen θ 2 · cosβ 2 , sen β 2 ) onde cosβ 1 ≥ 0 e cosβ 2 ≥ 0, são multiplicados da seguinte forma: w 1 ·w 2 = ρ 1 ρ 2 ( cos(θ 1 +θ 2 )·cos(β 1 +β 2 ), sen (θ 1 +θ 2 )·cos(β 1 +β 2 ), sen (β 1 +β 2 ) ) Prova: Apêndice, pág. 142 � Notas: 1a ) Uma observação importante a respeito desta proposição é que, para qual- quer número do eixo 0Z (β = π2 + k π, k ∈ Z ) devemos tomar θ = 0 e β = π2 ou θ = 0 e β = −π2 , antes de fazer a multiplicação. Uma vez que pontos do eixo OZ têm θ indeterminado, estamos “levan- tando” esta indeterminação convencionando que θ = 0, não há nenhum mal nisto, desde que estejamos todos de acordo. 2a ) Para deduzir esta fórmula para a multiplicação supomos cosβ 1 ≥ 0 e cosβ 2 ≥ 0; esta não é uma restrição séria tendo em conta que qualquer hi- percomplexo w pode ser escrito com cosβ ≥ 0 (ver (1.18), pág. 25). 3a ) Observe outrossim que, enquanto a multiplicação em coordenadas retangu- lares (definição) é dada em quatro sentenças, na forma trigonométrica é dada em apenas uma. Isto se deve à restrição referida na nota anterior. Corolário 2. O módulo do produto de dois números hipercomplexos é igual ao produto dos módulos dos fatores. Isto é, |w 1 · w 2 | = |w 1 | · |w 2 | Prova: Basta ter em conta que, para quaisquer ângulos λ e γ, temos: √ (cos λ cos γ)2 + ( sen λ cos γ)2 + ( sen γ)2 = 1 � Proposição 7. Dois números na forma trigonométrica, w 1 = ρ 1 (cos θ 1 · cosβ 1 , sen θ 1 · cosβ 1 , sen β 1 ) w2 = ρ2 (cos θ2 · cosβ2 , sen θ2 · cosβ2 , sen β2) onde cosβ 1 ≥ 0 e cosβ 2 ≥ 0, são divididos da seguinte forma: w 1 w2 = ρ 1 ρ2 ( cos(θ1 − θ2) · cos(β1 −β2), sen (θ1 − θ2) · cos(β1 − β2), sen (β1 − β2) ) 34 Prova: Provamos esta proposição utilizando a anterior. Pois bem, tendo em conta (1.17) (pág. 25) escrevemos w−1 2 = 1 ρ 2 ( cos θ 2 · cosβ 2 , − sen θ 2 · cosβ 2 , − senβ 2 ) = 1 ρ 2 ( cos(−θ 2 ) · cos(−β 2 ), sen (−θ 2 ) · cos(−β 2 ), sen (−β 2 ) ) Realizando o produto w 1 ·w−1 2 de acordo com a proposição 6, temos o resultado desejado. � Corolário 3. O módulo do quociente de dois números hipercomplexos é igual ao quociente dos módulos dos hipercomplexos. Isto é, ∣ ∣ ∣ w 1 w 2 ∣ ∣ ∣ = |w 1 | |w 2 | Prova: Basta ter em conta que, para quaisquer ângulos λ e γ, temos: √ (cosλ cos γ)2 + ( senλ cos γ)2 + ( sen γ)2 = 1 � 1.8 Potenciação Definição 7. Sejam w um número hipercomplexo e n um número natural. Potência de base w e expoente n é o número wn tal que: { w0 = 1; wn = wn−1 · w, ∀n, n ≥ 1. Desta definição decorre que: w1 = w0 · w = 1 · w w2 = w1 · w = w · w w3 = w2 · w = (w · w) · w w4 = w3 · w = [ (w · w) · w ] · w Proposição 8. A seguinte identidade é válida jn = { −1, se n é par; j, se n é ı́mpar. Prova: Indução sobre n. 1o) n par. Para n = 2 já mostramos que a proposição é verdadeira. Suponhamos a Gentil 35 validade da mesma para n = k, isto é, jk = −1. Mostremos que a proposição continua válida para o próximo par n = k + 2: jk+2 = (jk · j) · j = (−1 · j) · j = j · j = j2 = −1 2o) n ı́mpar. Análogo. � Lema 1. Se w = (x, y, z) então, w2 = (−z2, 0, 0), se x = y = 0; ( (x2 − y2) · ( 1 − z2x2+y2 ) , 2 x y · ( 1 − z2x2+y2 ) , 2z √ x2 + y2 ) , se x 6= 0 ou y 6= 0. Prova: Seja w = (x, y, z). Para calcular w · w, temos duas alternativas, 1a ) r = √ x2 + y2 = 0 (x = y = 0). Deste modo calculamos o produto em (D 1 ) (pág. 8), w · w = (−z · z, 0, 0). 2a ) r = √ x2 + y2 6= 0. Deste modo calcule o produto em (D 4 ). � Como exemplo, calculemos (i + j)2. Temos i + j = (0, 1, 0) + (0, 0, 1) = (0, 1, 1) ⇒ x = 0, y = 1, z = 1. Sendo assim, temos (i + j)2 = ( (x2 − y2) · ( 1 − z 2 x2 + y2 ) , 2 x y · ( 1 − z 2 x2 + y2 ) , 2z √ x2 + y2 ) = ( (02 − 12) · ( 1 − 1 2 02 + 12 ) , 2 · 0 · 1 · ( 1 − 1 2 02 + 12 ) , 2 · 1 √ 02 + 12 ) = (0, 0, 2) = 2j Exerćıcio: Seja w ∈ H, mostre que w · (−w) ∈ C. Dado w = (x, y, z) ∈ H observamos que a cota de w2 tem o mesmo sinal de z. Isto significa que ao multiplicarmos um hipercomplexo por ele mesmo o resultado permanece no mesmo semi-espaço (z > 0 ou z < 0) de w. Vamos mostrar que isto vale para qualquer potência de w. Proposição 9. Seja w = (x, y, z) ∈ H. Temos, Se wn = (x′, y′, z′), então sign (z′) = sign (z), ∀n ≥ 2. Prova: Indução sobre n. Para n = 2 a proposição decorre do lema (1). Suponhamos a proposição verdadeira para n = k. Isto é, wk = (a, b, c), onde sign (c) = sign (z) (hipótese de indução) E mostremos que vale para n = k + 1. Isto é, wk+1 = (x′, y′, z′) ⇒ sign (z′) = sign (z) (tese de indução) 36 Então, wk+1 = wk · w = (a, b, c) · (x, y, c) = ( (ax − by) γ, (ay + bx) γ, c r 2 + z r 1 ) Temos z′ = c r 2 + z r 1 , donde decorre a tese, tendo em conta a hipótese de indução. � Definição 8 (Reflexo). Dado o hipercomplexo w = (x, y, z) definimos como o reflexo de w o hipercomplexo (x, y, −z). Notação: ẇ = (x, y, −z). Temos a seguinte, Proposição 10. Seja o hipercomplexo w = (a, b, c); se wn = (d, e, f), então ẇn = (d, e, −f). Prova: Indução sobre n. Sendo, ẇ = (a, b, −c); para n = 2, temos w2 = ( (a2 − b2) · ( 1 − c 2 a2 + b2 ) , 2 a b · ( 1 − c 2 a2 + b2 ) , 2c √ a2 + b2 ) ẇ2 = ( (a2 − b2) · ( 1 − (−c) 2 a2 + b2 ) , 2 a b · ( 1 − (−c) 2 a2 + b2 ) , 2(−c) √ a2 + b2 ) Sendo assim a proposição resulta verdadeira para n = 2. Suponhamos verda- deira para n = k, isto é, Se wk = (d, e, f), então ẇk = (d, e, −f) (H.I.) Mostremos que vale para n = k + 1, isto é, Se wk+1 = (g, h, i), então ẇk+1 = (g, h, −i) (T.I.) Vamos calcular os números wk+1 e ẇk+1 para efeito de comparação, wk+1 = wk · w = (d, e, f) · (a, b, c) = (a, b, c) · (d, e, f) = ( (a · d − b · e)γ, (a · e + d · b)γ, c · r 2 + f · r 1 ) (1.30) Onde, r1 = √ a2 + b2 , r2 = √ d 2 + e2 e γ = 1 − c · f r1 · r2 Por outro lado, temos ẇk+1 = ẇk · ẇ = (d, e, −f) · (a, b, −c) = (a, b, −c) · (d, e, −f) = ( (a · d − b · e)γ′, (a · e + d · b)γ′, (−c) · r 2 + (−f) · r 1 ) = ( (a · d − b · e)γ′, (a · e + d · b)γ′, −(c · r2 + f · r 1 ) ) (1.31) Onde, r 1 = √ a2 + b2 , r 2 = √ d 2 + e2 e γ′ = 1 − (−c) · (−f) r 1 · r 2 Comparando (1.30) e (1.31), e tendo em conta que γ = γ′, a proposição resulta verdadeira! � Gentil 37 Observe que, w + ẇ ∈ C, w · ẇ ∈ C Com o aux́ılio do lema 1 vamos deduzir uma fórmula para o cálculo de w2 · w2, assim: Façamos w2 = ( (x2 − y2)λ, 2xyλ, 2zr ) onde, λ = 1 − z 2 x2 + y2 , r = √ x2 + y2 Para o cálculo de w2 · w2, façamos, r̃ = √ (x2 − y2)2 λ2 + 4x2y2 λ2 = |λ|r2 λ̃ = 1 − (2zr) 2 ( (x2 − y2)λ )2 + (2xyλ)2 = 1 − 4z 2 r2 λ2 (x2 + y2)2 = 1 − 4z 2 r2 λ2 r4 = 1 − 4z 2 λ2 r2 = 1 − 4z 2 λ2 (x2 + y2) Deste modo, sendo w2 · w2 = (X, Y, Z), devemos ter X = ( (x2 − y2)2 λ2 − 4x2y2λ2 ) λ̃ Y = 2 ( (x2 − y2)λ ) · (2xyλ) · λ̃ Z = 2 · (2zr) · r̃ Simplificando, X = ( (x2 − y2)2 − 4x2y2 ) λ2 λ̃ Y = 4xy(x2 − y2)λ2 λ̃ (1.32) Z = 4zr|λ|r2 = 4z(x2 + y2) 32 |λ| 38 Potenciação na forma trigonométrica Para os números hipercomplexos vale uma versão (mais fraca) da lei de De Moivre, Proposição 11 (De Moivre). Dados o hipercomplexo w = ρ (cos θ ·cos β, sen θ · cosβ, sen β), não nulo, e o natural n ≥ 2, temos: wn = ρn (cosn θ · cosn β, sen n θ · cosn β, sen nβ) (1.33) desde que: cosβ ≥ 0, cos 2β ≥ 0, . . . , cos(n − 1)β ≥ 0. Prova: Prinćıpio da Indução Finita. Para n = 2, a proposição é verdadeira (devido à prop. 6). Admitamos a validade da proposição para n = k − 1: wk−1 = ρk−1 ( cos(k−1) θ ·cos(k−1)β, sen (k−1) θ ·cos(k−1)β, sen (k−1)β ) onde, cosβ ≥ 0, cos 2β ≥ 0, . . . , cos ( (k − 1) − 1 ) β ≥ 0. E provemos que vale para n = k: wk = wk−1 · w = ρk−1 [ cos(k − 1) θ · cos(k − 1)β, sen (k − 1) θ · cos(k − 1)β, sen (k − 1)β ] · ρ (cos θ · cosβ, sen θ · cosβ, sen β) Pela proposição 6 podemos escrever: wk = (ρk−1 · ρ ) [ cos ( (k − 1) θ + θ ) · cos ( (k − 1)β + β ) , sen ( (k − 1) θ + θ ) · cos ( (k − 1)β + β ) , sen ( (k − 1)β + β ) ] = ρk (cos k θ · cos k β, sen k θ · cos k β, sen kβ) A fórmula (1.33) vale, por exemplo, para −π 2 ≤ (n − 1)β ≤ π 2 ⇔ − π 2(n− 1) ≤ β ≤ π 2(n − 1) (1.34) � Gentil 39 1.9 Forma polar As proposições 6 (pág. 33) e 7 nos permitem adotar uma outra notação para os números hipercomplexos: a forma polar, assim designada, w = ρ θ β Exemplos: Exprimir os seguintes números na forma polar: a) i b) j c) −1 d) 1 e) 1 + √ 3 i f) (1, −1, − √ 2). Solução: Lembramos que, ρ = √ x2 + y2 + z2, cos θ · cosβ = x ρ , sen θ · cosβ = y ρ , senβ = z ρ . Temos, a) i = (0, 1, 0), ρ = √ 02 + 12 + 02 = 1, temos sen β = z ρ = 0 1 = 0 ⇒ β = 0o (−90o ≤ β ≤ 90o) cos θ · cos 0o = 01 = 0 ⇒ cos θ = 0 ⇒ θ = 90o (0o ≤ θ < 360o) sen θ · cos 0o = 11 = 1 ⇒ sen θ = 1 Sendo assim, temos: i = 1 90o 0o b) j = (0, 0, 1), ρ = √ 02 + 02 + 12 = 1, temos sen β = z ρ = 0 1 = 0 ⇒ β = 0o cos θ · cos 90o = 01 = 0 ⇒ θ = indeterminado. sen θ · cos 90o = 01 = 0 ⇒ θ =indeterminado. Escolhendo θ = 0o, obtemos: j = 1 0o 90o c) −1 = (−1, 0, 0), ρ = √ (−1)2 + 02 + 02 = 1, temos sen β = z ρ = 0 1 = 0 ⇒ β = 0o cos θ · cos 0o = −11 = −1 ⇒ cos θ = −1 ⇒ θ = 180o sen θ · cos 0o = 01 = 0 ⇒ sen θ = 0 Sendo assim, temos: − 1 = 1 180o 0o 40 d) 1 = (1, 0, 0), ρ = √ 12 + 02 + 02 = 1, temos sen β = z ρ = 0 1 = 0 ⇒ β = 0o cos θ · cos 0o = 11 = 1 ⇒ cos θ = 1 ⇒ θ = 0o sen θ · cos 0o = 01 = 0 ⇒ sen θ = 0 Sendo assim, temos: 1 = 1 0o 0o e) 1 + √ 3 i = (1, √ 3, 0), ρ = 2, temos sen β = z ρ = 0 2 = 0 ⇒ β = 0o cos θ · cos 0o = 12 ⇒ cos θ = 12 ⇒ θ = 60o sen θ · cos 0o = √ 3 2 ⇒ sen θ = √ 3 2 Sendo assim, temos: 1 + √ 3 i = 2 60o 0o f) (1, 1, − √ 2), ρ = 2, temos senβ = z ρ = − √ 2 2 ⇒ β = −45o cos θ · cos(−45o) = xρ = 12 ⇒ cos θ = 1√2 ⇒ θ = 45o sen θ · cos(−45o) = yρ = 12 ⇒ sen θ = 1√2 Sendo assim, temos: (1, 1, − √ 2) = 2 45o −45o Multiplicação e divisão na forma polar Para multiplicar ou dividir dois hipercomplexos na forma polar nos valemos das proposições 6 (pág. 33) e 7, assim: Dados, w 1 = ρ 1 θ1 β1 e w 2 = ρ 2 θ2 β2, temos: M) Multiplicação w1 · w2 = ρ1ρ2 θ1+θ2 β1+β2 (1.35) D) Divisão w 1 w 2 = ρ 1 ρ 2 θ1−θ2 β1−β2 (1.36) Exemplos: Realizar na forma polar as seguintes operações: a) (−1) · i b) (j + 1)2 c) (j − 1)2 d) ( i+1 ) 2 ( j+1 )2 e) ( j+1 j−1 )2 f) (i + j)2 g) (i − j)2 h) (j − i)2 Gentil 41 Solução: a) Temos, −1 = (−1, 0, 0) = 1 180o 0o i = (0, 1, 0) = 1 90o 0o Então, −1 · i = ( 1 180o 0o ) · ( 1 90o 0o ) = 1 270o 0o b) Temos, j + 1 = (0, 0, 1) + (1, 0, 0) = (1, 0, 1) = √ 2 0o 45o Então, (j + 1)2 = (j + 1) · (j + 1) = (√ 2 0o 45o ) · (√ 2 0o 45o ) Portanto, (j + 1)2 = 2 0o 90o = 2 j Observe que, (j + 1)2 = j2 + 2j + 1 c) Temos, j − 1 = (0, 0, 1) − (1, 0, 0) = (−1, 0, 1) = √ 2 180o 45o Então, (j − 1)2 = (j − 1) · (j − 1) = (√ 2 180o 45o ) · (√ 2 180o 45o ) Portanto, (j − 1)2 = 2 360o 90o = 2 j Observe que, (j − 1)2 = j2 − 2j + 1 Ou ainda, (j + 1)2 = (j − 1)2 d) i + 1 = √ 2 45o 0o , j + 1 = √ 2 0o 45o . Temos (i + 1)2 (j + 1)2 = 2 90o 0o 2 0o 90o = 22 90 o−0o 0o−90o = 1 90o −90o = −j e) j + 1 = √ 2 0o 45o , j − 1 = √ 2 180o 45o . Então, j + 1 j − 1 = √ 2 0o 45o√ 2 180o 45o = 1 −180o 0o = −1 42 Sendo assim, temos ( j + 1 j − 1 )2 = ( 1 −180o 0o ) · ( 1 −180o 0o ) = 1 −360o 0o = 1 f) (i + j)2 = (i + j) · (i + j), temos i + j = (0, 1, 0) + (0, 0, 1) = (0, 1, 1) = √ 2 90o 45o Então, (i + j)2 = ( √ 2 90o 45o ) · ( √ 2 90o 45o ) = 2 180o 90o= 2 0o 90o= 2j Observe que, (i + j)2 6= i2 + 2 i j + j2. De fato, i2 + 2 i j + j2 = −1 + 2 i j − 1 = −2 + 2j Este fenômeno também ocorre na álgebra de matrizes. Lá o produto é distributivo, mas não comutativo; aqui é comutativo, mas não distributivo. g) (i − j)2 = (i − j) · (i − j), temos i − j = (0, 1, 0) + (0, 0, −1) = (0, 1, −1) = √ 2 90o −45o Então, (i − j)2 = ( √ 2 90o −45o) · ( √ 2 90o −45o) = 2 180o −90o = 2 0o −90o = −2j Observe que, (i − j)2 6= i2 − 2 i j + j2. De fato, i2 − 2 i j + j2 = −1 − 2 i j − 1 = −2 − 2j h) (j − i)2 = (j − i) · (j − i), temos j − i = (0, 0, 1) − (0, 1, 0) = (0, −1, 1) = √ 2 −90o 45o Então, (j − i)2 = ( √ 2 −90o 45o) · ( √ 2 −90o 45o) = 2 −180o 90o= 2 0o 90o = 2j Observe que (i − j)2 6= (j − i)2. Gentil 43 Transformação de coordenadas As calculadoras cient́ıficas trazem as transformações de coordenadas re- tangular para polar (e vice-versa). Estas transformações podem ser aplicadas ao plano complexo: p q 0 x y (x, y) r )θ 8 > < > : x = r cos θ y = r sen θ (r, θ)→ (x, y) 8 > > < > > : θ = tg−1 (y/x) r = √ x2 + y2 (x, y)→ (r, θ) Para o caso dos números hipercomplexos, o ângulo θ é o mesmo for- necido pelas calculadoras; o módulo ( ρ ) e ângulo β são obtidos da seguinte forma: 0 z X x Y y Z (x, y, z) ρ rθ β 8 > > < > > : β = tg−1 (z/r) ρ = √ x2 + y2 + z2 Dado um número na forma polar, a transformação para a forma retan- gular é obtida da seguinte forma: w = ρ θ β ⇒ x = ρ cos θ cosβ y = ρ sen θ cosβ z = ρ senβ (1.37) Na verdade existem calculadoras (HP por exemplo) que já trazem estas transformações no espaço (coordenadas esféricas). No apêndice (pág. 147) damos um programa para a transformação de coordenadas retangulares para polares. Importante! Dado um hipercomplexo w = ρ θ β com argumento (θ, β) podemos (para efeito de cálculos, quando necessário) usar o programa citado acima para escrevê-lo como w = ρ θ0 β0 em função do argumento principal (θ 0 , β 0 ). Por exemplo, seja o hipercomplexo w = 1 45o 120o para escrevê-lo em função do argumento principal vamos, antes, transformá-lo para coordenadas 44 retangulares, assim: w = 1 45o 120o ⇒ x = 1 cos 45o cos 120o y = 1 sen 45o cos 120o z = 1 sen 120o Levando os valores, x = − √ 2 4 , y = − √ 2 4 , z = − √ 3 2 no programa, obtemos w = 1 225o 60o , portanto, podemos escrever 1 45o 120o = 1 225o 60o Observe a localização de w: Y Z X w Nota: Óbviamente que podemos escrever w em funçãodo argumento prin- cipal, diretamente (isto é, sem passar pelas coordenadas retangulares), assim: 1 45o 120o = 1 180o+45o 180o−120o = 1 225o 60o A versão da lei de De Moivre em coordenadas polares fica assim, Proposição 12 (De Moivre). Dados o hipercomplexo w = ρ θ β , não nulo, e o natural n ≥ 2, temos: wn = ρn nθ nβ (1.38) desde que: cosβ ≥ 0, cos 2β ≥ 0, . . . , cos(n − 1)β ≥ 0. Exemplo: Seja o número w = ( √ 6 2 , √ 6 2 , 1 ) , calcule w5. Solução: Escrevendo este número em coordenadas polares temos w = 2 π 4 π 6 . Substituindo β = π6 na desigualdade (1.34), temos − π2(n−1) ≤ π6 ≤ π2(n−1) ⇒ n ≤ 4. Isto significa que pela fórmula de De Moivre podemos calcular só até a quarta potência. Então, w4 = 24 4· π 4 4·π6 = 16 π 2π 3 Gentil 45 Observe que cos 2π3 = cos 120 o < 0, razão porque não pudemos calcular w5 diretamente por (1.38). Mas, isto não constitui nenhum empecilho uma vez que podemos reescrever w4 em função do argumento principal, assim: w4 = 16 π 2π 3 = 16 π+π π− 2π 3 = 16 0 π 3 Observe que, θ = 2π ≃ 0. Pois bem, w5 = w4 · w = 16 0 π3 · 2 π4 π6 = 16 · 2 0+ π4 π3 + π6 = 32 π4 π2 Voltando para a forma retangular, obtemos (ver (4.3), pág. 139) w5 = 32 π 4 π 2 ⇒ x = 32 cos π4 cos π 2 = 0 y = 32 sen π4 cos π 2 = 0 z = 32 sen π2 = 32 Portanto, ( √ 6 2 , √ 6 2 , 1 )5 = (0, 0, 32) Ou ainda, ( √ 6 2 + i √ 6 2 + j )5 = 32j 1.9.1 Interpretação geométrica da multiplicação hipercom- plexa Agora iremos dar uma interpretação geométrica ao produto hipercomplexo. No caso particular dos complexos ( plano - C ) e dos hipercomplexos bidimen- sionais ( plano H − 2D ) já sabemos o que acontece ( ver [5] ). Adotaremos a seguinte notação: j ( 2 ) w = j j w ⇒ j ( 2 ) w = j ( j w ) j ( 3 ) w = j j j w ⇒ j ( 3 ) w = j ( j ( j w ) ) · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · Antes de mais nada observamos, pela multiplicação na forma polar, que a interpretação geométrica desta operação é a de uma rotação∗ no espaço; entre- tanto vejamos algumas situações particulares: I ) Multiplicação de j por um número complexo z = (x, y, 0). Temos (0, 0, 1) · (x, y, 0) = ( − 1·0·xr 2 , − 1·0·yr 2 , 1 · r 2 ) = (0, 0, √ x2 + y2) Portanto, j · z = ( 0, 0, |z| ) Observe que se |z| = 1 (ćırculo unitário no plano complexo) então j ·z = j. Conclusão: multiplicar j por um número complexo significa rotacioná-lo de 90o na “vertical”, assim: ∗Numa rotação não há alteração de módulo; cometeremos um abuso de linguagem igno- rando este pormenor. 46 Y Z j z R Plano C Y Z jz z R Plano C II ) Multiplicação de j por um número hipercomplexo w = (x, y, z). Temos j = 1 · (cos 0 · cos π 2 , sen 0 · cos π 2 , sen π 2 ) w = ρ (cos θ · cosβ, sen θ · cosβ, sen β) Então, jw = ρ ( cos θ · cos ( β + π 2 ) , sen θ · cos ( β + π 2 ) , sen ( β + π 2 )) Conclusão: multiplicar j por um número hipercomplexo significa rotacioná-lo de 90o “para cima”, assim: Y Z X j w Y Z X jw Nota: Óbviamente que o caso anterior ( jz ) é um caso particular deste ( jw ). Dado w = (x, y, z) ∈ H, desejamos agora analisar o produto j ( 2 ) w, em Gentil 47 coordenadas retangulares. Então∗, jw = (0, 0, 1) · (x, y, z) = ( − 1·z·xr 2 , − 1·z·yr 2 , r 2 ) = ( − xzr 2 , − yzr 2 , r 2 ) onde, r 2 = √ x2 + y2. Observe que a aplicação, (x, y, z) 7−→ ( − xz√ x2+y2 , − yz√ x2+y2 , √ x2 + y2 ) é uma rotação de 90o no plano que passa pelo eixo Oz e o ponto w. Continuando, j ( 2 ) w = (0, 0, 1) · ( − xzr 2 , − yzr 2 , r 2 ) = ( − 1·r 2 ·−xz r 2 r′ 2 , − 1·r 2 ·−yz r 2 r′ 2 , 1 · r′ 2 ) onde, r′ 2 = √( − xzr 2 )2 + ( − yzr 2 )2 = |z| Sendo assim, resulta, j ( 2 ) w = ( x z |z| , y z |z| , |z| ) Ou ainda, j ( 2 ) w = ( x z |z| , y z |z| , |z| ) = { w, se z > 0; −w, se z < 0. III ) Multiplicação de um complexo z por um hipercomplexo w. Temos∗ z = (cos θ 1 · cos 0, sen θ 1 · cos 0, sen 0) w2 = ρ2 (cos θ2 · cosβ2 , sen θ2 · cosβ2 , sen β2) Então, zw = ρ 2 ( cos ( θ 1 + θ 2 ) · cosβ 2 , sen ( θ 1 + θ 2 ) · cosβ 2 , sen β 2 ) Conclusão: multiplicar um número complexo z por um hipercomplexo w sig- nifica rotacionar w de θ 1 graus “para a direita”; não há rotação “para cima”, assim: ∗Para nossa análise vamos considerar w um hipercomplexo não-singular. ∗Para nossa análise vamos considerar o complexo de módulo unitário, não faz mal. 48 Y Z X w z Y Z X w zw θ 1 Vejamos esta multiplicação em coordenadas retangulares. Sejam, z = (cos θ, sen θ, 0) e w = (x, y, z). Temos, zw = (cos θ, sen θ, 0) · (x, y, z) = ( (x cos θ − y sen θ) γ, (y cos θ + x sen θ) γ, 0 · r2 + z · r1 ) onde, r 1 = √ cos2 θ + sen 2θ = 1, r 2 = √ x2 + y2 e γ = 1. Então, zw = ( x cos θ − y sen θ, y cos θ + x sen θ, z ) O que confirma o resultado anterior. IV ) Multiplicação e divisão de dois hipercomplexos. Para interpretar o produto w 1 · w 2 , convencionaremos chamar o fator à direita (isto é, w 2 ) de indutor e o fator à esquerda de induzido. Quando, na forma trigonométrica (ou polar) do produto (ou quociente) comparece a soma θ1 + θ2 dizemos que houve uma rotação positiva na pri- meira variável (variável θ); em θ 1 −θ 2 dizemos que houve uma rotação negativa; análogamente com respeito à segunda variável (β ). A partir das proposições 6 e 7, pág. 33, (ou suas similares pág. 40) não é dif́ıcil inferir o significado geométrico destas operações. Por exemplo, a multiplicação, w1 · w2 = ρ1ρ2 ( cos(θ1 + θ2) · cos(β1 + β2), sen (θ1 + θ2) · cos(β1 + β2), sen (β1 + β2) ) pode ser interpretada da seguinte forma: o número w1 sofreu uma rotação (+, + ) de argumento ( θ 2 , β 2 ). A divisão, w1 w 2 = ρ1 ρ 2 θ1−θ2 β1−β2 pode ser interpretada da seguinte forma: o número w 1 sofreu uma rotação (−, − ) de argumento ( θ 2 , β 2 ). Exemplos: Vejamos um exemplo concreto: multiplicar os números, w 1 = 1 30o 45o , w 2 = 1 225o 60o Gentil 49 Temos, w 1 · w 2 = 1 · 1 30o+225o 45o+60o = 1 255o 105o Podemos interpretar este produto dizendo que w 1 sofre uma rotação (+, + ) de argumento ( 225o, 60o ). Graficamente, temos Y Z X w 2 Y Z X w 2 w 1 ·w 2 Temos, w 1 · w 2 = 1 255o 105o = 1 75o 75o Vejamos um exemplo envolvendo divisão: No hipercomplexo ( √ 2 2 , √ 6 2 , √ 2 ) dar uma rotação (−, −) de argumento (90o, 60o). Solução: Por (1.36) (pág. 40), devemos realizar a seguinte divisão: w 1 w 2 = ( √ 2 2 , √ 6 2 , √ 2 ) 1 90o 60o Temos duas alternativas para esta divisão: em coordenadas polares ou em coordenadas retangulares. Façamos das duas formas: a) Forma Polar. Temos w1 w 2 = 2 60o 45o 1 90o 60o = 2 60o−90o 45o−60o = 2 −30o −15o b) Forma retangular. Temos w 1 w 2 = ( √ 2 2 , √ 6 2 , √ 2 ) ( 0, 12 , √ 3 2 ) = ( √ 2 2 , √ 6 2 , √ 2 ) · ( 0,− 12 ,− √ 3 2 ) Realizando este produto encontramos, w 1 w2 = ( (1+ √ 3 )· √ 6 4 , − (1+ √ 3 )· √ 2 4 , − √ 6− √ 2 2 ) Podemos usar o programa dado no apêndice para transformar este número para a forma polar, então ( (1+ √ 3 )· √ 6 4 , − (1+ √ 3 )· √ 2 4 , − √ 6− √ 2 2 ) = 2 −30o −15o Geometricamente, temos 50 Y Z X w1 w 2 Y Z w1 w 2 w 1 w2 Temos, ( (1+ √ 3 )· √ 6 4 , − (1+ √ 3 )· √ 2 4 , − √ 6− √ 2 2 ) ≃ (1, 673; −0, 966; −0, 518) Rotação em torno da origem Segundo a proposição 6 (pág. 33) se multiplicarmos o número w 1 = 1 · (cos θ · cosβ, sen θ · cosβ, senβ) pelo ponto (número) w = (x, y, z) obteremos uma rotação, deste último, de um ângulo (θ, β). Para atender a referida proposição basta escolher −π2 ≤ β ≤ π2 (isto é, cosβ ≥ 0). Para obter a rotação - de argumento (θ, β) - de um ponto w = (x, y, z), em torno da origem, devemos realizar o produto: (cos θ · cosβ, sen θ · cosβ, sen β) · (x, y, z) Vamos calcular este produto para o caso especial em que, r1 = √ (cos θ · cosβ)2+ ( sen θ · cosβ)2 = | cosβ| = cosβ 6= 0 ⇒ β 6= ±π 2 . e w fora do eixo Oz. Sendo assim, multiplicamos em (D 4 ): ( (x·cos θ·cosβ−y· sen θ·cosβ)γ, (y·cos θ·cos β+x· sen θ·cosβ)γ, senβ·r 2 +z·cosβ ) Onde, r 2 = √ x2 + y2 e γ = 1 − z senβ cos β √ x2+y2 , isto é, γ = 1 − z√ x2+y2 tgβ. Façamos, x′ =(x cos θ cosβ − y sen θ cosβ) γ y′ =(y cos θ cosβ + x sen θ cosβ) γ z′ = √ x2 + y2 · senβ + z · cosβ Exemplos: a ) Rotacione w = ( 1, 0, 0 ) de um ângulo (45o, 45o). Gentil 51 Temos, x′ =(1 cos 45o cos 45o − 0 sen 45o cos 45o) · 1 = 1 2 y′ =(0 cos 45o cos 45o + 1 sen 45o cos 45o) · 1 = 1 2 z′ = √ 12 + 02 · sen 45o + 0 · cos 45o = √ 2 2 Observe que, |w′| = √ ( 1 2 )2 + ( 1 2 )2 + ( √ 2 2 )2 = 1 = |w| b ) Rotacione w = ( 1, −1, 2 ) de um ângulo (135o, −30o). Temos, x′ =(1 cos 135o cos−30o − (−1) sen 135o cos−30o) · ( 1 + √ 6 3 ) y′ =(−1 cos 135o cos−30o + 1 sen 135o cos−30o) · ( 1 + √ 6 3 ) z′ = √ 12 + (−1)2 · sen − 30o + 2 · cos−30o Então, x′ = ( 1 ( − √ 2 2 ) √ 3 2 + 1 √ 2 2 √ 3 2 ) · ( 1 + √ 6 3 ) = 0 y′ = ( − 1 ( − √ 2 2 ) √ 3 2 + 1 √ 2 2 √ 3 2 ) · ( 1 + √ 6 3 ) = 1 + √ 6 2 z′ = √ 2 · ( − 1 2 ) + 2 · √ 3 2 = √ 3 − √ 2 2 Observe que, |w′| = √ 02 + ( 1 + √ 6 2 )2 + (√ 3 − √ 2 2 )2 = √ 6 = |w| Geometricamente, os exemplos anteriores ficam w X Y Z w′ w X Y Z w′ 52 c ) Na figura a seguir, rotacionamos o triângulo de vértices, ( 1 ) : ( 1 2 , 0, 0 ) , ( 2 ) : ( 1, 0, 0 ) , ( 3 ) : ( 1, 0, 1 ) X Y Z ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) X Y Z ( 1 ) ( 2 ) ( 3 ) ( 1 )′ ( 2 )′ ( 3 )′ X Y Z de um ângulo (90o, 45o). Na figura do centro temos o triângulo original rotacionado de θ = 90o e β = 0o (triângulo “intermediário”). Calculemos as coordenadas de cada um dos vértices do triângulo rotacio- nado. Vértice: ( 1 )′. Temos ( 1 ) : ( 1 2 , 0, 0 ) . Então, x′ = ( 1 2 cos 90 o cos 45o − 0 sen 90o cos 45o ) · 1 = 0 y′ = ( 0 cos 90o cos 45o + 12 sen 90 o cos 45o ) · 1 = √ 2 4 z′ = √ ( 12 ) 2 + 02 · sen 45o + 0 · cos 45o = √ 2 4 Então, ( 1 )′ : ( 0, √ 2 4 , √ 2 4 ) . Vértice: ( 2 )′. Temos ( 2 ) : ( 1, 0, 0 ) . Então, x′ = ( 1 cos 90o cos 45o − 0 sen 90o cos 45o ) · 1 = 0 y′ = ( 0 cos 90o cos 45o + 1 sen 90o cos 45o ) · 1 = √ 2 2 z′ = √ 12 + 02 · sen 45o + 0 · cos 45o = √ 2 2 Então, ( 2 )′ : ( 0, √ 2 2 , √ 2 2 ) . Vértice: ( 3 )′. Temos ( 3 ) : ( 1, 0, 1 ) . Então, x′ = ( 1 cos 90o cos 45o − 0 sen 90o cos 45o ) · 0 = 0 y′ = ( 0 cos 90o cos 45o + 1 sen 90o cos 45o ) · 0 = 0 z′ = √ 12 + 02 · sen 45o + 1 · cos 45o = √ 2 Então, ( 2 )′ : ( 0, 0, √ 2 ) . Gentil 53 Porque a multiplicação em R3 não poderia ser associativa Daremos agora uma justificativa - geométrica - pela qual não se deve- ria esperar uma multiplicação em R3 associativa. Assumiremos, únicamente, que uma tal multiplicação, como ocorre em R2, resulta em uma rotação. Va- mos retomar o exemplo 4o ), pág. 10. Neste exemplo resolvemos a equação: (1, −1, 2) · w = (1, 0, 3) e mostramos que a mesma tem duas soluções, w′ = ( 1 + 3 √ 2 6 , 1 + 3 √ 2 6 , −2 + 3 √ 2 6 ) = 1, 29 45, 00o 16, 83o e w′′ = ( 1 − 3 √ 2 6 , 1 − 3 √ 2 6 , 2 + 3 √ 2 6 ) = 1, 29 225, 00o 53, 70o Isto significa que podemos ir do ponto a = (1, −1, 2) ao ponto b = (1, 0, 3) (ou ainda: superpor o ponto a ao ponto b) por dois “caminhos” distintos; caminhos estes dados por w′ e w′′. Isto podemos ver no gráfico seguinte, a R R R b E o que aconteceria se tivéssemos resolvido a equação a · w = b supondo a multiplicação associativa? Isto é, a · w = b ⇔ a−1 · (a · w) = a−1 · b ⇔ w = a−1 · b Temos, a−1 = ( 1 6 , 1 6 , −2 6 ) ⇒ w = ( 1 6 , 1 6 , −2 6 ) · (1, 0, 3) = 1, 29 45, 00o 16, 83o Uma única solução. Ou seja, estariamos perdendo “informação”. Ou ainda: se a multiplicação fosse associativa, isto não refletiria a “realidade” ; isto é, o fato de podermos ir de a para b por dois caminhos distintos. De outro modo: No plano a equação a ·w = b tem apenas uma solução por- que temos uma única alternativa de irmos de a para b através de uma rotação; agora com uma dimensão a mais (isto é, saindo do plano para o espaço) se nos apresenta mais um caminho; isto se deve, como já vimos, ao fato de a multiplicação não ser associativa. Ou melhor: isto vai se refletir na não associ- atividade da multiplicação. 54 Porque a multiplicação em R3 não poderia ser distributiva Para justificar porque o “natural” é que a multiplicação em R3 não seja distributiva, podemos tecer comentários análogos ao do caso anterior, só que agora invocando o problema clássico resolvido à pág. 30. De fato, vamos resolver este problema aplicando a distributividade na equação (1.25) (pág. 31), assim 10x′ + x′ · (−x′) = 40 Temos, x′ · (−x′) = (x, y, z) · (−x, −y, −z) = ( (−x2 + y2)γ, (−xy − xy)γ, zr2 + (−z)r1 ) onde, r 1 = √ x2 + y2, r 2 = √ (−x)2 + (−y)2, γ = 1 − z·(−z)r 1 ·r 2 = 1 + z 2 x2+y2 . Portanto, x′ · (−x′) = ( (−x2 + y2)γ, −2xyγ, 0 ) 10x′ = (10x, 10y, 10z) Sendo assim, resulta 10x′ + x′ · (−x′) = ( 10x + (−x2 + y2)γ, 10y − 2xyγ, 10z ) = (40, 0, 0) Portanto, 10x + (−x2 + y2)γ = 40 10y − 2xyγ = 0 10z = 0 Temos, z = 0 ⇒ γ = 1. Prosseguindo, encontramos uma única solução: x′ = (5, √ 15, 0) e y′ = (5, − √ 15, 0); que é a solução complexa. Conclusão: Estamos perdendo infinitas soluções; ou ainda: a distributivi- dade nos “esconde” a “maioria” das soluções. Vê-se, nestes exemplos, que a multiplicação não ser associativa e nem dis- tributiva, redunda em vantagens. Gentil 55 1.10 Radiciação Definição 9. Dado um número hipercomplexo w, chama-se raiz enésima de w, e denota-se, n √ w, a um número hipercomplexo w k tal que wn k = w. Então, n √ w = w k ⇐⇒ wn k = w Exemplos: Calcular, a) √ 1 b) √ −1 c) √j d) √1 + i + j e) √1 − j f) 4√1 + i + j Solução: a) Pela definição, temos √ 1 = (x, y, z) = w ⇔ (x, y, z)2 = 1. Para resolver esta equação temos duas alternativas: 1a ) r = √ x2 + y2 = 0 (x = y = 0), sendo assim, pelo lema 1 (pág. 35), resulta, w2 = (−z2, 0, 0) = (1, 0, 0) ⇒ −z2 = 1 ⇒ z2 = −1. Esta possibilidade está descartada, porquanto z é real. 2a ) r = √ x2 + y2 6= 0. Pelo lema 1 devemos ter, w2 = ( (x2 − y2) · ( 1− z 2 x2 + y2 ) , 2 x y · ( 1− z 2 x2 + y2 ) , 2z √ x2 + y2 ) = (1, 0, 0) De imediato concluimos que z = 0, no que resulta: { x2 − y2 = 1 x y = 0 Da segunda equação concluimos que x = 0 ou y = 0, da primeira equação concluimos que x 6= 0; portanto y = 0. Resultando, x = ± 1. Portanto, são em número de duas as ráızes quadradas de 1: √ 1 = (1, 0, 0) ⇒ √ 1 = 1. √ 1 = (−1, 0, 0) ⇒ √ 1 = −1. b) Por definição de raiz quadrada, temos √ −1 = (x, y, z) = w ⇔ (x, y, z)2 = −1. Para resolver esta equação temos duas alternativas: 1a ) r = √ x2 + y2 = 0 (x = y = 0), sendo assim, pelo lema 1, resulta, w2 = (−z2, 0, 0) = (−1, 0, 0) ⇒ −z2 = −1 ⇒ z2 = 1 ⇒ z = ± 1. Neste caso, temos duas ráızes quadradas de -1: (0, 0, 1) = j e (0, 0,−1) = −j. 2a ) r = √ x2 + y2 6= 0. Pelo lema 1 devemos ter, w2 = ( (x2−y2)· ( 1− z 2 x2 + y2 ) , 2 x y · ( 1− z 2 x2 + y2 ) , 2z √ x2 + y2 ) = (−1, 0, 0) 56 De imediato concluimos que z = 0, no que resulta: { x2 − y2 = −1 x y = 0 Da segunda equação concluimos que x = 0 ou y = 0, da primeira equação concluimos que y 6= 0; portanto x = 0. Resultando, y = ± 1. Portanto, temos mais duas ráızes quadradas de -1: √ −1 = (0, 1, 0) ⇒ √ 1 = i. √ −1 = (0, −1, 0) ⇒ √ 1 = −i. Resumindo, temos quatro valores para √ −1, quais sejam: √ −1 = ± i, √ −1 = ± j. c) Por definição de raiz quadrada, temos √ j = (x, y, z) = w ⇔ (x, y, z)2 = j. Para resolver esta equação temos duas alternativas: 1a ) r = √ x2 + y2 = 0 (x = y = 0), sendo assim, pelo lema 1, resulta, w2 = (−z2, 0, 0) = (0, 0, 1) Está possibilidade está excluida. 2a ) r = √ x2 + y2 6=
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