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organização de Antonio Carlos Barossi O edifício da FAU-USP de Vilanova Artigas O edifício da FAU-USP de Vilanova Artigas realização patrocínio obras fundamentais v. 2 organização de Antonio Carlos Barossi O edifício da FAU-USP de Vilanova Artigas 5 Um conselho profissional a serviço da sociedade A missão do Conselho de Arquitetura e Urbanismo é orientar, disciplinar e fiscalizar o exer- cício profissional, conforme parâmetros éticos e atento à adequada formação acadêmica. Resultado de décadas de reivindicação da categoria, o CAU é uma autarquia federal criada pela lei 12.378, de 2010, sendo dotado de personalidade jurídica de direito público. Tem sua sede em Brasília (CAU/BR), com uma representação em cada unidade da federação (CAU/UFs). Quase metade dos profissionais ativos no país, aproximadamente 55 mil arquitetos e urbanistas, está radicada em São Paulo, o que amplia o desafio do CAU/SP no trabalho permanente pela regulamentação e aperfeiçoamento da profissão. A valorização profissional frente às discussões sobre mobilidade e acessibilidade urbanas, atribuições profissionais, campanhas pela habitação social e preservação do patrimônio arquitetônico, sustentabilidade e ética são questões primordiais para o Conselho. Para isso, o CAU conta com os avanços da tecnologia de informação – que suportam suas ações de fiscalização e a relação direta com os profissionais –, estruturado por sedes regionais de atendimento, distribuídas em dez municípios, além da sede na capital paulista. O patrocínio de eventos e publicações relacionadas à Arquitetura e Urbanismo faz parte das iniciativas do nosso Conselho. Neste caso, a participação na publicação de uma obra como o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, se reveste de grande importância, por se tratar de um dos ícones da Arquitetura moderna brasileira e mundial, concebida pelo arquiteto João Batista Vilanova Artigas, que é um marco na produção da arquitetura paulista. O conceito de sua criação, seus espaços, sua estrutura e suas soluções arquitetônicas são um ótimo exemplo a ser divulgado, demonstrando nesta publicação, a importância desse marco arquitetônico e o justo e necessário esforço para a impressão deste livro, que assim poderá ser levado ao amplo conhecimento dos estudantes de arquitetura, dos arquitetos e urbanistas, e da sociedade em geral. Assim, o CAU/SP está colaborando para a divulgação de nossa profissão e valorizando o papel de arquitetos e urbanistas na sociedade e na cultura brasileira. Gilberto Belleza Presidente do CAU/SP 1. Vista do peristilo norte, 1970. 2. Rampas da FAU-USP (p. 6-7), 2010. “Para conhecer as coisas, há que dar-lhes a volta, dar-lhes a volta toda.” José Saramago 11 13 19 23 40 42 43 46 60 62 63 66 71 74 82 84 86 88 90 103 107 116 118 128 128 130 139 sumário 143 147 149 153 156 158 161 164 171 174 177 179 185 188 193 197 203 206 Apresentação | Fábio Valentim Introdução | Antonio Carlos Barossi João Batista Vilanova Artigas | Rosa Artigas parte 1 Arquitetura e construção Desenhos e imagens Plantas, cortes, elevações e fotos | Antonio Carlos Barossi e Guilherme Pianca Moreno Construção | Antonio Carlos Barossi Terrapleno Fundações Estrutura Cobertura Vedos Paramentos Pavimentos Vãos Equipamentos eletromecânicos Equipamentos hidrossanitários Paisagismo Sinalização: letras da FAU-USP | Priscila Lena Farias Mobiliário: sobre o mobiliário original | Lucinda Ferreira Prestes Programa Arquitetura do aprendizado e da formação: usos e áreas | Antonio Carlos Barossi Processo Breve crônica da construção da FAU-USP | Felipe de Araújo Contier Referências O templo-escola de Vilanova Artigas | Ana Paula Pontes Linha do tempo da década de 1960 - edifício | Maira Rosin Geometrias e significados | Antonio Carlos Barossi Informações Ficha técnica | Antonio Carlos Barossi O edifício descrito pelo arquiteto Vilanova Artigas Paleta compositiva | Tatiana Tatit Barossi FAU-USP em números | Rodrigo Vergili parte 2 Arquiteto e contexto Homem Arquiteto, militante político e professor | Joana Mello de Carvalho e Silva Aprovado com média 10! | Dalva Thomaz Lugar A origem de São Paulo e o local onde foi construído o edifício da FAU-USP | José Paulo Gouvêa A cidade universitária de São Paulo | Felipe de Araújo Contier História Linha do tempo do século XX - Artigas | Maira Rosin Arquitetura e utopia: o tempo e as ideologias em torno de Artigas | Carlos Guilherme Mota e Mariana de Souza Rolim O prédio da FAU-USP numa perspectiva histórica da arquitetura brasileira | Dalva Thomaz O edifício da FAU-USP e o PAGE | Mônica Junqueira de Camargo parte 3 Presente e futuro Escola Artigas: espaços de formação | Rafael Antonio Cunha Perrone O espaço da realização do ensino e do aprendizado | Antonio Carlos Barossi As coisas que sabemos de cor | Juliana Braga Intervenções Leituras para compreender o edifício | Antonio Carlos Barossi Demandas O edifício da FAU-USP e as novas demandas | Antonio Carlos Barossi Pesquisa, gestão e conservação Uma nova cultura de projeto | Beatriz Mugayar Kühl, Antonio Carlos Barossi e Silvio Oksman Patrimônio Um olhar contemporâneo | Silvio Oksman Referências bibliográficas Autores Créditos das imagens e agradecimentos 11 Apresentação Fábio Valentim O edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), paradigma da arquitetura paulista, é hoje compreendido como importante rea- lização da arquitetura moderna. Projetado no início da década de 1960, o prédio congrega em sua espacialidade aspectos singulares da visão de seu autor, o arquiteto, educador e militante político de esquerda Vilanova Artigas. O plano de ensino do curso de arquitetura e o espaço da escola foram por ele pensados e desenhados como aspectos indissociáveis, indicando um futuro positivo para um país então confiante em seu desenvolvimento. As condições políticas adversas que se sucederam no Brasil após o golpe de 1964, e que perduraram para além do momento em que o prédio foi inaugurado, limitaram o alcance da obra no plano crítico internacional. Isso é algo que vem sendo revertido, sobretudo depois do interesse pela arquitetura paulista despertado pela obra de Paulo Mendes da Rocha, laureado com o Prêmio Pritzker em 2006. Para coordenar esta publicação, convidamos Antonio Carlos Barossi, arquiteto e profes- sor ligado à FAU e à Escola da Cidade, cujo vínculo com o edifício de Artigas e com o ensino de projeto é visceral. Figura agregadora e querida por todos, Barossi convocou arquitetos, professores e críticos para colaborarem com o livro. Pessoas de áreas diversas contribuí- ram na montagem de um quadro em que cada aspecto do prédio foi investigado e aferido, processo que incluiu o redesenho da arquitetura do edifício, que até então não tinha uma representação fidedigna. Pesquisa histórica, ensaios sobre o edifício hoje e apontamentos sobre seu futuro estão contemplados nesta publicação, em que pontos de vista diversos são expostos, às vezes se completam, às vezes se contradizem, mas sobretudo indicam uma enorme quantidade de reflexões que só uma obra dessa importância é capaz de promover. A realização desta publicação é uma conquista importante no projeto editorial da Escola da Cidade, desde sempre interessada na divulgação do legado da arquitetura moderna brasileira. A publicação de O edifício da FAU-USP dá sequência à série Obras Fundamentais, iniciada com Masp: estrutura, proporção e forma, em 2015. 3. Vista do salão caramelo a partir da rampa de acesso ao piso das salas de aula. Atentar para a "varanda" da fachada leste, 1968. 12 13 Introdução Antonio Carlos Barossi Da esquerda para direita, de cima para baixo: 1. Museu Solomon R. Guggenheim, Nova York, EUA, 1959, Frank Lloyd Wright 2. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), Rio de Janeiro, RJ, 1967, Affonso Eduardo Reidy 3. Catedral de Brasília, Brasília, DF, 1970, Oscar Niemeyer 4. Museu de Arte deSão Paulo Assis Chateaubriand (Masp), São Paulo, SP, 1968, Lina Bo Bardi 5. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), São Paulo, SP, 1969, João Batista Vilanova Artigas e colaboração de Carlos Cascaldi 6. Centro Cultural São Paulo (CCSP), São Paulo, SP, 1982, Eurico Prado Lopes e Luiz Telles 7. Congresso Nacional, Brasília, DF, 1960, Oscar Niemeyer. * Os edifícios aqui desenhados na mesma escala, foram escolhidos pelo organizador por serem amplamente conhecidos, proporcionando assim um percepção visual da escala e da proporção entre eles e o edifício da FAU. A FAU-USP e Artigas. O primeiro volume da série Obras Fundamentais, publicado em 2015, é dedicado ao Museu de Arte de São Paulo – Masp (1968), obra da arquiteta Lina Bo Bardi. O objeto deste segundo volume é o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU-USP (1969). Projetado e construído ao longo da década de 1960, foi concebido pelo arquiteto João Batista Vilanova Artigas, com colaboração do arquiteto Carlos Cascaldi, simultaneamente à reestruturação curricular da escola realizada nesse mesmo período e em consonância com ela. Tendo colaborado com a criação da FAU em 1948, Artigas liderou essa estruturação que se tornaria referência na organização do ensino de arquitetura desde então. Em 1972, Artigas recebe da União Internacional dos Arquitetos (UIA) o prêmio Jean Tschumi pela contribuição com o ensino de arquitetura e urbanismo. De importância reconhecida nacional e internacionalmente, a FAU recebeu, em 1969, o Grande Prêmio Internacional de Arquitetura da X Bienal de São Paulo. Em 1981, foi tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do estado de São Paulo) e, em 1991, pelo Conpresp (Conselho Municipal de Pre- servação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo). O edifício da FAU, além da qualidade arquitetônica em si, é expressão e síntese do legado do arquiteto, militante progressista e professor Artigas, que influencia até hoje gerações de estudantes e profissionais pelo conjunto da arquitetura que produziu, pelas conquistas e pelas lições de sua ação política e social e pela referência como professor e pensador. Visão de conjunto, imagens como texto, desenhos como escrita. O livro reúne infor- mações e imagens na maioria já publicadas e conhecidas do prédio da FAU. Os desenhos e textos porém foram feitos especificamente para a publicação, com informações agrupadas e apresentadas de forma a oferecer uma visão de conjunto da arquitetura do edifício. A ideia é propiciar um olhar que considera a importância e o significado da obra, mas que também independe deles. Uma visão de conjunto que na forma seja uma maneira de abordar a arquitetura e no conteúdo contribua para o conhecimento do edifício da FAU. Após a identificação preliminar da obra e do autor, o livro está organizado em três partes: • parte 1, para conhecer: o que (representação), como (construção), para que (pro- grama de uso) e de que forma (processo, referências e geometrias). • parte 2, para compreender: quem (vivência), quando (época em que foi executado), onde (localização), por que (história e crítica). • parte 3, para apropriar: utilização (aprendizado, usos e intervenções), perspectivas (novas demandas e possibilidades, pesquisas) e valor (patrimônio e conservação). Pretende-se um olhar como aquele próprio do arquiteto, que é um olhar em si e também é de projeto, por meio do qual a representação das partes procura definir o todo através de nexos que se estabeleçam entre eles. Além dos textos propriamente ditos, entende-se aqui as imagens como redação e os desenhos como escrita. Assim como o texto informa o raciocínio, as imagens constroem o olhar, e a coerência de ambos propicia uma visão de conjunto que, como o olhar, constitui particularidade e ênfase do ofício. Como se o livro, em vez de ter o texto como estruturador 200 40 m D1. Relação entre edifícios*. 1:2000 14 15 • o catálogo com os desenhos da exposição de 1973 em homenagem ao arquiteto por ocasião da outorga do prêmio Jean Tschumi (1972), publicado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo (IAB-SP) e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento da Guanabara (IAB-GB). • as fotos da inauguração do edifício (acervo família Artigas), da construção (arquivo da Superintendência do Espaço Físico da Universidade de São Paulo (SEF-USP) e as captadas logo após a inauguração (acervo da Biblioteca da FAU-USP). Além do concreto aparente. O edifício da FAU tem soluções emblemáticas, como o concreto aparente, a cobertura única translúcida, o predomínio expressivo da estrutura, a continuidade espacial das rampas e dos meios níveis, as empenas, o desenho do pilar externo, o vazio central e outras, cuja excepcionalidade por vezes ofusca a percepção para as soluções ordinárias do projeto, de qualidade equivalente e que, além de contribuir para a afirmação do todo, caracterizam igualmente o pensamento, a arquitetura e a maneira de projetar de Vilanova Artigas. Cada solução específica não se resolve em si mesma, mas converge para a afirmação de ideias gerais, nas quais cada problema não é uma dificuldade, mas uma oportunidade para o desenho. Sem reduzir o significado maior dessas soluções emblemáticas que identificam a obra, pretende-se relativizá-las, de forma a contribuir para que outros aspectos possam ser considerados na apreensão do que é o edifício como um todo. Contexto e produção da obra. A concepção do edifício da FAU foi realizada num contexto social de produção que compreendeu um intenso e diversificado processo de decisões, com a participação de vários agentes, como demonstra a pesquisa de Felipe de Araújo Contier em sua tese de doutorado (2015). Esse processo definiu o que é o edifício da FAU, no qual Artigas e outros colaboradores participaram ativamente ao ter uma clara concepção para o projeto como norte das decisões. O que não significa uma ressalva, ao contrário, é uma consideração que qualifica o projeto. Afirma a importância do desenho como referência para uma atuação consequente, tendo em vista a qualidade da arquitetura no processo de produção da obra, no qual ele transcende o desenho propriamente dito, mas nele interfere e exige consideração, ajustes, revisões, além de enfrentamento e resistência. Para o arquiteto, a referência e o critério para essa atuação é o desenho. O conjunto de informações e desenhos aqui apresentados pretende também contribuir para a compreensão do resultado desse processo nas soluções adotadas no projeto. Inspiração e referência. Os seguintes trabalhos sobre a FAU tiveram especial importância e significado para este livro como inspiração e referência: • O catálogo com os desenhos da exposição de 1973 em homenagem a Artigas por ocasião da outorga do prêmio Jean Tschumi (1972), publicado pelo IAB-SP e IAB-GB. • O caderno dos riscos originais: projeto do edifício da FAU-USP na Cidade Universitária/ João Batista Vilanova Artigas, coordenado pelo arquiteto Roberto Portugal Albuquerque e publicado pela FAU-USP em 1985. • A tese de doutorado do arquiteto Felipe de Araújo Contier, O edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Cidade Universitária: projeto e construção da escola de Vila- nova Artigas, orientada pelo arquiteto Renato Luiz Sobral Anelli e defendida no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP (IAU-USP), em 2015. • A disciplina optativa interdepartamental da FAU , “Subsídios investigativos e projetuais para preservação do patrimônio edificado”, e os trabalhos acadêmicos produzidos pelos estudantes no curso, cujo objeto são os edifícios da FAU. • Vale destacar também a importância, para a viabilização deste livro, do material compi- lado junto à Biblioteca da FAU-USP e ao Centro de Preservação Cultural da Universidade e imagens ilustrativas apostas, fosse um conjunto estruturado e uno deimagens elabora- das, com textos ilustrativos a elas vinculados. São poucas fotos, que em geral procuram estabelecer algum nexo em relação aos desenhos e aos textos. Entende-se aqui que, assim como o domínio de sintaxe, gramática, léxico e raciocínio lógico está para o entendimento do texto escrito, o rigor de representação, geometria, dimensão, escala, proporção está para a visualidade necessária à compreensão da arquitetura. A sequência busca a lógica da representação do projeto; sua elaboração, a coerência da geometria; a descrição da obra, a sistemática da construção. Qual FAU? Pretende-se que o edifício da FAU aqui apresentado seja o mais fiel possível àquele que foi inaugurado em fevereiro de 1969. Não se trata, porém, de um “as built”, mas da interpretação formal, à maneira de um projeto, do resultado do conjunto de desenhos e decisões que resultaram na obra inaugurada. As bases utilizadas, além das verificações in loco, foram: • os desenhos de execução de arquitetura e de instalações realizados pelo Escritório Técnico do Fundo para Construção da Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira (FCCUASO) em 1968, sob a supervisão de Artigas. • os desenhos do projeto estrutural realizado pelo escritório técnico do engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz. • as plantas da FAU do arquiteto Abrahão Sanovicz com a listagem e a locação do mobiliário encaminhadas por Artigas à reitoria. • os desenhos do arquiteto João Carlos Cauduro para o mobiliário da FAU. 4. Vista da fachada principal do edifício já concluído. 16 17 de São Paulo (CPC-USP) e organizado pela equipe do Plano de Gestão e Conservação do Edifício Vilanova Artigas, financiado pela Getty Foundation através do programa Keep it Modern. • Também do livro Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP: documentos históricos, organizado por Lucinda Ferreira Prestes e publicado pela FAU-USP em 2011. Uma das propriedades pretendidas para o livro foi expressar em si mesmo, como método e essência, uma das características primordiais do próprio edifício, que é propiciar a conver- gência das relações humanas, atribuindo caráter coletivo ao trabalho realizado em seu espaço. Esse foi o critério das participações, das inclusões e das referências, diretas ou indiretas, na sua produção. O apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo foi essencial para a con- cretização deste projeto, pelo entendimento da importância da produção do livro e pela compreensão do processo de trabalho. Por fim, a Escola da Cidade, ao oferecer a oportunidade para a realização deste livro, desdobra os espaços de liberdade e cidadania que o edifício propõe, como se também fizesse parte de seu ambiente, juntamente com a arquitetura de muitos dos que nele, ou sobre ele, estudaram. E, dialeticamente, a realização do livro na Escola da Cidade significa também uma contribuição para a contemporaneidade da escola na qual se inspira. 8. Carimbo de uma prancha do projeto executivo de instalações hidráulicas do eng. Homero Lopes.6. Carimbo de uma prancha de localização do mobiliário. 7. Carimbo de uma prancha do projeto executivo desenvolvido pelo FCCUASO sob coordenação de Artigas. 5. Carimbo de uma prancha do projeto de estrutura do Escritorio técnico Figueiredo Ferraz. 19 João Batista Vilanova Artigas Rosa Artigas A segunda geração de intelectuais e artistas modernos, que sucedeu àquela dos pioneiros modernistas dos anos 1920, se caracterizou pela capacidade de participação e militância multiplicada em diferentes áreas da cultura e se traduziu em ações efetivas na formação de diversas instituições destinadas à organização da cultura moderna em São Paulo. A partir da criação da Universidade de São Paulo (1934) e do Departamento de Cultura do Município de São Paulo (1935), vários organismos foram formados: os museus de arte (Masp e MAM), a União Brasileira de Escritores (UBE), o Sindicato dos Artistas Plásticos, o Clube dos Artistas e Amigos da Arte, o Departamento de São Paulo do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SP), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). No início dos anos 1950, foram criadas a Bienal de São Paulo, a Cinemateca e a Cia. Vera Cruz. São desse período revistas importantes voltadas para a critica cultural, os Suplementos Literários, associações, editoras e galerias de arte. No âmbito da arquitetura, um dos principais representantes dessa nova geração integrada à cultura moderna foi João Batista Vilanova Artigas. Nascido em Curitiba em 1915, foi para São Paulo em 1933 para estudar arquitetura na Escola Politécnica. Recém-formado, no início dos anos 1940, o arquiteto dividia seu tempo entre uma pequena e ativa construtora – a Marone & Artigas –, a docência na cadeira de estética, composição geral e urbanismo na Poli, a militância no IAB-SP, que ajudou a fundar e frequentava as aulas de modelo vivo nos ateliês do Grupo Santa Helena. Participava das discussões e das ações visando à separação entre a arquite- tura e a engenharia enquanto diferentes práticas profissionais, que inspiraram a fundação da FAU-USP, em 1948, da qual se tornou professor. Artigas ainda encontrava tempo e disposição para participar de conselhos de revistas culturais, de museus e associações, além de militar, a partir de 1945, no Partido Comunista Brasileiro (PCB). A partir do final da década de 1950, sua obra já madura era identificada pela clara defi- nição estrutural proporcionada pelo uso do concreto aparente e abordava diferentes tipos de programas: casas que se transformaram em modelo para várias gerações de arquitetos, conjuntos habitacionais, clubes de lazer, sedes administrativas de sindicatos, edifícios comer- ciais e públicos de usos diversos. Mas foram seus projetos para as escolas, caracterizados por vazios internos, pátios de usos coletivos e circulação por rampas, que marcaram uma relação necessária e definitiva entre espaço e programa em sua obra. Para construí-las, Artigas se apoiou no pensamento crítico sobre a sociedade e sobre o papel da arquitetura no ideário da peculiar modernidade brasileira. Os debates sobre a formação do novo arquiteto deram a Vilanova Artigas a oportunidade de liderar o processo de criação de uma nova proposta pedagógica para a FAU em 1962, cuja estrutura essencial, hoje, mais de cinquenta anos depois, ainda é influente em muitas escolas de arquitetura pelo Brasil. Em sua síntese, o plano de ensino propunha que o novo arquiteto 9. Vilanova Artigas por ocasião da aula de sua titulação na FAU-USP em 1984. 20 21 deveria ser formado por meio do conhecimento crítico da realidade e do enfrentamento dos problemas concretos colocados diante da sociedade pelos programas necessários para o desenvolvimento do país. Iniciado na mesma época, o projeto de Artigas para o prédio da FAU na Cidade Universitária consolidava, de um lado, o novo programa pedagógico e, de outro, a modernidade desenhada por um plano de desenvolvimento nacional. Como seu criador, o edifício resistiu, desde a con- cepção, à incompreensão de muitos, depois ao mau uso e ao desprezo nos tempos terríveis da ditadura e, finalmente, ao abandono e ao desinteresse provocados pela burocracia universitária e por certo hedonismo que prevaleceu nas gerações mais novas. Edifício e arquiteto também enfrentaram o perigo da proteção excessiva do espírito conservacionista que queria fazê-los intocáveis – monumento e mito –, negando a experiência histórica e a necessária relação entre os novos e os velhos tempos. 10. Homenagem a Artigas pela obtenção do prêmio Jean Tschumi, União Internacional dos Arquitetos (UIA), Varna, Bulgária, 1972. 11. Artigas em seu escritório na sede do IAB, em São Paulo, 1951. 12. Artigas discursando para os estudantes no piso do museu, 1979. 23 parte 1 Arquitetura e construção 13. Vista para o leste, a partir do salão caramelo: sobre ele, à esquerda, o mezanino da administração acadêmica e à direita, a biblioteca em cima os estúdios.Atentar para a varanda ainda existente no térreo, 1969. Desenhos e imagens Plantas, cortes e elevações Antonio Carlos Barossi e Guilherme Pianca Moreno Os desenhos que seguem foram feitos, ou “reescritos”, especificamente para este livro. Em escalas definidas, procuram resgatar e representar fielmente a construção e sua geometria. As fotos, já conhecidas, são para instrumentar a leitura; há uma correspondência entre elas e os desenhos, seja por terem sido tiradas do nível correspondente quando o desenho é uma planta, seja por terem alguma equivalência com o que se vê em cortes e elevações. Assim, as fotos conferem escala aos desenhos e esses propiciam o entendimento de cada foto e sua localização. Os oito pavimentos do edifício foram numerados de baixo para cima. As cotas de nível indicadas nos desenhos são as mesmas do projeto executivo, sendo que a de implantação é 0,00 e corresponde à cota NMM 725,00 (nível médio do mar). As cotas de nível indicadas são conforme os cortes desenhados nas pranchas mais recentes do FCCUASO de julho de 1968. A identificação dos eixos e dos pilares é a mesma do projeto estrutural. No título dos desenhos, além do número do pavimento e da atividade principal, a cota de nível do projeto é acompanhada da cota NMM correspondente. A posição das plantas em relação ao norte é a mesma do projeto, inclusive a implantação no setor das humanas, onde há um giro de 180°. Mais do que conferir escala ao desenho, foram colocadas escalas humanas nos cortes e nas elevações com a intenção de contribuir para a compreensão do espaço pela maneira e na postura como estão nele dispostas. Procurou-se colocá-las em situações nas quais sua atitude e sua posição façam sentido em relação ao espaço. Essas escalas humanas foram digitalizadas a partir dos desenhos de Artigas em seus outros projetos. A intenção foi destacar uma característica desses desenhos que é o fato de serem mais que uma maneira de mostrar a escala humana. O que as pessoas estão fazendo, a maneira como se vestem, para onde olham etc, faz sentido em relação à destinação dos espaços. Parecem estar ali como uma maneira de verificar a relação das pessoas entre si e com o espaço naquele lugar. 24 25 Lista de desenhos D2. Escalas humanas de outros projetos de Artigas digitalizadas e vetorizadas. Escalas 1:100, 1:250 e 1:500 14. Banco do saguão de entrada. Observar a transição do piso de mosaico para o de epoxi. código legenda escala página D1 Relação entre edifícios 1:2.000 12 D2 Escalas humanas de outros projetos de Artigas, digitalizadas e vetorizadas 24 D3 Mapa macrometropolitano, 2016 1:1.000.000 26 D4 Localização: Mapa do centro expandido de São Paulo, 2016 1:100.000 26 D5 Planta de situação no campus Butantã da USP com volumes edificados, 2016 1:25.000 27 D6 Planta de situação do campus Butantã da USP com topografia 1:25.000 27 D7 Implantação em corte setor das humanas (FCUASO + Arquitetos) 1:5.000 28 D8 Implantação setor das humanas (FCUASO + Arquitetos) 1:5.000 28 D9 Implantação setor das humanas, Artigas 1961 1:5.000 29 D10 Corte de implantação FAU 1:2.000 D11 Implantação 1:1.000 30 D12 Corte transversal SN 1:250 31 D13 Planta pavimentos 1 e 2 - auditório e oficinas 1:500 32 D14 Planta pavimentos 3 e 4 - caramelo e museu 1:500 33 D15 Planta pavimentos 5 e 6 - biblioteca e departamentos 1:500 34 D16 Corte transversal NS 1:500 35 D17 Corte longitudinal LO 1:500 35 D18 Planta pavimentos 7 e 8 - estúdios e salas de aula 1:500 36 D19 Corte longitudinal OL 1:500 36 D20 Elevação norte 1:500 37 D21 Planta de cobertura 1:500 38 D22 Elevação sul 1:500 38 D23 Elevação leste 1:500 39 D24 Elevação oeste 1:500 39 D25 Corte com fundações e terraplenagem 1:750 43 D26 Planta de fundações (estacas e tubulões) e unifilar de infraestrutura 1:500 45 D27 Esquema de cotas de nível, pés-direitos e espessuras 1:200 47 D28 Diagrama unifilar da estrutura pavimentos 3 e 4 1:500 51 D29 Diagrama unifilar da estrutura pavimentos 5 e 6 1:500 53 D30 Diagrama unifilar da estrutura pavimentos 7 e 8 1:500 55 D31 Diagrama unifilarda estrutura I cobertura 1:500 57 D32 Detalhe da empena e do pendural 1:100 58 D33 Seção no centro da viga protendida 1:25 58 D34 Elevação das vigas protendidas com disposição dos cabos 1:100 58 D35 Planta ampliada de laje, módulos: múltiplos e submúltiplos 1:200 59 D36 Corte ampliado da cobertura 1:50 60 D37 Planta ampliada de módulo estrutural da cobertura 1:250 61 D38 Diagrama da cobertura s/e 61 D39 Cheios e vazios/vedos e paramentos pavimentos 1 e 2 1:1000 64 D40 Cheios e vazios/vedos e paramentos pavimentos 3 e 4 1:1000 64 D41 Cheios e vazios/vedos e paramentos pavimentos 5 e 6 1:1000 65 D42 Cheios e vazios/vedos e paramentos pavimentos 7 e 8 1:1000 65 D43 Ampliação do desenho do mosaico 1:100 68 D44 Planta de piso - pavimento 1 1:500 69 D45 Planta de piso - pavimento 3 1:500 69 D46 Elevação caixilhos 1:100 70 D47 Detalhe dos caixilhos 1:10 70 D48 Diagrama de fluxos s/e 73 D49 Diagrama da infraestrutura elétrica principal 1:300 I 1:750 75 D50 Tomadas (ambientes abertos) pavimentos 3 e 4 1:1000 78 D51 Tomadas (ambientes abertos) pavimentos 5 e 6 1:1000 79 D52 Tomadas (ambientes abertos) pavimentos 7 e 8 1:1000 79 D53 Luminárias pavimentos 1 e 2 1:1000 80 D54 Luminárias pavimentos 3 e 4 1:1000 80 D55 Luminárias pavimentos 5 e 6 1:1000 81 D56 Luminárias pavimentos 7 e 8 1:1000 81 D57 Diagrama da infraestrutura hidráulica principal 1:300 I 1:750 83 D58 Letras de indicação dos sanitários feminino e masculino s/e 86 D59 Diagrama de interpretação da reforma de 1962 s/e 98 D60 Diagrama de áreas do programa s/e 99 D61 Apoios perimetrais, projeto (escala distorcida) 1:100 | 1:200 125 D62 Apoios perimetrais, como executados (escala distorcida) 1:200 125 D63 Apoios perimetrais como executados (escala normal) 1:200 126 D64 Geometria do símbolo da FAU-USP 1:25 127 D65 Mapa das chácaras de São Paulo s/e 150 D66 Esquema volumétrico da biblioteca s/e 183 1 2 3 4 5 6 2726 D3. Localização: mapa macrometropolitano, 2016. 1:1.000.000 100 20 km Santos Rodovia Anchieta Rodovia dos Imigrantes Rodovia Régis Bittencourt Marginal Tietê Centro Rodovia Castello Branco Rodovia Ayrton Senna Rodovia Presidente Dutra Rodovia dos Bandeirantes Rodovia Anhanguera USP Butantã Marginal Pinheiros D4. Localização: mapa centro expandido, 2016. 1:100.000 1. Novo edifício da FAU 2. Faculdade de medicina e Hospital das Clínicas 3. FAU Maranhão, ed. da rua Maria Antonia e Mackenzie 4. IAB-SP – escritório do arquiteto 5. Largo do São Francisco – Faculdade de Direito da USP 6. Antiga Politécnica 10 2 km D5. Planta de situação no campus Butantã da USP com volumes edificados, 2016. 1:25.000 D6. Planta de situação no campus Butantã da USP com topografia com curvas de nível a cada 5m, 2016. 1:25.000 2500 500 m 2500 500 m Localização, situação e implantação: plantas e cortes Localização e situação. Os mapas de localização e situ- ação bem como a foto aérea da FAU-USP e arredores, correspondem à situação atual da cidade de São Paulo. Na situação no campus da USP em 1:25.000, se vê o anexo projetado no final da década de 1980 pelo arqui- teto Gian Carlo Gasperini, que abriga atualmente as oficinas (modelos e ensaios, fotografia e programação gráfica) e o Canteiro experimental Antonio Domingos Battaglia, projetado pelo arquiteto Reginaldo Ronconi e construído em 1989. Implantação. Já os desenhos a seguir de implan- tação do edifício da FAU (1:5.000) consideram o setor das humanas conforme se vê nos desenhos de 1962, do escritório técnico do FCCUASO1, coordenado pelo arquiteto Paulo de Camargo (CONTIER, 2015: 237) e no desenho de implantação 1:1.000 do anteprojeto de Vilanova Artigas. Entende-se que correspondem à situação na qual Artigas baseou-se para implantar a FAU e que apresenta assim possíveis influências no que diz respeito à locação, acessos, orientação, visuais e o que mais o sítio pode determinar na concep- çãode um edifício e, inversamente, as consequências da implantação do edifício na configuração do lugar. 1. Acervo da Biblioteca da FAU-USP. O desenho do FCCUASO foi ajustado conforme os pro- jetos desenvolvidos na mesma época para os edifícios desse setor: História e Geografia (arq. Eduardo Corona), Letras (arq. Carlos Millan), Filosofia (arq. Paulo Mendes da Rocha), Geologia (arq. Pedro Paulo de Mello Saraiva) e Matemática (arq. Joaquim Guedes). No setor das humanas desenhado pelo escritório técnico do FCCUASO há um alinhamento homogêneo dos edifícios indicando uma continuidade entre eles, já no projeto de Artigas vê-se claramente dois conjuntos, cada um referenciado à uma esplanada para a qual estão voltados outros edifícios. Um compreende a Geologia, Letras, História e Psicologia, outro a Matemática, a FAU, Filosofia e Geologia. Há alguns nexos curiosos nesse desenho. Os dois edifícios que não são propriamente das Humanas, Matemática e Geologia, estão posiciona- dos transversalmente. Na esplanada das humanidades propriamente ditas, história, letras e filosofia um monu- mento marca a esplanada. Como um gesto de afirmação da cultura. Na esplanada da matemática, arquitetura e geologia o marco equivalente da esplanada, traçado com ênfase no desenho, é o talvegue arborizado onde está o lago que dá nome à rua. Como um gesto de domínio sobre a natureza. E o prédio da filosofia participa de ambas. Na sequência, a implantação 1:1000 com o entorno imediato. implantação setor das humanas Artigas, 1961 D9. Implantação feita a partir da base da “Planta Geral de Gleba” de 1962 com organização dos edifícios do setor de humanas de acordo com Implantação presente no conjunto de pranchas do Anteprojeto de Vilanova Artigas para FAU-USP, em 1961. 1:5.000 1. Matemática 2. Arquitetura e Urbanismo 3. Sociologia e Filosofia 4. Geologia, Paleontologia, Mineralogia, e Petrografia 5. Letras 6. Psicologia 7. História e Geografia 8. Monumento 1 2 3 4 5 6 7 8 implantação setor das humanas FCCUASO + arquitetos D8. Implantação do setor das humanas realizada a partir dos prédios construídos e dos projetos desenvolvidos. 1:5.000 1. Matemática: Joaquim Guedes 2. Arquitetura e Urbanismo: Vilanova Artigas 3. Sociologia e Filosofia: Paulo Mendes da Rocha 4. Geologia, Paleontologia, Mineralogia, e Petrografia: Pedro Paulo de Melo Saraiva 5. Letras: Carlos Millan 6. História e Geografia: Eduardo Corona 1 2 3 45 6 implantação em corte setor das humanas FCCUASO + arquitetos D7. Corte longitudinal do setor das humanas. Desenho feito a partir da base da “Planta Geral de Gleba” de 1962 e com últimas versões de cada um dos edifícios que compõem o eixo das humanas: História e Geografia de Eduardo Corona (projeto de 1961); Departamento de Filosofia, Ciências e Letras de Carlos Millan (antreprojeto de 1961); Departamento de Geologia, Paleontologia, Mineralogia e Petrologia de Pedro Paulo de Melo Saraiva (anteprojeto de 1961); Departamento de Antropologia e Sociologia, Cadeira de Economia Política e História das Doutrinas Econômicas, Secção de Filosofia Política de Paulo Mendes da Rocha (projeto executivo de 1962); Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Vilanova Artigas; e o Instituto de Matemática de Joaquim Guedes (anteprojeto de 1962). 1:5.000 123456 D10. Corte de Implantação da FAU-USP. 1:2.000 Rio Pinheiros Marginal Pinheiros Raia da USP avenida Prof. Mello Moraes avenida Prof. Luciano Gualberto rua do Lago FAU-USP História e Geografia Marginal Pinheiros Praça do Relógio Jockey Club Metro ButantãEstação CPTM Cidade Universitária Raia Olímpica espigão da Avenida Paulista 500 100m 200 40 m 15. Foto aérea da FAU-USP e arredores, 2016. 720.00 721.00 725.00 500 100 m avenida Prof. Luciano Gualberto rua do Lago estúdios biblioteca 1 77 7 2 34 5 D12. Corte transversal SN. 1:250 6 há calçadas paralelas ou complementares que levem à entrada do edifício. A esplanada, onde circulam as pessoas, é também onde estacionam os veículos, uma área pavimentada na qual há carros e pedestres. O asfalto não tem uma conotação rodoviária: a escadaria da plataforma de acesso das pessoas ao edifício inicia diretamente do piso de asfalto; o revestimento do laguinho é de asfalto, assim como são asfaltados os pisos das passarelas de pedestres projetadas por Artigas três anos depois. A faixa central gramada de 2,5 m de largura orga- niza os veículos em dois blocos compactos no meio da esplanada, como ilhas arborizadas que dialogam com o laguinho, cujo centro está alinhado a elas ao mesmo tempo que com a plataforma de ingresso. As árvores definem o ritmo das vagas (1/6). A largura da esplanada se estende além do simplesmente neces- sário para circulação e manobra dos veículos, o que garante a coexistência e exige urbanidade dos moto- ristas em relação aos pedestres. Compartilhando o espaço com a grama, as árvores, a água e os pedestres, os veículos não determinam o caráter da esplanada, que tem todos os seus limites livres, definidos sim- plesmente pelo término da pavimentação, sem vagas a obstruir suas bordas. Essas duas “ilhas” configuram entre si um vazio de 33 m que, alinhado à modulação estrutural do edi- fício e centralizado com sua plataforma de entrada, constitui extensão do edifício e praça de acesso à FAU dentro da esplanada que articula os edifícios do setor das humanas. O laguinho da FAU, em forma de hiperelipse, tem seu centro alinhado em uma direção ao eixo da plataforma de ingresso e em outra ao eixo das “ilhas” de arbori- zação. Colocado no meio do vazio aí formado, afirma definitivamente a praça ao constituir referência à FAU Maranhão (a Vila Penteado situada à rua Maranhão) – onde a escola foi fundada em 1948 e funcionou até a mudança para a Cidade Universitária, em 1969 –, em cuja fonte circular, localizada numa situação idên- tica, ocorria anualmente o banho festivo dos alunos ingressantes, que assim ocorre até hoje, agora no “novo” edifício. Ainda que finalizando o ritmo das vagas de estacio- namento, os dois últimos postes de iluminação, bem como as últimas árvores de cada uma dessas “ilhas”, ladeiam e balizam essa praça. Em vez de ter seu foco voltado para o estacionamento, como seria a praxe, os postes voltam-se para a praça, e a composição de suas curvaturas configura um pórtico que, além de iluminá-la, marca a direção do acesso ao edifício. Curiosamente, o edifício da FAU tem o mesmo posi- cionamento da Vila Penteado em relação ao norte geográfico, iguais direção e sentido de acesso, e os mesmos quatro degraus para ascender à plataforma de ingresso também em três locais: um central e dois laterais. O corte de implantação na escala 1:2.000 (página anterior) mostra a FAU implantada na cota NMM 725,00 em sua relação com o vale do rio Pinheiros e com o conjunto da Cidade Universitária. Está implantada sobre um aterro que, conforme as sondagens realizadas pela SOBRAF (Sociedade Brasileira de Fundações) em junho de 1961, varia de 6 m a 7 m acima da cota original da várzea que estava entre NMM 718,00 e 719,00 no local. Esse corte confirma espacialmente o que se vê na planta: a configuração de um recinto delimitado de um lado pelo volume do edifício da FAU e, do outro, pela encosta arborizada do morro da Biologia, como uma praça de acesso ao edifício. A opção pela entrada no edi- fício por esse recinto relativamente fechado e delimitado revela uma apropriação particular da vista predominante do campus para a cidade, incialmente obstruindo-a com o volume do edifício, para mostrá-la novamente ao nele ingressar, subindo a primeira rampa em direção à lanchonete, tendo aí uma visão progressivamente mais elevada da cidade e enquadrada ao final. Corte transversal SN Este é o corte clássico e mais significativo da FAU. Capaz de mostrar o edifício por inteiro. É como se ele se bastasse. Transversal em relação à geometria do edifício, é também em relação à arquitetura. Além depassar pelos locais onde estão todas as atividades essenciais do programa, mostra os principais ele- mentos de sua configuração espacial e construtiva: o vazio, as rampas, os meios níveis, a hierarquia das vigas, a modulação e suas variantes, a iluminação zenital, o acesso, o peristilo, os pilares externos, as empenas e o volume por elas formado. Implantação O projeto de um edifício, em princípio, considera seu entorno, mesmo que este não seja diretamente o objeto da intervenção; aliás, justamente por não ser é que deve ser considerado. Há, porém, uma área envoltória mínima na qual a intervenção é necessária para inserir o edifício no lugar. O desenho dessa intervenção é parte do projeto do edifício. Na FAU-USP, o desenho dessa envoltória só tem registros nas etapas preliminares do projeto, nas quais as ideias já estão manifestas, porém com configurações ligeiramente diferentes do executado. No entanto, as fotos da época da inauguração, a verificação in loco e a participação ativa e cotidiana de Artigas na obra nos permitem adotar a hipótese de que as soluções execu- tivas de implantação da FAU foram desenhadas por ele. No desenho do FCCUASO para a esplanada, não há diferenciação evidente entre veículos e pedestres na delimitação das áreas pavimentadas. Isso se con- firma nas fotos da época. Além da ligação direta de pedestres da avenida Prof. Luciano Gualberto com a esplanada, que já aparece nos primeiros estudos, não D11. Implantação. 1:1.000 1. esplanada oeste 2. praça do laguinho 3. plataforma de acesso 4. mastros 5. esplanada norte 6. forração 7. estacionamento 100 20 m 0.00 0.00 0.00 0.85 6 5 4 3 2 1 0 Laguinhorua do Lago salão caramelo museu ateliê interdepartamental departamentos salas de aula oficinas auditório +2.75 / 727.75 museu/pav. 4 +8.45 / 733.45 estúdios/pav. 7 +15.80 / 740.80 cobertura -2.95 / 722.05 auditório/pav. 1 -1.05 / 723.95 oficinas/pav. 2 +0.85 / 725.85 salão caramelo/pav. 3 +4.65 / 729.65 biblioteca/pav. 5 +6.55 / 731.55 departamentos/pav. 6 +10.35 / 735.35 salas de aula/pav. 8 0.00/725 S4 32 D13. Planta dos pavimentos 1 e 2. Auditório e oficinas. 1:500 D14. Planta dos pavimentos 3 e 4. Salão caramelo e museu. 1:500 J museu 1. administração 2. conselho/exposição 3. acesso K restaurante 1. mesas 2. bar 3. cozinha 4. preparo 5. dispensa 6. vestiários L grêmio 1. diretoria 2. estar M salão caramelo 1. salão 2. espera nobre 3. varanda/jardim da espera N diretoria 1. estar 2. sala da(o) diretor(a) 3. secretaria da direção 4. reunião 5. professores 6. sanitários h/s O portaria 1. cabine 2. atendimento 3. estar 4. sanitário 16. Vista do caramelo: auditório como edifício, foyer como praça, caramelo como cobertura, 1969. P5P1 P4P3 P7 P6 P8 S5 S1 S2 S3S4 R1 R2 R2 S8S6S7 Q4 Q5 Q3 Q2Q1S9 S11 S10 S12 S12 Q6 Q7 P2 C T N S C T S N CT LO CT OL J1 K2 K1 K3 S11 S10 S9 O3 O2O1O4 K4 K6 K6 K5 K5 J3 J2 M1 M2 M3 N5N4N3 N1 N6N3N2 L2 L1 C T S N C T N S CT LO CT OL 50 10 m 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 3 5 6 2 4 0 1 3 5 6 2 4 723.95 -1.05 723.95 -1.05 722.05 -2.95 722.05 -2.95 725.00 0.00 725.00 0.00 727.75 +2.75 727.75 +2.75 725.85 +0.85 725.85 +0.85 725.00 0.00 725.00 0.00 P oficinas 1. oficina de modelos 2. sala/depósito 3. gráfica 4. estúdio 5. depósito/almoxarifado 6. laboratório fotográfico 7. sala revelação 8. sala projeção 9. cooperativa Q auditório escola 1. foyer do auditório 2. som luz projeção 3. plateia 4. palco 5. camarins 6. sanitário h 7. sanitário s R funcionários 1. copa 2. vestiário S outros 1. casa do zelador 2. pátio de serviço, entradas de infraestrutura 3. galeria de serviço/ventilação 4. galeria visitável de infraestrutura 5. casa de máquinas elevador 6. máquina ventilação do auditório 7. depósito/almoxarifado 8. manutenção 9. garagem (ônibus e veículos de serviço) 10. pátio das oficinas 11. carga e descarga 12. cabine primária 0.85 / 725.85 salão caramelo/pav. 3 -2.95 / 722.05 auditório/pav. 1 4.65 / 729.65 biblioteca/pav. 5 8.45 / 733.45 estúdios/pav. 7 15.80 / 740.80 cobertura +0.85 / 725.85 salão caramelo/pav. 3 -2.95 / 722.05 auditório/pav. 1 +4.65 / 729.65 biblioteca/pav.5 +8.45 / 733.45 estúdios/pav.7 +2.75 / 727.75 museu/pav. 4 -1.05 / 723.95 oficinas/pav. 2 +6.55 / 731.55 departamentos/pav. 6 +10.35 / 755.35 salas de aula/pav. 8 +15.80 / 740.80 cobertura S4 C departamentos h. departamento de história 1. expediente 2. sala de uso geral 3. trabalho de alunos 4. reuniões p. departamento de projeto 1. expediente 2. sala de uso geral 3. trabalho de alunos e. departamento de ciências 1. expediente 2. sala de uso geral c departamento de construção 1. expediente 2. sala de uso geral 4. reuniões sanitários 5. masculino 6. feminino D ateliê Interdepartamental E congregação 1. espera 2. plenário e expediente F vice-diretoria/ pós-graduação G biblioteca 1. acesso, controle, livros novos 2. estantes e leitura 3. salas de leitura 4. administração 5. varanda/jardim de leitura H secretaria acadêmica 1. secretaria 2. expediente 3. espera I administração 1. administração 2. tesouraria 3. contabilidade 4. espera/estar 6. masculino 7. feminino D Ch2 Ch2 Ch1 Cp3 Cp3Ch1Ch4 Ch2 Ch4 Ch2Cp2 Ch2 Ch2Ch2 Ch2 Ch2 Ch2 Ch2Ch2 Ch2 Ch2 Cp2 Cp2 Ce1 Ce4 Ce2Cp1 G5F E1 C6 C5 E2 G1 G2 G3 G3 G3 G2 G4 H1 H1 I5 H3 H2 I2 I2 I3 I1 I6 I4 C6 C5 50 10 m C T N S C T S N CT LO CT OL 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 3 5 6 2 4 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Corte transversal NS O corte ao lado, diferentemente do anterior, não mostra o conjunto, mas revela algumas particularidades que o constituem. Apresenta mais claramente a real dimensão trans- versal do vazio, que é a distância entre a “fachada” da biblioteca e os limites externos das circulações das salas de aula e dos departamentos, cujo alinhamento vertical, reforçado pela parede-espaldar do banco das salas de aula, quase forma outra “fachada”. Revela o valor espacial dos três planos que dialogam entre si e com o vazio. Um é o peitoril do museu, que se destaca do pavimento, libertando-se da condição de peitoril, sem deixar de sê-lo ao adquirir maior dimensão em altura. Outro, frente a frente com o primeiro, tem a mesma extensão e altura equivalente, é a parede de fechamento dos estúdios que, coplanar ao caixilho da biblioteca, se apresenta como uma testeira de sua “fachada”. E o último, o espaldar do banco das salas de aula, também destacado do pavimento, adquirindo assim expressão para além da sua função. Todos esses planos se estendem do limite das rampas ao limite das escadas, balizando transversalmente o vazio central do edifício. O ateliê interdepartamental, embora ocupe o vazio, não o delimita, pois está dentro dele, e nesse corte, ao estar em vista e por fora, projetando-se sobre o salão caramelo, afirma uma das características da FAU: os edifícios dentro do edifício. Além disso, passa por duas situações únicas e articuladas, onde o todo se apresenta na visão trans- versal, em que se veem as partes dos elementos que o compõe, diferentemente da maneira como se apre- senta nas rampas e nas circulações que atravessam o vazio, onde o todo se descortina na visão longitudinal e por inteiro. Uma delas é no nível dos departamen- tos, onde a circulação se abre como um “mezanino” que se sobrepõe ao conjunto. Outra é o recinto logo abaixo, no museu, com pé-direito livre até a cobertura, configurando uma praça que articula o patamar de chegada das rampas e os acessos ao caracol, museu e lanchonete. Corte longitudinal LO O corte acima mostra uma das situações emblemá- ticas da espacialidade da FAU-USP: a presença da biblioteca. Vista em toda a sua dimensão, como uma unidade no espaço, mostra os limites definidos e a relação variada que estabelece com o vazio. D16. Corte transversal SN. 1:500 D17. Corte longitudinal LO. 1:500 50 10 m 50 10m 731.55 +6.55 731.55 +6.55 729.65 +4.65 729.65 +4.65 D15. Planta dos pavimentos 5 e 6. Biblioteca e departamentos. 1:500 725 36 37 +0.85 / 725.85 salão caramelo/pav. 3 -2.95 / 722.05 auditório/pav. 1 +4.65 / 729.65 biblioteca/pav. 5 +8.45 / 733.45 estúdios/pav. 7 +15.80 / 740.80 cobertura D20. Elevação norte. 1:500 18. Vista da avenida Prof. Luciano Gualberto, 1969. 17. Auditório como edifício, caramelo como cobertura, 1969. D19. Corte longitudinal OL. 1:500 D18. Planta dos pavimentos 7 e 8. Estúdios e salas de aula. 1:500 A1 A1 A1 A3 A2A3 A2 B1 B2B2B2 B3 B6 B5 B4 B1 A6 A8 A2 aulas A1 A5 A7 C T N S C T S N CT LO CT OL 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 3 5 6 2 4 50 10m 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Corte longitudinal OL Este corte, que por ser longitudinal revela a dimen- são total do vazio nessa direção, também enfatiza outras particularidades: a escala real da presença do ateliê interdepartamental nesse vazio; o audi- tório – tendo o salão caramelo como cobertura e o foyer como praça de acesso – apresenta-se também como um edifício em si; o ajuste dos níveis para obter sua curva de visibilidade dentro da modulação vertical do edifício, garantindo a uni- dade da estrutura de meios níveis; a modulação das nervuras transversais protendidas, que varia para ajustar-se aos pilares; e, por fim, o binário das prumadas de circulação e dos sanitários, que abrigam os eixos verticais de distribuição da infra- estrutura de circulação e de hidráulica e elétrica. 735.35 +10.35 735.35 +10.35 733.45 +8.45 733.45 +8.45 0.00 / 725.00 campus A salas de aula 1. grande (90 cadeiras) 2. média (60 cadeiras) 3. média (35 meses) 4. auditório aulas (114 lugares) 5. bedelaria 6. masculino 7. feminino 8. instrutor B estúdios 1. um e cinco 2. dois, três e quatro 3. seminário 4. direção estúdios 5. auditório dos estúdios 6. reuniões do departamento de projeto 39 0 1 2 3 4 5 6 D21. Planta de cobertura. 1:500 D23. Elevação leste. 1:500 19. Vista das fachadas leste (esquerda) e norte. Observar o acesso de serviço, 1969. D24. Elevação oeste. 1:500 D22. Elevação sul. 1:500 C T N S C T S N CT EO CT OE 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 3 5 6 2 4 50 10m 6 5 4 3 2 1 0 0.00 / 725.00 campus 0.00 / 725.00 campus 0.00 / 725.00 campus 40 41 Construção Para uma abordagem abrangente e objetiva do edifício da FAU-USP no que diz respeito à construção, optou-se por fazê-la a partir de uma classificação analítica formal e genérica dos componentes de uma edificação, à maneira de um check-list, de forma a instrumentali- zar o olhar independentemente de ser o edifício que é. A intenção é abordar todo o conjunto dos componentes do edifício de acordo com essa classificação, porém somente naquilo que cada um deles revela sobre a maneira de projetar em que cada parte contribui para afirmar o todo e é por ele determinada, sem pretender uma descrição extensiva de todos os elementos de cada componente. Além da ABNT NBR 15.575, que trata das Normas de desempenho e que, embora destinada a edificações habitacionais, tem a abrangência pretendida compreendendo o edifício como um todo, existem diversas classificações, em particular aquelas que regem as planilhas de serviços e custos da construção e que têm o propósito de dar conta da totalidade daquilo que constitui um edifício, como as sistematizações do Departamento de Obras Públicas (DOP), da CPOS (Companhia Paulista de Obras e Serviços), do Caderno de encargos do Banco do Brasil, do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), da Pini Sistemas e outras. Embora se assemelhem ao tratar do mesmo objeto, diferem conforme a atribuição de quem as elabora (e/ou as utiliza) no processo de produção do edifício. É tam- bém uma escolha que depende do objetivo que se tem ao utilizá-las, o que de certa forma dirige a leitura. Por isso a opção aqui foi buscá-la no âmbito acadêmico da própria escola. Decidiu-se por uma classificação da época elaborada pelo professor Ariosto Mila e que consta da apostila O edifício, editada pela própria FAU. Ariosto Mila foi homenageado com seu nome no auditório, lecionou na FAU desde a fundação em 1948 e foi diretor de 1968 a 1972. Engenheiro-arquiteto formado na Escola Politécnica da USP, participou do processo de construção da Cidade Universitária, tanto na elaboração de projetos, a exemplo do Labo- ratório de Hidráulica da Escola Politécnica, como no âmbito administrativo, justamente no período de elaboração do projeto e da construção do edifício da FAU, em cujo processo teve participação destacada. Essa escolha traz a possibilidade de um olhar a partir da classificação da época do projeto que, mesmo propiciando a visão do todo pretendida, não dá conta plenamente dos elementos constituintes do edifício da FAU. Revela assim algumas de suas soluções emble- máticas, como a estrutura que é vedo, a quase inexistência de paramentos, os vãos que são cobertura, a fundação que quer ser pilar e a viga que quer ser apoio. Algumas das categorias de O edifício são agrupadas pelas classificações atuais, como vedos e paramentos em fechamentos. Outras são desdobradas, como eletromecânica em instalações elétricas e equipamentos. A maioria delas acrescenta outras, como serviços preliminares (projetos, aprovações, canteiro etc.) e serviços complementares (paisagismo, fechamentos do terreno, sinalização etc.). O edifício da FAU e outros da época já traziam no âmbito do próprio projeto arquitetônico soluções para outros componentes, além daqueles relacionados nessa e em algumas outras classificações, em particular mobiliário, paisagismo e sinalização que aqui interessam. Por isso, foram acrescentados como “outros”, de forma a manter a integridade da classificação adotada e, ao mesmo tempo, revelar a ampliação do escopo de projeto que o edifício apre- senta. Note-se que esses componentes acrescidos constituem objeto justamente das áreas criadas na reforma de ensino da FAU de 1962. Assim, a classificação adotada, utilizando a própria terminologia original, resulta no seguinte: 1. Terrapleno: topografia, limites métricos, locação e geografia (sol, ventos e chuva). 2. Fundações: infraestrutura de distribuição das cargas no solo. 3. Estrutura: elementos de sustentação. 4. Cobertura: proteção zenital (sustentação, captação das águas pluviais e conforto). 5. Vedos: elementos de vedação periférica e interna (estanqueidade e conforto). 6. Paramentos: superfícies expostas internas e externas (conforto, impermeabilidade e vedação). 7. Pavimentos: pisos, circulações. 8. Vãos: portas, janelas, lanternins etc. 9. Equipamento eletromecânico: força, iluminação, telefonia, aparelhos elétricos. 10. Equipamento hidrossanitário: água, esgoto, águas pluviais, gás. Outros: paisagismo, mobiliário e sinalização (não constam da classificação de Ariosto Mila). 20. Vista frontal em obras, 1969. Terrapleno Conforme as sondagens de 1961, época do início projeto, o terreno da FAU-USP estava na cota NMM 721,00, três a quatro metros abaixo da cota atual de 725,00 na qual está implantado hoje o edifício, e três metros acima da cota 718,50 da várzea do rio Pinheiros, nível original do terreno antes da implantação do campus. Essa cota, NMM 721,00, é a cota da avenida Prof. Luciano Gualberto já implantada na ocasião. As sondagens revelam que ela (721,00) foi obtida através de aterro e que, logo abaixo dele, a primeira camada de solo do terreno é a original e constituída por três a cinco metros de turfa, o que comprova que a FAU está localizada onde foi a parte mais baixa da várzea do rio Pinheiros, apesar da proximidade com o morro da Biologia. O nível da água do lençol freático no mês da sondagem, junho, estava entre 718,00 e 719,00, praticamente o mesmo nível do terreno original da várzea nesse local. Resultado, portanto, de um aterro anterior sobre o nível original da várzea, provavel- mente da época da implantação inicial docampus, o terreno estava na ocasião do projeto no nível da avenida Prof. Luciano Gualberto, o que exigiu um aterro adicional de três a quatro metros para atingir a cota de implantação (nível externo contíguo ao edifício, com o qual ele estabelece suas interfaces – acessos, conexões, térreo, subsolo, arrimos, taludes, pisos externos etc.), que é a cota 725,00 conforme definido pelo projeto e planejado então para o campus nesse local. É significativa para a configuração do projeto a decisão de aterrar três metros para fazer o acesso pelo outro lado, considerando que o terreno já estava aterrado e no nível de uma das principais vias do campus. Isso sugere uma decisão do projeto na definição da cota de implantação do edifício, mesmo que no contexto de um plano mais amplo para o setor das humanas. Trata-se de decisão para que o acesso não fosse pela avenida, o que seria aparentemente mais natural, mas pelo lado de trás dela, por um recinto de transição mais alto, criado entre o volume do edifício e o morro da Biologia. O ingresso por esse recinto, quando o caminho é feito pela avenida Prof. Luciano Gualberto, opera uma percepção espacial do edifício semelhante à do campus descrita anteriormente, onde em momentos distintos de um percurso contínuo se tem visões descontinuadas e complementares do mesmo objeto, entre as quais ele deixa de ser visto. Vindo pela avenida Prof. Luciano Gualberto (o plano do FCCUASO não apresentava na época um acesso significativo ao campus pela avenida Corifeu de Azevedo Marques), se tem uma visão momentânea e aberta do edifício inteiro e por baixo, cujo impacto e brevidade o registra na memória numa imagem geral quase estática, como uma fotografia. Logo depois, ao chegar nele pela praça, o reencontramos de frente já no nível do acesso, numa visão que se fecha por aproximação e movimento. A primeira visão geral e estática cria um contraponto, como que um pano de fundo para as visões subsequentes e parciais na dinâmica contínua dos percursos. Um contraponto que permite estabelecer uma relação das partes com o todo, propiciando uma percepção abrangente do edifício. Como será descrito adiante, essa decisão também significa uma inversão na relação entre frente e fundo do edifício. Fundações As fundações conjugam duas técnicas: tubulões para as cargas principais dos pilares de sus- tentação dos pavimentos e estacas pré-moldadas para as cargas secundárias da infraestrutura e do piso estruturado dos subsolos. Foi adotado para os tubulões o processo de escavação com cabine de ar comprimido em função da turfa, do solo arenoso e do nível d’água. Tanto os tubulões como as estacas foram especificados com dezesseis metros de profundidade em relação à cota de implantação (725,00), de forma a atingir a camada de areia argilosa compacta. Na classificação adotada, a infraestrutura faz parte das fundações e é constituída pelas cortinas/arrimos; pelas lajes e vigas do piso estruturado do auditório e das oficinas; pelas vigas de travamento tanto dos tubulões como das estacas; e por blocos que recebem, centralizam e transferem as cargas desses elementos para as estacas. Não há bloco de intermediação de cargas entre tubulão e pilar que funcionam como uma única peça estrutural. O engenheiro Victor de Mello, professor na FAU-USP, que desde 1952 ministrava a disciplina de Mecânica dos solos e fundações, referia-se em aula às fundações do edifício da FAU na década de 1970. Justificava os vãos da estrutura em parte pela otimização do necessário, embora dispendioso, uso de tubulões a ar comprimido, adotado em função de sua capacidade de receber cargas maiores. Também corroborava a utilização de mais de um tipo de fundação no mesmo edifício. Tinha uma posição contrária ao critério generalizado de se utilizar necessariamente um só tipo de fundação – a princípio para qualquer caso –, adotado com argumento por conta do risco de recalques diferenciais que tipos distintos poderiam acarretar. Seu argumento era de que, em vez de homogeneizar os recalques com o uso de um único tipo de fundação na capacidade máxima do solo e da fundação, o cálculo deveria ser feito e equilibrado conforme as tolerâncias, as cargas e os tipos de solo e de fundações utilizadas, o que abriria o leque de alternativas para otimizá-las. As fundações foram executadas alguns anos antes do início da obra propriamente dita. Nesse meio-tempo, em 1965, o projeto foi questionado pelo então diretor da FAU, Pedro Moacyr do Amaral Cruz (CONTIER, 2015: 310). As principais modificações feitas no projeto em função desse questionamento foram revertidas, mas algumas significativas foram mantidas, em particular a ampliação do pavimento da biblioteca no vão central ao lado das rampas. Provavelmente em função dessa e de outras alterações, no reinício da obra foi execu- tada uma complementação das estacas e um reforço em alguns tubulões. Optou-se aqui por manter o primeiro desenho das fundações por ser mais fiel ao conceito estrutural do edifício, que não se alterou com os acréscimos feitos. aterro FAU-USP - 725.00 740.80 - cobertura aterro CUASO - 721.00 715.00 - nível original várzea apoio da fundação - 711.00 724.00 - enchente de 1929 D25. Corte com fundações e terraplenagem. 1:750 7.50 15 m 44 45 D26. Planta de fundações (estacas, tubulões) e unifilar de infraestrutura. 1:500 21. Sondagem de 1961, próxima ao P4. tubulão 10 1 3 5 6 2 4 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 tubulão 2 estaca pilar vigamento da laje muro de contenção laje do piso estruturado do subsolo 50 10m P.1 P.6 P.17 P.26 P.37 P.46 P.38 P.39 P.47 P.15 P.35 P.16 P.36 P.7 P.18 P.27 P.8 P.19 P.28 P.9 P.20 P.29 P.40 P.41 P.48 P.10 P.21 P.30 P.11 P.22 P.31 P.42 P.43 P.49 P.44 P.45 P.50 P.12 P.23 P.32 P.13 P.24 P.33 P.14 P.25 P.25A P.34A P.34 P.2 P.3 P.4 P.5 745.5 4. 50 +12.70 +12.20 2. 95 2. 95 5. 45 3. 60 3. 55 2. 95 2. 95 2. 95 +6.50 1. 90 1. 90 co ta s es tr ut ur a co ta s pé d ir ei to co ta s es pe ss ur as nível acabado nível osso pav. 7 estúdio 733.45 +8.45 pav. 8 aula 735.35 +10.35 pav. 6 depto. 731.55 +6.55 pav. 5 biblioteca 729.65 +4.65 pav. 4 museu 727.75 +2.75 pav. 3 caramelo 725.85 +0.85 campus 725.0 0.0 pav. 2 oficinas 723.95 -1.05 pav. 1 auditório 722.05 -2.95 0.85 0.850.80 0.05 (regularização) 0.850.80 0.04 (forro) 0.08 (laje vigas protendidas) 0.07 (laje sob alvenaria) 0.04 (laje geral) 2. 95 1. 90 1. 75 0. 20 +10.30 0.05 +2.70 -1.10 -3.00 0. 80 3. 00 0. 80 3. 00 0. 80 3. 00 0.30 0.50 740.70 +14.10 741.90 741.70 1. 00 caixa d’água 46 47 Estrutura A estrutura de concreto armado praticamente define o edifício como um todo. Seu acaba- mento aparente diferencia-se conforme a expressão pretendida para cada situação. Em geral é liso quando as fôrmas são de compensado, particularmente na caracterização dos pavimentos e dos espaços internos, ou seja: lajes de forro, vigas de borda, pilares dos pavimentos (que não sobem até a cobertura), face interna das empenas e cortinas. Liso também na parte em forma de pirâmide dos pilares externos para diferenciá-la da parte que coincide com o plano das empenas por eles sustentadas, de maneira que a pirâmide assim diferenciada, ao chegar diretamente à terra, se apresente como um afloramento da fundação. Já na face externa das empenas e nos pilares internos que sobem até a cobertura, o con- creto tem a marca das tábuas e dos sarrafos, como que caracterizando aquilo que constitui o abrigo, o invólucro: aquilo que contém. A estrutura de concreto nos pavimentos é constituída por um sistema unidirecional de vigas, onde as cargas migram numa única direção em cada situação, diferentemente do sistema de vigas em grelha, onde as cargas migram em duas direções na mesma situação. Além das lajes de quatro a oito centímetros de espessura que recebem diretamente as sobrecargas, esse sistema tem dois tipos de vigas hierarquicamente distintos em relaçãoàs cargas: na direção transversal, as vigas secundárias (ou nervuras) e, na direção longitudinal, as vigas principais. As vigas secundárias recebem somente a carga das lajes que estão sobre elas, transferindo-as para as vigas principais onde se apoiam. As vigas principais recebem as secundárias, transferindo sua carga diretamente para os pilares. As vigas principais e as secundárias (nervuras) nos vãos de onze metros são armadas, já as secundárias nos vãos de vinte e dois metros são também protendidas pelo sistema desenvolvido pelo engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz (CONTIER, 2015; 295). Completam o sistema: as vigas de distribuição e travamento que solidarizam as vigas secundárias (ou nervuras) umas às outras, otimizando a distribuição das cargas entre elas e travando-as contra flambagem lateral; as vigas de borda que arrematam os pavimentos; e a laje de forro sob as vigas, que dá aos pavimentos o aspecto de um plano homogêneo e contínuo. Além da marca das fôrmas propriamente ditas no concreto como expressão do fazer construtivo e numa relação mais direta com este, esse plano contínuo do forro ainda traz decalcado no concreto o desenho das vigas feito a lápis pelos carpinteiros no compensado para orientar o posicionamento das armaduras. A estrutura da cobertura é também constituída por um sistema de vigas unidirecional. Quatro longitudinais principais que recebem 21 transversais secundárias (em ambas dire- ções, a primeira e a última são as empenas de fachada). Em função da modulação, as vigas transversais da cobertura, a cada 5,5 m, se alternam em relação ao apoio, ora apoiam-se nos pilares, ora nas vigas principais, o que não muda a condição secundária de todas elas, pois a carga que recebem é a mesma e está distribuída. Essa estrutura sustenta o conjunto formado pela justaposição dos troncos de pirâmide com base de 2,75 m × 2,75 m das claraboias, mais a laje que se sobrepõe a ele, fechando o plano da cobertura propriamente dita entre uma claraboia e outra. O elemento estrutural desse conjunto é constituído por segmentos de seção triangular com base invertida, for- mada pela laje e pelas laterais inferiores dos troncos de pirâmide. Esses segmentos não são contínuos, pois essas laterais são interrompidas entre uma claraboia e outra, onde se cruzam. O que aparenta ser uma viga calha em “A” invertido, conforme se vê nos cortes, não D27. Esquema de cotas de nível, pés-direitos e espessuras. Cotas conforme desenhos do FCCUASO de julho/1968. 1:200 20 4 m 48 49 é contínua, pois cada uma das “pernas” do “A” é o trapézio que forma o tronco de pirâmide de cada uma das claraboias, que são independentes; os trapézios tocam-se somente em um ponto na base. A continuidade que garante a rigidez estrutural nesse ponto se dá em cima pela laje e embaixo pelo encontro pontual dos vértices dos quatro trapézios laterais das claraboias, que forma um pequeno tronco de pirâmide com 7 cm de altura, base inferior de 8 cm × 8 cm e base superior de 11 cm ×11 cm. A cada 2,75 m, os segmentos na direção longitudinal ao edifício se apoiam nas vigas secundárias já descritas, vencendo o vão entre elas de 5,5 m. Na outra direção, segmentos de 2,75 m apoiam-se neles formando, assim, as claraboias. Como a base de todas as vigas apresenta o mesmo desenho em “V” formado pelas late- rais das claraboias, a cobertura vista de dentro se apresenta como uma grelha contínua modulada em 2,75 m × 2,75 m, embora tanto a estrutura principal de vigas da cobertura como o conjunto de vigas de seção triangular por elas sustentado constituam um sistema unidirecional de distribuição das cargas. As empenas das fachadas, grandes vigas enrijecidas verticalmente por nervuras a cada 5,5 m, cujo ângulo de concordância as torna quase imperceptíveis, seguem a mesma hierarquia das vigas, tanto em relação aos pavimentos 6, 7 e 8, dos quais fazem parte estrutural, como em relação à cobertura, todos apoiados nelas. As empenas longitudinais (L e O) correspondem às vigas principais sobre as quais se apoiam as vigas secundárias, e as empenas transversais (laterais N e S) correspondem às vigas secundárias, inclusive apoiando-se nas longitudinais. Como arremate do edifício, adqui- rem uma altura que viabiliza os vãos externos maiores e confere a elas a condição de vedo. Importante destacar que as empenas laterais (N e S), em sua condição equivalente à das vigas secundárias em relação ao sistema geral, recebem a mesma carga que elas e têm a mesma relação de apoio: no meio sobre os pilares centrais e nas pontas sobre as vigas prin- cipais (que no caso são as empenas longitudinais). Como os pilares externos das empenas laterais estão deslocados em relação aos eixos longitudinais, as vigas principais nessa direção se apoiam fora deles. Portanto, ela recebe pontualmente a carga dos segmentos extremos das vigas principais. Por isso, tanto na cobertura como no pavimento das salas de aula e no dos estúdios, essas vigas estão apoiadas nas empenas laterais fora do alinhamento do pilar, o que implica um aumento da espessura da empena nesse local para receber a carga pontual, sendo que no pavimento dos departamentos as vigas estão penduradas, já que o nível destes está mais baixo que a base das empenas. É possível, por baixo, ver a junta entre a empena lateral e a última nervura do pavimento dos estúdios, paralela e encostada nela. Apesar de estar encostada na empena, essa nervura se apoia na viga principal longitudinal, que, por sua vez, transfere as cargas para a empena. Por isso, nessas vigas-empena das fachadas laterais (N e S), nos lados menores do edifício, o que se apresenta visualmente como um vão e dois balanços estruturalmente são três vãos: o do meio com apoio nos dois pilares e os das pontas com apoio no pilar e no balanço da empena longitudinal. Isso pode ser percebido na diferença de tamanho da base dos tubulões dos últimos pilares das empenas longitudinais. O balanço da empena que sustentam recebe a carga das empenas laterais, assim, o pilar passa a absorver uma carga significativamente maior que os outros. Os pilares seguem uma modulação de 11 m (ver Geometrias e significados), dez vezes o módulo básico. Nas vigas transversais, o módulo varia, mas sempre a partir do básico de 1,1 m (0,275 m, 0,55 m, 1,1 m, 1,65 m etc.). Os eixos da modulação das vigas transversais dos pavimentos não coincidem com os eixos dos pilares de forma que estes fiquem sempre entre os eixos das vigas. A hipótese é de que assim as nervuras não coincidem com os pilares por onde passam as prumadas de hidráulica, principalmente de águas pluviais que descem junto a todos os pilares dos dois eixos longitudinais centrais. Já na cobertura, as vigas de ambas as direções, principais e secundárias, se cruzam sobre os pilares. Talvez isso explique a redução prevista no trecho de 1 m da seção superior desses pilares para um retângulo circunscrito no perímetro da seção normal do pilar e coincidente com a largura das vigas, o que reduz a interferência no encontro com o cruzamento delas e facilita, assim, a passagem da tubulação de águas pluviais para junto do pilar. Porém, na execução, a seção do pilar foi mantida até a base das vigas e preenchida dali até o encontro com a lateral das claraboias. 22. Vista dos estúdios, onde se vê o encontro do pilar com a cobertura. 23. Vista de dois módulos da cobertura, ainda sem os domos. Atentar para andaime montado, trechos da empena com fôrma e barrilete fixado em uma das vigas invertidas. 50 51 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 P.15 P.35 P.16 P.36 P.38 P.7 P.18 P.27 P.40 P.9 P.20 P.29 P.42 P.11 P.22 P.22 P.31 P.44 P.13 P.24 P.24 P.33 P.37 P.46 P.6 P.17 P.26 P.1 P.39 P.47 P.8 P.19 P.28 P.2 P.41 P.48 P.10 P.21 P.21 P.30 P.3 P.43 P.49 P.12 P.23 P.23 P.32 P.4 P.45 P.50 P.14 P.25 P.25A P.25AP.25 P.34 P.34A P.5 0 1 3 5 6 2 4 2 D28. Diagrama unifilar da estrutura. Pavimentos 3 e 4. 1:500 50 10 m pilar passantepilar sem continuidade viga principal recebe cargas e transfere para os pilares viga secundária armada (nervuras) recebe as cargas e transfere para as vigas principais viga secundária protendida (nervuras) recebe as cargas e transfere para vigas principais viga de distribuição distribui cargas entre as nervuras viga de borda arremata pavimentos viga parede laje muro de contenção 52 53 D29. Diagrama unifilar da estrutura. Pavimentos 5 e 6. 1:500 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 P.15 P.35 P.16 P.36 P.38 P.7 P.18 P.18 P.27 P.40 P.9 P.20 P.20 P.29 P.42 P.11 P.22 P.22 P.31 P.44 P.13 P.24 P.24 P.33 P.37 P.46 P.6 P.17 P.17 P.26 P.1 P.39 P.47 P.8 P.19 P.19 P.28 P.2 P.41 P.48 P.10 P.21 P.21 P.30 P.3 P.43 P.49 P.12 P.23 P.23 P.32 P.4 P.45 P.50 P.14 P.25 P.25 P.34 P.5 50 10 m 0 1 3 5 6 2 4 2 pilar passante pilar sem continuidade viga principal recebe cargas e transfere para os pilares viga secundária armada (nervuras) recebe as cargas e transfere para as vigas principais viga secundária protendida (nervuras) recebe as cargas e transfere para vigas principais viga de distribuição distribui cargas entre as nervuras viga de borda arremata pavimentos viga parede laje muro de contenção 54 55 D30. Diagrama unifilar da estrutura. Pavimentos 7 e 8. 1:500 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 P.15 P.35 P.16 P.36 P.38 P.7 P.18 P.18 P.27 P.40 P.9 P.20 P.20 P.29 P.42 P.11 P.22 P.22 P.31 P.44 P.13 P.24 P.24 P.33 P.37 P.46 P.6 P.17 P.17 P.26 P.1 P.39 P.47 P.8 P.19 P.19 P.28 P.2 P.41 P.48 P.10 P.21 P.21 P.30 P.3 P.43 P.49 P.12 P.23 P.23 P.32 P.4 P.45 P.50 P.14 P.25 P.25 P.34 P.5 50 10 m 0 1 3 5 6 2 4 2 pilar passante pilar sem continuidade viga principal recebe cargas e transfere para os pilares viga secundária armada (nervuras) recebe as cargas e transfere para as vigas principais viga secundária protendida (nervuras) recebe as cargas e transfere para vigas principais viga de distribuição distribui cargas entre as nervuras viga de borda arremata pavimentos viga parede laje muro de contenção 56 57 D31. Diagrama unifilar da estrutura. Cobertura. 1:500 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 P.15 P.35 P.16 P.36 P.18 P.27 P.20 P.29 P.22 P.31 P.24 P.33 P.46 P.17 P.26 P.1 P.47 P.19 P.28 P.2 P.48 P.21 P.30 P.3 P.49 P.23 P.32 P.4 P.50 P.25 P.34 P.5 0 1 3 5 6 2 4 50 10 m pilar passante pilar sem continuidade viga principal recebe cargas e transfere para os pilares viga secundária armada (nervuras) recebe as cargas e transfere para as vigas principais viga secundária protendida (nervuras) recebe as cargas e transfere para vigas principais viga de distribuição distribui cargas entre as nervuras viga de borda arremata pavimentos viga parede laje 58 59 D32. Detalhe da empena e do pendural. 1:100 D33. Seção da viga no centro 1:25 D34. Elevação das vigas protendidas com disposição dos cabos. 1:100 10 2 m módulo x = 1,10 m entre pilar: 10 x domos: 2,5 x m od ul aç ão n o vã o ce nt ra l m od ul aç ão n os v ão s la te ra is D35. Módulos múltiplos e submúltiplos. 1:200 xx xx x x 20 x 10 x 10x 3 x 2 3 x 2 3 x 2 3 x 2 3 x 2 3 x 2 3 x 2 3 x 2 x 2 x 2 P24 P33 P44 P25 98 P34 P45 0.50 1m 20 15 empena externa regularização pendural de sustentação do trecho da laje dos departamentos 3. 55 1. 12 78 85 80 2. 95 5 Localização Pavimento 5 * bainha de alojamento dos cabos no lado simétrico ancoragem berço para macaco hidráulico para protensão e encunhamentos dos cabos D .32 D .33 60 61 Cobertura A cobertura é um plano único e translúcido que abrange a totalidade do edifício. A luz que emite, prensada no oco das empenas opacas, toma corpo e materializa o meio no qual acon- tece o que está abaixo dela, adquirindo assim uma qualidade especial. Do ponto de vista construtivo, a cobertura propriamente dita é constituída pela laje contínua de 8 cm de espessura que se integra com os troncos de pirâmide que for- mam as claraboias. Esse conjunto se apoia no sistema principal de vigas longitudinais e transversais descrito no item anterior. Embora contínua, a laje é vazada em um ritmo de 2,75 m nos dois sentidos, que resulta numa malha de vazios por onde entra a luz zenital, numa proporção de 16% da área da cobertura. As vigas do sistema estrutural principal da cobertura circunscrevem módulos de 22 m entre as longitudinais e 5,5 m entre as transversais. Cada módulo desses define um setor de captação das águas pluviais com caimento de 0,5% para o canto que está sobre os pilares centrais por onde descem os condutores. A inclinação para a captação das águas pluviais foi executada na própria estrutura e não na regularização como é usual.1 Um sistema de impermeabilização flexível, moldado no local e constituído por cama- das alternadas de elastômeros comercialmente denominados de Neoprene e Hypalon, foi aplicado sobre uma regularização da laje e sobre toda a superfície exposta das vigas. Conforme especificação do fabricante, o produto dispensa a proteção mecânica e indica uma durabilidade de dez anos. No Brasil, nessa época, era um dos mais novos e avançados produtos do mercado. O fechamento das aberturas zenitais, a claraboia, foi feito com abóbadas autoportantes de fibra de vidro translúcida diretamente fixadas no concreto. O projeto previa uma cantoneira de aço (provavelmente a ser fixada na concretagem), arrematando externamente a borda de concreto da abertura onde seria fixada a abóboda translúcida que por sua vez, também seria estruturada com cantoneiras de aço no perímetro. 1. Conforme pesquisa em curso para o Plano de Gestão e Conservação da cobertura da FAU realizada pelos pesquisadores Fábio Gallo e Rodrigo Vergili. 1.10.16.25.20.21 2.75 .41 .41 D37. Ampliação do módulo estrutural da cobertura. 1:250 D36. Corte ampliado da cobertura. 1:50 2.50 5m 0.50 1 m D38. Diagrama da cobertura. junta de dilatação projeção claraboia projeção módulo da cobertura 1. 90 .4 8 .3 0 ralo D .3 4 62 63 Vedos Os vedos do edifício da FAU-USP são definidos conforme a expressão espacial das atividades que abrigam em relação ao espaço geral, de acordo com sua configuração e técnica construtiva. Empenas externas de concreto armado. Uma das soluções emblemáticas do edifício, pesquisada e presente em outras obras do arquiteto que, além de vedos, são estruturais. Quatro vigas de grande altura que suportam e se integram com os últimos pavimentos, fechando o espaço para si mesmo. Formam, assim, um conjunto que contém as atividades que são próprias de uma escola, no caso as salas de aula e os estúdios. Definem, assim, a volumetria principal do edifício, que contém simbolicamente sua atividade primordial. Esse conjunto forma um corpo elevado sobre os pilares externos, solto do chão, que abriga sob ele as atividades complementares da escola. Paredes revestidas altas (até o teto). Fecham conjuntos de atividades afins, definindo uma identidade volumétrica ou uma expressão formal própria na semântica do edifício. Definem limites entre o espaço que é interno e o espaço geral do edifício, que se caracteriza como externo. Externamente pintadas com cores que identificam sua expressão, internamente são também pintadas ou revestidas com laminado melamínico, no caso dos banheiros e cozinha. Além dessas alvenarias, os caixilhos, as divisórias leves ou a própria estrutura de concreto completam a volumetria desses conjuntos que, como “cheios”, organizam os vazios do espaço geral do edifício. Paredes revestidas baixas (1,9 m). Com laminado melamínico ou compensado, demarcam diferentes atividades dentro de um mesmo setor ou de um conjunto funcional, o que ocorre basicamente entre os estúdios, mas também como lousa nos painéis de aviso (estúdios e chegada no piso da lanchonete) e no fechamento da ventilação, junto às empenas das salas de aula e dos