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Revista Foco |Curitiba (PR)| v.16.n.1|e747| p.01-09 |2023 1 Johanna Tássia Xavier da Silva, Karla Kellem de Lima, Isabelle Rocha Arão, Helen Pereira dos Santos Soares ____________________________________________________________________________ ANÁLISE DOS RISCOS DA ERGONOMIA FÍSICA DO POSTO DE TRABALHO DA MANICURE/ PEDICURE EM ESTÚDIO DE BELEZA: ESTUDO DE CASO ANALYSIS OF PHYSICAL ERGONOMIC RISKS OF THE MANICURE/PEDICURE WORKSTATION IN A BEAUTY STUDIO: CASE STUDY ANÁLISIS DE LOS RIESGOS ERGONÓMICOS FÍSICOS DEL PUESTO DE TRABAJO DE MANICURA/PEDICURA EN UN SALÓN DE BELLEZA: ESTUDIO DE CASO Johanna Tássia Xavier da Silva1 Karla Kellem de Lima2 Isabelle Rocha Arão3 Helen Pereira dos Santos Soares4 DOI: 10.54751/revistafoco.v16n1-048 Recebido em: 16 de Dezembro de 2022 Aceito em: 18 de Janeiro de 2023 1. Introdução A ergonomia é definida como o estudo das intervenções entre os seres humanos e os outros elementos do sistema, implantando teorias, princípios, dados e métodos, a projetos que tenham como objetivo otimizar o bem-estar humano e o desempenho global de sistemas (FERREIRA; MERINO e DE FIGUEIREDO, 2017). A International Ergonomics Association (IEA, 2021) conceitua ergonomia (ou fatores humanos) como sendo a disciplina científica interessada na 1 Especializta em Arquitetura. Centro Universitário Araguaia. Avenida T-10 nº 1031 Setor Bueno, Goiânia - GO. CEP: 74223-060. E-mail: johanna.arquiteta@gmail.com 2 Mestrado em Administração e Pedagogia. Centro Universitário Araguaia. Avenida T-10, nº 1031, Setor Bueno, Goiânia - GO. CEP: 74223-060. E-mail: karlakellem@faculdadearaguaia.edu.br 3 Mestrado em Fisioterapia e Engenharia de Produção. Centro Universitário Araguaia. Avenida T-10, nº 1031, Setor Bueno, Goiânia - GO. CEP: 74223-060. E-mail: isabellearao@uniaraguaia.edu.br 4 Mestrado em Fisioterapia. Centro Universitário Araguaia. Avenida T-10, nº 1031, Setor Bueno, Goiânia - GO. CEP: 74223-060. E-mail: helenpsbrasil@hotmail.com mailto:johanna.arquiteta@gmail.com mailto:karlakellem@faculdadearaguaia.edu.br mailto:isabellearao@uniaraguaia.edu.br mailto:helenpsbrasil@hotmail.com Revista Foco |Curitiba (PR)| v.16.n.1|e747| p.01-09 |2023 2 ANÁLISE DOS RISCOS DA ERGONOMIA FÍSICA DO POSTO DE TRABALHO DA MANICURE/ PEDICURE EM ESTÚDIO DE BELEZA: ESTUDO DE CASO ____________________________________________________________________________ compreensão das interações entre os humanos e outros elementos de um sistema; é o campo profissional que aplica teoria, princípios, dados e métodos para projetar, objetivando otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral do sistema. “Ergonomia é uma disciplina científica que estuda as interações dos homens com outros elementos do sistema, fazendo aplicações da teoria, princípios e métodos de projeto, com o objetivo de melhorar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema” (DUL, WEERDMEESTER, 2004, p.1). Já para Couto (1995), a ergonomia é como um aglomerado de ciências e várias tecnologias, as quais buscam a conformidade de conforto e produção em relação ao trabalhador e o seu local de trabalho, ou seja, adaptações as condições de trabalho em caráter humano de salubridade. Ainda para Couto (2002), “ergonomia pode ser definida como o trabalho interprofissional que, baseado num conjunto de ciências e tecnologias, procura o ajuste mútuo entre o ser humano e seu ambiente de trabalho de forma confortável e produtiva, basicamente procurando adaptar o trabalho às pessoas” (COUTO, 2002, p. 11). Para Gomes, (2003) a ergonomia é uma ciência e uma tecnologia de projeto que objetiva a melhor adequação possível dos objetos aos seres vivos, no que se refere à segurança, ao conforto e à eficácia no uso. Este relato de experiência tem como abordagem central o estudo ergonômico do posto de trabalho aplicado especificamente à manicure/pedicure, e partindo deste contexto fez-se necessário definir inicialmente o que é a ergonomia. Logo, diante deste cenário, surge o seguinte questionamento: quais são os principais riscos ergonômicos, mais especificamente da ergonomia física presentes nas atividades de uma manicure/pedicure? Sendo assim, o principal objetivo deste relato de experiência é analisar os riscos ergonômicos pertinentes à Ergonomia Física nas atividades da manicure/pedicure. A partir dos resultados encontrados, se necessário, indicar e propor ações pertinentes para eliminar / amenizar as vulnerabilidades encontradas. A pesquisa de campo foi realizada durante o mês de novembro de 2021, Revista Foco |Curitiba (PR)| v.16.n.1|e747| p.01-09 |2023 3 Johanna Tássia Xavier da Silva, Karla Kellem de Lima, Isabelle Rocha Arão, Helen Pereira dos Santos Soares ____________________________________________________________________________ em um salão de beleza localizado em Aparecida de Goiânia – GO. Durante a visita ao local, além da observação foi aplicado também como instrumento de pesquisa a entrevista direta (escuta) com a trabalhadora que desempenha a função de manicure/pedicure e o diagrama de Corlett e Manenica (1980). 2. Desenvolvimento A ergonomia vai muito além de postura, há diversas definições para o termo “Ergonomia”. E além dos conceitos apresentados na introdução deste estudo, existem ainda muitos outros. Vale ressaltar que os conceitos estão correlacionados entre si, e são de suma relevância para o estudo em questão. De forma abreviada, a ergonomia pode ser definida como a ciência da configuração de trabalho adaptada ao homem. No início considerou-se a configuração das ferramentas, das máquinas e do ambiente de trabalho. O alvo da ergonomia era (e ainda é) o desenvolvimento de bases científicas para a adequação das condições de trabalho às capacidades e realidades da pessoa que trabalha (GRANDJEAN, 1998, p. 05). A ergonomia objetiva sempre a melhor adequação ou adaptação possível do objeto ao seres vivos em geral. Sobretudo no que diz respeito à segurança, ao conforto e a eficácia de uso ou de operacionalidade dos objetos, mas particularmente nas atividades e tarefas humanas. (GOMES, 2003, p.17) Gomes (2003) afirma ainda, que nesse contexto, compreende-se a palavra objeto no sentido bem amplo e, portanto, significa produtos de uso em geral: máquinas, equipamentos, ferramentas, postos de trabalho, posto de atividades, ambientes, sistemas de comunicação e de informação e assim por diante. A Ergonomia tem um caráter multidisciplinar e faz uso de diversas áreas do conhecimento. Para Vidal (2002, p.43), a Ergonomia Física sendo apenas um dos aspectos, fica relacionada às características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação à atividade física. Destaca-se a postura do trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbio musculoesquelético, relacionadas ao trabalho, segurança em saúde e projetos de postos trabalho. Tratando-se de Ergonomia Física, encontra-se ainda: as características Revista Foco |Curitiba (PR)| v.16.n.1|e747| p.01-09 |2023 4 ANÁLISE DOS RISCOS DA ERGONOMIA FÍSICA DO POSTO DE TRABALHO DA MANICURE/ PEDICURE EM ESTÚDIO DE BELEZA: ESTUDO DE CASO ____________________________________________________________________________ anatômicas, antropométricas, fisiológicas e biomecânicas dos seres humanos nas suas atividades de trabalho e de vida diária. 3. Resultados e Discussões A pesquisa foi realizada em um estúdio de beleza, onde o ambiente de trabalho é subdividido em 2 salas (Figura 1), sendo uma destinada aos serviços de depilação (com banheiro) e a outra para serviços de manicure/pedicure e também sala de espera. Figura 1. Planta baixa do estúdio de beleza Fonte: Autoras, 2021 A partir da observação in loco observou-se que o ambiente era limpo,arejado, bem ventilado e bem iluminado. Quanto ao mobiliário, a cadeira utilizada pela profissional como manicure apresenta cinco patas, com rodízios, o assento é ajustável e sua borda frontal é arredondada, aspectos estes em conformidade com a Norma Regulamentadora nº 17 (BRASIL, 2021) e representado pela figura 2: Revista Foco |Curitiba (PR)| v.16.n.1|e747| p.01-09 |2023 5 Johanna Tássia Xavier da Silva, Karla Kellem de Lima, Isabelle Rocha Arão, Helen Pereira dos Santos Soares ____________________________________________________________________________ Figura 2. Cadeira do estúdio de beleza Fonte: Autoras, 2021 Já na atividade executada de pedicure, o mobiliário não apresenta conformidade com a NR 17 (figura 3). Trata-se de um banco de madeira, sem encosto, não proporcionando nenhum conforto ao usuário. Figura 3. Banco do estúdio de beleza Fonte: Autoras, 2021 Em relação aos demais acessórios, notou-se a utilização de uma iluminação suplementar através de uma luminária portátil, favorecendo o iluminamento da superfície de trabalho. Embora não seja de uso da trabalhadora, também foi possível observar um apoio de punho para uso da cliente, proporcionando a ela conforto durante os procedimentos executados pela profissional (figura 4). Revista Foco |Curitiba (PR)| v.16.n.1|e747| p.01-09 |2023 6 ANÁLISE DOS RISCOS DA ERGONOMIA FÍSICA DO POSTO DE TRABALHO DA MANICURE/ PEDICURE EM ESTÚDIO DE BELEZA: ESTUDO DE CASO ____________________________________________________________________________ Figura 4. Acessórios ergonômicos do estúdio de beleza Fonte: Autoras, 2021 Outros aspectos abordados pela Ergonomia Física e encontrados na atividade avaliada foram posturas estáticas de alguns segmentos corpóreos mantidas por tempo prolongado (em especial a coluna cervical); a adoção de posturas inadequadas e desvios extremos, (principalmente a região de punhos); e a associação destes desvios com a aplicação de força (figura 5). Ressalta-se que a jornada de trabalho varia de 5 a 12 horas diárias. Figura 5. Posturas inadequadas e manutenção das mesmas por tempo prolongado e desvios extremos associados à aplicação de força Fonte: Autoras, 2021 O diagrama de Corllet e Manenica (1980) demonstrado na figura 6 confirma os comprometimentos dolorosos das regiões corpóreas mais sobrecarregadas. As áreas de maiores desconfortos relatadas no diagrama foram mãos e pescoço no hemicorpo de dominância da trabalhadora. Revista Foco |Curitiba (PR)| v.16.n.1|e747| p.01-09 |2023 7 Johanna Tássia Xavier da Silva, Karla Kellem de Lima, Isabelle Rocha Arão, Helen Pereira dos Santos Soares ____________________________________________________________________________ Figura 6. Diagrama de áreas dolorosas Fonte: Adaptado de Corlett e Manenica (1980) Diante dos achados, tanto por meio da observação quanto através da escuta da trabalhadora, é possível sugerir alguns ajustes para a melhoria das condições de trabalho da manicure/pedicure e consequentemente para o impacto positivo sobre sua saúde e qualidade de vida. Uma destas sugestões é o treinamento postural para que haja por parte da trabalhadora o desenvolvimento da consciência corporal; além da manutenção das pausas já praticadas e a troca do banco de madeira na atividade de pedicure pela cadeira já existente no estúdio, porém até o momento utilizada somente para as atividades de manicure. Segundo Oliveira, Freitas e Másculo (2010), as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) são lesões de origem ocupacional e são a causa de 50% das enfermidades relacionadas ao trabalho. Tendinite, bursite, tenossinovite, lombalgia, síndrome do túnel carpal, e outras, estão entre as representantes dessas lesões que costumam ser ocasionadas por posturas incorretas, ritmo exagerado de trabalho e movimentos repetitivos, causando incômodos, dor, fadiga, estresse, entre outros. Estas consequências negativas podem se fazer presentes caso não haja Revista Foco |Curitiba (PR)| v.16.n.1|e747| p.01-09 |2023 8 ANÁLISE DOS RISCOS DA ERGONOMIA FÍSICA DO POSTO DE TRABALHO DA MANICURE/ PEDICURE EM ESTÚDIO DE BELEZA: ESTUDO DE CASO ____________________________________________________________________________ nenhum mecanismo compensatório que mitigue a sobrecarga encontrada em alguns segmentos corpóreos. As sugestões de melhoria supracitadas certamente não permitirão que tais comprometimentos se instalem. 4. Conclusões O objetivo desse estudo foi analisar os riscos ergonômicos pertinentes à Ergonomia Física nas atividades da manicure/pedicure. Para o levantamento dos dados utilizou-se, além da observação in loco, o diagrama de áreas dolorosas de Corlett e Manenica e a escuta da trabalhadora. Foi possível encontrar aspectos biomecânicos relevantes como: posturas estáticas de alguns segmentos corpóreos mantidas por tempo prolongado (em especial a coluna cervical); a adoção de posturas inadequadas e desvios extremos, (principalmente a região de punhos); e a associação destes desvios com a aplicação de força. No tocante ao mobiliário, parte deste está adequado e parte não. Com relação às variáveis ambientais, nota-se conforto tanto da iluminação quanto da temperatura. Diante dos achados, a profissional foi alertada sobre a necessidade de estar atenta à postura adotada e também sobre a importância de se movimentar na medida do possível, evitando longas jornadas na postura sentada e adotar intervalos sempre que possível, para se exercitar aproveitando esses momentos para realizar também alongamentos. Afinal, toda postura do corpo mantida durante muito tempo se se torna desconfortável e incomoda. O posto de trabalho permite a alteração de posição constantemente ao longo do expediente e essa alteração da posição previne várias doenças e sintomas de desconforto. Por fim, a profissional agradeceu e disse que pretende colocar em prática pois acredita que isso resultará em melhoras significativas. Palavras-chave: Ergonomia; análise de riscos; salão de beleza. REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério do Trabalho. Manual de aplicação da Norma Regulamentadora nº 17. – 2 ed. – Brasília: MTE, SIT, 2002. Revista Foco |Curitiba (PR)| v.16.n.1|e747| p.01-09 |2023 9 Johanna Tássia Xavier da Silva, Karla Kellem de Lima, Isabelle Rocha Arão, Helen Pereira dos Santos Soares ____________________________________________________________________________ BRASIL, Ministério do Trabalho. Norma Regulamentadora NR17. Ergonomia. Portaria MTP nº 423, 2021. CORLETT, E. N.; MANENICA, I. The effects and measurement of working postures. Applied Ergonomics, v. 11, n. 1, p. 7-16, 1980. COUTO, Hudson de Araújo. Ergonomia Aplicada ao Trabalho: o Manual Técnico da Máquina Humana – Volume I, Belo Horizonte: ERGO Editora, 1995. COUTO, Hudson de Araújo. Ergonomia aplicada em 18 lições. Ergo. Belo horizonte, 2002. DUL, J., WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática. Tradução de Itiro Iida. 2. ed. São Paulo. Edgard Blücher, 2004. FERREIRA, A. S., MERINO, E. A. D., e DE FIGUEIREDO, L. F. G. (2017). Métodos utilizados na Ergonomia Organizacional: revisão de literatura. Human Factors in Design, 6(12), 058-078. GRANDJEAN, Etienne (Org.). Manual de Ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 1998. IEA. What Is Ergonomics? Disponível em: <https://iea.cc/what-is ergonomics/>. Acesso em: 13 de novembro de 2021. IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção, 2ª Edição Revisada e Ampliada, São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2005. GOMES, João Filho. Ergonomia do Objeto: Sistema Técnico de Leitura Ergonômica. 2.ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2003. OLIVEIRA, R.C; FREITAS, T.A.F; MÁSCULO, F.S. Análise do grau de risco em postos de trabalho utilizandoo método OCRA: estudo de caso em uma empresa do setor calçadista. XXX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. São Carlos, São Paulo, 2010. VIDAL, Mario César. Ergonomia na empresa: útil, prática e aplicada, 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Virtual científica, 2002.
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