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33 Ergonomia e trabalho INTRODUÇÃO O estudo das relações entre o trabalho e as condições de sua rea- lização é uma preocupação desde o século XVI, com a publi- cação dos estudos de George Bauer, em 1556, sobre doenças e acidentes relacionados ao trabalho de mineiros e fundidores de ouro e prata (Bisso, 1990). Entretanto, foi a partir da publicação do livro De morbis artificum diatriba, do médico italiano Bernardino Ramazzini, em 1700, que os estudos sobre o conforto do ser humano nos ambientes de trabalho são sistematizados (Fundacentro, 1991). Até o século XVII, enquanto a produção de mercadorias era basica- mente artesanal, realizada em instalações pequenas e com o trabalho predominantemente manual, não havia a preocupação com o projeto do trabalho (Melis, 1953). Esta preocupação surge a partir do século XVIII, na Inglaterra, com as construções de edifícios para a indústria têxtil, que utilizava a tecnologia da máquina a vapor para geração de energia e de teares mecânicos construídos a partir de tornos e outras máquinas ope- ratrizes de precisão (Usher apud Gama, 1986). Entre o final do século XIX e início do século XX, o setor metalome- cânico era o mais dinâmico entre os setores industriais, sendo utilizado como exemplo de organização do processo de trabalho industrial moder- no, pois foi a partir de estudos empíricos sobre este setor que surgiram as técnicas e as teorias de gestão de segurança e saúde no trabalho que norteiam o conhecimento do homem no trabalho. Na gestão dos fatores de produção, incluindo a organização do tra- balho, as obras de Taylor e de Ford foram fundamentais no traçado de Ergonomia e trabalho João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues Capítulo II 34 João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues uma nova forma organizacional da produção com influência em todos os ramos da indústria e com reflexos nas demais organizações produtivas. Frederick Taylor sistematizou a teoria da administração científica do trabalho e Henry Ford colocou em prática a produção em massa e a linha de montagem. A corrente fordista/taylorista de organização da produção e do trabalho tornou-se paradigma da produção industrial, influencian- do os modelos de gestão em segurança do trabalho, cuja predominância permaneceu inquestionável até os anos 1960. A divisão e a organização do trabalho propostas e implantadas por Taylor criaram uma nova base de relações industriais, fundamentadas na racionalização das tarefas, e foram determinantes no surgimento das áreas de atuação profissional preocupadas com a concepção dos espaços de trabalho e a composição das tarefas. A partir da década de 1980 novas formas de organização da produção, novas práticas de gestão do trabalho e o uso intensivo das novas tecnolo- gias de informação foram introduzidas nas indústrias na escala mundial, a partir de experiências de empresas japonesas do setor automobilístico. Este novo arranjo de produção e do trabalho, chamado de produção en- xuta (lean manufacturing ou lean production) pode ser caracterizado como um conjunto de técnicas de produção e de desenvolvimento de novos produtos com utilização de produção e fornecimento just in time, produção em pequenos lotes, a prática da Qualidade total, a busca con- tínua de melhoramento e aperfeiçoamento em seus produtos e um maior envolvimento dos fornecedores no projeto dos componentes por eles fabricado. Significa que o modelo tradicional de produção, denominado de produção em massa com sistema de gestão do trabalho designado como taylorismo, tem sido reformulado pela incorporação de métodos flexíveis de produção, tendo como pressuposto uma maior capacidade de resposta às variações de demanda tanto em volume como na variabili- dade de componentes dos produtos. Estas mudanças são paradigmáticas, ou seja, representam um novo padrão de relações sociais no trabalho, na organização e na estrutura formal do trabalho. Desta forma, as áreas de saúde ocupacional, segu- rança do trabalho e ergonomia foram obrigados a repensar seus méto- dos e suas estratégias de ação para poder compreender este novo cená- rio do mundo do trabalho e agir, assim, de forma a preservar a saúde dos trabalhadores. 35 Ergonomia e trabalho Tradicionalmente, a compreensão e sistematização da agressão dos ambientes de trabalho sobre os trabalhadores é objeto de estudo da se- gurança do trabalho que classifica estas agressões em substâncias ou fe- nômenos presentes nos ambientes de trabalho denominados de “agentes agressores à saúde no trabalho” e classificados como: físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes (Brasil, 1994). Nesta nomenclatura, os agentes ergonômicos são agentes cuja fonte tem ação em pontos específicos do ambiente e sua ação depende do trabalhador estar exercendo sua atividade. Os agentes ergonômicos tam- bém são chamados de agentes organizacionais, pois sua ocorrência está ligada às relações de organização do trabalho. São exemplos de agentes ergonômicos: esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de produti- vidade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno, jornadas prolongadas, monotonia e repetitividade, outras situações cau- sadoras de estresse físico e/ou psíquico. Os agentes ergonômicos ganharam importância a partir da década de 1980 com o agravamento da doença dos digitadores (tenossinovite ou tendossinovite) que se tornou uma epidemia, sendo responsável pelo aumento significativo das doenças do trabalho registradas pelo INSS no final do século XX. Trata-se de uma doença osteomuscular, com reper- cussões psicofisiológicas suscitando a introdução de novos conhecimen- tos aos profissionais ligados ao estudo e projeto do trabalho, em particu- lar na prevenção de doenças denominadas de distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho (Dort) e lesões por esforços repetitivos (LER). Tratar de agentes ergonômicos na prevenção de doenças do trabalho significa conhecer o trabalho no campo de atuação da ergonomia e a metodologia desta disciplina para compreender este trabalho. Interes- sa-nos, neste cenário, compreender as relações de trabalho, como o tra- balho é projetado e sua influência sobre a saúde do trabalhador no seu local de trabalho. 36 João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues O TRABALHO DO PONTO DE VISTA DA PRODUÇÃO: A TAREFA Tarefa pode ser compreendida como o conjunto de ordenações da em- presa que orienta a execução do trabalho. Por exemplo, os roteiros de produção, as separações de funções e especialidades; é a operação de produção. A tarefa não é o trabalho, mas o que é prescrito pela empresa ao trabalhador. A tarefa é definida como um objetivo a alcançar em determinadas con- dições. O objetivo é aquilo que deve ser realizado, ou seja, o estado final. Deve ser alcançado em certas condições expressas de acordo com um dos três pontos de vista: o dos caminhos a percorrer antes de alcançar o estado final; o das operações admissíveis para percorrer esses caminhos; e dos procedimentos a realizar para fazê-lo, isto é, a combinação dessas operações. Todo sistema de produção, além de seus recursos materiais de produ- ção, como instalações e equipamentos, necessita de pessoas cujas com- petências, habilidades, saúde e satisfação são essenciais para o funciona- mento das organizações produtivas. Entende-se por estudo do trabalho o uso de técnicas, métodos e medi- ção do trabalho para examinar o trabalho humano em todos seus aspec- tos, investigando os fatores que repercutem na eficiência e desempenho da situação estudada, com a finalidade de melhorar o conforto e a segu- rança na execução do trabalho e aumentar a produtividade do sistema de produção. O estudo do trabalho foi conhecido durante muitos anos com o nome de “estudo de tempos e movimentos” (time and motion study), mas atualmente,em função de novas técnicas integradoras de gestão da produção e do abandono de modelos rígidos de processos de trabalho derivados do taylorismo, o nome mais adequado passou a ser “estudo do trabalho” (work study) que incorpora conceitos de ergonomia, seguran- ça do trabalho, qualidade e organização do trabalho. Assim, o projeto do trabalho é o dimensionamento dos recursos ma- teriais e organizacionais necessários para a realização de um conjunto determinado de tarefas e refere-se aos procedimentos usados para a im- plantação das técnicas de melhoria das situações, concentrando-se nos aspectos da produção que dependem e influenciam diretamente o ren- dimento do trabalho humano. O projeto completo de unidades produ- 37 Ergonomia e trabalho tivas (fábrica, loja, escritório etc.) compreende o estudo das atividades reais dos operadores (objeto específico da ergonomia), do arranjo físico das instalações, do meio ambiente de trabalho (segurança e higiene do trabalho), do rendimento do sistema de produção e dos processos de transformação (objetivos dos resultados da produção). A avaliação do rendimento do trabalho desenvolvido pelas pessoas nas organizações é resultado de compromissos que consideram fatores exter- nos à organização, mediados por relações socioeconômicas, e relações internas associadas à organização do trabalho, organização da produção e as possibilidades tecnológicas de transformação de materiais e informa- ções. Nesta avaliação, dois conceitos são fundamentais para a compreen- são destas mediações de compromisso: a capacidade da organização em realizar seus objetivos de produção e as relações de produtividade que se estabelecem intra e interorganizações. Em síntese, pode-se definir o estudo do trabalho como um processo pelo qual se determinam as informações pertinentes, para um conjunto de operações específicas, por meio de observações sistemáticas. É a de- terminação de um conjunto de tarefas, para a realização de um trabalho, o que requer habilidades, conhecimentos, especialidades e responsabili- dades do operador adequados aos objetivos da produção. RITMO DE TRABALHO Segundo a definição de Antonio Houaiss, ritmo é definido como (de- rivação: por metáfora): ... movimento regular e periódico no curso de qualquer processo; cadência... sucessão de situações ou atividades que constituem um conjunto fluente e homogêneo no tempo, ainda que não se processem com regularidade... (Houaiss, 2012). O conceito de ritmo de trabalho, como usado na produção e estudo do trabalho, compreende um conjunto de cinco variáveis interligadas no processo de trabalho: velocidade dos movimentos, tempo do ciclo de trabalho, intervalo entre ciclos, variações do ciclo e mudança no ciclo de trabalho. A velocidade está relacionada à disponibilidade dos artefatos de tra- balho e às exigências das metas de produção, o que determina a forma 38 João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues como os movimentos são realizados, ou seja, a quantidade de movimen- tos realizada numa unidade de tempo. O tempo ou a duração do ciclo de trabalho é representado por um conjunto de ações realizadas por um trabalhador que constitui, para efei- to do sistema produtivo, em agregação de valor. É também conhecido como o conjunto de tarefas de um posto de trabalho. O intervalo entre os ciclos é o tempo sem atividade de produção en- tre dois ciclos de trabalho. É o intervalo de tempo antes de começar um novo ciclo. As variações do ciclo de trabalho são de suma importância para en- tender a complexidade de gestão do trabalho pelos trabalhadores. Isto é muito frequente no setor de serviços. No atendimento a um cliente num caixa de banco, por exemplo, para a realização de um depósito, o ciclo varia a cada vez que um cliente é atendido, em função das próprias características do trabalho. Há trabalhos em que esta variação é menor e em outros a variação é maior. Na linha de montagem, onde as pessoas agregam peças sobre os materiais para gerar um produto, esta variação é muito menor porque as peças têm sempre as mesmas características. Velocidade, duração do ciclo e o intervalo entre ciclos definem a repetitivi- dade da tarefa. As variações no ciclo definem a flexibilidade e a mudança no ciclo, o que chamamos comumente de rodízio ou diversidade de funções. O tempo de trabalho é determinado pela interação do operador com o sistema de trabalho (o processamento de parte da operação pelo equipamento; do carregar e descarregar informação ou material do posto; da espera de material ou informa- ção no posto; das paradas para necessi- dades pessoais; da recuperação de fadiga – física e mental –; das paradas por mu- danças no processo, material, informação ou equipamento; da equalização de veloci- dade de equipamentos de operações etc.). Este é um conjunto de conhecimentos que contém uma mudança interessante e substancial: de um lado, encontra-se a racionalidade produtiva, aquele conjunto FIGURA 1 TENSÃO ENTRE O PONTO DE VISTA DA ATIVIDADE E OS MODELOS DE RACIONALIDADE PRODUTIVA Fonte: Menegon, 2003: 5. 39 Ergonomia e trabalho de racionalidades da empresa, que prescreve o que é preciso fazer para produzir bens e serviços e, de outro lado, a atividade. O projeto do tempo de trabalho deve ser feito levando-se em conta esta tensão que existe: de um lado, a racionalidade produtiva e, de outro, a forma possível de fazer a atividade. Estas duas racionalidades vivem em tensão no local de trabalho. De um lado aquilo que você tem de pro- duzir e de outro aquilo que você está conseguindo produzir, como está representado na Figura 1. Esta tensão é que deve ser negociada, que vai administrar tempo de execução das tarefas. TRABALHO E ERGONOMIA Segundo Guérin et alii (2001), trabalho pode ter significados diferen- tes, pode designar as condições de sua execução, o resultado da execu- ção de uma ação produtiva ou a forma como esta ação foi realizada: a atividade de trabalho. As disciplinas tradicionais que estudam o trabalho tratam estes significados de forma separada: as condições, o resultado e a atividade. É objetivo da ergonomia, no estudo de situações singulares de trabalho e tendo a atividade de trabalho como foco de análise, com- preender como estas realidades se integram e agem sobre a saúde e o conforto do trabalhador. Ergonomia é a disciplina relacionada ao entendimento das intera- ções entre os seres humanos e os sistemas de trabalho e também é a profissão que aplica teoria, princípios, dados e métodos para projetar o trabalho a fim de garantir o bem-estar humano e o desempenho geral de um sistema. O domínio da ergonomia (Figura 2) inclui: ❑ instrumentos e equipamentos de trabalho; ❑ procedimentos e operações; ❑ organização da produção e do trabalho; e ❑ materiais e pro- dutos. Áreas Objetivos Máquinas e equipamentos Sistemas de tarefas Posto de trabalho Materiais Produtos Melhorias Segurança Saúde Conforto Eficiência no trabalho FIGURA 2 ÁREAS E ATUAÇÕES DA ERGONOMIA 40 João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues A ergonomia atua em várias fases do processo de projeto de artefatos de trabalho e sistemas de produção (Vidal, 2001). Quanto ao seu objeto de estudo, temos a ergonomia aplicada ao pro- jeto de produto, como projeto de ferramenta manual ou aplicada na pro- dução como no projeto do conteúdo de tarefas. Quanto à perspectiva, a ergonomia pode atuar na intervenção de siste- mas de trabalho adequando ritmos de trabalhos ou na concepção destes sistemas no projeto de espaços de trabalho. Quanto à finalidade, podemos ter ergonomia de correção quando uma situação de trabalho apresenta indicadores de acidentes ou doenças; de enquadramento para atender normas de trabalho; e de remanejamento na transferência de locais de trabalho por obsolescência ou inovação de processos. Para atuar, a ergonomia possui três domínios de especialização: ❑ Ergonomia física que lidacom as respostas do corpo humano à carga física e psicológica. Tópicos relevantes incluem manipulação de materiais, arranjo físico de estações de trabalho, demandas do tra- balho e fato res tais como repetição, manuseio de materiais, vibração, força e postura estática, relacionada com lesões musculoesqueléticas (Figura 3). Busca adequar as exigências do trabalho aos limites e capacidades do corpo, através do projeto de interfaces adequadas para o relacionamento físico homem-máquina. Preocupada com características anatômicas, antropométricas, fisiológicas e biomecânicas do ser humano e como elas se relacionam com as atividades físicas. São assuntos estudados na ergonomia física: ❑ antropometria (medidas do corpo); ❑ fisiologia do trabalho (consumo energético, esforço, biomecânica); ❑ ambiente físico (calor, ruído, umidade, etc.). FIGURA 3 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA DIMENSÃO DA ERGONOMIA FÍSICA ❑ Ergonomia cognitiva, também conhecida como engenharia psicoló- gica, refere-se aos processos mentais, tais como percepção, atenção, cognição, controle motor e armazenamento e recuperação de me- mória, como eles afetam as interações entre seres humanos e outros 41 Ergonomia e trabalho elementos de um sistema (Figura 4). Tópicos relevantes incluem carga mental de trabalho, vigilância, tomada de decisão, desempe- nho de habilidades, erro humano, interação humano-computador e treinamento. ❑ Ergonomia organizacional, ou macroergonomia, relacionada com a otimização dos sistemas sociotécnicos, incluindo sua estrutura orga- nizacional, políticas corporativas e processo de produção e negócio (Figura 5). Relacionada com processos mentais na execução do trabalho, tais como: ❑ percepção, ❑ memória, ❑ raciocínio, ❑ resposta motora, e ❑ como as interações entre as pessoas afetam os outros elementos de um sistema. Exemplo: carga mental de trabalho, tomada de decisão, interação homem-computador, estresse, treinamento, qualificação, confiabilidade. FIGURA 4 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA DIMENSÃO DA ERGONOMIA COGNITIVA Tópicos relevantes incluem trabalho em turnos, programação de trabalho, satisfação no trabalho, teoria motivacional, supervisão, trabalho em equipe, trabalho à distância (teletrabalho), comunicação, gestão do trabalho, organização temporal do trabalho, projeto participativo e cooperativo, organizações virtuais. FIGURA 5 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA DIMENSÃO DA ERGONOMIA ORGANIZACIONAL. Em um contexto organizacional, a pessoa inserida no trabalho mobili- za necessariamente seu corpo, seus conhecimentos, suas experiências e habilidades para realizar suas tarefas. Portanto, a atuação da ergonomia, com suas respectivas dimensões, considera a pessoa no trabalho sem fazer dissociação entre os aspectos físicos, cognitivos e organizacionais. 42 João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues Nas relações entre as dimensões, vamos encontrar os condicionantes do trabalho; e na intersecção das três dimensões, encontramos os deter- minantes deste trabalho. O exemplo da Figura 6 (livre adaptação de Vidal, 2000: 18) explica estas relações. Compreender a ativi- dade de trabalho, esta é a primeira função da ergo- nomia. Mas, compreender o trabalho... e daí? Fazer o quê? Temos então o ob- jetivo final da ergonomia: transformar este trabalho de forma a torná-lo mais adequado às característi- cas psicofisiológicas dos trabalhadores e melhorar a eficácia do sistema de produção. Inicialmente, devemos compreender o trabalho. O trabalho é realizado por pessoas, respeitando re- gras organizacionais, so- ciais e econômicas, dentro de instituições. As pessoas dão conta deste trabalho por meio de suas ativida- des, comumente denomi- nadas de “atividades pro- dutivas” ou “atividades de trabalho”. Trata-se de um processo da relação entre os componentes do traba- lho determinado para o funcionamento da empresa e as ações do traba- lhador, visando atender a expectativa da produção e, ao mesmo tempo, preservando sua saúde e qualidade de vida (Figura 7). Suponhamos um trabalhador sentado em uma cadeira diante da tela e do teclado de um terminal de computador (podemos supor um trabalhador de sala de controle industrial, ou tele- marketing, ou controle aéreo, ou realizando um leilão eletrônico etc.). Ele sente dor nas costas. O ergonomista estuda os problemas relacionados com a coluna e pode ajudar na concepção de cadeiras mais bem adaptadas. O mesmo trabalhador queixa-se de dor de cabeça. A tela do vídeo reflete a luz e tem pouco contraste. O ergonomista estuda sobre os olhos e a visão e pode dar elementos para se fazer telas menos ofuscantes. O trabalhador apresenta sinais de fadiga. Há qua- tro horas ele trabalha diante do seu terminal e ele não é mais tão jovem. O ergonomista aplica conhecimentos dos efeitos de duração do trabalho sobre o organismo humano, po- dendo contribuir para organizar de modo mais ade- quado os horários e as pausas. Este trabalhador não está sentado sem fazer nada. Ele executa uma atividade, interpreta informações que aparecem na tela, resolve problemas e talvez co- meta erros. O ergonomista estuda as bases da organização, mo- notonia e raciocínio (cognição), podendo ajudar na melhor formulação dos problemas e do treinamento. Este trabalhador considera seu trabalho repetitivo e isolado. O ergonomista detém conhecimentos sobre o inte- resse das tarefas e as comunicações na equipe. Ele pode ajudar a conceber uma organização mais satis- fatória, e, portanto mais eficaz. FIGURA 6 AS DIMENSÕES DE ATUAÇÃO DA ERGONOMIA 43 Ergonomia e trabalho De um lado está o trabalhador articulando sua saúde, segurança e con- forto; de outro a empresa visando à flexibilidade, à eficácia e à produtivi- dade. O quadro a seguir procura sintetizar este modelo. No campo da ergonomia, os vários instrumentos existentes traduzem uma avaliação a partir de uma relação pré-fixada de fatores observáveis, em geral com análise quantitativa, desconsiderando, na maioria das ve- zes, o contexto da situação. No entanto, segundo Guérin et alii (2001), a atividade de trabalho está longe de ser um conjunto de regras conhecidas previamente; é um conjunto de regulações contextualizadas, no qual se considera, entre outros fatores, a variabilidade do ambiente e a variabili- dade própria do trabalhador. Segundo o autor, a análise do trabalho é um processo que compreen- de a análise em situação real, com o objetivo de identificar o que é de- terminado para a realização do trabalho, como o trabalho é efetivamente realizado, e o porquê do comportamento do trabalhador, considerando a distinção entre o real e o prescrito nas suas condições e estratégias de regulação dos operadores. FIGURA 7 A SITUAÇÃO DE TRABALHO Condições de trabalho Condições pessoais Condições socioeconômicas Características pessoais Atividade de trabalho Gestão dos trabalhadores Obra pessoal Obra comercializável Resultado do trabalho Fonte: adaptado de Gérin et alii, 2001: 24. 44 João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues FUNDAMENTOS DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (AET) Para o estudo do trabalho, a análise ergonômica do trabalho se funda- menta nos seguintes conceitos: ❑ distinção entre tarefa e atividade; ❑ variabilidade; ❑ carga de trabalho; ❑ modo operatório, que decorre dos conceitos anteriores e representa a resposta individual aos determinantes de uma situação de trabalho. ATIVIDADE De acordo com Darses (2007), citando Leontiev, a unidade da análise do real é a atividade composta de um sujeito (indivíduo ou grupo), um objeto, ações e operações. Conforme representado na Figura 8, o sujeito possui uma forma de agir direcionada a um objeto, ao mesmo tempo em que está na origem da atividade, segue seu desenvolvimento através dela. O objeto da atividade é o motivo que lhe dá uma orientação consciente e específica, e por trás do qual se encontrauma necessidade ou um desejo que a atividade deve permitir que seja atendido. A ação é um processo es- truturado por uma representação mental do resultado a alcançar. A ação se realiza através de operações que se tornaram rotinas inconscientes com a prática, mas que dependem de condições determinadas. Níveis hierárquico da atividade atividade ações operações atividade motivo ações meta operações condições FIGURA 8 REPRESENTAÇÃO DE HIERARQUIA DA ATIVIDADE-AÇÃO-OPERAÇÕES Fonte: Adaptação livre de Leontiev (1976). 45 Ergonomia e trabalho A atividade é, portanto, o que o trabalhador efetivamente faz para dar conta da tarefa. São seus movimentos, sua postura corporal, as decisões, as sequências de ações para realizar uma parcela do trabalho da produ- ção. É a interação do trabalhador com os artefatos de trabalho visando cumprir as tarefas prescritas pela empresa: condições determinadas e re- sultados esperados. A atividade de trabalho se dá em condições reais e produz resultados efetivos. Em geral as atividades se desenvolvem nos postos de trabalho. Atividade de trabalho é uma estratégia de adaptação à situação real de trabalho, objeto da prescrição. As tarefas prescritas pela empresa têm condições determinadas de meios de trabalho, do ambiente e de resultados esperados, enquanto que a atividade de trabalho tem que dar conta dessas tarefas em condi- ções reais e produz resultados efetivos (Figura 9). Então a atividade de trabalho é uma atividade dinâmica, que coloca o homem frente a um con- junto de relações sociais, que define parte de sua personalidade, parte de sua vida. Leontiev apud Darses (2007) define a tarefa como uma forma com- plexa de relação homem-mundo, que envolve finalidades conscientes e atuação coletiva e cooperativa. O resultado da atividade como um todo, que satisfaz à necessidade do grupo, também leva à satisfação das ne- cessidades de cada indivíduo, mesmo que cada um tenha se dedicado apenas a uma parte específica da tarefa em questão. Tarefa versus Atitidade O que é prescrito pela empresa ao operador O que o operador efetivamente faz para dar conta da tarefa Trabalho prescrito Trabalho real ❑ condições determinadas ❑ resultados esperados ❑ condições reais ❑ resultados efetivos FIGURA 9 RELAÇÃO ENTRE TAREFA E ATIVIDADE 46 João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues A atividade de trabalho, do ponto de vista da análise ergonômica do trabalho, como vimos, baseia-se em três componentes: ❑ Variabilidade da produção, dos sujeitos; ❑ Carga de trabalho física, cognitiva, psíquica; ❑ Modo operatório regulação. VARIABILIDADE Os efeitos da variabilidade sobre a carga de trabalho implicam na sua elevação ou diminuição e determinam a necessidade de uma reelabora- ção constante pelos trabalhadores do seu modo operatório. Toda ativida- de de trabalho está sujeita a uma variabilidade, a um conjunto de mudan- ças inesperadas, que vem da produção ou do próprio sujeito. Da produção pode ser, por exemplo, a variação sazonal – as empresas ora produzem mais, ora produzem menos. Ou seja, a variabilidade da produção é uma série de elementos que fazem com que, ao realizar o trabalho, o trabalhador tenha de adaptar-se a uma situação, que pode ser inesperada ou esperada. A máquina é a mesma, o local é o mesmo, o que o trabalhador tem de fazer é a mesma tarefa, mas este trabalhador se modifica. Há uma varia- ção intrapessoal (mais cansado à tarde que de manhã, mais cansado na sexta que na terça, mais tenso no final do mês, pois já acabou o dinheiro, que no começo do mês etc.). Ou seja, o trabalhador muda e as condições de realização da tarefa são as mesmas. Há também uma mudança entre as pessoas: um sabe mais, tem mais experiência, outro sabe menos, um trabalha mais tempo, outro trabalha menos tempo. CARGA DE TRABALHO Durante a realização de qualquer atividade há o empreendimento de uma carga física representada pelos movimentos do corpo, sejam eles precisos ou não, por esforços, e por posições distintas adotadas pelo corpo. A carga cognitiva está presente porque, ao realizar um trabalho, o tra- balhador tem de saber sobre aquele trabalho, tem de tomar decisões, relacionar uma série de conhecimentos para dar conta daquele trabalho. A carga psíquica também está presente, pois o trabalhador tem de entrar em uma determinada hora e sair em outra, tem uma meta a produzir, uma qualidade do produto, uma relação salarial, uma relação de empre- 47 Ergonomia e trabalho go mais estável ou menos estável. Dessa forma, a carga de trabalho está presente em qualquer atividade. Dada a existência da variabilidade da situação de trabalho, decorrente das mudanças que ocorrem na produção e nas pessoas, a carga de tra- balho será maior ou menor para que o operador possa realizar determi- nadas tarefas. Assim, o operador vai realizar sua atividade de uma forma peculiar, utilizando seu jeito próprio de fazer a tarefa. Ele desenvolve seu modo operatório. Este modo operatório esta relacionado com as possi- bilidades, com a margem de manobra que cada trabalhador dispõe na realização da sua atividade. Este modo operatório está relacionado com as possibilidades, com a margem de manobra que cada operador dispõe na realização da sua atividade. O modelo mostrado na figura 10 representa a modela- gem da regulação no trabalho. Todo trabalho deve atingir os resultados esperados pela em- presa. Estes resultados mais gerais da empre- sa são assimilados pelo trabalhador de forma particular, entretanto, nem sempre é coincidente com a visão da empresa. Um trabalhador de uma empresa produtora de fogões ou mesmo aviões não está toda hora sabendo se vendeu mais ou menos. Ele pode até ter informações fornecidas pelo RH ou diretoria, mas a preocupação dele é se os resultados da atividade que ele está fa- zendo dentro do processo produtivo (uma determinada parte do avião ou do fogão) está saindo bem feita e quantas partes ele tem de fazer por unidade de tempo no dia, no mês ou no ano. Os resultados referem-se ao que ele percebe, sobre o que o trabalho dele atingiu. Para alcançar esses resultados, ele tem um conjunto de ob- jetivos, que estão relacionados com a forma, com o quanto ele tem de fazer e em que condições ele pode atingir estes resultados. Para atingir os resultados e objetivos fixados, ele dispõe de um conjunto de meios (materiais, equipamentos, ambiente etc.) e aí entra o corpo dele, entra o Regulações Modos operatórios FIGURA 10 MODELO DE REGULAÇÃO NO TRABALHO Fonte: Guérin et alii, 2001: 65. Resultados Objetivos Meios Estado interno 48 João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues estado interno da pessoa para realizar isto. A regulação é a possibilidade que o trabalhador tem de atingir aqueles resultados, mudando os objetivos ou os meios de trabalho. Quanto maior a flexibilidade entre os objetivos e os meios de trabalho disponibilizados ao operador, maior o número de modos operatórios que ele pode adotar. Por exemplo, o trabalhador de teleatendimento: depois de cumprimentar e dizer o nome, frente à pergunta do cliente, ele vai ter de encaixar a pergunta em uma das opções dadas pela tela. Quando consegue encaixar tecla e aparece outra tela com outras opções. Isto é o que a gente chama de objetivos e meios rígidos. A pessoa não tem como mudar, ela não pode transmitir ao interlocutor o que ela pen- sa, deve efetivamente responder o que está colocado na tela. Quando se faz uma pergunta que foge das opções dadas, o atendente passa para o supervisor. A última opção é passar para o supervisor. Isto é um conjunto de objetivos fixados pelo trabalho. COMPETÊNCIA E MODO OPERATÓRIO Um modo de trabalho é adequado quando a pessoa pode adotar for- mas diferentes de trabalhar os objetivos e os meios que ela opera, de forma a adequar a carga de trabalho ao seu modo de trabalhar, utili- zando sua competência e garantindo sua saúde, podendo, assim,ado- tar modos operatórios diferentes. Quanto maior os modos operatórios diferentes, maior as possibilidades de adequar seu conhecimento, seu corpo, sua velocidade, sua experiência e seu ritmo para atingir os resul- tados fixados. Segundo Falzon (2007), a tarefa que se pode deduzir da observação da atividade ou das declarações dos próprios operadores não é neces- sariamente a tarefa prescrita. Os operadores transgridem, segundo sua representação da realidade do trabalho, certas normas, seja porque mi- nimizam a sua necessidade, seja porque lhes parece que a transgressão tem efeitos positivos para a realização dos objetivos. Estas mesmas trans- gressões, realizadas para garantir seu conforto, podem adicionar cons- trangimentos em função das exigências da qualidade nos resultados, compartilhar ferramentas ou espaços com colegas ou mesmo pela falta de instrumentos adequados ao trabalho. Desta forma, a tarefa efetiva é constituída pelos objetivos e restrições que o sujeito coloca para si mes- mo e pelas restrições impostas pelos demais componentes do local de 49 Ergonomia e trabalho trabalho. A regulação no trabalho é resultante de uma aprendizagem no trabalho, constituída pela representação construída pelo operador, sobre este trabalho. Falzon (Figura 11) distingue a tarefa prescrita em tarefa compreendida (o que o operador pensa que se pediu a ele para fazer) e a tarefa apropriada (tarefa definida pelo operador a partir da tarefa com- preendida), como representado na figura. Tarefa prescrita Tarefa divulgada (explícita) Tarefa esperada (implícita) Tarefa compreendida Tarefa apropriada Tarefa efetiva ATIVIDADE Quem prescreve Operador Fonte: Falzon, 2007: 11. FIGURA 11 DA TAREFA À ATIVIDADE O ato de trabalhar e de atingir os objetivos da empresa considerando as regulações e as restrições das situações dadas expressam a competên- cia do trabalhador. A competência das pessoas não reside unicamente em seguir estrita- mente uma ordem de produção, uma rotina de trabalho, ou um conjun- to de procedimentos, mas na capacidade de regular a situação. De uma parte, para gerenciar as variações das condições externas, seja a variabi- lidade da empresa, seja a variabilidade intersujeitos e aquelas internas, que são as específicas do posto de trabalho e, de outra parte, para levar em conta os efeitos dessa atividade. Ao mesmo tempo em que tem de dar jeito numa peça que não encaixa direito (toda peça vem com limites, com uma tolerância maior ou menor), tem de dar conta de seu encaixe de uma determinada forma, deve empreender um esforço para realizar isso. Então, a atividade tem uma consequência sobre quem a está reali- zando. 50 João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues As competências são, portanto, o resultado da eficácia. Pressupõe um repertório de procedimentos ou métodos alternativos. É um “jeitinho para dar conta” da tarefa, que permite ao trabalhador adaptar-se de for- ma mais adequada às diferentes situações que se apresentam no traba- lho. A retirada dessas possibilidades é que constrange o trabalho. CONSIDERAÇÕES FINAIS Toda atividade de trabalho necessita de um conjunto de competências que não estão escritas. Um conjunto de competências que se traduz na forma como a pessoa faz de seu jeito, “dar aquele quebra-galho” para conseguir realizar as tarefas. Todo trabalho exige isso. As atividades de trabalho não são determinadas unicamente por critérios ergonômicos. A organização do trabalho, a concepção de máquinas e ferramentas, a implantação de sistemas de produção são, também, determinados por outros fatores, tanto técnicos como econômicos e sociais. O trabalho prescrito é insuficiente, incompleto e por vezes equivoca- do frente à atividade, especialmente ao ignorar a possibilidade dos inci- dentes críticos e da complexidade das situações de trabalho. O desco- nhecimento da origem das disfunções do sistema de produção coloca o trabalhador em uma situação de dúvida sobre a sua própria capacidade, angustiado pelo medo de ser incompetente, de não dar conta de en- frentar as situações não previstas. Para Dejours (2002), a realidade é um estado de coisas e o real é a parte da realidade que resiste à simbolização, ou seja, o real é aquilo que no mundo se faz conhecer por sua resistência ao domínio técnico e ao conhecimento científico... é aquilo no mundo que nos escapa e se torna, por sua vez, um enigma a decifrar. O real, então, é sempre um convite a prosseguir no trabalho de investigação e de des- coberta. Mas tão logo dominado pelo conhecimento, a nova situação faz surgir novos limites de aplicação e de validade, assim como novos desafios ao conhecimento e ao saber (Dejours, 2002: 40). Se o real é inatingível, ou seja, nunca podemos conhecê-lo em sua plenitude, o que é para a ergonomia o trabalho real ou a atividade? A ati- vidade condensa aquilo que no trabalho é apreendido, das manifestações do real. Nas palavras do autor: 51 Ergonomia e trabalho [...] a atividade condensa, então, de certa forma, o sucesso do saber e o revés ocasionado pelo real, em um compromisso que contém uma dimensão de imaginação, inovação e invenção [...] (idem: 42). Nesta perspectiva, a atividade se expressa em comportamentos resul- tantes de estratégias e modos operatórios que objetivam responder às exigências inerentes à tarefa, em dadas condições de trabalho e multi- determinações do contexto. As estratégias operatórias são operações de cunho mental que visam ajustar as competências dos sujeitos às exigên- cias da situação real (Abrahão et alii, 2009). Compreender a situação de trabalho significa analisá-la detalhadamen- te em suas dimensões físicas, cognitivas e organizacionais. Significa tam- bém reconhecer as outras racionalidades presentes, como a da produção, da medicina do trabalho e da engenharia ocupacional e, ao confrontá-las, produzir um consenso negociado acerca das ações a serem realizadas (Menegon, 2003). O trabalhador impõe uma série de condicionantes para a realização da atividade: suas características físicas, sexo, idade; sua qualificação, expe- riência e competência; seu estado momentâneo; e, sua vida pessoal. Por outro lado, a empresa também impõe suas condicionantes: as exigências cognitivas da tarefa; as máquinas, ferramentas e o meio ambiente; os mo- vimentos e as posturas pressupostos; e a divisão de tarefas, a hierarquia e o regime de trabalho. A carga de trabalho constitui-se na síntese que resulta da confrontação destes dois níveis de condicionantes. De um lado, a empresa com a tarefa e, de outro, o trabalhador com a atividade. O resultado da carga de traba- lho realizada, por sua vez, retorna sobre ambos. Sobre o trabalhador ela se manifesta sobre seu estado de saúde; sobre a empresa, em termos de produção e produtividade. Considera-se, portanto, que no desenho do trabalho deve-se buscar ampliar as possibilidades de adoção dos distintos modos operatórios frente às circunstâncias da situação de trabalho. Porém, tal ampliação deve significar concomitantemente uma redução da carga de trabalho. A atividade de trabalho é o elemento organizador e estruturante dos comportamentos nas situações de trabalho. Ela é uma resposta aos constrangimentos determinados exteriormente ao trabalhador e simul- taneamente ela é susceptível de transformá-lo... ela unifica a situação (Guérin et alii, 2001: 58). 52 João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues REFERÊNCIAS ABRAHÃO, Júlia; SZNELWAR, Laerte; SILVINO, Alexandre; SARMET, Maurício; PINHO, Diana. Introdução à ergonomia: da prática à teoria. São Paulo: Edgard Blücher, 2009. BISSO, Ely. O que é segurança do trabalho. 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