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33
Ergonomia e trabalho
INTRODUÇÃO
O 
estudo das relações entre o trabalho e as condições de sua rea-
lização é uma preocupação desde o século XVI, com a publi-
cação dos estudos de George Bauer, em 1556, sobre doenças 
e acidentes relacionados ao trabalho de mineiros e fundidores de ouro 
e prata (Bisso, 1990). Entretanto, foi a partir da publicação do livro De 
morbis artificum diatriba, do médico italiano Bernardino Ramazzini, 
em 1700, que os estudos sobre o conforto do ser humano nos ambientes 
de trabalho são sistematizados (Fundacentro, 1991).
Até o século XVII, enquanto a produção de mercadorias era basica-
mente artesanal, realizada em instalações pequenas e com o trabalho 
predominantemente manual, não havia a preocupação com o projeto do 
trabalho (Melis, 1953). Esta preocupação surge a partir do século XVIII, 
na Inglaterra, com as construções de edifícios para a indústria têxtil, que 
utilizava a tecnologia da máquina a vapor para geração de energia e de 
teares mecânicos construídos a partir de tornos e outras máquinas ope-
ratrizes de precisão (Usher apud Gama, 1986).
Entre o final do século XIX e início do século XX, o setor metalome-
cânico era o mais dinâmico entre os setores industriais, sendo utilizado 
como exemplo de organização do processo de trabalho industrial moder-
no, pois foi a partir de estudos empíricos sobre este setor que surgiram 
as técnicas e as teorias de gestão de segurança e saúde no trabalho que 
norteiam o conhecimento do homem no trabalho.
Na gestão dos fatores de produção, incluindo a organização do tra-
balho, as obras de Taylor e de Ford foram fundamentais no traçado de 
Ergonomia e trabalho
João Alberto Camarotto, 
Angela Paula Simonelli & 
Daniela da Silva Rodrigues
Capítulo II
34
João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues
uma nova forma organizacional da produção com influência em todos os 
ramos da indústria e com reflexos nas demais organizações produtivas.
Frederick Taylor sistematizou a teoria da administração científica do 
trabalho e Henry Ford colocou em prática a produção em massa e a linha 
de montagem. A corrente fordista/taylorista de organização da produção 
e do trabalho tornou-se paradigma da produção industrial, influencian-
do os modelos de gestão em segurança do trabalho, cuja predominância 
permaneceu inquestionável até os anos 1960. A divisão e a organização 
do trabalho propostas e implantadas por Taylor criaram uma nova base 
de relações industriais, fundamentadas na racionalização das tarefas, e 
foram determinantes no surgimento das áreas de atuação profissional 
preocupadas com a concepção dos espaços de trabalho e a composição 
das tarefas.
A partir da década de 1980 novas formas de organização da produção, 
novas práticas de gestão do trabalho e o uso intensivo das novas tecnolo-
gias de informação foram introduzidas nas indústrias na escala mundial, 
a partir de experiências de empresas japonesas do setor automobilístico. 
Este novo arranjo de produção e do trabalho, chamado de produção en-
xuta (lean manufacturing ou lean production) pode ser caracterizado 
como um conjunto de técnicas de produção e de desenvolvimento de 
novos produtos com utilização de produção e fornecimento just in time, 
produção em pequenos lotes, a prática da Qualidade total, a busca con-
tínua de melhoramento e aperfeiçoamento em seus produtos e um maior 
envolvimento dos fornecedores no projeto dos componentes por eles 
fabricado. Significa que o modelo tradicional de produção, denominado 
de produção em massa com sistema de gestão do trabalho designado 
como taylorismo, tem sido reformulado pela incorporação de métodos 
flexíveis de produção, tendo como pressuposto uma maior capacidade 
de resposta às variações de demanda tanto em volume como na variabili-
dade de componentes dos produtos.
Estas mudanças são paradigmáticas, ou seja, representam um novo 
padrão de relações sociais no trabalho, na organização e na estrutura 
formal do trabalho. Desta forma, as áreas de saúde ocupacional, segu-
rança do trabalho e ergonomia foram obrigados a repensar seus méto-
dos e suas estratégias de ação para poder compreender este novo cená-
rio do mundo do trabalho e agir, assim, de forma a preservar a saúde 
dos trabalhadores.
35
Ergonomia e trabalho
Tradicionalmente, a compreensão e sistematização da agressão dos 
ambientes de trabalho sobre os trabalhadores é objeto de estudo da se-
gurança do trabalho que classifica estas agressões em substâncias ou fe-
nômenos presentes nos ambientes de trabalho denominados de “agentes 
agressores à saúde no trabalho” e classificados como: físicos, químicos, 
biológicos, ergonômicos e de acidentes (Brasil, 1994).
Nesta nomenclatura, os agentes ergonômicos são agentes cuja fonte 
tem ação em pontos específicos do ambiente e sua ação depende do 
trabalhador estar exercendo sua atividade. Os agentes ergonômicos tam-
bém são chamados de agentes organizacionais, pois sua ocorrência está 
ligada às relações de organização do trabalho. São exemplos de agentes 
ergonômicos: esforço físico intenso, levantamento e transporte manual 
de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de produti-
vidade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno, 
jornadas prolongadas, monotonia e repetitividade, outras situações cau-
sadoras de estresse físico e/ou psíquico.
Os agentes ergonômicos ganharam importância a partir da década de 
1980 com o agravamento da doença dos digitadores (tenossinovite ou 
tendossinovite) que se tornou uma epidemia, sendo responsável pelo 
aumento significativo das doenças do trabalho registradas pelo INSS no 
final do século XX. Trata-se de uma doença osteomuscular, com reper-
cussões psicofisiológicas suscitando a introdução de novos conhecimen-
tos aos profissionais ligados ao estudo e projeto do trabalho, em particu-
lar na prevenção de doenças denominadas de distúrbio osteomuscular 
relacionado ao trabalho (Dort) e lesões por esforços repetitivos (LER).
Tratar de agentes ergonômicos na prevenção de doenças do trabalho 
significa conhecer o trabalho no campo de atuação da ergonomia e a 
metodologia desta disciplina para compreender este trabalho. Interes-
sa-nos, neste cenário, compreender as relações de trabalho, como o tra-
balho é projetado e sua influência sobre a saúde do trabalhador no seu 
local de trabalho.
36
João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues
O TRABALHO DO PONTO DE VISTA DA PRODUÇÃO: 
A TAREFA
Tarefa pode ser compreendida como o conjunto de ordenações da em-
presa que orienta a execução do trabalho. Por exemplo, os roteiros de 
produção, as separações de funções e especialidades; é a operação de 
produção. A tarefa não é o trabalho, mas o que é prescrito pela empresa 
ao trabalhador.
A tarefa é definida como um objetivo a alcançar em determinadas con-
dições. O objetivo é aquilo que deve ser realizado, ou seja, o estado final. 
Deve ser alcançado em certas condições expressas de acordo com um 
dos três pontos de vista: o dos caminhos a percorrer antes de alcançar o 
estado final; o das operações admissíveis para percorrer esses caminhos; 
e dos procedimentos a realizar para fazê-lo, isto é, a combinação dessas 
operações.
Todo sistema de produção, além de seus recursos materiais de produ-
ção, como instalações e equipamentos, necessita de pessoas cujas com-
petências, habilidades, saúde e satisfação são essenciais para o funciona-
mento das organizações produtivas.
Entende-se por estudo do trabalho o uso de técnicas, métodos e medi-
ção do trabalho para examinar o trabalho humano em todos seus aspec-
tos, investigando os fatores que repercutem na eficiência e desempenho 
da situação estudada, com a finalidade de melhorar o conforto e a segu-
rança na execução do trabalho e aumentar a produtividade do sistema de 
produção. O estudo do trabalho foi conhecido durante muitos anos com 
o nome de “estudo de tempos e movimentos” (time and motion study), 
mas atualmente,em função de novas técnicas integradoras de gestão da 
produção e do abandono de modelos rígidos de processos de trabalho 
derivados do taylorismo, o nome mais adequado passou a ser “estudo do 
trabalho” (work study) que incorpora conceitos de ergonomia, seguran-
ça do trabalho, qualidade e organização do trabalho.
Assim, o projeto do trabalho é o dimensionamento dos recursos ma-
teriais e organizacionais necessários para a realização de um conjunto 
determinado de tarefas e refere-se aos procedimentos usados para a im-
plantação das técnicas de melhoria das situações, concentrando-se nos 
aspectos da produção que dependem e influenciam diretamente o ren-
dimento do trabalho humano. O projeto completo de unidades produ-
37
Ergonomia e trabalho
tivas (fábrica, loja, escritório etc.) compreende o estudo das atividades 
reais dos operadores (objeto específico da ergonomia), do arranjo físico 
das instalações, do meio ambiente de trabalho (segurança e higiene do 
trabalho), do rendimento do sistema de produção e dos processos de 
transformação (objetivos dos resultados da produção).
A avaliação do rendimento do trabalho desenvolvido pelas pessoas nas 
organizações é resultado de compromissos que consideram fatores exter-
nos à organização, mediados por relações socioeconômicas, e relações 
internas associadas à organização do trabalho, organização da produção 
e as possibilidades tecnológicas de transformação de materiais e informa-
ções. Nesta avaliação, dois conceitos são fundamentais para a compreen-
são destas mediações de compromisso: a capacidade da organização em 
realizar seus objetivos de produção e as relações de produtividade que se 
estabelecem intra e interorganizações.
Em síntese, pode-se definir o estudo do trabalho como um processo 
pelo qual se determinam as informações pertinentes, para um conjunto 
de operações específicas, por meio de observações sistemáticas. É a de-
terminação de um conjunto de tarefas, para a realização de um trabalho, 
o que requer habilidades, conhecimentos, especialidades e responsabili-
dades do operador adequados aos objetivos da produção.
RITMO DE TRABALHO
Segundo a definição de Antonio Houaiss, ritmo é definido como (de-
rivação: por metáfora):
... movimento regular e periódico no curso de qualquer processo; 
cadência... sucessão de situações ou atividades que constituem um 
conjunto fluente e homogêneo no tempo, ainda que não se processem 
com regularidade... (Houaiss, 2012).
O conceito de ritmo de trabalho, como usado na produção e estudo 
do trabalho, compreende um conjunto de cinco variáveis interligadas no 
processo de trabalho: velocidade dos movimentos, tempo do ciclo de 
trabalho, intervalo entre ciclos, variações do ciclo e mudança no ciclo de 
trabalho.
A velocidade está relacionada à disponibilidade dos artefatos de tra-
balho e às exigências das metas de produção, o que determina a forma 
38
João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues
como os movimentos são realizados, ou seja, a quantidade de movimen-
tos realizada numa unidade de tempo.
O tempo ou a duração do ciclo de trabalho é representado por um 
conjunto de ações realizadas por um trabalhador que constitui, para efei-
to do sistema produtivo, em agregação de valor. É também conhecido 
como o conjunto de tarefas de um posto de trabalho.
O intervalo entre os ciclos é o tempo sem atividade de produção en-
tre dois ciclos de trabalho. É o intervalo de tempo antes de começar um 
novo ciclo.
As variações do ciclo de trabalho são de suma importância para en-
tender a complexidade de gestão do trabalho pelos trabalhadores. Isto 
é muito frequente no setor de serviços. No atendimento a um cliente 
num caixa de banco, por exemplo, para a realização de um depósito, o 
ciclo varia a cada vez que um cliente é atendido, em função das próprias 
características do trabalho. Há trabalhos em que esta variação é menor 
e em outros a variação é maior. Na linha de montagem, onde as pessoas 
agregam peças sobre os materiais para gerar um produto, esta variação 
é muito menor porque as peças têm sempre as mesmas características.
Velocidade, duração do ciclo e o intervalo entre ciclos definem a repetitivi-
dade da tarefa. As variações no ciclo definem a flexibilidade e a mudança no 
ciclo, o que chamamos comumente de rodízio ou diversidade de funções.
O tempo de trabalho é determinado 
pela interação do operador com o sistema 
de trabalho (o processamento de parte da 
operação pelo equipamento; do carregar 
e descarregar informação ou material do 
posto; da espera de material ou informa-
ção no posto; das paradas para necessi-
dades pessoais; da recuperação de fadiga 
– física e mental –; das paradas por mu-
danças no processo, material, informação 
ou equipamento; da equalização de veloci-
dade de equipamentos de operações etc.). 
Este é um conjunto de conhecimentos 
que contém uma mudança interessante 
e substancial: de um lado, encontra-se a 
racionalidade produtiva, aquele conjunto 
FIGURA 1
TENSÃO ENTRE O PONTO DE VISTA 
DA ATIVIDADE E OS MODELOS 
DE RACIONALIDADE PRODUTIVA
Fonte: Menegon, 2003: 5.
39
Ergonomia e trabalho
de racionalidades da empresa, que prescreve o que é preciso fazer para 
produzir bens e serviços e, de outro lado, a atividade.
O projeto do tempo de trabalho deve ser feito levando-se em conta 
esta tensão que existe: de um lado, a racionalidade produtiva e, de outro, 
a forma possível de fazer a atividade. Estas duas racionalidades vivem em 
tensão no local de trabalho. De um lado aquilo que você tem de pro-
duzir e de outro aquilo que você está conseguindo produzir, como está 
representado na Figura 1. Esta tensão é que deve ser negociada, que vai 
administrar tempo de execução das tarefas.
TRABALHO E ERGONOMIA
Segundo Guérin et alii (2001), trabalho pode ter significados diferen-
tes, pode designar as condições de sua execução, o resultado da execu-
ção de uma ação produtiva ou a forma como esta ação foi realizada: a 
atividade de trabalho. As disciplinas tradicionais que estudam o trabalho 
tratam estes significados de forma separada: as condições, o resultado e 
a atividade. É objetivo da ergonomia, no estudo de situações singulares 
de trabalho e tendo a atividade de trabalho como foco de análise, com-
preender como estas realidades se integram e agem sobre a saúde e o 
conforto do trabalhador.
Ergonomia é a disciplina relacionada ao entendimento das intera-
ções entre os seres humanos e os sistemas de trabalho e também é a 
profissão que aplica teoria, princípios, dados e métodos para projetar 
o trabalho a fim de garantir o bem-estar humano e o desempenho geral 
de um sistema. O domínio da ergonomia (Figura 2) inclui: 
❑ instrumentos e 
equipamentos 
de trabalho;
❑ procedimentos e 
operações;
❑ organização da 
produção e do 
trabalho; e
❑ materiais e pro-
dutos.
Áreas Objetivos
Máquinas e equipamentos
Sistemas de tarefas
Posto de trabalho
Materiais
Produtos
Melhorias
Segurança
Saúde
Conforto
Eficiência no trabalho
FIGURA 2
ÁREAS E ATUAÇÕES DA ERGONOMIA
40
João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues
A ergonomia atua em várias fases do processo de projeto de artefatos 
de trabalho e sistemas de produção (Vidal, 2001).
Quanto ao seu objeto de estudo, temos a ergonomia aplicada ao pro-
jeto de produto, como projeto de ferramenta manual ou aplicada na pro-
dução como no projeto do conteúdo de tarefas.
Quanto à perspectiva, a ergonomia pode atuar na intervenção de siste-
mas de trabalho adequando ritmos de trabalhos ou na concepção destes 
sistemas no projeto de espaços de trabalho.
Quanto à finalidade, podemos ter ergonomia de correção quando uma 
situação de trabalho apresenta indicadores de acidentes ou doenças; de 
enquadramento para atender normas de trabalho; e de remanejamento 
na transferência de locais de trabalho por obsolescência ou inovação de 
processos.
Para atuar, a ergonomia possui três domínios de especialização:
❑ Ergonomia física que lidacom as respostas do corpo humano à 
carga física e psicológica. Tópicos relevantes incluem manipulação 
de materiais, arranjo físico de estações de trabalho, demandas do tra-
balho e fato res tais como repetição, manuseio de materiais, vibração, 
força e postura estática, relacionada com lesões musculoesqueléticas 
(Figura 3). 
Busca adequar as exigências do trabalho 
aos limites e capacidades do corpo, através 
do projeto de interfaces adequadas para o 
relacionamento físico homem-máquina.
Preocupada com características anatômicas, 
antropométricas, fisiológicas e biomecânicas 
do ser humano e como elas se relacionam 
com as atividades físicas.
São assuntos estudados na ergonomia física: 
❑ antropometria (medidas do corpo);
❑ fisiologia do trabalho (consumo 
energético, esforço, biomecânica);
❑ ambiente físico (calor, ruído, umidade, 
etc.). 
FIGURA 3 
REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA DIMENSÃO DA ERGONOMIA FÍSICA
❑ Ergonomia cognitiva, também conhecida como engenharia psicoló-
gica, refere-se aos processos mentais, tais como percepção, atenção, 
cognição, controle motor e armazenamento e recuperação de me-
mória, como eles afetam as interações entre seres humanos e outros 
41
Ergonomia e trabalho
elementos de um sistema (Figura 4). Tópicos relevantes incluem 
carga mental de trabalho, vigilância, tomada de decisão, desempe-
nho de habilidades, erro humano, interação humano-computador 
e treinamento. 
❑ Ergonomia organizacional, ou macroergonomia, relacionada com a 
otimização dos sistemas sociotécnicos, incluindo sua estrutura orga-
nizacional, políticas corporativas e processo de produção e negócio 
(Figura 5). 
Relacionada com processos mentais na execução do 
trabalho, tais como:
❑ percepção,
❑ memória,
❑ raciocínio,
❑ resposta motora, e
❑ como as interações entre as pessoas afetam os outros 
elementos de um sistema.
Exemplo: carga mental de trabalho, tomada de decisão, 
interação homem-computador, estresse, treinamento, 
qualificação, confiabilidade.
FIGURA 4 
REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA DIMENSÃO DA ERGONOMIA COGNITIVA
Tópicos relevantes incluem trabalho 
em turnos, programação de trabalho, 
satisfação no trabalho, teoria 
motivacional, supervisão, trabalho 
em equipe, trabalho à distância 
(teletrabalho), comunicação, gestão 
do trabalho, organização temporal 
do trabalho, projeto participativo e 
cooperativo, organizações virtuais.
FIGURA 5
REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA DIMENSÃO DA ERGONOMIA ORGANIZACIONAL.
Em um contexto organizacional, a pessoa inserida no trabalho mobili-
za necessariamente seu corpo, seus conhecimentos, suas experiências e 
habilidades para realizar suas tarefas.
Portanto, a atuação da ergonomia, com suas respectivas dimensões, 
considera a pessoa no trabalho sem fazer dissociação entre os aspectos 
físicos, cognitivos e organizacionais.
42
João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues
Nas relações entre as dimensões, vamos encontrar os condicionantes 
do trabalho; e na intersecção das três dimensões, encontramos os deter-
minantes deste trabalho.
O exemplo da Figura 6 (livre adaptação de Vidal, 2000: 18) explica 
estas relações.
Compreender a ativi-
dade de trabalho, esta é a 
primeira função da ergo-
nomia. Mas, compreender 
o trabalho... e daí? Fazer 
o quê? Temos então o ob-
jetivo final da ergonomia: 
transformar este trabalho 
de forma a torná-lo mais 
adequado às característi-
cas psicofisiológicas dos 
trabalhadores e melhorar 
a eficácia do sistema de 
produção.
Inicialmente, devemos 
compreender o trabalho. 
O trabalho é realizado por 
pessoas, respeitando re-
gras organizacionais, so-
ciais e econômicas, dentro 
de instituições. As pessoas 
dão conta deste trabalho 
por meio de suas ativida-
des, comumente denomi-
nadas de “atividades pro-
dutivas” ou “atividades de 
trabalho”. Trata-se de um 
processo da relação entre 
os componentes do traba-
lho determinado para o funcionamento da empresa e as ações do traba-
lhador, visando atender a expectativa da produção e, ao mesmo tempo, 
preservando sua saúde e qualidade de vida (Figura 7).
Suponhamos um trabalhador sentado em uma cadeira 
diante da tela e do
teclado de um terminal de computador (podemos supor 
um trabalhador de sala de controle industrial, ou tele-
marketing, ou controle aéreo, ou realizando um leilão 
eletrônico etc.).
Ele sente dor nas costas.
 O ergonomista estuda os problemas relacionados 
com a coluna e pode ajudar na concepção de cadeiras 
mais bem adaptadas.
O mesmo trabalhador queixa-se de dor de cabeça. A 
tela do vídeo reflete a luz e tem pouco contraste.
 O ergonomista estuda sobre os olhos e a visão e pode 
dar elementos para se fazer telas menos ofuscantes.
O trabalhador apresenta sinais de fadiga. Há qua-
tro horas ele trabalha diante do seu terminal e ele 
não é mais tão jovem.
 O ergonomista aplica conhecimentos dos efeitos de 
duração do trabalho sobre o organismo humano, po-
dendo contribuir para organizar de modo mais ade-
quado os horários e as pausas.
Este trabalhador não está sentado sem fazer nada. 
Ele executa uma atividade, interpreta informações 
que aparecem na tela, resolve problemas e talvez co-
meta erros.
 O ergonomista estuda as bases da organização, mo-
notonia e raciocínio (cognição), podendo ajudar na 
melhor formulação dos problemas e do treinamento.
Este trabalhador considera seu trabalho repetitivo e 
isolado.
 O ergonomista detém conhecimentos sobre o inte-
resse das tarefas e as comunicações na equipe. Ele 
pode ajudar a conceber uma organização mais satis-
fatória, e, portanto mais eficaz.
FIGURA 6
AS DIMENSÕES DE ATUAÇÃO DA ERGONOMIA
43
Ergonomia e trabalho
De um lado está o trabalhador articulando sua saúde, segurança e con-
forto; de outro a empresa visando à flexibilidade, à eficácia e à produtivi-
dade. O quadro a seguir procura sintetizar este modelo. 
No campo da ergonomia, os vários instrumentos existentes traduzem 
uma avaliação a partir de uma relação pré-fixada de fatores observáveis, 
em geral com análise quantitativa, desconsiderando, na maioria das ve-
zes, o contexto da situação. No entanto, segundo Guérin et alii (2001), a 
atividade de trabalho está longe de ser um conjunto de regras conhecidas 
previamente; é um conjunto de regulações contextualizadas, no qual se 
considera, entre outros fatores, a variabilidade do ambiente e a variabili-
dade própria do trabalhador.
Segundo o autor, a análise do trabalho é um processo que compreen-
de a análise em situação real, com o objetivo de identificar o que é de-
terminado para a realização do trabalho, como o trabalho é efetivamente 
realizado, e o porquê do comportamento do trabalhador, considerando 
a distinção entre o real e o prescrito nas suas condições e estratégias de 
regulação dos operadores.
FIGURA 7
A SITUAÇÃO DE TRABALHO 
Condições de trabalho
Condições pessoais Condições socioeconômicas
Características pessoais Atividade de trabalho Gestão dos trabalhadores
Obra pessoal Obra comercializável
Resultado do trabalho
Fonte: adaptado de Gérin et alii, 2001: 24.
44
João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues
FUNDAMENTOS DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (AET)
Para o estudo do trabalho, a análise ergonômica do trabalho se funda-
menta nos seguintes conceitos:
❑ distinção entre tarefa e atividade;
❑ variabilidade;
❑ carga de trabalho;
❑ modo operatório, que decorre dos conceitos anteriores e representa 
a resposta individual aos determinantes de uma situação de trabalho.
ATIVIDADE
De acordo com Darses (2007), citando Leontiev, a unidade da análise 
do real é a atividade composta de um sujeito (indivíduo ou grupo), um 
objeto, ações e operações. Conforme representado na Figura 8, o sujeito 
possui uma forma de agir direcionada a um objeto, ao mesmo tempo em 
que está na origem da atividade, segue seu desenvolvimento através dela. 
O objeto da atividade é o motivo que lhe dá uma orientação consciente e 
específica, e por trás do qual se encontrauma necessidade ou um desejo 
que a atividade deve permitir que seja atendido. A ação é um processo es-
truturado por uma representação mental do resultado a alcançar. A ação 
se realiza através de operações que se tornaram rotinas inconscientes 
com a prática, mas que dependem de condições determinadas. 
Níveis hierárquico da atividade
atividade
ações
operações
atividade motivo
ações meta
operações condições
FIGURA 8
REPRESENTAÇÃO DE HIERARQUIA DA ATIVIDADE-AÇÃO-OPERAÇÕES
Fonte: Adaptação livre de Leontiev (1976).
45
Ergonomia e trabalho
A atividade é, portanto, o que o trabalhador efetivamente faz para dar 
conta da tarefa. São seus movimentos, sua postura corporal, as decisões, 
as sequências de ações para realizar uma parcela do trabalho da produ-
ção. É a interação do trabalhador com os artefatos de trabalho visando 
cumprir as tarefas prescritas pela empresa: condições determinadas e re-
sultados esperados. A atividade de trabalho se dá em condições reais e 
produz resultados efetivos. Em geral as atividades se desenvolvem nos 
postos de trabalho.
Atividade de trabalho é uma estratégia de adaptação à situação real de 
trabalho, objeto da prescrição.
As tarefas prescritas pela empresa têm condições determinadas de 
meios de trabalho, do ambiente e de resultados esperados, enquanto 
que a atividade de trabalho tem que dar conta dessas tarefas em condi-
ções reais e produz resultados efetivos (Figura 9). Então a atividade de 
trabalho é uma atividade dinâmica, que coloca o homem frente a um con-
junto de relações sociais, que define parte de sua personalidade, parte 
de sua vida.
Leontiev apud Darses (2007) define a tarefa como uma forma com-
plexa de relação homem-mundo, que envolve finalidades conscientes e 
atuação coletiva e cooperativa. O resultado da atividade como um todo, 
que satisfaz à necessidade do grupo, também leva à satisfação das ne-
cessidades de cada indivíduo, mesmo que cada um tenha se dedicado 
apenas a uma parte específica da tarefa em questão.
Tarefa versus Atitidade
O que é prescrito pela
empresa ao operador
O que o operador efetivamente 
faz para dar conta da tarefa
Trabalho prescrito Trabalho real
❑ condições determinadas
❑ resultados esperados
❑ condições reais
❑ resultados efetivos
FIGURA 9
RELAÇÃO ENTRE TAREFA E ATIVIDADE
46
João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues
A atividade de trabalho, do ponto de vista da análise ergonômica do 
trabalho, como vimos, baseia-se em três componentes:
❑ Variabilidade da produção, dos sujeitos;
❑ Carga de trabalho física, cognitiva, psíquica;
❑ Modo operatório regulação.
VARIABILIDADE
Os efeitos da variabilidade sobre a carga de trabalho implicam na sua 
elevação ou diminuição e determinam a necessidade de uma reelabora-
ção constante pelos trabalhadores do seu modo operatório. Toda ativida-
de de trabalho está sujeita a uma variabilidade, a um conjunto de mudan-
ças inesperadas, que vem da produção ou do próprio sujeito.
Da produção pode ser, por exemplo, a variação sazonal – as empresas 
ora produzem mais, ora produzem menos. Ou seja, a variabilidade da 
produção é uma série de elementos que fazem com que, ao realizar o 
trabalho, o trabalhador tenha de adaptar-se a uma situação, que pode ser 
inesperada ou esperada.
A máquina é a mesma, o local é o mesmo, o que o trabalhador tem de 
fazer é a mesma tarefa, mas este trabalhador se modifica. Há uma varia-
ção intrapessoal (mais cansado à tarde que de manhã, mais cansado na 
sexta que na terça, mais tenso no final do mês, pois já acabou o dinheiro, 
que no começo do mês etc.). Ou seja, o trabalhador muda e as condições 
de realização da tarefa são as mesmas. Há também uma mudança entre 
as pessoas: um sabe mais, tem mais experiência, outro sabe menos, um 
trabalha mais tempo, outro trabalha menos tempo.
CARGA DE TRABALHO
Durante a realização de qualquer atividade há o empreendimento de 
uma carga física representada pelos movimentos do corpo, sejam eles 
precisos ou não, por esforços, e por posições distintas adotadas pelo 
corpo.
A carga cognitiva está presente porque, ao realizar um trabalho, o tra-
balhador tem de saber sobre aquele trabalho, tem de tomar decisões, 
relacionar uma série de conhecimentos para dar conta daquele trabalho. 
A carga psíquica também está presente, pois o trabalhador tem de entrar 
em uma determinada hora e sair em outra, tem uma meta a produzir, 
uma qualidade do produto, uma relação salarial, uma relação de empre-
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Ergonomia e trabalho
go mais estável ou menos estável. Dessa forma, a carga de trabalho está 
presente em qualquer atividade.
Dada a existência da variabilidade da situação de trabalho, decorrente 
das mudanças que ocorrem na produção e nas pessoas, a carga de tra-
balho será maior ou menor para que o operador possa realizar determi-
nadas tarefas. Assim, o operador vai realizar sua atividade de uma forma 
peculiar, utilizando seu jeito próprio de fazer a tarefa. Ele desenvolve seu 
modo operatório. Este modo operatório esta relacionado com as possi-
bilidades, com a margem de manobra que cada trabalhador dispõe na 
realização da sua atividade.
Este modo operatório está relacionado com as possibilidades, com 
a margem de manobra que cada operador dispõe na realização da sua 
atividade. O modelo 
mostrado na figura 10 
representa a modela-
gem da regulação no 
trabalho.
Todo trabalho deve 
atingir os resultados 
esperados pela em-
presa. Estes resultados 
mais gerais da empre-
sa são assimilados pelo 
trabalhador de forma particular, entretanto, nem sempre é coincidente 
com a visão da empresa. Um trabalhador de uma empresa produtora de 
fogões ou mesmo aviões não está toda hora sabendo se vendeu mais ou 
menos. Ele pode até ter informações fornecidas pelo RH ou diretoria, 
mas a preocupação dele é se os resultados da atividade que ele está fa-
zendo dentro do processo produtivo (uma determinada parte do avião 
ou do fogão) está saindo bem feita e quantas partes ele tem de fazer por 
unidade de tempo no dia, no mês ou no ano. 
Os resultados referem-se ao que ele percebe, sobre o que o trabalho 
dele atingiu. Para alcançar esses resultados, ele tem um conjunto de ob-
jetivos, que estão relacionados com a forma, com o quanto ele tem de 
fazer e em que condições ele pode atingir estes resultados. Para atingir 
os resultados e objetivos fixados, ele dispõe de um conjunto de meios 
(materiais, equipamentos, ambiente etc.) e aí entra o corpo dele, entra o 
Regulações Modos
operatórios
FIGURA 10
MODELO DE REGULAÇÃO NO TRABALHO
Fonte: Guérin et alii, 2001: 65.
Resultados
Objetivos
Meios
Estado interno
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João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues
estado interno da pessoa para realizar isto.
A regulação é a possibilidade que o trabalhador tem de atingir aqueles 
resultados, mudando os objetivos ou os meios de trabalho.
Quanto maior a flexibilidade entre os objetivos e os meios de trabalho 
disponibilizados ao operador, maior o número de modos operatórios 
que ele pode adotar. Por exemplo, o trabalhador de teleatendimento: 
depois de cumprimentar e dizer o nome, frente à pergunta do cliente, 
ele vai ter de encaixar a pergunta em uma das opções dadas pela tela. 
Quando consegue encaixar tecla e aparece outra tela com outras opções. 
Isto é o que a gente chama de objetivos e meios rígidos. A pessoa não 
tem como mudar, ela não pode transmitir ao interlocutor o que ela pen-
sa, deve efetivamente responder o que está colocado na tela. Quando se 
faz uma pergunta que foge das opções dadas, o atendente passa para o 
supervisor. A última opção é passar para o supervisor. Isto é um conjunto 
de objetivos fixados pelo trabalho.
COMPETÊNCIA E MODO OPERATÓRIO
Um modo de trabalho é adequado quando a pessoa pode adotar for-
mas diferentes de trabalhar os objetivos e os meios que ela opera, de 
forma a adequar a carga de trabalho ao seu modo de trabalhar, utili-
zando sua competência e garantindo sua saúde, podendo, assim,ado-
tar modos operatórios diferentes. Quanto maior os modos operatórios 
diferentes, maior as possibilidades de adequar seu conhecimento, seu 
corpo, sua velocidade, sua experiência e seu ritmo para atingir os resul-
tados fixados.
Segundo Falzon (2007), a tarefa que se pode deduzir da observação 
da atividade ou das declarações dos próprios operadores não é neces-
sariamente a tarefa prescrita. Os operadores transgridem, segundo sua 
representação da realidade do trabalho, certas normas, seja porque mi-
nimizam a sua necessidade, seja porque lhes parece que a transgressão 
tem efeitos positivos para a realização dos objetivos. Estas mesmas trans-
gressões, realizadas para garantir seu conforto, podem adicionar cons-
trangimentos em função das exigências da qualidade nos resultados, 
compartilhar ferramentas ou espaços com colegas ou mesmo pela falta 
de instrumentos adequados ao trabalho. Desta forma, a tarefa efetiva é 
constituída pelos objetivos e restrições que o sujeito coloca para si mes-
mo e pelas restrições impostas pelos demais componentes do local de 
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Ergonomia e trabalho
trabalho. A regulação no trabalho é resultante de uma aprendizagem no 
trabalho, constituída pela representação construída pelo operador, sobre 
este trabalho. Falzon (Figura 11) distingue a tarefa prescrita em tarefa 
compreendida (o que o operador pensa que se pediu a ele para fazer) e 
a tarefa apropriada (tarefa definida pelo operador a partir da tarefa com-
preendida), como representado na figura.
Tarefa prescrita
Tarefa divulgada
(explícita)
Tarefa esperada 
(implícita)
Tarefa compreendida
Tarefa apropriada
Tarefa efetiva
ATIVIDADE
Quem prescreve
Operador
Fonte: Falzon, 2007: 11.
FIGURA 11
DA TAREFA À ATIVIDADE
O ato de trabalhar e de atingir os objetivos da empresa considerando 
as regulações e as restrições das situações dadas expressam a competên-
cia do trabalhador.
A competência das pessoas não reside unicamente em seguir estrita-
mente uma ordem de produção, uma rotina de trabalho, ou um conjun-
to de procedimentos, mas na capacidade de regular a situação. De uma 
parte, para gerenciar as variações das condições externas, seja a variabi-
lidade da empresa, seja a variabilidade intersujeitos e aquelas internas, 
que são as específicas do posto de trabalho e, de outra parte, para levar 
em conta os efeitos dessa atividade. Ao mesmo tempo em que tem de 
dar jeito numa peça que não encaixa direito (toda peça vem com limites, 
com uma tolerância maior ou menor), tem de dar conta de seu encaixe 
de uma determinada forma, deve empreender um esforço para realizar 
isso. Então, a atividade tem uma consequência sobre quem a está reali-
zando.
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João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues
As competências são, portanto, o resultado da eficácia. Pressupõe um 
repertório de procedimentos ou métodos alternativos. É um “jeitinho 
para dar conta” da tarefa, que permite ao trabalhador adaptar-se de for-
ma mais adequada às diferentes situações que se apresentam no traba-
lho. A retirada dessas possibilidades é que constrange o trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Toda atividade de trabalho necessita de um conjunto de competências 
que não estão escritas. Um conjunto de competências que se traduz na 
forma como a pessoa faz de seu jeito, “dar aquele quebra-galho” para 
conseguir realizar as tarefas. Todo trabalho exige isso. As atividades de 
trabalho não são determinadas unicamente por critérios ergonômicos. 
A organização do trabalho, a concepção de máquinas e ferramentas, a 
implantação de sistemas de produção são, também, determinados por 
outros fatores, tanto técnicos como econômicos e sociais.
O trabalho prescrito é insuficiente, incompleto e por vezes equivoca-
do frente à atividade, especialmente ao ignorar a possibilidade dos inci-
dentes críticos e da complexidade das situações de trabalho. O desco-
nhecimento da origem das disfunções do sistema de produção coloca o 
trabalhador em uma situação de dúvida sobre a sua própria capacidade, 
angustiado pelo medo de ser incompetente, de não dar conta de en-
frentar as situações não previstas. Para Dejours (2002), a realidade é um 
estado de coisas e o real é a parte da realidade que resiste à simbolização, 
ou seja, o real é
aquilo que no mundo se faz conhecer por sua resistência ao domínio 
técnico e ao conhecimento científico... é aquilo no mundo que nos 
escapa e se torna, por sua vez, um enigma a decifrar. O real, então, é 
sempre um convite a prosseguir no trabalho de investigação e de des-
coberta. Mas tão logo dominado pelo conhecimento, a nova situação 
faz surgir novos limites de aplicação e de validade, assim como novos 
desafios ao conhecimento e ao saber (Dejours, 2002: 40).
Se o real é inatingível, ou seja, nunca podemos conhecê-lo em sua 
plenitude, o que é para a ergonomia o trabalho real ou a atividade? A ati-
vidade condensa aquilo que no trabalho é apreendido, das manifestações 
do real. Nas palavras do autor: 
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Ergonomia e trabalho
[...] a atividade condensa, então, de certa forma, o sucesso do saber e 
o revés ocasionado pelo real, em um compromisso que contém uma 
dimensão de imaginação, inovação e invenção [...] (idem: 42).
Nesta perspectiva, a atividade se expressa em comportamentos resul-
tantes de estratégias e modos operatórios que objetivam responder às 
exigências inerentes à tarefa, em dadas condições de trabalho e multi-
determinações do contexto. As estratégias operatórias são operações de 
cunho mental que visam ajustar as competências dos sujeitos às exigên-
cias da situação real (Abrahão et alii, 2009).
Compreender a situação de trabalho significa analisá-la detalhadamen-
te em suas dimensões físicas, cognitivas e organizacionais. Significa tam-
bém reconhecer as outras racionalidades presentes, como a da produção, 
da medicina do trabalho e da engenharia ocupacional e, ao confrontá-las, 
produzir um consenso negociado acerca das ações a serem realizadas 
(Menegon, 2003).
O trabalhador impõe uma série de condicionantes para a realização da 
atividade: suas características físicas, sexo, idade; sua qualificação, expe-
riência e competência; seu estado momentâneo; e, sua vida pessoal. Por 
outro lado, a empresa também impõe suas condicionantes: as exigências 
cognitivas da tarefa; as máquinas, ferramentas e o meio ambiente; os mo-
vimentos e as posturas pressupostos; e a divisão de tarefas, a hierarquia 
e o regime de trabalho.
A carga de trabalho constitui-se na síntese que resulta da confrontação 
destes dois níveis de condicionantes. De um lado, a empresa com a tarefa 
e, de outro, o trabalhador com a atividade. O resultado da carga de traba-
lho realizada, por sua vez, retorna sobre ambos. Sobre o trabalhador ela 
se manifesta sobre seu estado de saúde; sobre a empresa, em termos de 
produção e produtividade.
Considera-se, portanto, que no desenho do trabalho deve-se buscar 
ampliar as possibilidades de adoção dos distintos modos operatórios 
frente às circunstâncias da situação de trabalho. Porém, tal ampliação 
deve significar concomitantemente uma redução da carga de trabalho.
A atividade de trabalho é o elemento organizador e estruturante dos 
comportamentos nas situações de trabalho. Ela é uma resposta aos 
constrangimentos determinados exteriormente ao trabalhador e simul-
taneamente ela é susceptível de transformá-lo... ela unifica a situação 
(Guérin et alii, 2001: 58).
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João Alberto Camarotto, Angela Paula Simonelli & Daniela da Silva Rodrigues
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yw

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