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Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 Tratamento Cirúrgico da DTM Introdução - Trata-se de uma articulação sinovial – permite amplos movimentos da mandíbula em torno do osso temporal, que é fixo – bilateral – uma afeta a outra – e condilar – sua superfície articular tem o formato de côndilo. Embriologia da ATM - Durante a 8° semana do desenvolvimento ocorre a condensação ectomesenquimal, que dá origem a fossa glenóide e a eminência articular, dando início a formação da ATM; - Por volta da 13° semana tem-se a formação de cavidade e disco articular. Na 14° semana ocorre a ossificação endocondral – substituição de cartilagem por osso – na cartilagem do côndilo. Na 18° semana aparece a membrana sinovial e a ATM se torna funcional, sendo possível observar movimentos de abertura e fechamento; OBS.: Não se faz cirurgia ortognática em paciente jovem, por exemplo, porque o processo de ossificação endocondral ainda está ocorrendo na ATM dele, é necessário esperar a formação completa – finalizar o processo de crescimento – para realizar o procedimento. Constituição da ATM - Ela é constituída por componentes ósseos – osso temporal e côndilo mandibular – meios de união – são eles que unem os dois ossos → disco articular, cápsula articular e ligamentos e membrana sinovial; • Meios de União !!! Disco Articular: Tem a função de permitir o movimento do côndilo – adaptar movimentos – e absorver energia; - Formado por tecido conjuntivo denso – mais superficial – tecido conjuntivo frouxo – no centro, por ser mais delicado esse tecido está mais propenso a perfurar – e coxim retrodiscal – está entre o disco e a cápsula, posteriormente, é uma área com gordura, que amortece impactos e é extremamente inervado e vascularizado; OBS.: O disco não é inervado e vascularizado, sua nutrição é proveniente do líquido sinovial. OBS.: O paciente pode ter DTM causada por uma inflamação no coxim retrodiscal, a retrodiscite. - O disco delimita a articulação, dividindo-a em compartimentos superior, inferior, anterior e posterior; !!! Cápsula da ATM: É formada por tecido conjuntivo frouxo – permite amplos movimentos – e atua ligando a mandíbula ao crânio. Possui fibras proprioceptivas, sua porção externa é continuada com ligamentos e sua parte interna com a membrana sinovial; !!! Membrana Sinovial: Povoada por fibroblastos – células produtoras de proteoglicanos ricas em ácido hialurônico – e macrófagos – remoção do líquido. Responsável pela produção do líquido sinovial – filtrado plasmático de sais minerais, glicose e pequenas proteínas – que lubrifica, absorve impactos e nutre o disco articular; OBS.: Um possível tratamento para problemas articulares é a viscossuplementação, no qual se injeta ácido hialurônico dentro da articulação, com fito de resolver uma deficiência de lubrificação. !!! Ligamentos: Temporomandibular – liga o tubérculo articular (osso temporal) ao colo do côndilo mandibular – esfenomandibular – espinha do osso esfenoide a face medial do ramo da mandíbula – estilomandibular – processo estilóide a margem posterior do ramo e ângulo da mandíbula – colaterais – limitam os movimentos do disco para fora do côndilo – tanaka – fascículo medial do ligamento colateral médio a parede medial da fossa – e pinto – insere-se no colo do martelo e segue em direção a parte posterior, medial e superior da cápsula e disco articular; OBS.: Síndrome de Eagle → O paciente apresenta uma calcificação do ligamento estilomandibular, dificultando a movimentação, o que se observa radiograficamente é um processo estilóide alongado. OBS.: Problemas no ligamento pinto pode gerar clinicamente zumbidos no ouvido. Miologia - São eles → Masseter, temporal, pterigoideo lateral e pterigoideo medial; - Existem casos de DTM muscular, onde a dor é gerada devido a tensão nesses músculos. Inervação e Vascularização da ATM - A inervação sensorial da ATM é feita pelos nervos auriculotemporal, massetérico, pterigoideo lateral e temporal profundo posterior. Dos quatro, o auriculotemporal é o principal, mas todos eles são responsáveis pela transmissão dos sinais de dor para o SNC; - A irrigação da ATM é feita pelos ramos da artéria carótida externa – artéria auricular profunda, temporal superficial (está bastante associada a articulação) e timpânica anterior – e a drenagem pela veia maxilar e veia temporal superficial. Disfunção Temporomandibular - São condições orofaciais dolorosas com alterações funcionais do aparelho mastigatório; !!! Sinonímias para DTM: Síndrome de Costen, distúrbios funcionais da ATM, síndrome da disfunção da articulação temporomandibular, síndrome da dor e disfunção temporomandibular, distúrbios da articulação temporomandibular e distúrbio oclusomandibular; • Epidemiologia - Observa-se uma maior prevalência no sexo feminino – devido a alterações hormonais, estresse, que pode estar ligado as alterações hormonais – atingindo adultos entre 21 e 40 anos, tem baixa ocorrência de sinais e sintomas em crianças até os 6 anos e as alterações decrescem a partir da 5° década de vida – a articulação se adapta; OBS.: A luxação é mais comum em idosos, pois está ligada a frouxidão ligamentar, algo esperado em pacientes idosos. • Etiologia - A DTM tem natureza multifatorial, existindo fatores predisponentes – ser mulher – fatores iniciadores – traumas – e fatores perpetuantes – hábitos parafuncionais, como roer as unhas, mascar chiclete, manter as mão no queixo; !!! Condição Oclusal: A maloclusão é um fator contribuinte – ou seja, não gera a DTM, mas pode contribuir para sua iniciação e perpetuação – para a DTM, não sendo mais encarada como fator etiológico central. Algumas condições oclusais podem favorecer a DTM → transpasse horizontal – mordida cruzada – ausência de dentes posteriores, desvios de RC para MIH – pacientes que permanecem com os dentes em MIH por longos períodos de tempo; !!! Traumas: Macrotraumas – quedas, socos ou outras agressões na região da face – e microtraumas – ranger os dentes, roer as unhas; !!! Estresse Emocional: O organismo libera mediadores que geram uma tensão muscular; • Sinais e Sintomas - Mialgia – dor muscular – ruídos articulares – estalos e/ou crepitações – limitação dos movimentos mandibulares, cefaléia, otalgia e zumbidos, tonturas e vertigens – a ATM está próxima ao ouvido, região do corpo muito ligada ao equilíbrio, por isso, quando se tem alterações nessa articulação podem gerar esses sinais; • Diagnóstico - É feito através de uma anamnese detalhada, exame clínico e radiográfico; !!! Anamnese Detalhada 1° Você possui dificuldade para abrir a boca? 2° Você ouve barulhos na região da ATM? 3° Você já teve travamento da mandíbula? 4° Você sente dor perto ou dentro dos ouvidos e no maxilar? 5° Você sente dor ou dificuldade na mastigação, fala ou bocejamento? 6° Sua mordida está desconfortável ou diferente? 7° Você tem dores de cabeça ou dores no pescoço com frequência? 8° Você teve algum traumatismo recente na cabeça, pescoço ou mandíbula? 9° Você sente regularmente a região mandibular firme cansada ou tensa? !!! Exame Clínico - Palpação dos músculos mastigatórios, presença de estalo ou crepitação na ATM, quantidade de abertura bucal – a abertura normal é de aproximadamente 40 mm, nas mulheres esse valor pode ser um pouco menor – e movimentação da mandíbula – na abertura de boca, na lateralidade e protusão; !!! Exames de Imagem: Existem vários, a radiografia transcraniana – muito utilizada por muito tempo no serviço público, devido ao seu baixo custo, porém com ela não é possível observar os tecidos moles, além dela possuir muita sobreposição – radiografia panorâmica, tomografia computadorizada e a ressonância magnética; - Radiografia Panorâmica: Permite a presença de hiperplasias – de côndilo – tumores – que podem estar gerandoalterações – aplasias, fraturas, erosões extensas e anquiloses, alterações das porções lateral e central do côndilo. Ela é contraindicada para interpretação funcional da ATM; - Tomografia Computadorizada: Fornece uma imagem tridimensional da ATM, sendo o exame de escolha para a pesquisa de estruturas esqueléticas da ATM; OBS.: Existe a tomografia computadorizada com janela para tecido mole, porém ela é muito difícil de ser interpretada. - Ressonância Magnética: É um exame dinâmico, demorado, alguns pacientes precisam ser sedados, pois o barulho é um pouco incômodo. Permite visualizar bem os tecidos moles e duros. Funciona através de ondas de rádio de baixa frequência, sendo o padrão ouro para a avaliação dos tecidos moles da ATM, especialmente da posição do disco. Classificação das DTMs - Existem dois tipos, as DTMs articulares – se dividem em dois grupos, as DTMs de hipomobilidade e de hipermobilidade – e as DTMs musculares – associado com dor miofascial e mioespasmo; OBS.: Uma não impede a outra, o paciente pode apresentar os dois tipos juntos ou isolados. • Classificação das DTMs Articulares !!! Deslocamento do Disco Articular com Redução: Na abertura de boca o disco sai do local que deveria ficar, mas retorna sozinho ao seu local; !!! Deslocamento do Disco Articular sem Redução: Na abertura de boca o disco sai do local que deveria ficar, e não retorna sozinho ao seu local; OBS.: Na luxação, o côndilo mandibular sai da cavidade, na subluxação ele sai, mas volta sozinho a posição original. Essas duas são diferentes do luxamento discal – deslocamento – o côndilo está normal nesses casos, a alteração é a nível discal. - Existem duas formas de se colocar o disco no local correto → manobras não cirúrgicas – solicitar ao paciente que ele faça a abertura, lateralidade e protusão de boca várias vezes – e cirurgia – abertura da ATM e reposicionamento do disco; !!! Sinovite ou Capsulite: Trata-se da inflamação do líquido sinovial – da membrana sinovial – da ATM e da inflamação da cápsula articular relacionada com a distensão dos ligamentos capsulares, respectivamente; - Clinicamente não se distingue uma da outra, apenas na ressonância. As causas mais comuns são trauma e infecção de uma estrutura adjacente – como o ouvido. O paciente sente dor e pressão localizada; - Trata-se de uma inflamação aguda. Para seu tratamento utiliza-se anti-inflamatórios e, pode-se usar analgésicos; !!! Retrodiscite: Trata-se de uma inflamação dos tecidos retrodiscais, tendo como principal causa os traumas. O paciente apresenta dor pulsátil e/ou choque elétrico – dores de grande proporção, já que a região é bem inervada – e tem limitação do movimento mandibular; - Para seu tratamento utiliza-se anti-inflamatórios – mais potentes, já que a dor costuma ser mais intensa – e, pode-se usar analgésicos; !!! Osteoartrose e Osteoartrite: A osteoartrose é uma doença degenerativa não inflamatória da articulação, que afeta principalmente os tecidos articulares e o osso subcondral. Já a osteoartrite é um processo inflamatório ativo, com dor presente; !!! Luxação e Subluxação: A luxação caracteriza-se pela posição anormal do côndilo em relação à cavidade glenóide. A subluxação é o deslocamento auto-redutível do côndilo mandibular anteriormente a iminência articular; OBS.: Para colocar o côndilo no local correto existem manobras → Manobra de Nelaton: Coloca-se os polegares – protegidos por gaze – na região de trígono retromolar e toca no ângulo mandibular com os outros dedos por fora, faz-se então um movimento para baixo e para trás. Isso deve ser feito com o paciente sentado e apoiado na parede. O paciente fica com uma contenção por 2-3 dias, para não correr o risco de luxar novamente. !!! Anquilose: Uma anquilose pode ser definida como sendo a fusão das superfícies articulares, seja por tecido ósseo ou fibroso. Existem tipos de anquilose → tipo I – adesão fibro-óssea leve e moderada – tipo II – ponte óssea do ramo até base de crânio – tipo III – polo medial de côndilo, envolve até arco zigomático – tipo IV – grande massa óssea; OBS.: O tratamento é por meio de remoção de osso anquilosado e colocação de prótese. • Classificação das DTMs Musculares !!! Dor Miofascial: É caracterizada pela presença de pontos de gatilho – pontos de máxima tensão desenvolvidos pela musculatura em situações de estresse – que podem causar dor local, dor referida; !!! Mioespasmo: Trata-se de uma desordem aguda caracterizada por uma série de contrações tônicas involuntárias e repentinas. Isso gera disfunção estrutural, dor em repouso, aumento da dor durante a função, sensibilidade dolorosa muscular local e enrijecimento muscular. Tratamento das DTMs • Tratamento Conservador - Vão desde a orientação até tratamentos ativos – fonoaudiologia, termoterapia – compressa morna melhora a vascularização, ajudando na chegada dos mediadores inflamatórios no local, e diminui a tensão muscular – acupuntura – existem pontos do corpo que estimulam certas coisas, como liberação de mediadores inflamatórios, eles não necessariamente são o ponto da dor, mas atuam lá – agulhamento a seco – vai agir exatamente no ponto da dor – tratamento psicológico, massoterapia; !!! Fisioterapia: Cinesiologia, laserterapia, ultrassom terapêutico – as ondas de calor aumentam a vascularização e geram relaxamento muscular; !!! Terapêutica: Anti-inflamatório, relaxante muscular, ansiolítico; !!! Placas Oclusais: Dispositivo removível que se ajusta sobre a superfície oclusal e incisal dos dentes, tornando a posição articular estável. Precisa ser confeccionada para o paciente e ajustada na sua arcada, o tratamento depende da cooperação do paciente, que deve seguir as ordens do seu dentista quanto ao uso da placa; • Tratamento Cirúrgico - Existem vários tipos → artrocentese – faz-se uma lavagem do compartimento superior da articulação com o uso de cânulas – artroscopia – o que a diferencia da artrocentese é a utilização do artroscópio, existindo dois tipos, a diagnóstica e a terapêutica – ancoragem do disco – é uma cirurgia aberta, onde reposiciona-se o disco e coloca-se âncoras para sustentar sua posição – discectomia – remoção do disco articular, utilizada quando o disco está perfurado, por exemplo, e posterior substituição, com cartilagem, gordura, etc. – condiloplastia – desgaste do côndilo, usada em pacientes com irregularidades no côndilo – condilotomia – remoção do côndilo – eminectomia – indicada, principalmente, em pacientes com histórico de luxação frequente, faz- se então a remoção da eminência.
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