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Oportunidade para os Portos

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Crise: Oportunidade para os Portos
A Crise dos anos 30 e a Necessidade de Investimento Público 
Urgente de forma Global
A grande depressão foi uma crise mundial ocorrida entre 1929 e 
1933, com efeitos económicos que duraram até aos anos quarenta, 
com especial incidência nos Estados Unidos e que marcou 
profundamente a teoria macroeconómica, obrigando a uma revisão 
geral das normas e das instituições de garantia do funcionamento da 
economia, levando à necessidade de uma maior intervenção e 
supervisão com vista a procurar evitar que voltasse a repetir-se.
A economia real terá começado a retrair-se primeiro com a quebra no 
consumo e na produção, encerramento de empresas e desemprego, 
seguida pelo mercado de capitais e pela falência de muitas 
instituições financeiras, fazendo desaparecer as poupanças das 
famílias, com repercussões na economia, num efeito de “bola de 
neve” que levou à queda substancial dos indicadores económicos.
Por outro lado, a massa monetária em circulação e depósitos 
bancários - M1 – reduziu-se, fruto dos levantamentos de depósitos e 
das consequentes falências de bancos em série, que levaram à 
destruição dos restantes depósitos.
Na altura, as teorias económicas apontavam apenas para a 
possibilidade de intervenção monetaristas simples, com a redução 
das taxas de juro, que se aproximaram de zero, sem que a economia 
iniciasse a recuperação esperada.
As acções normais que hoje esperamos de um banco central foram 
definidas depois da grande depressão, pelo que na altura os bancos 
centrais não tomaram, nos primeiros anos, as medidas necessárias 
para proteger o sistema financeiro e os bancos da falência, nem para 
repor a oferta de massa monetária. Por outro lado, o Estado não 
aumentou a despesa pública, nem desceu o nível fiscal.
Só a partir de 1933, se começou a sentir a lenta recuperação da 
economia, com a introdução de uma série de medidas inovadoras nos 
EUA, com destaque para as instituições centralizadoras do poder 
federal que surgiram com o “New Deal” de Franklin Roosevelt, de 
que se destacam a Social Security, a SEC - Securities and Exchange 
Comission e o FDIC - Federal Deposit Insurance Corporation. 
No fundo tomaram-se medidas de controlo sobre bancos e 
instituições financeiras, procedeu-se ao aumento dos gastos na 
construção de infra-estruturas públicas para gerar empregos e à 
criação do sistema de segurança social para evitar que as pessoas 
dependessem apenas dos seus aforros, na reforma e situações de 
necessidade temporária.
Nesta altura, surgiram diversas teorias económicas que procuravam 
explicar a crise, tendo as teorias keynesianas tido especial sucesso, 
não só na explicação dos mecanismos que levaram à crise, como 
também nas medidas que deviam ser tomadas, ao contrário das 
teorias anteriores que advogavam a não intervenção do Estado. 
Keynes influenciou a economia moderna até à actualidade.
De forma simples, pode-se dizer que o modelo keynesiano se baseia 
no facto de a variação do produto depender do consumo, dos gastos 
públicos, do investimento e das exportações e importações, pelo que 
as quebras que ocorreram no consumo, no investimento e nas trocas 
externas, e o não aumento na altura dos gastos e investimento 
públicos, levaram naturalmente à redução do produto, num ciclo 
vicioso. 
O aumento dos gastos e investimentos públicos poderia ter 
contribuído para inverter este ciclo logo de início, fazendo uso dos 
respectivos multiplicadores na economia, o que só veio a acontecer 
passados vários anos de depressão económica.
Em resumo, a falta de intervenção quer fiscal e orçamental, quer 
monetária, durante a grande depressão, tornou a crise mais severa e 
longa.
Global Green New Deal e os Portos
Foi neste contexto que a UNEP – United Nations Environment 
Programme lançou recentemente uma iniciativa verde global com 
vista a relançar a economia mundial através de investimentos 
massivos na mudança do modo de vida dos seres humanos em todo o 
mundo. 
Sabendo-se da teoria keynesiana que o tipo de crise que 
atravessamos deverá ser combatido em boa medida com 
investimentos massivos dos Estados de todo o mundo, uma vez que 
se trata de uma crise muito mais global que a dos anos 30, a UNEP 
lançou a proposta “Global Green New Deal” aos chefes de estado 
para que aproveitassem para gastar mais, mas de forma inteligente, 
investindo em projectos verdes, que venham a transformar os 
desempregados da crise em futuros empregados de sectores verdes.
Os cinco sectores que deverão permitir, segundo a UNEP, criar mais 
emprego e contribuir para o futuro sustentado do planeta são a 
energia limpa, a energia rural, renovável e biomassa, a agricultura 
orgânica, as infra-estruturas de ecosistema, a redução de emissões 
da desflorestação e as cidades sustentáveis, incluindo o transporte e 
a construção.
No fundo trata-se de aproveitar a oportunidade que surge da 
necessidade de investir, para refundar a economia de forma mais 
verde, levando os estados a investir em larga escala nos sectores e 
infra-estruturas verdes, por forma criar empregos nos países, mas 
trazer também uma melhoria significativa na qualidade de vida das 
pessoas, protegendo o planeta.
Esta iniciativa foi já abraçada por Obama e por Sarkosy, este último 
que lidera questão e criou o seu próprio "ecological new deal" para a 
França, estando a dar preferência aos investimentos verdes, nesta 
onde de investimento público cujas decisões está já a tomar.
A esta política francesa não é alheio o recente lançamento de 
iniciativas no âmbito das Auto-estradas do Mar com Portugal. 
Segundo fontes francesas, os portos e o transporte marítimo de curta 
distância são uma forte aposta do presidente francês no incremento 
de investimento público para combater a crise e criar emprego na 
actual conjuntura, havendo mesmo uma euforia com o futuro em 
torno destes sectores verdes de transporte de massa.
Em Portugal, este poderia também ser o momento para se apostar 
forte nos investimentos verdes infra-estruturais que os portos e o 
transporte ferroviário possuem em carteira, procurando incentivar o 
aumento da respectiva eficiência e interconexão, transferindo carga 
transportada da rodovia para o marítimo e ferroviário, reduzindo 
assim o consumo energético e as emissões do transporte de cada 
tonelada/km na Europa. 
A aposta pública nos portos em tempo de crise deveria ser pensada, 
até porque é sabido que por cada Euro investido nestas infra-
estruturas existe um efeito multiplicador na economia dezenas de 
vezes superior ao de outros investimentos públicos, como tem sido 
concluído por diversos estudos.