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PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NAS REGIÕES DO SERIDÓ E DO AGRESTE TRAIRI Carolina Todesco Paula Rejane Fernandes Organizadoras CULTURA, LAZER E EVENTOS 15 anos do Curso de Turismo UFRN/Campus Currais Novos PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NAS REGIÕES DO SERIDÓ E DO AGRESTE TRAIRI CULTURA, LAZER E EVENTOS 15 anos do Curso de Turismo UFRN/Campus Currais Novos Reitor José Daniel Diniz Melo Vice-Reitor Henio Ferreira de Miranda Diretoria Administrativa da EDUFRN Maria da Penha Casado Alves (Diretora) Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto) Bruno Francisco Xavier (Secretário) Conselho Editorial Secretária de Educação a Distância Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Secretária Adjunta de Educação a Distância Ione Rodrigues Diniz Morais Coordenadora de Produção de Materiais Didáticos Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Coordenadora de Revisão Aline Pinho Dias Coordenador Editorial Kaline Sampaio Gestão do Fluxo de Revisão Edineide Marques Gestão do Fluxo de Editoração Rosilene Paiva Conselho Técnico-Cientí�co – SEDIS Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo – SEDIS (Presidente) Aline de Pinho Dias – SEDIS André Morais Gurgel – CCSA Antônio de Pádua dos Santos – CS Célia Maria de Araújo – SEDIS Eugênia Maria Dantas – CCHLA Ione Rodrigues Diniz Morais – SEDIS Isabel Dillmann Nunes – IMD Ivan Max Freire de Lacerda – EAJ Je�erson Fernandes Alves – SEDIS José Querginaldo Bezerra – CCET Lilian Giotto Zaros – CB Marcos Aurélio Felipe – SEDIS Maria Cristina Leandro de Paiva – CE Maria da Penha Casado Alves – SEDIS Nedja Suely Fernandes – CCET Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim – SEDIS Sulemi Fabiano Campos – CCHLA Wicli�e de Andrade Costa – CCHLA Revisão de Língua Portuguesa Anchella Monte Fernandes Ribeiro Dantas Revisão de ABNT Verônica Maria Souza Campos Revisão Tipográ�ca Ilana Lamas Capa Fotos: Carolina Todesco Diagramação Nathália Nóbrega Anderson Gomes do Nascimento Maria da Penha Casado Alves (Presidente) Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária) Adriana Rosa Carvalho Alexandro Teixeira Gomes Elaine Cristina Gavioli Everton Rodrigues Barbosa Fabrício Germano Alves Francisco Wildson Confessor Gilberto Corso Gleydson Pinheiro Albano Gustavo Zampier dos Santos Lima Izabel Souza do Nascimento Josenildo Soares Bezerra Ligia Rejane Siqueira Garcia Lucélio Dantas de Aquino Marcelo de Sousa da Silva Márcia Maria de Cruz Castro Márcio Dias Pereira Martin Pablo Cammarota Nereida Soares Martins Roberval Edson Pinheiro de Lima Tatyana Mabel Nobre Barbosa Tercia Maria Souza de Moura Marques Miolo_Sarada_A.indd 2 06/12/2021 10:15 Carolina Todesco Paula Rejane Fernandes Organizadoras Natal, 2022 PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NAS REGIÕES DO SERIDÓ E DO AGRESTE TRAIRI CULTURA, LAZER E EVENTOS 15 anos do Curso de Turismo UFRN/Campus Currais Novos Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br Telefone: 84 3342 2221 Catalogação da publicação na fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte Secretaria de Educação a Distância Elaborada por Edineide da Silva Marques CRB-15/488. Fundada em 1962, a EDUFRN permanece dedicada à sua principal missão: produzir livros com qualidade editorial, a fim de promover o conhecimento gerado na Universidade, além de divulgar expressões culturais do Rio Grande do Norte. Publicação digital financiada com recursos do Fundo de Pós-graduação (PPg-UFRN). A seleção da obra foi realizada pela Comissão de Pós-graduação, com decisão homologada pelo Conselho Editorial da EDUFRN, conforme Edital nº 2/2019-PPG/EDUFRN/SEDIS, para a linha editorial Técnico-científica. Sumário APRESENTAÇÃO PREFÁCIO PARTE I – GESTÃO DE TURISMO E POLÍTICAS PÚBLICAS Criação e Reconfiguração do polo de turismo do Seridó Josefa Lidiane dos Santos Ferreira - Carolina Todesco Patrimônio material do município de Acari: uma perspectiva para o incremento do turismo cultural Girlene Edson de Oliveira Amaro - Edneide Maria Pinheiro Galvão Turismo e patrimônio material: prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no município de Acari Tamara Emília da Silva Medeiros - Paula Rejane Fernandes Propostas de roteiros turísticos culturais para o município de Caicó Mônica Azevedo de Medeiros - Carolina Todesco 10 15 18 19 44 72 107 As possibilidades e entraves do turismo arqueológico: um estudo de caso no Sítio Olho d’Água, município de Cruzeta Francineide Araújo - Wilker Ricardo de Mendonça Nóbrega Os usos do patrimônio cultural material arquitetônico de Currais Novos como atrativo turístico Júlio César da Silva Dantas Araújo - Lourival Andrade Júnior Aula de campo como método de valorização patrimonial: um estudo de caso Diana Rayssa dos Santos - Mabel Simone Guardia O turismo pedagógico como instrumento do processo de ensino-aprendizagem: o caso da Escola Estadual Tristão de Barros Danielson da Silva Oliveira - Carolina Todesco Uma análise comparativa do turismo pedagógico em escolas públicas e privadas do município de Currais Novos Juliana Gomes de Oliveira - Carolina Todesco Turismo pedagógico no Geoparque Seridó: contribuições e desafios Arthur Moser Silva Santos - Carolina Todesco A percepção dos alunos de ensino médio em relação ao curso de Turismo da UFRN – campus Currais Novos Judson Daniel Januário da Silva - Josemery Araújo Alves 144 179 197 222 257 288 329 Lazer e terceira idade: estudo sobre a atuação dos grupos de convívio no Seridó Luana Dayse de Oliveira Ferreira - Marcelo Chiarelli Milito Lazer e terceira idade: um estudo acerca dos espaços e equipamentos públicos de lazer do município de Parelhas Itamara Lúcia da Fonseca - Wilker Ricardo de Mendonça Nóbrega Apropriação e uso dos espaços públicos para o lazer da população curraisnovense Renata Laís Ferreira de Santana - Josemery Araújo Alves A percepção do público da terceira idade quanto aos equipamentos e atividades de lazer em Currais Novos Rusimara Dayane da Silva - Fernanda Raphaela Alves Dantas Lazer na brinquedoteca hospitalar: um estudo acerca da contribuição das atividades lúdicas na recuperação da criança Wilma Kalliane Soares de Medeiros - Josemery Araújo Alves Os impactos dos eventos no Polo Agreste Trairi: a percepção dos gestores públicos Bruna Emanuelly Pinheiro e Silva - Fernanda Raphaela Alves Dantas PARTE II – LAZER E EVENTOS 354 355 384 409 438 470 500 Turismo de eventos: uma análise do planejamento do evento Forronovos na cidade de Currais Novos Juliana Guedes da Silva - Josemery Araújo Alves Qualidade dos serviços turísticos em evento: um estudo da influência dos serviços prestados durante o Cactus Moto Fest na cidade de Currais Novos Antônio de Pádua Pereira Alves - Josemery Araújo Alves 533 558 APRESENTAÇÃO Carolina Todesco1 Paula Rejane Fernandes2 O Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Campus Currais Novos, completa 15 anos em 2021. O Curso foi aprovado na 7ª Sessão Extraordinária do Conselho de Pesquisa, Ensino e Extensão da UFRN, em 30 de maio de 2006, e iniciou suas atividades em janeiro de 2007. À época de sua criação, o Plano Nacional de Turismo do Governo Federal visava, dentre outros objetivos, estruturar os destinos, diversificar a oferta turística e qualificar o produto turístico nacional. A formação de profissionais na área do turismo era considerada uma estratégia de suma importância para o êxito desses objetivos, devida à necessidade de elevar a qualidade de serviços e empreendimentos de apoio à atividade, de fortalecer o planejamento e a gestão pública do turismo no Brasil, como também de produzir conhecimento crítico e abrangentesobre o fenômeno do turismo e suas implicações socioespaciais. Nesse contexto, o Curso de Bacharelado em Turismo corrobora com os objetivos de uma política nacional de turismo, com um desempenho guiado pelos compromissos éticos e 1 Professora da Faculdade de Engenharia, Letras e Ciências Sociais do Seridó – FELCS/UFRN, Coordenadora do Curso de Turismo CERES/UFRN de 2015 a 2019. 2 Professora do Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/UFRN, Vice- Coordenadora do Curso de Turismo CERES/UFRN de 2015 a 2019. 11 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Apresentação sociais definidos em seu Projeto Pedagógico (2015), dentre os quais podemos destacar: [1] Promover uma formação humanística, crítica e criativa do discente, para que o mesmo seja capaz de se inserir no mercado de trabalho e ter um desempenho diferenciado, com responsabilidade social e ambiental. [2] Contribuir para a produção do conhecimento na área do turismo, por meio de uma reflexão crítica e permanente sobre a prática social e a atividade econômica do turismo, considerando seus aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos e ambientais. [3] Promover pesquisas de interesse do estado do Rio Grande do Norte, especialmente da região do Seridó e do Agreste Trairi, em prol de um desenvolvimento turístico socialmente mais justo, economicamente viável e ambientalmente sustentável. [4] Garantir a acessibilidade social do conhecimento produzido pelas pesquisas e produção acadêmica dos docentes e discentes do curso. [5] Fortalecer a relação entre a comunidade acadêmica e a sociedade, por meio de ações de caráter científico, cultural, educativo e artístico, que intervenham na realidade social das comunidades, em atendimento aos seus anseios, ao mesmo tempo em que possibilitam e nutrem o intercâmbio de ideias, saberes e conhecimento (UFRN, 2015, p. 16)3. O Curso de Bacharelado em Turismo, no campus de Currais Novos da UFRN, cumpre, portanto, um papel relevante na formação de profissionais para atuarem no setor, no desen- volvimento de pesquisas em turismo e no fortalecimento do turismo no interior do estado do Rio Grande do Norte. 3 Universidade federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ensino Superior do Seridó. Projeto Pedagógico do Curso de Turismo. Currais Novos: UFRN, 2015. 12 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Apresentação Nesses quinze anos de atuação, o Curso formou cerca de 200 bacharéis em Turismo. Além disso, produziu e executou uma série de projetos de ensino, pesquisa e extensão que tiveram como alvo, sobretudo, os municípios do interior do estado do Rio Grande do Norte que compõem as regiões do Seridó Potiguar e do Agreste Trairi. A ideia de organizar o presente livro surgiu em 2017, em reunião do colegiado do Curso, com os seguintes objetivos: dar visibilidade, promover, valorizar e garantir a socialização da produção acadêmica resultante das pesquisas do corpo discente e docente; reunir o acúmulo de conhecimento produzido sobre turismo nas regiões do Seridó e Agreste Trairi ao longo dos anos; e prestigiar os egressos do Curso e os professores que fizeram e fazem parte da história do Curso de Turismo UFRN, Campus Currais Novos. Dessa maneira, selecionamos os trabalhos de conclusão de curso (TCC) que obtiveram média final elevada. Os egressos, autores dos TCCs selecionados, e os professores orientadores, foram convidados a encaminhar um artigo síntese da pesquisa, o que resultou num total de 42 artigos. Cabe ressaltar que alguns deles já foram publicados em outros meios de comunicação. Sendo assim, a obra se constitui numa coletânea de artigos originais e de outros já publicados, frutos dos TCCs defendidos com expressivo êxito. Aqueles que tiverem interesse em acessar os trabalhos completos, estão disponíveis na Biblioteca Setorial de Currais Novos e na página da Biblioteca Digital de Monografias da UFRN(monografias.ufrn.br). Para a organização do livro, por uma questão de coerência, os artigos foram agrupados em quatro grandes temas: 1. Gestão do Turismo e Políticas Públicas; 2. Turismo e Meio Ambiente; 3. Turismo e Cultura; 4. Lazer e Eventos. Dessa forma, a obra foi 13 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Apresentação dividida em dois títulos: 1. Planejamento e desenvolvimento do turismo nas regiões do Seridó e do Agreste Trairi: política e meio ambiente; 2. Planejamento e desenvolvimento do turismo nas regiões do Seridó e do Agreste Trairi: cultura, lazer e eventos. A primeira parte deste livro, Turismo e Cultura, traz ao total 11 artigos que abordam sobre turismo cultural, patrimônio histórico-cultural, propostas de roteiros turísticos culturais, turismo arqueológico e turismo pedagógico. Os temas foram tratados com estudos de caso nos municípios de Florânia, Acari, Caicó, Cruzeta e Currais Novos. A segunda parte, Lazer e Eventos, é composta por 8 artigos, sendo que 5 tratam sobre a importância do lazer, lazer na terceira idade, espaços e equipamentos públicos de lazer. Os artigos sobre lazer se debruçam sobre o Polo Seridó e os municípios de Parelhas e Currais Novos. Os 3 artigos finais trazem estudos sobre os impactos dos eventos no Polo Agreste Trairi, e sobre os eventos Forronovos e Cacto Moto Fest, realizados em Currais Novos. Acreditamos que o conjunto da obra demonstra a rele- vância do Curso de Turismo da UFRN, Campus Currais Novos, para o planejamento e o desenvolvimento do turismo nas regiões do Seridó e do Agreste Trairi. Por conseguinte, esta obra se destina aos gestores públicos municipais e estaduais do turismo, aos empreendedores e profissionais do setor e aos estudantes da área. Para nós, esta publicação também vem num momento oportuno, pois em tempos em que o obscurantismo, a negação da Ciência e o ataque às universidades públicas estão em voga, é preciso empreender esforços para que o conhecimento acadê- mico produzido intramuros, na universidade, seja divulgado, compartilhado e acessado pela sociedade em geral. 14 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Apresentação Por fim, gostaríamos de agradecer de forma muito especial a todos os egressos e autores dos trabalhos aqui apre- sentados e aos professores que contribuíram e viabilizaram a produção deste livro! Muito obrigada! Parabéns aos 15 anos do Curso de Turismo da UFRN, Campus Currais Novos!! PREFÁCIO Kerlei Eniele Sonaglio1 Estudos sobre o turismo relacionados com a gestão, o ambiente e as políticas públicas são, frequentemente, encontrados em diversas publicações da área. Entretanto, constata-se que as pesquisas relacionadas aos fatores influenciadores na qualidade do turismo regional, sobretudo do interior do Brasil, raramente espelham as “realidades” contadas por protagonistas locais. A tônica desta obra, que reúne textos sobre o interior potiguar, é descrita por estudantes moradores da região e que concluíram o curso de graduação em Turismo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus Currais Novos, com êxito e louvor. Eu tive a honra e a oportunidade de lecionar para esses pesquisadores sagazes e dedicados, que nos brindam com as dissensões e similitudes do turismo regional tratadas na obra e convidam o leitor a refletir acerca dos efeitos do fenômeno do turismo sobre os seres humanos e as estruturas locais, bem como as suas implicações no ambiente, na economia e na qualidade de vida de residentes e turistas. O enfoque do conjunto da obra nos conduz à percepção sutil e distinta das consequências da repercussão de um turismo à revelia de planejamento e gestão, principalmente em espaços 1 Professora do Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade de Brasília e da Pós-Graduação em Turismo da UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte 16 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Prefácio tão singulares e carentes de estruturação e empenho público, com vistas ao desenvolvimento turístico local. Os estudos sobre a oferta e demanda turística, inven- tariação, roteirização, sinalização, gestão pública do turismo, promoção de destino, impactos ambientais, gestão e educação ambiental estão presentes nesta publicação. A eficiente análise e as reflexões oferecidas pelos autores foram realizadas e esque- matizadas metodologicamente, na intenção de nos permitir a visualização dos fatores que influenciam o advento do turismo no Seridó e Agreste potiguar. No Brasil, poucos são os profissionais que mergulham no estudo cuidadoso, sistêmico e interdisciplinar de temáticas subjetivas relacionadas ao turismo em ambientes do semiárido brasileiro. Tais estudos, por sua natureza peculiar, revelam a necessidade de se desenvolver “pesquisas em campo” sob o olhar habilidoso e crítico do pesquisador-observador imerso na realidade a qual investiga. Os artigos que compõem os volumes deste trabalho expressam a desenvoltura pela qual seus autores percorreram os caminhos e descaminhos da esplêndida caatinga para desvelar suas nuances e particularidades que, por certo, exigirá resiliência para o desenvolvimento de um turismo sustentável. E o turismo, em tempos de crises, exige resiliência! Conhecer as pressões ambientais, políticas e sociais pode permitir que a engrenagem turística no interior potiguar se organize de maneira que enfrente, responda, adapte-se e supere as adversidades locais. Por isso, esta obra representa um impor- tante diagnóstico regional que pode auxiliar na identificação de potencialidades e também na percepção das dificuldades que podem comprometer ou amplificar a saúde do turismo local. 17 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Prefácio Certamente, penetrar na crítica a respeito da miríade de aspectos que influenciam o movimento turístico no interior do Brasil revela-se premente e oportuno, visto que as soluções amparadas em pavimentos científicos geralmente sinalizam desdobramentos mais seguros. Em tempos nos quais parte da humanidade ainda nega a ciência, direcionar o olhar ao domínio e competência do setor acadêmico do turismo nos faz compreender as engenhosas relações que conformam o turismo frente aos desafios impostos pela escala local e planetária. O conhecimento científico proporciona o uso apropriado de métodos e técnicas de pesquisa que podem resultar no apontamento de sólidas respostas às impactações e abalos no sistema turístico! Eis a essência do que esta obra nos sensibiliza a perceber e nos convida a refletir sobre o turismo no interior do Rio Grande do Norte! PARTE I TURISMO E CULTURA DE FLORES E DE PEDRA: IDENTIFICAÇÃO E POSSIBILIDADE DO USO TURÍSTICO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA CIDADE DE FLORÂNIA Wellington Alysson de Araújo Jeferson Cândido Alves Florânia está localizada na região do Seridó, no estado do Rio Grande do Norte, a palavra “flores” está ligada à história da cidade, pois indica o antigo nome que foi dado às terras que hoje pertencem à Florânia, pelo fato de ser encontrada, na época, considerável quantidade de flores de bugi. Já a palavra “pedras” representa a parte concreta/material, que seriam, no caso, as edificações e o centro urbano. Para o entendimento do universo do estudo, recorreu-se às pesquisas realizadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em que foi possível identificar que o patrimônio histórico é dividido entre os bens de natu- reza imaterial e material, sendo este último tomado como foco. Uma das principais pretensões foi fazer um levantamento e análise das casas, prédios e monumentos históricos, a fim de classificá-los como possíveis candidatos à utilização como recurso turístico. Para nortear o desenvolvimento do trabalho, foram delimitados os seguintes objetivos específicos: a) identificar o patrimônio histórico material da cidade de Florânia, realizando um levantamento por meio de inventariação; b) averiguar o estado de conservação das casas, dos prédios, das igrejas, 20 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves das capelas e dos monumentos, pois torna-se relevante que esses bens possam estar em adequado grau de conservação para que a memória da localidade seja mantida; c) sugerir a possibilidade de incremento do patrimônio material da cidade de Florânia na prática turística local. Diante da identificação das pretensões que norteiam este estudo, surge a seguinte problemática: a cidade de Florânia/ RN dispõe de patrimônio histórico material que tenha a potencialidade para ser incluído na atividade turística local? Para responder este questionamento, surgiram duas hipóteses: 1ª) Sim, a cidade dispõe de estimado patrimônio histórico mate- rial; 2ª) Não, a localidade não possui edificações e conjuntos urbanos de valor histórico suficiente para servirem como atrativos turísticos. Metodologia Para ser possível buscar as respostas que atendessem, ou não, às hipóteses levantadas nesse estudo, realizou-se, como procedimento metodológico inicial, uma investigação de caráter bibliográfico, objetivando um maior entendimento da temática proposta, bem como a compreensão referente às correntes teóricas da área turística, em especial acerca do patrimônio histórico. Dessa forma, a pesquisa bibliográfica é feita com base em docu- mentos já elaborados, tais como livros, dicionários, enciclopédias, periódicos, como jornais e revistas, além de publicações, como comunicação e artigos científicos, resenhas e ensaios críticos (SANTOS, 2012, p. 191) 21 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves Esse tipo de pesquisa é importante para se ter um adequado embasamento teórico capaz de dialogar com os resultados encontrados. Além da investigação bibliográfica, utilizou-se o site de busca Google para a realização de pesquisas, a fim de realizar consultas sobre o número de habitantes do município de Florânia (conforme dados do IBGE, 2010) e de estudos acerca de patrimônio histórico (IPHAN, 2014). Conforme Andrade (2001, p. 45), um site de busca equivale, no mundo real, a um fichário ou catálogo no qual se encontra a localização da infor- mação buscada, mas o buscador em si não contém nenhuma informação além dos endereços. Esse tipo de recurso é importante pelo fato de otimizar o tempo de pesquisa e ser possível ter um amplo acesso às fontes desejadas. O método de pesquisa adotado é o exploratório, tendo como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores (GIL, 2008, p. 27). Com isso, torna-se possível chegar às respostas que embasam as indagações deste estudo, pois o contexto do patri- mônio histórico material de Florânia foi explorado. A partir da necessidade da interpretação da realidade do objeto de estudo, este trabalho é classificado como uma pesquisa de caráter qualitativo, em que 22 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alvesconcebem-se análises mais aprofundadas em relação ao fenômeno que está sendo estudado. A abordagem qualitativa visa destacar características não observadas por meio de um estudo quantitativo, haja vista a super- ficialidade deste último (BEUREN; RAUPP, 2003, p. 92). A abordagem busca qualificar o objeto de estudo, de forma que as informações coletadas possam ser interpretadas, tirando as devidas conclusões pertinentes. Também esta pesquisa tem uma finalidade quantitativa, uma vez que “a abordagem quantitativa se caracteriza pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta quanto tratamento dos dados [...]” (BEUREN; RAUPP, 2003, p. 92). Essa natureza de pesquisa aplica-se para identificar de quantos bens materiais históricos Florânia dispõe, além de apresentar como porcentagem o número de edificações classificadas como estado de conservação ótimo ou regular. Realizou-se uma pesquisa de campo, sendo aplicada a técnica de entrevista oral com historiadores de Florânia, proprietários dos imóveis e residentes que pudessem contribuir com o estudo. Mediante isso, elaborou-se um modelo de ficha de inventariação do patrimônio histórico material de Florânia. Conforme as finalidades traçadas e a metodologia empregada, a realização deste trabalho torna-se relevante pela existência de poucos estudos que abordam o patrimônio histórico material da cidade de Florânia. Além disso, em 2013, Florânia/RN foi incluída no Roteiro Seridó, o que aumenta a importância da realização de estudos que possam contribuir para o entendimento da realidade turística do destino. 23 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves As Flores do Sertão A cidade de Florânia surge, como a maioria das cidades existentes no Seridó norte-rio-grandense, a partir da comple- xificação da vida nas tímidas manchas urbanas que brotavam entre os currais de gado e as fazendas produtoras das plumas do algodão. Com 8.959 habitantes (IBGE, 2010), Florânia mostra-se como uma cidade de considerável valor histórico, cujos fatos que marcaram a vivência dos habitantes ainda podem ser identificados nos dias atuais. Antes do decreto provincial de 20 de outubro de 1890, o território 4, que hoje pertence à Florânia, fazia parte de Acari, porém houve o desmembramento. A toponímia da cidade passou por diversas modificações ao longo dos anos, pode-se identificar que até o ano de 1943, Florânia era denominada “Flores”, nome este inspirado pela expressiva quantidade de flores chamadas “Rainha do Prado” (Aristida Pallens), espécie de bugi que havia na região (GONÇALVES, 2006, p. 01). Tal informação, em relação às flores, também pode ser coletada nos livros de Câmara Cascudo (1968) e Manoel Dantas (1941). Porém o nome “Flores” teve que ser modificado para a atual nomenclatura devido à existência de outra cidade, no estado de Pernambuco, com a mesma denominação, algo que não era permitido na época. A pecuária constituiu o mote para o povoamento - pela empresa portuguesa, na colonização - do espaço hoje ocupado pela cidade, não sendo estranho que o primeiro povoador branco fosse um português, do Porto, chamado Cosme de Abreu Maciel, o qual requereu e explorou as terras que foram consideradas as primeiras sesmarias da região (GONÇALVES, 2006, p. 2). Com o decorrer do tempo, Athanasio Fernandes – filho primogênito de Cosme de Abreu Maciel – gerou uma volumosa 24 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves família, que ficou conhecida como os “Tripeiros” (a origem da alcunha de tripeiros surgiu na cidade do Porto, Portugal, por volta do século XIII - informação coletada por meio de entrevista realizada com Galdino Júnior em 2014). Além dos descendentes de Cosme de Abreu Maciel, outros indivíduos contribuíram de forma relevante para a construção da história de Florânia. Um deles foi o Cônego Estanislau Piechel, nascido em 16 de fevereiro de 1909, na Polônia. Em outubro de 1938 veio para o Brasil, inicialmente morando em Natal e em seguida tornando-se sacerdote, servindo à diocese de Caicó, e Florânia estava entre as cidades em que exerceu as suas atividades paroquiais (TAVARES, 2005, p. 16). Considerado também como uma das pessoas mais relevantes para a construção histórica de Florânia, Padre José Dantas Cortês (1934 - 2001), que foi Deputado Estadual, tornou-se uma figura marcante na defesa dos interesses religiosos do município, principalmente pela batalha em prol da valorização do Monte das Graças (GONÇALVES, 2006, p. 4). Padre Cortês realizou diversas obras, entre elas estão a cons- trução do Centro de Estudo Reflexão, o calçamento da estrada do Santuário das Graças e a Igreja do Santíssimo Sacramento (CORTÊZ, 2005, p. 19). Outro indivíduo de acentuado renome no município foi o Padre Sinval Laurentino. Nascido em Florânia no dia 21 de abril de 1922, tornou-se padre em 29 de junho de 1946. Suas atividades religiosas foram praticadas em sua terra natal, sendo sacerdote de paróquias no Rio Grande do Norte e na Bahia (GONÇALVES, 2006, p. 4). No que diz respeito aos aspectos culturais, é notório que eles são de considerável relevância como uma forma de revita- lizar fatos históricos e os costumes, que são passados de geração 25 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves em geração. A cultura tem esse papel de lapidar as expressões populares adquiridas pelas experiências no passado, fazendo-as aflorar de tal forma que possam ser interpretadas, visibilizadas, significadas, analisadas e sentidas através das relações sociais que se dão no cotidiano. Conforme Matta (2012, p. 3), “no sentido antropológico, portanto, a cultura é um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e deve ser classificado”. Pode-se afirmar que cada localidade pode ter uma maneira diferenciada de estabelecer normas que regem o padrão social e instituem as formas pelas quais a sociedade constrói seu imaginário. Ora, em Florânia, como espaço onde o homem criou os seus signos, podem ser colhidos os marcadores culturais que identificam se o sujeito está naquela cidade ou em outra. Essas marcas podem, sim, ser visualizadas no patrimônio material das casas e dos monumentos, mas também nos aspectos intocá- veis, como as práticas que não encontram outro motivo que não seja a cultura para continuarem existindo, como as vaquejadas, as crenças religiosas e as feiras livres. Por exemplo, sobre a feira livre, a autora Guimarães (2010, p. 5) advoga que, embora seja um evento de caráter comercial, a feira livre de hortifrutigranjeiros possui características revitalizadoras e reforçadoras da cultura popular. Ainda assim, ela enfrenta diversos riscos na contem- poraneidade [...]. Esses riscos são apresentados na forma da competição mediante os supermercados e o próprio abandono da vida mercantil dos sujeitos que antes tiravam seu sustento da feira. 26 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves Entretanto, essas questões não minoram a importância socio- cultural que a feira detém nas trocas cotidianas. A feira, como componente de cultura, podeser utilizada pela demanda turística, em que o visitante terá a oportunidade de conhecer as manifestações e os traços predominantes da cultura floraniense apresentada nos transeuntes que vivem e praticam a feira (MEDEIROS, 2014). Além disso, Florânia dispõe de eventos locais que atraem turistas das cidades circunvizinhas, de forma a contribuir para a renda e para o fortalecimento da identidade local. Os eventos são: Festa de São Sebastião (em janeiro), carnaval (em fevereiro), vaquejada do Parque Inácio Azevedo (em abril), Rosa de Maio, Luar de Agosto, vaquejada do Parque Venâncio Toscano (em setembro), festa de emancipação política (em outubro) e festa de Nossa Senhora das Graças (em novembro). Vale mencionar, de forma breve, duas histórias que marcaram o imaginário popular. A primeira consiste no caso da “Santa Menina”, cuja devoção se instaura no ano de 1947, quando é encontrado o corpo de uma menina, iniciando aí um culto popular (MEDEIROS FILHO, 2002, p. 18). A criança, entre seis e sete anos de idade, foi encontrada vestida com blusa azul e saia rosa, próxima a um tronco de uma umburana, em cima de um “serrote” (SOUZA, 1999, p. 53). Desse modo, a partir do ocorrido, iniciou-se a construção de um santuário para os votos de fé. A segunda história a ser mencionada é a que ocorreu em meio aos campos floridos quando estes foram manchados de sangue, tendo como personagem principal um homem chamado Zé Leão. A memória coletiva guarda que ele foi um rico fazen- deiro local que viveu no século XIX, sendo um jovem caridoso e que possuía muitas terras. Assim, a sanha de outras pessoas poderosas da cidade foi despertada. O intuito era comprar as 27 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves propriedades de Zé Leão, porém ele não queria vendê-las e acabou sendo perseguido por bandidos, morto e queimado em uma fogueira, no ano de 1887 (SOUZA, 1999, p. 22). Resultados e Discussão Como resultado a ser apresentado, está a identificação do patrimônio histórico material da cidade de Florânia. Para a realização desta pesquisa, considera-se como patrimônio histórico “de cal e pedra” todo bem material imóvel que possui relevância histórica e cultural. O patrimônio material imóvel apresenta-se como bens estáticos, como, por exemplo, prédios, casas e monumentos (IPHAN, 2014). Por isso, em algumas ocasiões neste trabalho, emprega-se o termo “de cal e pedra” para designar as cons- truções feitas pelo homem com materiais tais como cimento, areia, cal e pedra. Procurou-se inventariar as principais edificações da cidade por meio da aplicação de ficha de inventariação, sendo identificada uma significativa quantidade de imóveis que possuem valor histórico-cultural e que podem ser utilizados na prática turística. Optou-se em apresentar apenas alguns imóveis registrados e apreciados no inventário. As edificações são descritas e é realizada uma análise geral, separadamente, objetivando fazer um balanço das características arquitetônicas observadas durante o inventário desta pesquisa. O primeiro imóvel identificado foi construído aproxima- damente no final do século XIX (segundo relatos de moradores locais), situando-se na Rua Alberto Gomes, número 222. O antigo proprietário do prédio era o senhor Joaquim e atualmente 28 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves pertence a Gesia Maria da Silva, filha do antigo proprietário, servindo-lhe como moradia. Figura 1 – Imóvel I Fonte: Wellington Alysson de Araújo (2014). O imóvel (Figura 1) tinha a antiga função de casa de divertimentos noturnos, cujo dono era o senhor João Silva, e também foi uma mercearia. Atualmente, encontra-se em estado de conservação regular, com problemas superficiais de pintura e na estrutura original. O prédio dispõe de um pavimento térreo, cujas paredes são construídas de tijolos com reboco; o piso é feito de cimento e tijolo. A estrutura original do imóvel foi alterada, e os lugares das portas foram modificados. Além disso, a cobertura do telhado (duas águas), feita de madeira e telhas, foi transformada devido à retirada do sótão. Também se destaca que, de acordo com moradores da cidade de Florânia, a construção possui influência de holandeses. 29 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves Um segundo imóvel inventariado (Figura 2) localiza-se na Rua Coronel Silvino Bezerra, número 122, centro. Sua construção é atribuída a João Redondo, filho de João Toscano de Medeiros (Joca Toscano). O local serviu como residência de prefeitos, secretaria de educação, casa de café e casa de jogo. A estrutura foi construída no final do século XIX e início do século XX. Figura 2 – Imóvel II Fonte: Wellington Alysson de Araújo (2014). No período no qual as primeiras casas foram construídas em Florânia, a elite, que tinha um poder aquisitivo maior, procu- rava possuir imóveis no centro da cidade como um marcador social, por ser mais valorizada a localização. Na atualidade, o prédio pertence ao Governo do Estado e encontra-se em ótimo estado de conservação. No entanto, vale ressaltar que a estrutura original foi alterada. O pavimento do imóvel é térreo, tendo paredes feitas de tijolos com revestimento de reboco (na parte principal da estrutura física) e azulejo (na parte do auditório); e, além do mais, o piso foi construído com ladrilho. Assim igualmente à 30 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves grande maioria das casas antigas que persistem na cidade de Florânia, o teto é coberto com madeira e telha, cuja divisão da cobertura se define por duas águas. Em relação à função antiga do imóvel, segundo relato dos moradores de Florânia, no espaço funcionou a Prefeitura Municipal e na atualidade funciona a Casa de Cultura Popular Cônego Estanislau Piechel, inaugurada em junho do ano de 2006 pelo então prefeito Flávio José de Oliveira Silva. Na Casa da Cultura podem ser encontrados objetos que representam parte da história de Florânia, como, por exemplo, os utensílios e as ferramentas agrícolas (ver Figuras 3 e 4) que marcaram a época em que o campo tinha maior expressividade, tanto em número proporcional de habitantes – em comparação à zona urbana – quanto em termos de produção de culturas como o milho e o algodão (ARAÚJO, 2003). Figura 3 – Ferramentas agrícolas Fonte: Wellington Alysson de Araújo (2014). 31 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves Figura 4 – Utensílios agrícolas Fonte: Wellington Alysson de Araújo (2014). É importante ressaltar que a Casa da Cultura tem, praticamente, o papel de um museu, pois busca manter viva a lembrança dos tempos da produção agrícola para que as gerações futuras possam entender como se deu a vivência do homem do campo. Mesmo o referido imóvel não sendo classifi- cado como museu, logo vem a ideia de conservação da história local representadapor meio dos objetos e utensílios que são guardados até a atualidade. Segundo Amaral (2006, p. 56): [...] o museu torna-se um espaço dedicado à cidadania. Perceber que as diferentes histórias coletivas criam uma teia de significados no diálogo com o tempo, que criam e recriam o mundo, que oferecem projeções de 32 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves futuro e sentidos àquela comunidade é uma das razões do sucesso do museu como instituição: no reforço do diálogo crítico e reflexivo com a sociedade ou com a comunidade que o cerca e o inclui. De acordo com a abordagem do autor, a história coletiva proporciona às pessoas que vivem num lugar uma determinada realidade, opções para compreenderem os fatos que marcaram o passado de uma comunidade, projetando expectativas de futuro dotadas de significados. Partindo dessa premissa, o museu e/ ou casa de cultura fortalece(m) a valorização do diálogo com o tempo expresso na sociedade. A terceira edificação a ser apresentada localiza-se na Rua Teônia Amaral, número 290, cuja construção é datada do ano de 1927. Na época, o imóvel foi construído na administração do então prefeito Inácio Toscano (GONÇALVES, 2006, p. 8). O imóvel já serviu como escola e hoje é a sede da Prefeitura de Florânia (Figura 5). No final de setembro de 2014, a parte externa foi submetida a um procedimento de pintura, buscando trazer as características originais de quando havia sido construída. Figura 5 – Prefeitura de Florânia Fonte: Wellington Alysson de Araújo (2014). 33 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves O prédio encontra-se em ótimo estado de conservação, considerando que o interior da estrutura também se apresenta em condições satisfatórias de manutenção. A parte física pouco foi alterada, o pavimento ainda permanece térreo. As paredes são de tijolos com revestimento de reboco; parte do piso compõe-se de madeira e a cobertura é dividida em quatro águas formada por madeira e telhas. No que diz respeito às edificações religiosas de valor histórico em Florânia, apresenta-se o Santuário do Monte de Nossa Senhora das Graças (ver Figura 6), localizado no Monte das Graças, fora do perímetro urbano. Embora o Santuário não esteja localizado na cidade, julgou-se oportuno incluí-lo no inventário pela sua relevância histórico-cultural e social, revelando um acentuado potencial para o turismo. Figura 6 – Santuário. Fonte: Wellington Alysson de Araújo (2014). A história do Santuário começa a partir do momento em que é encontrado o corpo de uma menina “santa” em cima do Monte. Posteriormente ao acorrido, foi sugerido por 34 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves frades pregadores, que realizaram uma procissão até o alto do Monte, em 1947, a construção de uma capela. Devido à sugestão, a capela começou a ser erguida no ano de 1948, e a primeira missa foi celebrada pelo então pároco Cônego Ambrósio Silva (MEDEIROS FILHO, 2002, p. 20). Para se transformar em Santuário, a estrutura teve que ser submetida a alterações e adaptações na construção. Encontra-se em ótimo estado de conservação e a divisória das águas se classifica em duas, cuja cobertura é forrada com madeira. As paredes são compostas por tijolos com revesti- mento de reboco. Nos meses de novembro é realizada a festa de Nossa Senhora das Graças, assumindo não apenas uma importância religiosa, mas também turística, pois em dias de evento é possível observar o fluxo de turistas que vêm prestigiar os festejos. Além de casas e edificações religiosas, apresenta-se o monu- mento inventariado (Figura 7), localizado na Praça da Bandeira, em frente à Prefeitura Municipal. O monumento foi construído com rocha e encontra-se em ótimo estado de conservação. Figura 7 – Monumento Inventariado I. Fonte: Wellington Alysson de Araújo (2014). 35 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves O município de Florânia não é conhecido apenas pelas histórias religiosas e pelas influências nos traços arquitetônicos das casas e dos prédios, pois dos campos de flores surge um fato na década de 1940, que toma proporções internacionais, cujos moradores foram os maiores protagonistas. Nessa mesma década, ocorria um dos mais acentuados episódios históricos que a humanidade já presenciou: a Segunda Guerra Mundial. Em meio ao clima de combate sangrento entre as nações, em que todos os dias milhares de soldados morriam em batalha, Florânia foi a cidade do Seridó Norte-rio-grandense que mais enviou combatentes, em números proporcionais, para a Segunda Guerra Mundial. O que chama mais atenção é que todos os floranienses que foram convocados para os campos de batalhas (em especial na Itália) retornaram com vida, um feito marcante para uma cidade de tão poucos habitantes. Segundo Cotrim (2008, p. 446), a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) envolveu povos de 58 países das várias regiões do mundo, embora os principais choques armados tenham sido travados na Europa, no norte da África e no extremo oriente. Na Segunda Guerra Mundial foram convocados brasi- leiros que entraram em combate na Itália, estando entre eles os floranienses. Assim, no ano de 1986, um ex-prefeito de Florânia, chamado Paulo Furtado, pediu ao então prefeito da época, o senhor Nicomar Ramos de Oliveira, que governou a cidade de janeiro de 1983 a dezembro de 1988, para que fosse promovida uma festa em homenagem aos combatentes que foram para a Guerra, criando assim um monumento no qual os nomes dos soldados estão gravados. 36 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves Vale destacar que, por meio da inventariação do patrimônio histórico material da cidade de Florânia, foram identificados 34 (trinta e quatro) casas e prédios, 01 (um) centro urbano, 03 (três) edificações de arquitetura histórico-religiosa e 03 (três) monumentos. No entanto, durante o período da reali- zação da pesquisa, não foi possível inventariar 18 (dezoito) casas e prédios, isso porque os imóveis encontravam-se fechados e sem utilização, ou então os proprietários residiam em outras cidades e não estavam presentes no decorrer do estudo. Assim, por meio da aplicação da ficha de inventário, buscou-se averiguar o nível de conservação dos bens inventa- riados como uma forma de traçar um panorama da situação real das edificações. Da totalidade dos bens inventariados, 61% (36 bens de 59 imóveis registrados, incluindo os não inven- tariados) encontram-se em ótimo estado de conservação, porcentagem essa relevante para a possibilidade de incremento do patrimônio histórico material na atividade turística, até porque a apresentação estética das construções influenciam na decisão a ser tomada por turistas ao visitar Florânia. Entretanto, existe uma parcela considerável de edifica- ções que se classificam em estado de conservação regular (39%,ou 23 imóveis), sendo observado como problema principal o desgaste na pintura das fachadas. Nesse cenário, o ideal seria que todas as construções históricas da cidade de Florânia esti- vessem em apropriado grau de conservação, pois os aspectos visuais são formadores de opinião e fortalecem o modo como o turista vê a localidade. Isso porque: O olhar do turismo é direcionado para aspectos da paisagem da cidade [...], considerados como algo que se situa fora daquilo que nos é habitual. O direcionamento 37 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves do olhar do turista implica frequentemente diferentes formas de padrões sociais, com sensibilidade voltada para os elementos visuais [...] (URRY, 2001, p. 18). Mediante isso, os aspectos visuais das edificações de Florânia possuem um relevante papel no direcionamento do olhar do turista, pois se as estruturas se encontrarem conser- vadas de forma satisfatória para o uso turístico, será criado um padrão visual que remete aos valores históricos e sociais da localidade. O turismo por ser definido como as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, por lazer, negócios ou outros (OMT, 2001, p. 3). E pode contribuir de maneira decisiva para o surgimento de possibilidades sustentáveis para se tornar ainda mais viável a vida dos moradores locais nas suas respectivas cidades. Até mesmo no conceito de turismo pode-se entender que as pessoas necessitam se deslocar para outros lugares, sendo que nesse contexto a relação do turismo com o patrimônio histórico torna-se mais evidente. Dessa forma, os recursos patrimoniais tornam-se mais valorizados comercialmente, pois: O patrimônio tornou-se uma componente essencial da indústria turística com implicações econômicas e sociais evidentes. A exploração turística dos recursos patrimoniais permite inverter a forte tendência de concentração da oferta turística junto ao litoral, dispensando o turismo para interior, para as pequenas 38 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves cidades, com uma distribuição mais equitativa dos seus benefícios, funcionando assim como fator de criação de emprego e de revitalização das economias locais (SILVA, 2014, p. 220). Isso faz refletir que os fatores econômicos e os sociais estão relacionados com o patrimônio no contexto turístico pelo fato da história e da cultura serem elementos fundamentais na geração de fluxos de turistas, voltando os olhares para pequenas cidades. No caso da realidade da cidade de Florânia, as discus- sões aqui apresentadas fazem refletir acerca da importância de o patrimônio histórico material ser incluído como opção na prática turística, como uma alternativa a gerar benefícios para a população local. Entretanto, como é possível utilizar, no cenário turístico, os imóveis e os monumentos inventariados de Florânia de tal forma que haja certa colaboração sustentável para se viver na cidade? A questão não é tão simples e muito menos fácil de ser definida uma maneira eficaz para se conse- guir evitar a geração de impactos negativos. Sobre esse questionamento, uma das possíveis respostas seria a contemplação do patrimônio histórico material inventa- riado na atividade turística por meio de um itinerário voltado para a valorização patrimonial da localidade, resultando em consistentes impactos positivos. Mas para que esse cenário, entre os impactos em geral, possa tender para o lado benéfico do turismo, as políticas públicas resultantes de um planejamento adequado assumem um relevante papel na minimização dos efeitos danosos. Vale salientar que tanto o itinerário quanto as políticas públicas não serão abordados neste trabalho pelo fato de exigir discussões mais extensas. 39 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves Considerações Finais Uma das principais atratividades geradoras de fluxo turístico é o patrimônio histórico material representado pelas edificações (casas, prédios, monumentos) e conjuntos urbanos (centros urbanos). Para a realização da referida segmentação, torna-se imprescindível que as cidades possam dispor de bens materiais em perfeito estado de conservação e intensificar a realização de estudos voltados para essa temática. Em especial na cidade de Florânia/RN, surge a necessidade da efetivação de pesquisas para identificar se existe patrimônio histórico material com potencialidade para a utilização turís- tica. Este estudo pode responder ao questionamento quanto a saber se a cidade de Florânia/RN dispõe de patrimônio histórico material que tenha potencial para ser incluído na atividade turística local. A partir da aplicação de fichas de inventário, foram inventariados 34 (trinta e quatro) casas e prédios histó- ricos, 01 (um) centro urbano e 03 (três) monumentos, além de 18 (dezoito) casas e prédios não inventariados, somando um total de 59 (cinquenta e nove) bens catalogados. Dessa forma, a primeira hipótese levantada pode ser confirmada: sim, a cidade de Florânia/RN dispõe de estimado patrimônio histórico material com potencial turístico. Ressalta-se que a finalidade deste estudo, de veri- ficar o potencial do patrimônio histórico da cidade de Florânia/RN sob a perspectiva de incremento na prática turística local, foi cumprida, tornando-se possível alcançar as pretensões traçadas. Foi visto que a cidade de Florânia dispõe de um acentuado patrimônio histórico material capaz de gerar fluxo turístico, sendo necessária a intensificação de ações do poder público 40 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves municipal, voltadas para a proteção dos bens materiais, pois é possível identificar edifícios sendo descaracterizados para a construção de lojas, por exemplo. Também se constatou que as principais influências artísticas e históricas encontradas nas mais antigas casas e prédios de Florânia foram oriundas dos portugueses e italianos, por volta do final do século XIX e início do século XX. A realização deste trabalho tornou-se importante pelo fato da existência de poucos estudos voltados para o patrimônio de cal e pedra de Florânia, além de ser relevante academica- mente por ficar disposto na Biblioteca Setorial de Currais Novos para devidas consultas por discentes e/ou docentes, além de outros pesquisadores. Uma dificuldade identificada no momento da pesquisa de campo foi durante o registro fotográfico das casas e prédios, encontrando-se árvores que obstruíam a visão da frente, tornando a posição da imagem relativamente descentralizada. Também uma dificuldade enfrentada foi pesquisar a data das construções, porque a maior parte dos residentes não soube informar, utilizando, assim, um período aproximado. E, como sugestão para a realização de estudos futuros, acredita-se ser importante efetivar pesquisas acerca da percepção da população de Florânia/RN em relação à impor- tância da proteção do patrimônio histórico material da cidade, pois é oportuno ouvir a opinião dos residentes parasaber o grau de sensibilização quanto aos aspectos culturais da localidade. Ainda outras pesquisas podem ser desenvolvidas tomando como base o patrimônio cultural como a identificação dos bens imateriais de Florânia. 41 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos De flores e de pedra: identificação e possibilidade do uso turístico do patrimônio histórico da cidade de Florânia Wellington Alysson de Araújo - Jeferson Cândido Alves Referências AMARAL, E. L. G. Museu, memória e turismo: por uma relação de liberdade. In: MARTINS, C. (Org.). Patrimônio cultural: da memória ao sentido do lugar. São Paulo: Roca, 2006, p. 51-63. ANDRADE, M. M. 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PATRIMÔNIO MATERIAL DO MUNICÍPIO DE ACARI: UMA PERSPECTIVA PARA O INCREMENTO DO TURISMO CULTURAL Girlene Edson de Oliveira Amaro Edneide Maria Pinheiro Galvão A atividade turística, além de servir para gerar emprego e renda, serve também para reforçar a identidade local, permitindo que os receptores produzam artigos repre- sentativos característicos de pertencimento ao lugar e salvaguardem o seu patrimônio. Com o advento dessa atividade, muitos segmentos foram surgindo, como o turismo de aventura, o pedagógico, de lazer, de intercâmbio, de esporte etc. E, dependendo da motivação e do interesse dos turistas, vão aparecendo outros segmentos. Com essa variedade de áreas, surge o turismo cultural, tornando como atrativos os bens móveis e imóveis, o fazer e o saber fazer, o patrimônio material e imaterial de um determinado povo. Sendo assim, vários países optaram por desenvolver o turismo cultural, e vender, como produto turístico, um conjunto de bens palpáveis ou não que está contido na abstração da memória e nas ruínas de monumentos e, aquilo que tem de melhor, sua autenticidade e identidade, ou seja, sua cultura. Conforme Martins (2006, p. 49-40), Esse conjunto de valores representado pelos signifi- cados e símbolos projeta-se no espaço geográfico e, ao mesmo tempo em que dele vai apropriando-se, imprime marcas como que dizendo isto sou eu e, em comunhão 45 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Patrimônio material do município de Acari: uma perspectiva para o incremento do turismo cultural Girlene Edson de Oliveira Amaro - Edneide Maria Pinheiro Galvão com o grupo social, isto somos nós. Na realidade, o que torna o lugar atraente é a cultura de sua gente, o jeito que esse povo encontrou de estar e ser em sua existência, em seu espaço, vivendo sua realidade. Com pouco mais de 500 anos, o Brasil guarda em seu patrimônio cultural material um conjunto de monumentos arquitetônicos representativos da memória e da história do país. Nesse contexto, inclui-se o Seridó, com seus núcleos urbanos do início do século XVIII, resguardando em seu patrimônio cultural muitos dos bens deixados pelos colo- nizadores dessa região. Dentre esses núcleos surgidos no século XVIII, encontra-se o município de Acari/RN, com data de fundação em 1737. Por ser um dos locais de início do povoamento da região, a cidade guarda um acervo patrimonial de natureza pré-histó- rica, histórica e cultural relevante, como sítios arqueológicos, monumentos arquitetônicos, formações geológicas, casas de fazendas do período colonial, além das tradições e saberes encravados na memória do seu povo. Desse modo, o município de Acari conserva em seu acervo patrimonial a história e a cultura do seu povo. A esse respeito, Silva (2006, p. 32) afirma que: Os atrativos histórico-culturais contidos nesses espaços revelam parte do passado, do cotidiano e do processo sociocultural que a cidade vivenciou, ou seja, é a história materializada que se apresenta como atrativo aos moradores e visitantes da cidade. O município deve considerar seu patrimônio como um eixo de ampliação, não elegendo apenas um tipo de eixo 46 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Patrimônio material do município de Acari: uma perspectiva para o incremento do turismo cultural Girlene Edson de Oliveira Amaro - Edneide Maria Pinheiro Galvão temático, mas identificando outros e criando políticas públicas que favoreçam a variedade. Silva (2006, p. 33) enfatiza que “o patrimônio histórico é um dos elementos motivadores do fluxo de visitantes de um destino turístico urbano”. Esse patri- mônio históricomaterial torna-se atrativo para os turistas que buscam conhecer a história da localidade, seus costumes e o que eles têm que comprovem e testemunhem o seu legado cultural. Em Acari, evidencia-se pela existência de bens patrimo- niais edificados, como a Capela de Nossa Senhora do Rosário, o Casario Urbano, a Casa de Câmara e Cadeia (Museu Histórico de Acari) e a Matriz de Nossa Senhora da Guia. Por esse conjunto de bens culturais e turísticos é que se optou por essa temática de patrimônio material de Acari, uma perspectiva para o incre- mento do turismo cultural. Nessa perspectiva, reconhecendo o potencial que a cidade possui para a exploração do turismo cultural, questiona-se por que o município não tem políticas públicas específicas para esse segmento, visto que abriga patrimônio material de grande relevância para a história do município, da região e do estado. Portanto, o objetivo principal deste trabalho é diag- nosticar o potencial do município de Acari para a exploração do turismo histórico-cultural, visando dar suporte para o incremento da atividade cultural. E os objetivos específicos são: identificar como a atividade turística é estimulada no muni- cípio como estratégia de preservação do patrimônio cultural; inventariar os monumentos utilizando os formulários do Ministério do Turismo e propor um plano de políticas públicas para o incremento do turismo local. 47 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Patrimônio material do município de Acari: uma perspectiva para o incremento do turismo cultural Girlene Edson de Oliveira Amaro - Edneide Maria Pinheiro Galvão Metodologia Para realização desta pesquisa, foi necessária a utilização de método, de técnica e de instrumentos que favoreceram a análise dos dados colhidos. Assim, o método utilizado para o exame dos dados foi o indutivo, a técnica de pesquisa a explo- ratória e os instrumentos foram a entrevista e o formulário. O método científico é a maneira mais objetiva para se responder a uma pergunta bem formulada. E a pesquisa cien- tífica é essencial para a produção do conhecimento que deverá ser “objetivo, reproduzível e sistemático” (SCHLÜTER, 2005 p. 24). Desse modo, Dencker (1998, p. 25) enfatiza que: A ciência moderna nasceu nos séculos XVI e XVII, com a aplicação do método empírico. Galileu estabeleceu as bases do método que perdura até nossos dias e que consiste em formular hipóteses e submetê-las à prova experimental. Nessa concepção, uma teoria é científica sempre que pode ser comprovada por métodos empí- ricos. A teoria tem validade enquanto for possível sua confirmação mediante observação. No momento em que uma teoria deixa de ser suficiente para explicar a realidade, é substituída por outra. Para Galileu, o método tem dois momentos, a indução e a dedução. Sendo assim, neste trabalho utilizou-se o método indu- tivo partindo da observação, tentando explicar cientificamente, passando pelos princípios iniciais para depois testar o conhe- cimento adquirido. Gil (2009, p.10) afirma que: O método indutivo procede inversamente ao dedutivo: parte do particular e coloca a generalização como um produto posterior do trabalho de coleta de dados 48 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Patrimônio material do município de Acari: uma perspectiva para o incremento do turismo cultural Girlene Edson de Oliveira Amaro - Edneide Maria Pinheiro Galvão particulares. De acordo com o raciocínio indutivo, a generalização não deve ser buscada aprioristica- mente, mas constatada a partir da observação de casos concretos suficientemente confirmadores dessa reali- dade. Nesse método, parte-se da observação de fatos ou fenômenos cujas causas se deseja conhecer. A seguir, procura-se compará-los com a finalidade de descobrir as relações entre eles. Neste estudo, adotou-se o método indutivo partindo-se da observação da realidade e do particular, da análise de lite- ratura, da coleta de dados até chegar ao produto. Com relação à técnica, utilizou-se a exploratória. A pesquisa exploratória é aquela que permite leituras biblio- gráficas, entrevista e fontes secundárias. Nessa direção, Dencker (1998, p. 124) salienta pesquisa exploratória procura aprimorar ideias ou descobrir intuições. Caracteriza-se por possuir um planejamento flexível envolvendo em geral levan- tamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes e análise de exemplos similares. Na perspectiva de analisar o patrimônio material do município de Acari como incremento para o turismo cultural, teve-se como fundamentação teórica autores (Roberto da Matta, Raymond Williams e Roger Chartier) que fizeram pesquisas dentro da temática de turismo cultural. Também foram utili- zadas fontes secundárias como livros, periódicos, relatórios de pesquisa, artigos científicos, o Google Maps e o Google Earth. 49 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Patrimônio material do município de Acari: uma perspectiva para o incremento do turismo cultural Girlene Edson de Oliveira Amaro - Edneide Maria Pinheiro Galvão Sobre a pesquisa exploratória, Gil (2009, p. 27) ressalta que: As pesquisas exploratórias têm como principal fina- lidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. De todos os tipos de pesquisa, estas são as que apresentam menor rigidez no planejamento. Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de amostragem e técnicas quan- titativas de coleta de dados não são costumeiramente aplicados nestas pesquisas. A partir desse entendimento, a pesquisa exploratória, além de aprimorar ideias, permite esclarecer informações e modificação de conceitos pré-estabelecidos, utilizando-se de técnicas qualitativas e quantitativas. A técnica quantitativa é utilizada para quantificar os dados colhidos e apresentar resultados por meio de tabelas e gráficos. Já a qualitativa procura expor a percepção das pessoas sobre determinado tema. Esta pesquisa se utilizou das duas técnicas para sua execução. Em relação aos instrumentos de pesquisa, foram utili- zados dois tipos: a entrevista e o questionário. Assim, Dencker (1998, p. 136) relata que “a entrevista é uma comunicação verbal entre duas ou mais pessoas, com um grau de estruturação previamente definido, cuja finalidade é a obtenção de infor- mações de pesquisa”. Desse modo, a entrevista é um instrumento para obtenção de informações que necessita de uma interação entre o entrevistador e o entrevistado, no qual ambos devem manter uma relação de confiança. Isso posto, para essa pesquisa 50 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Patrimônio material do município de Acari: uma perspectiva para o incremento do turismo cultural Girlene Edson de Oliveira Amaro - Edneide Maria Pinheiro Galvão foi entrevistado o Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Desporto e Lazer. Outro instrumento utilizado para esta pesquisa foi o formulário do inventário da oferta turística do Ministério do Turismo, categoria C2 – atrativos culturais. Com relação a inventários, Dencker (1998, p. 215) afirma que o objetivo do inventário é levantar, mediante pesquisa, a oferta turística de um determinado município, região ou área, com a finalidade de efetuar diagnóstico e elaborar prognósticos. O inventário serve de base para o planejamento turístico. A partir dessa ideia, observou-se a necessidade de inventa- riar os atrativos culturais do município de Acari. O fundamental, pois, nessa inventariação, é que há um planejamento mais efetivo para a localidade. Os formulários foram aplicadosaos atores sociais envol- vidos de forma direta e indireta na área do turismo cultural no município, ou seja, guias de turismo locais, historiadores e os responsáveis pela administração do Museu. Ao Secretário Municipal de Turismo foi aplicada a entrevista. Dessa maneira, a coleta de dados foi realizada através de formulários com perguntas abertas e fechadas, visando à obtenção de respostas claras e completas sobre o desenvolvi- mento do turismo cultural no município de Acari. Para o desenvolvimento da pesquisa, inicialmente foram levantadas as referências de possíveis bibliografias que pode- riam auxiliar no estudo. Dessa forma, a pesquisa bibliográfica foi relevante, dando suporte para a base do estudo. O acervo utilizado foi 51 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Patrimônio material do município de Acari: uma perspectiva para o incremento do turismo cultural Girlene Edson de Oliveira Amaro - Edneide Maria Pinheiro Galvão composto pelos seguintes livros: Patrimônio cultural e identi- dade: significado e sentido do lugar turístico (MARTINS, 2006); História e Memória (LE GOFF, 2000); Cultura brasileira: o que é, como se faz (VANNUCCHI, 1999); História & Turismo Cultural (MENESES, 2004). Dencker (1998, p. 125), referenciando a pesquisa bibliográfica, afirma que a mesma é Desenvolvida a partir de material já elaborado: livros e artigos científicos. Embora existam pesquisas apenas bibliográficas, toda pesquisa requer uma fase preliminar de levantamento e revisão da literatura existente para elaboração conceitual e definição dos marcos teóricos. Após esse levantamento e leitura dos referencias biblio- gráficos, deu-se início à pesquisa de campo. O levantamento de dados aconteceu com visitas prévias feitas a representante do setor público, sede do Museu Histórico e a historiadores, além de guia de turismo. O levantamento é uma forma de contrapor a teoria com os dados obtidos. Para Gil (2009, p. 55), As pesquisas deste tipo se caracterizam pela interro- gação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise quantitativa, obter as conclusões correspon- dentes dos dados coletados. As informações coletadas por meio da pesquisa de campo direcionaram-se ao representante do poder público local e a alguns membros da sociedade que têm relação com o turismo cultural. Também o registro fotográfico foi necessário para 52 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Patrimônio material do município de Acari: uma perspectiva para o incremento do turismo cultural Girlene Edson de Oliveira Amaro - Edneide Maria Pinheiro Galvão complementar as informações e ampliar o senso crítico por meio da visualização dos monumentos em estudo. O tipo de amostragem utilizada na pesquisa foi a não probabilística por conveniência, pois é uma espécie de julga- mento no qual o pesquisador é quem escolhe sua amostra por considerar mais racional. Gil (2009, p. 94) expõe que esse tipo de amostragem: Constitui o menos rigoroso de todos os tipos de amos- tragem. Por isso mesmo é destituída de qualquer rigor estatístico. O pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo. Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é requerido elevado nível de precisão. Essa amostragem por acessibilidade ou por conveni- ência é uma das mais utilizadas para pesquisas exploratórias, dando-se início com a seleção da amostra pelo pesquisador. O universo desta pesquisa foi composto por moradores, pessoas ligadas ao patrimônio cultural evidenciado no estudo e representante do poder público. Dessa forma, após a fase da coleta de dados, aconteceu a tabulação dos mesmos, e, posteriormente, foram sistematizados e analisados a partir das técnicas qualitativas e quantitativas e de textos. O Turismo Cultural no Brasil O ano de 1808 tornou-se um marco para a história polí- tica, econômica, social e cultural do Brasil com a vinda da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro. Muitas mudanças ocorreram, 53 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Patrimônio material do município de Acari: uma perspectiva para o incremento do turismo cultural Girlene Edson de Oliveira Amaro - Edneide Maria Pinheiro Galvão porém não havia qualquer noção de patrimônio ou de bens patrimoniais no Brasil do século XIX, tendo isso emergido na terceira década do século XX (CAMARGO, 2005). A valorização do Patrimônio Cultural deu-se com a Semana da Arte Moderna, em 1922, quando os modernistas nacionalistas pretendiam encontrar as raízes do povo brasi- leiro, tentando afirmar sua identidade, e isso só seria possível com a recuperação da memória dos seus antepassados. Nesse contexto histórico, a capital de Minas Gerais, Ouro Preto, foi utilizada pelos modernistas como fonte de estudo para encontrar as raízes do povo brasileiro. Por ser uma cidade histórica, salvaguardava muitos monumentos arquitetônicos do estilo barroco. Esse estilo surgiu na Europa e foi trazido para o Brasil pelos colonizadores portugueses. Ouro Preto foi o grande ancoradouro dos modernistas. O ano de 1937 tem sua relevância para a proteção do patri- mônio cultural quando o presidente da república Getúlio Vargas sanciona o projeto de lei que institui um órgão específico para catalogar, especificar, tombar e gerenciar o patrimônio cultural do país. Assim surge o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), órgão oficial do Governo Federal responsável para designar o que compunha o patrimônio nacional. O projeto de lei para criação de um órgão encarregado da preservação do patrimônio cultural, elaborado por Rodrigo Melo Franco de Andrade, resultou na expedição do Decreto-Lei nº 25/37, de 30 de novembro de 1937, que criou o SPHAN e regula- mentou o tombamento como forma de proteção do patrimônio histórico e artístico nacional sendo definido como um conjunto de bens móveis, cuja conservação fosse de interesse público, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico (RODRIGUES, 2006; CASTILHO JUNIOR, 2008). 54 Planejamento e desenvolvimento do turismo nas Regiões do Seridó e do Agreste trairi: cultura, lazer e eventos Patrimônio material do município de Acari: uma perspectiva para o incremento do turismo cultural Girlene Edson de Oliveira Amaro - Edneide Maria Pinheiro Galvão O Decreto-Lei nº 25/37 não abordava a questão do patri- mônio imaterial nem o arqueológico, sendo estes evidenciados na Constituição de 1988. Atualmente, o órgão responsável por salvaguardar o patrimônio cultural do país é o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o antigo SPHAN; utiliza-se do tombamento como forma de assegurar a proteção do bem por meio da intervenção do poder público sobre a propriedade. A década de 1960 foi enfática para o estudo do turismo cultural no país, quando antropólogos perceberam que a ativi- dade turística poderia prejudicar o patrimônio cultural, com excesso de visitações e modificação intensa na cultura local. Porém, despertou o interesse para serem desenvolvidas políticas públicas de conservação do patrimônio, visto que este resguarda a memória de uma sociedade e de um povo. Martins (2006, p. 20), ao relacionar memória com patrimônio, afirma que a memória está diretamente ligada ao patrimônio de um povo, pois gera, a partir da cultura, tomada em suas manifestações naturais, materiais e imateriais, um ponto de referência de sua identidade e as fontes de sua inspiração. O turismo como atividade econômica é causador de impactos tanto positivos quanto negativos, podendo, dessa maneira,
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