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EPILEPSIA Revisão Otimize o tempo e a qualidade do seu estudo www.sanarflix.com.br 1. Definição Epilepsia é uma desordem cerebral caracterizada pela predisposição persistente de gerar crises epilépticas. E pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais dessa condição. 2. Epidemiologia A probabilidade de um individuo apresentar uma crise epiléptica em qualquer momento da vida é relativamente alta. Esse risco é estimado entre 5% e 10%. Em muitos desses casos, um fator desencadeante de crises pode ser identificado e, uma vez removido, a crise não deverá recorrer. 3. Fisiopatologia Estudos com microeletrodos intraneuronais demonstraram que a geração dos surtos de potenciais de ação envolve mecanismos sinápticos próprios de alguns neurônios. São neurônios piramidais grandes localizados principalmente no hipocampo e no neocórtex. Canais de cálcio e de potássio lentos permitem uma despolarização celcular prolongada. 2 Resumo de Epilepsia www.sanarflix.com.br Alguns mecanismos sinápticos podem interferir com a liberação de neurotransmissores que duram vários milissegundos na fenda sinática. A desregulação desses neurotransmissores e bloqueio da ação GABA permite a geração de surtos de potenciais de ação descontrolados. Durante a atividade repetitiva ictal a concentração de potássio aumenta no meio extracelular e modifica o potencial de equilíbrio desse íon, de tal forma que as correntes de saída enfraquecem e não são mais efetivas repolarização da membrana. Nessa fase também há aumento da acetilcolina que reduz ainda mais a condutância do potássio, prolongando o efeito excitatório. Células gliais contribuem para o clearance extracelular, facilitando a recapitação dos neurotransmissores, e assim contribuindo para reduzir o efeito epileptogênico. Sendo assim podemos dizer que cinco são os principais fatores envolvidos na epileptogênese: 1- Eventos intrínsecos da membrana de determinas células; 2 – O grau de desinibição da população neuronal; 3 – presença de circuitos recorrentes excitatórios; 4 – Modulação da concentração de íons transmissores no espaço intercelular; 5 – presença de interações elétricas entre os neurônios. Outras vezes não se identifica um fator causal para a crise epiléptica, mas ainda assim muitos desses pacientes não voltarão a ter crises. Por fim, alguns indivíduos apresentam crises epilépticas espontâneas recorrentes e são, portanto, considerados epilépticos. 4. Clínica As manifestações clínicas das crises epilépticas são variáveis, podendo incluir quadros autolimitados a manifestações dramáticas, como perda abrupta de consciência, queda ao solo e abalos convulsivos nos quatro membros. Alguns pontos do evento devem ser interrogados, como presença de sialorreia, cianose, liberação de esffncteres vesical e anal. O familiar ou a pessoa que presenciou o quadro também deve ser interrogada, no sentido de se buscar detalhar o evento, o que pode ser fundamental para o diagnostico diferencial de condições paroxísticas de origem não epiléptica. 3 Resumo de Epilepsia www.sanarflix.com.br Deve-se interrogar o paciente sobre sinais e sintomas ao início do quadro, antes da perda de consciência, pois podem indicar lesões focais (parestesias, alterações visuais, olfatórias, auditivas e gustatórias, "déjà vu”, despersonalização e desrealização, entre outros). A epilepsia é uma síndrome causada por crises epilépticas recorrentes. E para entende-la é necessário entender a classificação das crises. Crises epilépticas generalizadas são aquelas que se iniciam em algum ponto do SNC e rapidamente envolvem redes neuronais distribuídas bilateralmente. Essas redes bilaterais podem incluir estruturas corticais e subcorticais, mas não incluem necessariamente todo o córtex. Uma crise isolada pode parecer localizada, mas a localização e a lateralização não são consistentes de uma crise para outra. Crises generalizadas podem ser assimétricas. Crises epilépticas focais são aquelas que se originam de redes limitadas a um hemisfério. Elas podem ser discretamente localizadas ou mais amplamente distribuídas. Para cada tipo de crise, o início do ictus é consistente de uma crise para outra com padrões de propagação preferenciais que podem envolver o hemisfério contralateral. As crises focais não devem comprometer a consciência. A crise epiléptica é uma exacerbação paroxística de uma determinada função cortical, que pode ser motora, sensitiva, psíquica ou comportamental. Quando essa crise provoca sintomas motores ela é chamada de convulsão. Ao final dessa exacerbação da função cerebral é comum um estado de disfunção da área cerebral afetada, esse estado é chamado de pós-ictal. Crise provocada é uma crise epiléptica decorrente de uma causa imediata identificada, como distúrbio metabólico, intoxicação aguda, abstinência de drogas sedativas ou insulto neurológico agudo. Deve existir uma relação temporal entre o desencadeante e a crise, geralmente, nos últimos 7 dias. Entre 1 e 10% da população terá uma crise provocada na sua vida. Crise não provocada: quando não há uma causa conhecida para a crise, após investigação clinica, laboratorial e de imagem. Crise isolada: uma ou mais crises recorrendo no período de 24 horas. Pode corresponder a uma crise provocada ou à primeira manifestação de epilepsia. Epilepsia: desordem cerebral caracterizada por uma predisposição persistente a gerar crises epilépticas. E pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, 4 Resumo de Epilepsia www.sanarflix.com.br psicológicas e sociais dessa condição. Para fechar critério de epilepsia são necessárias: 1- No mínimo duas crises não provocadas com intervalo > 24 horas entre elas; 2- Uma crise não provocada e alto risco de nova crise em 10 anos(> 60%). Convulsão: é um termo antigo tipicamente usado para denotar uma crise tônico- clônica generalizada. O termo também pode ser usado para indicar uma crise com atividade motora proeminente. O termo "convulsivo" é um adjetivo que indica a presença de atividade motora proeminente tal como abalos tônicos e/ou clônicos. Não convulsivo: refere-se a uma crise ou estado epiléptico sem relevante atividade clônica ou tônica. O termo é principalmente usado com o estado epiléptico ou estado de mal epiléptico para indicar que a crise persistente afeta predominantemente a consciência ou o comportamento com atividade motora mínima ou nenhuma. Estado epiléptico ou estado de mau: definido como a presença de duas ou mais crises sem a completa recuperação da consciência entre elas ou uma crise com mais de 30 minutos de duração. Sabe-se que crises com mais de 5-10 minutos de duração têm baixa probabilidade de cessarem espontaneamente. Adicionalmente, estudos experimentais e clínicos demonstram que crises não controladas predispõem o cérebro a crises de mais difícil controle. Por isso, do ponto de vista operacional, crises que persistem após 5 minutos são consideradas e tratadas como estado epiléptico. Essa situação caracteriza emergência médica e segundo alguns estudos, sua mortalidade pode chegar a 20%, portanto, qualquer crise que dure cinco minutos ou mais deve ser tratada agressivamente. 5. Diagnóstico Para que seja possível preencher o critério diagnóstico de epilepsia e concluir que as crises epilépticas apresentadas pelo paciente são crises não provocas é preciso afastar todas as possíveis causas desencadeantes de crise. Ao receber um paciente com queixa de crise convulsiva deve-se considerar: 1 – Se o paciente ainda está em crise, avaliar se é um caso de estado de mau e tratar imediatamente. 2 – 5 Resumo de Epilepsia www.sanarflix.com.br se a crise já foi resolvida ou iniciou a menos de 5 mina prioridade inicial é e realizar as manobras de suportede vida. É fundamental a realização de um exame físico geral, avaliação do estado hemodinâmico (PA, pulso, perfusão periférica); além da glicemia, temperatura e saturação de oxigênio devem ser checadas; deve-se buscar achados neurológicos focais; avaliar sinais de irritação meníngea; realizar fundo de olho. Exames laboratoriais podem ser necessários para afastar as principais condições clínicas que cursam com crises. Exames para quantificação sérica de drogas antiepilépticas são úteis no paciente que faz uso dessas medicações. Exames toxicológicos podem ser necessários se houver suspeita clinica. Tomografia de crânio ou ressonância são úteis quando uma patologia neurológica é uma possível causa do quadro. Coleta de liquor é fundamental na suspeita de meningite e/ou encefalite. EEG (Eletroencefalograma) é necessário na suspeita de estado epiléptico não convulsivo. Quando nenhuma causa orgânica pode ser detectada paras crises é dado o diagnostico de Epilepsia primária ou idiopática. Elas geralmente abrem o quadro na infância ou adolescência e possuem uma forte predisposição familiar, tendem a desaparecer na fase adulta, muitas possuem um padrão de EEG característico. Paciente com crise isolada em geral não precisa receber tratamento com drogas anticonvulsivantes. Este é restrito àqueles casos em que há alto risco de recorrência. Para uma conduta adequada, portanto, deve ser feita uma estratificação do risco de recorrência das crises: 1- Neuroimagem (ressonância magnética de crânio - preferível, quando disponível - ou tomografia computadorizada de crânio). 2- Eletroencefalograma. Caso ambos os exames sejam normais, o risco de recorrência de crises é de aproximadamente 30%, sendo maior nos primeiros meses após a crise inicial, declinando progressivamente. Quando ambos os exames são anormais, o risco de recorrência chega a 70%. Síndromes Primárias ou Idiopáticas: Convulsões febris; Epilepsia parcial benigna da infância (Crises parciais durante o dia que evoluem para crise tônico- clônica generalizada durante o sono); Epilepsia mioclônica juvenil (As crises mioclônicas que evoluem para uma crise tônico-clônica generalizada, e padrão de EEG com complexos generalizados na frequência de 4-6 Hz); Pequeno mal epiléptico (crises de ausência com importante prejuízo escolar, complexos ponta-onda de 3Hz 6 Resumo de Epilepsia www.sanarflix.com.br no EEG); Grande mal epiléptico (crises são tônico-clônicas generalizadas, não precedidas por crises parciais). Epilepsia criptogênica (decorrente de uma alteração estrutural não visualizada nos exames convencionais de neuroimagem, seu protótipo é a epilepsia do lobo temporal, caracterizada pela presença de esclerose hipocampal). 6. Tratamento Qualquer decisão de se Iniciar tratamento crônico com medicação antiepiléptica deve ser discutida com o paciente, ponderando o risco de recorrência e o impacto de uma nova crise na vida do paciente. O Tratamento é baseado no uso de drogas antiepilépticas e a escolha deve ser feita a partir da estratificação da síndrome epiléptica do paciente: • Pequeno mal epiléptico: etossuximida ou valproato; • Pequeno mal epiléptico + grande mal epiléptico: valproato; • Grande mal epiléptico: carbamazepina, fenitoína, lamotrigina ou valproato; • Parcial simples ou complexa: carbamazepina, fenitoína, lamotrigina ou valproato; • Parcial com generalização secundária: carbamazepina, fenitoína, lamotrigina ou valproato; • Mioclônica juvenil: valproato – pode associar o clonazepam. O fenobarbital e a primidona são considerados drogas de segunda linha. As drogas de nova geração consideradas de segunda linha são: gabapentina, topiramato, tiagabina. Tratamento do paciente em estado epiléptico: 7 Resumo de Epilepsia www.sanarflix.com.br Paciente sem acesso venoso: administrar 10 mg do midazolam IM (0,2 mg/kg; máx. 10 mg). Estudos randomizados mostraram que é mais eficaz do que diazepam IV e comparável ao lorazepam (droga de primeira escolha mundialmente, porém não disponível no brasil). Diazeparn por via intramuscular não é recomendado, pois a absorção é errática. Paciente com acesso venoso: diazepam, IV. a uma velocidade de 2 mg/minuto, até controle da crise ou dose total de 10 a 20 mg. Se a utilização de benzodiazepínicos não for suficiente para cessar a crise pode- se, em seguida, administrar de agentes antiepilépticos com duração de ação mais prolongada no SNC, como a fenitoína ou a fosfenitoína endovenosa. A dose inicial é 20 mg/kg de peso e se persistência da crise, administrar mais 5 a 10 mg/kg (total de 25 a 30 mg/kg). O paciente precisa ser observado durante a infusão da droga que não pode ultrapassar 50mg/mim. Se após a dose máxima de fenitoína a crise não for controlada deve-se proceder a sedação completa com midazolan (Dose inicial: 0,2 mg/kg, IV, lentamente. Manutenção: 0,2 a 0,6 mg/kg/hora; a dose pode ser aumentada até o efeito desejado) ou propofol (Dose inicial: 2 mg/kg, IV, lentamente. Manutenção: 2 a 5 mg/kg/hora; a dose pode ser aumentada até o efeito desejado). Nesses casos o paciente deve ser mantido em monitoração por EEG e ventilação mecânica durante a sedação. 8 Resumo de Epilepsia www.sanarflix.com.br Referências bibliográficas 1. Goldman L, Schafer AL, et al. Goldman’s Cecil Medicine. 25th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2016. 2. Emergências Clínicas: abordagem prática, Herlon Saraiva Martins et al. Editora Manole Ltda, 11ª ed., 2016. 3. NITRINI, R.; BACHESCHI, L. A. A neurologia que todo médico deve saber. 2º edição. São Paulo: Atheneu, 2003. 9 Resumo de Epilepsia www.sanarflix.com.br