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Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA Introdução 7 características do câncer: ● Crescimento seletivo e vantagem proliferativa ● Resposta alterada ao estresse, favorecendo a sobrevida global ● Vascularização ● Invasão e metástase ● Religação metabólica ● Microambiente cúmplice ● Modulação imunológica As Marcas do Câncer são propostas como um conjunto de capacidades funcionais adquiridas pelas células humanas de passar do seu estado normal para o neoplásico → capacidades que são cruciais para seu poder de formar tumores malignos. ● O objetivo das marcas é fornecer uma estrutura organizacional de propriedades celulares descobertas durante a transformação de células (fenotipicamente) normais - quer tal transformação pare em um estágio de crescimento benigno ou continue na direção de um estágio de crescimento mais evoluído e ameaça de malignidade. ● As células normais podem ser alvos de erros de replicação, exposição a fatores ambientais e de oncogenes, o que as fazem sofrer alterações genéticas, epigenéticas e aberrações cromossomais, as transformando em células malignas. O câncer se desenvolve a partir de vários processos e aquisições de capacidades funcionais, porém só isso não poderia explicar toda a sua patogênese. → Foram adicionadas as “características capacitadoras”, que são consequências da condição aberrante da neoplasia → instabilidade do genoma e inflamação promotora do tumor. Características presentes nas células malignas: Crescimento seletivo e vantagem proliferativa ● As células normais dependem da sinalização de crescimento de um ciclo celular fortemente regulado 1 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA para proliferar de forma controlada e manter a homeostase dos tecidos → interrompido no caso de câncer. ● Considera-se que nas células cancerígenas, as vias de crescimento e sinalização proliferativa abrigam uma ou mais alterações de condução dentro de seus compartimentos, dando-lhes uma vantagem de sobrevivência. ● Incluem ligantes de crescimento, seus receptores ou moléculas de sinalização citosólica. Mecanismos Sinalização proliferativa sustentada ● O gatilho para isso ocorrer é a mutação de um ou mais genes (ex.: HER/2). 🌓 As células tumorais produzem substâncias/fatores de crescimento para o próprio tumor→ produção autócrina ● Produção de fatores de crescimento pelo microambiente tumoral. A mutação genética resulta na hiperexpressão/modificação de receptores transmembrana → importantes para o núcleo da célula receber o estímulo para continuar se multiplicando. Além disso, ainda pode haver modificação das vias de sinalização intracelular. Para que essa sinalização sustentada acontecer existem alguns condicionantes: ● Ligantes ○ Fatores de crescimento ● Receptores celulares ○ Superexpressos ○ Mutados ○ Degradação comprometida ● Sinalizadores citoplasmático → a ativação do núcleo para que ele continue se replicando acontece mesmo sem ter a sinalização dos receptores transmembrana. Hiperexpressão/modificação de receptores de membrana celular → Via de sinalização MAPK (via de ativação do RAS, que é um gene regulador da divisão celular) ● Nas membranas celulares há receptores transmembrana da família da tirosina quinase. Quando eles se ligam a um ligante, sofrem dimerização e isso ativa moléculas intracelulares, como o RAS. Estas ativam outras moléculas até chegarem ao núcleo. ● No caso do RAS, quando ele é ativado, se liga e ativa outra molécula, chamada de RAF. Esta irá fazer parte de um complexo molecular e ativar mais outras 2 moléculas (MEK e ERK). O ERK ativado vai até o núcleo e o sinaliza para replicação e transcrição. 🤙Modificação das vias de sinalização intracelular!! 2 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA 💊 O cetuximabe bloqueia o receptor EGFR (receptor transmembrana). ● Se o paciente com tumor colorretal NÃO tiver mutação do K-RAS e usar cetuximabe, tem uma sobrevida maior. ● Nos pacientes que tem o K-RAS mutado, eles não precisam do receptor transmembrana para enviar a informação da replicação da célula, pois o K-RAS já é intracelular e estará ativado. Via de sinalização do HER/2 ● Quando o HER/2 é mutado, ele pode superexpressar esses receptores da membrana. ● Se houver + receptores, há ↑ dimerização ↑ cascata de ativação intracelular↑ replicação. ● 💊O trastuzumabe bloqueia o receptor HER/2.→ no câncer de mama, se a paciente apresenta mutação do HER/2 e utiliza o transtuzumabe a sobrevida é maior. 🤔 Tumores que superexpressam o HER/2: mama, gástrico, ovário, útero, pulmão. Evasão dos supressores tumorais É a característica do “freio”. Nesse caso, tem a alteração dos genes SUPRESSORES tumorais, como o TP53 e o retinoblastoma (RB). Ação do Gene p53 → reconhece alterações e corrige o processo. 3 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA Pode haver perda da inibição do contato ● NF-2 ● Merlin ● e-Caderina → responsável pela adesão celular → se tenho pouca a célula fica frouxa e mais propensa a metástase Corrupção da via TGF-beta ● Quando é produzido pelo microambiente tumoral, funciona como um indicativo negativo para replicação celular. Resistência à morte celular Fisiologicamente, as células adotam uma variedade de respostas para se adaptarem ao estresse, se possível, ou, quando o estresse é insuportável, são altruisticamente eliminadas em prol de um tecido saudável inteiro. Esses mecanismos são subvertidos nas células cancerígenas para o resultado de sua sobrevivência e propagação global ● Uma resposta ao estresse associado à transformação, incluindo danos irreparáveis ao DNA, proliferação descontrolada ou descolamento da matriz, envolve morte celular por apoptose Os mecanismos de apoptose estão corrompidos. ● Circuito extrínseco → Fas, TBF, TRAIL ligante/receptor ○ Interação de receptores da superfície celular com seus ligantes ● Circuito intrínseco→BCL-2 ○ Envolve a detecção de níveis de estresse interno compatíveis com a apoptose → mudança de equilíbrio que favorece proteínas pró-apoptóticas em vez de anti-apoptóticas e permeabilização da membrana externa mitocondrial (MOMP) com liberação de moléculas ativadoras do espaço intermembranar. ● Ambas as vias onvergem para a ativação de caspases, proteínas de clivagem completando eficientemente a tarefa de morte celular em minutos Mutações inativadoras envolvendo p53 tornam a célula insensível a muitos estímulos apoptóticos. A regulação positiva de anti-apoptótica ou perda de proteínas pró-apoptóticas através de meios genéticos (epi) ocorre em vários tumores. ● As células cancerosas também inibem ocasionalmente a atividade das caspases, mesmo com a ocorrência de MOMP. ● Resultado líquido dessas alterações → aumento da sobrevivência do tumor → não significa que todas as 4 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA células dentro de um tumor sejam insensíveis aos sinais apoptóticos. ● Contrariamente, as células tumorais são provavelmente mais sensíveis à estimulação apoptótica do que as células normais e a apoptose ocorre continuamente em tumores em crescimento Inibidores da apoptose (anti-apoptose) → Bcl-2, Bcl-XL e MCLI. Efetores da apoptose (pró-apoptose) → Bax, Bak, Noxa e PUMA. Imortalidade replicativa ● Está relacionada ao telômeros, pois quanto maior os telômeros, melhor a capacidade de replicação celular. ● Nessa característica, há a produção da enzima telomerase, a qual SEMPRE vai reparar os telômeros e eles não irão envelhecer. Indução de angiogênese A angiogênese é o processo de brotamento, divisão celular, migração e montagem de células endoteliais (ECs) de vasos pré-existentes ● Presença de célula neoplásica → produção de substâncias como o fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) → interação com o endotélio → formação de novos vasos ○ Existe um receptor, que quando ativado ativa a cascata celular e dá origem aos novos vasos 🏺 ○ Processo continuamente ativado ● Vasos mais frágeis e mais frouxos → facilita a penetração em células e metástases ○Dilatados e tortuosos, que não formam monocamadas regulares e repousam sobre uma membrana basal de espessura variável 5 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ○ O fluxo sanguíneo é caótico, resultando em áreas de hipóxia e acidose; essas condições estressantes têm vários efeitos, incluindo a potencialização da angiogênese, a redução da eficácia terapêutica e a permissão da expansão clonal resistente. ● A regulação da angiogênese envolve fatores pró e antiangiogênicos; seu equilíbrio determina o status da “mudança angiogênica”. ● O gatilho mais importante da angiogênese é a hipóxia. ● Existem vários efetores independentes de VEGF; estes podem funcionar de forma complementar, independente ou compensatória 💊O bevacizumabe é um anticorpo monoclonal que se liga ao VEGF e o impede de se conectar com seu receptor e, consequentemente, não produz a neovascularização e a célula tumoral morre → nem todos os tumores se beneficiam, pois nem todos têm tanta vascularização 🤔 A cooptação vascular é o processo pelo qual as células tumorais obtêm o suprimento sanguíneo necessário, sequestrando a vasculatura existente ● Supõe-se que as células cooptadas sejam refratárias à terapia antiangiogênica. ● VEGF e as angiopoietinas são propostos como os principais mediadores ● O crescimento microvascular intussusceptivo (IMG) é o processo pelo qual os vasos existentes se dividem, permitindo que a rede capilar se expanda dentro de si. IMG é relatado em uma variedade de tipos de tumores ● O mimetismo vasculogênico (VM, ou “mimetismo vascular”) descreve a plasticidade funcional de células tumorais agressivas na expressão de um fenótipo semelhante a células-tronco formando redes vasculares de novo. Invasão e metástase A característica definidora da malignidade envolve a capacidade de invadir tecidos circundantes e semear locais distantes para formar crescimentos secundários (metástases). → Doença metastática é responsável por mais de 90% das mortes relacionadas ao câncer. Para que a célula cancerígena se dissemine é preciso: ● Invadir a matriz extracelular, incluindo a membrana basal e as células estromais, ● Intravasar na vasculatura tumoral ● Sobreviver ao transporte na circulação ● Extravasar no parênquima do tumor. órgãos distantes ● Sobreviver e manipular microambientes estranhos formando micrometástases ○ Podem mais tarde crescer em macrometástases clinicamente relevantes, 6 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA uma etapa limitante da taxa denominada “colonização” O tecido tumoral é imerso em um microambiente tumoral, em uma matriz extracelular. A matriz é repleta de emaranhado de fibras de colágeno, o qual dificulta as células irem para a circulação. Em uma célula doente, há produção de metaloproteinases de membrana (Metalomp), o que destrói o emaranhado e as células conseguem chegar até a circulação. ● Destrói parede do vaso → fica mais “solta”→ adentra parede do vaso e☠ ● Endopeptidases não apenas contribuem para a invasão, mas também estão envolvidas na proliferação celular, sobrevivência, resposta imune e angiogênese ● Intravasamento é a entrada de células invasivas na luz dos vasos. Isso pode ser ativo ou passivo dependendo do tipo de tumor, TME e vasculatura Ao chegar no endotélio, as células tumorais se camuflam e, em sua superfície, ficam cheias de plaquetas em sua superfície. Dessa forma, elas não são facilmente percebidas e mortas. ● Célula se camufla para metastizar → transição epitélio-mesenquimal→ em geral embrionárias, ou seja, pouco reconhecida pelo sistema imune ○ Alterações bioquímicas reversíveis que permitem que uma célula epitelial polarizada adquira um fenótipo mesenquimal, normalmente utilizado durante a embriogênese, e fisiológico adulto. ● Transitam facilmente ● Predisposição para acometimento de alguns sítios → provavelmente através dos exossomos, mas não se sabe ao certo ● Uma vez em circulação, as células tumorais circulantes são expostas a condições seletivas severas e devem desenvolver técnicas adaptativas. Os exemplos incluem revestimentos de plaquetas que protegem contra forças de cisalhamento e eliminação imunológica e religação metabólica que atenua o estresse oxid À medida que as CTCs percorrem a circulação, elas ficam presas em pequenos capilares, onde iniciam o crescimento, levando à ruptura dos microvasos, ou se envolvem em extravasamento ● Alguns órgãos (como o fígado e a medula óssea) possuem vasos sinusoidais altamente permeáveis e isso pode explicar as altas taxas de metástases hepáticas e ósseas, mas na maioria dos outros órgãos, os CE formam um revestimento firmemente adjacente reforçado por uma membrana basal e pericitos. → .Contrasta com a neovasculatura com vazamento no tumor primário ● Os fatores envolvidos no extravasamento incluem interações ligante-receptor, quimiocinas e células não tumorais circulantes, embora nossa compreensão do processo esteja incompleta O novo microambiente é estranho às células, com condições adversas que desafiam sua sobrevivência. Vários sinais sistêmicos estão implicados na preparação de locais secundários para recepção de células cancerígenas. Estes podem até estar em vigor muito antes da disseminação, criando o chamado “nicho pré-metastático”. ● Vários fatores secretados derivados de tumores e células derivadas da medula óssea são estimuladores conhecidos da formação de nicho. ● Evidências crescentes também apóiam o papel dos exossomos no processo. 7 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA Reprogramação do metabolismo energético ● O metabolismo reconfigurado fornece exclusivamente uma vantagem seletiva durante o início e progressão de tumores ○ Metabolismo energético mais eficiente/econômico nas células tumorais ● GLUT-1 aumentado nas células!! ● Compreende a captação desregulada de glicose e aminoácidos, modos oportunistas de aquisição de nutrientes, utilizando intermediários da glicólise e do ciclo TCA, aumento da demanda de nitrogênio, alterações na regulação genética dirigida por metabólitos e interações metabólicas com o microambiente 🌩Células normais: para produzir 1 glicose é necessário 36 ATP. ● Célula tumoral → mecanismo de glicose aeróbica → para produzir 1 glicose é necessário apenas 4 ATP. Isso faz com que haja um acúmulo de GLUT-1 por isso é fácil identificar essas células no PET-scan. → PET ruim para metástase cerebral Quantidades moderadas de ERO são úteis para o câncer: estimulam a sinalização de estresse, aumentam a carga de mutação e promovem a progressão e disseminação do câncer ● A iniciação de tumores resulta em aumento da atividade metabólica e produção de ERO, ajudando na tumorigênese, mas à medida que os tumores progridem e algumas células enfrentam microambientes hipóxicos severos e privados de nutrientes, e para evitar o acúmulo tóxico de ERO, essas células aumentam capacidade antioxidante para manter ROS nos níveis estimulatórios não letais Evasão do sistema imune A imunoedição do câncer é o processo pelo qual o sistema imunológico elimina e molda doenças malignas e abrange três fases: eliminação, equilíbrio e fuga. ● Eliminação → tanto a resposta imune inata quanto a adaptativa cooperam para erradicar os tumores em desenvolvimento. ○ 4 fases → reconhecimento de células tumorais por células imunes inatas e sua morte limitada → maturação e migração de células apresentadoras de antígenos e priming cruzado de linfócitos T → geração de tumor- linfócitos T específicos do antígeno e ativação de mecanismos citotóxicos → direcionamento de linfócitos T específicos do antígeno tumoral para o local do tumor e eliminação de células tumorais. ● Equilíbrio → envolve a escultura contínua das células tumorais e a seleção daquelas com imunogenicidade reduzida, promovendo a produção de variantes resistentes. → As células cancerígenas podem entrar em quiescência ou num estado de ciclo lento e permanecer latentes por longos períodos de tempo. ○ Mais longa das três fases queocorre durante um período de muitos anos ○ Surgem novas variantes que abrigam diferentes mutações que aumentam a resistência à pressão imunológica. ● Fuga → Apesar das células cancerosas passarem por constante pressão de seleção imunológica, alguns clones emergem e escapam da vigilância imunológica, que é a fase final da imunoedição do câncer. ○ Variantes tumorais que são capazes de escapar à detecção e eliminação imunológica através de alterações genéticas e epigenéticas crescem de forma descontrolada formando um tumor clinicamente detectável. ○ Mecanismos de fuga que se enquadram em três princípios principais ■ Falta de reconhecimento de antígeno tumoral medicado pela alteração de células tumorais ou efetoras ■ Resistência à morte celular ■ Indução de ignorância e tolerância imunológica, particularmente através de fatores imunossupressores secretados por células tumorais. 8 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA As células cancerígenas podem paralisar os componentes citotóxicos do sistema imunológico através da secreção de fatores imunossupressores ou do recrutamento de células inflamatórias imunossupressoras. Além disso, as células estromais secretam fatores imunossupressores, regulando positivamente a expressão de outras moléculas imunossupressoras. Os exossomos derivados de tumores também transmitem sinais que suprimem a função das células imunológicas. A religação metabólica o microbioma alterado são dois outros fatores relevantes. Quando tem uma célula tumoral há grande produção de citocinas inflamatórias que ativam as células do sistema imune → T-helper quem solta os fatores. No entanto, as células tumorais também liberam citocinas imunossupressoras (TGF-beta, IL-6, IL-10 VEGF) que fazem com que o sistema imune não reconheça as células doentes. Quando as células tumorais surgem, elas possuem neoantígenos em sua superfície que são reconhecidos pelas células do sistema imune, principalmente NK, dendríticas e TCD8. O sistema imune consegue matar algumas células, porém as que sobrevivem criam mecanismos de resistência. ● Repercussão clínica → anticorpo monoclonal que bloqueia PDL1 (ligante que faz com que as células do sistema imune “desistam” de lutar). 💊 Anticorpos monoclonais, como ipilimumabe→ pseudoprogressão do tumor → anticorpo monoclonal ativa sistema imune e causa reação inflamatória Instabilidade do genoma Os cânceres aparecem em frequência substancial na população humana, fazendo com que alguns argumentem que os genomas das células tumorais devem adquirir maior mutabilidade para que o processo de progressão tumoral chegue à conclusão em várias décadas. O membro mais proeminente desses sistemas é a proteína supressora de tumor p53, que, em resposta ao dano de DNA, provoca qualquer prisão de ciclo celular para permitir que o reparo do DNA ocorra ou apoptose se o dano for excessivo. De fato, agora está claro que o funcionamento da via de sinalização de danos do DNA p53 está perdido na maioria, se não em todos, cânceres humanos, com consequente mutação do gene TP53. 9 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA Desbloqueio da capacidade fenotípica Células cancerígenas nascentes originárias de uma célula normal que assumiu um estado totalmente diferenciado podem reverter seu curso por desdiferenciação de volta a estados celulares semelhantes a progenitores. Por outro lado, as células neoplásicas que surgem de uma célula progenitora que está destinada a seguir uma via que leva à diferenciação em estágio final podem causar um curto-circuito no processo, mantendo as células cancerígenas em expansão. Alternativamente, a transdiferenciação pode operar, na qual as células que foram inicialmente comprometidas em uma via de diferenciação mudam para um programa de desenvolvimento totalmente diferente, adquirindo assim características específicas do tecido que não foram pré-ordenadas por suas células de origem normais. Células progenitoras incompletamente diferenciadas podem sofrer alterações regulatórias que bloqueiam ativamente seu avanço contínuo para estados totalmente diferenciados, tipicamente não proliferativos. 10 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA Um conceito adicional relacionado é a “diferenciação contornada”, em que células progenitoras/tronco parcial ou indiferenciadas saem do ciclo celular e ficam dormentes, residindo em nichos protetores, com potencial para reiniciar a expansão proliferativa (24), embora ainda com a pressão seletiva para perturbar a sua diferenciação programada de uma forma ou de outra. O conceito de transdiferenciação tem sido reconhecido há muito tempo pelos patologistas na forma de metaplasia tecidual, em que células de um determinado fenótipo diferenciado alteram acentuadamente sua morfologia para se tornarem claramente reconhecíveis como elementos de outro tecido → igual no esôfago de Barret Existe um conjunto considerável de evidências que associam muitas formas de câncer com diferenciação interrompida concomitante com a aquisição de assinaturas de transcriptoma e outros fenótipos - por exemplo, morfologia histológica - associados a estágios progenitores ou de células-tronco observados no tecido normal correspondente, de origem ou em outros tipos de células e linhagens mais distantes. ● 3 subclasses de plasticidade fenotípica – desdiferenciação de células maduras de volta aos estados progenitores, diferenciação bloqueada para congelar células em desenvolvimento em estados de células progenitoras/tronco e transdiferenciação para linhagens celulares alternativas A desdiferenciação e a diferenciação bloqueada estão provavelmente interligadas, sendo indistinguíveis em muitos tipos de tumor onde a célula de origem – célula diferenciada ou célula progenitora/tronco – é desconhecida ou alternativamente envolvida. A aquisição ou manutenção de fenótipos de células progenitoras e a perda de características diferenciadas é, na maioria dos casos, um reflexo impreciso do estágio normal de desenvolvimento, estar imerso em um ambiente de outras mudanças que possibilitam características marcantes na célula cancerosa que não estão presentes nas células em desenvolvimento natural. Além disso, ainda outra forma de plasticidade fenotípica envolve a senescência celular, em que as células cancerígenas induzidas a sofrer senescência ostensivamente irreversível são, em vez disso, capazes de escapar e retomar a expansão proliferativa. → Plasticidade como a corrupção de capacidades latentes mas ativáveis que várias células normais utilizam para apoiar a homeostase, reparação e regeneração Reprogramação epigenética não mutativa Um crescente corpo de evidências indica que as propriedades físicas aberrantes do microambiente tumoral podem causar amplas mudanças no epigenoma, das quais mudanças benéficas para a seleção fenotípica das capacidades de marca registrada podem resultar em crescimento clonal de células cancerígenas com maior aptidão para expansão proliferativa. Uma característica comum dos tumores (ou regiões dentro dos tumores) é a hipóxia, consequente à vascularização insuficiente. ● A hipóxia, por exemplo, reduz a atividade das TET demetilases, resultando em mudanças substantivas no metiloma, em particular hipermetilação. ● A vascularização insuficiente provavelmente também limita a biodisponibilidade de nutrientes essenciais transmitidos pelo sangue, e a privação de nutrientes foi mostrado como potencial modificante do controle translacional, com consequentemente aumento do fenótipo maligno de células cancerosas da mama. Outra linha de evidência persuasiva para a regulação epigenética mediada microambientalmente envolve a capacidade de crescimento invasivo das células cancerígenas Além desses mecanismos regulatórios dotados pelo microambiente físico do tumor, a sinalização parácrina envolvendo fatores solúveis liberados no meio extracelular pelos vários tipos de células que povoam tumores sólidos também pode contribuir para a indução devários programas de crescimento invasivo morfologicamente distintos. Regulação epigenética mediada pelo microambiente tumoral (MET) → indução reversível de invasividade de células cancerosas nas margens de muitos tumores sólidos, orquestrada 11 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA pelo programa regulador do desenvolvimento conhecido como transição epitelial-mesenquimal. Notavelmente, um regulador mestre do EMT, ZEB1, foi recentemente mostrado por induzir a expressão de uma histona metiltransferase, SETD1B, que por sua vez sustenta a expressão de ZEB1 em um feedback positivo loop que mantém o estado invasivo no MET. ● Fibroblastos associados ao câncer, células imunes inatas e células endoteliais e pericitos da vasculatura tumoral são reprogramadas epigeneticamente após seu recrutamento por fatores solúveis e físicos que definem o microambiente tumoral sólido Microbiomas polimórficos Para o câncer, a evidência é cada vez mais convincente de que a variabilidade polimórfica nos microbiomas entre os indivíduos de uma população pode ter um impacto profundo nos fenótipos de câncer. ● Estudos de associação em manipulação humana e experimental em modelos de camundongos de câncer estão revelando microrganismos particulares → bactérias que podem ter efeitos protetores ou deletérios no desenvolvimento do câncer, progressão maligna e resposta à terapia. Mecanismos ● Efeito mutagênico no epitélio colônico, consequente à produção de toxinas bacterianas e outras moléculas que danificam o DNA diretamente, ou perturbam os sistemas que mantêm a integridade genômica, ou estressam as células de outras maneiras que indiretamente prejudicam a replicação do DNA e a sua reparação. ● Produção de butirato → abundância é elevada em pacientes com câncer colorretal.→ Efeitos fisiológicos complexos, incluindo a indução de células epiteliais e fibroblásticas senescentes. Além disso, o butirato produzido por bactérias tem efeitos pleiotrópicos e paradoxais em células diferenciadas versus células indiferenciadas (tronco) no epitélio colônico em condições em que a barreira intestinal é rompida (disbiose) e as bactérias são invasivas, afetando, por exemplo, a energia e o metabolismo celular, modificação de histonas, progressão do ciclo celular e inflamação imune inata (promotora de tumor) que é imunossupressora de respostas imunes adaptativas. ● Ocorre a modulação dos sistemas imunológicos adaptativo e inato através de diversas rotas, incluindo a produção por bactérias de fatores “imunomoduladores” que ativam sensores de danos em células epiteliais ou imunes residentes, resultando na expressão de uma diversidade de repertório de quimiocinas e citocinas que podem esculpir a abundância e as características das células imunológicas que povoam o epitélio do cólon e seu estroma subjacente e os gânglios linfáticos de drenagem. ○ Certas bactérias podem romper tanto o biofilme protetor quanto o muco que reveste o epitélio do cólon e romper as junções estreitas célula-célula epitelial que coletivamente mantêm a integridade da barreira física que normalmente compartimenta o microbioma intestinal.→Ao invadir o estroma, as bactérias podem desencadear respostas imunes inatas e adaptativas, provocando a secreção de um repertório de citocinas e quimiocinas. ○ Uma manifestação pode ser a criação de microambientes imunológicos promotores ou antagonistas de tumores, consequentemente protegendo ou facilitando a tumorigênese e a progressão maligna. 🦠 Um estudo recente lançou alguma luz: certas cepas de Enterococcus (e outras bactérias) expressam uma hidroliase de peptidoglicano chamada SagA, que libera mucopeptídeos da parede bacteriana, que podem então circular sistemicamente e ativar o receptor padrão NOD2, que por sua vez pode aumentar o T- respostas celulares e a eficácia da imunoterapia de checkpoint. Células senescentes A senescência celular é uma forma tipicamente irreversível de parada proliferativa → evoluiu como um mecanismo protetor para manter a homeostase do tecido, como um mecanismo complementar à morte celular programada que serve para inativar e, no devido tempo, remover células doentes, disfuncionais ou desnecessárias. 12 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ● Além de encerrar o ciclo de divisão celular, o programa de senescência evoca mudanças na morfologia e metabolismo celular e, mais profundamente, a ativação de um fenótipo secretor associado à senescência (SASP) envolvendo a liberação de uma infinidade de proteínas bioativas, incluindo quimiocinas, citocinas e proteases. ● No encurtamento crítico dos telômeros após esgotamento do potencial de replicação, ocorre a indução da senescência ● Uma variedade de outros estresses também podem induzir a senescência → danos não teloméricos ao DNA (EROs ou terapia anticâncer), sinalização mitogênica forte, duradoura ou desequilibrada e ativação de supressores de tumor, todos consistentes com o papel citoprotetor da senescência O principal mecanismo pelo qual as células senescentes promovem fenótipos tumorais seja o SASP (fenótipo secretor associado à senescência) → comprovadamente capaz de transmitir, de forma parácrina, para células cancerígenas viáveis nas proximidades, bem como para outras células no MET, moléculas sinalizadoras (e proteases que ativá los e/ou de sequestrá-los) de modo a transmitir capacidades marcantes. ● Fatores de sinalização solúveis, proteínas insolúveis e componentes da matriz, e proteases liberadas pelas células senescentes, capazes de remodelar o microambiente que os rodeia 13 Sandy Vanessa Med 08 - UFPE-CAA ● Benéficos → Aumento da infiltração imunológica e eliminação de células senescentes/transformadas e reparo tecidual ● Maléficos → promoção de inflamação, estimulação da angiogênese e contribuição para metástase 14